Jornal Contramão Edição 23

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Geneton Moraes Neto:

“Jornalismo é produzir memória” páginas 8 e 9

UNA - Ano 6 - BELO HORIZONTE -Abril - Maio 2013 Distribuição Gratuita JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO MULTIMÍDIA


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EDITORIAL

Jornalismo, futebol e mobilização Por Jorge Rocha e Reinaldo Maximiano O jornalista Geneton Moraes Neto é um homem de máximas e frases de impacto, daquelas que ecoam em nossas cabeças por anos a fio. Uma de suas frases mais certeiras e emblemáticas estampa a capa desta edição do jornal CONTRAMÃO, demonstrando – porque é sempre necessário – qual deve ser uma das mais fundamentais preocupações do jornalista. E foi com esse espírito determinado que Moraes Neto esteve em Belo Horizonte, no mês de Maio, para lançar o documentário Garrafas ao mar e o livro Dossiê Drummond no Palácio das Artes o jornalista e escritor concedeu uma entrevista exclusiva para a equipe do CONTRAMÃO - veja os nomes abaixo - que pode ser assistida no site. Nas páginas centrais,

o repórter Alex Bessas mostra como foi a experiência de entrevistar o tarimbado jornalista. A equipe encontrou um Geneton Moraes Neto reflexivo e preocupado com as questões que envolvem o texto jornalístico hoje. Para Moraes Neto, a entrevista exploratória (densa e fundamentada) e o estilo autoral assentado na observação e na na documentação são caminhos que os impressos diários devem investir como meio de firmar sua posição de análise e contextualização dos fatos. Coragem e determinação podem ser vistas na iniciativa Beijos contra a intolerância, que mobilizou alunos e professores do Instituto de Comunicação e Artes (ICA) do Centro Universitário UNA. As fotos realizadas durante duas concorri-

das sessões correram Internet afora e tiveram repercussão acima do esperado, tanto de mídia quanto de público. A matéria de Gabriel Amorim, Fernanda Fonseca e Felipe Bueno mostra, nas páginas 4 e 5, que ações positivas podem realmente gerar resultados transformadores em curto prazo. O ato “Toda forma de amor”, encabeçado por alunos do ICA-UNA, é uma prova dessa extensão. O combate à homofobia também é enfocado na matéria sobre as fanpages criadas por torcedores dos times mineiros de futebol, como Galo Queer e Cruzeiro Maria, em matéria assinada por Leide Botelho e Ana Paula Motta. O mundo fantástico das histórias em quadrinhos tam-

bém encontra espaço nessa edição, com a cobertura do Heroes Festival realizada por Tiago Magno - que entrevistou Affonso Solano, autor de O espadachim de carvão, lançado, em BH, durante o evento - e Diego Gurgell – que, não satisfeito em ilustrar a página, ainda esteve frente a frente com um de seus ídolos, o quadrinista Eddy Barrows, desenhista do Teen Titans. A presença asiática em BH é o mote da matéria de Juliana Costa sobre as opções de comércio e cultura das comunidades japonesas, coreanas e chinesas na capital. Destaca-se ainda nessa edição a matéria sobre o evento teste da FIFA no Mineirão, em 24 de Abril, como parte dos preparativos da cidade para a Copa das Confederações, em Junho, e do Mundo em 2014.

contramao.una.br

Arte: João Alves

EXPEDIENTE Núcleo de Convergência de Mídias (NuC) do curso de Jornalismo Multimídia do Instituto de Comunicação e Artes (ICA) - Centro Universitário UNA. Reitor: Átila Simões. Diretor do ICA: Lélio Fabiano dos Santos. Coordenadora do curso de Jornalismo Multimídia: Piedra Magnani da Cunha. NuC/Coordenação: Reinaldo Maximiano Pereira (MTb 06489) e Jorge Rocha. Diagramação: Tiago Magno. Supervisão: Reinaldo Maximiano Pereira e Jorge Rocha. Revisores: Roberto Alves Reis e Piedra Magnani da Cunha. Estagiários: Alex Bessas, Aline Viana, Ana Carolina Vitorino, Diego Gurgel, Fernanda Fonseca, Gabriel Amorim, João Alves, Juliana Costa e Tiago Magno. Tiragem: 2.000 exemplares. Impressão: Sempre Editora

Ilustração de capa

Errata A reportagem “Comerciantes da Avenida Santos Dumont reclamam de prejuízos“ publicada nas páginas 7 e 8 da edição 21+22 do CONTRAMÃO assinada pelos repórteres Hemerson Morais e João Vitor Fernandes também é de autoria de Kênia Tinôco.

Ilustração: Diego Gurgell


CRÔNICA

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Espelho, espelho meu! Quer se casar comigo?

Ilustração: Diego Gurgell

Por Mariana Elisa (3º Período) - Jornalismo Multimídia

Mês de maio, mês das noivas e lá vem a mesma história: casamentos, casamentos e casamentos. Quanta felicidade! Dos outros, né? Não é que eu não desejo a felicidade do meu próximo, mas e eu? Podem acreditar! Este é o pensamento de muitas mulheres da minha idade, com aproximadamente 30 anos. Temerosos 30 anos! Ao refletir sobre este assunto (do qual eu quase nem me lembro!), ressuscitei de minha memória um desejo antigo, que se encontrava adormecido no meu eu: alianças de compromisso. Não estou falando de alianças de noivado não! Refiro-me àquelas alianças que os namorados usam para simbolizar o compromisso existente entre eles. Numa tarde de sábado (lembro-me como se fosse ontem), quando adolescente, eu joguei aquela indireta totalmente direta para um ex-namorado, do quanto eu achava bacana um casal de namorados usar alianças de compromisso. Ele respondeu rapidamente, com sua opinião totalmente formada, que era bobagem, que o importante era o sentimento que existia entre o casal e patati patatá! Concordei com ele, até porque eu não tinha outra opção. Mas pensei comigo mesma: se eu fosse o homem da relação, já teria comprado o danado do par de alianças! Resultado: eu nunca usei aliança de compromisso, nem com ele e nem com nenhum outro namorado. Logo eu, que comecei a namorar tão nova! Paciência, Mariana, paciência! Hoje, mais madura, sei o que realmente importa num relacionamento e já superei o “trauma” das alianças. No último domingo fui à missa em minha querida cidade de Cláudio. Era missa das crianças e, além dos belos ensinamentos que tive durante a celebração, algo também me chamou a atenção. Para todos os lados que eu olhava, avistava algum antigo colega de escola, acompanhado de seus maridos, esposas e filhos. Parecia até que tínhamos marcado um reencontro da turma da escola! E como a vida deles estava diferente da minha! Meu Deus! O tempo passou rápido ou eu que parei no tempo? Muitos colegas já se casaram, tiveram filhos, alguns já se divorciaram e eu estou aqui, na mesma! Solteira! Tenho um lindo namorado (por dentro e por fora), muitos sonhos e um medo: ficar para titia! E não venham me dizer que nunca

sentiram este medo, meninas! Nunca vi ninguém optar por ser titia! Entra ano, sai ano, e os eventos mudaram! Só recebo convites de casamentos, chás-de-panelas, chás-de-fraldas e aniversários de crianças! As amigas e primas já estão jogando os buquês e fazendo questão de falar o meu nome no microfone para eu tentar pegá-los! Neste momento procuro um buraco para enfiar minha cabeça! E vem aquela tia inconveniente e me pergunta, na frente de várias outras pessoas, quando eu irei me casar e faz questão de me lembrar que os “trinta” estão chegando! Ela nem imagina que penso nisso todos os dias! Na verdade, acho que fui criada para estudar, casar, trabalhar e ter filhos! Sempre quis isso, desde nova! Eu me imaginava casada com 24 anos de idade e para mim a maternidade é a maior dádiva do mundo! E aqui estou eu, com meus 29 anos, cheia de sonhos, objetivos, metas e o casamento não aparenta estar tão próximo assim! Não quero que minhas palavras soem como o desespero em pessoa, muito pelo contrário! Sou uma solteira feliz, de verdade! Só quero que tomem conhecimento que eu não sou a única mulher que pensa assim e que vive assim! Fiquem tranquilas mulheres do meu Brasil! Somos milhares na mesma situação e tudo acontece na hora certa! Quantos casais vivem de aparências, quantas pessoas estão infelizes em suas relações... Pensem nisso! E por falar em encalhamento, estou lendo um livro muito bacana, com o qual me identifiquei “demasiadamente demais” e tenho certeza de que qualquer mulher que passa ou já passou por esta fase também se identificará e se divertirá bastante! Ele se chama A Bonitona Encalhada onde a autora, Laura Henriques, relata situações, casos, acasos e conselhos para ser feliz em qualquer estado civil. Para o alívio das solteironas, a autora hoje se encontra “casadinha da Silva”. Então façamos como a Bonitona Encalhada, fazendo do limão uma limonada! Mais um mês de maio, mais noivas, mais convites e mais buquês que eu não pegarei! E que venham mais e mais meses de maio! O mês das noivas, o qual um dia será o meu! Espelho, espelho meu! Quer se casar comigo?


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MOBILIZAÇÃO

Beijos

contra a intolerância

Toda forma de amor é valorizada por alunos e professores do ICA Fotos: UNA-SE Contra a Homofobia

Por Felipe Bueno (7º Período), Fernanda Fonseca (1º Período) e Gabriel Amorim (2º Período) - Jornalismo Multimídia Os corredores do Centro Universitário Una foram tomados por um aglomerado de pessoas nos dias 22 e 27 de abril para protestar contra a intolerância. Estavam presentes alunos da instituição acompanhados de amigos e parentes, professores, militantes, homens e mulheres em geral, das mais variadas idades e orientações sexuais, compondo um grupo que apoia a igualdade. Todos com o intuito de expressar o amor, através de um ato simbólico em uma campanha intitulada Beijos Contra a Intolerância, que consistiu no registro fotográfico de beijos. A euforia e a alegria dos participantes deram o tom da manhã de sol da segunda-feira e do sábado, em que conhecidos e desco- nhecidos se uniram numa manifestação de amor, com o objetivo de chamar a atenção para as represálias sofridas pelos LGBT’s (Lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros). O ambiente agradável e espontâneo traduziu a proposta da ação: a de colocar em foco o amor. Ainda que tenha cumprido uma função política, essa não era a pretensão inicial da campanha, que nasceu pequena no Facebook e, que, entre outras coisas, ambicionava abrir as discussões acerca do preconceito e dos direitos humanos dentro do centro universitário, tendo como base os projetos de extensão. A campanha foi idealizada a partir da ação do coordenador dos cursos de Cinema e Moda, Júlio Pessoa, e do psicólogo e coordenador do NUH da UFMG, Marco Aurélio Máximo, que inicialmente tiraram uma foto, em preto e branco se beijando com os dizeres coloridos “Só o amor constrói”. A foto foi compartilhada mais de mil vezes no Facebook. A repercussão das imagens inspirou o coordenador do UNA-SE contra a Homofobia, Roberto Reis, e a professora de Jornalismo Multimídia, Tatiana Carvalho, também integrante do NUH, a criarem uma campanha que abrangesse todo o Instituto de

Comunicação e Artes (ICA). “A campanha reflete o comprometimento do Instituto de Comunicação e Artes e também da UNA com o incentivo aos direitos humanos e, principalmente, aos direitos LGBT”, ressaltou Reis. “O propósito do projeto UNA-SE contra a homofobia é levar a discussão dos direitos LGBT, entendidos como direitos humanos, para os vários campi do centro universitário”, esclarece. A professora e coordenadora de Extensão Natália Alves ressaltou que a UNA vem incentivando ações de inclusão e debate das diversidades. “A instituição vem mostrando atitudes muito inclusivas como o reconhecimento do nome social e outros movimentos, o apoio a projetos de extensão como o UNA-SE contra a Homofobia e o Gloss. Mas essa campanha coroa esses esforços que vem sendo feitos nesses projetos”, declara. Ela salienta a importância da universidade na formação para a cidadania, pontuando “que a universidade é o lugar da diversidade, em todas as suas formas, tanto na questão da homofobia, quanto na discussão do racismo e de outras formas de preconceito”. A repercussão da campanha, naquela semana, nas redes sociais, e os pedidos de internautas para que outra oportunidade fosse marcada, motivaram a organização de uma sessão extra. Aqueles que não puderam estar presentes no primeiro evento agradeceram a oportunidade de participar desta ação de cunho social. “A pedidos, sessão extra! Vamos continuar mostrando que nosso instituto e todos os nossos amigos e familiares respeitam o amor em todas as suas manifestações. A intenção é mostrar os afetos possíveis entre casais homo e hétero, entre amigos, entre parentes… Vamos participar!”, convidava o texto de apresentação da segunda sessão de fotos. A fanpage obteve um alcance semanal de 91.500 pessoas. O professor e coordenador dos cursos de Publicidade


MOBILIZAÇÃO

e Propaganda e Relações Públicas Pedro Coutinho demonstra o orgulho em trabalhar para uma universidade que promove ações anti-intolerância. “Fico muito orgulhoso de trabalhar em um lugar que dá abertura para projetos como esse ou que ao menos não crie nenhuma barreira para isso. Acredito que as fotos não terão nenhuma repercussão negativa”, avalia. No contexto político atual, Júlio Pessoa define como perigosas as seitas fundamentalistas que, segundo ele, devem ser fiscalizadas de perto: “a Polícia Federal no Brasil tem que agir como o FBI nos Estados Unidos, monitorando muito de perto essas seitas fundamentalistas”. Satisfeito, Pessoa reafirmou os valores do movimento: “nós somos pela família, eu sou pela família, minha mãe, meu irmão e minha sobrinha vieram dar apoio à campanha”. De acordo com a professora do ICA, Tatiana Carvalho, o sucesso desta iniciativa inspira a criação de novas ações. “Estamos em

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conversas institucionais para fazer o Beijaço Contra a Homofobia no dia dezessete de maio, dia internacional de luta contra a homofobia, em que se comemora o dia em que a homossexualidade saiu da lista de doenças da psiquiatria. Queremos fazer alguma coisa. Os alunos já marcaram um ‘beijaço’ na internet, por conta deles”. A importância da realização de projetos sociais dentro de Universidades foi ressaltada pela professora da UNA, Suzana Ferreira. “É uma inserção política e a universidade não pode ficar fora disso. Se ela está formando pessoas para o mercado e para a vida, não pode ficar de fora das questões mais importantes a serem discutidas”, comenta. Para Suzana, a questão não se reduz ao ódio em razão do gênero: “a causa é importantíssima, mas acho que ela se junta a uma porção de outras vozes que estavam caladas, não só a respeito da homofobia, mas também sobre uma série de outras questões”, acrescenta.

Foto: Ana Bambirra

Beijaço contra o preconceito

Estudantes foram à Praça da Liberdade dar continuidade às manifestações a favor da diversidade sexual, contra o preconceito, o sexismo e a violência

Na semana em que foi celebrado o dia mundial de luta contra a homofobia, grupos que atuam na promoção da liberdade sexual se mobilizaram em ações de conscientização pela cidade. Uma dessas ações partiu de um coletivo de estudantes do Centro Universitário UNA que realizou um Beijaço Contra a Homofobia, na Praça da Liberdade, no dia 17 de maio. O objetivo dos organizadores foi mostrar que os casais homossexuais devem ser respeitados em seu direito de manifestar afeto em público, sem medo de sofrer violência. A ideia surgiu durante a execução da campanha Beijos Contra a Intolerância, promovida pelo projeto de extensão UNA-SE Contra a Homofobia, que contou com a participação dos alunos que organizaram o Beijaço. “Começamos com sete pessoas, fomos adicionando mais gente até que fechamos em 18 integrantes”, explica Mariah Soares, estudante de Cinema e integrante do coletivo

Frenesi, criado com o intuito de promover intervenções e projetos audio- visuais que pregam a gentileza, a tolerância e o amor. A grande adesão que a ação recebeu após ser divulgada nas redes sociais surpreendeu os estudantes. Mais de mil pessoas confirmaram presença no evento criado no Facebook. Mariah Soares explicou o processo de produção: “fizemos vídeos-convites, making off, grafitamos ao longo do evento nos arredores da Praça. Acho que isso ajudou na repercussão”. Segundo os organizadores, cerca de 400 pessoas comparece- ram com faixas, cartazes e megafones. As manifestações foram as mais diversas: beijo gay, beijo hetero, selinhos, abraços e apertos de mão. “Cumprimos o nosso papel, que era conscientizar, acima de tudo”, comemora Mariah Soares.


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INTERNET

Torcidas unidas contra a homofobia Galo Queer e Cruzeiro Maria são exemplos de fanpages criadas por torcedores para discutir a discriminação Por Ana Paula Motta (6º Período) e Leide Botelho (6º Período) - Jornalismo Multimídia Belo Horizonte, 11 de abril de 2013. Em pouco mais de 24h, após sua criação, a fanpage Galo Queer recebe mais de duas mil “curtidas”. A polêmica estava no ar e estampada na escuderia do Clube Atlético Mineiro com as cores da bandeira do movimento LGBT (Lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros). De início, a dúvida: “seria uma ‘trolagem’ dos torcedores do Cruzeiro?”. As reações foram exaltadas: “Eu nem sei o que dizer! Se eu xingo... se eu denuncio a página e faço campanha no FACEBOOK para todos fazerem o mesmo! Mudar as cores do escudo do GLORIOSO! Cês tão DOIDAS MARIAS?”, escreveu Alice Vidal na página. “Galo é uma empresa e um clube de futebol gigantesco, não é uma coisa qualquer pra ser usada para fins como esse! (sic)”, comentou, sem medir palavras, o torcedor Pedro Borges Fraiha. - “Que rídiculo, que palhaçada é essa que fizeram com um escudo centenário? Daqui a pouco surgem torcidas como Galo Murders, NaziGalo, Atleticanos Pedófilos, SadoMasoGalo, Zoofilia Alvinegra, Drogados Alvinegros, Crentes Fundamentalistas Alvinegros. etc. Pra PQP!!! Não misturem o GALO com política (seja centro, esquerda ou direita), com militância religiosa (eu sou ateu, mas não vou criar a torcida “GaloSemCrença”, certo?), não venham querer dizer que todo torcedor é pró-panssexualismo)... Aposto que vcs querem aparecer pq sabem que o Atlético tem mídia. (sic)”, escreveu o torcedor Plínio Barroso, inconformado com as cores do arco-iris no escudo do Galo. Outros torcedores partiram em defesa da Galo Queer, como a torcedora Carol Silva: “Excelente iniciativa! Parabéns a quem criou! Fiquei ainda mais orgulhosa de torcer pra esse time que é capaz de perceber a importância política de movimentos como esses!”. O torcedor Felipe Cordeiro compartilhou a fanpage: “Galo Queer é o movimento anti-homofobia e anti-sexismo no futebol dos torcedores do Atlético Mineiro. Vale conferir!”. Ezequiel Rezende compartilhou a página e escreveu: “Galo é amor e não intolerância!”. A partir da fanpage Galo Queer, outras foram criadas com o objetivo de combater a homofobia e o sexismo no futebol. Num efeito dominó, os cruzeirenses criaram a Cruzeiro Anti-homofobia; os corintianos criaram o Corinthians Livre; os flamenguintas, o Flamengo Livre; os colorados criaram o Queerlorado, (veja o quadro ao lado). A manifestação contra a intolerância através das redes sociais traz para a realidade a busca constante por direitos humanos. A jornalista Joana Ziller, especialista em redes sociais, diz que a discussão da homofobia no futebol é importante e deve ser dis-

se- minada numa rede social. “Nós temos ali centenas ou milhares de pessoas que partem de uma mesma premissa, de que a homofobia no futebol é ruim e, a partir da criação de uma comunidade como a Galo Queer, tem a aglutinação dessas pessoas e as declarações ao curtir a página, apresentam-se contrárias à homofobia no futebol e a favor da manifestação”, explica Ziller. Por outro lado, há aqueles que se declaram livres de preconceito, mas se posicionam contra a fanpage e os que acreditam que o movimento LGBT não deve se misturar ao futebol. “Se declarar não-homofóbico não significa não ser homofóbico”, comenta Joana Ziller. Nos últimos meses, o assunto sobre a homofobia se intensificou por conta das declarações do presidente da Comissão dos Direitos Humanos, Marco Feliciano, muitas vezes consideradas como homofóbicas “Há, hoje, uma reação por busca de direitos, tanto os que não tinham e que agora estão tendo espaço, quanto os que buscam o recrudescimento de seus direitos”, completa a jornalista. Os criadores da página Cruzeiro Anti-Homofobia a retiraram do ar em poucos dias, mas a torcida cruzeirense manteve o propósito e criou na sequência as páginas Cruzeiro Livre e Cruzeiro Maria (que usa um termo pejorativo como forma de combater o preconceito que também se volta para as mulheres). “Optamos pela ressignificação do termo Maria. Defendemos que a atribuição de características femininas com o objetivo de diminuir a torcida rival evidencia a representação inferiorizada das mulheres e parte do pressuposto de que a homossexualidade consiste em motivo de vergonha. Trazer o nome Maria é mostrar a insensatez dessa postura, pois a proposta da página é justamente um profundo combate ao preconceito arraigado em nossa sociedade e expresso de forma particularmente intensa nos ambientes futebolísticos”, diz a descrição da fanpage Cruzeiro Maria. A fanpage da torcida do São Paulo, assim como a do Cruzeiro, também utiliza, um apelido pejorativo como forma de combater o preconceito, nomeando sua página de Bambi Tricolor. “Felizmente, a causa LGBT cresceu e tem ganhado espaço. Nas conversas, muitos diziam gostar do apelido e torciam para que fosse adotado como mascote. Acho que faltava um empurrãozinho e foi o que a Galo Queer fez” disse A. V., criador da fanpage Bambi Tricolor. As diretorias do Cruzeiro e do Atlético não se manifestaram publicamente sobre as fanpages mas garantiram que os clubes são contrários a qualquer forma de preconceito.

Ilustração: Diego Gurgell


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Em 09 de abril, a inclusão das cores do arco-iris na escuderia do Clube Atlético Mineiro gerou polêmica entre alguns torcedores que suspeitaram de uma ‘trollagem’ dos cruzeirenses. Uma semana depois, a foto do perfil foi alterada.

Afinal, o que significa o termo Queer? O termo Queer é proveniente de uma gíria inglesa que veio se modificando no decorrer dos anos. Antigamente, a gíria era usada para denominar algo estranho ou esquisito. A palavra era comumente usada para ofender os homossexuais, seria o mesmo que “bicha” ou “veado”, no Brasil, “paneleiro” ou “maricas”, em Portugal. Atualmente, a palavra queer foi adotada pela comunidade LGBT com intenção de ser ressignificada, passando a representar um grupo de pessoas que lutam para romper a normatividade heterossexual na sociedade contemporânea (APM).

A fanpage foi criada em 12 de Abril de 2013 e tem 2069 “curtidas”, dentre elas a da página oficial do Sport Club Corinthians Paulista que reúne com 3.907.180 opções de “curtir” e 215.869 pessoas comentando as postagens

Infografia: Tiago Magno

Engenheiro cria a torcida Corinthians Livre O atual campeão mundial, o Corinthians, também ganhou a sua fanpage anti-homofobia no futebol e conta com o apoio da página oficial da equipe. O engenheiro Alexandre Ferreira, 27 anos, criador da Corinthians Livre, heterossexual, acompanha futebol desde criança e, após uma conversa com amigos e torcedores, resolveu manifestar sua posição contrária ao uso de piadas e gírias homofóbicas com a fanpage. “A criação da fanpage abre um novo cenário no país sobre a questão da homossexualidade. Estou recebendo apoio e elogios de torcedores de todo o mundo. Nosso objetivo é mostrar que todos podemos viver em sociedade como iguais”, defende o torcedor.(LB)


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EXCLUSIVA

“Se os jornais repetirem o que as TVs publicam Em entrevista exclusiva ao CONTRAMÃO, Geneton Moraes Neto Foto e arte: João Alves

Geneton Moraes Neto esteve em BH para o lançamento do documentário “Garrafas ao Mar“ e do livro “Dossiê Drummond“ no Sempre um Papo Por Alex Bessas (1º Período) - Jornalismo Multimídia

Geneton Moraes Neto é um jornalista precoce, que começou a produzir reportagens, que ele chama de “amadoras”, aos 13 anos. Ao que parece, persiste nele o espírito da provocação, a julgar pelas declarações feitas no Twitter, microblog que o jornalista usa rotineiramente: “É bem provável que a luta por um jornalismo autoral e contra textos que parecem escritos por robôs tenha sido perdida para sempre, mas as causas perdidas sempre foram as melhores. Sempre foram!”. A declaração, certamente, ditaria o tom da palestra sobre “A crise no texto do Jornalismo”, na noite do dia seguinte, quando esteve no Teatro João Ceschiatti a convite do programa Sempre Um Papo O jornalista, que já entrevistou o copiloto do avião que bombardeou Hiroshima, o produtor dos Beatles, o assassino de Martin Luther King, o promotor que condenou os nazistas em Nuremberg e um dos pais do New Journalism, Gay Talese, saiu do elevador, no mezanino do Hotel Mercure, na zona sul de Belo Horizonte. Suas sobrancelhas escuras contrastavam com os cabelos grisalhos. Num estilo despojado, ele calçava tênis, usava jeans, camisa social debaixo da blusa cinza e um relógio analógico no pulso esquerdo. “Curioso esse relógio”, pensei. Geneton cumprimentou cada integrante da equipe de reportagem (ver cards na página 2). – Para qual emissora é a entrevista? – pergunta. – É para o jornal Contramão – responde Juliana Costa. – É o jornal laboratório do curso de Jornalismo – emenda João Alves. – Contramão? Gostei do nome. É um nome diferente, nada usual.

– complementa o entrevistado – Onde me sento?. – No sofá – oriento, já tomando assento numa mesinha de centro. – Está bem assim? – Está ótimo – responde Fernanda arrumando o microfone de lapela. –Podemos começar – sinalizo. Receptivo e silencioso, Geneton Moraes Neto ouvia atentamente cada pergunta. Os olhos, ora se fixavam no chão, ora em mim, deixando transparecer momentos de reflexão ante as respostas. “Nenhum jornalista pode dar um assunto por encerrado, seria pretensioso demais”, ao se referir à rapidez da informação na internet e ao pretenso poder do jornalista decidir sobre o que as pessoas devem saber. - A internet prestou um grande favor [ao jornalismo], que foi ‘dessacralizar’ a figura do jornalista. Amanhã, vai ser secundário a gente ficar discutindo se o texto vai estar impresso ou na tela de um computador - garante. Moraes Neto se especializou na prática da entrevista. Quando faço menção aos programas do “Dossiê Globo News” com os generais da ditadura militar no Brasil e ao uso da entrevista como uma ferramenta jornalística para acessar a memória do entrevistado, ele é enfático. - A entrevista produz a matéria-prima do jornalismo. [Ela] tem que ser, necessariamente, instrumento de prospecção da realidade. E aqui, no Brasil, especialmente as entrevistas com as celebridades, são um desfile constrangedor de congratulações


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m, estão assinando os seus atestados de óbito” fala de internet, memória, textos robóticos e jornalismo autoral entre o repórter e o entrevistado. A entrevista não pode ser congratulatória, a entrevista tem que ser exploratória - define. O pernambucano revela que, hoje, gostaria de entrevistar Fidel Castro e George W. Bush, justamente por serem figuras políticas diametralmente opostas. “Conheço jornalistas que não entrevistariam George Bush, por ser de direita e ter invadido o Iraque e outros que não entrevistariam Fidel Castro porque era um ditador comunista”, declara. Em seguida, vem o alerta: “O jornalista [no exercício da profissão] não pode fazer ‘patrulhagem ideológica’, ou seja, se deixar contaminar por suas preferências políticas”. Geneton Moraes Neto revela que ao americano perguntaria: “Afinal, porque foi que vocês invadiram o Iraque, agora que sabemos que aquela história de armas químicas era mentira”. Já para o cubano: “Como acha que será o julgamento da sua história, já que, um dia, você disse ‘A história me absolverá’”. Em um dos textos de Moraes Neto sobre Gay Talese no blog Dossiê Geral, ele registrou na introdução a frase: “A humanidade só será feliz no dia que o último editor for enforcado nas tripas do penúltimo”. Mas e o antigo editor do Jornal da Globo, do Jornal Nacional e do Fantástico, mereceria ser enforcado? Bem-humorado, ele riu da provocação. “Eu sempre fico do lado do repórter.” Moraes Neto explica que a frase é uma forma de dizer o quão nocivo é aquele jornalista que, entediado depois de 30 ou 40 anos de profissão, se torna o derrubador de pautas. “Se todos os jornalistas que se acham gênios pulassem de uma vez só, o Brasil ia ter um terromoto de oito graus na escala Richter”, metaforiza. Geneton Moraes Neto garante que não se considera como um entediado. - Eu prefiro ser visto assim, como um dissidente correndo por fora, na contramão - ele ri e faz um aceno discreto com a mão direita, em referência ao nome do jornal. Um aspecto curioso nos textos de Geneton Moraes Neto é a exaltação da figura do perdedor. Em muitos desses escritos e nos vídeos, há um sentimento de “viva aqueles que perderam”, no dizer do poeta Walt Whitman. “Os dissidentes sempre foram muito mais interessantes que os aderentes”, ironiza. De suas origens, o sotaque é a característica que Moraes Neto diz ainda carregar. Esse jeito no falar fica ainda mais acentuado quando aborrecido, como quando reclama do estilo de vida contemporâneo: “Estamos vivendo hoje uma nova era Brejnev. A burocracia venceu!”. Conclama: “Cada pessoa pode ajudar a erguer uma barricada contra essa ‘mediocrização’ do mundo”. Para ele, a burocracia alcançou o jornalismo impresso, provocando sua crise. “Não chegou a hora de ressuscitar o jornalismo minimamente autoral? Eu acho que sim. Talvez a saída seja essa, recuperar o prazer do texto, a reportagem com marca autoral. Se os jornais ficarem satisfeitos apenas em repetir o que as TVs publicam, eles estão assinando os seus atestados de óbito.” Mais de quarenta minutos depois, perguntamos ao jornalista se ele mentiu durante à entrevista, em alusão a frase que ele considera a matriz de seu método jornalístico: “Por que estes bastardos estão mentindo para mim?”. Outra vez ele ri, explica que conheceu a frase na autobiografia de um jornalista inglês e a usa de forma indistinta para qualquer pessoa que ele venha a entrevistar. Geneton garante que não mentiu. Ele deixa, enfim, uma recomendação aos jovens jornalistas, capaz de desconstruir tudo o que havia dito até então: “Ouçam com atenção tudo o que os jornalistas mais velhos têm a dizer e façam exatamente o contrário. Eu queria dizer isso agora, em relação ao que estou dizendo aqui: peguem tudo o que eu falei e façam o contrário, pode dar mais certo.”.

Nosso entrevistado é...

Veja a série de entrevistas com Geneton Moraes Neto em contramao.una.br


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CIDADES

Otakus, k-poppers e taiko

Por Juliana Costa (3º Período) - Jornalismo Multimídia

Ilustração: Diego Gurgell

Os fãs de ficção científica que certamente já assistiram mais de uma vez o filme Blade Runner devem ter percebido a presença maciça de asiáticos em cena. Numa sequência famosa, há a imagem de uma gueixa comendo sushi na fachada de vidro de um arranha-céu; tratava-se de um anúncio da Coca-Cola. Pelas ruas, o protagonista Deckard (Harrison Ford) se depara com inúmeros asiáticos numa Los Angeles chuvosa, escura e densamente povoada. Há vários quiosques especializados em comida asiática - de lamen à sopas, aos sushis e aos sashimis. O filme se passa num longínquo 2019 mas, descontado os aspectos da perseguição contra os andróides, o longa dirigido por Ridley Scott, é atual por mostrar a forte presença da Ásia (do extremo oriente) no mundo ocidental em seus aspectos culturais, tecnológicos e culinários. Hoje, mais da metade da população mundial - estimada em sete bilhões de habitantes - é asiática e está concentrada no sul e sudeste da Ásia - e os asiáticos estão por todas as partes do Brasil. Em Belo Horizonte, para encontrar japoneses, chineses ou coreanos o lugar mais óbvio é o shopping popular Oiapoque. Lá a predominância é de chineses que vendem produtos eletrônicos, como rádios, celulares, videogames e notebooks. A cultura nipônica também pode ser encontrada em lojas como a Japan Style, especializada em acessórios japoneses - ao lado da Mercearia Tokio que, além de vender alimentos asiáticos, passou a oferecer todos os dias um almoço com pratos típicos da culinária asiática. Outro espaço tipicamente asiático é o Ochi Sushi, restaurante que fica no bairro Funcionários. E os coreanos? Essa cultura vem tomando espaço no mundo desde o sucesso de Gangnam Style do PSY, no ano passado. Aqui em Belo Horizonte não existe nenhuma comunidade coreana como em São Paulo, mas uma forma de se manter ligado à cultura é com o grupo K-Pop MG, criado em janeiro de 2011 pela estudante Micaela Amaral, 18, com o intuito de juntar os admiradores da cultura sul-coreana. Os integrantes se encontram diversas vezes ao ano na Praça dos Fundadores do Parque Municipal Américo Neto, para se divertirem cantando e dançando k-pop, planejando projetos para o grupo, como flahsmobs. O K-Pop MG já realizou três flashmobs e organiza amigo-oculto no Natal e piqueniques nos aniversários do grupo. Seus membros não se prendem só à cultura coreana: é um grupo diversificado e tem admiração pela cultura japonesa. Entre os integrantes estão pessoas como Ayumi Yuu, Matheus Assunção, Lu Lima e Marcos JJ que frequentam a Associação Mineira de Cultura Nipo-Brasileira (AMCNB), fundada em setembro de 1958, na capital mineira, por iniciativa de alguns membros da comunidade nikkei mineira (japoneses e descendentes radicados em MG). O site da Associação para Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil conta que, em agosto de 1913, um grupo de 107 imigrantes chegou ao Brasil para trabalhar em uma mina de ouro, em Minas Gerais. Charles Motta Possatti Junior, líder do grupo de taiko Raiki Daiko, que faz parte da associação, disse que os sócios têm descontos nas aulas de japonês e podem realizar atividades como Taiko (tambores), Odori (dança), Karaokê, Kendô, Aikidô e Iaidô. As festividades que a associação promove são abertas ao público. Esse ano ocorreu em abril o Festival de Comida Típica Japonesa, em maio a Feira de Comida e ainda haverá a Festa Julina/Tanabata Matsuri, a Noite do Japão e o Keiroo-Boonen-Kai, em dezembro.


CIDADES

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Conexão Ásia - MG Um evento que comemora não só a aliança entre o Japão e Minas Gerais, mas que também demonstra o que a comunidade nipônica produz de melhor no Brasil é o Festival do Japão em Minas. O evento, em sua segunda edição, lotou o ExpoMinas trazendo um pouco da cultura japonesa para o público de BH. Nos estandes, o público pode apreciar um pouco da culinária, da música, da dança e das lutas entre samurais. A apresentação de taiko do grupo Raiki Daiko era a mais esperada pelo público. As apresentações fizeram com que todos os assentos fossem ocupados. O estudante de medicina Nicholas Koga, recém-chegado na capital mineira, disse que a apresentação “ficou bem parecida com os taikos que costumava ouvir em São Paulo”.

Fotos: Hemerson Morais

Perto do stand do consulado japonês do Rio de Janeiro, a tradicional cerimônia do chá acontecia e se repetia a cada hora. Trata-se de um ritual milenar, passado de geração em geração no Japão e nas famílias mais tradicionais. Assim como em outros costumes milenares, a cerimônia tem um treinamento rigoroso e sem fim, sendo realizada com a intenção de entreter o convidado. Ao todo, o evento contou com sete oficinas bastante procutradas. Em seis delas, o interessado deveria se inscrever assim que chegasse ao evento. As oficinas oferecidas foram de pipamodelismo, mangá (desenho japonês), furoshiki (embrulho japonês utilizando tecidos quadrados), sumi-ê (pinturas com temas leves, como a natureza) e kirigami (cartões tridimensionais). O festival mais uma vez provou ser um sucesso entre os simpatizantes da cultura nipônica e foi a chave para grandes encontros entre empresas japonesas e brasileiras. O evento contou ainda com três seminários, sendo o primeiro o 6º seminário sobre o Policiamento Comunitário da PMMG/Sistema Koban, onde foram apresentadas as diferenças e semelhanças entre as forças policiais. O segundo seminário ocorreu durante o evento, no dia 15 de março, com o tema “Educação e Gestão do Risco de Desastres Naturais”. Fechando a programação, no dia 18 de março houve o primeiro Seminário Internacional Brasil-Japão para a tratar do risco de tremores de terra.

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ESPORTE

Evento teste no Mineirão avalia a estrutura do estádio e da capital para competição da FIFA Por Ana Carolina Vitorino (3º Período) e Fernanda Fonseca (1º Período) - Jornalismo Multimídia Em meio à polêmicas envolvendo a acessibilidade para portadores de necessidades especiais no Mineirão, órgãos públicos, entidades privadas, torcedores e imprensa mineira se mobilizam para receber a Copa das Confederações em junho. A fim de testar a estrutura do novo estádio, a Comissão Brasileira de Futebol (CBF) promoveu o amistoso entre as seleções do Brasil e do Chile no dia 24 de abril. Para a CBF e o Comitê Organizador Local da Copa do Mundo FIFA Brasil 2014™ (COL), o jogo-teste representa a chance de avaliar o que já foi feito e corrigir eventuais problemas. Os pontos analisados envolveram tanto a infraestrutura do estádio, incluindo serviços oferecidos ao torcedor e organização da imprensa, quanto às operações de segurança e mobilidade em toda a cidade.

ingresso. Ele estava com seus dois filhos e me disse que o lugar deles era ali, mas eu disse que aquele era o número da minha cadeira. Conferi duas vezes, o número era mesmo igual. Aí ele foi resolver com uma daquelas pessoas que monitoravam no estádio, mas não voltou. Nem sei o que aconteceu depois”, conta. Em contraponto ao desacerto com o ingresso de Cardoso, a estudante de Engenharia Ambiental, Raiane Martins, 18, avaliou positivamente a organização do evento, mas destacou pontos que devem ser melhorados. “A segurança, recepção foram boas, mas o trânsito deixou a desejar e o time em campo que foi uma vergonha”, afirma. A estudante descreve o credenciamento de seu veículo para estacionar: “Fizemos o credenciamento na hora da compra dos ingressos, que por sinal achei muito caro. Nós recebemos um manual de instruções do caminho que deveríamos seguir para chegar lá. O Torcedor manual instruía, ainda, acolarmos um adesivo no vidro do caro pra identificação. Lá dentro foi tranquilo, os manobristas iam indicando Torcedores que compareceram à partida encontraram dificul- por onde nós deveríamos seguir até chegar nas vagas”. dade para localizar seus lugares. “A questão dos assentos foi bem problemática, a sinalização gráfica do Mineirão é muito fraca, é bem Imprensa difícil entender qual é o bloco que as cadeiras pertencem”, afirma A avaliação da imprensa foi positiva. Para o comentarista da Douglas Alves, 20, estudante de Sistemas de Informação. Alves acrescenta que, apesar da presença de equipes de voluntários, a rádio BandNewsFM, Léo Gomide, a recepção foi muito satisfatória. qualidade das informações por eles prestadas deixou a desejar: “eu “Desde que cheguei ao estádio, por volta das 17h, não tive nenhum gostaria que houvesse uma melhor ação dos voluntários dentro do contratempo, seja nos locais destinados para os repórteres, assim estádio, ajudando os usuários a encontrarem os lugares que de fato como na cabine de transmissão reservada para a minha emissora”, compraram”. Igor Antunes, 19, estagiário da TV UFMG ressalta a relata. O jornalista destaca o processo de credenciamento e a qualireação do público. “A torcida estava empolgada, apesar do amisto- dade do sinal de internet. O único ponto criticado por Gomide diz respeito à desordem so não contar com estrelas internacionais”. O jornalista Jonatas Cardoso, 25, que veio da cidade de Barretos da zona mista. “Os repórteres de rádio se espremiam na grade para (SP) para conhecer o novo Mineirão, revela que teve problemas com conseguir a palavra dos jogadores. O esforço foi tamanho, às vezes, a duplicação de ingressos para a arquibancada. “No intervalo do prejudicando o áudio por conta da distância com relação ao entrejogo um homem chegou até o meu lugar com o mesmo número de vistado”, explica.

Fotos: Pedro Vilela

A Caminho da Copa das Confederações


ESPORTE Segurança

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dade previstas pela ABNT e pela Lei Geral da Copa na execução das obras de modernização do estádio. A nota esclarece que no dia 08 De acordo com a Polícia Militar, o evento ocorreu dentro de de Maio a equipe da Minas Arena realizou uma vistoria no estádio uma plataforma de planejamento integrado que envolveu órgãos e constatou que, dos 56 itens solicitados pelo MPE, 47 deles já foram federais, estaduais e municipais. Segundo a PM, essa atuação coor- 100% concluídos. Os outros nove estão parcialmente executados ou denada facilitou o desenvolvimento das atividades pré e pós-jogo. em contratação. O governador Antônio Anastasia avalia a ação do Ministério Além da ocorrência de uma manifestação na avenida Antônio Carlos, foram registradas outras duas referentes a falta de impressão das Público como sem razão. “A construção do Mineirão obedeceu não cadeiras no ingresso adquirido via internet. No geral, a PM avalia só ao caderno de encargos da FIFA, mas também às normas técnia operação como efetiva no que tange a segurança dos torcedores. cas de acessibilidade e a Lei Geral da Copa”, garante. O governador lembra ainda que o Mineirão foi aprovado pela FIFA para o Mobilidade jogo-teste realizado entre Brasil e Chile. Em decisão liminar, a Justiça concede à Minas Arena prazo Toda a operação nas ruas foi orientada pelo Centro de Controle para a realização de obras de adequação das instalações necessárias Operacional da BHTRANS e pelo Centro Integrado de Comando e à efetiva acessibilidade dos deficientes físicos no estádio. Caso as Controle do Estado de Minas Gerais. A assessoria de comunicação adaptações não fossem concluídas até o dia 18 de junho, o estádio do órgão informou que o transporte coletivo foi mais utilizado pelos seria interditado. Porém, no dia 04 de junho, o presidente do Tributorcedores do que nos dias de jogos normais. Entre as ações exe- nal de Justiça de Minas Gerais, desembargador Joaquim Herculano, cutadas especialmente para o evento, estavam a utilização de rotas acata o recurso interposto pela Advocacia Geral do Estado e susespeciais para pedestres (fan walk) e as proibições de estacionamen- pende a liminar, afastando o risco de interdição, ainda que sem a to na área de segurança definida pela FIFA, com a implantação de conclusão das obras. zonas de embarque e desembarque exclusivas para ônibus, táxis e Em suas razões, o desembargador considera que o prazo de 30 pessoas com deficiência. Para a BHTRANS, a operação transcorreu dias para a realização de todas as adaptações é exíguo, que a interdentro da expectativa, apesar da ocorrência de uma manifestação dição do estádio é mais danosa para o interesse público e que o que que interditou a avenida Antônio Carlos, uma das principais vias se busca evitar com a ação civil - garantir o acesso aos portadores de acesso ao estádio. de necessidades especiais. “É inegável a magnitude do impacto social, financeiro e econômico dessa interdição para a coletividade, soAcessibilidade bretudo durante a realização de evento internacional previamente agendado e em relação ao qual há enormes expectativas”, fundaPosteriormente à realização do jogo-teste, a Promotoria de mentou. Justiça de Defesa das Pessoas com Deficiência ajuizou no dia 6 de maio uma Ação Civil Pública contra a Minas Arena e o Governo Organização do Estado de Minas Gerais, pedindo à Justiça a suspensão de todos os eventos esportivos e culturais agendados para o complexo Em nota, o COL avalia a execução das quatorze áreas operado Mineirão até que obras relacionadas às normas de acessibilidade cionais como positiva e ressalta a inédita forma de trabalhar com sejam concluídas. Segundo o promotor de Justiça Rodrigo Filgueira assentos marcados. O comitê crê que há espaço para evoluir e que de Oliveira, vários itens estão em desacordo com as normas de aces- os eventos-teste são fundamentais para garantir a adaptação dos ensibilidade estabelecidas pela Associação Brasileira de Norma Técni- volvidos a uma nova cultura em serviços ao espectador. Quanto à cas (ABNT), nas partes externa e interna do estádio. duplicidade de ingressos, o comitê informa que tomou conhecimenEm nota, a Minas Arena rebate as alegações do Ministério Pú- to e garante que durante a Copa das Confederações, caso haja esse blico Estadual e afirma que cumpriu todas as normas de acessibili- tipo de problema, o espectador será realocado em um novo assento.


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CULTURA Ilustração: Diego Gurgell

Nos dias 20 e 21 de abril, o Centoequatro recebeu o Heroes Festival, voltado essencialemente para os apreciadores de quadrinhos. O evento contou com a presença de diversos quadrinistas, entre eles, Eddy Barrows, desenhista de Batman, Superman e Teen Titans, e R.B. Silva, artista atualmente responsável pela arte do personagem Superboy. Também estiveram presentes Affonso Solano e Diogo Braga, criadores do podcast Matando Robôs Gigantes, que tem como assuntos principais, filmes, quadrinhos e vídeo-games. A equipe do Contramão compareceu ao evento no sábado, dia 20. O festival contava com público mediano e vários stands vendiam camisas e diversos itens relacionados à cultura pop. Uma das atrações que mais mobilizou o público foi o concurso de ilustrações temáticas, que funcionava da seguinte maneira: uma pessoa da plateia sugeria o tema para os três desenhistas participantes, Eddy Barrows, Rodney Buchemi e Affonso Solano, e quem terminasse o desenho primeiro vencia a etapa. Foi realizado também um debate sobre crowdfunding (modalidade de financiamento em que o idealizador apresenta um projeto e os interessados contribuem financeiramente para a viabilização). O público pôde entender como funciona esta forma de arrecadar fundos e houve ainda apresentação dos projetos de cada um dos participantes do debate. Unindo informação e diversão, o evento teve saldo positivo para o público.

Por Diego Gurgell (6º Período) e Tiago Magno (2º Período) - Publicidade e Propaganda

Entrevista: Eddy Barrows Eddy Barrows, 39, é desenhista de quadrinhos e tem seus trabalhos publicados na editora norte-americana DC Comics. Já desenhou Superman, Batman e muitos outros herois. Uma curiosidade: Eddy mora em Minas Gerais. Da sua casa em Contagem, ele envia sua arte para ser apreciada por milhares de leitores. Contramão: Como foi seu primeiro contato com a indústria dos quadrinhos americanos? Eddy: Na verdade, eu acho que foi a profissão que me escolheu, nem passava pela minha cabeça em ser um desenhista de quadrinhos. Pra falar a verdade, eu caí de paraquedas. Aí eu fiz o que a maioria das pessoas fazem, corri atrás, pesquisei, mandei testes para o Art & Comics (agência brasileira que coloca quadrinistas no mercado americano). Esse pessoal mandou o meu teste para a DC Comics (editora de quadrinhos), eles gostaram e me chamaram, isso foi em 2004, e estou com eles até hoje. Contramão: Como é o seu dia a dia como quadrinista? Eddy: Eu acordo bem cedo, geralmente 6h30, e por volta de 7h30 já estou desenhando. Eu tento conciliar meu trabalho como se eu tivesse dentro de um escritório. Tenho horário para almoçar e para tomar café, acredito que dessa forma você se estressa menos.

Atualmente à frente de Os Novos Titãs, Eddy Barrow é referência em HQ Então, dentro deste espaço de 6 a 7 horas eu consigo produzir uma página de quadrinho por dia. Contramão: Você têm alguma dica para as pessoas que querem realmente fazer quadrinhos no exterior? Eddy: Hoje, você tem as ferramentas da Internet, colocar fanzine virtual na net, participar de convenções do gênero. Eu acho que hoje em dia, é um pouco mais fácil do que foi na minha época. O segredo é trabalhar e correr atrás, saber contar bem uma estória, tentar passar a ideia que você quer da melhor maneira possível. Assim, você vai se sentir preparado para trabalhar em uma grande editora de quadrinhos e pronto para receber uma oportunidade.


CULTURA

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Entrevista: Affonso Solano No evento Affonso Solano, 31, fez o lançamento do livro de sua autoria “O espadachim de carvão”, livro de fantasia que conta a história de Adapak, filho de um dos deuses do mundo de Kurgala. Solano concedeu uma entrevista à equipe do Contramão.

Foto: Tiago Magno

“O espadachim de carvão”, livro de Affonso Solano, é ambientado em um universo próprio, sem qualquer analogia com a obra de JRR Tolkien Contramão: Como foi o processo de criação do livro? Affonso: No colégio, em vez de estudar, eu já desenhava o personagem, apesar de ser uma versão bem mais simples. Tudo que eu criei no colégio era uma coisa mais Dungeons and Dragons, que era uma das minhas influências. Assim que saí do colégio, um grupo de amigos meus, incluindo o Diogo que está comigo no MRG, criamos um site onde esse personagem e esse mundo formavam uma história em quadrinhos interativa, depois o modelo até ficou po- pular, mas na época era uma coisa bem nova, isso foi por volta de 2001 mais ou menos. E aí conseguimos colocar esse projeto no Omelete que também estava começando na época, o Érico Borgo gostou muito e a partir dali a gente ficou um ano, fez bastante sucesso. Como a minha equipe era muito nova, eu incluso, um foi pra faculdade, outro começou a namorar, e aí o pessoal debandou, fiquei sozinho e falei “vou transformar isso em alguma mídia que eu possa tocar sozinho”. Aí foi evoluindo, no meio do caminho a gente inventou o Matando Robôs Gigantes, daí eu fui contratato pelo Techtudo da Globo.com, onde eu escrevo uma coluna de vídeo-games, e nesse meio tempo eu fui escrevendo, fui transformando aquela história Dungeons and Dragons em um mundo próprio, fui experimentando, testando e moldando. Até que a editora Leya, através do Raphael Draccon entrou em contato comigo e falou: “Olha, vimos os seus textos na Globo, você tem um livro preparado?”. Mostrei pra eles, eles gostaram e foram aí alguns anos de cozimento até a publicação do livro. Contramão: Você é muito presente no Twitter e no podcast MRG, onde vocês falam das suas vidas pessoais. Essa dinâmica pessoal acaba gerando uma certa intimidade com o público, o que dá a impressão de que se está um pouco dentro da vida de vocês. O quanto dessa intimidade e dos seus gostos pessoais o público pode notar no livro?

Affonso: Na dedicatória eu coloquei os meus irmãos, João e Diego, que eu brinquei muito quando eu era criança, brinquei muito de espada, brincadeiras de luta com monstros e comandos em ação. Agradeci muito ao meu pai por me levar em viagens pelo Brasil. Cresci muito em uma fazenda no Pantanal, tinha muito daquela coisa de menino de apartamento, “criado numa caverna” e descobre que o mundo é completamente diferente, um lugar que tinha jacaré, piranha, vaca, animais selvagens, então tem um pouco dessa sensação de descobrir um mundo novo, do medo e da inocência, da maneira de contar a história que usava com os meus irmãos, tirando também as influências literárias que eu misturei, a parte pessoal existe ali como todo auto coloca um pouquinho, mas não a minha vida, não como se eu estivesse fazendo grandes metáforas sobre a minha vida, não chega a ser dessa maneira. Contramão: Sobre o conceito de um grande conhecimento dotado de pouquíssima experiência que está sempre presente no livro, ele surgiu da saída do apartamento para um ambiente diferente e desconhecido? Affonso: Esse conceito acaba servindo como metáfora, mas eu acabei encontrando o mito da caverna de Platão. Para quem não conhece, é a pessoa que vivia enclausurada e conhecia a vida somente através das sombras que eram projetadas dentro da caverna. Então a partir desse mito eu peguei o arquétipo do “nerd”, que somos nós, que tem muito conhecimento, mas não tem o conhecimento prático, tem um pouco de medo de experimentar a vida. No caso um pai superprotetor que não te deixa sair, que no livro é o pai do personagem principal, que é um deus que não deixa o personagem sair e quando é questionado sobre isso não explica o porquê disso. Então existe um pouco do arquétipo do nerd, existe a coisa do mito da caverna, é uma mistura de todas essas coisas, cada um acaba vendo alguma metáfora do que acha.


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Abril/Maio de 2013

CULTURA

CONTRAMÃO beija o cartunista Laerte contra a intolerância Texto e ilustração por Diego Gurgell (6º período) - Publicidade e Propaganda

Se você é um facebokeano, assim como eu, no dia 25 de abril. deve ter visto quadrinhos onde figurava um carismático Laerte beijando outros quadrinistas circulando pela Internet. O protesto começou na Folha de S. Paulo, onde Laerte trabalha fazendo charges e tirinhas. Tudo começou com uma brincadeira. Laerte se desenhou beijando outro cartunista , o Angeli, e rapidamente o ato se tornou um viral: quadrinistas e ilustradores bombardearam a rede, desenhando a si mesmos beijando Laerte. O protesto foi feito contra o pastor e deputado Marco Feliciano, presidente da Comissão de Direitos Humanos. No Facebook, foi criada a página “Beijaço no Laerte”, onde cartunistas de outros paises (caso do argentino Liniers) e internautas de todo o Brasil mandavam suas artes para a página. Qualquer um pôde - e ainda pode -

participar do protesto. A página já tem mais de 13.000 acessos. E eu, como ilustrador e defensor dos direitos humanos, achei a idéia genial e não pude ficar de fora dessa. Aproveitei e desenhei meus amigos da redação do CONTRAMÃO para entrar nessa comigo. Vale lembrar que Laerte é o homenagiado desse ano no FIQ (Festival Internacional de Quadrinhos), o maior festival de quadrinhos da América Latina que acontece em novembro, na Serraria Souza e Pinto, é o Laerte. Fiquem ligados, ouvi dizer que todos os desenhos enviados para a página “Beijaço no Laerte” virarão um grande mural que participará das várias exposições durante no evento. E você, já beijou o Laerte hoje?

VISITE A VERSÃO ONLINE DO JORNAL CONTRAMÃO: CONTRAMAO.UNA.BR


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