Contramão no.12

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nº12

contramão Ano 3-2010 Distribuição Gratuita

JORNAL LABORÁTORIO DO CURSO DE JORNALISMO MULTIMÍDIA - UNA

- ENTREVISTA: NILMÁRIO MIRANDA - O PREÇO DA REFEIÇÃO - SAIBA MAIS SOBRE A TV DIGITAL - DENÚNCIA: O CARRO DO ANO - CONHEÇA A ARTE QUE LIBERTA - UM DIA NO METRÔ - A EMOÇÃO DE UM SALTO


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Entrevista - Laboratório de Comunicação Digital - F5

Foto da capa

Um Jornal Isento de Verdade

Foto| Ana Sandim Saltos de Asa Delta - Rio de Janeiro Pedra da Gavea

Edição Anterior “Um casal branco teve um bebê negro e a mulher diz que engravidou assistindo um filme pornô em 3D”. Esta notícia percorreu o Brasil, mas, não se passa de uma brincadeira realizada pelo site sensacionalista. O site tem como objetivo transformar assuntos que estão em pauta na mídia e criar uma simples brincadeira. O próprio slogan do portal é “Sensacionalista um jornal isento de verdade”. O F5 entrou em contato com o jornalista e criador do site Nelito Fernandes, 39. Fernandes contou a nossa equipe se pensou em criar um slogan mais abrangente comunicando que é um jornal “isento de verdade” depois do alvoroço criado pela noticia da gravidez em 3D. O jornalista comentou ainda, sobre o sucesso que o site faz no mundo. Vocês consideram o site “sensacionalista” como um site jornalístico? Não. É um site de humor. Na noticia da mulher que engravidou vendo filme pornô 3D. O caso teve muita repercussão na mídia. Vocês chegaram a pensar em um meio mais abrangente de informar ao leitor do site que é um conteúdo isento de verdade? Qual foi a opinião de vocês sobre este assunto? Um site chamado Sensacionalista cujo slogan é “Um jornal isento de verdade” precisa dar mais alguma informação de que não é confiável? Em todas as páginas existe um aviso de que todo o conteúdo é fictício. Não é nossa intenção espalhar boatos, mas fazer humor. Como é para vocês ser um site totalmente isento de verdade e ter notícias espalhadas pelo mundo todo? Foi surpreendente. Jamais poderíamos imaginar que isso pudesse acontecer, porque o site dá todas as informações de que nada ali é real, a começar pelo nome completamente sensacionalista. Existe uma necessidade de publicar muita coisa imediamente nos sites de informação e isso leva ao copy e paste sem checagem. Ninguém quer ser o último a dar a notícia. Na pressa, acontece isso. O “Sensacionalista” possui algum patrocínio? Não. O site rende um dólar por dia (isso mesmo, um dólar por dia) com anúncios do Google Adsense. É feito por hobby, não gera renda. Ele ficou meses fora do ar porque não tínhamos como bancar a hospedagem. Hoje o Vírgula, do UOL, nos hospeda e em troca exibimos banners deles. Não sei se um dia vai dar lucro, mas fazemos por hobby. É divertido. De onde partiu a ideia de fazer o site? Eu fazia um blog de humor com montagens chamado Eu Hein. Há 4 anos, fui chamado para o Casseta e Planeta e não consegui conciliar o programa com o Eu Hein. Fechei o site e em dezembro meu contrato acabou mas não foi renovado. Decidi então fazer o Sensacionalista porque gosto muito de notícias falsas. Sou fã do The Onion, que é o maior site de sátira jornalística do mundo. Por Matheus de Azevedo Criador do slogan: Marcelo Zorg (colaborador do site)

Editorial

A edição 12 do Contramão encerra o primeiro semestre letivo de 2010, destacando, em sua capa, a experiência de Marcus Ramos, aluno do curso de Cinema, que saltou de asa-delta no Rio de Janeiro. Em um relato pessoal e livre das regras de composição textuais do jornalismo, Marcus cria imagens que nos transportam para o espaço e o tempo do salto, neste roteiro de curta-metragem disfarçado de crônica. Outro destaque da edição é a matéria assinada por Débora Gomes que, durante três dias, conviveu com os artistas do grupo Libertarte. A repórter revela a trajetória dessas pessoas que escolheram a arte como ofício, livres de quaisquer convenções e interdições. Danielle Pinheiro se envereda pelo terreno da TV Digital tão alardeada e, ainda, tão pouco conhecida. Já Henrique Muzzi narra o caso de um cidadão que descobriu que um item do seu automóvel estava derretendo, sem causas definidas, e, hoje, aciona a montadora na Justiça. Ainda nesta edição: o Restaurante Popular do Barreiro observado atentamente por Iara Fonseca; João Marcelo entrevista Nilmário Miranda sobre os direitos humanos, e o flagrante da vida real durante uma viagem de metrô, feita por Ana Sandim. Boa Leitura!

EXPEDIENTE CONTRAMÃO Jornal laboratório do curso de Jornalismo Multimídia do Instituto de Comunicação e Artes - Centro Universitário UNA Reitor: Prof. Pe. Geraldo Magela Teixeira Vice-reitor: Átila Simões Diretor do ICA: Prof. Silvério Otávio Marinho Bacelar Dias Coordenadora do curso de Jornalismo Multimídia: Profª Joana Ziller Contramão - Tel: (31) 3224-2950 - contramao.una.br Coordenação: Reinaldo Maximiano (MTb 06489), Tatiana Carvalho e Jorge Rocha Projeto gráfico original: Bruno Martinez, Bruno Teodoro, Guilherme Brandão, Fabrício Costa e Renata Coutinho Diagramação: Ana Paula P. Sandim -Estagiários: Ana Paula P. Sandim, Daniella Lages, Danielle Pinheiro , Débora Gomes, Henrique Muzzi, Iara Fonseca, João Marcelo Siqueira, Matheus de Azevedo (F5) e Marcos Ramos Tiragem: 2.000 exemplares Impressão: Sempre Editora


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“No momento há propostas que eu volte à Câmara Federal”

ENTREVISTA Nilmário Miranda é jornalista e presidente da Fundação Perseu Abramo, exerceu a função de ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República de 2002 a 2005, e foi deputado estadual e deputado federal por Minas Gerais. Durante a Ditadura Militar, Miranda foi preso e teve seus direitos políticos cassados por cinco anos. Naquele período, Nilmário Miranda conheceu os porões do DOPS, DOI-CODI e pelos cárceres do Tiradentes, Carandiru e Hipódromo. É autor de “Dos Filhos deste Solo”, escrito em parceria com o jornalista Carlos Tibúrcio (Ed. Boitempo / Fundação Perseu Abramo), de “Por que Direitos Humanos” (Ed. Autêntica), e “Teófilo Ottoni, a República e a Utopia do Mucuri” (Caros Amigos Editora)

Nos últimos meses, os Direitos Humanos ganharam destaque na imprensa. O novo Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH 3),lançado pelo governo federal no dia 21 de dezembro de 2009, tem sido objeto de atenção em todo o país. Em maio, durante o debate “Quem tem medo dos Direitos Humanos?”, Nilmário Miranda conversou com o repórter João Marcelo sobre tema. O evento foi promovido pelo D.A de Comunicação e Arte e reuniu Heloisa Greco (Bizoca), do Instituto Helena Greco; a Prof.ª Luciana Diniz Durães Pereira, especializada em Direitos Humanos e o exdeputado federal, Sérgio Miranda. Jornal Contramão - O nome do debate é “Quem tem medo dos Direitos Humanos?”, o senhor saberia responder esta pergunta? Nilmário Miranda - Teme dos direitos humanos quem os viola de maneira repetitiva, como os que exploram o trabalho infantil, o trabalho degradante e o trabalho escravo. Os que perpetram o abuso e a violência sexual contra crianças e adolescentes, e os que exploram, sexual e comercialmente, crianças e adolescentes. Os que, em nome do Estado, torturam, executam ou utilizam tratamentos desumanos, cruéis ou degradantes à pessoa que está sob a tutela do Estado. Os que se opõem à Comissão de Verdade, a um Brasil sem homofobia, ao fim do preconceito e da discriminação.

Jornal Contramão – A que se atribui o fato de os Direitos Humanos estarem tão em evidência na mídia?

Nilmário Miranda Ex. Ministro da Secretária Especial de Direitos Humanos

na história recente deste país? Quais os seus planos?

Nilmário Miranda - Eu coNilmário Miranda – Os mecei a militância aos 15 anos, Direitos humanos e o Meio em Teófilo Otoni, com a Igreja Ambiente são as bandeiras le- que tinha uma opção preferengitimadas e universais. Depois cial pelos pobres e na luta peda Declaração Universal dos las reformas sociais, em 1962. Direitos Humanos, há 62 anos, Depois do golpe, fiz parte da tivemos o desenvolvimento resistência à ditadura na POdo Direito Internacional Pú- LOP, junto aos trabalhadores e blico dos Direitos Humanos; estudantes. Passei pela prisão 181 países já ratificaram os em 1968, pela clandestinidade instrumentos e depois do “Fui sempre da esquerda Declaração, AI-5, novajá aconteceram da e vou morrer de mente, fui mais de 70 pacpreso. De esquerda” tos, tratados e volta à vida convenções de Direitos Huma- legal, fundamos o Jornal dos nos. Bairros, brigamos pela anistia, fundamos o PT e a CUT, lutaJornal Contramão – O se- mos pelas diretas, por uma Asnhor acredita que uma cam- sembléia Nacional Constituinpanha política menos volta- te. Fui deputado por 16 anos e, da para as questões do PAC por quase três anos, fui Minise mais centrada nos Direitos tro dos Direitos Humanos e, Humanos seria um diferen- agora, presidente da Fundação Perseu Abramo. Eu sempre cial para as Eleições de 2010? fui da esquerda e vou morrer de esquerda. No momento, há Nilmário Miranda - As propostas para que eu volte à campanhas presidenciais de- Câmara Federal. vem debater um projeto para o Brasil que envolva o avanço da Jornal Contramão – Como democracia, a participação popular, o desenvolvimento sus- se pode avaliar a situação atutentável e socialmente justo, al do Brasil? com distribuição da riqueza, da renda, do poder, do conheNilmário Miranda - Nosso cimento, do saber. Isso con- país está vivendo um momentempla os Direitos Humanos. to sem precedentes de inclusão Jornal Contramão – Como e ascensão social de milhões o senhor avalia a sua trajetória de pessoas e está ocupando

um novo papel no mundo. O Brasil está respeitando a liberdade e a participação. Mas um estrangeiro que chega, hoje, ao país não vai entender nada, pois, de acordo com a mídia estamos vivendo o caos. Jornal Contramão – Como as faculdades de Jornalismo podem contribuir para os Direitos Humanos? Nilmário Miranda - Há um programa nacional de educação em Direitos Humanos com seis eixos: educação básica, educação informal; operadores da segurança e da justiça; mídia e ensino superior. As escolas de Jornalismo estão nestes dois últimos eixos. Jornal Contramão – Qual a sua avaliação da recente decisão do STF que rejeitou a proposta de revisão da Lei da Anistia, defendida pela OAB? Nilmário Miranda - O sistema internacional de direitos humanos não admite anistia (ou autoanistia) para crimes contra a humanidade. A luta contra a tortura – chamada por Sartre de “Mal absoluto” – é permanente e continuará.

Por João Marcelo Siqueira


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Foto| Danielle Pinheiro

CIDADE

Restaurante novo, preço novo

Usuários comemoram abertura de novo restaurante popular, mas reclamam do aumento de 100% nos preços das refeições

A inauguração da unidade Barreiro, no dia 15 de maio, coincidiu com a divulgação – em nota naquela mesma semana – do aumento na tarifa da refeição, que é servida pelos Restaurantes Populares de Belo Horizonte. A nova tarifa passou a valer no dia 17, dois dias após a inauguração. No evento, o almoço foi gratuito, motivo pelo qual as filas tomaram conta dos espaços livres do prédio e continuaram do lado de fora. Embora os usuários estivessem satisfeitos por causa da inauguração, as opiniões sobre o aumento da refeição foram divergentes. A refeição principal que custava no mês de abril R$ 1,00 passou a custar R$ 2,00, aumento de 100%, que impactou um grande número de usuários. O café da manhã de R$ 0,25, passou para 0,50. O jantar, de 0,50 a R$1,00.

“Tudo bem que tem 16 anos que o preço se manteve o mesmo, mas acredito que eles poderiam ter aumentado R$ 0,50 centavos por enquanto, até o pessoal organizar aqui para depois subir a refeição para R$ 2,00. Eu estou achando bastante puxado” diz Silvana da Piedade de Brito, 42, moradora do conjunto Jatobá IV. Para o oficial de justiça Sebastião Joelson de Almeida,42, “a taxa de aumento foi abusiva porque o Restaurante Popular atende uma boa parte da população trabalhadora e também a população de baixa renda”. Leandro Arlindo Barbosa, 28, andarilho que freqüenta o restaurante popular do centro afirma: “para mim foi legal porque as filas diminuíram e eu pago só R$ 1,00 do mesmo jeito, porque eu sou associado do Lula e recebo bolsa família; apresento meu contrato do

Foto| Iara Fonseca

benefício e pago menos”. Barbosa ainda elogia: “eles estão colocando o tanto de comida que a gente pede e se não colocar a gente fala: põe mais”. Para o Secretário Municipal de Abastecimento, Flávio Márcio, o preço, mesmo depois do aumento, ainda é acessível. Ele afirma que o acesso ao Restaurante Popular “não tem limites, nem qualquer tipo de cadastro, a pessoa que chegar é bem recebida.” Para ele, isso compensa o valor de R$ 2,00. Em conversa com um funcionário do Restaurante na área central, tomamos conhecimento que o aumento no preço selecionou mais o público que freqüenta o lugar. As filas diminuíram consideravelmente e os pedintes se afastaram.

Almoço com políticos No primeiro dia de fun-

cionamento, o cardápio foi especial: arroz branco, tutu de feijão, lombo ao molho de laranja, maionese de legumes, salada de alface, suco e doce. O prefeito Márcio Lacerda e a ministra do Desenvolvimento Social Márcia Lopes almoçaram junto da população. Também estiveram presentes – almoçando ao lado da população – o Ministro de Desenvolvimento Social e Combate à Fome Patrus Ananias, alguns deputados e vereadores, o Secretário Municipal de Abastecimento, Flávio Márcio, o Padre Alex da Paróquia local São Paulo da Cruz e militantes da comunidade do Barreiro. A estudante e empregada doméstica Poliana Martins Dias, 20, aproveitou a proximidade para conhecer o prefeito e levar uma lembrança para a família: “tirei até foto com ele, foi muito legal”. “O que mais

Foto| Danielle Pinheiro


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Acho a idéia perfeita, é uma estrutura maravilhosa e bem construída, a comida está uma delicia, adorei e eu vou voltar. Acredito que irá beneficiar bastante até os estudantes das faculdades aqui perto, tem pessoas que trabalham o dia todo, depois vão para a faculdade e ficam com fome, estamos até combinado que antes de iniciar as aulas iremos jantar no restaurante. Teremos oportunidade de comer uma comida de qualidade e vejo que algumas pessoas têm essa dificuldade. A prefeitura e o governo de Minas estão de parabéns . Poliana Lopes Teixeira Pires, estudante, 22

Estamos aqui prestigiando a inauguração do Restaurante Popular e a comunidade do Barreiro está bastante feliz com a chegada dele. Os trabalhadores de baixa renda vão ser beneficiados, pois terão uma comida de boa qualidade de baixo custo. Então fica aqui meu sincero agradecimento aos políticos que se empenharam para a conclusão da obra, a população será bem beneficiada com isso. Maria Helena Ribeiro, dona de casa, 52

Foto| Danielle Pinheiro Foto| Iara Fonseca

gostei da inauguração foi ver as pessoas reunidas, sem brigas e discussões”, comentou.

Comida, renda e qualidade de vida Um dos benefícios da obra para a região foi a geração de empregos, diante da necessidade de mão de obra no local. Fernando Teixeira Batista, 24, foi um dos beneficiados: “estava há um bom tempo desempregado e o SINE Barreiro me ligou perguntado se estava interessado na vaga; eu disse que sim, depois marcaram uma entrevista e em 15 dias me chamaram”. ‘Hoje estou aqui, trabalhando no Restaurante Popular”, comemora. Ao todo, são 79 profissionais que trabalham na cozinha, almoxarifado, atendimento, caixas e limpeza. Além das novas contratações, houve remanejamentos: “muitos funcionários vieram transferidos das outras unidades, assim, muitos deles estão mais perto de casa e, conseqüentemente, terão uma melhor qualidade de vida”, afirma a nutricionista

responsável pelo Restaurante Popular Edna Aparecida Cobertino, 42. Além dessas vantagens, a nutricionista destaca as qualidades da nova estrutura: “o diferencial é que este prédio conta com um pátio para convivência e três rampas de distribuição, que facilitam a locomoção dos usuários, possibilitando um atendimento mais eficiente”.

Impactos para a região Um mês após o início do funcionamento da unidade, voltamos à região para verificar a repercussão do funcionamento do Restaurante Popular. Proprietários de outros restaurantes da nas proximidades comentaram sobre a queda no fluxo de clientes em seus estabelecimentos. Silvana Carvalho, 44, comerciante da região afirma que o movimento caiu cerca de 10%, mas que “os clientes assíduos continuam vindo”. “Nosso preço é maior, mas acho que a variedade e a qualidade da comida influem muito, então não perdi mais clientes por causa disso. A ins-

talação do restaurante popular prejudica uns, mas tem muita gente que trabalha no comércio e precisa, faz parte do jogo. É preciso ser criativo para não deixar nossa peteca cair”, argumenta. Darcy Maria Martins, que também é proprietária de restaurante no bairro, relata que o movimento de clientes “caiu e muito”. Para ela, a queda se deve à “novidade”. “O único dia que não me afetou foi no sábado”, afirma, dia em que o Restaurante Popular fica fechado. Já um outro comerciante, Rosemário Ferreira de Souza, 50, afirma que a inauguração do restaurante popular é válida, mesmo com a queda no movimento do comércio da região. “Acho que a iniciativa deve ser aplaudida, porque minha comida não é cara, mas, se for olhar direitinho, tem muita gente de baixa renda que ganha um salário mínimo por mês e não tem dinheiro para comprar comida. Você sabe como é triste não ter dinheiro para comer? Eu sei porque já

passei por isso, então não vou ficar maldizendo o restaurante popular, a gente tem que dar graças a Deus do governo ter essa iniciativa” afirma. O novo restaurante impactou o comércio dele com uma redução de 20%, mas ele não reclama: “se fosse a minha situação iria para lá também”.

SERVIÇO O Restaurante Popular do Barreiro

Rua: Afonso Vaz de Melo, 1001 – Barreiro. Horários de Funcionamento: 06h30às 8h - café da manhã; 10h30 às 14h – almoço e marmitex e das 17h às 20h – jantar.

Por Danielle Pinheiro Iara Fonseca


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Fotos| Danielle Pinheiro

TECNOLOGIA Televisão, computador e celular: tudo é TV digital As dúvidas sobre os novos aparelhos de televisão são recorrentes na população e ocorrem muito mais quando o assunto é TV digital Em ano de Copa do Mundo, muitas pessoas aproveitam a oportunidade para comprar aparelhos de TV mais modernos, com melhor definição de imagem e som para aproveitar a transmissão dos jogos na África do Sul. Aliado a esta demanda, surgem dúvidas sobre o modelo, a marca e o preço. Neste ano, os modelos em oferta são os aptos a receber o sinal digital e, assim, permitirem uma imagem padrão High definition (alta definição). Mas será que o brasileiro sabe o que é TV Digital? O Contramão ouviu vendedores de lojas de eletrodomésticos, clientes e um especialista sobre o assunto.

Digitar o quê? Nas vitrines, telas de alta definição transmitem jogos e outras informações relacionadas ao tema do momento: o futebol. As lojas, enfeitadas com balões e fitilhos coloridos em verde e amarelo chamam a atenção dos clientes para o carro-chefe das vendas desta época. A maioria das pessoas que passa pelas vitrines acaba parando e perguntando sobre a variedade de modelos

disponíveis. Alguns arriscam definir as potencialidades dos novos televisores. “O próprio nome já indica: digital, você digita né? Imagino que pela palavra você vê que tem que digitar”, palpita a bibliotecária Maria Cleia Borges, 62. O professor Geraldo de Souza, 47, admite; “já ouvi comentários a respeito na TV, mas não aprofundei no assunto”. “A grande maioria dos clientes não sabe do que se trata a TV digital. Em média, o cliente vai gastar R$ 2.000,00 para comprar os equipamentos necessários para usufruir completamente todos os benefícios do sinal digital”, explica Amauri Teixeira de Freitas, 25, vendedor. Os comerciários apresentam as vantagens dos aparelhos. “TV digital é uma qualidade melhorada da imagem, você vai ter uma imagem em alta definição, nitidez extraordinária, capta detalhes com perfeição. É como se tivesse um cinema na sua casa e qualidade de som insuperável”, explica o vendedor João Dário da Silva, 22. O também vendedor Sílvio Vinicius de Freitas,

28, acrescenta: “a imagem digital é perfeita, não tem chuviscos, pode ser o lugar que tenha pior imagem com antena analógica, com o sinal digital a imagem vai ficar limpinha, como se fosse um DVD.” O professor e pesquisador Cláudio Magalhães, especialista em TV Digital e presidente da Associação Brasileira de Televisão Universitária (ABTU), esclarece que a qualidade da imagem não está restrita somente aos aparelhos. O sinal digital substitui o analógico, que trabalha com um esquema de analogia, “ele não é o que é. Ele é uma copia do que é, então, quando eu filmo alguma coisa no estúdio, aquilo é transformado num tipo de sinal que é uma analogia do que está realmente acontecendo, ele sofre interferência durante o processo e nunca chega inteiro em casa, chegam ao máximo 60% do que saiu do estúdio porque ele tem interferência de temperatura, chuva, prédio, enfim, tudo acaba interferindo. No digital, o que sai do estúdio é o que chega a casa mesmo por meio de um código binário, então a TV di-

gital é a transmissão de um sinal digital até a casa da gente” explica. Magalhães acrescenta que o “sinal da TV digital tem no mínimo a mesma qualidade de imagem de DVD, o que é chamado de Standard”. “Se estiver chovendo, se a antena estiver ruim e se tiver muito prédio, por exemplo, o sinal analógico vai piorando cada vez mais. No caso da TV digital, só existem duas possibilidades: ou o sinal chega ou não chega. Assim como nas TVs pagas, quando existe algum problema na transmissão, a tela pára, e essa é considerada a maior desvantagem do sinal digital, porque o analógico, na pior das hipóteses, chega com chuvisco.” Além da imagem, Magalhães explica que o som também melhora em qualidade.

TV boa, imagem ruim Na hora de usufruir as potencialidades desse sinal é que ocorrem as dúvidas sobre o tipo correto e equipamentos necessários. O estudante Diego Rabelo de Carvalho, 23, comprou um


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Potencialidade não explorada Magalhães afirma que há outros aspectos benéficos da TV digital, que vão além da qualidade da imagem e som. A multiprogramação e a interatividade são as principais delas. “Esse é o ponto polêmico da difusão do novo sinal, pois os radiodifusores (produtores de televisão e rádio de sinal aberto) exercem grande pressão sobre o Ministério das Comunicações, por não aceitarem perder o mercado que já possuem”, esclarece. De acordo com especialistas, na multiprogramação, o sinal digital pode ser comprimido e transmitido em um menor espaço. Isso significa que, para um mesmo canal analógico, seria possível transmitir o equivalente a até oito canais digitais. Magalhães afirma que “a multiprogramação seria uma belíssima forma de democratização da imagem”, pois permitiria “mais espaço para diversificar os conteúdos”. Porém, o pesquisador explica que “são melhorias que dependem de questões políticas para serem adotadas”. Existe hoje, um decreto que

limita a multiprogramação às TVs públicas. Portanto, mesmo que a tecnologia ofereça essa possibilidade, ainda é uma realidade distante para os canais abertos. Outro ponto que gera discussão é a possibilidade da interatividade. A TV digital se assemelha a internet, mas existem duas ressalvas para que seja usada com essa finalidade: é necessário um software, que já foi criado no Brasil, o Ginga (Middleware Aberto do Sistema Brasileiro de TV Digital - SBTVD). Esse software faz a ligação entre a televisão – e as pessoas que estão assistindo – ao instrumento de interatividade da TV digital e deverá, no futuro, ser instalado no decodificador. A outra ressalva é a necessidade de haver o chamado “canal de retorno”, pelo qual voltem as informações geradas na ação interativa. Nesse sentido, “os radiodifusores são extremamente refratários e resistentes”, afirma Magalhães, porque eles não aceitam abrir esse espaço para as empresas de telecomunicações, o que seria a proposta mais viável. “A radiodifusão quer que a interatividade se restrinja a apenas interesses comerciais, comprarem uma camisa, votar em algum programa, essas coisas, mas tem uma potencialidade muito maior que isso porque entre as funções listadas sobre o uso da TV digital está à inclusão digital, então esse seria um ótimo instrumento de cidadania”, comenta. O pesquisador lamenta a demora na adoção das potencialidades da TV digital. Para ele, tanto a multiprogramação quanto a interatividade transformariam a TV em um meio de integração social: “a dona Maria, por exemplo, poderia usar sua televisão como internet, visitar o site da previdência social para saber de sua aposentadoria ou visitar a ‘TV Saúde’ para assistir programas da área de saúde e dentro da programação saber qual o posto de saúde mais próximo, que tem a consulta mais rápida, como precisa”.

Fim do analógico em 2016 O mesmo decreto que determinou o sistema que iria ser utilizado no país o SBTVD-T, definiu também o prazo de dez anos para implantação do

TECNOLOGIA

mesmo. Essa implantação significa a troca de todos os aparelhos, das TVs domésticas aos transmissores das emissoras (parte mais cara). Se em Junho de 2016 a população não estiver devidamente informada e adaptada para receber o novo sinal, muitas pessoas ficarão sem sinal de televisão porque cessará a transmissão do sinal analógico. O prazo parece longo, mas torna-se curto se levarmos em conta o nível de informação da população sobre o assunto e constatarmos que as promessas feitas pelo governo a respeito do preço dos decodificadores, estão longe de ser realidade. O governo prometeu abaixar os impostos sobre o produto para que o preço fosse o mais acessível possível e girasse em torno de R$ 100,00, mas, nas lojas ele é vendido entre R$350,00 e R$700,00. Num levantamento realizado pelo Contramão, constatamos que o consumidor que optar por usufruir completamente do potencial de som e imagem da TV digital, gastará em media R$2.000,00, em um aparelho televisor com FULL HD (nível máximo de qualidade até o momento) e com conversor acoplado, e cerca de R$

Foto s| Danielle Pinheiro

aparelho novinho, de 42 polegadas, esperando a tal imagem de cinema prometida pelo vendedor. Porém, ao chegar em casa... “A imagem dela não está como eu imaginava, não está digital; pensei que tendo a TV paga bastaria para receber o sinal digital e a imagem ficar boa, mas não”, lamenta. Magalhães pondera que para receber o sinal na TV aberta não basta só o aparelho de alta definição; é preciso ter uma antena UHF e um decodificador, que pode ser de dois tipos: set- top boxes, igual aos da TV paga, ou um que já esteja integrado à televisão. É necessário também ter uma televisão de boa qualidade, maior, pois se ela for pequena, não haverá diferença na imagem. Além da qualidade de som e imagem, pode-se usufruir também da mobilidade e portabilidade que o sinal digital permite. Pode-se assistir à TV com uma imagem de alta qualidade pelo celular se ele tiver essa função, no computador, na TV, no carro ou nos locais em que o sinal analógico não chegava antes.

1.500,00 se optar por comprar só a TV, sem o conversor. De acordo com Magalhães, a ABTU trabalha para que a discussão sobre interatividade e multi-programação, se abra para a sociedade, que se faça o uso social dessa tecnologia, que as pessoas e as universidades possam utilizar as vantagens da TV digital. Que todos participem principalmente os produtores de televisão do campo público, aqueles que têm como principal objetivo o interesse público e para não permitir que essa tecnologia se restrinja às mãos dos radiodifusores, da simples comercialização de seus espaços como acontece com as TVs comercias. “Temos alternativa de televisões que são voltadas para interesse público, as TVs publicas, TVs estatais, universitárias, comunitárias, legislativas, que também tem que aproveitar dessa nova tecnologia de acesso para que se consiga fazer essa inclusão digital e social da população brasileira” comenta o Presidente. Para maiores informações sobre a ABTU acesse: http:// www.abtu.org.br Por Danielle Pinheiro


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Foto | Henrique Muzzi

Dor de Cabeça Conselho de Defesa do Consumidor abre inquérito sobre problemas com o Fiat Punto

Com menos de três anos de lançamento, no Brasil, o automóvel Fiat Punto tem sido alvo de reclamações devido as supostas falhas internas e tem provocado dores de cabeça aos seus proprietários. Em Belo Horizonte, a presidente do Conselho de Defesa do Consumidor, Maria Lúcia Scarpeli, acolheu 15 denúncias referentes à manta que protege o “step”, no porta-malas do veículo. “A Fiat criou uma manta para evitar os barulhos internos, porém essa manta aquece muito e começa a derreter”, explica Scarpelli. De acordo com Maria Lúcia Scarpeli, as razões para o aquecimento que derrete a manta ainda não são conhecidas, mas o inquérito já está aberto. O fisioterapeuta, Raphael Borges de Oliveira Gomes, 27, três meses após a compra do veículo, numa concessionária do bairro Cidade Nova, decidiu, antes de uma viagem, fazer uma revisão e verificar as condições do pneu substituto,

em agosto de 2008. Foi nesta ocasião que Gomes se deparou com o problema. “Quando levantei o carpete, encostei a mão em algo mole e soltando um líquido vermelho. Como meu carro é vermelho e o material estava muito mole, achei que era chicletes. Peguei uma lanterna e vi que várias partes do porta-malas estavam assim”, descreve. O veículo passou por dois “recall” que, segundo Gomes, não surtiram efeito e só pioraram o problema. “Na segunda vez que o veículo foi reformado, a oficina passou mais de 30 dias com meu carro, o que foge às leis do Código de Defesa do Consumidor para reparo do produto, no artigo 18”, explica. Assim, o fisioterapeuta exigiu outro carro. O parágrafo primeiro do artigo 18 do Código prevê: “a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso”. Como o veículo não foi trocado, Raphael Gomes acionou a justiça

comum e o processo, hoje, está em andamento.

Cartilhas

O fisioterapeuta distribui cartilhas pela internet, informando o que aconteceu com seu veículo e, assim, conseguiu juntar mais trinta pessoas que constataram o mesmo problema. “Fiz uma lista e denunciei para a Promotoria de Defesa do Consumidor do Ministério Público de Minas Gerais (MP). No momento, o Procon e a Comissão de Defesa do consumidor da câmara dos vereadores de Belo Horizonte estão nos ajudando”, informa Gomes. A Comissão de Defesa do Consumidor de Belo Horizonte recebeu a denúncia e promoveu uma audiência pública, convidando o MP, a Fiat e as pessoas que se sentiram lesadas. Após a audiência, a Fiat não soltou nenhuma nota pública sobre o assunto. O Contramão entrou em contato com a Fiat que, até o fechamento desta edição, não pronunciou sobre o caso.

Problemas Esse não foi o único problema apresentado pelo modelo Fiat Punto. No dia 04 de Abril de 2009, uma falha no fecho de cinto de segurança central do banco traseiro gerou um “recall” que abrange todas as versões do carro produzidas entre 25 de junho de 2007 e 03 de novembro de 2008. Quase um milhão de unidades do Fiat Punto já foram vendidas em todo o mundo, na Europa, o veículo representa cerca de 40% das vendas da montadora. No Brasil, foram vendidas 94.274 unidades do veículo que, em 2008, foi premiado como “Carro do Ano” pela revista “Auto Esporte”, da Editora Globo. Por Henrique Muzzi

Veja a nossa galeria de fotos no site: contramao.una.br

... Outros casos Fotos| Arquivo pessoal dos proprietários

O porta malas do Fiat Punto descasca. ( Moisés Pack, Santa Catarina - SC)

Raphael Borges de Oliveira, proprietário levou o carro para manutenção pela segunda vez mas, o problema persiste.

Humberto Moreira , cidade Bambuí - MG , mostra a tinta derretendo e causando perfurações no porta malas.


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Foto | Débora Gomes

CULTURA CIDADE

Uma maneira livre de fazer arte

Arte, liberdade ou amor pelos dois? Saiba quais as razões que levam pessoas às ruas em meio a sorrisos e preconceitos O ditado popular diz que “o artista vai onde o povo está”. E fazendo valer essa expressão, apresentamos os artistas de rua. Com claves, malabares, bolinhas de contato, música e poesia nas esquinas, nos sinais, nos bares e nas praças de Belo Horizonte, os artistas de rua mostram o valor da liberdade com delicadeza, simplicidade e movimentos precisos que encantam as pessoas.

Respeitável público: O espetáculo vai começar! A arte feita na rua é vista, por muitos, como sinônimo de malandragem, porém, para os artistas a história é outra. “Não é uma vagabundagem, como alguns já falaram para gente. A gente se sente livre, como a maioria não se sente, para chegar a qualquer lugar e desenvolver nossa arte”, explica o designer gráfico, Marco Túlio Rangel, 35, que, há dez anos, abriu mão da profissão para se dedicar inteiramente à “arte de rua”. “Eu comecei a viajar pelo Brasil, a freqüentar vários lugares, trabalhei com artesanato um tempo, com pintura e, há mais ou menos cinco anos, eu conheci o instrumento didgeridoo* e entendi que a música era minha vocação”, rememora Rangel. Hoje, ele é um dos membros do grupo ‘Libertarte’, que surgiu durante um encontro de artistas na Praça da Liberdade. Segundo seus idealizadores, o Libertarte tem como propósito expressar o que eles definem como sendo “a forma livre de se fazer arte”, mostrando ao mesmo tempo, a ca-

pacidade que cada ser humano tem de se libertar das interdições e de realizar suas próprias escolhas. “A gente entende que a vida é mais ampla que todas as imposições sociais. Pode ser de outro jeito. E o outro jeito é mais livre, é mais puro, mais compreensivo, é mais amor, mais legal, mais lúdico. Não vivo por aceitação, vivo por uma explosão que vem de dentro.”, explica Rangel.

De berço

O

grupo desenvolve, ainda, trabalhos artesanais como o filtro dos sonhos, camisas personalizadas, velas, móbiles em cabaça e em origami, artigos em prata, em macramê e em arame. “A gente vive disso”, revela a artista Anna Lages, 19. Filha de artesãos Anna explica que teve contato com as artes desde criança. “Eu comecei de berço. Sempre peguei tudo de ouvido e olhando. Eu faço artesanato, teatro, malabares, música, e nunca fiz aula”, completa, atribuindo aos pais, parte de tudo que aprendeu.

Além das exibições feitas nas ruas, próximas aos sinais de trânsito, o grupo se apresenta em bares e algumas vezes em eventos fechados. “Em bar tem que chegar à mesa, tem que conversar mais e quando a pessoa te ignora é horrível”, revela Anna Lages. “No inicio você fica triste, depois vai ficando meio revoltado. Mas depois sempre tem um que compensa com um sorriso aquele que te ignorou”, explica o artesão João Paulo Portilho, 26. Antes de integrar ao Grupo Libertarte, Portilho já havia perdido as contas das vezes que perdeu seus trabalhos para a fiscalização. “A fiscalização toma de quem faz artesanato aqui em Belo Horizonte. Eu estava cansado disso. Até conhecer a turma, na rua, e aprendi com eles a fazer malabares”, ressalta Portilho. As apresentações são montadas de acordo com a habilidade e disposição de cada artista. A estudante Anna Bloise, 21, aprendeu, dias antes do vestibular, a fazer ve-

las. Recém chegada ao Libertarte, Bloise é, como define o grupo, a “passadora oficial de chapéu”. “No sinal eu não faço nada. Só passo o chapéu e peço dinheiro pros carros. Ajudo os meninos a fazer e a vender macramê e balõezinhos de cabaça. Arrumo Orkut e cuido da divulgação”, completa.O dinheiro ganho é dividido por todos independente do trabalho que realizar. “Quando vai muita gente fica difícil de dividir. Então, para um casal e para quem mora junto, a gente divide como se fosse para uma pessoa”, explica Anna Bloise.

A rua, o palco Para o Libertarte, o mais gratificante é a conscientização de que a arte se manifesta na liberdade do artista de rua. “A gente entende que a arte da rua está intrínseca na arte da vida, não se separam. Hoje, eu não consigo separar a arte de rua da arte da vida”, destaca Marco Túlio Rangel. Apesar do preconceito e do pouco reconhecimento, esses artistas continuam a ter a rua como o palco. “Às vezes estamos atravessando a rua e vem uma pessoa e faz pergunta, conversa, compra as coisas que vendemos, também. Outras vezes, nos sinais, as crianças tiram do dinheiro da mesada e dão para gente. E isso é muito gratificante”, reconhece Anna Lages. Por Débora Gomes

*didgeridoo.

Foto| Camila Sol

Espécie de trompete feito de madeira que produz um som de baixa freqüência. A origem do instrumento é aborígene. O didgerido é tocado com a contínua vibração dos lábios e a partir de uma técnica especial de respiração chamada respiração circular: enquanto utiliza as bochechas como foles, o músico mantém as notas respirando pelo nariz. Considerado um dos instrumentos mais antigos da humanidade, o didgeridoo é feito com o tronco de eucalipto oco e pode medir até dois metros de altura.

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Foto| Mauro Torres

REALIDADE “Tem gente que veio só olhar...” Compre seu bilhete e embarque em uma divertida viagem Antes do sol nascer, lá está o condutor, em seu posto, vendo o dia nascer em cada estação. As catracas giram. Os passos, antes lentos, agora se apressam. As portas se abrem e todos embarcam para uma viagem: a passeio, a trabalho, a caminho da escola ou, apenas, até a próxima estação. Dormindo, cantando, lendo as manchetes do dia, as pessoas sorriem e desejam “bom dia”, “bom trabalho”, “até logo”... Da Estação Eldorado parto para a Estação Cidade Industrial. O vagão, agora, começa a se complicar. Empurra-empurra, corredores lotados e pessoas estressadas, antes das 6h30. Os corpos se misturam, se apertam até se acomodarem. Enquanto isso, no próximo terminal, centenas de trabalhadores aguardam o vagão. Na parada seguinte, muitos ouvem o arrastar e o deslizar pelos trilhos. Com a força do hábito, o barulho avisa aos viajantes, que, prontamente, se posicionam atrás da linha amarela. E mais uma vez a cena se repete: corpos colidem e se comprimem. Entra e sai de passageiros. Acabo de

passar pela estação Vila Oeste, que de vila eu não vi nada, apenas um aglomerado desordenado de casas. Pela janela vejo ruas, passarelas e prédios que se movem a 38 km/h. Sei disso porque é padrão do metrô de Beagá. Tudo me distrai. Num simples olhar me deparo com um rosto cansado e abatido. Ao meu lado vejo um casal trocar beijos e caricias, sem se importarem com a platéia ao redor. Observo o encontro de duas gerações: uma garotinha e uma linda senhora. Histórias que observadas em câmera lenta renderiam histórias para bons livros. Sigo, sem desembarcar: Gameleira, Calafate, mais velocidade, 80km/h, Carlos Prates... e uma voz surgiu entre aquela confusão “Estação Lagoinha, acesso à Rodoviária”. Avisto pela janela o terminal, observo o trânsito e as pessoas. Os passageiros entram e se localizam. Terminal Central, Praça da Estação, o local é um desembarque na história. O prédio da antiga Estação Central, um dos monumentos que faz parte dos mais belos conjuntos arquitetônicos da capital, tem um gran-

de valor para a cultura da cidade. Será que as pessoas que embarcam notam a beleza do lugar? Sigo o meu itinerário. Próximos destinos: as Estações das ‘Santas’ Efigênia e Tereza. Ao passar pela Estação do Horto, me deparo com outra Santa, desta vez a Inês. Ainda não se passou das 8h e o local já está mais acessível, mas, não vazio. “Só ultrapasse a faixa amarela quando o trem abrir as portas”. Desembarco na Estação José Cândido da Silveira. Todos em um movimento ensaiado seguem “Desembarque pelo lado esquerdo do trem”. Desço e aguardo o próximo vagão. Observo as horas que, para os que esperam, passa lentamente. No outro lado da plataforma, no sentido Eldorado, os passageiros embarcavam. Rostos colados nas portas e em janelas... e nesta estação apenas seis desembarcaram. Neste intervalo entro no vagão que já estava cheio, sigo para a Estação Minas Shopping. Um conflito: todos que saem contra quatro que querem entrar. Em pouco tempo o vagão ficou

• Que uma viagem do metrô transporta o equivalente a 12 ônibus lotados? • Que são realizadas cerca de 250 viagens por dia e mais de 6.600 viagens por mês? • Que mais de 40 milhões de pessoas são transportadas anualmente pelo metrô? • Que a média mensal de usuários passa de 3,4 milhões de pessoas? • Que mais de 144 mil usuários transitam diariamente pelas 19 estações do sistema? • Que a pontualidade no cumprimento dos horários é de 99,5%? • Que a CBTU já plantou mais de 60 mil árvores de 69 espécies formando uma cerca viva que se estende pelos 40 km da faixa metroviária e que a projeção da copa das plantas ocupa em média de 25 hectares? • Que o recorde diário de passageiros transportados pelo metrô foi de 171.610 e que ocorreu no dia 5 de setembro de 2008? http://www.metrobh.gov.br

Por Ana Paula P. Sandim Fotos| Mauro Torres

Dentro deste trem, você Sabia?

vazio e grande demais para apenas cinco que nele permaneciam. Naquele espaço, eles se olham de “canto olho” e assim como eu, ouvem: “O metrô reserva 15% da suas cadeiras para idosos, gestantes e deficientes físicos...”. A Estação São Gabriel é diferente de todos os terminais, com o fluxo de pessoas maior. Uma cena me chamava atenção: as pessoas se esbarram, não pedem licença e mal se olham. Será que a rotina de saltar dos vagões transformam as pessoas como robôs? Dividindo o assento, passo pela Estação Waldomiro Lobo... Estação Floramar, as portas abrem, alguns desembarcavam e a cena apenas se repete: as pessoas se esbarram, não pedem licença e mal se olham. Meu destino está próximo. “Estação Terminal Vilarinho, solicitamos a todos que desembarquem do trem”. Volto. Sentido Eldorado. Desço. Viro. E quando me posiciono: “Cuidado com a distância entre o trem e a plataforma”.


contramão 11 Foto| Modelo- Univoorio

...O dia em que eu saltei da pedra da gávea de mato para todos os lados sem possibilidade de enxergar nada além. Pela primeira vez caiu a ficha: eu ia saltar de asa-delta e isso é perigoso. Lá em cima. Apesar de acompanhado, eu estava sozinho com a imagem daquela trilha ainda na minha cabeça. A rampa de salto. Neste momento, esqueci do perigo e admirei os prédios e carros, pequenininhos, e uma imensidão de águas ao fundo. Toda essa paisagem somada ao céu que, naquela manhã, se vestiu de um azul intenso. Esqueci o medo e me empolguei com o salto. Não via mais a hora de correr pela rampa e sobrevoar a cidade maravilhosa. Modelo liga a filmadora. Ensaiamos uns treinos para saber como agir para saltar. Faço uma rápida declaração à câmera e Modelo caminha até a asa-delta já preparada. Novamente, o medo veio falar aos meus ouvidos: “Vai saltar?”. É agora. Posição! As últimas orações! “Levanta o corpo. Olha pra ilha”, orientou Modelo. “Tá pronto pra correr?” Definitivamente eu não estou, mas não vou falar. “Vai correr?”, gritou. “Vou.”, respondi. A adrenalina foi a mil. “Vai correr?” “Vou!”

“Cinco, quatro, três, dois... CORRE!”

Neste momento, nada se passa na minha cabeça. Não penso em correr, apenas corro.

Simplesmente agi por impulso e corro até o final da rampa. De repente, nós caímos da rampa e voamos pelo ar. Indescritível. Estou em um filme de aventura. A imagem rola em câmera lenta. Onde estou? O que faço aqui? Estou voando? O medo ficou na rampa de salto. A asa-delta, diferente do que imaginei, voa rápido e alto. A partir daí, as sensações são as mais gostosas possíveis. Até mesmo quando sentia medo, tinha vontade de sentilo de novo. Modelo tinha uma admirável perícia para pilotar aquele instrumento de vôo. Ele ia para onde queria, quando queria, sem problemas. Disse a ele lá no alto que essa devia ser a melhor profissão do mundo. Quando olhei pra baixo assustei com o quanto estava alto. Curiosamente, assustei muito mais quando a asa delta fez algumas curvas e se aproximou do matagal. A paisagem era linda. Uma enorme mata com o telhado de algumas mansões lá embaixo. Ao olhar pra frente, o céu, o mar. Passamos em cima de casas, ruas e prédios no litoral. Mas quando sobrevoamos a areia, passamos pelo mar. Ultrapassamos as primeiras ondas e a sensação de êxtase foi incrível. Vocês não imaginam o que é voar acima do mar. Olhar para baixo e ver aquela imensidão azul abaixo de você. “Não faça nenhum movimento brusco. Vamos pousar”, orientou Modelo. Curvamos e reduzimos a altura. Chegando à praia,

a asa-delta se inclinou e vejo apenas a areia. O medo cochicha de novo: “Você vai esborrachar a cara no chão”. Descíamos em alta velocidade e isso é gostoso também. Mais próximo a areia, a asadelta se inclinou novamente e planou a uns dois metros de altura, por um tempo. Vôo rasante. Chegamos ao chão, de forma tranqüila. Quando paramos de correr, respiro e penso:

“Vamo de novo?”.

Não era possível, mas a vontade é de voar o dia inteiro. “Cara, você é louco”, alguém disse. “Sou. E, da próxima vez, eu salto de para-quedas”. Por Marcus Ramos

Foto| Ana Sandim

Eu tento, mas não vejo uma nuvem sequer no céu. Nada encobre o litoral carioca daquela manhã de outono. Estou em Ipanema, decidido a saltar de asa-delta e nem mesmo o agitado mar me prenderia. Nada me faria desistir. Ainda, nas primeiras da manhã, embarco no ônibus, destino: São Conrado. Eu não conheço o Rio, mas não é nada difícil ir de uma praia à outra. Eu, também, não conheço o Samurai, o funcionário da Univôo-Rio Asa Delta, mas não foi difícil encontrá-lo naquela praia repleta de asas, com uma pista de pouso na areia e uma barraca onde faço minha inscrição e assino a papelada. Ao subir a pedra da Gávea passamos por um caminho muito bonito. Uma estreita estrada, bem íngreme, cortando o matagal. Subimos Modelo, o motorista e eu. Modelo era o piloto, que ia saltar comigo, um cara de poucas palavras. No início do caminho até tentei puxar algum papo, elogiei seu carro, mas depois desisti e curti só o passeio. No começo da subida, escutávamos Zeca Baleiro, e o clima estava bem gostoso. Fiquei na janela admirando a paisagem e as grandes casas que existiam no local. A próxima faixa do cd era uma musica eletrônica, instrumental e tinha uma batida bem lenta. Neste momento a adrenalina começou a subir. Sou estudante de Cinema, e neste momento, me senti em um filme, onde a trilha de suspense me levava à outra atmosfera. O caminho que, antes, eu julguei bonito, passou a ser medonho e claustrofóbico: aquele tanto

Assista ao vídeo do salto no site: contramao.una.br


12 contram達o

Foto| Modelo- Univoorio

AVENTURA

Fotos| Ana Sandim

contramao.una.br


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