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Co:::unicação

jornal laboratório do curso de jornalismo da ufpr edição 03 | junho de 2007

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Redução

da maioridade penal

Curitiba novamente na rota dos shows internacionais

Software livre: tecnologia aplicada ao social

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O dilema sobre como lidar com infratores de 16 a 18 anos


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opinião

Comunicação junho de 2007

Editorial

A idade de punir e o direito à educação

Dos capítulos que envolvem a nova novela brasileira (essa que atende pelo nome de Redução da Maioridade Penal), parte integrante do recém adquirido pacote antiviolência: Capitulo 1 – Sobre o conflito e suas raízes: Vilã, a violência aparece na história do país desde sempre e continua em evolução. Mocinha, a redução da maioridade penal se apresenta como o herói que chegou para salvar o mundo. Só que o mundo do brasileiro não é bonzinho. Ao contrário, inclui educação falha, segregação socioeconômica, quando não racial, e especialização em exclusão.A questão da violência no país não se resolve com uma mudança na lei: precisa-se de boas escolas e desenvolvimento social, econômico e cultural. Capitulo 2 – Sobre as opções de ação: Ao jovem infrator de 16 a 18 anos, não se dá a possibilidade de reeducação e ressocialização. A punição vai de encontro às linhas de exclusão do desvio, este, causado pela própria sociedade. A pergunta é: de que forma a punição resolve o problema do país? Capitulo 3 – Sobre as condições de punir: Privado de possibilidades de reabilitação, o jovem infrator é jogado dentro de um sistema penal que não funciona. A precária Justiça, que não dá conta nem de punir os adultos, será capaz de atender mais essa demanda? Talvez se consiga colocar ainda mais presos nas cadeias lotadas. Talvez até seja possível abrir uma escolinha de treinamento para o crime. Capitulo 4 – Sobre as condições de educar: Pensando bem, que diferença há entre enviar um jovem criminoso para uma penitenciária falida ou para um educandário que não funciona? Capitulo último – Conclusões: A simples mudança no texto de uma lei é medida paliativa e não resolve o problema. Ao Estado, não cabe declarar guerra ao menor infrator, mas cumprir seu papel de formador por meio do extenso planejamento da sociedade, que inclui, entre outros, reforma do sistema penitenciário e educação.

Após o assassinato do menino João Hélio, em abril, com a participação de um adolescente de 16 anos, setores da sociedade brasileira passaram a pressionar o Legislativo em prol da redução da maioridade penal. O primeiro efeito prático foi a aprovação, pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, de um artigo que prevê a diminuição da idade em que o jovem ficaria sujeito à punição nos moldes adultos: de 16 para 18 anos, em casos de crimes hediondos. A questão, agora, é: tratar os jovens que infringem a lei como adultos é mesmo a melhor solução? Para discutir o assunto, o Comunicação fez essa pergunta a Mariana Franco Ramos, da ONG Ciranda - Central de Notícias dos Direitos da Infância e da Adolescência. Mariana Franco: O melhor caminho seria fazer com que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) fosse cumprido antes de questionar se ele é certo ou errado. Hoje, após quase 17 anos de existência, sabemos que ele não é cumprido. Antes de pensarmos na redução da maioridade penal, temos que discutir como fazer para que todos tenham acesso ao que lhes é de direito: escola, saúde, uma família. O que gostaríamos que estivesse em pauta é a busca de soluções para diminuir a criminalidade e não novas formas de punição. São nessas noções que se baseia o Estatuto. O ECA prevê para o menor infrator uma instituição sócio-educativa, já que, por estar em desenvolvimento, o jovem deve receber um atendimento diferenciado. Ou seja, ele é responsabilizado, mas é responsabilizado em uma instituição que tem o propósito de

educação e ressocialização. Um modelo desse tipo de instituição é a Fundação da Casa, antiga Febem, que existe em São Paulo, mas que precisa ser rediscutido. O impacto da redução da maioridade penal na sociedade é incerto ainda, já que não se consegue fazer cumprir nem o Estatuto. Os especialistas e pedagogos que atuam na área de direitos humanos afirmam que a redução não é a melhor solução. Nós, como organização que cuida da criança e do adolescente perante a mídia, podemos dizer que a discussão, hoje, trata da questão da redução, ao invés de discutir a prevenção da violência através de medidas públicas que viriam a proteger a criança e o adolescente. A mídia também deve assumir um papel mais consciente e retratar o adolescente e a criança como um todo e não apenas em momentos específicos. A Ciranda possui uma pesquisa que retratou a cobertura da imprensa com relação ao menor. É equivalente a 2004 e mostra que das 28.220 reportagens publicadas sobre esse tema, em dez veículos impressos no Paraná, apenas 310 citavam o Estatuto de alguma forma. Nessas matérias, nota-se que o ECA geralmente não é citado quando se fala em educação ou políticas públicas, mas ganha espaço quando o menor é agente da violência. Poucas matérias não só apontaram o problema, mas contextualizaram, buscando opiniões de especialistas e procurando soluções. E nessas, a privação de liberdade, como a internação em um educandário ou na Febem, é citada como último recurso. Larissa Jorge

Em greve Em busca do descongelamento de salários, possibilidade de realização dos novos concursos públicos, manutenção dos hospitais universitários e garantia do direito de greve, os servidores da UFPR decidiram interromper suas atividades na segunda-feira, 28 de maio. Para acompanhar a greve e saber o que se altera na rotina da Universidade, acompanhe a cobertura completa no endereço www.jornalcomunicacao.ufpr.br.

expediente O Comunicação é uma publicação do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Paraná, com a participação de alunos das disciplinas de Laboratório de Jornalismo Impresso e Laboratório Avançado de Jornalismo Impresso. Professor Orientador: Mário Messagi Jr. (jornalista responsável - DRT 2963/PR). Editor Chefe: Erike Feitosa. Secretários de Redação: Jaqueline Bartzen (Impresso) e Célio Yano (On-line).

Chefe de Reportagem: Profa. Juliane Bazzo. Editores Ciência e Tecnologia: André Marques. Comportamento: Ivan Luiz. Cultura: Fernanda Trisotto e Rossana Bittencourt. Esportes: Alisson Castro. Geral: Adriano Ribeiro e Dâmaris Thomazini. Opinião: Aline Baroni e Sandoval Poletto. Política: Aline Castro e Pedro Ernesto. UFPR: Carolina Leal e Cecília Pimenta. Fotografia: Giovana Ruaro. Ilustrações: Antoni

Wroblewski e Laís Brevilheri. Diagramação: Renata Ortega e Wilerson Barros. Comunicação Institucional: Uanilla Piveta. Endereço: Rua Bom Jesus, 650 – Juvevê – Curitiba-PR – (41) 3313-2032. E-mail: jornalcomunicacao@ufpr.br. Site: www.jornalcomunicacao.ufpr.br Tiragem: 2 mil exemplares. Impressão: Gráfica O Estado do Paraná.


cultura

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SHOWS INTERNACIONAIS Com a melhora na infra-estrutura, Curitiba volta a sediar grandes eventos

Na rota da música estrangeira Evanescence, Bad Religion, Pennywise, Jethro Tull, Testament e Nazareth são as bandas que, com apresentações em Curitiba no primeiro semestre deste ano, colaboram para recolocar a cidade no roteiro de shows internacionais. A capital que já recebeu shows dos Menudos, fenômeno da década de 80, e de Bon Jovi, uma das maiores bandas do mundo, sofreu durante os últimos anos com a ausência de grandes apresentações de músicos de outros países. De 2001 a 2004, foram poucas as atrações: Helloween, Bad Religion, Nightwish, Blind Guardian e Pixies. A situação começou a mudar em 2005, quando artistas conhecidos, como Hanson, Pearl Jam e Avril Lavigne, vieram. Desde então, os nomes famosos têm voltado aos palcos de Curitiba. No ano passado, a cidade hospedou os mexicanos RBD e os californianos Black Eyed Peas. No entanto, este parece ser o ano que marca o retorno da cidade ao cenário internacional da música. Mas por que só recentemente? Para Odilon Merlin, produtor musical e proprietário da casa de espetáculos Era Só o Que Faltava, que já recebeu artistas como Cat Power, o problema entre 2001 e 2004 foi a falta de lugar para eventos que exigiam boa infra-estrutura. “Curitiba sempre teve shows, mas ficou sem espaços para comportá-los; isso mudou com a reforma da Pedreira e do Master Hall”, afirma. “Na verdade, Curitiba nunca saiu do roteiro internacional”, diz Fábio Neves, diretor de produção da Seven Shows, produtora que trouxe as bandas Evanescence e Jethro Tull. “O que faltam são lugares bem estruturados, público e patrocinadores”. De acordo com o produtor, não apenas a estrutura está melhor, mas a organização dos eventos também evoluiu. Os cuidados, além de satisfazerem o público, evitam que acidentes como o que aconteceu no Jockey Clube do Paraná, há quatro anos, se repitam. No show que reuniu as bandas Charlie Brown Jr., Raimundos, Tihuana e Natiruts, a superlotação e a segurança falha causaram três mortes e deixaram 25 pessoas feridas. Tais problemas parecem superados. No show do Evanescence, por exemplo, não houve qualquer confusão e a apresentação começou no horário. “Não aconteceu nem empurra-empurra na grade”, afirma a estudante Maria Gabriela Correia, que prestigiou a atração em abril. O gerente de vendas Diego Ribeiro, que esteve no show do Bad Religion, também elogia a organização. “O show foi ótimo e, apesar de cheio, o lugar sustentou bem o número de pessoas”.

O que o curitibano viu em 2007 E vanescence: a banda de new metal

norte-americana, com Amy Lee nos vocais, estourou nas paradas de sucesso em 2003 com a música Bring me to Life. Em 2006 foi lançado o segundo CD, “The Open Door”. Bad Religion: os norte-americanos do Bad Religion são tidos como líderes da volta do punk rock no final da década de 80. Letras com temas sociais e habilidade em expressar a ideologia com o uso de metáforas são suas características marcantes. O lançamento do 14º CD da banda está marcado para julho de 2007. Pennywise: uma das principais bandas da cena hardcore californiana atual, ao lado de nomes como NOFX e Bad Religion. Alcançou o sucesso na década de 90 com o álbum Unknown Road. Coleciona 10 discos lançados em sua carreira; o último, intitulado “The Fuse”, foi lançado em 2005 Jethro Tull: banda de rock progressivo formada na Inglaterra nos anos 60. Seu estilo incorpora elementos de música clássica e celta. A banda tem 22 discos em estúdio e o último foi lançado em 2003. Testament: banda norte-americana de heavy metal, também da Califórnia. Foi uma das fundadoras do movimento trash metal em São Francisco, ao lado de outras, como Megadeth, Slayer, Anthrax e Metallica. Já gravaram 18 discos e o último foi lançado em 2005. Nazareth: banda de rock escocesa formada nos anos 60 que teve vários sucessos, mas um em especial: Love Hurts. A discografia conta com 43 discos, dos quais 15 são relançamentos.

Além dos problemas com estrutura e organização, existem outros fatores que limitam a vinda de bandas internacionais para Curitiba, como o alto cachê cobrado pelos artistas. “É mais fácil trazer nomes menos famosos porque eles têm interesse em fazer sucesso”, diz Merlin. “Dessa forma, o preço cobrado é bem menor do que cobram bandas de renome mundial”. Mas o produtor acredita que o determinante mesmo na vinda dos shows internacionais é o perfil do público da cidade. Segundo ele, o curitibano gosta, em geral, de sertanejo e pagode. Quando há shows com bandas que tocam outros gêneros de música, o público diminui e não há venda suficiente para bancar shows grandes de bandas internacionais. “Essa é uma das desvantagens com relação a São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre”.

Pop, Rock ou Sonora? Durante o tempo em que shows internacionais de grande porte eram raros, alguns festivais aconteceram na cidade. Em 2003, houve o Curitiba Pop Festival, na Ópera de Arame. O evento, que trouxe 20 bandas independentes, tanto nacionais como internacionais, foi apontado por produtores, músicos e jornalistas como um dos maiores de música alternativa do Brasil. A segunda edição, no ano seguinte, foi realizada na Pedreira e contou com a presença da banda norte-americana Pixies, entre outras. A terceira edição foi em 2005, mas o nome do evento mudou para Curitiba Rock Festival. As atrações foram os indies norte-americanos do Weezer e da dupla dinamarquesa The Raveonettes. No ano passado, outra mudança de nome: o evento passou a se chamar Sonora Festival, mas, devido a problemas relacionados à falta de patrocínio, não chegou a ser realizado. De acordo com a produtora Paola Wescher, responsável pelas três primeiras edições do evento, o Curitiba Pop Festival tornou-se Curitiba Rock Festival por exigência do patrocinador. “Além disso, adotamos um nome que caracteriza melhor o evento”, diz Leandro Knopfholtz, produtor cultural e também organizador do Festival. De acordo com Wescher e Knopfholtz, é difícil conseguir público e patrocinadores para esse tipo de evento. Ainda não há nada definido para um futuro Festival.

Fotos: Divulgação

Franciele Louise Bueno


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ciência e tecnologia

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INFORMÁTICA Cresce a adoção do software livre como opção estratégica

O software livre é seguro, menos suscetível a vírus, pode ser adaptado a cada usuário, é atualizado constantemente e a manutenção é gratuita. Essa é a perspectiva de quem já migrou para plataformas livres, que vão desde sistemas operacionais, como o Linux, a aplicativos mais simples, por exemplo o navegador Firefox. Até mesmo os desavisados podem estar usando programas livres sem saber. “Uma mensagem de e-mail, por exemplo, pode usar Linux a caminho do destinatário”, afirma Roberto Hexsel, professor do Departamento de Informática da UFPR. “Isso porque cerca de 70% dos computadores que compõe a infra-estrutura da Internet utiliza esse sistema operacional”. Os princípios que garantem essa expansão do software livre estão diretamente ligados ao código-fonte dos programas, conjunto de regras que, quando divulgados, permitem não apenas o uso, mas o estudo, aperfeiçoamento e repasse de conhecimentos sobre os softwares. Hexsel explica que o código-fonte é um texto escrito em uma linguagem de programação que define o programa e diz o que o computador deve fazer, de acordo com os comandos do programador. “Um software é similar a uma receita de bolo”, afirma. “Há uma lista de ingredientes - as estruturas de dados - e instruções quanto à seqüência da mistura dos ingredientes, tempo no forno e cobertura - o algoritmo”. No entanto, um software livre não é construído apenas pela disponibilização do código para o conhecimento de todos.

O software livre nasce quando existe a intenção de socializar o conhecimento, ou seja, quando se busca melhorar e repassar informações sobre o programa.” Claudinei Colodel, assessor em tecnologia educacional

Manuela Sanches

Sem preço e sem dono: programas de computador buscam igualdade tecnológica São quatro monitores, teclados e mouses ligados a uma única CPU e funcionando como se fossem quatro computadores independentes. A CPU central é ligada ao servidor e cada terminal trabalha na velocidade e utiliza a mesma capacidade de memória do servidor. O multiterminal funciona com softwares livres. Paraná Digital no Colégio Estadual Professor Cleto

“Esses programas só nascem quando existe não apenas uma opção de fundo técnico, mas também a intenção de socialização do conhecimento, ou seja, quando se busca melhorar e repassar informações sobre o programa”, diz Claudinei Colodel, assessor em tecnologia educacional. Essa é a grande diferença entre o programa livre e o de código aberto (open source): o segundo permite o estudo, mas não necessariamente o repasse do conhecimento. Assim, pode haver softwares não-livres de código aberto, ou seja, sabe-se como o programa é feito, mas qualquer remodelagem ou melhoria não é repassada. “Há empresas que investem fortemente no open source e adaptam programas de acordo com seus interesses, o que pode ser mais eficiente do que investir em um software proprietário (não-livre)”. O fenômeno do software livre não é novidade na informática. De acordo com a Fundação Software Livre, Richard Stallman deu origem ao processo com o projeto do sistema operacional GNU (GNU não é Unix), em 1984. A sigla diz

respeito à recusa de Stallman em usar o código fonte do sistema Unix e o objetivo do programa é garantir as quatro liberdades fundamentais que definem o software livre: executá-lo, estudá-lo, modificá-lo de acordo com as próprias necessidades e redistribuí-lo. Para proteger tais princípios, o hacker criou a licença de Copyleft (em oposição ao Copyright), que estabelece que as implementações dos programadores de software livre ao GNU são de domínio público e não podem ser registradas por empresas ou pessoas.

A opção estratégica O Paraná é pioneiro na adoção estratégica do software livre. A Companhia de Informática do Paraná (Celepar), empresa pública de informática mais antiga do país, criada em 1964, lançou novos sistemas com plataforma livre em sistema operacional, linguagem de programação e banco de dados. Fabiano Mormul, responsável pelo programa Software Livre da Celepar, conta que as tecnologias desenvolvidas

pela Celepar e repassadas às instituições para as quais a empresa presta serviços, como o Detran, permitiram reduções de custos significativas. “Só no projeto Detran, deixamos de gastar R$ 4 milhões em licenças de banco de dados e R$ 1 milhão com o custo de suporte anual”, afirma. Para Mormul, as vantagens não são apenas econômicas, mas principalmente estratégicas. “Se utilizássemos soluções proprietárias como o Windows, seríamos simplesmente usuários avançados, e não desenvolvedores”, completa. É exatamente esse o espírito que se vê em outro programa, o Paraná Digital, uma parceria entre a Celepar, a Copel, a UFPR e as secretarias de Estado de Educação, de Ciência e Tecnologia e de Assuntos Estratégicos. O objetivo é a informatização de 2.100 escolas estaduais do Paraná com a implantação de laboratórios multiterminais de informática, nos quais a cada computador são ligados quatro conjuntos de monitor, teclado e mouse para que os usuários trabalhem simultaneamente, utilizando softwares livres. “Com o projeto, é possível que daqui a uma geração nós tenhamos um grupo de usuários muito mais avançado do que em estados que ainda não se preocupam com software livre”, prevê Colodel. “À UFPR, por ser universidade, cabe o papel de socializar o software livre”, afirma Carla Rizotto, da assessoria de comunicação do Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL) da UFPR. É ainda responsabilidade da instituição apresentar um modelo viável de laboratório, de custo reduzido devido ao desenvolvimento dos multiterminais e o uso de software livre. Além de conceber um sistema único e integrado de todas as escolas que permita gerência remota e centralizada de toda a rede, o que viabiliza a continuidade e estabilidade dos laboratórios. O Paraná Digital já está em execução em 600 escolas do estado. Até junho, deverão ser 1.565 instituições participantes e, até o final do ano, o sistema deve funcionar em todas as escolas estaduais, por meio de uma rede de 44 mil computadores. O projeto vai beneficiar 1,5 milhão de alunos em 399 municípios paranaenses. Ísis Eich


política

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REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL Especialistas discutem a constitucionalidade e os impactos da proposta de emenda

Dos 16 aos 18 anos: a polêmica entre educar e punir Aprovado pelo Senado em maio deste uma idade que marca a maioridade penal, ano, o pacote antiviolência traz, entre ou- mas essa idade pode ser alterada. tros, a Proposta de Emenda Constitucional De acordo com Joarez Cirino, especialis(PEC) que reduz a maioridade penal de ta em direito penal do Instituto de Criminalís18 para 16 anos. O artigo, avalizado pela tica do Paraná, a Constituição é definitiva. “A Comissão de Consticláusula pétrea contuição e Justiça, é uma templa o artigo sobre proposta do senador a maioridade penal e, Demóstenes Torres portanto, a idade não (PFL-GO) em subspode ser alterada”. tituição a seis outras Márcia Caldas, prePECs e tem gerado sidente da Comissão polêmica. Os efeitos e da Criança e do Adoa constitucionalidade lescente da Ordem da redução têm sido dos Advogados do questionados. Brasil – Secção ParaA proposta prevê ná (OAB-PR), cona formação de uma corda. “A emenda vai comissão para detercontra a Declaração minar a consciência dos Direitos Humado adolescente que nos”. Ele ainda afirma comete um crime heThelma Alves de Oliveira, que, ao aprová-la, diondo (homicídio, presidente do Iasp “o Brasil rasgou sua latrocínio, estupro, Constituição”. seqüestro, falsificação, corrupção ou genoJá o desembargador do Tribunal de cídio). Caso conclua-se que o infrator tem Justiça do Paraná, João Kopytowski, diz que ciência da gravidade do ato, este deverá esta é uma interpretação errada, movida por ser julgado segundo o Código Penal e, se posicionamento pessoal. “A maioridade pecondenado, ficará preso em local diferen- nal não é contemplada pelo artigo que fala ciado dos criminosos com mais de 18 anos. dos direitos e garantias individuais; logo, O adolescente que não for considerado pode ser alterada”. consciente do seu ato ficará sujeito às mediAlém da constitucionalidade da redução, das socioeducativas já questionam-se ainda previstas no Estatuto as conseqüências da da Criança e do Adoaplicação da medida. lescente (ECA). Cirino, por exemplo, A redução da acredita que a PEC maioridade penal, no só punirá os pobres entanto, entra em e não afetará direconflito com a cláutamente as outras sula pétrea de Consclasses. “A medida tituição de 1988, fortalece a criminasegundo a qual os dilização da pobreza”, reitos e garantias inafirma Thelma Alves dividuais não podem de Oliveira, presiser alterados. A podente do Instituto lêmica gira em torno de Ação Social do da interpretação da Paraná (Iasp), órgão cláusula: enquanto João Kopytowski, responsável pelos alguns juristas defen- desembargador do Tribunal de Justiça do PR centros de educação dem que a alteração social onde os menoda maioridade penal é inconstitucional, res que cometem crimes sofrem privação de outros afirmam que apenas a essência da lei liberdade. “É a dupla penalização do jovem deve permanecer inalterada, mas sua forma pobre: pelo delito e pela condição, já que pode ser redefinida. Ou seja, deve existir será difícil que se recupere dentro do siste-

É a dupla penalização do jovem pobre: pelo delito e pela condição, já que será difícil que se recupere dentro do sistema penal.”

O delinqüente precisa temer a lei e o Estado e, se souber que pode ser preso, pensará duas vezes antes de cometer um crime.”

ma penal”. A presidente acredita ainda que fazer leis para os crimes graves e excetuar os demais é legislar para a exceção. Segundo Maria Roseli Guiessman, juíza da Vara de Adolescentes Infratores, a maioria dos adolescentes em conflito com a lei sofre com a desestruturação familiar e violência doméstica, além de serem usuários de drogas. “A pobreza é um fator de vulnerabilidade para essa situação”. “O adolescente que cometer um crime será punido independentemente da classe social a que pertença”, afirma Kopytowski. Segundo ele, a Justiça é como atendimento médico: “os direitos são iguais, mas os pobres demoram mais para se valerem deles, enquanto os ricos recebem melhor atendimento”, diz.

Código Penal versus ECA Adulto e adolescente que cometem crimes são julgados de acordo com leis diferentes: o Código Penal e o ECA, res-

pectivamente. De acordo com Guiessman e Oliveira, a diferença entre os dois é que, enquanto o primeiro é eminentemente punitivo, o segundo propõe a reabilitação do menor para o convívio em sociedade. “O Código se baseia na noção de dívida com a sociedade, o olho por olho”, afirma Guiessman. “Já o Estatuto não leva em conta apenas a gravidade da infração, mas também o progresso do adolescente para definir o fim da internação”, explica a presidente do Iasp. Kopytowski afirma que tanto a medida aplicada ao adolescente quanto a aplicada ao adulto visam a ressocialização, “só que o menor tem um atendimento mais especializado”, completa. Para o desembargador, além de estabelecimentos especiais para o adolescente privado de liberdade, a lei deve contemplar a idade como atenuante da pena, como acontece hoje em dia com o infrator menor de 21 anos. Pedro Castro e Renata Bossle


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ufpr

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RELÓGIO SOLAR Alunos de Arquitetura transformam o instrumento milenar em ferramenta de ensino

Traços no chão e a sombra do homem são os elementos necessários para se construir um relógio solar. Conhecido como primeira forma de marcar as horas, o instrumento foi resgatado para ser a peça chave de um projeto educacional dos alunos do curso de Arquitetura da UFPR. Os relógios são construídos nos pátios das escolas municipais de Curitiba e servem de base a aulas de astronomia para alunos do ensino fundamental. Os estudantes de Arquitetura, responsáveis pela execução do projeto, desenham e pintam os relógios em áreas planas. Mas, devido à constante presença de crianças nos pátios, não colocam o gnomon, a haste geralmente presente nos relógios solares, cuja sombra projetada no solo serve de ponteiro. Para substituí-lo, criaram um sistema de marcações no chão, segundo o qual a própria criança se posiciona de acordo com a sua altura e sua sombra indica as horas. A iniciativa começou a funcionar neste ano, com o apoio da Prefeitura Municipal, mas a idéia já existe há mais tempo. “Eu pensava em usar relógios solares no ensino da Arquitetura desde que comecei a trabalhar a orientação solar”, afirma Aloísio Leoni Schmid, professor do curso e coordenador do projeto. De acordo com ele, não apenas as crianças aprendem, mas os universitários aproveitam para observar a trajetória solar, conhecimento essencial para a construção de casas funcionais numa cidade de clima temperado como Curitiba. Apesar de os relógios serem bastante simples, o início do projeto não foi muito fácil. “Os professores não tinham capacitação

Manuela Sanches

Sol, sombra e astronomia nas escolas

Eu até colocaria um relógio de sol na minha casa, mas não trocaria o normal por ele porque nesse não dá pra ver a hora de noite.” Jailson Barbosa, aluno da Dom Manuel Silveira D’Elboux

Funcionamento do relógio solar

Legenda legenda legenda compõem legenda o relógio solar Alunos da Dom Manuel

e os universitários tiveram que ensiná-los a usar os relógios”, conta Clarisse Dib, vicediretora da Escola Municipal Arapongas. Mas o esforço tem valido a pena. “As crianças acham o relógio bem interessante e aprendem coisas como o horário de Brasília, por exemplo”, afirma Larissa Silveira, diretora da Escola Municipal Dom Manuel Silveira D’Elboux.

O relógio solar utilizado no projeto tem o mesmo princípio do primeiro relógio inventado. Ele possui marcações, que consistem em linhas coloridas no chão, feitas com tinta. As linhas radiais, onde são marcadas as horas, se cruzam com arcos, que marcam o início de cada estação do ano. No centro do relógio, uma outra linha indica a altura das crianças, revelando onde cada uma deve se posicionar. Não existe ponteiro, para que as crianças não se machuquem. Para saber as horas, a criança só precisa olhar para a sombra de sua cabeça, que indica a hora e a estação do ano.

Para a maioria das crianças, que tem de 5 a 9 anos, o relógio solar é uma novidade. “Mas eu já tinha visto um no Japão!”, diz Bruno Kem, que veio daquele país. “Só que tinha um pauzinho”, conta, reparando na ausência do ponteiro. Várias perguntas surgiram enquanto os alunos da terceira série da escola se revezavam para se colocar no centro das marcações e ver a hora indicada

por suas sombras. “Vai ser legal, é super fácil de entender”, diz Matheus Morás, colega de Bruno. Jailson Barbosa gostou da novidade e conta que até colocaria um relógio de sol em sua casa, “mas não trocaria o normal por ele porque nesse não dá pra ver a hora de noite”, explica. Mariana Ohde

MEC planeja reformulação do ensino superior Um novo projeto do Ministério da Educação (MEC) começa a ser discutido nas universidades brasileiras. O ‘Universidade Nova’, como é chamado, prevê uma mudança na arquitetura do ensino superior no Brasil, a ser implantada até 2012. O objetivo é que a nova estrutura curricular seja compatível com o modelo norte-americano e europeu de ensino, o que implicaria em interdisciplinaridade, exigência dos currículos contemporâneos. A proposta prevê a implantação de bacharelados interdisciplinares, com duração de três anos, que proporcionariam uma formação universitária geral em quatro

grandes áreas do conhecimento: Humanidades, Artes, Ciências e Tecnologias. Após ganhar o diploma de bacharel em área geral de conhecimento, o estudante poderia ingressar na formação profissional, a graduação, ou na formação científica, a pós-graduação. No entanto, para ingressar na graduação, que pode durar de um a cinco anos, os alunos passariam por um novo processo de seleção específico. “Oferecer ao estudante um bacharelado interdisciplinar que, depois de três anos, resulte em um diploma que não serve para nada seria cometer uma irresponsabilidade”, afirma Carlos Au-

gusto Moreira Júnior, reitor da UFPR. De acordo com o reitor, não há um consenso sobre o projeto entre as universidades federais, que têm autonomia para escolher seu sistema de ensino. Outra meta do Universidade Nova é ampliar o acesso ao ensino superior público. Para o curso de formação geral seriam criadas novas vagas, o que elevaria o número de alunos em relação ao número de professores. O objetivo é chegar a uma média de 18 alunos por professor, o dobro da atual na maioria das universidades. Além disso, o projeto propõe a extinção do vestibular e sua substituição pelo Exame

Nacional do Ensino Médio (Enem) como instrumento de seleção para ingresso nos cursos de formação geral. Maria Tarcisa Bega, diretora do Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes da UFPR, acredita que o projeto corre sérios riscos, porque “não é resultado de um debate no meio acadêmico”. Segundo ela, não é possível dissociar graduação de pós-graduação e ensino de pesquisa. “É por manter essas etapas unidas que as universidades públicas ainda são consideradas as melhores em ensino”, conlui. Natália Sampaio


geral

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FRAUDE ACADÊMICA Compra de trabalhos e plágio acontecem sem a devida punição

Todo trabalho tem seu preço Fernanda (nome fictício), estudante do segundo ano de Direito das Faculdades Integradas Curitiba, reuniu-se com uma equipe de colegas para discutir o trabalho de filosofia. Era final de semestre e, sem tempo para tantos projetos e provas, o grupo encontrou uma solução fácil para o problema: não fazer o trabalho, mas comprá-lo pronto. Não haveria apresentação para a turma e o risco de serem pegos era muito baixo. Por R$ 100, conseguiram uma boa nota sem nem ao menos ler o material que entregaram. “Na hora do desespero, foi a única saída que encontramos”, revela Fernanda. “Agora, tento não deixar tudo para a última hora, mas, se fosse preciso, compraria de novo”, completa. Falta de tempo é um dos motivos apresentados por alunos que encomendam desde resenhas de livros e resumos de três páginas até monografias e trabalhos de conclusão de curso. Há três anos, a funcionária pública Marta (nome fictício), complementa a renda mensal atendendo aos interesses desses estudantes. Ela faz trabalhos de graduação na área de Ciências Sociais Aplicadas e cobra entre R$ 50 e R$ 100 para organizar e redigir o texto, a partir de uma pesquisa previamente realizada pelo comprador. Geralmente, esses estudantes já estão nos últimos anos do curso e querem ter certeza de que conseguirão se formar. Marta afirma que nenhum de seus trabalhos foi descoberto ou reprovado. “Todos os alunos ficaram satisfeitos com o serviço e foram aprovados com mérito”, comemora. Os clientes vêm por indicação, já que a propaganda é muito arriscada. Há 13 anos, a pedagoga Rosana (nome fictício) também presta esse tipo de serviço. Ela já fez mais de 400 monografias para alunos, tanto de graduação como de pósgraduação, por um valor aproximado de

A maioria dos estudantes que compra ou copia textos na íntegra o faz porque não sabe desenvolver a proposta.” Gisele Mocci, professora de Sociologia da UFPR

UFPR: falta de rigor na punição dos fraudadores

R$ 600 cada. Ela também já desenvolveu duas teses de mestrado. Em 45 dias, Rosana chegou a entregar 23 trabalhos em áreas variadas. “A faculdade não dá subsídios para o aluno desenvolver o que a própria instituição exige”, afirma. Para ela, há uma falha grave no ensino superior: “As teorias são apresentadas com textos prontos, sem ensinar o aluno a metodologia necessária para formular seu próprio raciocínio”.

Flagra Existem inúmeros endereços na Internet que disponibilizam monografias e trabalhos prontos por um preço menor do que a contratação de um profissional. O site Zé Moleza (www.zemoleza.com.br), por exemplo, conta com um acervo de mais de 20 mil trabalhos enviados por visitantes da página. Para ter acesso ao conteúdo é necessário pagar uma taxa anual de R$ 40. No entanto, instrumentos de pesquisa como o site Google ajudam os professores a descobrir a farsa mais facilmente. Nesse sentido, os trabalhos encomendados são mais ‘seguros’, porque não configuram plágio e dificilmente são descobertos. A professora de sociologia da UFPR, Gisele Mocci, flagra em média duas fraudes por ano. Segundo ela, muitos alunos plagiam ou compram trabalhos porque percebem o desinteresse dos professores em sala de aula, que por vezes nem lêem os textos dos estudantes. Por isso, ela realiza dois encontros fora do horário de aula com as equipes antes da data de apresentação dos projetos, reduzindo, assim, o número de

Todos os alunos para quem fiz trabalhos ficaram satisfeitos com o serviço e foram aprovados com mérito.” Marta, (nome fictício) produtora de trabalhos de graduação

farsas. “A maioria dos estudantes que compra ou copia textos na íntegra o faz porque não sabe desenvolver a proposta”, afirma a professora, que usa as reuniões para ensinar os alunos a fazer os trabalhos que pede. “O Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da UFPR pretende tornar obrigatória a denúncia dos plagiadores à Polícia Federal, mas acredito que zerar a nota já é punição suficiente”, afirma o professor Dennison de Oliveira, do curso de História. No ano passado, ele descobriu que alunos de Comunicação Social haviam copiado duas páginas do trabalho que apresentaram da Internet, sem creditar o autor nas referências bibliográficas. “É um verdadeiro ‘suicídio acadêmico’ plagiar textos na era da Internet”, diz. Os alunos tiveram sua nota zerada. Amanda Menezes e Camila Chudek

Copiar trabalhos acadêmicos é violação do direito autoral e prevê multa ou detenção de três meses a um ano, segundo a advogada Andréa Pinheiro. No entanto, a UFPR não tem nenhum sistema de controle sobre essas situações. A instituição recebeu, recentemente, um documento da Polícia Federal orientando para que os casos de suspeita de plágio ou compra de trabalhos acadêmicos sejam encaminhados à polícia. Entretanto, ainda não há nenhum órgão especializado para tratar do assunto e os casos não chegam a ser registrados nem mesmo nos departamentos dos cursos. Assim, não é possível mensurar o número de ocorrências. O próprio regimento interno da Universidade não é claro quanto às punições para o infrator e, por isso, pouco é feito no sentido de solucionar o problema. A responsabilidade acaba, então, com os professores, que, na maioria das vezes, zeram os trabalhos dos alunos quando percebem a farsa. No caso de trabalhos de conclusão de curso, as fraudes descobertas são punidas com reprovação. Em qualquer das ocorrências, o aluno tem seis meses para refazer o trabalho e eliminar as cópias.


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comportamento

Comunicação junho de 2007

RELACIONAMENTOS Nada de bombons ou flores para curar a síndrome de 12 de junho

Dia dos Namorados para solteiros Junho dá as caras e com ele chega o friozinho do inverno, ótimo para assistir a um filme debaixo das cobertas, acompanhado de um cafuné alheio. Vem também o Dia dos Namorados, para trocar presentes e promessas de amor. Mas e quem está solteiro, como fazer tudo isso? Para alguns solitários, o 12 de junho rima com desilusão e tédio amoroso. No entanto, um número cada vez maior deles está convicto de que a data é uma bobagem. “Se cair num final de semana vou sair à noite; se for dia de semana, vou seguir minha rotina, não vai mudar muita coisa na minha vida”, garante Bruno Vilanni, estudante de Direito na UFPR. Adepto do lema ‘solteiros sim, sozinhos nunca’, ele deixa uma dica para os solteiros desesperados: avaliar os locais que freqüentam. “Nos bares a chance de rolar um papo legal é maior, uma oportunidade melhor de conhecer bem outras pessoas”, diz. “Talvez o clima criado antes do Dia dos Namorados faça com que as pessoas se sintam mais carentes”, diz Cássia Moreira, aluna de Psicologia. “Mas eu, na data, pretendo fazer o que sempre faço: sair com meus amigos e me divertir!”, afirma a moça, solteira há cerca de um ano. Ela confessa

“Terminei um namoro há nove meses e, desde então, não tive mais nenhum relacionamento sério. Agora já não sinto mais tanta falta, mas confesso que por um tempo eu senti inveja dos casais apaixonados, principalmente aqueles que pareciam ter um namoro perfeito. Fiquei até sem ir ao cinema por muito tempo por causa disso. Hoje, só me sinto carente naqueles dias em que quero sair de casa e não tem alguém para fazer algo comigo. Ano passado, passei o Dia dos Namorados acompanhada, mas não foi muito diferente de como vai ser nesse ano: vai cair em um dia da semana que eu tenho muita coisa para fazer.”

que às vezes sente falta de um namorado, mas só durante os dias frios e chuvosos. “Nos outros, eu costumo achar mais legal ser solteira, é ruim sair com a sensação de alguém pegando no seu pé e implicando com coisas bobas”, conta. Existe ainda uma parcela de solteiros que afirma não ter encontrado a pessoa certa. É o caso de Mauro Junior, que cursa o ensino médio e nunca namorou sério. “Meus relacionamentos não passaram de três meses”, lamenta. Enquanto a pessoa ideal não chega, ele curte a ‘solteirice’: vai a festas, conhece pessoas novas, sai com os amigos. E perto do Dia dos Namorados, mantém a calma. “Nunca pensei ‘poxa, preciso arrumar uma namorada agora’, nada disso nunca passou pela minha cabeça”, diz Mauro, mas faz uma ressalva: “Pelo menos, ainda não”. Mas, para os solteiros infelizes e nem um pouco convictos, que padecem da síndrome do Dia dos Namorados, já cansados de rodar as noites procurando alguém nas festas, bares, Internet e afins, há uma maneira de mudar essa situação: as agências de casamentos. Recentes no Brasil, esse tipo de agências ainda é visto com desconfiança e preconceito.

“Estou solteiro há um ano, mais ou menos. Terminei meu último relacionamento perto do Dia dos Namorados do ano passado. Adoro namorar, mas a data não muda muita coisa para mim. Quando estou namorando, acabo entrando na onda de presentear. Quando estou solteiro, considero apenas mais uma data comercial. Não sinto inveja dos casais felizes, mas todos nós sabemos o quanto é bom estar apaixonado. Se eu fosse proprietário de algum bar, exploraria a data para criar uma noite dos solteiros ou algo assim, já que, pelo que tenho observado, são raros os casos de pessoas há muito tempo sozinhas e realmente felizes.”

Angela Silva,

Bruno Villani,

estudante de Psicologia

estudante de Direito

Pessoa solteira procura A maioria das agências brasileiras não tem mais de 15 anos de existência e surgiu seguindo o padrão das existentes na Europa. Sheila Rigler, proprietária da Par Ideal, de Curitiba, uma das três maiores agências do Brasil, revela que há um aumento considerável do número de clientes próximo ao Dia dos Namorados. “As pessoas ficam mais carentes e percebem que querem alguém para dividir esse dia”, observa. A busca pelo serviço também sobe no mês de janeiro, quando, depois de estarem desacompanhados nas festas de fim de ano, os solteiros resolvem que o ano novo deverá ser diferente. O perfil dos clientes desse tipo de agência surpreende. Ao contrário do que diz o senso comum, a clientela não é composta de pessoas ‘encalhadas’, esquisitas ou desesperadas: nove, em cada dez cadastrados, têm formação superior, são pessoas culturalmente bem resolvidas, com alto poder aquisitivo e à procura de um relacionamento sério, que vá do namoro ao casamento. A idade dos cadastrados é o que mais varia: de 21 a 78 anos (ver infográfico). Um estudo da psicóloga e professora da

UFPR, Lídia Weber, especialista no tema, retrata o solteiro agenciado como um indivíduo sociável, tão tímido ou extrovertido quanto às pessoas não-agenciadas e dotado de um estilo de amor mais romântico. “Sabem o que querem e enfrentam corretamente a situação para alcançar seus desejos, não têm medo de envolvimento e esperam realmente se apaixonar pelo parceiro”, constatou. “As pessoas que nos procuram cometeram o erro de deixar a vida amorosa ao acaso e nós trabalhamos para reativá-la”, explica Marlene Heuser, consultora em relacionamentos e proprietária da agência Golden Years, também de Curitiba. A especialista desacredita a real existência do ‘solteiro convicto’. Rigler, concorda: “Vejo pessoas que passam anos sozinhas, e que dizem que nunca vão casar, mas de repente estão batendo aqui na minha porta, pedindo ajuda para encontrar o par ideal.” Confira mais matérias sobre relacionamentos em www.jornalcomunicacao.ufpr. br, editoria de Comportamento. Flávia Silveira


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