10 MERCADO
Novembro 2017
O que será da safra 18/19? Indicadores pessimistas de oferta de cana e de preços desafiam os gestores das unidades processadoras de açúcar e de etanol da região do Centro-Sul DELCY MAC CRUZ, DE RIBEIRÃO PRETO (SP)
Planejar a safra de cana-de-açúcar 2018/19 desafia os gestores das unidades produtoras a dois meses do fim deste ano. Geralmente o planejamento da temporada seguinte é feito com antecedência de até nove meses do início da moagem. Os fatos climáticos e de mercado registrados ao longo de 2017, mais a expectativa em torno do que virá até dezembro próximo, criaram pontos de interrogação que nem mesmo os principais analistas do setor cravam o que deverá ocorrer com a próxima safra. Em relação ao mercado internacional do açúcar, as informações destoam sobre as previsões de superávit mundial e só estão garantidas sobre a queda nas cotações pela Bolsa de Nova York. Na última semana de outubro, por exemplo, os contratos futuros do alimento para as telas de março, maio e julho previam máximo de 14,43 centavos de dólar por libra-peso. Há um ano, os mesmos contratos valiam mais que o dobro. Como resultado do declínio dos preços, traders e empresários recuaram em formalizar contratos futuros. Em 2016, pelo menos 60% do açúcar da safra 17/18 tinha sido fixado no fim de outubro. Dessa vez, menos de 10% do produto teve o mesmo tratamento. “Fixamos só 9% até na primeira quinzena de outubro e iremos esperar mais para ver se os preços reagem”, disse Ricardo Junqueira, diretor da Diana Bioenergia, com unidade em Avanhadava (SP). Em 2016, nessa mesma época, a empresa tinha fixado 70% do açúcar. As condições climáticas do ano registraram chuvas fora de época e geadas, mas foram sacramentadas pela estiagem. Isso favoreceu o avanço do açúcar acumulado, em detrimento da oferta de cana, além de gerar incógnitas sobre o que ocorrerá com as canas nova e soca para a próxima temporada.
MOAGEM DEVE FICAR ABAIXO DE 600 MILHÕES DE TONELADAS As previsões de moagem de cana para a safra 18/19 mudam conforme o autor, mas têm um ponto em comum: dificilmente o volume de matéria-prima para as unidades da região Centro-Sul do país passará de 600 milhões de toneladas. Os 600 milhões de toneladas representam a média das previsões já divulgadas por empresas como Banco Pine, Sucden, Bioagência e Canaplan. A previsão média representa também 15 milhões de toneladas abaixo da projeção inicial para o Centro-Sul feita pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) para a temporada de cana-de-açúcar 2017/18 para as unidades processadoras do Centro-Sul.
Cana bisada Haverá cana remanescente de 2017 para ser processada nos primeiros meses de 2018, mas o volume será inferior ao registrado nesse ano. A Usina Santa Fé, com unidade em Nova Europa (SP), planeja moer em março 150 mil toneladas de cana que deverão ‘sobrar’. A Santa Fé, entretanto, é das poucas unidades contatadas pelo JornalCana e que preveem ter cana bis. Conforme Luiz Carlos Carvalho, o Caio, presidente da Canaplan, a área com cana bisada representou 6% da área canavieira da safra 16/17. Em levantamento feito em setembro último, a representação dessa cana
do total da área ficou abaixo de 1%. Envelhecimento Para a 18/19, a idade média dos canaviais da região Centro-Sul será de 3,89 cortes. O envelhecimento reflete uma taxa de renovação de 12,5% durante 2017 quando, conforme a Canaplan, esperava-se 13,5%. “Há grupos sucroenergéticos que mantém níveis de renovação entre 18 e 20%”, pondera Caio. Do canavial renovado no Centro-Sul, 50% é de cana de doze meses. Produtividade A produtividade no Centro-Sul está estagnada desde 2010. Na safra
vigente, a média ficará em 10,13 toneladas de ATR por hectare (TAH). Na 16/17, a média foi de 10,37 TAH. Produção A produção de cana está cada vez mais pressionada pela idade média dos canaviais. A expectativa é de que a safra 18/19 tenha início com atraso, dependendo da ‘dança das chuvas.’ As esperadas chuvas dos últimos meses de 2017 deverão gerar atraso na moagem, o que pode resultar na sobra de cana para moagem em 2019. Mas essa sobra pode render uma cana ‘inflada’, ou seja, sem produtividade em ATR.