JornalCana Edição 275/Dezembro 2016

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MERCADO

Dezembro 2016

“O setor precisa colocar o Consecana em discussão” ATR na BM&F Bovespa é uma das opções sugeridas para não inibir a usina de ganhar dinheiro quando o mercado futuro sobe O setor necessita urgentemente promover uma ampla discussão a respeito da eficiência do Consecana. Esta é a opinião de Arnaldo Luiz Corrêa, da Archer Consulting, Assessoria em mercado de Futuros, Opções e Derivativos. Veja suas razões: “Não há dúvida que o modelo teve incontestável sucesso desde a sua criação. No entanto, modelos não são perfeitos e precisam ser ajustados e melhorados para se adequarem à realidade de um mercado e um mundo em constante mudança. Por muito tempo, o Consecana pareceu refletir os anseios do setor e definir, de maneira justa, a remuneração dos fornecedores de cana. Serviu sob determinadas condições de mercado, mas é incontestável que hoje o modelo prejudica igualmente as usinas e os próprios fornecedores de cana quando essas condições mudam, como é o caso atual em que o mundo açucareiro passou de um superávit para um déficit mundial”. Corrêa entende que é preciso analisar com a devida profundidade as restrições que o atual modelo apresenta em mercados invertidos, aqueles cujos preços dos meses com vencimento mais curto negociados no mercado futuro são mais altos do que os meses com vencimentos mais longos, como é o caso agora. Ele dá um exemplo: “Há algumas semanas, o contrato futuro de açúcar com vencimento maio/2017 na bolsa de NY, primeiro mês de fixação de preço para os açúcares da safra 2017/2018, era negociado a 23.00 centavos de dólar

Arnaldo Luiz Corrêa: modelos não são perfeitos e precisam ser ajustados

por libra-peso. A política de risco da maioria das usinas recomenda fortemente que o percentual correspondente à produção de açúcar oriundo de cana de terceiros não seja

fixado. O argumento é que ao fixar o preço do açúcar no mercado futuro da parcela correspondente à produção de açúcar de cana de terceiros, a usina corre o risco de ver o mercado continuar em ascensão e o custo ajustado da cana que terá que pagar ao fornecedor afetar a rentabilidade do produto final (açúcar). Desta forma, seguindo essa orientação, a usina aderiu ao contrato de maio/2017 negociando a 23.00 centavos de dólar por libra-peso sem fixar nada da parcela correspondente à cana de fornecedor. Tornou-se quase um axioma dentro das usinas esse procedimento. Não há matemática que consiga justificar perder US$ 90 por tonelada!!! “A lógica de não fixar cana de terceiros funciona no mercado em custo e carrego (aquele em que os preços futuros com vencimento mais longo são mais altos do que os preços com vencimentos mais curtos), comuns em situações de excesso de oferta. No entanto, usar esse mesmo critério num mercado invertido é jogar pela janela uma eventual oportunidade de remuneração mais vantajosa que os meses com vencimento mais curto proporcionam num mercado invertido. Eu não consigo entender essa lógica”. “Como resolver essa questão para que todos saiam ganhando é o desafio maior que nos dá certeza de que um amplo debate precisa ser feito”, diz. E oferece uma solução: “Talvez um contrato futuro de ATR na BM&F Bovespa. Ou um modelo mais justo que não iniba a usina de ganhar dinheiro quando o mercado futuro sobe apenas por conta de ter cana de terceiros. Temos que ter a humildade de reconhecer que precisamos aperfeiçoar os instrumentos de apreçamento da cana para que o setor, como um todo, possa tirar proveito de situações raras como a que estamos vivendo, com o açúcar negociado numa margem muito acima do que vimos nos anos recentes”, finaliza Arnaldo Corrêa. (LB)


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