JornalCana 263 (Dezembro/2015)

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PRODUÇÃO

Dezembro 2015

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ENTREVISTA - Juarez de Sousa e Silva, agrônomo e professor da Universidade Federal de Viçosa, MG

“Brasil precisa legalizar venda do etanol produzido nas microdestilarias” Juarez de Sousa e Silva, professor da Universidade Federal de Viçosa (MG) e engenheiro agrônomo, relata que tem lutado em favor de uma legislação saudável para microdestilarias desde 1983. Em nome dos pequenos produtores de etanol, acredita que o que Brasil precisa de leis que favoreçam a venda legal do biocombustível produzido por meio de microdestilarias. JornalCana: Como está a situação dos pequenos produtores e suas microdestilarias na sua região e no Brasil? Juarez de Sousa e Silva: Temos, em Minas Gerais, pequenas destilarias mais ligadas à indústria da cachaça. Quando é produzida a aguardente, há um resíduo que não é próprio para o consumo humano que representa 20% de material perdido. O produtor de cachaça geralmente não tem interesse de investir muito apenas na coluna de destilação. O que temos feito? Primeiramente trabalhamos com o produtor de aguardente para que ele possa utilizar desses resíduos e nas horas de folga produzir mais álcool combustível. O senhor acredita que a proposta do Senador Acir Gurgacz, o Promicro, tem chance de ser encampado (veja sobre o projeto na página ao lado). Penso que o que deveria existir é um programa mais simples, menos burocrático

Senador Acir Gurgacz

e sobretudo mais eficiente. Mas temos esperança. O que deve acontecer é a formação de cooperativas que distribuirão corretamente o etanol das microdestilarias. Se continuar a Petrobras e a ANP no meio dessa situação, vai ficar complicado. Eles não entendem o que é uma microdestilaria. Nos vales mais pobres do Brasil, do Mucuri e do Jequitinhonha, região Norte de Minas Gerais, se produz as melhores cachaças. Ali eles já sabem produzir etanol, mas não têm nenhum incentivo para

fazer isso. Quando se entra nos postos de gasolina desses locais, não se encontra etanol, pois a distância é muito grande; ninguém quer levar o biocombustível para lá porque o custo do frete o tornaria inviável quando comparado à gasolina. Microdestilarias poderiam produzir e enviar legalmente o etanol para essas regiões. Ninguém precisaria ficar receoso em viajar para lá ou qualquer lugar isolado do Brasil; pois onde se pode plantar cana é lógico que se pode produzir etanol.

Quanto custa em média instalar uma microdestilaria? Uma grande usina custa milhões de dólares. Uma microdestilaria para quem está iniciando, se ele tiver que financiar tudo, custará em média R$ 200 mil. São as usinas que impedem a chegada das microdestilarias ou o governo? É o governo! Na época em que o Lula era Presidente eu lhe dei um recado em forma de vídeo. Disse que se ele quisesse apoiar o desenvolvimento de microdestilarias, criaria um eficaz programa de produção de biocombustível para os pequenos produtores. Para que eu e muitos amigos desse nicho não precisássemos vender o biocombustível clandestinamente. Nada aconteceu. Como seria essa regulamentação? Nós queremos que seja semelhante à da produção de leite: o pequeno agricultor produz o leite e entrega-o para o laticínio e a responsabilidade do produtor ficaria por conta do laticínio. No caso do etanol, queremos que a cooperativa o receba, faça as análises técnicas já especificadas, homogenize-o e faça a distribuição para os postos de combustíveis. O pequeno produtor já sabe que é possível produzir leite e etanol paralelamente e ele sabe fazer isso. Os proprietários de microdestilarias também usam o biocombustível para consumo próprio, isso a lei permite. Mas, infelizmente continuam vendendo clandestinamente. (IA)


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