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TECNOLOGIA AGRÍCOLA
Dezembro 2015
Impurezas minerais continuam sendo gargalo para a produção de etanol 2G Setor precisa melhorar a qualidade da biomassa antes de pensar na quantidade do etanol I SAC ALTENHOFEN, DE CAMPINAS, SP
A impureza mineral continua sendo um grande gargalo para a produção em escala comercial de etanol 2G, afirma João Luís Carvalho, pesquisador do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol – CTBE, em Campinas-SP (veja matéria sobre o evento com tema em pesquisa & desenvolvimento na página 54). — São significativos os impactos
negativos que a palha suja traz para a usina — observa Carvalho. Seja na produção do açúcar, do etanol de primeira geração ou de segunda, a sujeira que chega com a palha na usina traz problema sério. “É muita terra”, lamenta. João Luís sugere que o setor deve atentar em melhorar a qualidade da biomassa antes de pensar na quantidade de etanol a ser produzida. Outra dificuldade na produção de Etanol 2G é a estocabilidade. A palha estocada se torna muito volátil e apresenta grande risco para as usinas, lembra Jaime Finguerut, consultor técnico do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC). “É possível fazer prétratamento desta palha, mas em lugar nenhum do mundo este método está funcionando bem”, explica Finguerut. “É difícil armazenar a palha porque é um material seco sujeito a pegar fogo à menor faísca”.
João Luís Carvalho: precisamos melhorar a quantidade e a qualidade da biomassa
Jaime Finguerut explica que a usina contemporânea evoluiu para o sistema “Fifo”, First In, First Out — o que entra primeiro, sai primeiro. Por isso não se tem tempo para armazenar a biomassa. Ele lamenta o fato de que a palha é recolhida, mas muitos no setor não estão usando-a de modo adequado. O pesquisador também lembra as duas alternativas para a produção de etanol de segunda geração: a primeira é recolher a palha com o bagaço e pôr na caldeira; a segunda, como é feito hoje, é queimar o bagaço e usar a palha para a segunda geração. “Entretanto, as impurezas minerais (sempre elas), como: terra, argila, areia, cíclica, etc., são um problemão para a segunda geração”, explica Jaime. “É sempre mais difícil ter um maquinário adequado para o manuseio da
palha. No final a maior parte fica mesmo no solo”, explica Finguerut. Ele observa que a limpeza a seco por sopragem ainda é o melhor método para reduzir as impurezas, mas no caso da palha, em razão de sua leveza e volatilidade, isto é praticamente impossível de ser feito. “O método usual e mais objetivo adotado na redução da impureza mineral da cana é o sopro, feito pela colhedora já no corte, em dois estágios de sopragem e de forma sincronizada. Na limpeza a seco acontece o mesmo tipo de sopragem só que de forma mais eficiente, e além disso se economiza em óleo diesel. Mas infelizmente para a palha no campo não dá para fazer esse tipo de sopragem e na hora de recolhê-la muito mais impurezas são tiradas junto. Enfim, ainda estamos aprendendo no processo de trabalhar bem com a palha. Há muito a ser desenvolvido nesta área”, conclui.
Jaime Finguerut: impurezas minerais são um problemão
Inimigo número 1 da cana transgênica é a broca da cana Em um estágio mais avançado, o CTC Centro de Tecnologia Canavieira informou que vai lançar em 2017 sua primeira variedade de cana-de-açúcar transgênica, com promessa de maior velocidade em maturação e produtividade. Será também a primeira cana geneticamente modificada a chegar ao mercado sucroenergético brasileiro. Virgilio Vicino, gerente de negócios e biotecnologia do CTC, informou ao repórter Delcy Mac Cruz, do portal JornalCana, que no Brasil, o órgão responsável por avaliar e aprovar a liberação comercial de materiais transgênicos é a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). Considerando um prazo médio de avaliação baseado em outros materiais analisados, e resultando essa avaliação como positiva à liberação conforme se espera, o lançamento deve ocorrer em 2017. Vicino elenca os caminhos para uma variedade entrar no circuito comercial. Explica que após avaliação e liberação pela CTNBio, e cumprindo outras exigências legais de prazo mais curto, qualquer produtor poderá utilizar a variedade transgênica liberada e transformada em mudas. A primeira variedade transgênica desenvolvida pelo CTC será resistente à principal praga da cana-de-açúcar, que é a
broca da cana (Diatraea saccharalis), anuncia Virgilio Vicino. “Qualquer descuido nos cuidados de controle dessa praga pode levar a uma infestação potencial elevada, com níveis acima de 10% de infestação facilmente alcançados”.
— O importante é evitar a praga. Com isto haverá aumento de produtividade por hectare cultivado e na indústria — adianta Vicino. “Essa tecnologia simplificará também todo o manejo da broca hoje utilizado, oferecendo ao produtor uma conveniência
importante no complexo logístico e operacional presentes hoje na produção canavieira, pois a cana transgênica oferece eficiência no controle da broca da emergência à colheita da cana, independente de clima e eficiência operacional humana”.