Bebop 04 2016 - Ano 3

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carta

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EU QUER O VOCÊ

po sem sexo? Não! Quem Desejar muito aldis de se que luxúria é só deponto a guma coisa única coisa: a luxúria, o pecasej até o ras sexual? Você comete loucu cometer ria é também o “eu material”, do do excesso, a busca pelos lux Ser úria . çá-la , quando parcela alcan poder um grande lago de egoísmo, o sesejam o, prazeres do mund aquele Iphone em 10 veindividualista pensanpior vício moral. sobre é E xuais ou materiais. zes, só para ter a sensação do somente no que lhe Bom, já deu para ver que a quart a este assunto que de ostentar o aparelho para agrada, buscando semesta edição vai estar cheia de falar. vai edição do Bebop os amigos. Você comete lupre satisfazer as suas assuntos que são o ó do boia luxúr a A igreja vê xúria quando manipula o ouvontades. Agir impulsivarogodó pra você ler, mas se nos que do como um peca tro, para que ele acate a sua mente tomado pela vona sua dúvida é em relação a e porqu or afasta do criad vontade. Você comete luxútade de fazer algo, ou deicomo se livrar ou diminuir o reimpu das nos aproxima ria quando posta aquela foto xar que algo aconteça sem ato de luxúria, . aí meu amialma da e zas do corpo toda exibicionista nas red pensar nas consequências go, vamos ficar s te devenes outro os E, assim, como sociais, só para ganhar likes que esta ação pode trazer. do, mas quando você ia dese luxúr a seis pecados, comentários, e sentir que voc Alguma destas situações já cobrir, por favor, manda vira ê to, tem seu opos é desejado da mesma for aconteceu com você? Ah, eu um whats contando pra ma tude da castidade. Ah, que ito acred se deseja, por isso, a luxúE sim! aposto que gente. Boa leitura! não fácil mas então é que acontecem no seu dia a que já ia, cometer luxúr dia, a vida toda. Estas “situeu posso prometer casPor Elisandra Carraro ações” são derivadas de uma tidade ou ficar um tem-

“Tenho 23 anos, sou grafiteiro. Para mim, a arte representa tudo, pois além de ser algo que entrou na minha vida muito cedo, agora também se tornou minha profissão. Minha ideia para a capa foi tentar passar um pouco do tema selecionado e também mostrar meu ponto de vista, com meus traços. Pensei em retratar a luxúria com uma mão feminina e uma pulseira dourada, como se fosse ouro, e bolinhas amarelas por toda a capa. Já o tema castidade, com as pernas unissex. Muitas pessoas não seguem a castidade, talvez por não estarem com uma pessoa por amor, e sim somente por atração sexual. Meu trabalho foi todo feito a mão,usei papel A4, caneta esferográfica e lápis de cor.

Esse é o artista que fez a nossa capa! >>>

maurício

oliver

PROFESSOR ORIENTADOR: Anderson A. Costa EDITORA DA EDIÇÃO BEBOP ED 04 - 2016: Elisandra Carraro AGRADECIMENTO ILUSTRAÇÃO CAPA: Maurício Oliver

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NARRADORES: Amanda Bastos Maciel Amanda Gollo Bortolini Amanda Padilha Pieta André Justus Diana Pretto Elisandra Carraro Gabriel Aquino Luísa Araújo Urbano Ulisses Zinhoni Pamela Andrade

O Bebop é um jornal experimental produzido pelos alunos da turma B do 4o ano de Comunicação Social (Jornalismo) da Unicentro. A finalidade desse material é informativa, educacional e cultural. Todos os textos são de responsabilidade dos autores e não refletem a opinião da Unicentro.

Este produto experimental é impresso e distribuído pelo jornal Correio do Cidadão, em parceria firmada com a Unicentro. Nós, da equipe do Bebop, registramos nosso agradecimento por todo o apoio recebido, tanto da reitoria da Universidade, quanto da diretoria deste veículo de comunicação. Muito obrigado!


CONTO POR: ELISANDRA CARRARO

Sodoma e Gomorra ainda resistem Fazia um frio de agosto, já era noitinha, as crianças não estavam mais nas ruas, e aos poucos os vizinhos iam se recolhendo, fechando as portas e os portões. Em frente à casa verde da esquina, havia um banco, que durante o dia, servia de cama para os cachorros e os mendigos da praça dormir, já a noite quando todos se recolhiam e a praça ficava vazia, um senhor que pouco se via durante o dia, sentava-se a luz da lua, para observar. Numa destas noites, enquanto observa em silêncio a pequena vila, os moradores da casa ao lado começam a brigar. Ele ouve gritos, vozes alteradas, pratos, copos, ou utensílios de cozinha parecem cair ao chão, uma criança chora. Ele se levanta e resolve caminhar pela rua estreita que separa as casas daquela quadra. Um pouco adiante vê um jovem rapaz que sai às pressas de uma outra casa, como se estivesse fugindo, ele olha a sua volta, até se certificar que ninguém o viu. Pouco depois, um carro chega. Trata-se de outro homem, que é recebido pela mulher que o aguarda na porta. Mais adiante, algumas casas a frente, há uma senhora muito

debilitada em pé. Ele consegue vê-la, pela janela da sala que ainda está aberta. Ela parece estar cozinhando algo com muita dificuldade, no sofá uma jovem menina mexendo no celular. Quando chega ao fim da quadra, em um beco da esquina dois homens seguram uma garota, enquanto um terceiro tenta fazer algo com ela. Ele vê tudo aquilo, mas não faz nada. Volta para o banco, observa mais um pouco, e então resolve se recolher. Na manhã seguinte repete novamente os mesmos passos, quando as luzes se apagam ele observa as diversas situações que ocorrem naquela rua, sem fazer nada, um mero espectador. Até que um dia, cansado da luz da lua, resolve sair pela manhã, sentir como é o sol, as nuvens, ver como aquela rua é quando não se tem somente escuridão. Ele levanta, prepara o seu café, lê o seu jornal. Dá comida para seu gato, estende a cama, e então vai observar do banco. Quando abre a porta, a rua está vazia, pois ainda é muito cedo, e os moradores estão acordando. Sem pressa, ela se senta, e espera o que pode acontecer naquele dia. Aos poucos os vizinhos vão acordando, uns saem

trabalhar, outros cuidam da casa, as crianças vão brincar, e logo enche de movimento naquele lugar. Após um tempo observando, ele pensa: “porque quando chega a noite as coisas são tão frias e intensas, mas a luz do dia essas pessoas são tão alegres, vivas, e sem ofensas?” Neste momento, em meio aos seus pensamentos, chega um mendigo, e pede para se sentar com ele, aquecer-se no sol. Os dois ficam em silêncio por alguns minutos, mas aquele barulho ensurdecedor em sua alma, não lhe permite observar em paz. Passa o dia, vem a tarde, cai a noite, ele volta para o mesmo lugar ao banco, pensando em observar mais uma vez, visto que ele nunca saía durante tanto tempo fora de casa, como fizera neste dia. Repetindo seu ritual, começa a caminhar pelas ruas, e as mesmas cenas da noite anterior se repetem. Atordoado com a ambiguidade desta rua no dia, e na noite, se depara com o mesmo mendigo que dividiu o banco pela manhã anterior, sem pensar duas vezes, ele indaga: “O que acontece com essas pessoas? Porque a noite quando há somente escuridão e poucos os veem, eles agem assim, mas a

luz do dia quando estamos diante dos outros, agem como se nada estivesse acontecendo?” O mendigo então responde: “o homem de hoje se assemelha aos cidadãos de Sodoma e Gomorra, há muita fartura de pão, mas próspera ociosidade, o homem possui tudo o que deseja, porém esqueceu-se de amparar ao pobre e ao necessitado, ele isolou-se a si mesmo, e não compreende mais que nossos olhos são a lâmpada do corpo, o que vemos acontecer ao nosso redor, também nos diz respeito, mas nem sempre agimos conforme a necessidade dos outros, ao contrário, pensamos em fazer apenas o que nos interessa, o homem tornou-se objeto para agrado de si mesmo”. O senhor, sem entender como o mendigo chegou a essa reflexão, lança a pergunta: “Mas quem é você, e porque me diz estas coisas? Como pode afirmar com tanta sabedoria o que está acontecendo se é apenas um mendigo?” O morador de rua responde: “Sim, tem razão, sou apenas um mendigo, mas já fui como muitos destes que vemos todos os dias passar por esta rua. Eu já tive um ótimo emprego, uma bela casa, já gastei muito dinheiro, me en-

treguei aos prazeres do mundo, alimentei e matei a sede das vontades do corpo, e da alma, meu ego era lei, fiz tudo o que queria fazer e nunca medi as consequências das ações que os meus vícios poderiam me trazer. Eu só sedia as minhas vontades. Mas o tempo foi passando, e de toda a vida de prazer e luxo, não me restou nada, eu perdi todo o meu dinheiro em jogos, festas, carros de aluguel, prostitutas, drogas, viagens e cruzeiros, tudo o que o mundo pode oferecer. Acumulei dívidas fiquei devendo a muita gente, e tive que me desfazer dos meus bens, para poder dar ao menos parte do que eu os devia. Diferente de Sodoma e Gomorra, eu não fui destruído, tive que enfrentar as minhas ações de frente. Agora eu vivo só. Pobre, sem casa, comida, ou um simples lugar para deitar a cabeça, sem carros, mulheres, ou algum tipo de luxo. Daqui pra frente só o luxo que a minha consciência se dá, em pensar que eu ainda posso melhorar de vida, pois é difícil perceber que de tudo o que havia nada pôde ficar, a não ser a certeza de que a minha luxúria venceu algumas renúncias, e este preço estou pagando caro demais. 3


MAN DA AQUELA TROCA DE FOTOS TIRADAS EM FRENTE AO ESPELHO COM O CORPO A MOSTRA, SEM NENHUMA PEÇA DE ROUPA COBRINDO A PELE: AFINAL, QUAL O SIGNIFICADO DESSA NOVA RELAÇÃO NOS JOGOS DE SEDUÇÃO NOS DIAS DE HOJE? TEXTO POR AMANDA PIETA

A quantidade de pele a mostra sempre foi um tabu nas sociedades tradicionais. Basta lembrarmos, por exemplo, das roupas que as gerações de 1950 costumavam usar nas festas e comparar com as que vemos hoje nas baladinhas por aí. O vestido da mulherada era padrão e quase uma regra: o corte deveria ser para baixo do joelho e mesmo assim os rapazes se perdiam nos olhares apaixonantes pelos tornozelos torneados das moças. Hoje, o corte do vestido subiu e uma área maior do corpo feminino chama atenção: as coxas.Isso sem falar nos decotes que ficaram mais ousados e fazem das peças de roupa mais do que um simples pano para cobrir o corpo, mas transformam-no numa verdadeira ferramenta de valo-

rização das curvas. Quanto mais a sociedade evolui, mais as pessoas foram perdendo o pudor pelo corpo até chegarmos às opiniões que temos sobre o corpo totalmente despido. Ao contrário do que a maioria pensa, o desejo pela imagem da nudez humana é um algo milenar. Desde as primeiras gravuras em paredes de pedra e papiros do Egito antigo, Roma e China, por exemplo, esse sentimento já era manifestado. Com a criação da fotografia e avanços tecnológicos acerca dela, aceleramos um processo antigo de querer ver e desejar ter o corpo do outro. As revistas de nudez femininas, os filmes pornográficos, as campanhas eróticas de produtos e serviços, tudo girando em torno do objeto de desejo maior sexu-

al: o corpo humano. Entre 2004 e 2005, os torpedos via celular possibilitaram o envio de fotos pessoais e com isso, aumentou-se a necessidade de as pessoas verem e quererem ser vistas. A partir daí a manifestação moderna do desejo através do envio de imagens sensuais começa a ganhar força. É o que a geração de hoje viralizou com o famoso bordão adotado no vocabulário, principalmente dos jovens – “manda nudes”. A estudante Veridiana Amaral conta que já mandou e recebeu esse tipo de imagem e acredita que hoje em dia essa prática seja muito disseminada e é tratada com mais normalidade do que antigamente. “Costumo mandar para alguns ‘lances’ fixos ou possíveis

‘crushes’ (do inglês, significa algo como ‘paixão súbita’, termo usado pelos jovens para denominar um tipo de paquera). Para eles é com intuito de jogar aquele charme, dar aquela intimada. Para amigos também mando, sem pretensão sexual, só por brincadeira, para mostrar, por exemplo, se você engordou ou emagreceu. Já mandei também para pessoas que não conhecia pessoalmente e isso acabou provocando um encontro presencial”, risos. No entanto, ela deixa sua opinião de que na maioria das vezes, essas imagens são mais uma entre tantas outras formas de demonstrar desejo. “É natural. É parecido com quando alguém se interessa pelo outro numa festa e aborda ele(a) para tentar alguma coisa. As nudes são

N U D E S 4


um novo tipo de abordagem, de querer interagir com o corpo um do outro”. A Sexologia nos permite entender que essa oferta e procura por imagens sensuais de parceiros, ou até mesmo de estranhos, tem sempre o fator de querer ver a realidade do outro de maneira mais próxima e explícita. O sexólogo Marcos Santos afirma que ver a pessoa nua em imagens é ter acesso a intimidade dela antes dos outros. “Entre os jovens ficam claras as intenções de autopromoção, exibicionismo, status social e, talvez na maioria dos casos, uma moeda de troca de intimidades e experiências, como moças que buscam um companheiro e se submetem a vontade dele exibindo-se. São variadas as razões, motivações e sensações que giram em torno desta manifestação em nosso tempo”. Para os casais, as nudes adquirem um sentido um pouco diferente nessa relação, mas ainda próximo do desejo. O casal R.B. e M.B. conta que enviaram fotos sensuais desde a primeira semana de relacionamento, quando ainda não tinham nada muito sério nem oficial. “No começo era algo mais leve, mais tímido, só para chamar a atenção um pouco. Com o tempo as fotos foram ficando mais ousadas e criativas”, relata R.B. Ela continua. “Eu mandei a primeira nude porque estava interessada e foi para seduzir mesmo, para dar um pontapé inicial na relação. Mas hoje eu acho que para nós, as nudes são mais uma forma de carinho, do que provocação. É um jeito de mostrar para a pessoa que você está pensando nela”. Porém M.B. intervém na conversa e revela: “Mas acaba provocando mes-

mo assim né... (risos). Acho que agora como casal seja para dar uma apimentada na relação”. Enquanto isso o casal troca carícias e olhares que ficam na linha tênue de interpretação entre afeto e desejo. R.B. finaliza deixando a sua opinião sobre o quanto essas imagens são importantes em um relacionamento pois, segundo ela, são o reflexo da confiança no parceiro. “Você deixa a sua privacidade de lado e entrega ela de bandeja na mão de outra pessoa. Você pode terminar a relação, mas confia que ele(a) não vai espalhar suas fotos para ninguém”. O sexólogo Marcos explica que as nudes enquanto manifestação privada e consensual, no caso dos casais, estimulam as parcerias e retroalimentam o desejo sexual. “Seja em caráter lúdico-provocativo, seja um modo de agradar-agraciar a parceria formada. Nesse sentido, importa separarmos os conceitos ‘relação afetiva sexual’ de ‘relação sexual’. O primeiro é uma iniciativa franca onde o sexo faz parte do processo da parceria, não sendo apenas um objetivo final, mas sim consequência dos afetos”. E foi exatamente isso que o casal R.B. e M.B. permitiu captar da sua relação – a de que as nudes são uma mistura entre desejo e carinho quando há amor envolvido. Por amor, por provocação sexual ou por brincadeira, o bordão “manda nudes” continua rolando solto pelos aplicativos de celulares e alimentando inúmeras imaginações de quem resolveu se desapegar do tabu da nudez e arrisca registrar seu melhor ângulo do corpo amostra sem tarja preta.

O corpo nu e seus segredos Algumas curiosidades respondidas pelo sexólogo Marcos Santos

Que sensações corpóreas são despertadas quando se recebe uma nude? Enquanto estimulo sensorial visual, uma nude pode despertar várias sensações no aspecto fisiológico-emocional: taquicardia, respiração intensa, sudorese nas mãos e até mesmo a resposta das zonas erógenas e ou genitais (excitação, ereção, lubrificação, dilatação, intumescimento). O sistema nervoso central responde rapidamente ao estímulo visual externo gerando movimento e grande comoção do corpo preparando-o para ações diversas, incluindo o próprio ato sexual. O desejo pelo corpo alheio visando o sexo é algo psicológico, físico ou instinto humano? Sentir desejo sexual é uma grande construção derivada de vários aspectos como ambientais, culturais, históricos, psicológicos-mentais e das respostas fisiológicas que ainda manifestamos. O desejo está ligado desde os instintos mais primitivos (comer, dormir, sede, sono e tesão), à cultura e sua evolução, que foi alterando também os fatores cognitivos numa certa superação da bestialidade sexual - hoje flertarmos, paqueramos, namoramos e transamos, mas em um passado não muito distante não tínhamos estes adornos. Ver o corpo do seu parceiro nu em uma foto estimula mais o desejo do que uma foto de qualquer pessoa nua (desconhecida)? As duas coisas podem provocar desejo com intensidades e em momentos diferentes. Ver o(a) parceiro(a) nu(a) em foto pode sim despertar novos desejos assim como ver uma pessoa desconhecida (sem intimidade) pode provocar os desejos já existentes. Os vídeos sensuais funcionam da mesma forma que as fotos quanto ao que causam em quem grava e quem recebe? De certa maneira sim. Porém com muito maior estimulação sensorial, pois além de apresentarem-se em imagem, agora temos o movimento-ação que direcionam o desejo. Numa foto insinuante permitimos que a imaginação alheia viaje, já um vídeo provocativo está dando um direcionamento para esta mesma imaginação. No geral, fotos e vídeos sensuais serão utilizados para os mesmos fins: ter prazer, alimentar a curiosidade, descobrir algo.

Fotos por Laura Pieta 5


SEXO TEM HORA?

TEXTO: AMANDA BASTOS

A escolha de resolver esperar também é uma demonstração de amor Mais um dia gelado, típico de Guarapuava, chega ao fim. Todos retornam às suas casas após uma maratona de trabalho e estudos. Pai, mãe e o casal de namorados sentam-se na sala após o jantar. O controle fica no comando da mãe, que não permite tirar da novela nem mesmo na hora da propaganda. O pai já está com os olhos piscando e parecem pesar cada vez que um capítulo da novela se encerra. Os namorados permanecem separados, um em cada lado do sofá. Nisso um ronco interrompe a cena final da trama. Sinal que é hora de ir para cama. Pai e mãe se despendem, e desejam uma boa noite ao jovem casal. As luzes são apagadas. Só a televisão deixava o local com uma sutil iluminação. Aliás, a TV parecia ficar muda quando os olhos do casal se fixavam. O menino se levanta e senta ao lado da garota, que fica ainda mais atraente quando arruma com delicadeza a alça da blusa, que deixava aparecer sutilmente sua pele arrepiada após ouvir a respiração ofegante de seu companheiro. Um sorriso se forma, em ambos os rostos, e as mãos, finalmente, se tocam, demonstrando assim o amor que une o casal. Um beijo na testa é a despedida. O menino sai, a menina se deita. Amanhã é um outro dia. Nesta cena, a demonstração de amor está nos detalhes, como o toque de mãos, o sorriso e o carinhoso beijo na testa. E para muitas pessoas, esses atos são tão fortes e importantes quanto o ato sexual em si. O estudante Pedro Zocche, desde criança, carregava a certeza de que a escolha de esperar até o casamento para ter relações sexuais era a certa. Vindo de uma família religiosa, assim como a sua namorada Natany, sempre ouviu que a escolha de preservar seu cor6

po e mente para alguém realmente especial, proporcionaria uma vida de casados plena. Tímido e com a voz baixa, quase abafada pelas inúmeras conversas do local, Pedro conta sua história do namoro com Natany. Começou quando o casal era criança, Pedro ainda não tinha a volumosa barba no rosto, entre uma infância divertida e uma adolescência apaixonante, os dois nutriram uma vontade enorme de ficarem juntos, como namorados. Quando Pedro completou 18 anos e Natany 17, iniciaram o relacionamento, baseado sempre na vontade de agradar a Deus. Por isso, o casal fez escolhas para evitar qualquer tipo de ação que pudesse desagradar ao seu criador. “Somos carne, não há como negar, mas somos capazes de fazermos escolhas e não darmos espaços para pensamentos, considerados por nós, errados”. Por isso, o casal não fica sozinho em nenhuma situação, e isso não impede em nada a demonstração de amor, que segundo eles, é feita através de gestos, atitudes, palavras, sorrisos. “O namoro é uma preparação para o casamento, então, se fizermos isso da maneira correta, poderemos ter um casamento duradouro e feliz, pois já saberemos tudo um sobre o outro e o sexo será apenas um acréscimo na relação. “Nosso momento agora é de nos conhecermos mais, aproveitarmos a vida de uma maneira diferente, junto com nossos amigos. A hora de fazermos sexo não é agora”. Da mesma maneira, o casal Vanessa e Cássio, pensavam quando ainda nutriam a expectativa para o casamento. A espera entre a declaração de amor de Cássio, até o casamento, durou cerca de 4 anos, todos vividos sem nenhum tipo de contato: sem

Natany e Pedro

Mariana Arb

oit

beijar, abraçar ou acariciar. As mãos só foram dadas, pela primeira vez, quando eles ficaram noivos. Descontraído e brincalhão, Cássio diz que ele e sua esposa fizeram a escolha por conta própria, a igreja serviu apenas como incentivadora, mas a vontade de esperar aflorou de seus próprios ideais sobre relacionamento, que foram construídos a partir de pesquisas e leituras. Hoje, casados há dois anos, colhem os frutos que Natany e Pedro ainda estão plantando. Conhecimento sobre o outro foi algo citado por Vanessa e Cássio, ambos afirmam que há casais que não exploram por inteiro o prazer do sexo. Vanessa, que deixava a barriga grávida de gêmeos marcar sua camiseta, reforça a ideia de que o sexo é algo maravilho, e que deve ser aproveitado, porém no tempo certo. Sem deixar a piada escapar, Cássio, entre uma gargalhada e outra, completa: “o sexo é o presente de casamento de Deus e, acreditem, é bem melhor que geladeira”. O clima se descontrai e os esposos ficam ainda mais à vontade para esclarecer que todo casal precisa se conhecer primeiro, saber todos os planos do seu parceiro, e foi isso que eles fizeram no tempo de na-

moro, assim como Pedro e Natany, para então desfrutarem do casamento. “Tivemos muito tempo para nos conhecermos, e seis meses antes de nos casarmos, quebramos, através de conversas, todos os tabus que envolvem o sexo, desse modo, hoje, podemos usufruir de forma total os prazeres que ele proporciona”. Vanessa, enquanto aliviava o calor, feito em pleno inverno, com um suco gelado de laranja, revelou que o sexo não deve ser um tabu, e a igreja serve para auxiliar e não impor a você o que ela acha certo. Sexo é algo que todas as pessoas precisam experimentar, mas, que na visão deles, precisa ser no tempo certo, com a pessoa certa e no local certo. Marina, estudante de 21 anos, foi criada em uma família religiosa, e aprendeu desde cedo que deveria entregar-se por inteiro ao seu companheiro somente após o casamento. Aprendeu que o sexo era um presente de Deus e que deveria ser vivenciado com alguém importante e parceiro de uma vida inteira. O maior exemplo se faz presente dentro de sua própria casa: seus pais, que também optaram por escolher esperar até o casamento para terem relações sexuais.

A menina doce e meiga, permaneceu com o pensamento certo de que o sexo deveria acontecer após uma relação consolidada perante a igreja, mas em sua adolescência desenvolveu um forte interesse pela pornografia. O vício em filmes e imagens pornôs, despertaram em Mariana perguntas sobre a verdadeira razão do sexo: “mas se esses atores fazem assim, só por trabalho, por que eu não deveria fazer também? É só sexo”. Enquanto essa pergunta palpitava em sua cabeça a jovem ia perdendo, aos poucos, os ensinamentos que seus pais passaram. Mariana com a voz firme, relembra o dia em que, segundo ela, Deus se fez presente em seu ser e ela se livrou do interesse pela pornografia, passando a renegar qualquer ideia de se entregar para alguém antes de subir ao altar. Hoje, a estudante vê o sexo como algo valioso, uma entrega que deve ser feita para alguém importante e capaz de tornar o momento algo único. “Eu sei que o casamento nem sempre é legal, há dias difíceis, mas eu não tenho dúvidas de que serei uma mulher realizada sexualmente, pois já terei conhecido suficientemente o meu parceiro”.


Antes de mais nada, você sabe qual a diferença de um Frei e um Padre? Bem, são segmentos diferentes com o mesmo objetivo. O padre faz parte da vida diocesana, aquele que pertence a uma diocese, prestando serviços à sua cidade, já os freis fazem um trabalho missionário ao redor do mundo, onde quer que seja. São categorias diferentes para uma mesma função. Função essa que, aliás, vem para confrontar o tema desta quarta edição do Bebop, a Luxuria x Castidade. E para ajudar nessa história, o convento foi o lugar escolhido. Mas, não um convento de mulheres, freiras. Um convento masculino, de freis, o Convento São Francisco de Paula Freis Mínimos. Lá, vivem além deles: os padres, os missionários e os aprendizes. Chegando até o endereço, conheço Frei Leandro, que será nosso personagem e quem emprestou sua história para, assim, materializar em texto seu testemunho. A serena música ambiente ajuda a embalar nossa conversa, que segue por todo o local, como se fosse um tour.

hada de fé e devoção. Mesmo tendo quase toda família evangélica, chegou até a igreja católica e de lá nunca mais saiu. Tudo começou com seus 10 anos, quando ele resolveu procurar um caminho vocacional para então, descobrir que era ali a sua felicidade. “Eu acredito que meu chamado veio de um mistério de Deus”. Paulista, até o Paraná com 14 anos, sozinho em sua presença física, mas jamais em espírito. “Meus pais sempre me apoiaram e estiveram comigo em busca do meu desejo”. Para realizar a carga formativa necessária à quem estuda em convento, é preciso muitos anos de dedicação. Desde o ensino médio, além da formação humana e pessoal, claro, até os estudos acadêmicos, que começam com a filosofia; um ano de retiro fora do país - que no caso de Frei Leandro foi na Colômbia, em Medellin - retornando, é dado início a teologia, estudo sobre a sagrada escritura e a palavra de Deus. “Eu ainda me especializei na antropologia da religião, que é o estudo das diversas práticas e crenças religiosas em culturas distintas”.

SUA HISTÓRIA Frei Leandro de Queiroz Albuquerque, 26 anos. Há 12 anos, dedica sua vida na camin-

LUXÚRIA X CASTIDADE Quem mora em um convento está ciente de que terá que abdicar de todo e qualquer bem ma-

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Quando a fé se torna o seu bem maior

terial, visto que lá eles vivem apenas de doações. Além da família, dos amigos, tudo está em segundo plano para quem dedica sua vida a um bem maior: servir a Deus. “No começo foi difícil, principalmente o lado familiar. Mesmo estando nesse segmento, somos normais, sentimos vontades”, explica Frei Leandro. A castidade também é algo bastante citado e que causa curiosidade entre àqueles quem veem de fora. “A vontade de formar uma família existe, ter alguém ao lado. Mas a vocação, o segmento, esse chamado, é maior que tudo. É uma questão disciplinar”. Frei Leandro está no caminho para a ordenação, ou seja, se tornar padre. Quem é ordenado ao sacerdócio, será padre para sempre. “Alguns até abandonam o celibato para construir uma família, mas continuará sendo religioso, só não irá exercer”. O Convento São Francisco de Paula Freis Mínimos foi formado por São Francisco de Paula, em 1435. Mas cada convento é formado por um santo diferente, por isso, cada um possuiu regras, hábitos e formas diferentes de se levar a vida missionária. Para quem quiser e puder ajudá-los com doações, o endereço é Morro Alto, Rua Presidente Artur Costa e Silva, 285. Ou pelo telefone (42) 3623-3136.

HÁ 12 ANOS NESSA CAMINHADA, FREI LEANDRO MOSTRA QUE O CHAMADO DE DEUS NÃO SE EXPLICA, SE VIVE POR: DIANA PRETTO

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O PRAZER DA LUXÚRIA, O COMPROMISSO DA FIDELIDADE Por Gabriel Aquino

Eu já traí. E quando traí, pensei, por algumas vezes, qual a dimensão da minha culpa, além das consequências dos meus atos. Na minha percepção, eu cedi. E, cá entre nós, quem não cede ou nunca cederá? Minha (ex)namorada, ué. Pelo menos naquele período de relacionamento, eu aposto na fidelidade dela, sem relutância. Talvez, mesmo sendo um tabu sexual falar de traição, de alguma forma fica aquela sensação que, inevitavelmente, todos traem. A traição é algo normal. Não é, ué. Comum, talvez, não normal, considerando a normalidade do contrato estabelecido na relação. E, se em um relacionamento, apenas um dos dois quebra com o contrato de fidelidade, como isso poderia ser visto como normal ou inevitável? Eu não sei até que ponto podemos apelar para a nossa natureza selvagem e instintiva, extremamente sexual, já que somos espécies reprodutivas. Não sei até que ponto podemos nos confortar na ideia de que a luxúria, a tentação carnal, é inerente ao homem enquanto indivíduo e sociedade. A única coisa que me parece clara é que muitos de nós carregamos um intenso desejo sexual, o que pode se tornar um perigo para as relações do homem que se considera racional e social. De qualquer forma, uma pessoa extremamente sexual, como se define a estudante de gastrono-

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mia Helena, pode sim conter seus instintos ou controlar sua mente a fim de ignorar tentações em prol de um relacionamento que ela mesmo escolheu estabelecer. “Eu sempre fui muito leal. Penso que se você está em um relacionamento dessa forma, é porque você não quer outra pessoa”. Aí, então, eu me pergunto se é possível exigir a lealdade de alguém? Helena não hesita, direciona seus olhos aos meus e demonstra segurança, a mesma segurança que devia passar ao seu antigo parceiro que havia a traído: “É possível. Somos pessoas que conseguimos controlar nossos instintos. Na maioria das vezes”. Mas a traição, enquanto um ato isolado e não compulsivo, talvez se manifeste justamente nas exceções, nesses momentos de fraqueza mental, carnal. Então, é possível exigir a lealdade de alguém integralmente? “Eu já tive oportunidades, o poder da luxúria, a sensação, não pode sobressair”. Afinal, você se comprometeu com a pessoa, com a felicidade dela, nada mais justo do que honrar a relação estabelecida. E, ao mesmo tempo, até de forma inesperada, ela questiona: “Mas até que ponto a luxúria não te leva aos prazeres da carne?” E quando a luxúria fala mais alto? Quando o desejo fala mais alto? Quando a natureza grita? Quando, mesmo em uma re-

lação amorosa e calorosa, há traição? Nem sempre a traição é cometida premeditadamente, compulsivamente ou com a intenção de ferir o parceiro da relação monogâmica. Dan, que vive uma relação monogâmica a distância, cedeu aos desejos momentâneos e então compreendeu melhor a relação entre a luxúria, fidelidade e felicidade. “É um fardo pesado [a traição]... eu percebi que estava corrompendo meus sentimentos e a confiança de quem me ama. Eu percebi que isso dizia respeito à minha ânsia carnal e, de alguma forma, aquilo havia me consumido.” Mas, de alguma forma, a traição pode servir também como um aprendizado, mesmo diante de toda a turbulência que ela provoca. Sabe aquela história, depois da tempestade vem a calmaria? Se concretizou na vida de Dan. “Não existe muita coisa sem amor, nem sem perdão. Eu abri os olhos depois dessa situação e, com ela, pude evoluir muito. Foi o que seu perdão me proporcionou”. Às vezes a gente precisa conhecer o nosso pior lado, nossos instintos mais selvagens e intrínsecos para compreendê-los, conviver com eles e, quando necessário, recusá-los. Tudo isso para que quando você estabeleça um relacionamento, um contrato social, com regras acerca da fidelidade, o mantenha de forma fiel.


Fotos: Acervo pessoal

Um amor onde

1+1 é 2

APÓS PERDER ALGUÉM, ALGUNS ENCONTRAM OUTRAS TAMPAS DE PANELA E OUTROS NÃO. DONA LÍDIA COMPARTILHA A SUA HISTÓRIA DE LUTO E CASTIDADE COM O BEBOP

FOTO E TEXTO: ANDRÉ JUSTUS “Você é muito caladão, gostei de você!”. Imagina se essa fosse a primeira coisa que o seu grande amor lhe falasse no momento que se conhecessem... bem, foi o que ouviu Carl Fredricksen ainda quando criança. Fredricksen? Você conhece a sua história? O nome, num primeiro momento, pode parecer algum personagem de terror criado para assustar as crianças. Mas a verdade é que ele é um personagem da Pixar completamente apaixonado por Ellie, aquela criança que adora conversar e que no futuro se tornaria sua esposa. Para que os spoilers não tomem conta, os primeiros 15 minutos do filme mostram a vida de casados deles e podem ser considerados um curta metragem paralelo ao filme, pois as belas imagens acompanhadas de uma trilha sonora envolvente fazem com que até o coração mais pesado se deixe levar pela magia do amor. Eu sei, você deve estar questionando a credibilidade desse texto, afinal, essas “histórias felizes” são apenas enredos de cinema e não da vida real. Acredite, eu também achava isso até que conheci a Dona Lídia e Seu Pedro. “Eu o vi em um Baile de Carnaval. Ele ficou a noite inteira sentado enquanto eu dançava. Quando fui embora com meus pais, ele veio atrás de mim para me pedir em namoro, não aceitei”. Algum tempo depois, durante um jogo do Seu Pedro pelo Vasco da Gama, ambos se encontraram. “Ele veio novamente atrás de mim e ficamos conversando no portão de casa” e o namoro começou. O relacionamento que começou a distância, de Erechim até Marcelino Ramos, era fortalecido

através de cartas trocadas semanalmente. E deu certo. Eles casaram, moraram juntos, seguiram os mesmos ensinamentos religiosos, viajaram para o Uruguai, foram membros dos escoteiros e tiveram três filhos. Os 15 minutos de Lídia e Pedro, assim como os personagens do filme. E o que vem depois? No filme, Fredricksen acaba tendo que lidar com a morte de Ellie. Na vida real, Lídia teve que lidar com a

Desde o baile, a primeira noite que o vi, eu �ó tinha olhos para ele morte do seu marido por causa de uma infecção renal aos 33 anos, sendo que na época ainda carregava o terceiro filho na barriga. A princípio, nenhuma mudança é fácil, o novo sempre assusta. Hoje, aos 80 anos com semblante de 60, um sorriso gigante consegue disfarçar o que os olhos com lágrimas não conseguem. “Foi muito difícil. Nossos dois filhos mais velhos iam durante um tempo

na esquina esperar o pai voltar e eu tentava explicar que ninguém iria aparecer”. A dor tornou-se parte da sua rotina, mas ao contrário daqueles que buscam outro companheiro para continuar seu caminho, Lídia optou por seguir sozinha. Pretendentes não faltaram, três rapazes rondaram e tentaram. Foram presentes, pedidos de namoro, mas a questão é tão simples quanto 1+1 são 2, nenhum deles era o Pedro. Aquele lugar estava ocupado. A matematica é básica, uma pessoa que soma com outra pessoa resulta no que Lídia descreve como amor verdadeiro, logo nenhuma adição a mais é necessária, pois já se obteve o resultado esperado. Então, a melhor forma de preencher esse vazio foi se dedicando ao trabalho e ao crescimento de seus filhos, seguindo em frente enganando a saudade e a depressão. É difícil entender o amor e, ainda mais, aceitar sua perda. Porém, torna-se fácil perceber que no caso de Lídia, acima de tudo estava uma grande amizade com Pedro. Eles eram cúmplices um do outro e, por isso, construíram um sentimento para a vida inteira. Assim como Fredricksen e Ellie, apesar de sua morte, ele seguiu sua vida amando a esposa e tentando realizar seus sonhos. Lídia segue em frente, ainda apaixonada. “Eu casei muito bem. Não fazia sentido casar novamente e acabar caindo na mão de um homem ruim. O homem da minha vida eu já encontrei, foi o Pedro. O meu primeiro e único namorado”.

– Fim

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sXe, a combativa loucura casta Pudicícia, virtude, inocência, candura, modéstia. Estes são alguns sinônimos encontrados para a palavra castidade, entendida certas vezes com um quê de ingenuidade, algo até próximo do infantil. Os paulistas do Positive Youth, Virgindade, pureza, alvura e inteireza. Alguns explicaram um pouco dessas outros sinônimos, diluídos usualmente no renúncias em entrevista ao portal imaginário popular que associa a castidade Vegetarianismo. ao sexo e mais nada. Nas palavras de Rafael Stringasci: Como se sabe, mas pouco se lembra, “Nós não somos contra nada a castidade tanto tem a ver com a disso [álcool, cigarro e drogas], só sexualidade como com quaisquer achamos melhor ignorá-las, pois não outras situações que exijam, peçam ou acrescentam nada para nós nem para a possam ser acometidas pela privação, sociedade. seja ela voluntária, ou não. Mas também achamos que devemos Dentre as várias abstenções ser livres de coisas que alteram experimentadas pelo homem, me nossa realidade, cometer erros proponho a falar de uma em específico. por estar chapado e depois querer Aquela máxima que todo mundo já voltar atrás em suas decisões ou ouviu de que “cada um tem seu vício” sair fazendo merda por aí”. é combatida de frente por um grupo de Sem pular etapas, realmente não pessoas com um modo de viver bastante deve ser fácil viver desse modo. singular: os chamados straight edges. Palavra deste que escreve, um O nome, que pode ser entendido em vegetariano ainda em começo da português como “caminho reto”, indica caminhada, que não faz menção de se como pensam e agem estes críticos dos abster de álcool nem de tabaco e ainda padrões atuais. assim tem vez ou outra alguma dificuldade Surgidos, ou organizados, a partir dos em se abster do pouco a que escolheu anos 1980, os apadrinhados por este renunciar. grupo defendem uma total e permanente O modo de vida, que pode ser entendido abstinência das substâncias que tiram do como uma visão política do mundo, é ser-humano a capacidade de se manter em frequentemente adotado por pessoas sua sã consciência. já praticantes de outros tipos de Isto é, com eles não tem nada de atitudes “contraculturais”, como os cigarros, de álcool ou de drogas veganos, por exemplo. de nenhum gênero. E é esse ponto que permite identificar O movimento, que é um Straight Edge: no contexto umbilicalmente ligado à cena urbano em que os grupos costumam do punk e do hardcore por onde quer que se alastre, é difundido através de bandas de todo o mundo. 10

Por: Ulisses Faustino Zinhoni

se formar, a ligação com movimentos ideológicos como o anarquismo, por exemplo, é algo bastante comum. É de se ressaltar, no entanto, que o Straight Edge em si, não é um movimento partidarizado. Para ser casto, o primeiro passo é se convencer com firmeza de que este projeto de alguma maneira se torna uma recompensa. Pessoal? Para o planeta? Para a sociedade? Essa reflexão é muito íntima, mas é a forma mais comum, ou até a única, de alimentar esse pensamento tão singular. E, é claro, não beber, não fumar, não usar drogas certamente não é um evento que se possa ser chamado raro, muito pelo contrário. O que une os straight edge sob a sombra desse guarda-sol é justamente o modo de encarar essa escolha, numa expressão de sua militância.


Qual é o limite da luxúria da sociedade hierárquica? Até que ponto é aceitável a submissão ao poder vigente sem questionamentos? Pier Paolo Pasolini, em 1975, navegou na história e nos eventos do fascismo da primeira metade do século passado, e alcançou o mais podre do capitalismo da época e da sociedade atual ao dirigir o filme ‘Salò ou os 120 Dias de Sodoma’, baseado no livro Os 120 Dias de Sodoma, de Marquês de Sade. Polêmico como a maioria das obras de Pasolini, Salò conta a história de quatro personagens. Cada um é representante de um dos pilares da sociedade conservadora (Igreja, Economia, Nobreza e Justiça). Esses “signores” submetem um grupo de jovens a situações de violência e humilhação durante 120 dias, num contexto de uma Itália fascista regida pelo governo de Mussolini. O longa-metragem, proibido em alguns países, não é um filme bonito e nem tem a intenção de ser. Claramente, Pasolini critica de forma feroz os regimes totalitários e o sistema capitalista. O sexo como punição e repressão norteia o filme do início ao fim. O prazer é algo inalcançável. A luxúria dos signores é a autêntica representação do poder. Como afirma o jornalista Cristiano Monteiro Martinez, a violência e a luxúria no filme são consequência da repressão sexual de uma sociedade cristã e conservadora. “Para o bem e para o mal, o sexo sempre é uma válvula de escape. Ou seja, pode ser um componente de liberdade, que possibilita a satisfação existencial, ou um elemento de ‘castração’ do indivíduo, levando à sua ruína ou morte. Na visão de Pasolini, uma sociedade fascista só pode tratar a sexualidade como algo nojento e castrador”.

Salò ou os 120 Dias de Sodoma

“Nós, fascistas, somos os únicos verdadeiros anarquistas, naturalmente, uma vez que somos donos do Estado. Na verdade, a verdadeira anarquia é a do poder” MATÉRIA: AMANDA GOLLO

Lançado em 1975, o filme traz muito mais críticas nas entrelinhas do que se pode imaginar. Pasolini ambientou o longa num regime denominado fascista antecessor do capitalismo. Para Silnei Scharten Soares, a relação entre o fascismo e o capitalismo, no contexto histórico retratado pelo filme, é óbvia. “O fascismo é o capitalismo sem máscaras, em que a exploração do homem pelo homem, denunciada por Marx, se mostra sem o menor pudor”.

Até mesmo para uma sociedade naturalizada com a violência como a nossa, Salò caracteriza-se como um filme difícil e nojento. Os jovens a serviço das vontades dos senhores atuam a todo o tempo nus, e são submetidos a violência sexual a qualquer momento que um dos poderes – ou mais de um – desejar. As cenas de coprofagia (alimentar-se de fezes) causam desconforto e os longos takes das cenas de tortura caracterizam-se como um exame impiedoso da cruelda-

de humana e a falta de limites do poder vigente. Dentre os senhores do poder e os jovens submissos, há quatro prostitutas que narram com naturalidade fetiches sexuais envolvendo coprofagia e violência. Essas mulheres veem e cooperam com toda a luxúria dos signores sem qualquer demonstração de estranheza dos abusos que acontece em Salò. “Essas personagens representam o fascínio da sociedade moderna e capitalista pelos regimes totalitários. Ou seja, Pasolini

mostra que a violência e o nazi-fascismo fazem parte da própria sociedade capitalista em que vivemos atualmente. Longe de concordar ou ratificar, o diretor italiano procura denunciar a ‘naturalização’ com que tratamos a violência”, comenta Cristiano. Os jovens não manifestarem qualquer resistência a tanta humilhação e violência é outro aspecto que incomoda. Também por refletir todo o conformismo da sociedade capitalista. Para Silnei, o fascismo, como todo regime totalitário, é altamente teatral e performático, e a luxúria também pode ser entendida por essa chave. “A luxúria é o sexo tornado espetáculo. Neste sentido, o abuso sexual é uma demonstração espetaculosa de poder, uma dramatização de uma relação de força e de violência imposta a corpos dóceis. Considerando isso, talvez a submissão dos jovens seja a outra face desta violência, seu complemento perverso, numa dialética senhor-escravo transposta para o contexto do fascismo”. Salò e os 120 Dias de Sodoma certamente pode ser considerado como um filme que se utiliza de um sistema de décadas passadas (o fascismo) para fazer uma analogia a sociedade atual (onde reina o capitalismo). Os dóceis jovens que não esboçam resistência expressam a maior parte da sociedade em que vivemos, na qual somos submissos a um regime conservador onde os poucos membros pertencentes a Igreja, Economia, Nobreza e Justiça controlam nossas ações e manipulam nossos pensamentos, nos fazendo acreditar estarmos num castelo de muros gigantes na República de Salò, nos últimos dias do regime de Mussolini, mortos para todo o restante que existe.

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LITERATURA

CINEMA

O MORRO DOS VENTOS UIVANTES

EXTRAORDINÁRIO

O romance de Emily Brontë foi além dos padrões da época em que foi publicado, no ano de 1847. O livro não possui uma leitura fácil, mas para os amantes de literatura, como eu, é uma obra (quase) obrigatória. Catherine, uma moça espirituosa, não se adapta aos costumes que lhe são impostos. Ela se apaixona por seu irmão adotivo Heathcliff. Ao longo da trama, Heathcliff se torna amargurado, vingativo e odioso. Ele demostra sentimentos somente por seu pai que falecera, pela governanta Nelly, por Hareton - filho de seu maior inimigo - e por Catherine, seu amor. Aliás, o amor tanto dele quanto dela era selvagem, desmedido, desproporcional, e com o passar do tempo virou loucura, obsessão, mas quem pode dizer que não era amor?

Quando falo de castidade, a primeira palavra que me vem à mente é pureza, e o personagem August, de R. J Palácio, nos mostra melhor do que qualquer um o que essa palavra significa. O livro foi publicado em 2012, e conquistou os leitores por sua linguagem clara, simples e tocante. A história é contata pelos personagens que integram a vida de August. Ele é uma criança que nasceu com um problema genético que gerou uma deformação em seu rosto. Nunca tinha ido para a escola, devido as complicações de saúde, diversas cirurgias realizadas e, claro, pela demasiada preocupação de seus pais. No seu primeiro ano na escola, tenta vencer o preconceito e a discriminação das outras pessoas, e descobre que a aparência é o que menos importa. August é simplesmente extraordinário.

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Por:

DESEJO E REPARAÇÃO O filme lançado no ano de 2007 é uma adaptação do livro de Ian McEwana (2001). A história se passa durante a Segunda Guerra Mundial. Uma criança com uma grande imaginação. Dois jovens vivendo uma paixão intensa. E uma carta que mudou a vida de todos para sempre. Briony, aspirante a escritora, possui uma grande imaginação, e para seu azar acaba presenciando fatos que ela não compreender, mas que acha que compreende. Ela acaba arruinando a vida de sua irmã Cecilia e Robbie, o amor de sua vida. Robbie é acusado de abuso sexual e vai preso. Depois de alguns anos ele é recrutado para ser soldado durante a guerra. Briony só depois de muito tempo percebe o erro que cometeu, talvez seja tarde demais para uma reparação.

ESCULTRA

A ÚLTIMA ESTAÇÃO

A VÊNUS DE CANOVA

Quem nunca ouviu falar por aí sobre Guerra e Paz? Difícil não ter, não é mesmo? A Última Estação, retrata justamente o fim da vida do escritor da obra: Tolstoy. Os seus discípulos, chamados de Tolstoianos, liderados por Vladimir Chertkov, entram em uma briga com a esposa de Tolstoy, Sofya, pelo direito às obras do autor. Para seus seguidores as obras eram do povo. Após 50 anos de casamento com Sofya, e treze filhos, o relacionamento entra em crise após Tolstoy renunciar seu título de nobreza, abrir mão de suas propriedades e tornar-se celibatário. Tolstoy ficou conhecido mundialmente por suas obras e é considerado até os dias de hoje um dos melhores autores da época. “É no coração do homem que reside o princípio e o fim de todas as coisas”.

É uma obra do escultor veneziano António Canova. Ele esculpiu a irmã de Napoleão Bonaparte, Pauline. Contam as histórias que Pauline era excêntrica, sensual e ninfomaníaca. Vivia uma vida luxuosa, em festas e nos braços dos seus amantes. Em 1803 casou com o príncipe Borghese, sobrinho-neto do Papa Paulo V. Foi nesta época que posou para o escultor. Alías, nessa época não eram comuns obras com nudez, mas a escultura representa Pauline como uma Vênus, demostrando toda sua sensualidade. Há quem diga que ela estava representando Afrodite, a Deusa da beleza e do amor. Em sua mão, segura uma maça, símbolo da tentação e do primeiro pecado cometido pelo homem na terra.


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