Bebop 01 2016 - Ano 3

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IRA E PACIÊNCIA


Caro leitor

POR LUÍSA ARAÚJO URBANO

Especula-se que a verdadeira origem dos sete pecados capitais advém da Igreja Católica desde a época medieval, mas há quem diga que esses pecados são mais antigos do que o próprio Cristianismo. Uma das hipóteses em que muitos acreditam é que se deu no século IV, quando o monge Evagrius teria registrado no Egito oito pecados capitais. João Cassiano de Marselha, discípulo de Evagrius, teria levado a relação à Roma onde recebeu a reformulação clássica que hoje conhecemos pelo papa Gregório Magno, no século VI. Ele definiu como sendo

narradores trazem a terrível mania das companhias de serviços telefônicos transferirem a sua paciência e a relação de atendente versus cliente. Abordaremos também assuntos que envolvem saúde, e o que a ira e a paciência podem manisfestar no corpo humano. Além de recomendar obras que são referências artísticas em relação ao tema. E agora, contamos com uma novidade: além da circulação interna na Unicentro, o Bebop firmou parceria com o jornal Correio Cidadão. A ideia é aproximar ainda mais os acadêmicos da dinâmica do mercado de tra-

sete as principais falhas de conduta: ira, luxúria, avareza, gula, soberba, preguiça e inveja. Mas a lista só se tornou ‘oficial’ na Igreja Católica no século 13, com a Suma Teológica, documento publicado pelo teólogo São Tomás de Aquino. Em contra partida aos pecados, foi criada uma lista das sete virtudes: paciência, castidade, generosidade, temperança, humildade, diligência e caridade. Em 2016, o Jornal Laboratório Bebop vai dialogar entre pecados e virtudes, sendo o tema da primeira edição o pecado da ira e, opostamente, sua virtude, a paciência. Os

UM GOLE DE VIDA

POR LUÍSA URBANO E AMANDA PIETA

Ela só queria um descafeinado. Ela só queria saber pra que existe café se não é pra tomar cafeína. E justo ali, naquele dia, ela queria um descafeinado. Sete horas, tudo de novo. Despertador atrasou, torrada queimou, celular travou, e bem no dia da reunião mais importante. E agora onde foi parar a escova de dentes e o restinho do sabonete? Ela estava atrasada e tudo parecia não estar a seu favor para diminuir o problema. Pelo contrário, ele só aumentava. Sete e meia da manhã e se deu conta de que não podia pedir um descafeinado, por que estava na própria cozinha, olhando para a própria pia

quatro dedos de vinho e uma dose de coragem ela tentou seguir a rotina. No caminho para o trabalho, o ônibus balançava e o clima abafado a fizeram roer todas as unhas pela ansiedade de sair logo daquele lugar, de que o expediente acabasse, de que ela pudesse voltar para casa de novo no final do dia. Chegou na empresa e andou até sua mesa. Se sentou e observou a proteção de tela do seu computador. Ela sabia que a reunião que começaria dentre alguns minutos a faria odiar ainda mais a vida medíocre que achava que tinha. Estremeceu e sentiu seus batimentos cardíacos aumentarem e o

cheia de louça suja, dois copos ao acaso com dois dedos de vinho da noite passada. Para que existe café se não é para tomar cafeína? Para que aqueles dois copos de vinho se acordou sozinha e sem ter porque ou por quem? O desenrolar do dia tinha durado apenas meia hora e ela já estava irritada e sozinha na cozinha, sem café e com dois copos ao acaso com dois dedos de vinho. Ela tinha que ir trabalhar, mas pensar nisso só a deixava com mais vontade de voltar para a cama e nunca mais sair de lá. Então ela encarou os fatos, juntou os dois dedos de vinho de cada copo em apenas um. Agora com

PROFESSOR ORIENTADOR: Anderson A. Costa EDITORA DA EDIÇÃO BEBOP ED 01 - 2016: Luísa Araújo Urbano AGRADECIMENTO ILUSTRAÇÃO CAPA: Carlos Eduardo de Andrade

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NARRADORES: Amanda Bastos Maciel Amanda Gollo Bortolini Amanda Padilha Pieta André Justus Diana Pretto Elisandra Carraro Gabriel Aquino Luísa Araújo Urbano Ulisses Zinhoni Pamela Andrade

O Bebop é um jornal experimental produzido pelos alunos da turma B do 4o ano de Comunicação Social (Jornalismo) da Unicentro. A finalidade desse material é informativa, educacional e cultural. Todos os textos são de responsabilidade dos autores e não refletem a opinião da Unicentro.

balho e, ao mesmo tempo, oferecer um material diferenciado aos leitores de Guarapuava. Assim, caro leitor, desejamos a você boas-vindas a primeira edição do Bebop de 2016, com um conselho vindo do filme Seven, de 1995:

“QUE TENTE SOBREVIVER AQUELE QUE NÃO TIVER PECADO”.

rosto ruborizar. Devia ter tomado mais do que quatro dedos de vinho só para tentar ter a sensação de não estar ali, naquele lugar que não era seu. Seu chefe chegou, sentou-se ao seu lado. Ela estava com tanta raiva, tanta raiva. Um tapa na mesa. Uma caneta que caiu. Ele sorriu sarcásticamente, e colocou um copo de descafeinado sobre a mesa pronunciando baixinho “o futuro da empresa depende de você”. Tudo o que ela sentia de repente foi cortado, como se a tivessem tirado da tomada e tirado toda a eletricidade que estava em seu corpo. E então, no escuro e aliviada, ela tomou um gole de café.

Este produto experimental é impresso e distribuído pelo jornal Correio do Cidadão, em parceria firmada com a Unicentro. Nós, da equipe do Bebop, registramos nosso agradecimento por todo o apoio recebido, tanto da reitoria da Universidade, quanto da diretoria deste veículo de comunicação. Muito obrigado!


infordos l i g a hoje sa ente mações pa m ra todas a as partes s treita a, m o res s d o c i co rp o ”, explica o D à alm tão e o fís de Ramez r. Riacorp H ie e es o sn i, n e urologista e a sér puava. osso e qu m Guarabe-s como n ternos. és de um e e nex nt av A r a e c e t e t os a le os e ra ç ã o de batime ligad estímul formam a intensam el por es , que a ntos cardía circula m nto eà sáv c se a ç ã o a n g i t a l u o m n e n te e você c os para pond moções inter resp - rapidamente No e onsiga agir ; m ú sc As e as que se ivamente ocional. corpo hu u lo s mais con suportarem r s traídos para m trutu s é exclu tado em ções” do o Sistea is fo rça; pupila s o para que v o de es a aumentada o c ê a del tipo de e a de em – tal com ervoso te n h a u ma imagem N mica mais nhum a istas panorâistem ou o m a n s m quele p la e n ít ida; além d ou a imenso “ s protago tômago, timo siste s ração mais a respie s rá p id a , o esse tem seu com o e , esse úl mponent xigenando o organism e lo melhor o . O c man igestório . Inclusiv seus co principa o rp o se prepara aquele m para o m e ma D cérebro guns de moções, responn to , caso vo o l a c g ê ir p . re É cise q u ase como com resta” a ção de e issores, s para um instinto m automáti açõe .É “emp rans orma c t f m o . r o r o a f u para e os ne vio de in Quanto à p t a m si men s pelo en dizer que é ciência podemos ue e nte i ca q um tanto re sáve rpo. o se expli lativa, o d a c e i p e n g o d ivídu a e é e do contro urolo todo le de cada o ind ad r u m . A Ne m que N o experime é libe 90% nto rop es e renalina rca de aposto pelo tuaçõ jornal Bebo ce rg ad o r a o , o p, um segun raiva nsável p ce com esso. do voluntá o te oc r n ri p o o c fo resp i exemplo de ue a rante o nsmissor sse controle. N do q o início da rotra o du idanism um neu e quant o experiência é d , estuo “Ela m gran , vai até dante Luan e Borque o sangue voca re o dignon de n e pr mos ama bro cére e ch ações s qu g açõe apses, li nios, n de si os neurô ite entre transm e

VOCÊ SABE O QUE ACONTECE DENTRO DO NOSSO CORPO QUANDO SENTIMOS RAIVA? E QUANDO ESTAMOS TRANQUILOS, O QUE MUDA NO ORGANISMO?

DE EO VÍD IA A C TE IÊN S I S ER AS EXP O RI A TÁ RA N LU PA VO IGA BR O “Fi crian muito irr q u e i aparentetá s e o ç m rp e em m a, po itada co ais co is unções vit os paF l. a e rm s o tress eus ouv os grit m a ntro d mente n e d i e o d e to s o C n ” r , s orde ioname ntos po iro s coment e causa zuniam pleno func ão indica 72 batime almo”. s e ou a ram us obr ”, “c oraç drões. O c ição é de “tranquilo a tudo. zand batimen e a exp estuda muito t n d nte fi o u o er m de s Th minuto. A lo externo riança fa- como novame cardíac iência, u m tí s e enqu ais os ia nte um no in uma c , a ic p Até que b an m fó a o ra o órea O m ício do de hom s 72 se esta to briga corp a t e Uma atitu e o d f s o n o te nitor batim bilii um e grita os cauame . ento zendo birra lescentes. Os víde e e x quip perim nto s, do ssiste. a a s a m u e e d u e q e d odo a obse do Be ento r m qu m ô c in o rt ealiz estã bop rvar sam ce e tenso. o dor parec aferi- so corp quais a com o ado pel a v o n O especta a s i m a n u o r t m e e u e xtrem quan ito d açõe E então, umentam mentos a ora a Mas os: a do sent s do no e ti a b s o sira im ção v . Ag que ocê já s e a p os dois or minuto aciê para 88 p mostra um merfica e pe nc tã e r tela muda do do oceano, sente ra o nervo guntou ia. p n i v fu s or co a, o gulho ao brincando m ração ac por exe quando o rr o h c mp el em, um ca pois o co era, mã lo? O bebê e de a o r p st com um A f requ o do mar. ênci fica ten rer a as ondas ç a do espec i ão aum da re so, sso spiexpressão enta te muda e tador logo mais cient m exp . Tudo lic íf e ele parec mam ica. C ação . o d o o relaxa que s pe stuns s e n t emoçõe ar ime s, e s t ntos, ão

A “máquina” das emoções no organismo humano

MATÉRIA E IMAGENS: AMANDA PIETA

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DR. RIADE AFIRMA QUE TER PACIÊNCIA É RESULTADO DO AUTOCONTROLE DE SABER REAGIR A ESTÍMULOS EXTERNOS

AMÍGDALAS: Perigo, medo e ansiedade são identificados nessa região, colocando o indivíduo em situação de alerta, pronto para se evadir ou lutar. Também são responsáveis por memórias emocionais.

Protagonistas e coadjuvantes do Sistema Límbico

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HIPOCAMPO: Está particularmente envolvido com os fenômenos de memória, em especial a memória recente. TÁLAMO: é responsável por quatro sentidos: tato, paladar, visão e audição; além de sensações de dor, temperatura externa e pressão do

iao o d até nes nos cand mas que nar e e de exte rovo algu ito fr adr ira p le, u a ela po, s ulo o e ne m m que o p em etím corp es fore ma ism o t to s e çõ e fir an uc ta od o ss ea s a rg po on p de s r no s nte iade o o em m c orpo as ne c rsa pa R n r m e ve ocu Dr. ada zada tive m o ble tam ulo r li o a s e pr . O libe bo e e co pr l tr stim o tes na eta ue s ezes uns cipa o e ndo cê li m q v lg rin r d ca vo m é as s a p ta o m uida sar . “O fas prov sim, ve xa g au de e a á as ue ei r q d e c ú s t sa o é es se, o não faz a t ue es la e a nç r u q tr o es ntr ra pa bag ”. co e fo rar tro d t en ma den u or p

o. tos inut íde- ra n r ime m s v pa à a p bat por stir o ram tiam enssi ixa me tim m 6 tou a 8 a a s ba e re 8 ba sara a n u o 7 se s do le u o meti ira, e ns q tou e ca rad ec n a m pa pod ge se rdí ub à ca do s ados ima apre eos com que m a ue e an on das o víd da Qu elaci ois raçã “Os s na al em u. “Q ge m eip co . a re o d r a os e, de ia, o nuto o, m ida ent m re não no m i v r 79 ciênc r m mod na , co que nos, enta de ” ô o o é r pa s p inc açã isso te xte aum ação ta e to erto situ tir men s e a ens en c a en al ulo alin s em oum os s ger stím ren do a mpl . m nte a e ad an , co ista horm ma se os o a e d po” log ões iste ro n nd ue cor uro nç “s reb l e fu o é e xa ng no o n das es n o c pap lsa az a t , e c p pli lém sen es” ant cipa ex A pre oçõ ort prin nhe m mp o, co a is na as e m i laçã rea stem d m u re a á si iste te essa e n mo se s vel n ent co “Es nsá rm ida co. spo pa c bi re a as lím a é um ess d m or p te e-

reaçõ p forma ois ele é es, quem céreb dor de por e ro. O estim emoções é o le são e e atravé ulo exter no nosso nviad n s as re dos neu o é receb expla rotra spost ido na. ns as ao resto missores O sis do co os ce tema lím rpo”, ntros bico f or d córte x cer e consciên ma um e lo ent ebral cia su que re eo per re Ele é gula os s tronco e iores no nc um is céreb conjunt temas co efálico, o de rpora ro qu est e is. mord ialme são respo ruturas do nsáve nte p emoç is p or õe te po s e sec controlar riunda r reg riam as ula apren dizad r funçõe eno s além de te e memó de r imp ria, tamb ém or dócrin no sistem tância o. a enIra e paciê estar nc ão semp ia indo e v re ind por meio o

ambiente. Apenas os sinais do olfato são enviados diretamente ao córtex cerebral sem ter que serem “filtrados” pelo tálamo.

como por exemplo, a deglutição, e atos involuntários ligados a ela como ver um alimento apetitoso e lamber os lábios automaticamente.

HIPOTÁLAMO: regula o sono, a libido, controla o apetite e também a temperatura corporal. Suas partes laterais estão envolvidas com o prazer e a raiva, enquanto a porção do meio está mais ligada à aversão, ao desprazer e à tendência ao riso incontrolável.

GIRO CINGULADO: coordena odores e visões a partir de memórias agradáveis de emoções anteriores – cheiros e imagens que você já sabe que te agradam. Esta região participa ainda, da reação emocional à dor e da regulação do comportamento agressivo. Em animais selvagens se houver a retirada deste giro, através de cirurgia, a domesticação se torna mais fácil e rápida.

CORPOS MAMILARES: regulam os reflexos alimentares da alimentação,


desagradáveis. Nossa, que difícil, não é?! Suportar as coisas ruins ou desagradáveis, paciência, bom humor, como ter tudo isto se a vida é tão estressante e te transferem entre uma dezena de ramais, não há saco que aguente, não mesmo. Mas para entender o outro lado da moeda, vamos conhecer o que os atendentes sofrem, no lado B da ligação. José Mario de Souza Junior, é gerente de T.I (Tecnologia da Informação) na empresa Guaratel, mais conhecida como ‘Oi’, que existe a sete anos em Guarapuava. A empresa vende linhas de telefonia e internet, ou seja, realiza o atendimento ativo, aquele que se caracteriza por entrar em contato com o cliente. Segundo ele, os funcionários recebem instruções, uma espécie de treinamento, para poder lidar com situações que exigem calma, cautela, e tolerância. “Temos que ser o mais profissional possível e não levar nada para o lado pessoal, pois o nosso trabalho é o de oferecer o produto e negociar com o cliente, não devemos criar uma guerra”. Mas nem tudo nesta vida são flores, e como diz o velho ditado: ‘ninguém é de ferro’. Já houve casos em que os atendentes foram ameaçados por clientes, isso acontece porque, muitas vezes, o cliente recebe uma venda que não deu certo, e liga descontando no atendente a falha de outra pessoa. “Alguns clientes chegam a bloquear nosso número, e somos impedidos de realizar nossas vendas. Para não acontecer muitos problemas, nossa saída diante da ira, fúria de um cliente, é manter a calma e a tolerância”, conta Ewelyn Ap. Batista Alves, Supervisora de Televendas da Oi. Não tem ao certo como saber qual o limite entre a tolerância, a paciência, a ira e a fúria. São coisas que a gente aprende com o tempo, e deve ser por isso que cada pecado possui sua virtude, não há como ter um sem o outro. Mas virtude é um privilégio isso indica que há um árduo caminho para se adquirir ele.

Com o clie não pe nte r , n der as a c

Depender de um serviço de atendimento via-telefone é sempre complicado. Aquela história de ficar repassando a ligação para dezenas e centenas de ramais, enquanto você fica ouvindo musiquinhas iguais as que tocam em caixas de guardar joias para a bailarina de gesso ficar rodando, ou ainda, aquela voz que cala no seu subconsciente: “aguarde um minuto que vamos te passar para uma de nossas atendentes”. É realmente perturbador, chato, e irritante. E não são raras às vezes que muitos consumidores se deparam com essas situações quando desejam cancelar a assinatura de um produto, ou mesmo solicitar e reclamar de um serviço. Mas e os atendentes? Como eles reagem ao fim do dia, com o fato de terem que atender, ou fazer milhares de ligações, e ainda dizer com aquela voz a entonação que só o verdadeiro funcionário de telemarketing sabe fazer: “obrigada, e tenha um bom dia senhor” (aposto que você leu isso reproduzindo mentalmente a voz que as atendentes fazem durante a ligação). Tudo isso gera um grande estresse, e falta de tolerância de ambas as partes, de quem liga e de quem ouve. Tolerância vem do latim, tolerantia, que por sua vez provém de tolero, e significa ‘suportar um peso’ ou ‘a assiduidade em suportar algo’. Antigamente essa palavra era usada para mencionar as atitudes permissivas vindas de autoridades perante ações de convívio social consideradas impróprias. Hoje em dia, esta palavra é usada como sinônimo de uma virtude, ter tolerância atualmente é muito difícil, sobretudo em redes sociais, em que há um borbadeio de indiretas e diretas que atingem muitas pessoas, e todos querem replicar e causar confusão com alguém. A tolerância seria uma grande saída para fugir disso. O frade italiano Tomás de Aquino (1925-1274) diz que a tolerância é o mesmo que a paciência. E a paciência é justamente o bom humor ou o amor que nos faz suportar as coisas ruins ou

tendente ve lação a rsus e r a e m l e a t n r keting de a la m nhias c pa om

Serviços de telefonia

A TERRÍVEL MANIA DE TRANSFERIR A SUA PACIÊNCIA MATÉRIA E IMAGEM: ELISANDRA CARRARO

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“Quando eu estou irritada e ele fica me testando, fazendo gracinha”

“Ela é muito ansiosa para fazer tudo. Isso deixa ela nervosa e extremamente irritada” stus Foto: André Ju

MUITOS CASAIS PASSAM POR SITUAÇÕES QUE EXIGEM IRA OU PACIÊNCIA

Antonielle e e Guilherm

Entre Tapas e

Beijos 06

MATÉRIA E IMAGENS: ANDRÉ JUSTUS


“Gosto daa calma e do dedicaçã como pai”

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A música do cantor Leonardo pode ser a trilha sonora para todos os casais que lutam para sobreviver aos altos e baixos de um relacionamento. Afinal, “hoje estamos juntinho, amanhã nem te vejo, separando e voltando, a gente segue andando entre tapas e beijos”.

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Além da rotina do dia a dia, algumas pessoas compartilham não só momentos como casais, mas também como colegas de trabalho. O romance dos biólogos Andressa Silvestri e Lucas Agostinhak, começou na

Mas e depois dos cinco, dos dez, dos vintes anos juntos? Valderez Pontarolo e José Eloir de Almeida tem orgulho dos seus 22 anos juntos. Um casal que prova que apesar de todas as diferenças e momentos ruins, o amor e, principalmente, paciência são os segredos para a união. Hoje com dois filhos, buscam dar atenção para o que mais gostam um no outro.

de so a s e exc estimrita” O “ uto r a me i e del

Foto: André Justus

Apesar das diferenças e momentos de fúria, Guilherme lembra que o que mais gosta em sua namorada é o fato dela ser “extremamente” parecida com ele, mostrando que com o tempo as manias vão se misturando.

FELIZES PARA SEMPRE?

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Antonielle Baldissera é mestranda em Biologia na Universidade Federal do Paraná e há pouco mais de um ano está namorando o estudante de engenharia Guilherme Louro. O casal que se conheceu em uma festa de ano novo em 2012, transformou amizade em algo que hoje descrevem como amor. Quando perguntados o que mais os irritava sobre o outro, as respostas deixam clara a conexão entre os dois.

“A gente estava comendo um lanche e ela estava sofrendo para tirar a maionese da bisnaga. Então, resolvi ajudar, peguei a bisnaga e bati para sair, mas acabamos brigando pois, segundo ela, não precisava de ajuda”, comenta Lucas enquanto sua namorada se diverte com a história.

Valderez e José Foto :

Tornou-se clichê comentar que todo primeiro ano é sempre um sonho e que, após isso, começa a avalanche de desentendimentos. Por isso, o Bebop conversou com três casais para descobrir o que mais irrita neles.

empresa que trabalham e já dura dois anos. “O que mais me irrita nele é o fato dele se achar o máximo e ser teimoso”, comenta ela explicando que o namorado nunca está errado. E, do outro lado, as constantes cobranças dela a respeito de algumas atitudes dele tornam-se motivo para ele. Uma das lembranças que trouxeram foi durante um café na casa da Andressa, onde uma bisnaga de maionese foi o motivo de discussão.

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Quantos relacionamentos uma pessoa pode ter durante toda a vida? Quais as lembranças? O primeiro beijo? Quantas brigas? Qual foi e é amor de verdade? São algumas das questões que atormentam aqueles que ainda acreditam em uma receita para um bom relacionamento.

“Gosto da persistência nas coisas q ela quer naue vida”

“A c s fac e irho qu ma ilme rita e ior nte r deldefe é o a” ito

Lucas e Andressa

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ANA CAROLINA MAZZETTI CARBORNAR, 29 ANOS, GUARAPUAVANA. A ÁRBITRA NÚMERO UM E INTEGRANTE DA CBFS, CONFEDERAÇÃO DE FUTEBOL DE SALÃO DE GUARAPUAVA, MANTÉM-SE FIRME EM UMA PROFISSÃO ONDE A IRA ESTÁ À FLOR DA PELE E A PACIÊNCIA É UMA VIRTUDE QUE POUCOS POSSUEM.

IRA 1 PACIÊNCIA 0

ENTREVISTA E IMAGENS: AMANDA BASTOS

COMO VOCÊ ESCOLHEU SUA FORA E DENTRO DE CAMPO? PROFISSÃO? Dentro de campo eu procuro sempre me Na verdade, foi a profissão que me escomanter calma, tento ignorar as ofensas que lheu. Eu cursava a faculdade de Educação Físieu ouço, pois normalmente são críticas desca e precisei fazer estágio no último período, foi trutivas que não fazem sentido. Teve situações aí que surgiu uma oportunidade de apitar jogos. em que me exaltei, cheguei a trocar ofensas Fiz o curso preparatório e comecei atuando em com jogadores, mas logo em seguida pensei competições pequenas, mas os meus superiona minha carreira, em tudo o que eu construí res viram potencial no meu trabalho e passaram até aqui, nas barreiras que eu quebrei e, deste a me escolher com mais frequência. Lembro de modo, me acalmei. Minha carreira está acima uma situação onde era para eu apitar somente de tudo, pensar nela é o meu método de manum jogo, mas pelo meu bom desempenho, acater a calma. bei apitando seis jogos seguidos. No outro dia, Já na questão pessoal eu sou totalmente direcebi uma ligação e fui indicada para atuar na ferente, sou explosiva e sem paciência alguma. liga de futsal de salão, isso em 2006. Em 2012 Teve uma situação em que um homem quase subi para a Confederação Brasileira de Futebol bateu no meu carro, não pensei duas vezes em de Salão, e atualmente sou a única mulher em descer e ir tirar satisfação, pois ele estava alcoGuarapuava com esse título. olizado e poderia prejudicar pessoas inocentes. SUA PROFISSÃO É INTEIRAMENVOCÊ LEMBRA DE ALGUM JOGO TE LIGADA AO SENTIMENTO DE IRA, QUE TE MARCOU? NOS CURSOS PARA ARBITRAGEM Houve um jogo em que eu apitei e carrego EXISTE UMA PREPARAÇÃO PARA até hoje as marcas dele. Durante a partida, o ESSE TIPO DE SITUAÇÃO? capitão de um time aqui de Guarapuava já esNa época em que eu fiz o curso não havia tava em quadra com um cartão amarelo, após nada que auxiliasse nessa questão, mas os ele cometer mais uma falta, eu apliquei o setempos mudaram, e hoje já existe um material gundo. Nesse momento ele se exaltou, perdeu que auxilia os profissionais a manterem seu psia paciência e veio para cima de mim. Enquanto cológico saudável. O que é muito importante ele corria na minha direção eu levantei o cartão para a nossa profissão, pois não são todos que vermelho e permaneci firme, ele não pensou possuem autocontrole. duas vezes em me empurrar. Me agrediu. Após a agressão, o jogo continuou, eu imaCOMO VOCÊ LIDA COM A IRA ginava que depois da atitude dele, nada pode08


ria ser pior, mas foi. Quando eu reiniciei e mais um árbitro chegaram nesse paa partida, o ginásio inteiro começou tamar. a gritar em coro: “Sapatona, biscate, vagabunda”, entre outras ofensas. Em JÁ TEVE PROBLEMAS DE dez anos de profissão eu nunca pasSAÚDE PELO FATO DE TER QUE sei por uma situação como a de ser LIDAR COM A IRA DIARIAMENagredida fisicamente por um capitão TE? de equipe, que deveria dar exemplo, Sim, em casos de pressões extree ouvir ofensas de uma torcida inteira. mas eu tive crises de estresse, fiquei Saí de campo com a certeza de que com a autoestima afetada e pensei não deixaria aquilo passar em branco. muitas vezes em desistir da arbitragem. Registrei boletim de ocorrência conMas me mantive forte, e assim vou pertra o jogador e o denunciei, tanto na manecer. delegacia, quanto na federação. As ocorrências ainda estão engavetadas, ACREDITA QUE O FATO DE ninguém julgou até agora. O jogo ser SER MULHER AUMENTA AS na minha cidade não significa que eu AGRESSÕES? irei usar métodos para fazer com que o Com toda a certeza sim, pois estou time da casa ganhe. Tenho ética e sou inserida em um esporte masculinizaprofissional, quem tem preferência por do. Os homens pensam que por eu ser times são os torcedores, árbitros demulher, não tenho o mesmo nível de vem ser imparciais. capacidade que eles. Mas a minha preparação, tanto física quanto teórica, é a mesma dos árbitros masculinos. Sempre ouço que “tudo bem você VOCÊ SE ESPELHA EM ALquerer ser árbitra, mas deveria apitar GUÉM? só jogos femininos”, isso é um pensaMe espelho em minha amiga e árbitra Katiucia Meneguzzi. Ela está mento totalmente machista e preconna FIFA, Federação Internacional de ceituoso. Mas continuo na resistência e Futebol. Aqui do paraná somente ela lutando contra os estereótipos.

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L. A I EC SP E O NÇ Ã

MATÉRIA: DIANA PRETTO Muitas vezes no decorrer do dia passamos por situações que testam nossa capacidade de manter a calma, fazendo com que nossos sentimentos sejam elevados e a ira tome conta do ambiente. Há também aquelas pessoas propensas a um temperamento mais agressivo, que já têm como hábito se exaltar. Entretanto a ira não deve ser tratada como um sintoma, pois ela é um sentimento. É o que explica o psicólogo Weslley Kozlik Silva. “Contemporaneamente é bastante corriqueiro tratar de situações negativas como pertencentes a um quadro sindrômico, porém ódio ou ira são sentimentos comuns e saudáveis. Muitas vezes esses sentimentos são responsáveis por mudanças positivas nos comportamentos de uma pessoa e senti-los, por mais doloroso que seja, não indica que a pessoa está doente. Pelo contrário, sentir tal sentimento quando se é contrariado é saudável. Neste caso,

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é preciso entender e saber lidar com essas emoções, pois evitar essas situações é um bem para toda a vida”. Todavia esse sentimento levado ao extremo pode, sim, refletir em várias partes do nosso corpo, apesar de todas as teorias e discussões sobre o momento de se procurar a ajuda de um profissional, existe uma situação bastante simples de se perceber ao tomar esta atitude: deve-se ponderar quais são as situações que o indivíduo não está conseguindo resolver sozinho, além disso, se cada um desses fatores impedirem o indivíduo de realizar suas atividades corriqueiras e com a mesma habilidade que resolvia antes, essa provavelmente é a hora de ter auxílio profissional. “A ira está relacionada ao sentimento e emoções que qualquer pessoa pode sentir. De qualquer forma pode, sim, afetar a saúde psicológica. Uma pessoa que constantemente sente ódio ou ira por outra pessoa ou por um pro-

cesso a ser feito em sua rotina, pode gerar aversão a qualquer coisa ou pessoa que se relacione a esse processo. Aí sempre que algo semelhante acontece em sua rotina, ela tende a ligar a fatores negativos e sentir-se mal com a situação. Uma rotina de anos nessa situação pode gerar transtornos psicológicos”, justifica Weslley. Outros possíveis sintomas também podem afetar nossos cabelos, unhas, boca, dentes, além de acelerar o processo de envelhecimento, prejudicar a memória e até mesmo diminuir a imunidade do organismo. Por exemplo, no cabelo e unhas, pode ocorrer uma deficiência de vitaminas e nutrientes, o que causa queda e a quebra; na pele, podem piorar as espinhas, a psoríase, a vitiligo e as dermatites; nos dentes, o nervosismo pode levar ao bruxismo; na boca, quem tem o vírus do herpes pode desenvolver a lesão, então o estresse causado por esse comportamento deve ser tratado.

Uma forma simples e eficaz de se precaver destas e outras preocupações é através da alimentação aliada ao exercício físico. A nutricionista Marina Hamersk dá algumas dicas. “Consumir oleaginosas como castanha e amêndoas podem ajudar a diminuir esses sintomas, pois contém selênio e triptofano, elementos que provocam a sensação de relaxamento. No caso da ira aliada ao estresse, a recomendação é consumir alimentos com vitamina C, que ativam o funcionamento da glândula adrenal, regulam a produção de cortisol e tem poder antioxidante o qual combate os radicais livres. Por isso, é ideal ingerir laranja, goiaba, kiwi, acerola, etc. para manter os níveis de cortisol e regular o estresse. Além da alimentação, a prática regular de atividade física também pode ajudar”. Viver em paz consigo mesmo, este é tido em unanimidade como o segredo para manter a calma.


IRA

A VIRTUDE DA

A Ira e a Paciência podem parecer díspares, mas podem ser combustíveis complementares e eficientes.

A PERSEVERANÇA DA

PACIÊNCIA MATÉRIA: GABRIEL AQUINO Começa como um uma faísca. A combinação de sentimentos internos e geralmente intrínsecos. Um breve lampejo que, dessa vez, não desaparece. A faísca começa a corroer e sufocar, se torna intensa e regular, espalhando-se por cada centímetro do corpo. Preenche todo o espaço da alma, aquece o coração, encoraja a mente. E a faísca se abastece a todo momento aos olhos de quem não tolera mais o intolerável. A faísca agora é fogo... fogo agora é ira... e a ira não ficará aprisionada em um só corpo. Ira necessária para confrontar opressores, tiranos, injustiças. A raiva que surge como um ímpeto para reunir, organizar e iluminar a resistência. Em 1910, após 22 anos da sanção da Lei Áurea, marinheiros negros ainda eram reféns da tirania e do autoritarismo. A Revolta da Chibata surge, como tantas outras, com a insustentabilidade de uma situação execrável. A faísca, humilhações e punições exageradas e desumanas. O lampejo, 250 chibatadas em um homem negro que beirava a morte, Marcelino Rodrigues. O fogo da revolução, João Cândido. Também conhecido como o Almirante Negro, a história conta que foi o responsável por iniciar a resistência dos marinheiros. Organizando seus companheiros, tomando navios e expulsando os

oficiais, listando exigências e, se preciso, assassinando quem se opunha, ameaçando bombardear sedes do governo. A ira colocada em prática pelos marujos possibilitou que, após dias de conflito, o então presidente Hermes da Fonseca decretasse o fim da prática de punições violentas aos marinheiros, prometendo perdão para todos os envolvidos na rebelião. Sabemos, porém, que tal trégua não foi cumprida. Almirante Negro e diversos outros que participaram da rebelião acabaram presos. A revelia tem um custo, a ira geralmente tem consequências, mas também há conquista. O legado dos marinheiros revoltosos não fora esquecido. Também não serão esquecidos os diversos movimentos negros que lutaram pela equidade de direitos e respeito durante o século 20, em especial na década de 60, auge das manifestações. O Partido Panteras Negras foi um grupo polêmico e irado que atuou na linha de frente do combate ao racismo neste período. Cansados da opressão e das mortes recorrentes de negros, uniram-se e espalharam-se pelo país para proteger seus iguais da violência policial. Os Panteras Negras atuavam de forma agressiva, criando grupos armados de patrulha e resistência que não hesitavam em combater dire-

tamente os opressores. Tal método era conflitante, sendo questionado até mesmo por outros movimentos negros e ocasionando que o partido fosse, mais tarde, tido como o maior inimigo da segurança pública americana. Outro grupo forte e atuante nesta época seria a Nação do Islã, liderada por Elijah Muhammad, mas que teve seu ápice sob os holofotes de Malcom X. Seus discursos, suas aparições públicas e sua capacidade intelectual o colocou em uma posição de grande destaque e relevância para a resistência negra. Seu discurso era marcado pelo radicalismo, enfrentando e resistindo a violência que os negros sofriam, buscando suas conquistas através de meios extremos quando necessário. A forma única e agressiva de exigir mais direitos, a libertação dos negros das penitenciárias e indenização às famílias negras, a resistência armada e radical, não eram as únicas formas de rebelar-se contra as injustiças sociais e raciais da época. Confrontavam-se, também, métodos de combate e resistência. De um lado, a ira e a organização armada dos Panteras Negras e de Malcom X, de outro, a paciência e pacificidade de Martin Luther King. Ambos com um propósito em comum, buscando-o através de meios diferentes.

O DIÁLOGO A SEGUIR É FICTÍCIO E BASEADO EM DISCURSOS DE MARTIN LUTHER KING E MALCOM X DURANTE OS ACONTECIMENTOS DA DÉCADA DE 60. - Eu tenho um sonho. - Nós temos. O mesmo sonho! Porém, não podemos esperar pelos nossos direitos, pela nossa liberdade. - Certamente. Não é hora de nos darmos ao luxo de esfriar os ânimos. É hora de arrancar nossa nação da areia movediça da injustiça racial. - Os turbilhões da revolta continuarão a abalar as fundações de nossa nação até o raiar iluminado da justiça. - E o único meio de chegarmos a justiça é com nossas próprias mãos, através de qualquer meio necessário, nem que seja por meios extremos. - Para conquistar nosso lugar de direito, não devemos ser culpados de atos errados. Não tentemos saciar nossa sede de liberdade bebendo do cálice da amargura e do ódio. - Nós não podemos amar nosso inimigo. Será mais nobre suportar a injustiça moderadamente ou resistir e até portar armas para se contrapor à injustiça? Eu fico com a segunda! - Temos de conduzir nossa luta para sempre no alto plano da dignidade e da disciplina. Precisamos nos erguer sempre e mais uma vez à altura majestosa de combater a força física com a

força da alma. Tendo a paciência como uma de suas grandes virtudes, Martin Luther King, pastor, pregava a não-violência e a pacificidade em suas manifestações. Mesmo com a repressão policial, as ações do movimento seguiam confrontando a segregação em espaços públicos e privados e toda a discriminação presente nos direitos americanos, como o veto ao voto de cidadãos negros, sem o uso da violência. Como uma espécie de mártir, os assassinatos de Martin Luther King e Malcom X trouxeram imensa comoção, união e resistência. Muitos outros negros foram assassinados em uma época que buscava conciliar ira e pacificidade para a conquista de direitos civis, respeito e liberdade. - Tenho um sonho hoje. O sonho da liberdade. - O preço da liberdade é a morte. - Que a liberdade ecoe em terra... A ira despertada em milhões de americanos negros, a ira de grupos armados e radicais, a pacificidade e paciência de outros milhões e de um homem líder, ataram e consolidaram a resistência e a conquista de mais liberdade e prosperidade ao povo negro. 11


E viveram felizes para sempre? MATÉRIA: PÂMELA ANDRADE

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para ser entregue ao noivo, iria cobrir também a pior época da sua vida. “Três semanas após o casamento ele começou a mudar. Ele se transformou da agua pro vinho. Tem aquele ditado, dorme com um e acorda com outro, e foi assim. Ele era um príncipe encantado quando a gente namorava, ele cantava, fazia poemas, dava flores, muito querido. E quando nós nos casamos mudou completamente. Me sentia prisioneira, eu tinha que ficar olhando para baixo. Mas, de um ponto em diante, eu fazia ele passar por tudo que eu passei, aí virou um inferno”. Segundo o Padre Itamar Turco, o casamento é a celebração do sacramento do matrimônio. “O significado etimológico de Sacramento é tornar sagrado. Por isso, como sacramento, o Casamento é um ato de consagração a Deus da vida de um homem e uma mulher.

Por isso deve ser algo livre, sem coerção e que seja vivido com muita alegria”. Dona Carmen e seu Pedrinho estão casados há 53 anos, e dizem que o segredo é o respeito entre os dois, o alicerce do seu casamento é a fé. “Eu e o Pedrinho, nos conhecemos no hospital. Eu era doente, não podia andar, fiquei 12 anos sem poder caminhar. O Pedrinho foi visitar uma sobrinha dele. E o quarto dela era na frente do meu, então ele me viu e quis saber quem eu era. Ele veio no meu quarto falar comigo, quase me matou do coração, nunca tinha falado com um rapaz, morri de vergonha. Quando o pai voltou para o hospital eu falei para ele, o senhor não pode mais me deixar sozinha, veio um homem aqui falar comigo. Meu pai me perguntou o que é que tem? Ele queria saber de você. E ficou por aquilo mesmo”. Dona Carmen, afirma ter

Você já parou para pensar no significado do uso do véu pelas mulheres nos casamentos? Na Grécia Antiga o véu era usado para proteger a noiva do mau olhado e de outros admiradores que não fosse o futuro marido. Na Idade Média ele foi símbolo de nobreza. A mitologia greco-romana relaciona o véu à Deusa Vesta, que segundo as lendas era virgem, defensora do lar e da família. Para a maioria das Igrejas, como a católica e a evangélica, o véu branco simboliza a pureza. Maria, a mãe de Jesus, está sempre retratada com um véu, sendo o maior exemplo de inocência do catolicismo. Ironicamente, o véu que simboliza a pureza da mulher, que assim como Vesta, é vista como a defensora do lar e da família, o véu ganha outro sentido, o de cobrir a violência que essa mulher poderá vir a sofrer, a ira que ela irá enfrentar dentro do próprio casamento. Mas como assim? A violência doméstica, é uma violência velada, pois muitas vezes é encoberta, ignorada ou desconhecida. A palavra velada tem origem latina, velare, que significa cobrir com um véu. Rosa sonhava com o dia do seu casamento. Aos 21 anos de idade entrou na igreja ao encontro do seu primeiro marido. “Casei na Igreja de branco, virgem, tudo certinho de acordo com minha religião”. O que ela não imaginava é que o véu que a cobriu

“Em muitos casos, a mulher acaba se casando com a ideia de que a felicidade conjugal depende só dela”.

sido amor à primeira vista, já que seu Pedrinho, que ao vê-la disse a sua cunhada que iria rezar pela sua cura, para assim casar com ela. “Depois que eu saí do hospital, passado um tempo o Pedrinho apareceu lá em casa, começamos a conversar e então pediu para namorar comigo. Nós nos víamos a cada dois meses, mais ou menos, pois morávamos 100 km de distância. Eu lembro que ele fez uma muleta para eu andar. Eu penso que foi ele quem me incentivou a voltar a caminhar”. Foram um ano e oito meses de namoro, e então veio o casamento. Antes do casamento, o casal teve que ler um documento chamado Carta do Dever Mútuo, onde constavam os deveres do marido e da esposa dentro do casamento. Dona Carmen lembra do respeito do homem e da mulher. “Lá dizia por exemplo, que quando a mulher está doente, o homem não deve desrespeitá-la e abusar do seu corpo”. O Padre Itamar explica que o Código Canônico, que orienta todas as ações da igreja, aconselha o casal para uma vivência comum. “O homem e a mulher devem vivenciar o amor. Algo que não se tem como mágica, mas se cria aos poucos. É dever respeitar, ser fiel, tanto na saúde como na doença, até o fim. A igreja considera que o sacramento do matrimônio, só é possível dentro de uma vivência de fé e a experiência do amor. Deve haver perdão, paciência, recomeço, aceitar as diferenças e principalmente respeito. Deve haver filhos. E sem ligação com


Pessoa Imagens: Arquivo l

o de 50

Comemoraçã

Dona Carmen e Pedrinho na festa de ca samento

ele para me livrar do meu ex-noivo. O meu erro foi justamente, para me ver livre de um, me enfiei em outra roubada”. Para a OMC (Organização Mundial da Saúde) toda violência baseada em gênero, que tem como resultado danos físicos, sexuais ou psicológicos, incluindo as ameaças, a coerção ou a privação arbitrária da liberdade, que acontece na vida pública ou privada, deve ser punida. A recomendação feita pela igreja, segundo o Padre Itamar, é a denúncia para a justiça. De acordo com ele, em muitos casos os primeiros procurados são os padres (no caso da Igreja Católica), pois envolve situações muito delicadas, como medo das mulheres e o sigilo da confissão. “Orientamos que de forma estratégica a mulher denuncie a violência. E, em muitos casos, os padres conversam com o agressor sem que haja

desconfiança que foram denunciados aos padres. Pois, muitas mulheres, mesmo que denunciem depois de algum tempo voltam a conviver com seu agressor. Por isso, a tentativa de solução dos problemas é a melhor saída”. Segundo o professor Jorge, foram construídos por anos padrões de como a mulher deve se comportar e ser. A Sociologia, a História, todas as áreas de pesquisa de gênero, vem descontruir esse ideal de mulher. “O fato de ela ter uma vagina, já automaticamente a faz mulher filha, mulher esposa, mãe dona de casa e tudo mais. Você é homem deve se comportar de uma forma, você é mulher deve se comportar de outra forma”. Todos os setores da sociedade colocam esse pensamento de modelo de mulher, como a escola, que perpetuou por muito tempo a desigualdade de gênero, pois, conforme Jorge, foi um instru-

a fé não há felicidade nem realização”. A igreja, portanto, defende o respeito entre o casal, reforçando a ideia de união familiar. Mas, segundo o professor de sociologia Jorge Luiz Zaluski, em muitos casos, a mulher acaba se casando com a ideia de que a felicidade conjugal depende só dela. Contudo, a religião (juramento/votos do matrimônio) é só uma das formas da mulher ficar presa no casamento. “Umas das principais causas ainda, é aquele velho conceito da mulher dona de casa e o homem provedor, o homem sai de casa, faz faculdade, sai para trabalhar, enquanto a mulher fica cuidando do lar. Isso é uma forma de inibir o acesso dessas mulheres a outras relações, como com o mercado de trabalho. Enquanto o homem tem acesso a vida pública, a mulher só tem acesso ao afazeres domésticos”. Jorge levanta a questão de que em uma possível separação, a mulher acaba não sabendo o que fazer depois, pois viveu a vida inteira só para a família. Muitas tem receio de começar a vida do zero, como voltar a estudar. Sem autonomia para sair do casamento opressor, a mulher acaba presa ao relacionamento. Rosa conta que estava sob muita pressão. “Era um interrogatório todos os dias. Ele me torturava psicologicamente. Ele morria de medo de eu voltar com o meu ex. Eu me casei com

dos anos de casa

“Se você é homem deve se compor�ar de uma for�a, você é mulher deve se compor�ar de out�a for�a”.

mento de formação desse pensamento. Em sua dissertação de mestrado, pesquisa como a educação tentou limitar o acesso das mulheres ao mercado de trabalho entre os anos 70 e 80. Em sua averiguação, consta que na ementa escolar as mulheres eram ensinadas para o casamento e a manutenção dele. Até o ano de 1985, ainda tinha escolas de Guarapuava que mantinham essa ementa. “Por isso é muito difícil tirar esse ideal de mulher submissa ao homem, das cabeças das pessoas, porque elas aprenderam dessa forma, a escola que é um dos meios legais, um espaço de adquirir conhecimento, importante na sociedade, ensinava como a mulher deveria ser dona de casa, então era difícil as pessoas irem contra isso”. A música de ciranda infantil “O Cravo e a Rosa”, narra a história de uma briga entre o casal. O homem representado pelo Cravo e a mulher pela Rosa. “O cravo brigou com a rosa / Debaixo de uma sacada. / O cravo saiu ferido / E a rosa despedaçada. / O cravo ficou doente / E a rosa foi visitar / O cravo teve um desmaio / E a rosa pôs-se a chorar. / A rosa fez serenata / O cravo foi espiar. / E as flores fizeram festa / Porque eles vão se casar”. A ciranda mostra que, mesmo despedaçada, a Rosa cuida do Cravo, que conforme a letra, pode-se entender que saiu menos ferido do que ela. No final, mesmo depois de toda a agressão, as flores fizeram festa, porque eles iam se casar. Toda a violência 13


foi ignorada pela sociedade do universo da cantiga – que, no caso, seriam as flores -. Assim, como muitas vezes, é ignorada no nosso meio. Nossa Rosa real, sofreu com a violência psicológica, enfrentada em seus poucos meses de casamento, mas que tem repercussões até hoje em sua vida. “Ele ficou com um ciúme excessivo, ele mandava as pessoas me entregarem presentes na faculdade para eu saber que ele estava por perto. O Cravo mandava me vigiarem, os amigos dele contavam quantas vezes eu ia no banheiro, se eu ia comprar um chiclete no restaurante universitário. O Cravo queria saber com quem eu conversava. Era um ciúme muito exagerado, a ponto de perder o emprego dele, porque ele ia me vigiar no meu. Era uma insegurança com ele mesmo”. O artigo 7º da Lei nº 11.340, caracteriza a violência psicológica como qualquer atitude e ação que cause danos ou prejuízos emocionais, ou interfira na saúde psicológica e, consequentemente, física, na autoestima e na identidade da mulher. Qualquer conduta que tenha por objetivo diminuí-la ou controla-la, suas ações, comportamento, roupas, decisões, por meio de ameaças, insultos, humilhações, perseguição, isolamento ou vigilância. Configurando também, violência moral, causada por calúnia, difamação ou injúria. “O Cravo tinha um comportamento bastante infantil. Quando ele perdeu o emprego e não foi atrás de outro, porque era melhor para ele poder me vigiar, eu procurei me separar dele. O Cravo atormentava minha vida para ter certeza que não ia me perder, e foi justamente por isso que ele perdeu”. O casamento que, deveria ser,

O MINISTÉRIO DA SAÚDE DIVIDE A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA EM:

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baseado no respeito e igualdade entre os sexos, acaba sendo muitas vezes uma forma de oprimir a mulher. O Cravo passou a ser agressivo na terceira semana de casamento, mas Rosa só se separou dele algum tempo depois. “Aguentei mais nove meses porque eu tinha essa dificuldade da religião, eu achava que tinha que tentar, então eu tentei tudo que eu pude. Mas então eu percebi que não ia aguentar aquele relacionamento abusivo, porque eu não merecia”. Foi uma prisão invisível, o cárcere roubou sua personalidade e trouce consequências graves. “Eu fiquei três anos e meio sozinha, sozinha ao ponto de que se alguém tentava me paquerar era uma ofensa pra mim, eu não queria saber de nada disso, só estudar e trabalhar. Fiquei com trauma, a primeira relação foi muito traumática, como ele também era inexperiente ele me machucou”. Depois da separação, o Cravo procurava por Rosa para pedir para voltar, ele ligava, chorava e até ameaçava tirar a vida, se ela não voltasse com ele. Para resolver a situação, ela teve que procurar a família dele e explicar o que vinha ocorrendo. Como se não bastassem todas as humilhações e cobranças por parte, do agora ex-marido, Rosa passou a ser julgada pelas outras pessoas, por ser separada. “Depois que eu me vi livre dele, as pessoas começaram a me condenar, elas me ligavam para me xingar. Eu tinha que ficar fechada dentro de casa. Se eu me atrasava para entrar no ônibus era porque eu estava com alguém. Eu tive que trancar minha faculdade, no final do casamento, porque era humilhante ficar sendo vigiada daquele jeito, e

VIOLÊNCIA FÍSICA Quando alguém usa força, arma ou instrumento que pode causa lesões, como por exemplo, bater e espancar; empurrar, atirar objeto. VIOLÊNCIA SEXUAL Toda ação, toque, carícia não desejada pela pessoa, feitas pelo uso da força ou influência psicológica, ou seja, por intimidação e persuasão.

mesmo depois que me separei levei um tempo para voltar a estudar por causa das pessoas de fora”. Como Rosa ainda era muito jovem, chegou uma época em que se sentia só. No dia em que foi assinar os papéis do divórcio, conheceu seu atual marido, através de um amigo em comum. “Eu pedi para Deus alguém justo, gentil e trabalhador, alguém que não fosse um neurótico. Pedi para Deus, porque decididamente eu não sabia escolher. Nós namoramos seis meses e fomos morar junto, depois de algum tempo oficializamos no Civil, porque na igreja eu não podia casar de novo. Um ano depois, eu descobri que podia pedir a nulidade do casamento. Fiz o pedido e fiquei aguardando, foram 11 anos de espera. No ano passado, exatamente no dia 29 de abril, um dia tão triste para os funcionários públicos, para mim foi um dia de muita felicidade, porque eu recebi a notícia de que foi aceita a nulidade e eu poderia me casar de novo”. O professor Jorge fala que a Igreja, que é uma construção social, passou por muitas mudanças. “Eu brinco que esse Papa é realmente o Papa pop, pelos questionamentos que ele provoca na sociedade, e pelo atendimento à pessoas que ficaram por anos exclusas da Igreja”. O Papa aprovou ano passado medidas que simplificam e aceleram o processo de nulidade. Segundo o Padre Itamar, o pedido do Papa não muda as causas da nulidade, mas a forma de tratar delas. Nem sempre a violência doméstica é causa de nulidade matrimonial, mesmo havendo a quebra dos votos. Todos os casos são analisados em primeira instância pelo Pároco, depois pelo responsá-

VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA Causa dano a autoestima, a identidade e desenvolvimento da pessoa, por meio de ameaças, humilhações, cobranças, chantagens emocionais, isolamento, prisão domiciliar, entre outras atitudes que causam danos a personalidade do indivíduo.

vel do Tribunal Eclesiástico. Contudo, ele afirma que, no caso de violência doméstica, mesmo que a mulher esteja legalmente casada, não impede que abandone seu marido. No caso de Rosa, o que foi considerado no processo de nulidade, foi o fato de o Cravo não assumir as responsabilidades do casamento, como quando ele perdeu o emprego só para vigiá-la, ele não cumpria com suas obrigações de marido. Depois de tantos anos, Rosa ainda sente o terror daquela época. Quando toca nesse assunto, se emociona e seu humor se altera. “O relacionamento não é algo para você sofrer, tem que ser igual aos contos de fada, sim, se não, não adianta. O conto de fadas no sentido que toda mulher merece ser tratada com carinho, respeito e igualdade”. Dona Carmen e Seu Pedrinho, são exemplos de um relacionamento feliz, pois foi baseado no respeito e dedicação de um ao outro. Seu Pedrinho aceitou todas as limitações da esposa, sempre esteve ao seu lado determinado a ajudá-la, mostrando que a paciência foi sempre sua melhor aliada, e não a ira que se transforma em violência. Casados há 53 anos, ao longo da vida ganharam quatro filhos, nove netos e quatro bisnetos. Para Rosa, o amor próprio tem que ser maior que tudo. “Nós não merecemos passar por isso”, afirma com a certeza de alguém que já passou pelo inferno. A cantora Dido, em uma de suas músicas afirma que “no love without freedom”, ‘não há amor sem liberdade’, mas, cá entre nós, prefiro a versão do poeta Octávio Paz “não há amor sem liberdade feminina”.

NEGLIGÊNCIA Que é a omissão de resposabilidade diante da outra pessoa. VIOLÊNCIA VERBAL Causada por palavras ou gestos que diminuem e agridem o próximo.


A internet é uma terra sem Lei? MATÉRIA: ULISSES FAUSTINO ZINHONI

Ao divulgar sua cobertura, Alex passou a ser xingado por um dos manifestantes na caixa destinada aos comentários. Foi quando ele procurou o autor dos impropérios, ainda no Facebook, e aí vieram as ameaças Em 2014, ao fazer algumas fotos de um ato pró-impeachment em Joinville, o jornalista Alex Sander Magdyel foi apresentado a um fenômeno cada vez mais presente na vida do frequentador de redes sociais: a violência verborrágica, que traz consigo as ameaças e o discurso de ódio. Nos acalorados debates que tomam conta do país, esse tipo de comportamento acabou virando lugar comum, passando despercebido muitas das vezes em que é praticado. Nesta cobertura, tal qual em outras, Alex fez um serviço bastante simples. Fotografar momentos do protesto e compartilhá-los mundo afora via Facebook. Assim como em outros episódios, in loco ocorreu tudo bem. Os problemas, conta ele, começaram após a publicação das imagens na rede social. Ao divulgar sua cobertura, passou a ser xingado por um dos manifestantes na caixa destinada aos comentários. Foi quando ele procurou o autor dos impropérios, ainda no Facebook, e aí vieram as ameaças. Entre uma injúria e outra, seu interlocutor revelou que já o marcava há algum tempo. “Me chamou de filho da puta, pediu pra eu falar as bobagens que falo na cara dele, disse que sabia tudo sobre mim e que era pra eu ficar esperto. ‘Ano passado fui bem pertinho de ti na catraca do terminal. Vou

fazer tu engolir essa câmera, nunca mais vir fotografar minha cara pra compartilhar em grupo. Fica esperto tu e tuas companhias, seu fdp’”. Mesmo diante disso, Alex decidiu não fazer boletim de ocorrência. Ao esbanjar a confiança de que “o cara não faria nada comigo”, ele esbarra nas próprias medidas que admite ter que tomar para sua própria segurança. Além de manter os registros das ameaças, que continuaram a ser feitas, ainda que em escala um pouco mais leve, e de publicizá-los, mantendo a identidade do autor em segredo, ele revela que passou a pensar duas vezes antes de ir em manifestações. Apesar de não perder as de maior porte, passou a evitar as de volume reduzido. Em suas palavras, “acho que é mais perigoso quando tem menos gente”. HOBBY QUE INCOMODA Para Alex, que é jornalista, e trabalha em um conhecido veículo de comunicação de Joinville, as fotos que faz das manifestações são apenas um hobby, visto que ao fazê-las não leva muito em consideração o compromisso com o jornalismo. Seu midiativismo se revela nas manifestações do Movimento Passe Livre, ou ao menos, é declarado neste segmento, uma vez que o próprio confirma, há quem diga que

seus retratos são jornalísticos, e não apenas “umas fotos da manifestação”. Sobre esse material, colhido nos movimentos pró-impeachment, Alex defende sua atuação: “Eu vou para mostrar pra todo mundo as bandeiras que eles levantam. Se eu não faço, ninguém faz. A imprensa local, da qual agora faço parte, não faz. Se eu não for lá, todo mundo vai achar que a manifestação era só de gente contra a corrupção. Mas aí olhando as fotos vai ver que tem ‘O Sul é o Meu País’, saudosos da ditadura militar, fãs de Bolsonaro, empresários da cidade, assessor do deputado Tebaldi, que foi condenado e não foi preso porque o crime prescreveu... essas coisas”. Por fim, sem demonstrar intenção em parar com suas coberturas, Alex parece conformado com a situação. “As pessoas acham que internet é um mundo sem lei. Não vou saber dizer quanto, mas acho que a maioria das pessoas que ofende ou ameça quem pensa diferente aqui na internet não faria isso pessoalmente. Comigo nunca aconteceu, o máximo que fizeram foi debochar, fazer uma piadinha. E é difícil tu saber de algum caso de ofensa e ameaça em que a pessoa é punida de verdade. Nem o Facebook considera algumas graves ofensas como tal. A internet talvez blinde as pessoas”. 15


PARA EMBALAR A PRIMEIRA EDIÇÃO INDICAÇÕES: AMANDA GOLLO

MÚSICA

Há quem diga que nada faz melhor um artista do que o amor. Vinicius de Moraes não negava suas inspirações em amores de tirar o fôlego, ou naquela tristeza que, segundo ele, sempre era necessária para escrever um bom samba. Mas pouco sabem eles que a arte também é libertadora de outros sentimentos um pouco mais perversos, e que não há saída

melhor para descarregar a ira, o ódio e a raiva alimentados dentro dos seres humanos. Nesta edição, o Bebop atiça os leitores a manifestarem seus mais extremos sentimentos com obras da literatura, da ficção e da música, que te levarão do ataque de fúria a calmaria plena em poucas páginas, poucas notas ou poucas cenas. Faça bom proveito!

CINEMA

NADA COMO UM DIA APÓS O OUTRO DIA – RACIONAIS MC’S

O principal álbum dos Racionais MC’s, lançado em 2002, retrata a rotina de caos dos moradores das periferias brasileiras. Cantadas de pneus, sons de tiros não muito próximos e o som de um despertador abrem o disco, que passa do rap e hip hop ao pop, sem esquecer das notas do rock’n’blues e da dançante faixa Fone, que leva por baixo um funk bem anos 70. Sempre lembrado como um dos melhores álbuns brasileiros, a crueza mortífera dos versos é o que mais impressiona, mostrando que o ódio persiste e não impressiona os sobreviventes dos bairros menos privilegiados.

ALL THINGS MUST PASS – GEORGE HARRISON

FALLING DOWN

HESHER

O primeiro álbum da carreira solo de Harrison vem para acalmar os ânimos e trazer um pouco da espiritualidade do ex-Beatle a uma das obras mais importantes da sua carreira. O disco, de 1970, conta com a participação de nomes como Eric Clapton, Bob Dylan e Ringo Starr, e é uma forte lembrança, para George, dos tempos dos Beatles, já que muitas das canções foram compostas naquela época e não puderam ser gravadas pela banda. My Sweet Lord, principal faixa, é uma ode a Hindu God Krishna, ou um mantra de louvor a Deus, e expressa a fase na qual o músico se conectou fortemente a espiritualidade.

O drama policial de quase duas horas narra a história de Prendergast (Robert Duvall), um policial no seu último dia de trabalho antes de se aposentar, que tem a missão de deter William Foster (Michael Douglas). William perde o emprego e fica emocionalmente perturbado. Seu único objetivo e ir ao encontro da filha e da esposa, custe o que custar. No entanto, Foster esquece que seu casamento já acabou há muito tempo, e por isso não mede esforços – e nem violência – para tirar do seu caminho qualquer pessoa que tente o impedir de chegar até a ex-esposa. O filme é dirigido por Joel Schumacher e escrito por Ebbe Roe Smith, e foi lançado em 1993.

Dirigido por Spencer Susser e estrelado por Joseph Gordon-Levitt e Natalie Portman, Hesher (2010) retrata a vida de T.J., um garoto que após perder a mãe em um acidente de carro vai morar com a avó e o pai. O pai de T.J. passa por problemas com depressão, e não possui perspectivas além de passar o dia todo no sofá. Buscando distrações na nova cidade, T.J. conhece Hesher, um homem que odeia a tudo e a todos. Hesher muda-se para a nova casa de T.J. e transforma a rotina de toda a família. O filme é um drama surpreendente que mostra uma forma inusitada de superar tragédias.

LITERATURA

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A HORA DA ESTRELA

DOIS IRMÃOS

O livro de maior repercussão de Clarice Lispector foi lançado em 1985, e conta a história da jovem nordestina Macabéa, narrada pelo personagem fictício Rodrigo S.M. Os sonhos, manias e conflitos internos da jovem alagoense de 19 anos são colocados em voga num livro onde os acontecimentos parecem se perderem em detalhes, e a paciência com que a jovem enfrenta sua rotina, após mudar-se para São Paulo, parece não pertencer ao mundo contemporâneo. O enredo é um convite para refletir sobre o imediatismo dos acontecimentos e sobre tudo que nos passa despercebido no dia a dia.

O romance de Minton Hatoum, lançado nos anos 2000, narra uma história de ódio familiar de dois irmãos gêmeos, Yakub e Omar, pertencentes a uma família de origem libanesa que vive em Manaus. O ambiente que forma o pano de fundo da história é o de imigrantes que se dedicam ao comércio, numa cidade que vê aprofundar-se sua decadência, após o período de efervescência econômica e cultural vivido no início do século XX. Hatoum demonstra grande domínio da técnica de ficção nesta obra, num estilo enxuto e repleto de sutilezas que prendem o leitor.


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