Bebop 05 2015

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Que dia é hoje? Brasileiro que é brasileiro adora um feriado. O mês de novembro conta logo em suas primeiras semanas com duas datas marcantes no calendário nacional: o dia de Finados e o da Proclamação da República. Outras comemorações, que tem significados sociais importantíssimos compõe o penúltimo mês do ano, como os dias nacionais da Consciência Negra e do Combate ao Câncer, e também o dia internacional pelo Fim da Violência contra as Mulheres. É fundamental pensar nessas datas marcantes. Estas, inclusive, já são legitimadas em nossa sociedade, pelo fato de fazerem parte da vida dos brasileiros, ano após ano. Entretanto, para essa edição do Bebop, optamos por celebrar datas de novembro que são menos conhecidas e comentadas. Os dias comemorativos que foram escolhidos, provavelmente são desconhecidos de muitas pessoas, que ficarão impressionadas por existir um dia exclusivo dedicado a determinados assuntos. A quinta edição do Bebop de 2015 tem o propósito de trazer algo diferente para as páginas do jornal, com pautas que fogem do convencional como o dia da Gentileza, da Criatividade, do Soldado Desconhecido e do Supermercado. Assuntos que foram abordados de maneira igualmente diferenciada, tendo sempre como norte a preocupação em provocar uma reflexão acerca das datas selecionadas. Por isso, sente-se em um local confortável, pegue o seu café, e venha participar dessa discussão com a gente. Boa leitura!

quem experimentou Professor orientador: Anderson A. Costa Editor da edição: Naiara Persegona Narradores: Naiara Persegona Caio Budel Isabela Lessak Nádia Moccelin Priscila Schran

O Bebop é um jornal experimental produzido pelos alunos da turma B do 4º ano do curso de Comunicação Social (Jornalismo) da Unicentro. A finalidade deste material é informativa, educacional e cultural, sendo expressamente proibida a comercialização. Todos os textos são de responsabilidade dos autores e não refletem a opinião da Unicentro (Universidade Estadual do Centro-Oeste). Agradecimento: Lourival Gonschorowski Impressão: Gráfica da Unicentro Tiragem: 300 exemplares

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12 de novembro DIA DO SUPERMERCADO

o dia é do supermercado e quem paga a conta é você Quem narra: Naiara Persegona

Ter um dia dedicado ao supermercado pode nos levar a refletir sobre como a sociedade passou a consumir em grandes proporções nas últimas décadas. Para entender as relações entre o ser humano e o consumismo vamos contar com a ajuda de uma publicitária, de um filósofo e de um professor de meditação

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“Tudo pode ser comprado. Amor, arte, o planeta Terra, você, eu. Eu, particularmente. O homem é um produto com prazo de validade como qualquer outro. Eu sou publicitário, faço parte daqueles que te faz sonhar com coisas que nunca terá. Você acredita que eu torno o mundo mais bonito? Errado: eu o distorço”. Assim, com essas frases, começa o filme 99 Francos, lançado em 2007. O personagem Octave Parango, um publicitário bem sucedido, é dono dessas palavras. São afirmações intensas que logo no início do longa metragem nos faz refletir sobre o a vida e o consumo. Mas será que comprar, consumir e colecionar coisas são desejos criados por propagandas, ou os seres humanos já nascem com uma predisposição a consumir? Os supermercados, shoppings e lojas de departamentos simbolizam a comercialização de produtos em grande escala. Produtos e serviços são agrupados em um só espaço, para que o consumidor tenha mais praticidade e opções durante a sua compra. Alguns gostam de fazer compras no supermercado, outros preferem não frequentar muito para economizar, alguns usam aquele espaço como um passatempo, até mesmo como um refúgio, um local de terapia depois de um dia de trabalho. Os supermercados tem até

mesmo uma data comemorativa nacional, o dia 12 de novembro. Isso porque, nessa data, em 1968, foi regulamentada a atividade supermercadista no Brasil. É curioso que, mesmo que esses grandes centros comerciais façam parte da vida de todos os brasileiros, muitos não saibam nem mesmo que existe uma data dedicada a essa atividade.

Renata Nizer, sóciaproprietária da Cabana Coworking

A publicitária Renata Nizer acredita que a publicidade desempenha um papel importante como mediador entre consumidor e produto. “Creio que a publicidade torna público uma necessidade já existente. Faz parte do ser humano a necessidade de consumir, afinal, mesmo aqueles que procuram

produzir o que consomem naturalmente, sempre há algo que precisam adquirir. A publicidade sempre foi vista como vilã, e em alguns casos pode até ser; mas também é importante entender ela no contexto de que é ela que nos faz saber da existência de produtos e serviços, nos facilita o acesso a eles”, explica. Com um ponto de vista parecido com o da publicitária em alguns pontos e distinto em outras questões, o professor Cláudio Cesar Andrade, do Departamento de Filosofia da Unicentro, visualiza a publicidade como produtora de necessidades. “Pode-se dizer que vivemos em um mundo de consumidores e que somos cada vez mais estimulados a consumir sobretudo porque somos induzidos pela publicidade a acreditar no discurso sobre a promessa de um futuro cada vez melhor. Parto do pressuposto que o consumo é natural em certa medida, mas pode ser turbinado por formas mentais de pensamentos”. O docente também aponta que os consumidores, com tantas ofertas e opções disponíveis, podem se confundir em relação às prioridades. “Na medida em que somos induzidos a consumir, temos dificuldades de distinguir o que exatamente são bens fundamentais e o que são bens supérfluos. Temos dificuldade em

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dade de vida é relativo de acordo com os valores de cada pessoa; penso que julgamos muito que o fato de ‘ter’ é ruim e é preciso deixar de lado o ‘ser’, mas um consumo consciente é possível, e assim manter o equilíbrio. Vale também lembrar que cada empresa, seja um supermercado, seja uma indústria que produz os produtos que estão nas gônAdriano Aditya Caillot, professor da meditação

Cláudio Cesar Andrade, professor da Filosofia separar o que nos satisfaz daquilo que não nos satisfaz. Assim, novos modos de vestir, novos modos de comer e novos modos de morar seduzem aqueles que aprenderam que não se deve vestir-se genericamente, comer genericamente ou morar genericamente”, argumenta. Dialogando com a fala do professor de Filosofia, Renata comenta que existem formas de consumo consciente e aponta alguns benefícios proporcionados pelo mercado de vendas. “Quali-

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dolas, seja a publicidade que ela gera, pode estimular empregos, crescimento de cidades, estimula a busca por aprimoramento, o empreendedorismo”. A relação entre o ter e o ser é um tanto complexa. Para conseguir alcançar um contato profundo com o ser é necessário abdicar do ter? O professor de meditação e terapeuta holístico, do Jardim de Essências, Adriano Aditya Caillot, busca responder a essa questão com mais conhecimento. Ele conta que a procura pela prática da meditação como forma de auto-conhecimento aumentou muito nos últimos anos. São pessoas que estão em “busca de respostas para suas inquietações, outras vem buscar paz, alívio; outras querem entender o que está se passando na vida delas; como elas dizem: ‘mesmo tendo tudo na vida sentem um vazio enorme dentro delas’”.


Nesse sentido, para Adriano, a relação do ter com o ser, é bem intensa: “Não vejo problema em TER. Tenha tudo que você precisar, seja feliz com tudo que você tem e com tudo que você recebe do universo. O universo é muito abundante, ele tem para todo mundo. O SER está em tudo, tudo o que você É, está ligado ao SER. O TER não está separado do SER, aliás, o TER está ‘mergulhado’ no SER. ‘Agora’ você pode investigar porque, mui-

tas vezes, o que ‘nós’ conseguimos TER, ou alcançamos, dura pouco tempo de ‘felicidade’ e já não é mais suficiente. Conseguimos algo, ficamos felizes por pouco tempo - e logo precisamos trocar ou comprar outra coisa e assim continuamos. Exemplo dessa situação é o celular, o carro, a casa, o emprego, o relacionamento... se você nunca se satisfaz, o que é essa ‘busca’ incessante? Por quê fica sofrendo mesmo tendo tudo? SER É TUDO. Então resta saber: QUE É VOCÊ?”

Indicações Documentário: Sonho Tcheco

Filme: 99 francos

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Dia do soldado desconhecido – 28 de novembro

Guerreiros silenciados Quem narra: Priscila Schran

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monumento nacional aos mortos da segunda guerra mundial, no rio de janeiro

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Dia do Soldado Desconhecido foi criado para homenagear os soldados que perderam as suas vidas nas guerras e que não tiveram os corpos identificados. Dependendo da circunstância da morte, pouco sobra de um corpo para ser reconhecido. Por isso, os países prestam homenagens com monumentos dedicados a esses importantes soldados desconhecidos. Por ocasião da guerra, é comum que os corpos dos soldados não sejam devolvidos ao seu país de origem, porém, os soldados brasileiros mortos na Segunda Guerra Mundial retornaram para o Brasil em 1960. Em homenagem, foi construído, no Rio de Janeiro, o Monumento

A morte e a memória dos soldados brasileiros que tombaram na Segunda Guerra Mundial Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial, onde estão guardados os restos mortais dos mais de 460 brasileiros mortos. No monumento, há também uma homenagem para aqueles soldados desconhecidos. Em 1945 eram 23 os ‘desaparecidos, extraviados ou não identificados’. Dez haviam sido enterrados nestas condições. Hoje 16 brasileiros permanecem sem identificação. Antes de virem para o Brasil, esses corpos estavam enterrados em um cemitério na cidade de Pistóia, Itália. Hoje, resta apenas um corpo lá, no Monumento Votivo ao Brasil, e ele também não é identificado. Quem cuida do monumento é Mário Pereira, filho do único ex-combatente autorizado pelo governo a ficar na Itália após o fim do conflito.


FEB: A participação dos soldados brasileiros na Segunda Guerra Mundial Helton Costa, doutor em Comunicação, apaixonado por histórias de guerra, e autor do livro ‘Confissões do Front – Soldados do Mato Grosso do Sul na II Guerra Mundial’, conta como foi a participação dos soldados brasileiros no front de batalha. O primeiro tiro da FEB

“Foi uma participação aceitável, não heróica, mas que cumpriu os objetivos a que se dispunha. Foram enviados sem um treinamento completo, tendo que se adaptar à um front difícil que barrava as tropas aliadas que estavam desfalcadas de gente, quase a ponto de se igualar em quantidade às forças do Eixo. O mérito da FEB (Federação Expediocionária Brasileira) foi conseguir se adaptar às condições adversas do front e mesmo com essas condições contrárias ter conseguido cumprir os objetivos que lhes foram conferidos. Se você me perguntar se foi crucial, eu diria que não. Foi importante naquele front específico, naquele momento histórico e naquele recorte de terrenos ocupados, isso sim. Penso assim porque a FEB não deixou de cumprir suas missões e auxiliou nas operações aliadas organizando o dispositivo em um momento em que havia necessidade de soldados para equilibrar as forças, em quantidad, com as tropas do eixo. Mas, que os brasileiros eram soldados diferenciados, isso eram. Não porque eram mais valentes ou mais corajosos, mas porque eram mais humanos. Essa mistura que temos ainda hoje aqui,

naquela época era algo novo para os estrangeiros. Tínhamos tropas mistas em que na mesma companhia você poderia ter um negro do nordeste, um japonês de São Paulo, um neto ou filho de italianos do Rio Grande do Sul, um filho ou neto de alemães de Santa Catarina, um indígena do Mato Grosso do Sul, enfim, uma mistura danada, enquanto a segregação era algo comum nas demais tropas. Americanos tinham unidades de negros comandados por brancos. Tinha também um sentimento de apego com a população civil. Não faltam histórias de brasileiros dando comida aos civis, o que era estritamente proibido. Em Stafoli, onde era o acampamento de retaguarda, há uma comida chamada ‘mingau brasiliano’, feita de fubá, carne, arroz... Uma mistura que os brasileiros faziam e davam para a população. Virou prato comum da cidade. Em números teríamos como resultado 239 dias de ação, 20 mil prisioneiros alemães, com mais 460 mortos e aproximadamente 1,6 mil feridos, acidentados e desaparecidos em combate. Mandamos 25 mil. Ou seja, quase 10% dos que foram, deram sangue pela vitória, literalmente”.

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CONFISSÕES: BREVES RELATOS DE SOLDADOS

Artilheiros da FEB municiam um obuseiro de 105 mm para disparar contra Montese no início da ofensiva da primavera, em abril de 1945

Helton entrevistou mais de trinta soldados que voltaram da Segunda grande guerra, ele conta que iniciava a conversa com assuntos leves, da vida pré-guerra, mas que logo eles começavam a falar das batalhas e reviviam cada momento de raiva, ansiedade, medo - muito medo! -. “Eles eram jovens longe de casa e com um baita medo de morrer. Bombas, tiros, frio congelante, incertezas... Não desejo o que eles passaram para ninguém. Muito triste, muito deprimente e desumano”, conta o autor. Em seu livro, Helton relata algumas histórias, destacamos algumas: “Um dos meus amigos, o Manoel Siqueira, 93 anos, que ainda está vivo em Campo Grande, contou que ele saiu de folga e quando voltou, dois dias depois, o rapaz que tinha ficado no lugar dele, que estava de serviço no mesmo lugar dele, já não existia mais. Um morteiro o tinha despedaçado, literalmente. O

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outro, Thomás Antônio Machado, de Ponta Porã, MS, era amigo do Manoel. Eles serviam juntos no Brasil. Machado foi para a infantaria como fuzileiro e Manoel atirava morteiros. No dia que Machado morreu, eles se cruzaram ra-

O rapaz estava morto e na mão ensangüentada segurava uma carta da mãe que pedia que ele voltasse para casa logo... pidamente durante o ataque, foi de relance. Manoel ficou mais atrás e depois, mais tarde viu o corpo do colega passando em uma maca... Outra história que me marcou muito foi de Jorge da Silva. Primeiro que ele, já idoso, com 93 anos,

me confundia com um amigo dele e me chamava a entrevista inteira pelo nome do cara. Depois contou que era motorista de viatura blindada e que em Montese avançava frente os soldados quando viu passar um brasileiro pelas vielas da cidade medieval. Um tiro só derrubou o soldado que foi descendo devagar pela parede. Jorge atirou de volta até silenciar o local de onde tinha vindo o tiro. Passada a batalha, ele voltou para ver o soldado baleado. O rapaz estava morto e na mão ensangüentada segurava uma carta da mãe que pedia que ele voltasse para casa logo... Outro combatente, Agostinho Motta, que tinha 18 anos na época, resume bem essa história. ‘Medo todo mundo tem, mas a gente superava tudo. Quem falar que não tinha medo estava de conversa fiada. Porque você vê o negócio feio, o pau torando e companheiro morrendo e você não poder fazer nada, ficar só esperando que vai também’”.


Os guarapuavanos na Segunda Guerra Mundial Em memória dos guarapuavanos que etiveram na Segunda grande guerra, o Sargento André da Silva Castro, do 26ª GAC, organizou uma lista com o nome dos bravos guerreiros. “Mesmo não havendo em Guarapuava uma Unidade que estivesse entre as que iriam para os Campos de Batalha na Itália, não faltaram homens nascidos aqui que estivessem prontos para honrar o nosso país. Foram 19 os jovens de Guarapuava que partiram para a guerra. Talvez nem chegaram a se conhecer, pois estavam em várias Unidades diferentes e em diferentes cantos do país. Lá foram eles, lutaram ombro-a-ombro com o general Mascarenhas, Zenóbio da Costa, Falconièri, Sgt Max, entre outros. Hoje eles não têm seus nomes em todos os livros de história, nem viraram nomes de medalhas, mas lá estavam, lutando e defendendo o mundo contra a tirania”, conta o sargento. Conheça o nome dos guarapuavanos: - Cap SILVIO SCHLEDER SOBRINHO (11º RI) – Medalhas: Medalha de Campanha; - 2º Sgt JOÃO AGUIAR POMPEU (6º RI) – Medalhas: Medalha de Campanha; - 3º Sgt ELBA AIRES PACHECO (D PES) – Medalhas: Medalha de Campanha, Medalha de Guerra e Forragiéri Portuguesa; - Cb AGENOR BATISTA DE OLIVEIRA (11º RI) – Medalhas: Medalha de Campanha; - Cb EUCLIDES DE ARAUJO (9º BE) – Medalhas: Medalha de Campanha e Medalha Sangue do Brasil; - Cb JAHIR MACHADO DOS SANTOS (D INT) – Medalhas: Medalha de Campanha; - Cb JOAQUIM MACHADO RODRIGUES (D PES) – Medalhas: Medalha de Campanha; - Cb NATALINO VIEIRA DA ROCHA (D PES) – Medalhas: Medalha de Campanha; - Sd ANTÔNIO PIRES DE CAMARGO (11º RI) – Medalhas: Medalha de Campanha; - Sd ARGEMIRO GONÇALVES SIQUEIRA (11º RI) – Medalhas: Medalha de Campanha; - Sd DORIVAL MATOSO DE OLIVEIRA (D PES) – Medalhas: Medalha de Campanha; - Sd FREDERICO ADONSKI (6º RI) – Medalhas: Medalha de Campanha; - Sd JOÃO FAUSTINO RODRIGUES (1º RI) – Medalhas: Medalha de Campanha; - Sd JOÃO FRANCISCO CARNEIRO (D PES) – Medalhas: Medalha de Campanha; - Sd JOÃO MARIA BATISTA (6º RI) – Medalhas: Medalha de Campanha, Medalha Sangue do Brasil e Medalha Cruz de Combate de 1ª Classe; - Sd MANOEL ANTONIO FERNANDES, (6º RI) – Medalha de Campanha e Medalha Cruz de Combate de 1ª Classe; - Sd MARCONDES DOS SANTOS (D PES) – Medalhas: Medalha de Campanha; - Sd MARINS FERREIRA DE SOUZA (11º RI) – Medalhas: Medalha de Campanha; João Maria Batista - Sd OSCAR RIBAS COELHO (D PES) – Medalhas: Medalha de Campanha. Falecimento: 24 de Abril de 1945 no 38th Avac. A relação acima foi extraída do Livro: “O Paraná na FEB, de 1953”. Hospital – Itália

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13 de novembro

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gentileza Gentileza que gera espanto

Quem narra: Nádia Moccelin

Feito louco, Pelas ruas, Com sua fé, Gentileza (Trecho da música Gentileza, Gonzaguinha) De cabelo comprido e uma veste branca, um louco caminhara pelas ruas do Rio de Janeiro na década de 1980. Sua loucura? Oferecer a gentileza. Sim, ser gentil. Veja só quanta ousadia. Não raramente, nos surpreendemos quando encontramos alguém disposto a ser gentil, ajudar, colaborar. Seja nos dando uma informação ou nos acompanhando até um lugar voluntariamente. Imagine agora uma pessoa cujo objetivo de vida fora ajudar o outro, ajudar o mundo; que tivera como propósito semear e distribuir amor e gentileza. Parece mesmo coisa de louco. Tão louco quanto a surpresa que temos quando nos devolvem um objeto ou dinheiro perdido, nos oferecem uma carona gratuita ou nos estendem a mão. Tão louco quanto quando aceitam as diferenças humanas ou quando conseguimos nos lembrar o dia que fizemos nossa última gentileza a alguém Quão louco seria dizer que ainda somos gentis?

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Para o historiador Rodison Scarpato, “embora seja inegável que a gentileza tem se tornado ‘algo’ cada vez menos utilizado e praticado no cotidiano de boa parte das pessoas, não podemos dizer que a sociedade como um todo deixou de ser gentil”. De acordo com Rodison, existem pequenas ações diárias e coletivas, que embora sejam disseminadas socialmente como ‘obrigações’, continuam sendo gentilezas ao próximo. “Acredito que tudo o que não é obrigatório ou regulamentado por lei, passivo de punição, como por exemplo, ceder um assento a um idoso ou gestante, pode ser considerado sim, uma gentileza. É claro que existe uma certa cobrança pela sociedade em situações como essa, mas ainda assim, só fazemos um suposto gesto de gentileza se isso já tiver em nós, em nosso interior”, declara. A presença desse valor gentil dentro de cada um é, para ele, algo inserido e cultivado a partir de círculos e instituições sociais que perpassamos ao longo da vida. “A gentileza ainda pode ser encontrada na educação, nos princípios, nos valores e na própria moral. A gentileza nós cultivamos com os amigos, na escola, com os vizinhos e com todos aqueles com quem compartilhamos momentos de nossas vidas”.

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Nessa leitura, coisas pequenas são as de grande valor e, assim, são elas que geram um mundo mais gentil. “Creio que ser gentil é olhar para os outros indivíduos como se olha para alguém de verdade, percebendo suas necessidades, dificuldades e também seus anseios. Olhar para as pessoas e também percebêlas, não simplesmente olhar, sem ver”, conclui Rodison. Ser gentil, hoje, talvez seja apenas não ignorar as pessoas, a poesia, a natureza. Como bem lembrado por Marisa Monte, “O mundo é uma escola A vida é o circo Amor: palavra que liberta Já dizia o profeta”. (Trecho da música Gentileza, Marisa Monte)

Quem narra e fotografa: Nádia Moccelin

A propósito, dia 13 de novembro é o Dia Mundial da Gentileza. Um bom dia para tirar a tinta cinza dos nossos muros e ler, compartilhar as palavras de gentileza daquele velho profeta barbudo das ruas do Rio, que um dia quis ser louco e distribuir amor de graça.

CONFIRA as canções de Marisa Monte e Gonzaguinha, que narraram em momentos diferentes a presença do profeta Gentileza.

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Dia da Criatividade - 17 de Novembro

Uma criativa mente em uma criativa idade Quando somos crianças, nossa mente está mais aberta a pensamentos criativos do que quando somos adultos? Quem narra: Caio Budel Há aproximadamente dez anos, os peões conhecidos como Beyblade eram febre em várias partes do país, principalmente pela influência dos canais de TV que transmitiam o desenho responsável pela criação do brinquedo. Lembro-me de ter ganhado alguns desses tipos de peões e, independente da qualidade deles, nenhum se comparava ao protótipo de Beyblade que alguns amigos me ensinaram a fazer com tampa de detergente, bacia de bicicleta e cola. Um exemplo claro de brinquedo

criativo que, neste caso, me era mais divertido que os peões originais. Mas esse não foi o primeiro e nem o último caso onde a criatividade deu as caras para o nascimento de algo que seja necessário para alguém. Em Guarapuava, como estímulo ao processo criativo de crianças, as escolas municipais realizam, anualmente, feiras de ciências que tem como tema assuntos relacionados à tecnologia, saúde e meio ambiente. Em novembro, a Secretaria de Educação e Cultura

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Lanterna produzida por alunos da Escola Municipal Alcindo de França Pacheco (Foto: Caio Budel)

de Guarapuava realizou a exposição de alguns destes trabalhos durante a segunda edição do evento Cientista Mirim, mostrando a capacidade do pensamento criativo em escolas. Luiz Gustavo Garcia e Amanda Garcia, ambos com dez anos, desenvolveram uma lanterna caseira construída com garrafa pet, pilhas, papel alumínio e fios elétricos. A ideia é que a criação auxiliasse em um possível problema com iluminação em casa, por exemplo, o que permite uma associação entre criatividade e perspicácia na hora de se pensar no objeto criado. “Eles pensaram em um trabalho que não ficasse restrito a uma apresentação. Tiveram a preocupação de trazer isso para a

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vida deles e de outras pessoas a quem a ideia possa servir”, explicou Beatriz Moraes, orientadora dos alunos. As alunas Eloane Camargo de Freitas e Maiza de Araújo Batista, de nove e dez anos, desenvolveram um microscópio caseiro, capaz de aproximar imagens através de uma lente de DVD e uma câmera de celular. De acordo com Elani Alves da Costa, professora das crianças, o projeto pode vir a auxiliar no ensino durante as aulas de ciências. “Hoje, a maioria das crianças tem celular e conseguir uma lente queimada de DVD não é difícil. Se nós conseguimos aprimorar a ideia e escalonar ela, imagina cada criança na aula de ciências com seu próprio microscópio de bolso?”.


Microscóio caseiro ainda está em fase de aprimoramento, mas já consegue aproximar imagens em proporções relevantes (Foto: Caio Budel) bebop

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DESDE CEDO Mas, afinal, o pensamento criativo é mais propício na infância? Pesquisadores da Universidade de Case Western, em Cleveland, nos Estados Unidos, tentaram responder justamente a esta questão por meio de um estudo, cujo resultado foi divulgado em 2012, e está disponível em inglês para leitura online. De acordo com os autores da pesquisa, as crianças norte-americanas do ensino fundamental, mesmo com menos tempo livre para brincar, têm uma imaginação mais aguçada, e ficam, inclusive, mais à vontade para interagir com amigos imaginários do que aquelas nascidas há duas décadas. Os pesquisadores fizeram com que crianças criassem seus próprios brinquedos a partir de outros objetos, como um carrinho feito com uma caixa de papelão ou uma roupa de folhas de pa-

pel para uma boneca. Para a psicóloga guarapuavana Sheila Cristina Lima, o estímulo de ações com crianças por meio de brincadeiras e práticas como essa da pesquisa, que influenciam no pensamento criativo, podem inspirar novas ideias quando elas se tornarem adultas. “A brincadeira é a principal forma de desenvolvimento da curiosidade, da motivação e do senso exploratório que toda criança tem. Essas habilidades ajudam a criança a se relacionar bem com as pessoas, a conhecer lugares, se aventurar sem inseguranças e a superar obstáculos com determinação. Crianças estimuladas desde cedo, seja nas brincadeiras, em atividades artísticas, ou no ambiente escolar, tornam-se mais autoconfiantes, solucionam problemas com mais facilidade e são mais flexíveis a novas ideias”.

Pesquisa “Changes in Children’s Pretend Play Over Two Decades”, da Universidade de Case Western, que estudou o pensamento criativo em crianças norte-americanas

para relembrar (ou conhecer) as beyblades 18 bebop


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