FIM DE SEMANA, 20 E 21 DE MARÇO DE 2021
Especial - Grupo A Hora
Delivery e drive-thru: produtores se reinventam e mantêm renda Agricultura familiar usa da tecnologia e criatividade para driblar desafios gerados pela pandemia FELIPE NEITZKE regional@jornalahora.inf.br
REGIÃO ALTA DOS VALES
P
ara superar os desafios gerados pela pandemia, produtores rurais buscam alternativas e se reinventam mantendo a renda familiar. O cancelamento de feiras e eventos do agronegócio impacta diretamente os pequenos produtores e as agroindústrias. A tecnologia é aliada na aproximação entre produtor e consumidor. O delivery tornou-se o principal meio para efetivar as vendas. Sem poder participar da feira municipal, Moacir Favaretto, 53, encontrou na entrega domiciliar uma forma para manter a venda de
Mesmo com a pandemia, o agricultor tem a responsabilidade de manter os municípios, o estado e o país de pé, pois dele depende a alimentação de todos e a saúde da nossa economia” Carlos Joel da Silva, presidente da Fetag-RS
FELIPE NEITZKE
laranjas. São quase três décadas no cultivo de citros na propriedade localizada em Pinheirinho, interior de Canudos do Vale. O pomar com cerca de 1.000 pés de laranja foi implementado pelo sogro de Moacir, em 1988. “Na época, ajudei a plantar as mudas e não se tinha uma perspectiva sobre a cultura e seu rendimento”, conta a esposa Rosane Favaretto, 53. Moacir manteve o cultivo, conciliando com a principal atividade econômica da família, a avicultura. “Conquistamos os clientes através da qualidade das laranjas. Não utilizamos agrotóxico, são frutas 100% orgânicas”, ressalta o produtor. A falta de chuva nos últimos dois anos afetou a produtividade. “Em anos com chuva regular, chegamos a colher 30 mil quilos de laranja, na safra passada, ficou em 20 mil quilos”, comenta Favaretto. Para driblar as restrições impostas pela pandemia, Moacir aposta no delivery e na venda porta a porta. “É um formato seguro e dá resultado. Entrego a fruta por R$ 1,50 o quilo. Geralmente levo 800 quilos por rota e essa venda ocorre em meio dia”, detalha o agricultor. A distribuição da fruta ocorre em cidades da microrregião de Boqueirão do Leão. O sucesso das vendas incentiva a ampliação da área cultivada. “Ampliamos o pomar com 450 mudas de laranjeiras e outras 50 de bergamotas da variedade ponkan”, ressalta Favaretto.
Drive-thru do peixe A venda de peixe durante a Semana Santa é uma
Moacir Favaretto, 53, de Canudos do Vale, comercializa a produção de laranjas através de entrega domiciliar
renda extra para muitos produtores da região. Este ano, em função da pandemia, a realização de feiras deve obedecer a protocolos para evitar aglomerações e contágios por covid-19. Em Boqueirão do Leão, a Secretaria de Agricultura trabalha com a possibilidade de realizar a venda do pescado no formato drive-thru. “Temos o espaço no entorno da praça Dr. Anuar Elias Aesse e até o momento a venda por drive-thru é a melhor alternativa”, comenta o secretário Gilnei Zanus. Nos últimos anos, a feira municipal movimentou cerca de 15 toneladas de pescado.
Produção de alimentos O impacto da pandemia na agricultura familiar é tema de evento online promovido pela AssociaçãodosFumicultoresdo Brasil(Afubra).ConformeMarco Antonio Dornelles, o Conecta ExpoagroAfubrafoiprogramado paramarcarasdatasdatradicio-
nal feira presencial. “Optamos por este formato digital, pois, presencialmente, não há como realizar a feira, porém, não queríamos deixar de levar informação aos nossos produtores nestes momentos difíceis que todos os setores enfrentam”, ressalta o coordenador geral da Expoagro Afubra. O webinar ocorreu esta semana, entre os dias 17 e 19 de março. De acordo com Benício Albano Werner, presidente da Afubra, a dependência da cultura do tabaco nas propriedades rurais reduziu nos últimos anos. “Em 2005, o tabaco representava 75% da receita familiar do produtor. Agora, em estudo recente, o tabaco representa 49%”, pontua. Para Werner, a diversificação das propriedades e a produção de alimentos é a nova realidade no campo.
Gargalos no campo Carlos Joel da Silva, presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura
no Rio Grande do Sul (Fetag-RS), reconhece a dificuldade de muitos produtores em se reinventar neste momento de pandemia por falta de infraestrutura. “A internet não chega para os produtores como deveria chegar, o mesmo vale para os serviços de telefonia e energia elétrica. Em muitos municípios, os acessos são difíceis, não oferecem as mínimas condições para escoar a produção. Precisamos de soluções para estes gargalos e ações efetivas dos gestores públicos”, defende Carlos Joel Durante o painel promovido pela Afubra, o presidente da Fetag-RS enfatizou o importante avanço da diversificação na agricultura familiar. “São 365 mil propriedadesruraisnoRS,destas, 293 mil (80,5%) famílias rurais, produzem de tudo”, comenta. “Osagricultoresprecisaramse reinventar. Muitos não sabem, mas a agricultura é pioneira na tecnologia,sãoprocessosavançadosnosetordoleite,aves,suínos, entreoutrasatividades”,ressaltao presidente da Fetag-RS.