Agro - 18/07/2020

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FIM DE SEMANA, 18 E 19 DE JULHO DE 2020

Especial - Grupo A Hora

“P

erdi tudo que tinha com a última enchente”. O relato é do agricultor Valdir Schwingel,49, de São Miguel, no interior de Cruzeiro do Sul. Produtor de hortigranjeiros desde o ano passado, ele tem péssimas lembranças do último dia 8 de julho. Em uma área de cinco hectares, Schwingel perdeu mais de 22 mil pés de repolho, 700 de morangos, além de áreas de alface, cebola, salsinha e beterrabas. Tudo era vendido na Ceasa em Porto Alegre. “O prejuízo supera os R$ 40 mil. Até retomar o plantio, vou demorar uns 3 a 4 meses”. Cenário parecido viveu a cidade de Colinas. Um relatório da Secretaria de Agricultura e Emater aponta que em 24 horas o volume de chuvas chegou aos 200 milímetros causando inundações nas lavouras, residências, instalações rurais, galpões com depósito de insumos e sementes. Ao todo, 90 propriedades foram diretamente atingidas. A secretária da Agricultura, Raquel Klein Dhiel, relata também os problemas com as lavouras de inverno, alagamentos e falta de energia elétrica, o que acarretou na perda de produção. As comunidades mais afetadas foram Linha Santo Antônio, Linha 31 de Outubro e Linha Westfália. “O cenário foi assustador”, descreve. Em termos de valores, Colinas registrou perdas acima de R$ 1,1 milhão. Somente no trigo, estima-se que, dos 75 hectares destinados para o plantio, a perda chegou aos 80%, representando o valor de R$ 141 mil. Em silos estocados, estima-se perda de 100% e mais de 1.550 toneladas, tendo em vista que a alimentação dos animais fica comprometi-

HORA DE RECOMEÇAR

atingida. “É necessária a adubação química ou orgânica e colocação de calcário. Tudo isso pode gerar custos a mais para o produtor. Com a retomada da biótica do solo, pode-se iniciar o plantio, mas o processo de recuperação é longo”, detalha. Antoniolli estima que, em Cruzeiro do Sul, muitos produtores optaram pelo plantio do trigo. A área nesta safra aumentou cerca de 10% e subiu para os 570 hectares. Em agosto e setembro deve se iniciar o plantio da soja e milho.

Aumento no custo de produção No interior de Cruzeiro do Sul, Valdir Schwingel estima perdas superiores a R$ 40 mil com a enchente

da. O prejuízo chega aos R$ 365 mil.

gidas em Cruzeiro do Sul. que pode acarretar na perProdutores de hortigran- da de produtividade. Antojeiros ou ligados a plan- niolli estima que o tempo de tio de trigo foram recuperação do solo os mais afetados. perdure por cinco ou Em São Miguel, dez anos. por exemplo, o rio Neste tipo de siacabou invadindo tuação, a Emater propriedade e lerecomenda que o Lagemannprodutor espere a vantou cerca de 15 Carlos Gerente regional centímetros da ca- adjunto da Emater secagem do solo, mada produtiva do remova os rejeitos solo, onde se concentraa trazidos pelas águas e inia maioria dos nutrientes, o cie a recuperação da área

Cinco anos de recuperação Conforme o técnico em agropecuária da Emater-RS / Ascar de Cruzeiro do Sul, Maurício Junior Antoniolli, as comunidades às margens do rio Taquari, como Bom Fim, São Miguel e Maravalha foram as mais atin-

NÚMEROS DAS PERDAS NA REGIÃO LOCALIDADES ATINGIDAS

145

TRIGO

MILHO SILAGEM

458

HECTARES

PERDA DE 804 TONELADAS

25

HECTARES

PERDA DE 750 TONELADAS

ANIMAIS MORTOS BOVINOS DE CORTE

860

ANIMAIS

BOVINOS DE LEITE

PROPRIEDADES ATINGIDAS

GALPÕES DANIFICADOS

248

2.787

AÇUDES PREJUDICADOS

417

21 410

ANIMAIS

SUÍNOS

ANIMAIS

AVES COMERCIAIS ESTRADAS DANIFICADAS

2.033 QUILOMETROS

CASAS ATINGIDAS

397

25.980 ANIMAIS

Um levantamento regional com números dos municípios mais afetados com a cheia do Taquari foi entregue pela Emater na última semana à Associação dos Municípios do Vale do Taquari. Conforme o gerente adjunto Carlos Augusto Lagemann, cidades como Bom Retiro do Sul, Colinas, Cruzeiro do Sul e Estrela foram as mais afetadas na agricultura. Praticamente todas as culturas foram afetadas, principalmente as ligados ao leite e à bovinocultura de corte. “Muitos produtores perderam a pastagem de inverno, como a aveia e trigo. Silos também foram atingidos e levados. O que sobrou não pode ser tratado novamente. A produção já havia sido afetada com a estiagem e agora muitos perderam tudo”, explica Lagemann. Lagemann estima que muitos produtores possam ter perdas significativas na produção nos próximos meses. Como a principal fonte da alimentação foi perdida, o custo de produção pode elevar com a compra de suplementos minerais. “Se fizer um balaço, veremos que os produtores terão um enorme prejuízo no final do ano com estes eventos climáticos”.


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