Jornal Primeira Mão #121

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Experimentando Ainda antes da popularização da Internet, nosso jornal laboratório ousou ser o primeiro do Estado a ser todo diagramado em computador. Enquanto a grande imprensa ainda usava cola e tesoura, o Primeira Mão já desbravava o remoto programa Ventura. Aqui estamos nós agora, 14 anos depois, para ousar uma vez mais. Junto com este número impresso, lançamos a primeira versão do Primeira Mão para tablet. E foi por isso que escolhemos este assunto para nossa matéria de capa. Outra novidade está no formato. Este tamanho reduzido provavelmente surpreendeu quem estava acostumado com aquelas

enormes páginas. A intenção é que nosso jornal seja agora mais “portátil” e mais próximo a uma revista, uma vez que as matérias já seguiam essa linha. Tantas mudanças deram trabalho. Foram muitas “horas extras” em laboratório, fazendo e refazendo cada matéria, cada página. Mas é assim que se faz jornal, quando se quer fazer bem feito. Além disso, sabemos que somos estreantes e que estamos apenas iniciando uma nova etapa. Afinal, é também papel de um jornal laboratório estar sempre experimentando e inovando.

Crônica

››› Marcelle Desteffani

Convite a saborosas sensações Entre todos os passeios das minhas últimas viagens, um despertou em mim sentimentos que outros lugares não conseguiram. É sobre a Confeitaria Colombo, no Rio de Janeiro, que quero te contar. Pastéis, pãezinhos, tortas e trufas são encontrados em muitos estabelecimentos, eu sei. Mas lá, tudo é diferente.

Os confeitos podem não ser tão saborosos quanto se espera, ou até muito parecidos com os que são vendidos por aqui. Mas na Colombo você não vai só para comer, você vai para ter sensações. Sensações? Explico. Na porta da confeitaria já dá pra ver que o clima de Belle Époque lembra muito os países europeus.

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Espelhos de cristais enormes, mesas e cadeiras no mais puro jacarandá, bancadas de mármore italiano, magníficos vitrais nas paredes, cristaleiras clássicas, cardápios com design antigo e louças finas nos grandiosos armários. Tudo isso num ambiente com toque de Art Nouveau que encanta.

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Outro que gostaria de ter em minha companhia é Olavo Bilac. Como o poeta viajava muito pelo mundo, dizem que só se sentia mesmo no Brasil quando pisava na Colombo. Mas nosso pedido não seria o Peru a Bilac, que apesar de muito saboroso, não combinaria nada com a ocasião. Para Olavinho a pedida seria a Rivadávia, o doce mais sofisticado da Colombo. Você não sabe o que é? Discos de pão de ló recheados ao doce de leite e com cobertura de fondant (aquele glacê mais durinho que você comeu no bolo do último aniversário da sua prima).

A rainha da Inglaterra, Elizabeth II, também já visitou a Colombo. Eu a convidaria para uma degustação não porque se apaixonou pelo sorvete de bacuri lá servido, iguaria que já recebeu de presente da direção da confeitaria. Para a majestade, o pedido seria compotas de pêssegos em calda com Fios de Ouro. E aproveitaria para bater um papo com a rainha que não incluísse o casamento de seu neto William. O assunto já foi esgotado pela mídia nos últimos dias. Você também deveria viver essa experiência e se deixar encantar pelo que a Confeitaria Colombo pode proporcionar de melhor à imaginação.

em Ana Eli sa Bass i, Ange Ramos li dos A , Cintia njos, C Casati, Fernan arlos O Drieli V da Mar liveira, Edição c olponi, h e Cássia sine, Fr Dalla B e Diagr Fernan ancine ernardin d a amação L e B a it C , a e Lucas S in t Desteff , is t L t ia a a io , C Medeir asati, F chuina, ani, Ma o r a s L r n , ia u C c L iz in a uana Novais, Luiza D nal, Sab a Boula e Leite Naiara rina dos nger, M , Marce amiani, Gomes lle Des arcelle Santos, Marian Sérgio , teffani, R a Sérgio R ochana P Rangel, G r o o m f es, Má Rochan e a Canal, S s n Tamiris g s el, Victo o r y a a r a a V O b ie D rina do rhugo A rientad ira, Vict aniela C Primeir s morim. o S a r a n h n o iç u tos, a g r a li o a A M m ão orim. O Prime Orienta ira Mão dor da é um jo caráter diagram Luciano rnal lab experim oratório Frizzera ental p ação Comun , produ elos alu icação zido em nos do Social – T ir Espírito a 6 g º períod em Jornalis Santo. o do cu mo, da Av. Fer 1.000 ex Goiabe rso de Gráfica Univers nando emplar iras | Vit idade F Ferrari, es ória - ES ederal d CEP 290 514, G ráfica U o 75-910 niversit email: ária jornal1m ao@gm ail.com Primeira Mão Maio 2011

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Report

Na minha breve passagem pela Colombo fiquei pensando em quem levaria lá comigo para saborear as tradicionais delícias. O Gegê seria meu primeiro convidado. Pode ser que você não se lembre desse apelido. É de Getúlio Vargas. Sim, nosso ex-presidente, por quem tenho certo apreço. Os garçons da confeitaria sabiam bem o que ele comia. Mas eu também sei o que pediria para nossa refeição: um Petit Four. É o único biscoito que não usa farinha em sua massa. Sempre achei Gegê um tanto gordinho. Então, para ele, um quitute mais leve, por favor.


Voz entre as tesouras Histórias do barbeiro Leônidas ››› Lucas Schuina

“Rinaldo, eu fico feliz quando você senta nessa cadeira!”, declarou o barbeiro Leônidas de Souza Campos, logo depois de ter cortado o cabelo de um homem que é seu cliente há 30 anos. Momentos antes, ele havia contado a história das duas filhas que morreram de Alzheimer no ano passado, uma após a outra, com um intervalo de meses. “Mas eu não fico chorando, não, mesmo morando sozinho. Chorar não adianta”, acrescentou. O advogado Rinaldo Luiz Cezar Mozzer, 50 anos e careca na parte de cima da cabeça, acompanhou as histórias de Leônidas com comentários animadores, do tipo “isso mesmo, chorar não adianta”. Rinaldo levantou-se da cadeira com gestos rápidos, mas sem afobação. “Pena que eu to sempre com pressa”, lamenta-se. Como eu lhe dirigi algumas perguntas, ele ainda encontrou tempo para me passar o seu cartão profissional e tecer alguns elogios ao jornalismo. À noite, quando atendeu a uma ligação minha, Rinaldo afirmou gostar muito do Leônidas, e ressaltou que “ele é um homem temente a Deus. Eu sou católico e ele é maranata, mas nos damos muito bem”. Depois de o advogado ter cruzado a porta de saída, eu e o barbeiro retomamos a conversa interrompida. Descalço, ele se movia calmamente pelo pequeno recinto chamado por ele mesmo de “Salão do Leônidas”, que fica na Rua Comissário Queiroz, em Jardim da Penha, Vitória. Falava de si mesmo. De quando em quando, assoava o nariz na mesma torneira que é utilizada para lavar o cabelo dos clientes. Leônidas me foi apresentado por um companheiro da universidade em março de 2010. Para uma tarefa acadêmica, escolhemos o barbeiro como personagem a ser retratado em um blog. Desde então, encontrei-me com ele várias vezes. Sempre se mostrou disposto a falar, dizendo frases como “se alguém pegar a minha história pra escrever, eu tenho muita coisa pra contar”, ou “eu sou um dos melhores barbeiros da Grande Vitória”. Sempre o vi com a mesma blusa verde com listras pretas e a calça também preta, mas desbotada. Seus cabelos, pretíssimos, ficam penteados para trás, e uma grande mecha branca se destaca. As marcas do tempo e os olhos claros contribuíram para que uma pátina de serenidade se abatesse sobre seu semblante.

Alegre, Leônidas iniciou-se como barbeiro aos 19 anos. Antes disso, trabalhara na fazenda do seu avô desde os sete anos de idade. Também foi ajudante de pedreiro por um breve período, mas considerou o encargo pesado demais. Ele diz que aprendeu seu ofício sozinho, apenas olhando a mãe cabeleireira e experimentando cortes nos outros. Tinha seu próprio salão em Alegre, mas depois foi morar por três anos em Colatina na época em que a cidade passava por um grande progresso econômico, e veio para Vitória no final da década de 60. De início, a vida na capital não foi fácil. Já casado e com filhos, Leônidas afirma que sua família teve de morar em palafitas. Mas depois ele passou a ganhar bastante dinheiro e as coisas melhoraram. Os relatos mais interessantes vêm de quando ele trabalhou no Salão Garcia e no Salão Galante, ambos no centro da cidade. O Centro, naquela época, ainda representava o coração de Vitória. Ele conta que, uma vez, foi chamado para cortar o cabelo do governador Eurico Rezende, o último do regime militar, no palácio Anchieta. Não gostou da experiência. Perdeu muito tempo esperando o governador atender a um monte de telefonemas, e no final das contas só lhe foi pago o valor normal de um corte. Nunca mais voltou lá. Foi nessa época, também, que Leônidas: 1) passou um dia inteiro cortando os cabelos da tripulação de um navio; 2) cortava a peruca de um argentino; 3) inventou uma massagem curadora que fez o cabelo de um cliente voltar a crescer. No início da década de 80, Leônidas decidiu montar um salão em Jardim da Penha, juntamente com uma de suas irmãs. Ele diz ter previsto que o centro da cidade iria entrar em declínio. “A prefeitura saiu de lá, a Vale saiu de lá...”, enumera. Quando ele chegou, Jardim da Penha era apenas o Clube 106. O negócio ia bem, mas a irmã enviuvou, o ponto ficou caro e ele decidiu mudar suas coisas para a salinha da Rua Comissário Octávio Queiroz, onde está, segundo diz, há 11 anos. Tem uma casa em Vila Velha, mas anuncia que voltará a morar em Vitória. A maior parte dos clientes de Leônidas é constituída por homens acima dos 50 anos, alguns com pouco cabelo, como Rinaldo. Eles acompanham o barbeiro há vários anos, são seus amigos. Eventualmente, os mais próximos aparecem no salão apenas para ler jornal e conversar.

“Tem gente por aí que corta um cabelo em três minutos. Eu gasto 18 minutos pra cortar o cabelo. Barba também. Só fui rápido com o Nivaldo porque ele pediu”, diz o barbeiro, cioso de seu ofício e arte. Naquela manhã de abril, eu tentava organizar a trajetória de Leônidas de maneira coerente, juntando as pontas soltas dos outros encontros que tive com ele. Mas a tarefa era menos simples do que parecia de início. As datas dos acontecimentos são pouco precisas. Se fosse para confiar em todos os números fornecidos pelo barbeiro, ele já teria uns 86 anos, e não os 78 que de fato tem.

O barbeiro Leônidas tem oito irmãos, dois deles já falecidos. Ele foi casado duas vezes e se divorciou das duas mulheres. Os filhos são três: um que mora em Cariacica e as duas que morreram de Alzheimer. Esses dias, porém, ele também me contou de outras três filhas com as quais não mantém contato, frutos de um relacionamento com uma terceira mulher. Não entendi bem essa história. Ao falar sobre isso, Leônidas apertou-se constrangido contra o sofá de couro da barbearia. Foi a única vez em que ele não quis se estender sobre um determinado assunto.

Foi mais ou menos assim. Nascido no distrito de Roseira, em

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Drieli Volponi

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Produtos orgânicos: moda ou estilo de vida?

››› Fernanda Batista, Luiza Boulanger e Maria Luiza Damiani

O consumo no Estado é recente e movido sobretudo por curiosidade, segundo especialistas

Em países da Europa, nos Estados Unidos e em algumas capitais brasileiras, os produtos orgânicos já se tornaram comuns e são consumidos por pessoas que assumiram um novo estilo de vida, com uma alimentação saudável e menos agressiva ao meio ambiente. Segundo especialistas do setor em Vitória, a maioria dos consumidores procura os produtos não em busca de uma melhor qualidade de vida, mas sim por curiosidade e moda.

Fabiana Alves, 23 anos, é maître do restaurante D’Bem, na Praia do Canto, especializado em pratos orgânicos. Ela conta que os clientes compram um produto orgânico apenas para experimentar e dizer que consomem, mas não cuidam de fato da alimentação. “Algumas pessoas chegam aqui e pedem um prato super saudável e uma Coca-Cola. Vai contra a nossa filosofia, mas se não vendermos, perdemos o cliente”, conta.

Segundo Fabiana, muitas pessoas passam em frente ao local e não sabem do que se trata. Alguns confundem orgânicos com vegetarianos ou até com light e diet. “Acham que são só folhas e que eles emagrecem, mas estar de dieta não é comer orgânico”. Ela explica que apesar de os alimentos serem livres de agrotóxicos, engordam tanto quanto o alimento “comum”. Variedade › Marcus Teixeira, 49 anos, é distribuidor de produtos orgânicos há dez anos. Proprietário da loja Só Orgânicos, que funciona desde setembro de 2010 no Hortomercado, oferece cerca de 290 produtos diferentes, como chocolate, papinhas de bebê, ketchup, molho de tomate, barrinhas de cereal, sucos, balas, macarrão, antepastos (porções servidas como aperitivos antes da refei-

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ção principal), achocolatado, linhaça e até ovos de páscoa. Já no restaurante D’Bem, mesmo as bebidas alcoólicas servidas são orgânicas. Espumantes e vinhos são importados da Europa, a cachaça é baiana e a cerveja é produzida em Santa Catarina. Entre os produtos mais vendidos pela loja Só Orgânicos estão arroz, açúcar, azeite e sucos. No D´Bem os sucos também são carro-chefe das vendas. Robéria Menegassi, 23 anos, gerente administrativo-financeira do restaurante e consumidora de orgânicos, garante que o sabor é melhor quando comparado aos não orgânicos. “É muito mais saboroso porque não tem remédio. Quando eu tomei o suco de tangerina pela primeira vez levei um choque, dá para sentir realmente o gosto da fruta”, garante. Apesar da variedade de produtos, a maior dificuldade dos dois estabelecimentos é encontrar fornecedores. “Quase nenhum fornecedor é do Estado. A maioria dos produtos vem do sul do Brasil ou de outros países. Além disso, a logística é complicada. O transporte dos alimentos custa caro aos produtores e muitos só o fazem se o pedido for grande”, disse Lucas Vilas

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Boas, 24 anos, assistente administrativo da loja Só Orgânicos. Nos Estados Unidos, a cultura orgânica já faz parte da vida de muitas pessoas. A cadeia de supermercados Whole Foods conta com mais de 300 lojas espalhadas por todo o país, onde são vendidos somente produtos orgânicos e naturais. Até fraldas descartáveis orgânicas podem ser encontradas. Na Europa, a rede de lojas sueca H&M lançou em abril, uma coleção de roupas feitas a partir de tecidos orgânicos e reciclados, com o slogan: “Ser sustentável está na moda”. Saúde em primeiro lugar › Segundo a coach de saúde integrativa Melissa Setubal, 32 anos, frutas e vegetais orgânicos contêm até 40% mais antioxidantes, 63% mais cálcio e 73% mais ferro que os alimentos de produção tradicional, além de uma quantidade

Fotografia Drieli Volponi e Marcelle Desteffani


maior de todas as vitaminas essenciais para o desenvolvimento e a manutenção da saúde. Isso significa que o corpo tem aumentada sua capacidade de se regenerar. Ou seja, o organismo tende a ficar menos doente, e menos propenso a desenvolver câncer e outras doenças graves. “Além disso, ovos e carnes de frango e boi orgânicos tendem a ter grandes concentrações de ômega-3 e diminuídas as de gordura saturada, pois os animais são alimentados com capim e estão em constante movimento”, conta. Melissa explica que passou a consumir produtos orgânicos pensando primeiramente na saúde, mas a questão sócio-ambiental também lhe chamou atenção. Ela faz questão de consumir produtos locais, para incentivar a produção familiar e minimizar o impacto do solo e da água. Hoje ela faz desse estilo de vida sua profissão: orienta pessoas a mudarem seus hábitos e conquistarem suas metas pessoais com alimentação saudável e exercícios físicos. Foi também pensando na sua saúde que o professor de inglês Rogério Passos, 37 anos, começou a consumir produtos orgânicos. “Faço o possível para que a minha alimentação e da minha família seja 100% orgânica, mas infelizmente ainda não consigo encontrar alguns produtos. Carnes, por exemplo, é dificílimo achar aqui em Vitória”. Para Rogério, os produtos orgânicos são mais saborosos, além de muito mais nutritivos. Sua mulher, Luciana Passos, 35 anos, conta que substituiu os alimentos tradicionais pelos orgânicos há três anos, quando estava grávida de seu primeiro filho. “Quando comecei a comer os orgânicos me senti outra. Fiquei mais ativa e meu fígado passou a funcionar muito melhor”. Grávida pela segunda vez, ela diz que agora só come orgânicos. “Se não for orgânico, não entra na minha alimentação. Tenho deixado de comer muita coisa, mas me sinto muito mais saudável”. Preço › O preço dos alimentos orgânicos pode ser considerado como um dos entraves para o crescimento do consumo no Brasil. Segundo Lucas, os orgânicos industrializados custam cerca de 70% a mais do que os não orgânicos. Já as frutas e verduras orgânicas chegam a custar 50% a mais do que os produtos convencionais. Um pé de alface em uma barraca de produtos orgânicos na feira de Jardim da Penha custa R$ 0,75 centavos, enquanto em um supermercado pode ser encontrada por R$ 0,50.

Lorival Haese, agrônomo e produtor de verduras e hortaliças orgânicas há 10 anos, em Santa Matia de Jetibá, enfatiza que não é possível comparar o orgânico com o não orgânico. “A comparação de preços dos orgânicos com outros produtos não pode ser feita. Ele precisa de mais mão-de-obra e de mais tempo para a produção”. Segundo seu filho Inimah Haese, que produz e vende com o pai, é um caro que vale a pena. “É uma diferença mínima para quem busca qualidade de paladar e de vida”, diz. Lucas Vilas Boas, que também é estudante de Engenharia Ambiental, acredita no potencial do país para a produção dos orgânicos. Para ele, falta incentivo ao produtor e mais divulgação e informação para a população, o que aumentaria a distribuição e a variedade dos produtos orgânicos, gerando queda nos preço e aumento do consumo. “Nós temos terras ricas e muita água, o que falta é mão-de-obra especializada e incentivo fiscal do governo para dar certo”, analisa.

Onde comprar A Semana Nacional de Orgânicos Dos dias 29 de Maio a 4 de Junho acontece a Semana Nacional de Orgânicos. No Espírito Santo a programação contará com teatro de bonecos, exposição de produtos, palestras técnicas, apresentação de grupos culturais, mesa redonda, café da manhã com produtos orgânicos, além da inauguração da nova feira de orgânicos de Vitória, no Hortomercado. A programação acontecerá na Praça dos Namorados, nas feiras do Barro Vermelho, Jardim da Penha e Praia da Costa, na faculdade Salesiana, na Ufes e no Hortomercado. Primeira Mão

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Feiras de rua Jardim da Penha, às quartas-feiras Praia da Costa, aos sábados Barro Vermelho, aos sábados Restaurante Cio da Terra Jardim da Penha Restaurante D’ Bem Praia do Canto Loja Só Orgânicos Hortomercado Loja Mundo Verde Shoppings Vitória e Praia da Costa Loja Domaine Pedra Azul

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Cuidado ou abandono? ››› Fernanda Marchesine, Mariana Dornelas e Cintia Casati

Visto por muitos como “depósito de velhos”, os asilos começam a mudar

Convidamos a adolescente Camila Correia, com seus 12 anos de idade e toda a sua inexperiência, para conhecer uma casa de repouso em Vila Velha. A princípio a resposta não foi positiva. Ela não demonstrou nenhum interesse em conhecer tal lugar e disse que não queria ver “velhinhos tristes”. Com um pouco de insistência conseguimos levá-la conosco à visita. Resultado: a menina se deixou conquistar pelos moradores da casa e saiu de lá sorrindo, levando na mente todas as histórias que ouviu deles.

O muro coberto por trepadeiras esconde o lindo jardim da casa jardim com direito a chafariz e bancos. Logo na entrada, discretamente à direita, temos a sala da administração. Seguindo em frente temos a sala de televisão, com um aparelho de plasma de 42 polegadas que fica rodeado por sofás e cadeiras. Logo depois, nos deparamos com umas 20 “cadeiras do papai”, revestidas com lençóis. No dia de nossa visita quase todas elas estavam ocupadas pelos idosos que descansavam depois do jantar. Ao lado da sala há o refeitório e mais à frente a piscina - que está sendo reformada. Quanto aos quartos, estão em todos os lugares: próximos ao refeitório, do outro lado da sala, em outra ala que fica depois da piscina. Todos os quartos são para mais de um idoso e divididos por gênero. As casas de repouso surgiram há 15 anos como uma opção para pessoas da terceira idade que precisam de cui-

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dados especiais ou não possuem ninguém para acompanhá-los o tempo todo. Assim como os asilos, as casas também amparam pessoas que necessitam de tratamento que não possam receber em casa, seja por falta de pessoas treinadas, seja por falta de estrutura. A diferença é que as casas são exclusivamente para idosos acima dos 60 anos e são instituições privadas. A casa de repouso é pensada para ser como o lar do residente, conforme nos conta Célia Cristina Henriques Viana Pinto, proprietária de um estabelecimento em Vila Velha, desde 2006. Segundo ela, todos os idosos têm liberdade para entrar e sair da casa na hora que quiserem, desde que seja analisada a situação de saúde de cada um e respeitada as suas limitações. Não há horários determinados para as visitas de familiares e amigos, é como se fosse a própria casa dos idosos não sendo necessário marcar horário para ver os moradores. No entanto, aqui no Espírito Santo não há muita divulgação das casas de repouso e algumas pessoas continuam com o preconceito: consideram levar um parente idoso para uma dessas instituições apenas como última opção. É o caso de Anadir Batista, 65 anos, que cuidou de sua mãe Alzira até que ela morresse. Para isso, deixou de trabalhar e sempre tinha que contar com os outros três irmãos para ajudar com despesas médicas e cuidar de Alzira quando ela precisava sair. “Eu não tive coragem de deixar minha mãe abandonada numa casa de repouso ou asilo”. Célia Cristina lamenta: “pena que ainda a visão [das pessoas] é de que muitos dos idosos que vêm pras casas de re-


pouso já estão num momento em que não conseguem sair na rua sozinhos”. Em outros estados, como Minas Gerais e São Paulo, as casas de repouso estão ganhando espaço. Em São Paulo, por exemplo, há instituições que investem em propaganda e assessoria de imprensa e fazem anúncios que muitas vezes lembram os de hotéis cinco estrelas. Algumas até possuem nos sites acesso às câmeras da casa, que funcionam 24 horas para que o parente possa acompanhar o dia-a-dia do idoso pela internet. É o caso da Residence Care Hotelaria Ocupacional Assistida e a Casa de Repouso Viva Bem. Em Minas Gerais, segundo Valério Dias Camilo, dono de uma casa de repouso há seis anos, o pensamento das pessoas está mudando, mas o preconceito ainda existe. “Antes, a maioria dos idosos da casa tinha doenças como Mal de Alzheimer ou alguma necessidade especial. Hoje, temos boa parte dos idosos saudáveis. As famílias vão ganhando confiança e às vezes idosos amigos ou parentes dos asilados acabam vindo morar conosco porque gostam daqui”. Valério diz que as pessoas começam a pensar nos institutos de longa permanência como uma opção de moradia.

É o caso das idosas Francisca e Zenaide. A primeira, já falecida, não gostava de sair do quarto, apenas quando havia transmissão dos jogos do seu time do coração e dos programas de auditório. Apesar de ter criado um mundo imaginário para si, ela interagia com os outros internos sem problemas. Ao contrário da outra idosa, Zenaide, de 91 anos, que desde que colocou uma televisão e um frigobar dentro do quarto evita o contato com os outros moradores. Segundo Cristina, ela não pode impedir os internos de adquirirem e colocarem objetos que lhe deem mais conforto, mas o principal problema, no caso do frigobar, por exemplo, é que a idosa já não tem mais condição de observar comidas vencidas e estragadas. A psicóloga Ana Sayuri R. Waricoda recomenda que, ao pensar em levar um idoso a uma casa de repouso, é necessário considerar algumas questões: “que tipos de cuidados ele necessita? Há condições de permanecer na casa de familiares? Como ele se sente vivendo com a família? Como a família se sente com ele em casa ou na casa de repouso?” Ela ressalta ainda que é sempre ideal que o idoso possa receber cuidados onde houver mais recursos para isso. “Caso a família não esteja em condições adequadas, uma casa de repouso pode ser a única alternativa viável, desde que esta conte com os recursos necessários”.

Melhor opção? › Nem todos os idosos conseguem se adaptar facilmente ao modo de vida dentro de uma casa de repouso. Célia Cristina comenta que alguns deles gostam do convívio com os outros moradores, mas há também alguns que preferem se isolar e passam a maior parte do tempo no quarto.

Asilo x Casa de Repouso A diferença real entre um termo e outro é basicamente histórica. Isso porque tende-se a associar a palavra asilo com um lugar que representa abandono, depósito ou até mesmo um lugar para pessoas com problemas psiquiátricos. Já o termo lar ou casa de repouso, tem sido amplamente utilizado por empresas privadas que investem nesse setor. Segundo a Lei RDC 283, de 26 de setembro de 2005, independentemente da nomenclatura e se é particular ou privada, as instituições que abrigam idosos acima de 60 anos, e que proporcionam todos os cuidados na área médica, social e psicológica, são consideradas Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI), e devem estar adaptadas e regulamentadas de acordo com a lei. Essas instituições não podem deixar de lado o convívio familiar e devem promover sempre o contato entre o idoso e seus parentes.

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O preconceito que ninguém vê Presente na sociedade brasileira desde seus primórdios, ninguém está isento do preconceito ››› Marcelle Desteffani e Sérgio Rangel

O deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) reacendeu no Brasil as discussões sobre o preconceito. Em entrevista ao programa CQC, da TV Bandeirantes, no dia 28 de março, o parlamentar considerou “promiscuidade” a possibilidade de seu filho ter relação com uma mulher negra e fez ataques a homossexuais. Os filhos de Bolsonaro, o vereador Carlos Bolsonaro (PP-RJ) e o deputado estadual Flávio Bolsonaro (PP-RJ), declararam que as opiniões do pai representam o pensamento da maioria da população. Daí surge a pergunta: todos somos preconceituosos? O psicanalista José Aledi acredita que sim. “Se considerarmos que preconceito é uma ideia pré-concebida do que não conhecemos, todas as pessoas são preconceituosas. Uns mais, outros menos", explica. O preconceito pode estar disfarçado em ações cotidianas. Para o brasileiro, uma coisa mal feita é baianada, as piadas sobre nordestino são muito comuns, comentários impensados sobre homossexuais, nem se fala. Expressões como: “mulher no volante, perigo constante” ou “índio é preguiçoso” e “todo português é burro” estão tão rotineiramente no discurso dos indivíduos que eles nem se dão conta. A socióloga e professora doutora Adélia Miglievich explica que todas as pessoas ouvem, algum dia, “histórias únicas” sobre como fazer para serem estimadas socialmente. Apavoradas com a possibilidade de serem rejeitadas, abominam o que o senso comum diz que é ruim. “A crítica à sociedade e ao nosso papel em sua reprodução ou transformação é o único modo de nos libertarmos de nossos próprios preconceitos. É uma longa e ininterrupta caminhada de auto-conhecimento”, afirma. Concordando com a socióloga, o psicanalista José Aledir afirma que a procura por padrões e referências é a principal responsável pela discriminação no Brasil.

Questionado sobre até que ponto piadas e brincadeiras com conotação preconceituosa não são prejudiciais, Aledi explica: “O preconceito desvaloriza e desqualifica. Ele é autoritário e tira das pessoas a chance de se defenderem, uma vez que o preconceituoso parte do princípio de que o que se pensa é uma verdade, sem questionar e conhecer o outro”. Origens › Para explicar as raízes do preconceito na sociedade, Adélia Miglievich cita a escritora nigeriana Chimamanda Adichi, defensora de que a raiz do preconceito está na versão única com a qual as pessoas querem explicar o mundo, desde a infância. “Em todo o planeta se acreditava e ainda se acredita, o que é lamentável, no fato de que povos, coletividades e pessoas podem ser reduzidas a uma ‘história única’ e de que nada há além do que lhes é ensinado”, explica Adélia. As origens do preconceito vêm desde o início da colonização brasileira. O negro, por exemplo, trazido para o país como mão-de-obra escrava foi destituído de alma por algumas religiões, e até da condição humana. Ele era tratado como mercadoria pelos colonizadores, que nem conheciam sua história. De acordo com Adélia, com o tempo, esse primeiro preconceito só foi se modificando. “De ‘escravo-mercadoria’, passou-se a conhecer o negro, pós-abolição, como pobre e analfabeto. Claro que há brancos nessa categoria, mas o estigma recai mais fortemente sobre o negro”, destaca. Misoginia (homens que maltratam mulheres), homofobia, preconceitos religiosos e bullying são os exemplos dos preconceitos mais comuns. A socióloga ressalta que todas as manifestações preconceituosas traduzem modos exaltados de dominação, com uso de violência, gerada pelo medo da existência do diferente. “O preconceito nasce da incompreensão do ‘outro’ e da frustração em não controlá-lo. Quer-se controlar o outro, de todos os modos, a ponto de matá-lo. Isso explica, por exemplo, os crimes homofóbicos”.

Luta negra A frente de conscientização dos negros conseguiu há cinco anos uma importante vitória, com a aprovação da Lei 10.639 de 2003. A nova legislação tornou obrigatório o ensino de História da Cultura Africana no nível fundamental e médio das escolas brasileiras. Para o coordenador do Fórum de Entidades Negras do Espírito Santo, Luís Carlos Oliveira, a medida é um ponto positivo para o combate ao racismo. No entanto, ele ressalta que a lei é apenas um começo da luta contra o preconceito racial. “A Lei 10.639 é muito importante para os negros, como um instrumento de desconstrução do preconceito, que está enraizado na nossa sociedade. Mas ainda é muito pouco, perto do que tem que ser feito para mudar a realidade. As pessoas preconceituosas veem as outras como inferiores e isso não se muda de uma hora para outra”, opina. Dos 67 anos de vida de Luís, 30 foram à frente de movimentos de resistência negra. Segundo o ativista, no Espírito Santo, o trabalho de conscientização está a cargo desses movimentos sociais. Contudo, ele considera que o principal passo para o combate ao preconceito deve partir do governo. “A nível governamental, o trabalho feito ainda é embrionário. Precisamos de políticas públicas, tanto na educação, quanto nos outros campos, para que seja reparado tudo o que o Estado nos faltou na época da escravidão”.


Homossexualidade na escola Para mudar o quadro de preconceito enraizado na sociedade brasileira, crianças e adolescentes foram escolhidos como público-alvo de campanhas educativas. O projeto do programa do Governo Federal, chamado Brasil sem Homofobia, tem causado polêmica entre os especialistas. Um material, que será distribuído nas escolas estaduais de todo o país, possui três vídeos abordando temas como transexualidade, bissexualidade e a relação entre duas alunas lésbicas, que se beijam no filme.

Opiniões Você se considera preconceituoso? Não! Convivo, respeito e aceito pessoas com pensamentos, atos e jeitos diferentes dos meus. Mas existe preconceito em tudo, contra marcas de carros e roupas, contra bairros pobres. Preconceito abrange tudo. Você acha que não tem preconceito contra nenhuma dessas coisas? Bom, ter certo medo ou receio é preconceito? Não sei, acho que é. Medo de que? Por exemplo, muito se fala do perigo de passar pela linha amarela no Rio de Janeiro. Isso dá medo. O local é famoso por isso. Se um gay assumido se candidatasse a morar na sua república, caso existisse vaga, você aceitaria? De minha parte, sim. Mas somente depois de haver uma conversa e chegar a um consenso de que ele deveria respeitar a todos. Não aceitaria ver ele e outro gay cheio de intimidade em minha casa. Mas você aceitaria um casal heterossexual demonstrar intimidade em sua casa?

Demonstrando intimidade na frente dos outros não. É uma coisa pra ser feita longe das outras pessoas, na presença delas tem que acontecer de forma contida. O que são atitudes preconceituosas? Não querer conviver com as diferenças e não aceitá-las. Zombar das diferenças. E quando você ri de piadas que contêm humor negro? Não é preconceituoso? É sim. Mas quando essa piada se faz presente o tempo todo em sua vida, aí sim é um preconceito, de fato. Então, você é preconceituoso? Pensando bem, todos temos preconceito propriamente dito. Todos temos receio, medo, limites para aceitar as diferenças. Todos somos preconceituosos, mas agir com preconceito é diferente de pensar. Tudo que vemos julgamos, nada passa em branco.

Murilo Toneto – estudante (21 anos) - heterossexual

Você já sofreu preconceito? Sim, quando eu era mais nova. Na oportunidade, as pessoas me xingaram e jogaram objetos em mim. Como você reagiu? Nas vezes em que aconteceu, eu apenas saí de perto e deixei de lado. Você acha que a distribuição de vídeos com conteúdo homossexual em escolas pode ajudar no combate à homofobia? Uma vez que o público escolhido são os alunos do Ensino Fundamental, pode ser que a aceitação seja melhor do que para uma turma do Ensino Médio. Então, qual a contribuição que os vídeos podem dar ao combate? Os vídeos podem ajudar a mostrar para as pessoas que o homossexual é uma pessoa normal, como qualquer outra.

L.O. – estudante (20 anos) - homossexual


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O jornal Primeira Mão foi, em 1997, o primeiro do Espírito Santo todo redigido e diagramado no computador. Agora, em 2011, a redação do nosso jornal laboratório inova e produz uma versão para tablets, sendo mais uma vez o pioneiro entre a imprensa capixaba. O crescimento constante das publicações na Internet estão mexendo nas estruturas do jornalismo e fazendo com que os profissionais do impresso invistam em outras possibilidades na produção de notícias. A professora Ruth Reis orientou a dupla pioneira na diagramação do Primeira Mão em computador, Daniela Abreu e Emerson Cabral, na época estudantes da Ufes e hoje jornalistas da Rede Gazeta. Eles realizaram o projeto como trabalho de conclusão de curso. “A Daniela fez um curso de diagramação e nos ensinou. Depois fui ensinando para os outros alunos. O laboratório possuía um único computador compatível com o programa Ventura, que era muito disputado”, lembra Ruth.

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des, jornalista, professor e analista de redes sociais da Rede Tribuna.

Antes desse período, a diagramação do jornal era realizada manualmente. As matérias, produzidas na máquina de escrever, eram recortadas e coladas com cola de sapateiro. “O novo suporte (computador) trouxe formação mais adequada para os alunos. Eles já saíam da universidade preparados para o mercado, mesmo que o jornal lá fora estivesse ainda atrasado. Os alunos foram ocupando, assim, pontos de liderança no mercado”, lembra.

O jornalismo precisou, assim, se adaptar para não perder leitores. Muitas redações têm migrado seu conteúdo para a internet, e, nos últimos anos, com o acesso a esses sites no celular e o lançamento dos tablets, a comodidade travou uma batalha com a venda de jornais impressos. No dia 23 de março deste ano foi lançado no Brasil o primeiro jornal concebido especialmente para o iPad (tablet da Apple): o Brasil 247, com conteúdo aberto e gratuito.

Como o Primeira Mão é o espaço para a experimentação, junto com a primeira edição deste ano estamos lançando uma versão do jornal para tablet. Segundo Luciano Frizzera, jornalista especialista em Tecnologia da Comunicação e orientador da diagramação, o jornal está se preparando para essa nova fase do jornalismo, na qual a informação estática do papel se conecta com a interatividade e o dinamismo da Internet.

Entre o boom de novidades tecnológicas e digitais, há uma dúvida frequente: o conteúdo digital vai aposentar de vez o jornal impresso? Os jornais digitais são mais interativos; os custos de produção e distribuição reduzidos; as notícias complementadas com informações adicionais que não teriam espaço nas edições em papel, além de poderem ser atualizadas durante todo o dia e acessadas instantaneamente por leitores em qualquer lugar do mundo.

Impresso versus online, uma batalha? De acordo com Tom Dias, em entrevista ao blog de Gilberto Medeiros, o primeiro jornal do país a ascender seu conteúdo para a internet foi o Jornal do Brasil, em 28 de maio de 1995, seguido pelo capixaba A Tribuna, em 22 de novembro do mesmo ano. Em 1996, o Estado de São Paulo, a Folha de São Paulo, A Gazeta e O Globo se renderam à versão online. No ano passado, o Jornal do Brasil aposentou sua versão impressa e se tornou totalmente digital.

Por outro lado, o jornal impresso possibilita o que o digital ainda não conseguiu de fato: financiamento. Segundo Fernando Mendes, a preferência dos anunciantes ainda é o papel. “Enquanto os jornais não descobrirem uma forma de ganhar dinheiro na Internet a transição do impresso para o online não vai acontecer tão rapidamente. As empresas que investem no online precisam de um modelo de negócio para se sustentar. Se o leitor não gosta de ler no computador, não adianta migrar todo o conteúdo para a rede”, comenta.

A interatividade é a principal característica dos sites de notícias. “O consumidor mudou. Ele não é mais passivo. Lê uma notícia e interage com ela, dá o feedback e faz a notícia. Com o avanço da tecnologia, consumir o jornal impresso se tornou menos atrativo”, opina Fernando Mendes

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Dados apontam que a venda de jornais no Brasil está caindo, acompanhada do aumento das assinaturas de conteúdo online. Em 2009, uma pesquisa do Instituto Verificador de Circulação (IVC) indicou uma queda de 4,8% na circulação de jornais no Brasil em relação ao ano anterior. Em contrapartida, o número de assinaturas de jornais online cresceu 12,5% em um ano. Nos Estados Unidos, o New York Times percebeu essa tendência e lançou, no último dia 28 de março, sua edição digital paga para leitores do mundo inteiro. Realidade capixaba Para atender a demanda crescente pelo online, os dois principais jornais do Espírito Santo trabalham de formas distintas. A Rede Gazeta possui um site aberto, subindo conteúdo durante todo o dia e suas redes sociais são frequentemente atualizadas. “A gente procura trabalhar com a informação em qualquer plataforma, dando a notícia em primeira mão”, conta o chefe de reportagem da Redação Multimídia da Gazeta, Geraldo Nascimento. Quando questionado sobre como vender jornal no dia seguinte, quando todas as notícias já foram para a rede, através do perfil no Twitter, Geraldo ressalta que o trabalho lá é só de inserção da manchete das matérias. “Ele não cumpre o papel do impresso, que se aprofunda no assunto”, explica. Já a Rede Tribuna possui um portal institucional, postando diariamente a versão do jornal do dia anterior. Ao contrário da A Gazeta, a empresa investe de modo estratégico nas mídias sociais, como conta Fernando Mendes. No Twitter, por exem plo,

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ele aposta no humor e em textos que convençam o leitor a comprar o jornal no dia seguinte. O portal está passando por uma reformulação, mas ainda não terá o conteúdo aberto. “Não vamos abandonar o papel e ficar somente no online se não tivermos um modelo de negócio. Isso só vai acontecer quando investir na internet for realmente rentável.”, finaliza. Crises vêm de longe Momentos como o enfrentado hoje com a transição do jornal impresso para o digital e o surgimento das novas tecnologias não são novidades na história do jornalismo. Com a chegada da TV, por exemplo, muito se falava que os jornais impressos desapareceriam. Mas não foi o que vimos. Eles se adaptaram, criaram novas linguagens e formatos e continuaram atraindo leitores. No final de 1973, com a crise do petróleo, as preocupações da imprensa com o futuro do jornal impresso foram intensificadas. Os abalos econômicos afetaram diversos países. No Brasil o “milagre econômico” foi abaixo, gerando a racionalização de produtos, entre eles o papel, nessa época quase todo importado. O preço do papel subiu vertiginosamente e os jornais precisaram ter seu número de páginas reduzido. As portas do mercado de trabalho na área se fechavam cada vez mais. Alberto Dines, que escreveu o livro “O papel do jornal”, fala sobre as transformações que o jornalismo precisou

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sofrer ao longo dos anos para sobreviver às crises. Na introdução da obra, o autor destaca a origem da queda do jornal impresso: “A fragilização de jornais e semanários começou quando a imprensa – instituição necessariamente plural e diversificada – acomodou-se à unanimidade e à unissonância. Desfibrada, deixou-se fascinar e suplantar pela internet. Só começou a reagir quando a varinha mágica da virtualidade mostrou sua insuficiência como promotora de receitas e lucros. Quando os produtores de conteúdo da Internet anunciaram o fim da gratuidade e do acesso universal, deu-se o milagre: a mídia impressa de repente anunciou sua cura. O problema não era dos jornais, mas da mídia digital. Na pressa, os médicos não perceberam quem era o doente”. No Espírito Santo, os dois jornais de maior circulação não passaram ilesos de crises. Na década de 1980, o país vivia um momento de instabilidade econômica, com a inflação em alta. A gerente de imprensa da Secretaria de Comunicação do Estado, Tanit Figueiredo, foi repórter do jornal A Tribuna durante a crise e conta que houve demissão em massa. O jornalista Chico Flores, por exemplo, entrou em greve de fome. “No período, os jornais tinham poucos recursos e como o papel era importado se tornava um insumo muito caro. A solução prática encontrada foi demitir os funcionários”, afirma.

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Francine Leite e Marcelle Desteffani


O problema foi agravado com a morte de um dos herdeiros da Rede Tribuna, João Santos Filho, grande investidor da empresa. Por causa da soma de todos esses problemas, o jornal fechou as portas em março de 1983 e só reabriu após três anos. Nesse período, a crise econômica brasileira afetou também o jornal A Gazeta. Cerca de 30% dos jornalistas da redação foram demitidos. O atual editor de fotografia, Chico Guedes, trabalhava como repórter fotográfico na época. “Muitos amigos foram demitidos na crise e depois recontratados. A Rede Gazeta investiu em uma impressora colorida, o que era novidade para o Espírito Santo. Assim, ela conseguiu passar pela crise sem ter que fechar as portas”, conta. A crise econômica internacional do último trimestre de 2008 também gerou consequências negativas para as empresas jornalísticas. A Gazeta, por exemplo, teve que optar por reduzir papel e demitiu alguns dos seus jornalistas para cortar gastos. Novidades no mercado e no jornalismo Com o avanço das novas tecnologias, o papel está perdendo cada vez mais espaço na divulgação de notícias. Os portais ganharam força, dando conta de todas as informações factuais do impresso. Para Luciano Frizzera, a internet e as novas tecnologias mudaram a forma de fazer jornalismo.

“A portabilidade e a conectividade são as características que mais chamam atenção. Voltamos a ler as notícias como líamos no papel, segurando com a mão e levando para qualquer lugar. E isso aconteceu sem perder toda a velocidade de atualização adquirida na internet. Para cada suporte, tablet, celular, computador ou impresso, há uma forma diferente de contar histórias, de divulgar os fatos. E isso muda também o modo de produção”, enfatiza. Questionamos então quais adaptações o jornalismo precisa sofrer para se adequar ao novo universo comunicativo. Luciano explica que acompanhar essa revolução tecnológica não é fácil. “A lógica de lançamentos de produtos novos a cada ano deixa o jornalismo sempre no campo do experimentalismo. Temos que estar atentos a essas mudanças e refletir constantemente sobre como usufruir das novas tecnologias para fazer as notícias chegarem com qualidade para os leitores”, aponta. Ruth Reis complementa que uma revolução no conteúdo é o primeiro passo para as redações se adaptarem ao ritmo e à formatação do online. “Com a mudança de suporte tem que acontecer uma revolução do conteúdo. Os jornalistas precisam explorar todos os potenciais. O desafio é construir novas narrativas, captar a atenção das pessoas, que estão cada vez mais atarefadas”.


Cores na cidade ››› Sabrina dos Santos e Victorhugo Amorim

Conheça o perfil de alguns grafiteiros que movimentam essa arte no Espírito Santo Ao circular pelas ruas das cidades percebemos muros, paredes e grades que delimitam seus cenários. Esses espaços “vazios” chamam a atenção de um grupo de artistas, que utilizam esses locais para expressar seus pensamentos, sentimentos e realidades, fugindo do convencional das galerias, e partindo para ambientes externos e urbanos. Estamos falando dos grafiteiros.

O graffiti no Brasil foi introduzido em São Paulo em 1978. No Espírito Santo, o graffiti surge no final da década de 80, a partir dos grupos que dançavam o break dance. Com isso, a cultura do Hip Hop foi crescendo no Esta-

do. O Hip Hop é um movimento que tem como pilares principais o break dance, o DJing, o graffiti e o rap. Segundo o grafiteiro Frederico Oliveria, 30 anos, conhecido por Fredone Fone, essa cultura era pouco conhecida no Estado naquela época. “Eles eram chamados de funkeiros, pois ainda não se tinha ideia do que era esse estilo”, explica. Apenas no final dos anos 90, o graffiti conquistou o seu espaço na cena capixaba, junto com os outros elementos da cultura do Hip Hop. O Estado conta, atualmente, com cerca de dez grupos, ou crew, como são chamados pelos grafiteiros. O movimento não tem uma associação organizada. Ainda assim, eles se reúnem em festivais pro-

movidos pelos próprios grafiteiros. Entre os principais eventos, está a “Semana do Graffiti”, que esse ano aconteceu entre os dias 27 de março e 02 de abril, em Vitória, em comemoração ao Dia Nacional do Graffiti. O Dia Nacional do Graffiti - 27 de março - foi criado para homenagear Alex Vallauri, considerado o precursor da linguagem do graffiti no país. A data faz referência ao graffiti realizado no túnel da Avenida Paulista pelos amigos do artista no dia seguinte à sua morte, em 26 de março de 1987. Acompanhamos a “Semana do Graffiti” e conhecemos alguns dos nomes dos artistas que movimentam a cena do graffiti no Estado.

Alecs Nome: Alecsandro Lacerda da Silva Idade: 35 anos Começou dançando break e grafita desde 1992. LDM Crew – Luz do Mundo “O graffiti é a liberdade de uma identidade.”

Ficore

Nome: Breno Kalic Idade: 26 anos Desde 1997 na pichação e desde 2002 no graffiti BCL Crew “Seja para o trabalho e por diversão, a minha vida é o graffiti.”

Fredone Fone

Nome: Frederico Oliveira Idade: 30 anos Desde 1997 no graffiti LDM Crew - Luz do Mundo “Eu faço graffiti tradicional, uma arte como qualquer outra.”

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fotografia Victorhugo Amorim


Felipe Nome: Felipe Borba Idade: 26 anos Desde 2006 no graffiti Coletivo Bolor “O graffiti é uma arte. É a maneira mais nobre da manifestação da arte pública.”

S

Nome: Jordão Judha omal Idade: 25 anos Desde 2001 no graffiti BCL Crew “Graffiti é uma arte que representa tudo pra mim”

Voodoo Nome: Marcelo de Oliveira Idade: 25 anos Desde 2008 no graffiti Coletivo Bolor “O graffiti é a significação visual para a cidade. As empresas têm mais poder que as pessoas e o graffiti é uma forma de comunicação do povo.”

Dentin Nome: Jonathan Emanuel de Almeida Santana Idade: 18 anos Desde 2009 no graffiti FG Crew - Força Gravitacional “Larguei as drogas para fazer a oficina de graffitti e hoje o graffiti é minha vida. Foi uma transformação.”

Giu

Nome: Giurley Dias Netto Filho Idade: 24 anos Desde 2008 no graffiti LC Crew – Levi Casado “O grafiteiro tem que ter muita disposição para mostrar a sua arte.”

Gangst Nome: Peterson Valeriano da Silva Idade: 16 anos Desde 2009 no graffiti Sem Grupo “É a forma de expressar meu sentimento através da arte.”

Natan

Nome: Natanael de Souza Idade: 26 anos Desde 2008 no graffiti LC Crew – Levi Casado “O graffiti representa atitude e ousadia do artista.”

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Camburi perdeu seu arco-íris ››› Ana Elisa Bassi e Victorhugo Amorim

Desde janeiro, parte da Praia de Camburi está mais silenciosa. O Quiosque Luí, frequentado pelo público LGBT, fechou suas portas. Abandonado. Encontramos o quios-que número 25 abandonado. Fechado desde janeiro, o único espaço conhecidamente destinado a freqüentadores LGBT no Calçadão de Camburi deixou um vazio e um público agora órfão, rendido à pasmaceira das noites de domingo. A proposta dos donos Júnior e Ariel Sessa para o Quiosque Luí fazia sucesso desde 2008, e com o passar do tempo chegou a reunir mais de 200 pessoas ao ritmo da música eletrônica.

Leandro Pessoa, 26, confirma que o local era um excelente ponto de encontro para o público gay. Leandro era conhecido como Marisa, e se apresentava como Drag Queen nos encontros semanais. Ele conta que animava as pessoas com as suas performances, sendo a única Drag de Vitória a se apresentar sem se produzir. A atração, no entanto, gerou conseqüências que os donos do estabelecimento não esperavam, tais como a presença de ambulantes, que vendiam produtos mais baratos; e assaltos, devido à falta de segurança para uma festa que atraía tantas pessoas e durava até uma da manhã. Outro problema era a quantidade de lixo que o evento gerava. Toda segunda-feira, a empresa responsável pela limpeza das praias de Vitória tinha que deixar uma equipe no Quiosque Luí, enquanto outra fazia a limpeza de todo o resto da praia. Por conta disso, os proprietários não conseguiram controlar a situação, criando dívidas e problemas administrativos. O Quiosque Luí ganhou nova administração no ano passado, na tentativa de tocar a idéia para frente, mas fechou definitivamente suas portas em janeiro de 2011.

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Olhos desconfiados ››› Todos esses fatores ofuscam a idéia de que o fechamento do local pudesse ser devido a uma questão preconceituosa. No entanto, há quem acredite nisso. Nunes Felix, proprietário do Quiosque Almirante, que fica ao lado do Lui, disse que fechava o seu estabelecimento às cinco horas da tarde, pois era quando a freguesia do Luí aumentava. Por conta disso, ele “não tinha respostas” a dar aos seus clientes sobre o comportamento dos frequentadores do Luí. “Já aconteceu dos clientes reclamarem comigo sobre os casais homossexuais e eu não poder fazer nada”, acrescenta Nunes. Rafael Quadros Amaral,18 anos, secretário executivo do fórum LGBT de Vitória e participante do Coletivo Caus@ção, disse que nunca presenciou uma demonstração explícita de preconceito, apesar de acreditar que era frequente entre as pessoas que passavam por ali. “O lugar é um local elitizado, pois é perto dos bairros Mata da Praia e Jardim Camburi. A gente via alguns casais que aceleravam o passo ao chegar perto do quiosque e, até mesmo, pegavam seus filhos no colo para passar pelo quiosque mais rápido”. Conversamos com uma família que passava a manhã de sábado no quiosque ao lado do antigo Luí. Para eles não seria um problema estar ali com a filha de 13 anos e os frequentadores do Luí por perto. “O que incomoda são os exageros, talvez isso fosse o problema. O comportamento dos frequentadores, independentemente da orientação sexual, deve respeitar as regras que todos respeitam no dia a dia”, opina Alessandra Larciprete, 40, comerciante. Já o seu marido, Gilberto Larciprete, 53, tem uma opinião diferente. “Eu tenho certeza de que alguém que não admite esse Primeira Mão

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‘novo’ modelo de família, um dia caminhando pela praia viu uma dessas cenas e resolveu acabar com isso. E, infelizmente, sabemos que às vezes as coisas funcionam rápido, com um simples telefonema de alguns que se acham os donos do mundo”. O limite de cada um ››› Em nossas entrevistas, uma palavra muito ouvida foi o verbo “extrapolar”. Muitos disseram não sentir preconceito em relação aos homossexuais desde que haja um limite para o seu comportamento. Mas, afinal, que limite invisível é esse que as pessoas enxergam para o comportamento social? Segundo a psicóloga Lívia de Souza, houve uma época quando eram delimitados, na vida de cada um, limites e regras do comportamento social, seja pela família, pelo governo ou pela religião, fazendo com que não existisse espaço para a reflexão ou para a escolha. Esse condicionamento criou pessoas limitadas e estressadas, presas a um padrão de vida que era o único a se seguir. “Hoje, existem resquícios dessa época. Apoiamos um pensamento mais liberal, porém com o inconsciente procurando a todo tempo o padrão a seguir. É por isso que delimitamos certos comportamentos, como a exposição do público LGBT. Algo novo nos pede para aceitar, enquanto as raízes nos prendem um passo atrás”, diz Lívia. A verdade é que é muito difícil hoje encontrar um real sentido para o enquadramento de comportamentos sociais numa sociedade tão ampla e diversificada. Somos muito mais do que simples divisões. Somos um país plural, perdoem o clichê. O público do Luí está agora difundido em outros espaços, outros endereços. Que os nossos olhos fiquem menos desconfiados. fotografia Ana

Elisa Bassi


Muita beleza mas pouca informação ››› Cintia Casati e Laio Medeiros

Vitória é uma cidade com muitos pontos turísticos e belezas naturais. Mas será que quem chega aqui encontra todos eles? Cada vez mais turistas chegam à ilha de Vitória. De acordo com dados da Secretaria de Turismo do Estado (Setur), o fluxo de visitantes no aeroporto Eurico Salles na alta temporada (dezembro, janeiro e fevereiro) cresceu em 357% de 2008 para 2010. O número de turistas na região metropolitana de Vitória subiu em 47% nesse mesmo período. Mas será que toda essa gente que chega à capital capixaba encontra os hotéis, praias, museus e outros pontos turísticos com facilidade?

José das Graças Nascimento e sua esposa, Maria Inês das Graças, vieram de São José do Rio Preto, interior de São Paulo, para o casamento de um sobrinho e aproveitaram para visitar algumas praias da região metropolitana de Vitória. De acordo com o casal, eles não tiveram dificuldade para encontrar os lugares que queriam visitar, pois foram guiados pelos parentes que moram na cidade.

Se para quem fala português pode ser difícil se localizar em Vitória, para aqueles que vêm de fora do país é pior ainda. Esse é o caso de Chris Baxten, turista norte-americano que veio dos Estados Unidos em busca das praias brasileiras. Ele e mais dois amigos escolheram Vitória pelas opções de praias na cidade e nas proximidades. Quando a reportagem do Primeira Mão os abordou, eles iam para a Praia d’Ulé, em Guarapari, para surfar.

Mas quanto a informações turísticas, o casal diz que não recebeu nenhuma. No aeroporto, por exemplo, eles não receberam dicas sobre pontos turísticos, nem folders ou mapas. Eles já visitaram várias capitais do Brasil, como Recife, Rio de Janeiro, Salvador, e também cidades fora do país, e acreditam que a estrutura do turismo de Vitória está muito atrasada em relação a esses outros lugares. “Quem visita qualquer grande cidade da Europa acha todo tipo de informações até no quarto do hotel. Aqui também deveriam distribuir mais materiais sobre restaurantes, pontos turísticos, museus e teatros. Se o turista não vier com a assessoria de agência de viagem vai encontrar dificuldade”, critica José.

“Eu e meus amigos viemos do Rio de Janeiro para cá de carro. A cidade não possui sinalização em inglês. Nós só encontramos as coisas porque viemos com um GPS”, relata Chris. Casos como o de Chris e seus amigos, visitantes vindos de outro país, são raros em Vitória e em todo o estado. Dados da Setur mostram que apenas 1% dos turistas que chegam ao Espírito Santo são estrangeiros.

Ações Municipais › Uma das ações da prefeitura de Vitória para melhorar a recepção aos turistas da cidade é o curso de excelência na receptividade ao turista dado aos taxistas da ilha. O curso ocorre no Serviço Nacional de Aprendizagem

Comercial (Senac) da capital e tem aulas sobre a qualidade no atendimento ao turista, informações turísticas municipais, ética, postura e boas maneiras para atender ao cliente no trânsito, entre outras. Outro instrumento de auxílio aos visitantes são os Pontos de Informações Turísticas (PIT’s). Vitória possui hoje cinco PIT’s. Eles estão localizados no aeroporto e nas praias de Camburi e da Curva da Jurema. De acordo com a policial civil Nádia Leitão, que trabalha no PIT da Praia de Camburi, em frente ao hotel Canto do Sol, os turistas que chegam ao local recebem mapas de Vitória e do Estado, além de folders com informações sobre as principais rotas de turismo e os pontos mais visitados de outros municípios: “Todo visitante que chega aqui recebe este material. Nós também damos toda a orientação que podemos para auxiliá-los.” Porém, esses materiais informativos não são distribuídos pela cidade, nos pontos turísticos e nos hotéis. Somente se o visitante for a um dos PIT’s ele vai encontrar essas informações. “A prefeitura tem pecado muito em relação a materiais informativos para os turistas. Há alguns anos ela distribuía mapas e outros informativos gráficos para darmos aos hóspedes. Hoje, não recebemos nada”, destaca a chefe de recepção Ana Paula Leite, do hotel Quartier Latin, localizado na Praia do Canto.

O

Vitória tem de bom? que

Museus – Maes, Museu Solar Monjardim, Museu do Rosário e Casa Porto das Artes Plásticas. Praias – Camburi, Curva da Jurema, Ilha do Boi, Ilha do Frade. Monumentos - Capela Santa Luzia, Catedral Metropolitana, Escadaria Maria Ortiz, Palácio Anchieta, Teatro Carlos Gomes, Viaduto Caramuru. Gastronomia – Torta Capixaba e Moqueca Capixaba, servidas nas famosas panelas de barro das paneleiras de Goiabeiras.

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››› Carlos Scherrer e Cássia Ramos

Qual é a sua rede? Há oito anos, quando as pessoas ainda usavam ICQ, a novidade em termos de redes sociais era Orkut e MSN. Graças à popularização do acesso à internet, hoje fica até difícil contar quantas redes sociais existem em todo o mundo. Mais do que um grande emaranhado de pessoas, as redes sociais agora se dividem por assuntos ou grupos exclusivos. O excesso de pessoas ou de conteúdos indesejáveis nas grandes redes como Orkut, Facebook, Twitter e MySpace tem feito com que alguns usuários migrem para redes mais restritas.

O leque de opções é enorme. Existem redes sociais com dicas de crochê e tricô, outras em que compartilham informações sobre turismo, concursos e livros ou até mesmo treinam outros idiomas. Além disso, é possível encontrar comunidades específicas para pessoas de determinadas religiões, casados, divorciados, fazendeiros, góticos, skatistas e até hamsters!

Ebah! O ebaH! foi feito para auxiliar os que estão na área acadêmica, universitários e professores de uma mesma área profissional, de forma a facilitar as pesquisas e trocas de conhecimentos. Nessa rede, os usuários podem formar grupos de estudos e debater assuntos e dúvidas nos fóruns, além de compartilhar arquivos e trabalhos acadêmicos. ››› www.ebah.com.br

Respectance Esta é uma das redes que mais comovem seus visitantes. Na Respectance, os usuários fazem homenagens a seus entes queridos que já faleceram, criando memoriais online com textos, fotos e vídeos. O site conta com memoriais de pessoas famosas, como Michael Jackson, Elizabeth Taylor, Ayrton Senna, Jean Charles, e de vítimas de desastres como as do voo Air France 447 e do atentado terrorista de 11 de setembro de 2001. ››› www.respectance.com

HAMSTERsters Seguindo a moda de perfis de animais domésticos, o nome dessa rede social já diz tudo: nela, quem interage são os hamsters. Com apenas uma conta, a rede permite que o usuário crie vários perfis de hamsters diferentes, formando sua “família hamster”. Mas a capacidade é limitada - apenas uma foto pode ser postada em cada perfil. ››› www.hamsterster.com


Line for Heaven

MyFreeImplants

Esse é o lugar certo para os que querem ir ao paraíso. Para isso, seus usuários coletam pontos "abençoando" pessoas, o que seria "suficiente" para salvar a alma. E aos domingos, o Judgment Day (“O dia do julgamento final”) transforma os participantes em anjos, de acordo com um ranking. Quem quiser também pode fazer confissões e pagar pelos seus pecados.

Na My Free Implants, as garotas que sonham em colocar silicone fazem o cadastro e podem receber doações em dinheiro de homens “caridosos”. Mas calma meninas, não é tão fácil assim. Cada benfeitor do site espera seu devido retorno em fotos e vídeos sensuais. ››› www.myfreeimplants.com

››› www.lineforheaven.com

StachePassion Quem tem algum fetiche por bigode vai se encontrar nessa rede social. Nela é possível compartilhar seu lindo bigode, caso tenha um, ou descobrir uma infinidade deles, de todas as cores, formas e estilos. Ah, o site também funciona como um serviço de namoro. Perfeito, não acham? ››› www.stachepassions.com

Date my single kid Os pais que sofrem ao pensar que seus filhos estão encalhados e sozinhos no mundo encontraram o lugar certo para amenizar suas preocupações. Nessa rede, os papais e mamães corujas trocam ideias e buscam o namoro “ideal” para os seus filhos. ››› http://www.faboverfifty.com/content/date-my-single-kid-2

REMcloud

Lost Zombies Rede social criada para montar um filme sobre zumbis. Os membros podem enviar fotos e vídeos macabros e sanguinolentos para serem utilizados no filme. Além disso, nessa rede social, é proibido divulgar qualquer informação sobre a vida real dos usuários. ››› www.lostzombies.com

O REMcloud é uma rede social que lembra o twitter. Em 140 caracteres, os usuários descrevem seus sonhos e comentam os sonhos uns dos outros. A rede possui até “Trending Dreams”, uma lista de assuntos mais sonhados e comentados. A proposta do REMcloud é fazer com que os sonhos sejam compartilhados por pessoas de todo o mundo. Você pode aderir à rede através de seu facebook ou twitter. ››› www.remcloud.com


Mundo

Canibal

››› Luana Dalla Bernardina

Ricardo Piologo conta como surgiu um dos maiores sites de entretenimento do país

Ricardo Piologo um dos criadores do Mundo Canibal www.mundocanibal.uol.com.br

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Criado em 1998, pelos irmãos Ricardo e Rodrigo Piologo, e pelo diretor da empresa Fábrica de Quadrinhos, Rogério Vilela, o site Mundo Canibal tinha o objetivo de ser diferente de tudo que já havia sido feito para a internet. Foi assim que os três criadores optaram por fazer um portal de animação com um humor que eles consideram atual. Em abril, Ricardo Piologo esteve no Espírito Santo para palestrar no Congresso Nacional de Estudantes de Comunicação, Ciências Contábeis, Administração, Direito, Economia e Serviço Social (Conecades), e falar sobre o site Mundo Canibal, que alcança a marca cerca de 15 milhões de acessos por mês.

O Mundo Canibal é um site de entretenimento voltado para jovens e adultos. Nele, os internautas podem acessar vídeos e jogos, deixar comentários, fazer downloads, entre outras coisas. Em entrevista, Ricardo nos contou como começou sua trajetória e como conseguem, mesmo depois de 13 anos, manter as milhares de visitas do site. Primeira Mão

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Fotografia Marcio Iudice Attie


Primeira Mão › Como surgiu a ideia de fazer o Mundo Canibal?

PM › Qual foi o primeiro sucesso de acessos?

Ricardo Piologo › Eu e meu irmão, o Rodrigo Piologo, sempre quisemos trabalhar com desenhos animados. Porém, imaginar isso, há cerca de 20 anos, era praticamente impossível.

RP › Percebemos que estávamos com um ótimo publico quando lançamos a “Bonequicha – A Boneca Bicha”, que rapidamente atingiu a marca de 300 mil visualizações. Na sequência lançamos a “Avaiana de Pau” e, aí sim, essa se tornou um marco e ícone do site até hoje.

Com os computadores cada vez mais acessíveis, conseguimos ter uma ferramenta para criar as animações, só que não tínhamos onde divulgá-las. Foi nesta fase que a internet surgiu, e vimos que ela seria o caminho para finalmente colocarmos em prática nossas ideias. PM › E por que o nome Mundo Canibal? RP › Nem sempre foi esse o nome, na verdade tudo começou com nosso primeiro personagem, o Carlinhos. Como não éramos patrocinados por ninguém, tínhamos que criar algo que chamasse a atenção. Mesmo se a pessoa não gostasse, ela iria se lembrar de ter visto. Foi aí que achamos que um garoto preto e branco e que comesse seus próprios excrementos resolveria nosso problema. Logo criamos nosso primeiro site, chamado www.carlinhos.hpg. com.br, em que a cada clique um pop-up surgia. Após o site entrar no ar, Rodrigo começou a fazer um curso na Fábrica de Quadrinhos, em que conheceu Rogério Vilela, que também tinha alguns personagens seguindo a mesma linha que a nossa e o mesmo objetivo de criar algo diferente, com um humor moderno, longe do “pastelão” ou do infantil, que os jovens estavam cansados de ver. Como a ideia do site era - e ainda é mostrar de tudo ao extremo, e como achamos que não existe nada mais extremo que um comer o outro, nos dois sentidos (risos), daí o nome, Mundo Canibal. PM › Sabemos que o portal tem cerca de 5 milhões de visitantes únicos, ou seja, cerca de 15 milhões de acessos por mês. Foi sempre assim? Como conseguiram divulgar tanto o site? RP › Começamos no boca a boca mesmo. Quando conhecemos o Vilela, ele lançava o portal da Fábrica de Quadrinhos e nós aproveitamos isso. Porém, acho que o que fez o site crescer muito foi o humor diferente, algo que o publico mais jovem e adulto tinha dificuldade em encontrar. Nossos visitantes são o principal meio de divulgação e só temos que agradecer a eles.

PM › Os vídeos do mundo Canibal são bem peculiares. Como fazem para manter o estilo? RP › Aqui temos o objetivo de sempre fazer algo diferente e não ficar martelando em algo que já deu certo. Quando lançamos a “Avaiana de Pau”, nosso maior sucesso, todo mundo pedia Avaiana de Pedra, de Metal, de Prego e etc. Mas não queríamos fazer mais isso. A “Avaiana de Pau” funcionou, mas tudo o que se repete demais acaba ficando chato. Também tínhamos (e ainda temos) um monte de outras ideias que queremos por em prática e talvez seja justamente por nunca ficarmos na “mesmice” que temos sucesso até hoje. Nosso principal objetivo é fazer algo que nos agrade em primeiro lugar, pois sabemos que isso agradará a nossos fãs. PM › Como vocês produzem os vídeos? Quem faz os desenhos, cria os textos e falas? RP › No caso de animações, tudo começa com uma boa ideia que é discutida entre nós três. A ideia é o principal, não importando se você tem uma boa técnica ou não, é ela quem vai determinar o sucesso que seu vídeo fará. Com a ideia inicial em mente, seguimos o método tradicional para criações de desenhos animados: fazemos o roteiro e storyboard juntos. Este último, assim como todos os desenhos do Mundo Canibal, são feitos pelo Rodrigo Piologo. Estando o storyboard finalizado, iniciamos a parte de desenhar tudo à mão, usando lápis e papel, e não o computador como muitos pensam. Com tudo pronto, nós digitalizamos os desenhos e os importamos para o programa Flash, onde eles são “vetorizados” automaticamente estando prontos para serem pintados, agora sim, no computador. Após a pintura, eu assumo fazendo a edição (ainda no Flash), que basicamente se trata de colocar um desenho atrás do outro e com isso criar a ilusão do movimento. Paralelo a Primeira Mão

Maio 2011

isso, gravamos as vozes que são feitas por nós mesmos, e alteramos algumas digitalmente. Após a edição no Flash, eu exporto tudo em alta resolução e importo no programa Sony Vegas para edição de efeitos sonoros e de músicas. Pronto, a animação está feita. PM › Há muitos anúncios no site, é uma fonte rentável? RP › Tem que ser (risos). Hoje o site é rentável sim, mas nem sempre foi assim. Tivemos que trabalhar de graça por anos para chegar ao ponto de viver do site. Não foi fácil e sabíamos que não seria, mas tínhamos um objetivo e trabalhos focados nisso. Quando se faz isso, no final sempre dá certo e é muito recompensador. PM › O Mundo Canibal começou em 1998, ou seja, são cerca de 13 anos no ar. Vocês imaginaram que ele iria durar tanto e com tantas visualizações ainda hoje? RP › Sim. Pode parecer até arrogância, mas não é. Todo mundo acha que o site surgiu de uma brincadeira, mas não. Desde o começo nós sabíamos que daria certo, mesmo com todo mundo dizendo que não. Tínhamos outros empregos e fazíamos o site à noite. Nossa certeza era pelo fato de estarmos fazendo algo diferente. Como o diferente é sempre visto com estranheza, nós tínhamos que insistir e mostrar o potencial. Hoje podemos ver que este humor “sem noção” está presente, cada vez mais, em todas as mídias e programas de humor na TV. Estamos no começo e temos muitas coisas ainda para fazer. PM › E como você avalia o trabalho de manter o site. É estressante? RP › Vixe, nem um pouco! Nosso maior estresse é não ter tempo de fazer tudo o que queremos de uma só vez (risos). Apesar de todo mundo também achar que trabalhamos como e quando queremos, não é assim. Aqui seguimos uma rotina normal de trabalho, começamos todos os dias exatamente às 8h30 e seguimos até 17h30. Fazemos dessa forma porque, apesar de parecer brincadeira, levamos a sério e adoramos o que fazemos, sendo talvez esse o motivo de conseguir o sucesso que temos hoje. Nós só não ficamos mais tempo no trabalho porque colocamos um limite próprio, pela nossa saúde. Afinal já trabalhamos demais “varando” noites em nossa vida.

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The Fragile ››› Lucas Schuina

“Eu não vou deixar você se destruir”, berra Trent Reznor na canção-título do álbum duplo The Fragile, de 1999. Estranho, já que Reznor e a banda que lidera, o Nine Inch Nails, ganharam fama a partir do início dos anos 90 por canções soturnas centradas em temas relacionados a auto-destruição e embaladas por sons eletrônicos, guitarras absurdamente distorcidas e bateria pesada. Mas não é bem assim. As características que deram celebridade ao Nine Inch Nails estão presentes em The Fragile. A grande diferença é que neste álbum foi adiconado um toque de esperança que antes estava quase ausente. Detalhadamente elaborado, The Fragile segue um ritmo ciclotímico, numa espécie de batalha entre luminosidade e escuridão. Ouça e curta a viagem.

››› Naiara Gomes

Festa de Família Criado pelos diretores dinamarqueses Thomas Vintenberg e Lars Von Trier, o Dogma 95 pregava, através do “voto de castidade”, que os filmes deveriam ser mais realistas, negando os recursos técnicos comuns nos filmes hollywoodianos.

Primeiro filme deste movimento, “Festa de Família” tem como cenário um hotel de luxo, onde a família comemora os 60 anos do patriarca. Família reunida e feliz, como Hollywood exibe em seus filmes. Entretanto, no longa de Vintemberg vemos que as relações familiares podem ser duras e complicadas devido a fatos do passado e que influenciam até hoje o convívio entre pais e filhos. Um ótimo filme para quem acha que uma boa história é que faz um bom filme.

››› Luana Dalla Bernardina

Hiroshima O livro relata a história de seis sobreviventes da bomba atômica lançada no Japão no dia 06 de agosto de 1945. John Hersey esteve na cidade durante o ano logo após a tragédia e narra detalhes preciosos, como as casas e prédios caindo e o desespero de quem percebia que tinha perdido tudo.

O autor voltou a Hiroshima 40 anos depois para mostrar como foi a vida desses seis sobreviventes e como a radiação manifestou-se de diferentes formas na população. Ele tenta se aproximar ao máximo das sensações vividas pelos personagens, em alguns momentos a história se mostra tão fantástica que parece que a realidade virou ficção. “Hiroshima” nos mostra como a bomba mudou não só a vida dos japoneses e a história do país, mas também a história da humanidade.


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