Primeira mão #133

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edição

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primeira mão Bem-estar

Revista Laboratório do Curso de Comunicação Social da Ufes

Pronto para sair de casa? 18

Rotina vegetariana

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Maconha medicinal

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Jovens e cirurgias plásticas 23

O mau uso do Roacutan 28


06 16 Entrevista esportes

Capa


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Perfil Dona Penha

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Vegetarianismo

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Medicina alternativa

chamada Home Office

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Maconha na Medicina

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O que fazer com o tempo livre?

Tratamento com Roacutan

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Editorial

No curso de Jornalismo, quando chegamos ao sexto período, encontramos uma disciplina laboratorial que, talvez, seja a mais desafiadora do curso: a redação da Revista Primeira Mão. Até agora, nunca tínhamos feito algo tão específico e direcionado como uma revista. Estávamos acostumados a fazer jornalismo para todos, como nos jornais e telejornais diários. O jornalismo de revista requer, mais do que qualquer outro, conhecimento do público e, por isso, decidimos fazer da nossa Primeira Mão uma revista temática para o os alunos da Universidade Federal do Espírito Santo. Confessamos que em nossas primeiras reuniões, sentimos um pouco de receio de que nem todos fossem se interessar por nossa revista, mas por fim, aceitamos o desafio. Nessa empreitada, em meio a discussões calorosas, atentos ao cotidiano de um aluno da Ufes, apresentamos a Edição de Saúde & Bem Estar da Revista Primeira Mão. Discussões sobre o momento certo de sair da casa dos pais, sobre o uso medicinal da maconha, entre outros temas que envolvem juventude e bem estar, fazem parte desta edição. Até aonde vai o bem estar, a busca por uma vida saudável, sem entrar no exagero? Nós nos incumbimos de esclarecer, refletir, discutir e, até mesmo, dar dicas aos nossos leitores. Com o apoio de vocês, esperamos construir edições mais interativas, aceitamos sugestões de temas e pautas, conselhos e comentários na nossa página no Facebook e em nosso e-mail.

Primeira Mão é uma revista laboratório, produzida pelos alunos do 6º período do curso de Comunicação Social - Jornalismo. Universidade Federal do Espírito Santo. Av. Fernando Ferrari, 514, Goiabeiras | Vitória - ES CEP 29075-910 . Ano XXIV, n°133. Semestre 2013/01. Reportagem: Andressa Andrade Cecilia Moronari Cristian Favaro Edberg França Edézio Peterle Jéssica Lopes Rebel João Carlos Fraga

Karina Mauro Karoline Lyrio Letícia Comério Luiz Zardini Jr. Magalli Souza Lima Mariana Bolsoni Mariana Massariol Paula Gama

Samylla Andreão Tamires Mazin Vanessa Ferrari Viviann Barcelos

Diagramação: Cecilia Moronari Jéssica Lopes Rebel Magalli Souza Lima Cristian Favaro

Edição e Revisão: Andressa Andrade João Carlos Fraga Paula Gama

expediente Projeto Gráfico: Esther Radaelli Isabella Mariano Thaiana Gomes Viviane Machado

Primeira Mão

Professor Orientador: Rafael Paes Henriques Tiragem: 800 exemplares Impressão: Gráfica Universitária revistaprimeiramao @gmail.com


ERFIL por KAROLINA LOPES

Foto: Edézio Peterle

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Primeira Mão | Julho de 2013

Foto: Inglydy Rodrigues


PERFIL por EDÉZIO PETERLE

Dona Penha Com alegria de viver, esbanjando vitalidade e muita disposição para o trabalho, Dona Penha é um exemplo de vida para todos nós

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ieta saudável, caminhadas, hidroginástica semanal e muita vontade de viver. Juntando tudo isso, temos Dona Penha. Uma senhora de 72 anos, que esbanja saúde e disposição. Ainda na ativa, tem orgulho de dizer que dos anos vividos, 52 deles foram e estão sendo dedicados as suas atividades profissionais. Maria da Penha Santos Andrião, ou se preferir, Dona Penha – como é chamada pelos colegas de trabalho – nasceu em Conceição de Castelo, Região Serrana de nosso Estado. Filha de agricultores, após o Ensino Fundamental cursou o magistério, curso técnico em contabilidade e Serviço Social pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Iniciou sua carreira profissional dando aulas para crianças em comunidades isoladas de seu município. Em 1963, foi aprovada em concurso público para a Secretaria Estadual da Educação, a Sedu, e desde então não parou de trabalhar. Mudou-se para Vitória no início da década de 70, onde começou a dar aulas em um colégio no Bairro de Lourdes. Trabalhou em várias secretarias do Governo do Estado, ocupando o cargo de gerente de Grupo Financeiro Setorial (GFS). Hoje, está no setor de análise e triagem de documentos da Secretaria de Estado de Saneamento, Habitação e Desenvolvimento Urbano, a Sedurb. Sempre com disposição e responsabilidade, dona Penha cumpre rigorosamente seu horário de trabalho, sendo uma das primeiras funcionárias a chegar e, muitas vezes, a última a sair. Fora do expediente de trabalho, dona Penha tem uma rotina completa de atividades e afazeres que deixam muitos jovens para trás. A rotina de exercícios começa logo pela manhã. Antes das oito horas, Dona Penha faz hidroginástica, três vezes por semana. Trabalha até às 18h e após o expediente faz caminhada, com o filho Emerson, na orla da Beira-Mar, no centro de Vitória. Além dos exercícios, outro segredo para a energia e saúde de dona Penha é sua alimentação. Sua dieta é baseada em folhas verdes, legumes, grãos e produtos light. O arroz, sempre integral, e o leite, só desnatado, são itens, para ela, indispensáveis. Em sua cozinha, frituras estão fora de cogitação. Refrigerante também não entra sua lista de compras há 20 anos. Lentilha, grão-de-bico e feijão são alimentos que não faltam em sua dieta. Toda sua alimentação é adquirida na feira da Rua Sete e no Mercado da Vila Rubim, compras que ela faz questão de fazer. Também é a própria dona Penha quem prepara suas refeições todos os dias e nos finais de semana. Católica fervorosa, Maria da Penha frequenta as missas da Igreja Nossa Senhora do Carmo, no centro histórico de Vitória, todo o santo domingo e também nos dias de semana quando a rotina do trabalho lhe permite. Dona Penha é um exemplo de vida para todos nós. Um ser humano que leva sua família em primeiro lugar, além de dar a devida importância a seu trabalho e a sua alimentação. É guiada pelos princípios e valores morais ensinados pelos pais, segundo ela, a sua grande herança. Primeira Mão | Julho de 2013

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ENTREVISTA por Vanessa Ferrari

Similia similibus curantur: “Semelhantes curam semelhantes”

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medicina homeopática é um método que cura o homem buscando o seu equilíbrio. O ponto de atuação é o fortalecimento do doente para que o organismo combata a doença. O princípio fundamental é “semelhantes curam-se pelos semelhantes”. Estudiosos em homeopatia afirmam que o corpo é um só e o paciente deve ser tratado como um todo, assim como o equilíbrio e a saúde do indivíduo estão diretamente ligados ao ambiente em que se vive.

Médico homeopata, Pedro Onofre

Entre os benefícios estão o número de medicamentos que gira em torno de 3 mil, o que permite um tratamento mais especifíco para cada caso. Além do mais, as pesquisas apontam que a homeopatia não produz efeitos colaterais.

patia faz parte da grade curricular de várias faculdades de Medicina e Farmácia, inclusive aqui no Espírito Santo. Sem contar que o Ministério da Saúde vai investir R$ 2 milhões, este ano, para o desenvolvimento de projetos na área de homeopatia.

É um método alternativo, ou não convencional, que vem ganhando seu espaço e popularidade. É reconhecida como especialidade médica desde 1996 e é oferecida na rede pública de saúde, o SUS. Além disso, o ensino da homeo-

Quem explica o que é e como funciona o tratamento é o médico homeopata e coordenador do curso de Medicina de uma faculdade particular de Vitória, Pedro Onofre.

Qual a diferença entre medicina tradicional e medicina alternativa? Há dois fatores: a doença e o doente. A medicina tradicional trabalha para curar a doença. Se o paciente tiver alguma infecção, por exemplo, o método adequado é tratar com antibióticos, se for dor de cabeça, o médico re-

ceitará um analgésico. Na medicina alternativa o tratamento é diferente,

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nela trata-se o doente e não a doença, visando sempre ao equilíbrio do indivíduo. Durante as consultas, é feita uma avaliação que compreenderá as dimensões física, psicológica, social e cultural do paciente, pois a doença é vista como uma expressão da ruptura do equilíbrio dessas áreas. Das medicinas alternativas, a homeopatia foi uma das que mais se popularizou e foi reconhecida pelo governo brasileiro. Como funciona o tratamento? Para a homeopatia, “semelhantes curam-se pelos semelhantes”. Aquilo que provoca a doença também provoca a cura. Doses mínimas de qualquer substância, que provocaria doença em quantidades normais, são usadas para curar essa mesma enfermidade. Em adverso ao que acontece na medicina tradicio-


nal, que age por meio do chamado Princípio dos Contrários (laxantes para prisão de ventre, por exemplo), o tratamento homeopático não busca eliminar apenas os sintomas da doença e sim estimular o organismo a se fortalecer. Os medicamentos são de base mineral, animal e vegetal, que diluídos e agitados muita vezes formam um composto. São as doses infinitesimais, que consistem na diluição de um medicamento e agitação para “despertar” propriedades latentes. Quais os benefícios da homeopatia? O maior benefício é tratar o individuo como um todo e não considerar sua particularidade. A homeopatia não é uma medicina de superfície. O paciente fala da sua vida e o médico ajuda a identificar o que acarretou aquela doença. Os fatores também são considerados para escolher os medicamentos e apontar para o paciente os pontos que ele precisa melhorar como indivíduo. Outros grandes benefícios são as ausências de efeitos colaterais e o baixo custo dos medicamentos. Alguns profissionais não concordam com o tratamento por ele “estimular a doença” para descobrir sua cura. O que os profissionais da homeopatia dizem sobre isso? É o que a medicina tradicional faz com as vacinas, estimula no organismo uma resposta e essa resposta protege contra a doença. E preciso experimentar para achar os remédios. O indivíduo saudável é estimulado com substâncias e, a partir dos resultados, catalogamos os sintomas e as características e definimos qual medicamento é o mais adequado pra casa tipo de paciente. Hoje em dia a homeopatia possui quase três mil medicamentos e já não é mais necessário passar por essa etapa de experimentos.

não é isso, há doenças que têm um tempo de vida e curam sem nenhum tipo de tratamento, tanto homeopático quanto tradicional. Nesses casos, o ciclo da doença acaba e o indivíduo não manifesta outros sintomas e se mantém em equilíbrio. Assim como a medicina tradicional, a homeopatia cura? A gente não pode falar de cura porque a resposta depende da pessoa, mas é o início de um tratamento para chegar ao equilíbrio. Muitas vezes a situação se agrava porque o paciente está fraco e desestimulado. Em outros casos a doença tem vida própria e se multiplica independente do equilíbrio do paciente. Isso dificulta o tratamento. Buscamos sempre uma mudança, o próprio tratamento faz repensar na vida, a proximidade com a morte modifica a pessoa, isso já é uma evolução. Mas já houve relatos de cura, inclusive de câncer. Se a pessoa tiver condições de resposta, ela consegue ficar saudável. A homeopatia previne? No caso de epidemias, nós usamos a prevenção, mas a atuação da homeopatia não é nesse aspecto. Se o paciente estiver totalmente equilibrado, como é o objetivo do tratamento, ele não apresenta sintomas, logo já é uma prevenção. O corpo que se mantém em equilíbrio está menos vulnerável às doenças.

“Aquilo que provoca a doença também provoca a cura”

Existe alguma influência psicológica no tratamento homeopático? Os genes das doenças passam pelo pensamento e pelo bem estar. A medicina convencional pouco olha para isso, mas já existem muitas evidências de que o estresse, por exemplo, está relacionado com doenças autoimunes, com a depressão e doenças degenerativas, como o câncer. O estado como a pessoa se encontra, como um todo, interfere no organismo. A homeopatia sabe disso e leva em consideração esses fatores para o tratamento, por isso posso dizer que é mais eficaz e mais profunda. Muitas doenças não precisam de medicamentos, elas aparecem e terminam devido ao ciclo do vírus ou bactéria causadora. Como isso é relacionado pela homeopatia? Muitos acham que a homeopatia utiliza de placebos (remédios à base de farinha que não apresentam nenhum principio ativo) para fingir uma cura, já que o tratamento tem influência psicológica. Mas

Medicamentos homeopáticos causam dependência e agridem o organismo? Não causam nenhuma dependência. Existe paciente que depende frequentemente do médico, mas isso é uma característica de cada um. Inclusive para homeopatia isso já é algo a ser tratado, se o paciente está nesse nível mostra que ele é inseguro, então ele precisa tratar isso pra se libertar. Os medicamentos também não agridem o organismo. Fazemos um estímulo que não é químico, que estimula o organismo e a sua resposta é o que leva o indivíduo à cura. Existe alguma complicação se o paciente estiver tomando medicamentos alopáticos? Existem medicamentos que interferem no resultado, o organismo não faz distinção entre eles, não sabe a quem responder corretamente, pois está sendo estimulado de muitas maneiras. Mas os alopáticos são mais agressivos e se podem sobressair. Quem pode ser um homeopata? Há quem defenda a ideia de que qualquer pessoa possa fazer o curso, o problema é que estamos tratando de quem pode ter doenças sérias e que exige um olhar clínico. A medicina alternativa não funciona sozinha, é preciso ter a base tradicional. É o caso das fraturas, do câncer, apendicite, por exemplo, que é preciso interferir com cirurgias e exames.

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Conheça outras técnicas Acupuntura É uma das mais antigas práticas tradicionais e consiste na inserção de agulhas em pontos definidos do corpo para reequilibrar a energia vital e obter efeitos terapêuticos. Esta técnica também foi reconhecida formalmente pelo Governo Brasileiro.

Aromaterapia É a arte e a ciência de usar óleos de plantas em tratamentos. É uma das técnicas mais antigas da história de práticas de cura. Os óleos essenciais exercem uma influência sutil na mente e no corpo.

Massagem Ayurvédica Conhecida como a mãe da Medicina. Como ciência integral, considera que a doença inicia-se muito antes de chegar à fase em que ela finalmente pode ser percebida. Assim, o objetivo principal é preservar e promover a saúde das pessoas através da adoção de uma rotina diária, respeitando a constituição individual de cada um.

Fitoterapia É uma terapia com a propriedade de curar males de maneira não agressiva, pois estimula as defesas naturais do organismo. Fitoterapia significa “cura através das plantas”. Ela ajuda a restabelecer os estados emocionais comprometidos pela depressão, ansiedade, angústia, irritação, insônia, por exemplo.

Reflexologia Arte suave em que as áreas reflexas dos pés são pressionadas com os dedos das mãos. Este procedimento provoca mudanças fisiológicas no corpo na medida em que o próprio potencial de cura do organismo é estimulado.

Reiki Forma de terapia baseada na manipulação de energia vital pela imposição das mãos do terapeuta sobre os pontos afetados do corpo. Os canais energéticos são então abertos, removendo bloqueios e repondo o equilíbrio.

Florais de Bach O objetivo da terapia floral é o equilíbrio das emoções do paciente. Ela procura diminuir ou eliminar o estresse, depressão, pânico, desespero, cansaço físico ou mental, solidão, tristeza, indecisão, sensibilidade excessiva, ansiedades e preocupações.

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SAÚDE PAULA GAMA e MARIANA BOLSONI

Ser vegetariano é saudável?

Foto: Laís Lorenzoni

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e acordo com pesquisas feitas em 2012 pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), com brasileiros acima de 18 anos, 10% dos homens e 9% das mulheres declararam-se vegetarianos. Os principais motivos para optarem por essa dieta, segundo a Sociedade Brasileira Vegetariana, são as questões éticas, de saúde, a crença de que os animais possuem sentimentos como os humanos, motivos espirituais e a preocupação com o meio ambiente. Mas afinal, ser vegetariano é saudável?

Antes de procurar essa resposta é preciso entender que dentro do universo vegetariano existem classificações de acordo com consumo de subprodutos animais. O vegetariano que consome ovos, leite e laticínios na alimentação é chamado de ovolactovegetariano. O lactovegetariano se diferencia pelo fato de não ingerir ovos. Já o ovovegetariano consome ovos, mas não laticínios. E há também as dietas mais restritas como a do vegetariano puro, que não usa nenhum derivado de animal. E o vegano, que é um vegetariano puro, e também recusa qualquer produto de origem animal, como roupas e acessórios de couro, assim como produtos que tenham sido testados em animais. Conforme a nutricionista, Olívia Furlan Cavallini, as dietas vegetarianas, quando comparadas com as dietas onívoras - pessoas que consomem todos os tipos de alimentos -, apresentam um reduzido

teor de gorduras saturadas e colesterol, além de uma quantidade maior de fibras e carboidratos, que contribuem com a prevenção e o controle das doenças crônicas não transmissíveis. Entretanto, as dietas vegetarianas podem resultar na deficiência das vitaminas B12, B2, D, e de cálcio, ferro e zinco, o que pode provocar complicações futuras como anemias e osteoporose”. “Ser vegetariano é saudável a partir do momento que o indivíduo segue uma dieta bem planejada, para que as carências ou os excessos nutricionais sejam controlados”, afirma a nutricionista. As proteínas da carne têm um alto valor biológico, contêm todos os aminoácidos essenciais e são uma boa fonte de vitaminas. Uma boa dica da nutricionista é a famosa união de arroz e feijão, que produz uma combinação de aminoácidos semelhante a das proteínas de origem animal. Ademais, os vegetarianos podem encontrar o ferro presente na carne principalmente em vegetais verde-escuros, em cereais integrais e nas leguminosas, além das frutas cítricas. As dietas ovolacto e lactovegetariana fornecem todos os nutrientes necessários ao organismo humano. Já a dieta vegetariana estrita e a vegana não apresentam fontes nutricionais de vitamina B12, que deve ser obtida por meio de alimentos enriquecidos ou suplementos. Primeira Mão | Julho de 2013

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Duas histórias, um mesmo ideal “Recebi um e-mail que mostrava a comparação entre carne humana e carne de animal. E foi assim que tudo começou. Na hora percebi que não há nenhuma diferença. Comecei a ter nojo de comer carne”. Assim Ketley Bicalho, estudante de Psicologia, decidiu se tornar vegetariana. Durante oito anos Ketley aderiu à dieta lactovegetariana, isto é, não comia carnes e nem ovos. Ela sofreu muita pressão da família para não mudar a alimentação. “Tenho 1,73m de altura e cheguei a pesar 54 kg, o que para a cultura da minha família é ser muito magro. Perdi 10 kg no período de adaptação”, afirma. Mas, há aproximadamente um ano teve que deixar de ser vegetariana, pois estava sofrendo um déficit vitamínico que poderia se transformar em anemia. Seu médico a aconselhou a voltar a comer carne, principalmente porque pretendia engravidar. “Realmente assumi o vegetarianismo como estilo de vida, se não fosse o médico pedir para mudar a alimentação, eu teria continuado”, lamenta. Giu Dias, estudante de Artes Visuais, também defende e faz parte deste ideal. Há 10 anos ele segue uma dieta vegana rigorosa e está sempre atento a alimentação e pesquisando sobre produtos e marcas que não fazem uso de animais em sua produção.

Além de partilharem das mesmas preocupações no que diz respeito a alimentação, Giu e Ketley também dividem as dificuldades quando o assunto é comer fora: a pouca variedade de restaurantes especializados na Grande Vitória. “Os estabelecimentos não oferecem opções para veganos. Minha alimentação é saudável, mas enfrento dificuldades, como o almoço do RU, que não especifica os ingredientes utilizados na preparação dos alimentos”, avalia Giu. A atenção de Giu para não consumir produtos de origem animal é tão grande, que chegou à sala de aula. Ele trocou os pincéis de cerdas com pelos de animais, usados para trabalhos acadêmicos, por pincéis sintéticos. Tanto Giu como Ketley têm cuidados para ter uma alimentação saudável. Ele faz exames regularmente e mantém uma dieta balanceada, com a quantidade de nutrientes necessária. Ela, seguindo orientações médicas, adequou a sua alimentação priorizando a sua saúde. É importante que qualquer pessoa que queira seguir um estilo de vida vegetariano procure um nutricionista, já que as dietas são preparadas de acordo com cada objetivo e cada metabolismo.

Aos 17 anos, conheceu o movimento straight-edge, uma doutrina ligada ao punk rock que defende a abstinência de tabaco, álcool e drogas ilícitas, e que também partilha de ideais vegetarianos. Hoje, aos 26 anos, participa do grupo Grupo Abolicionista de Libertação Animal (Gala), que promove um piquenique vegano a cada estação do ano. Giu também grafita, pela cidade de Vitória, imagens que divulgam seu ideal, como na ilustração ao lado.

Lugares com opções para vegetarianos e veganos:

[Lanchonete] SUBWAY Site: www.subway. com.br Preço: sanduíche vegetariano custa até R$ 12

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[Pizzaria] Bem Leve Pizzaria Delivery Opções veganas Horário de funcionamento: de terça a domingo, das 18h às 23h. Site: pizzabemleve.com.br

[Produtos naturais] ARCA PRODUTOS NATURAIS Centro de Vitória Telefone: (27) 3233-0099 Ampla variedade de produtos vegetarianos e orgânicos.

[Self-service ovo-lacto] VERDE PERENE Centro de Vitória Telefone: (27) 3019-6069 Preço: R$ 28,90/ quilo Opções veganas. É necessário perguntar ingredientes dos pratos.

Fotos de divulgação

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SOCIEDADE SAMYLLA ANDREÃO e ANDRESSA ANDRADE

Minha Casa,

Meu Escritório

Home office significa escritório em casa. Se refere a trabalhadores independentes ou a empresas nas quais o funcionário pode trabalhar de casa, e não precisa ir ao escritório Foto: Andressa Andrade

“Trabalhar em casa é bem melhor. Vale mais a pena. Trabalho com o que eu gosto, volto feliz das sessões fotográficas”

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uem não gostaria de trabalhar em casa, fazer seu próprio horário e não ter um chefe pegando no pé? Mas para trabalhar em casa e ter todos esses benefícios exige-se que o trabalhador seja aplicado. É o que nos conta Shirley Ribeiro, jornalista, que trabalha por conta própria sem vínculo com empresas desde 1996. “É preciso ter disciplina e responsabilidade”, diz. Shirley conta que já viu muitas pessoas terem dificuldades para trabalhar em casa por falta de uma rotina. Para Marcel Machado, consultor imobiliário, que atua há oito meses no ramo, quem trabalha em casa deve sempre lembrar de que não está de férias ou de folga, está trabalhando, mesmo que em um ambiente diferenciado. Precisa estabelecer horários e cumpri-los. Ser o próprio chefe inclui trabalhar nos finais de semana, feriados e até mesmo durante a madrugada para cumprir prazos. Em contrapartida, quando se está com tudo em ordem, sem compromissos agendados, a flexibilidade de horários é maior,

pode-se viajar em qualquer época do ano, ir ao cinema em qualquer horário, não pegar trânsito e, o principal para todos os entrevistados: estar com os filhos. Estar com a família e cuidar dos filhos foram um dos maiores fatores para que os entrevistados preferissem ter seu escritório em casa. Trabalhando em casa há dois anos a fotógrafa Priscila Soares, formada em publicidade e propaganda, acredita que essa forma de trabalho traz mais qualidade de vida. “Trabalhar em casa é bem melhor. Vale mais a pena. Trabalho com o que eu gosto, volto feliz das sessões fotográficas. Na minha visão, é melhor você trabalhar com o que gosta e ganhar pouco, ou nada, do que se estressar pra ganhar algo que não vale a pena”. Segundo Marcel, o rendimento financeiro de um trabalhador independente é igual ao esforço de cada um. “Se você trabalhar muito, ganha mais”. Para Shirley, é mais difícil calcular seu rendimento, pois trabalha por conta própria há muito tempo, está por fora dos valores de mercado, porém ela Primeira Mão | Julho de 2013

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Brasileiros preferem flexibilidade Segundo uma pesquisa da Cisco Connected World Report, realizada em 2010, no Brasil cerca de 20% dos empregados sentem necessidade de estar dentro de um escritório para serem mais eficientes; 73% dos brasileiros preferem o trabalho com um salário menor, mas com acesso flexível. E 74% dos empregadores brasileiros afirmam estar preparados para uma forma de trabalho remoto.

Foto: Samylla Andreão

“Se a pessoa tem problemas para gerir seus horários, não deve trabalhar em casa”

pensa que se trabalhasse em uma redação ganharia menos do que ganha em casa. “Se fosse em uma redação de jornal no Espírito Santo, provavelmente, eu ganharia muito menos. Mas, se eu fosse gerente de comunicação de uma empresa, acho que ganharia mais”. Mesmo assim, ela diz que não trocaria as vantagens de trabalhar em casa por dinheiro nenhum. “Já tive propostas muito boas, mas não fiquei tentada a aceitar. Dinheiro não é tudo”. Para ambos, fazer uma reserva de dinheiro é importante, pois em alguns meses a quantidade de trabalho pode ser menor e, para não ter problemas financeiros, poupar é essencial. Para a psicóloga Marlene Antunes, que trabalhou durante muito tempo na área de Recursos Humanos de uma empresa, a tendência é de o Home Office aumentar, mas ela acredita que não se deve defender a existência de nenhuma das formas de trabalho, pois tanto na rotina em casa quanto na empresa há pontos positivos e negativos. Marlene afirma que se uma pessoa tem proble-

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ma para gerir seus horários ela não deve trabalhar em casa. “Tem que pensar muito bem. Se você não sabe para aonde vai, pode se enrolar e acabar se perdendo”. Além de profissionais que têm seu próprio negócio, existem empresas que adotaram a prática de Home Office. Em uma pesquisa realizada em 2011, pela Sociedade Brasileira de Teletrabalho e Teleatividades (Sobratt), estima-se que cerca de 10 milhões de brasileiros exerçam suas funções a partir de casa. Segundo a pesquisa, esse número ainda pode aumentar gradativamente nos próximos anos, devido às novas tecnologias em ascensão como tabletes, smartphones e computação em nuvem. Outro motivo que colabora para que muitas empresas trabalhem dessa forma é a redução dos custos, pois fica mais fácil manter um funcionário em casa, onde ele precisa somente de um computador com internet, do que um escritório de uma empresa com vários equipamentos.


SAÚDE LUIZ ZARDINI JR, LETÍCIA COMÉRIO e MAGALLI SOUZA

A apologia

curativa da

Foto de divulgação

Maconha Entenda o uso medicinal da planta e saiba porque ela tem efeito positivo no tratamento de diversas doenças

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annabis Sativa. Esse é o nome científico da erva que carrega uma enorme discussão sobre seu uso nas sociedades. Além das implicações no consumo recreativo, o mundo passou a discutir também os efeitos terapêuticos que a maconha pode proporcionar, aliviando dores e sendo grande aliada no tratamento de algumas doenças miopáticas – que afetam diretamente a fibra muscular – e neuropáticas – que atingem o sistema nervoso. Não é possível afirmar com precisão a data que confirma a origem da utilização da maconha pelo homem, há investigações que apontam meados de 5.000 a.C., na Ásia Central, e outras que vão ainda mais longe: 17.000 a.C.. Percebe-se aí, que o uso não é recente, pois alguns povos acreditavam nos efeitos medicamentosos da planta e até a incluíam em rituais religiosos. Tudo isso, devido aos efeitos que ela causa no organismo humano. O princípio ativo da cannabis é o Tetrahidrocanabinol, conhecido como THC, responsável por agir no sistema nervoso central, alterando algumas funções do cérebro e, de acordo com a quantidade consumida, influênciando também nas mudanças de percepção, de consciência e de comportamento. O resultado, pode ser verificado na sensação de relaxamento, euforia, prazer ou até mesmo no estado depressivo. Então, é por isso que desde tempos remotos, a maconha era usada tanto como remédio, quanto como alucinógeno. Com esse breve histórico, chega-se a uma questão imprescindível a respeito do uso da planta. Quando foi que ela se tornou uma droga ilegal em quase todo o mundo? Existem argumentos que recaem sobre elementos sociais, raciais, políticos e até religiosos. No início do século XX, os povos que mais consumiam a erva eram árabes, judeus, negros e chineses, público vítima de preconceitos por parte de países influentes como os Estados Unidos

que, na época, mantinham uma estratégia de dominação pelo mundo. Houve também o interesse ecônomico de grandes fábricas de tecidos que, em prol do lucro, condenavam o uso do cânhamo, fibra resistente presente na maconha e, que pode ser ultilizada na produção têxtil. Esses, e outros motivos, podem ajudar a explicar a proíbição da erva pelo mundo. Mas, com o passar tempo, as pesquisas científicas foram avançando e, hoje, possibilitam considerá-la eficaz no tratamento auxiliar de algumas doenças. Pacientes que lidam constantemente com náuseas e vômitos, conseguem ter alívio com doses estratégicas de THC. Aqueles que perdem apetite e peso durante intervenções médicas, podem ser tratados com a maconha, pelo fato de o consumo dela causar fome, a famosa “larica”. Espasmos e complicações musculares também conseguem ser amenizados, assim como dores abdominais e cólicas. Diante desses benefícios, a maconha pode facilitar a rotina de pacientes em tratamentos de câncer, Aids, esclerose múltipla e glaucoma. É possível aliviar o desconforto de pessoas portadoras de Alzheimer, síndrome de Tourette e até na hora de amenizar cólicas menstruais. É válido ressaltar que, nesses casos, o uso do THC é dosado e os pacientes estão submetidos a cuidados médicos rígidos, tudo para que ela não cause dependência em função do controle do consumo. Portanto, a cannabis não cura, ela alivia o sofrimento decorrente dessas doenças. A diferença entre o uso da planta como alucinógeno e com fins medicinais, é o objetivo ao qual se deseja atingir e as formas de uso. Atualmente, já é possível encontrar alguns lugares onde o uso medicinal da maconha é, dentro das normas estabelecidas, liberado. Cidades da Holanda, França, Reino Unido, Itália e Canadá, são algumas delas. Primeira Mão | Julho de 2013

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OMS X CANNABIS Mesmo sendo ilegal na maioria dos países, a maconha é a droga mais consumida em todo o mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Essa afirmação baseia-se no relatório “Cannabis: uma perspectiva de saúde e agenda de pesquisa”, divulgado em 1998. O relatório é o mais completo estudo sobre o assunto e contou com a participação de especialistas e pesquisadores de diversos países. Nele, os resultados de anos de pesquisas apontam os principais males causados pelo consumo excessivo da erva, além de confirmar e mapear novos perigos à saúde. O documento ainda admite que a maconha pode ter aplicações medicinais, mas deixa bem claro, com precisão científica, que o uso indiscriminado pode causar consequências. Aponta também que o risco de dependência da erva é pequeno, mas não pode ser desprezado.

#Cebrid #Pesquisas #AgênciaReguladora E para quem tem dúvidas sobre os efeitos positivos da cannabis sativa, é possível ter fácil acesso à produção científica, artigos e teses que esclarecem o assunto. Desde 1978, a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), conduz um núcleo inserido no Departamento de Psicobiologia, intitulado Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid). A direção inclui um dos maiores pesquisadores brasileiros sobre o uso maconha medicinal, Elisaldo A. Carlini – médico especialista em psicofarmacologia, professor do centro de medicina da universidade e perito da Organização Mundal de Saúde sobre álcool e drogas. Por lá, os estudos realizados estão divididos em “Drogas psicotrópicas” (aquelas que atuam diretamente sobre o cérebro) e “Plantas medicinais” (referente ao uso das plantas popularmente indicadas). A maconha está inserida no primeiro grupo, pela sua forma de atuação. Dessa maneira, alertando sobre os efeitos positivos e negativos, o Cebrid esclarece e defende o uso terapêutico da erva, divulgando e realizando regularmente trabalhos e simpósios. Entre os objetivos do Centro, está a defesa da criação de uma Agência Brasileira da Cannabis Medicinal.


Pautando-se em critérios da Organização das Nações Unidas, a Agência poderia cultivar a planta em locais específicos administrados pelo governo, atendendo a um padrão rigoroso e de alta qualidade, para o uso medicinal. Isso facilitaria o acesso à erva, por quem precisa dela para tratamentos médicos e também para pesquisas. E para que esse orgão regulador seja criado, é necessária a análise do Conselho Nacional de Política sobre Drogas (Conad), o reconhecimento dos medicamentos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e a ampliação de informação sobre os benefícios terapêuticos dos produtos químicos contidos na cannabis, a toda a sociedade. O Cebrid é formado por professores da área médica, alunos de pós-graduação e pesquisadores. Acesse o site: cebrid.epm.br

Foto de divulgação

SAIBA MAIS A proposta da reforma no Código Penal Brasileiro, de 2012, ainda em processo de discussão, prevê que o cultivo para consumo próprio seja aceito. O artigo 28 da lei nº 11.343/2006, não condena a prisão ou reclusão o cidadão que for pego consumindo ou armazenando uma pequena quantidade de maconha. Até o início do século XX o nosso país não criminalizava o uso e a venda da maconha. Inclusive, ela era vendida em maços com a indicação de que ajudava no tratamento de asma e insônia. Em Israel, cientistas desenvolveram um novo tipo de cannabis que não contém o THC, provocador de alterações no sistema nervoso. Ao invés disso, a planta tem nível mais elevado de canabidiol (CBD), o que resulta em boas reações no processo inflamatório.


ESPORTE EDBERG FRANÇA

Livre,saudável e divertido

Que tal curtir as mais belas paisagens da capital enquanto pratica atividades que vão ajudar no seu condicionamento físico, mental e te deixar muito mais saudável? A Primeira Mão lista quatro esportes que além de te deixar com corpo são e mente sã, garantem diversão em doses cavalares. Foto de divulgação

SLACKLINE Onde surgiu: Nos campos de escalada do Vale de Yosemite, EUA, em meados dos anos 80. É um esporte de equilíbrio sobre uma fita de nylon, estreita e flexível, praticado geralmente a uma altura de 30cm do chão. Benefícios: Equilíbrio, concentração, consciência corporal, velocidade de reação e coordenação. Onde praticar: Em praias, parques e outros locais que possam amortecer uma possível queda. Mares, lagos e cachoeiras têm sido os novos locais prediletos de quem já possui experiência com o esporte. Quanto custa: O modelo Classic Line é o mais vendido no mundo. Normalmente vêm em kits e seus preços podem variar conforme a marca e o tamanho, custando entre R$219 e R$419. Fonte: Gibbon Slacklines/ Net Shoes/ Loja Nerea

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STAND UP PADDLE

Onde surgiu: No Havaí por volta da década de 1940, na praia de Waikiki. Semelhante ao surfe consiste em permanecer em pé sobre uma prancha para, com o auxílio de remos, realizar travessias (que podem ser feitas no mar ou mesmo em rios, lagos e lagoas). Benefícios: Trabalha força, equilíbrio, abdominal, os braços e a mente. Onde praticar: Na Loop Wind SUP, escola de Windsurf e Stand Up Paddle que fica na Praça dos Desejos, em Vitória. Além das aulas de instrução para a prática do esporte, também é possível alugar e até comprar os equipamentos. Quanto custa: Uma hora de aula custa R$30 e pode ser agendada pelo telefone (27) 9251-9003.

Fonte: Caravana da Aventura/ Sup Surf/ Loop Wind SUP

Foto: Karoline Lyrio

SKATE

Onde surgiu: Durante a década de 1960, quando os surfistas da Califórnia fizeram das pranchas um divertimento também nas ruas, em época de marés baixas e seca na região. O modelo longboard (aquele skate mais comprido, que lembra uma prancha de surf) tornou-se o responsável pelo aumento da venda de skates no mundo todo. Benefícios: O skate é um excelente exercício aeróbico e ajuda bastante a tonificar alguns músculos, principalmente a panturrilha. Onde praticar: Há a pista e a rampa na Praça dos Namorados e a mega rampa do novo Tancredão. De acordo com o secretário de Esportes e Lazer de Vitória, Wallace Valente, a Prefeitura está desenvolvendo um projeto de uma nova pista de skate nas proximidades do Parque Zé da Bola, no final da Praia de Camburi. Além deste, outro projeto de pista para funcionar ao lado da Arena Esportiva, durante o verão, está em fase de viabilidade.

Foto: Karoline Lyrio

Quanto custa: Os preços podem variar conforme a marca, modelo, estampa, etc, custando entre R$249 e R$1.699. Fonte: Brasil Escola/ Revista Trip/ Corpo Perfeito/ Net Shoes/ Buscapé

PATINS

Onde surgiu: Foi inventado na década de 80, nos Estados Unidos, por dois irmãos que jogavam hóquei no gelo e que, patenteando o equipamento, ficaram milionários, fundando a empresa RollerBlade. Benefícios: Aumento da resistência muscular, desenvolvimento da agilidade, do equilíbrio e da coordenação. Também ajudam na definição muscular, principalmente das coxas, pernas, bumbum, abdome e costas. Onde praticar: Calçadão de Camburi. Além de dividir espaço com outros iniciantes e profissionais, você ainda pode curtir uma das paisagens mais bonitas da capital. Quanto custa: Os preços variam de acordo com o tipo do equipamento, custando entre R$200 e R$730, nos shoppings da Grande Vitória.

Fonte: Sec. De Educação do Governo do Paraná/ Folha Vitória/ Mais Equilíbrio (Portal Terra) Foto: Karoline Lyrio


CAPA TAMIRES MAZIN e VIVIANN BARCELOS

Mudar ou não Eis a questão

Em meio a uma sociedade contemporânea com valores fundamentados no individualismo, percebe-se que uma decisão ainda é muito difícil: o momento certo de sair da casa dos pais.

Foto: Laís Lorenzoni

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mudar?

R

esponsabilizar-se por si mesmo: esse é o maior dilema para sair de casa. Durante a infância e a adolescência os pais são responsáveis não só pelo cuidado e proteção de seus filhos, mas também pela preparação para a vida adulta. Sair de casa, porém, envolve muito mais do que pagar as próprias contas. Trata-se de uma decisão difícil tanto para os pais quanto para os filhos, sendo relativa a cada contexto familiar e situação socioeconômica em que o jovem está inserido. Não existe idade ideal para sair da casa dos pais. No entanto, existe momento certo. “É quando você se sente maduro, independente e pronto para ser responsável por si mesmo. Morar sozinho, mas ter que contar com os pais para colaborar no orçamento, usar a mãe para cozinhar, lavar... não é sinal de independência e, sim, de que você não está pronto para isso”, afirma a psicóloga da Universidade Federal do Espírito Santo, Milena Fiorim. Percebe-se, entretanto, que os tempos mudaram. Se em décadas recentes, ter mais de vinte e cinco anos e ainda morar com os pais era sinal de frustações pessoais, atualmente as coisas não são bem assim. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE), em 2012, mostrou que 1,7 milhão de brasileiros vive na casa dos pais, um aumento de 40% comparado com as duas últimas décadas. Robson Malacarne, especialista em juventude e doutorando em Administração na área de Gestão Humana e Social, pela Universidade Presbiteriana Mackenzie de São Paulo, conta que, além de pensar no significado de sair de casa, é preciso saber de quem estamos falamos. “Quando se fala em jovem, não se resume a faixa etária. Deve-se considerar a pluralidade que se faz presente nessa fase do desenvolvimento humano: questões econômicas, sociais, psicológicas, de gênero e uma série de outros itens. Percebe-se, portanto, que o significado de ser adulto e o de ser jovem devem ser tratados em sua totalidade”, afirma Robson. O especialista ainda acrescenta que antes o “sair da casa dos pais” significava a transição para a vida adulta. E que atualmente deve-se considerar, por exemplo, o acesso à educação após o Ensino Médio, o que fez esse cenário mudar. “Se antes o acesso ao Ensino Superior era escasso, hoje esse projeto de vida é mais presente, e assume significados de acordo com a classe social. Se pontuarmos dois fatores específicos que influenciam tanto na estadia quanto na saída do jovem da casa dos pais, serão a educação e a situação financeira. A pergunta que deve ser feita é: sair de casa ”para quê”?” O significado de ser adulto modificou- se.” A também psicóloga da Ufes, Cynthia Fernandes, além de reconhecer que a escolaridade atualmente é estendida, percebe também que o “sair de casa” se dá com mais idade, sendo determinado de acordo com a cultura em que a pessoa vive. “A vida vai requerer isso de nós. O marco é a ingressão ao mercado de trabalho e a formação de casais, porém, até isso é relativo, dependendo unicamente do contexto”, esclarece Milena. Primeira Mão | Julho de 2013

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Cynthia Fernandes lembra ainda que é impossível livrar os pais do sofrimento causado pela separação. Para amenizar a situação, a psicóloga ressalta que agir com serenidade e dar apoio de ambas as partes são fundamentais para que vínculo continue saudável.

Geração Canguru Entre os tantos nomes para definir a geração atual, um que tem se destacado para explicar a convivência familiar é a “Geração Canguru”, que se caracteriza por jovens, entre vinte e quatro e trinta anos, que, embora tenham condições financeiras para morarem sozinhos, ainda desfrutam da comodidade de morar com os pais. Ainda na “bolsa” da mãe, esses jovens mostram que as fronteiras entre o ser jovem e o ser adulto mudaram. O efeito canguru revela que tanto pais quanto filhos estão mais compreensivos e tolerantes para lidar com as diferenças e o conflito de gerações.

O dia em que eu saí de casa, minha mãe me disse... O sair de casa para os adolescentes e jovens da região rural possui um significado diferente daqueles que moram na área urbana. Para os primeiros, a saída acontece muito mais cedo porque significa a busca de oportunidades, diferentemente dos jovens da área urbana em que a situação financeira se torna muito mais evidente. João Pedro Modesto, estudante do curso de Administração na rede Doctum de Ensino, hoje aos 19 anos, saiu de Alfredo Chaves, interior do Estado, aos 14 anos, para completar o Ensino Médio em Vitória. Deixou para trás sua mãe e seus quatro irmãos mais novos para morar de aluguel em um pequeno quarto, sendo responsável por sua alimentação e afazeres domésticos. “Sair de casa é um desafio. Quando você está morando com seus pais, eles te educam de certa forma, e quando uma pessoa sai de casa, ela tem que ter disciplina e muito compromisso consigo mesma”, relata o jovem.

Ainda na “bolsa” da mãe, esses jovens mostram que as fronteiras entre o ser jovem e o ser adulto mudaram

O caso do enfermeiro Rodrigo Buback é um exemplo típico. Aos vinte e quatro anos, Rodrigo é empregado, independente financeiramente, apegado à família e ainda mora com os pais. “Todo lado é bom de morar com os pais. Não tem uma coisa que eu possa falar que é negativo e outra que seja positivo. Faz parte da minha vida e desde pequeno sou acostumado a isso.”

O jovem diz que, se nos próximos cinco ou dez anos, não se casar e constituir a própria família pretende permanecer morando com os pais. “Não existe idade correta para sair da casa dos pais, mas existe, sim, momento certo. O momento em que você decide ter a sua própria casa e no qual tem como arcar com essa escolha, não só financeiramente, mas emocionalmente também”, afirma o jovem. Embora morar sozinho, hoje, aconteça de forma mais tardia, no processo de preparação do jovem para a vida adulta, segundo Robson, faz-se necessário que os pais responsabilizem seus filhos com tarefas domésticas para, ao tomar essa decisão, eles terem o mínimo de consciência dos deveres que os esperam quando morarem sozinhos. A mãe de Rodrigo, dona Alvina Buback, alega que ele não possui uma responsabilidade fixa em casa, mas que em toda sua criação o ensinou a, por exemplo, arrumar a casa e comprometer-se com os negócios da família. “Se Rodrigo saísse de casa, eu sentiria muita falta”, confessa.

Sempre com o apoio da mãe, foi aconselhado a não se submeter às drogas, prostituição e qualquer outra coisa que prejudicasse o alcance dos seus objetivos, mas, sim, a dedicar-se aos estudos. “A minha mãe sempre me apoiou nas decisões e, como toda mãe, sempre foi preocupada comigo. A vida do interior e a da cidade são bem diferentes. Na roça, mesmo que você não tenha dinheiro, existem árvores das quais se pode colher frutas e alimentar-se. Já na cidade não é assim, caso você não tenha dinheiro, você não come, não bebe, não tem lugar para morar”. Atualmente João Pedro entra em contato com a família por telefone, em média, a cada quinze dias. E embora admita que sinta saudade de sua família, não pretende voltar a morar com ela na cidade natal. “A minha vida está na empresa, na cidade. Se eu for para a roça será só para descansar e rever a minha família. Aqui é o lugar onde eu devo estar para alcançar os meus objetivos”, conclui.

Casa, comida e roupa lavada, por que abrir mão disso? Abrir mão das regalias que morar com os pais oferece para pagar as próprias contas e administrar um lar sozinho, pode até estar acontecendo cada


vez mais tarde, mas, de alguma forma, não deixa de acontecer e são vários os motivos que influenciam essa decisão. Um dos fatores a se considerar é a formação de novos casais, que não se resume ao ato do casamento, mas também ao “morar junto” e a existência de uma nova configuração familiar. “O conceito de família não se resume ao singular, mas a pluralidade que existe nisso. Vivemos em uma época em que o ser família não se restringe ao modelo de pai, mãe e filhos vivendo dentro de casa como o era alguns anos atrás. Se antes o jovem pensava em sair de casa para formar uma família, essa realidade não é a única existente atualmente. Há quem more junto, há quem more com os amigos e há quem case. Todos são famílias”, afirma o especialista em juventude Robson Malacarne. Felipe Ferreira e Natália Ferreira, recentemente casados, passam pela experiência dos primeiros dias fora da casa dos pais. O casal se conheceu há nove anos, mas começaram a se organizar para morarem sozinhos há dois. “Quando nos conhecemos não tínhamos nada. Aliás, eu tinha uma bicicleta. Com o passar dos anos e com a vontade de casar, adquirimos um fusca e depois um carro melhor. Nosso amor evoluiu com os nossos meios de transportes. Casar é caro, e requer muito planejamento financeiro”, conta Felipe. Os móveis não foram comprados em lojas de modulados, mas feitos por um marceneiro da forma que queriam. “Eu mandei fotos para o marceneiro e o resultado final foi do jeito que eu desejava, além de termos economizado também”, comemora Natália. O apartamento, dado de presente pelo pai de Natália para a formação do novo lar, fez com que o sonho de morar sozinhos engrenasse. A maior dificuldade que existe, porém, é manter sua limpeza. “Eu achava que ia dar conta da casa sozinha. E nós dois sozinhos não estamos dando conta ainda. Quando eu morava na casa da minha mãe eu acha-

Quer sair de casa? Pergunte-se: Para quê? É necessário estabelecer um objetivo compatível com seu projeto de vida para que a decisão não seja precipitada. Como? Organizar-se financeiramente é fundamental. Morar sozinho é responsabilizar-se pelas contas e por si. Eu sei morar sozinho? Além de contas a pagar, é necessário saber tarefas fundamentais para a organização doméstica, como cozinhar, lavar roupas, limpar casa, etc.

Dica para os pais: Não julgue a atitude de seu filho. Receber a notícia que o filho deseja sair de casa é difícil. É essencial que a criança, que se tornará jovem e quer ser adulto tenha o apoio necessário para alçar outros voos.

va que não tinha espaço, achava meu quarto pequeno. Agora na minha própria casa, percebo que aqui é que é pequeno porque eu sou responsável por organizar todas as nossas coisas”, confessa a recém-casada. O contato com os pais, para ela, é mais frequente do que havia imaginado devido à necessidade corriqueira de saciar as suas dúvidas por meio de ligações telefônicas para a mãe. Além disso, o escritório em que Natália trabalha ainda é na casa de seus pais, o que faz com o contato pessoal diário seja mantido. Felipe, a trabalho, passa a semana em Linhares, o que, por insegurança de dormir sozinha, faz com a recém-casada ainda durma na casa dos pais durante a semana. “Eu ainda não tenho a sensação de estar na minha casa, no novo apartamento, no meu lar”, conta Natália. Por outro lado, mesmo em fase de adaptação no novo lar, o casal conta que fazer a decoração do apartamento, organizar os horários, aprender a cuidar da própria casa e ter um cantinho reservado para os nove gatos que possuem faz a decisão valer a pena. Felipe afirma que para sair da casa dos pais é necessário ter responsabilidade. “A prática é diferente da teoria. Quando eu morava com os meus pais, eu não fazia nada. Agora eu tive que aprender a lavar panelas, arrumar a casa e outras coisas que eu nunca tinha feito”, afirma Felipe. Não se pode dizer que sair de casa é questão de maturidade. Sair de casa é questão de projeto de vida. Todo o contexto em que o jovem está inserido contribui para a sua permanência ou saída da casa dos pais. É necessário, no entanto, que ao tomar essa decisão, seja para morar sozinho ou com um cônjuge, a família dê o suporte necessário para os futuros donos do lar, e que se faça um planejamento pessoal e financeiro para viver, com bem-estar, a nova vida.


SOCIEDADE CECILIA MORONARI, KARINA MAURO E MARIANA MASSARIOL

Necessidade ou pura vaidade? Houve um tempo em que os procedimentos cirúrgicos eram associados à ideia de rejuvenescimento. Hoje, é normal que pessoas, principalmente os jovens, recorram a intervenções cirúrgicas buscando melhorar a autoestima e a “aceitação” da sociedade em que vivem. Jovens e adolescentes estão buscando soluções rápidas em cirurgias plásticas cada vez mais cedo. A afirmação pode ser comprovada por meio das estatísticas. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), em quatro anos o número de cirurgias plásticas em adolescentes entre 14 e 18 anos mais do que dobrou - de 37.740 procedimentos em 2008 para 91.100 em 2012 - um crescimento de 141%. Além disso, o Brasil ocupa o segundo lugar do mundo em número de cirurgias plásticas, tanto em procedimentos em adultos quando em adolescentes, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. Na opinião da psicóloga Penélope Zecchinelli, que atende diversos pacientes em busca de terapia por problemas de autoestima e autoimagem, o que há hoje é uma falta de maturidade psicológica nas pessoas que só conseguem ver a cirurgia plástica como saída para um corpo perfeito, e essa questão não está restrita somente aos jovens. “Vivemos uma sociedade em que se incita o tempo todo: seja feliz, realize-se, faça o que quer, seja lindo! E se esquece de que viver em função de realizar-se pode ter consequências fatais, pois é o gozo que é instigado. Então, se mesmo adultos caem nessas armadilhas modernas, que dirá nossos adolescentes e jovens? É próprio do adolescente e do jovem achar que questões têm soluções simples. É com o viver que se aprende que toda questão complexa tem causa complexa e solução ainda mais complexa”, analisa a psicóloga.

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A estudante Marília Grassi escolheu um presente diferente para sua festa de 15 anos. Ela decidiu por uma lipoescultura, quando tinha apenas 14 anos. Pretendia aparecer em sua festa com a novidade. Seis anos depois, aos 20 anos, Marília decidiu que era hora de realizar um novo procedimento e se submeteu a uma mamoplastia. Hoje, com 22 anos, ela garante que as cirurgias plásticas foram essenciais para a aceitação do seu corpo: “Minha autoestima hoje é outra. Gosto muito mais de mim e não tenho vergonha do meu corpo como tinha antes”. Mas as intervenções cirúrgicas não resultaram somente em aceitação do próprio corpo. Marília Grassi acredita que as pessoas ao seu redor também passaram a notá-la de forma diferente depois que ela se encaixou no tão sonhado padrão de beleza da sociedade: “Eu senti uma diferença total, principalmente em relação aos padrões de beleza que a sociedade impõe hoje. Antes eu era gordinha e não chamava atenção como as mulheres que tem corpos esculturais de hoje em dia. Depois da cirurgia, meu corpo mudou, fiquei parecendo com aquelas mulheres que tem ‘corpão’. A partir daí, tudo muda”.

A insatisfação pode esconder algum problema emocional A escolha do caminho mais fácil pode comprovar a vontade de se ter um resultado imediato. Se algo no corpo incomoda, basta cortar, diminuir, aumentar. Mas nem sempre a insatisfação vai embora com aquela gordurinha “lipada”. Aquilo que era considerado imperfeição pode apenas mascarar algo maior, como um problema emocional. Ao recorrer à cirurgia, o paciente acredita que seus problemas serão resolvidos, e, nem sempre é isso que acontece.


O Cirurgião Plástico Ailton Cerqueira explica que, como em qualquer área da Medicina, a cirurgia plástica também deve passar por um diagnóstico. O ponto principal a ser observado é o desenvolvimento da paciente na parte corporal e hormonal, além de conhecer os motivos que levaram aquela jovem a buscar uma intervenção cirúrgica. Cerqueira afirma que se deve ainda levar em conta a situação psicológica da paciente, a fim de amadurecer o pensamento da jovem em relação à parte do corpo que ela gostaria de mudar: “Nem sempre o que você pretende você consegue. Essa fase precisa das orientações do profissional para que a paciente entenda o que ela apresenta e o que não há necessidade de intervir. Muitas pessoas criam uma ilusão do que queriam e, que, na verdade, não há nenhuma indicação cirúrgica”, acrescenta. De acordo com a psicóloga Penélope Zecchinelli, vivemos hoje em um mundo no qual a aparência é valorizada acima de qualquer coisa: “mas não é uma aparência comum, é uma aparência de estilo europeu: corpo magro e longilíneo, cabelos lisos e loiros, muito busto, cintura marcada, pouco ou nenhum quadril. Quem efetivamente tem esse padrão em nosso Brasil tão miscigenado?”.

A estudante escolheu um presente diferente para sua festa de 15 anos. Ela decidiu por uma lipoescultura, quando tinha apenas 14 anos. Pretendia aparecer em sua festa com a novidade. Daiana Roldi tem, hoje, 25 anos e já passou por quatro procedimentos cirúrgicos: os dois primeiros, quando tinha 15 anos, foram uma lipoescultura e a reconstrução das mamas. Aos 21, Daiana passou por mais duas intervenções: uma abdominoplastia e o implante de próteses de silicone nos seios. Para ela, o importante é o aumento da sua autoestima e não o modo como vai ser tratada pelas pessoas ao redor: “Nunca tive problemas com os outros. Quando a autoestima está elevada, tudo fica diferente. Quem muda é a gente, não as outras pessoas”.

Foto: Cecilia Moronari

Essa “exigência” da nossa sociedade, que coloca um padrão, muitas vezes, inalcançável pela maioria, também molda a sensação de não pertencimento de muitas jovens. É preciso lembrar que, em muitos casos, o jovem acredita que resolverá seu problema após realizar a cirurgia. Entretanto, em diversos casos, os problemas não são tão pontuais assim, como conta a psicóloga Penélope Zecchinelli: “O que pode acontecer é o paciente tornar aquela Primeira Mão | Julho de 2013

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CUT HERE parte do corpo a única responsável pelas mazelas por que passa, e, ao modificar essa parte, com ela esvaem-se os motivos para a insegurança. Em regra, porém, o incômodo que a pessoa sente consigo, que estava “encarnado” na parte em destaque, migra para outra parte, o que levaria a uma eterna insatisfação corporal. É muito comum, por exemplo, pacientes fazerem mais de uma cirurgia plástica, principalmente por não entenderem que a insatisfação não é pontual e física, como querem acreditar, mas que tem um fundo emocional muito maior do que se pensa”.

prefere não revelar o nome, conta que tocou no assunto “cirurgia plástica” com os pais quando tinha apenas 15 anos. Porém, a plástica no nariz, conhecida como rinoplastia, só foi feita com 20 anos. “Sempre odiei meu nariz da maneira que era. Eu cresci, continuei olhando pra ele e continuei não gostando. Poderia ter feito há muitos anos, mas resolvi fazer quando percebi que já tinha o dinheiro suficiente”. Apesar da preocupação dos pais, B.Z conta que eles apoiaram a sua vontade e que, no início, tentaram convencê-la do contrário: “Meus pais julgaram desnecessário, mas precisaram se acostumar com a ideia”.

O que passa na cabeça dos pais

Já no caso da jovem K.R, que também preferiu não ser identificada pela reportagem, a notícia só chegou ao conhecimento dos pais quando a consulta já estava marcada “Minha mãe me apoiou e quis me acompanhar em outra consulta, mas meu pai foi totalmente contra no início”. A estudante sempre teve vontade de colocar silicone nos seios, mas esperou até os 21 anos para fazer a cirurgia: “não era uma coisa que ficava pensando o tempo todo, tive paciência em esperar uma oportunidade. Decidi que era hora de fazer a cirurgia logo após muitas amigas minhas fazerem e eu ter a certeza de que era seguro”, conta.

Em se tratando da reação dos pais, a psicóloga Penélope Zecchinelli revela que muitos não sabem como agir quando são procurados pelos filhos para tratar desses assuntos. “Os pais me parecem por vezes perdidos no meio dessa geração com tanta acessibilidade a cirurgias estéticas. Outras vezes, são grandes incentivadores, pois acreditam que todos os problemas do sujeito serão resolvidos definitivamente pela via da cirurgia plástica”. Uma jovem, que identificaremos como B.Z., porque

Saiba quais são as principais cirurgias: Mamoplastia é a cirurgia plástica feita nas mamas, podendo ser de aumento ou de redução. A mamoplastia de aumento é realizada com implantes mamários, de silicone ou salinos, podendo ser introduzidos na frente ou atrás do músculo peitoral maior. Já a mamoplastia de redução consiste na diminuição do volume e peso das mamas, reduzindo sintomas que a paciente possa ter por conta dos seios grandes (dor nas costas e peso nos ombros). A técnica vertical, usada para retirar pequenos volumes das mamas, diminuindo a flacidez e levantando os seios é chamada de mastopexia. A lipoescultura é uma cirurgia para a redução da gordura corporal em áreas localizadas. Parte da gordura aspirada é purificada, concentrada e enxertada em outras áreas do corpo que precisam de preenchimento. Esta cirurgia, diferentemente da lipoaspiração, serve para remodelar algumas áreas do

corpo, conferindo ao paciente um melhor contorno corporal. A abdominoplastia é um procedimento estético realizado para retirar o excesso de pele, gordura localizada e proporcionar a recuperação da firmeza dos músculos da região abdominal, resultando em uma barriga mais lisa e tonificada. A cirurgia consiste em um processo de descolamento de toda a parede lateral do abdômen, podendo assim ser feitas modificações e alterações necessárias. Em casos onde a extensão do tratamento é menor, ela é chamada de miniabdominoplastia, pois retira acúmulos de gordura e pele apenas da região inferior da barriga, resultando em uma cicatriz menor. Tanto a abdominoplastia quanto a miniabdominoplastia podem ser associadas à lipoaspiração, já que retira a flacidez da pele e proporciona melhores resultados. Fonte: Wikipedia


COMPORTAMENTO JÉSSICA REBEL e JOÃO CARLOS FRAGA Foto: Caio Fábio Melo Faria

Tempo livre...

não tão livre como se pensa

O

tempo não para e nós não podemos parar. Nos tempos atuais, o sentido dessa frase virou quase um mantra entre nós. Há a necessidade de ser proativo e produtivo em tudo que fazemos, principalmente no mercado de trabalho. Mas, carpem diem! Aproveite o dia, porque tempo livre é bom e faz bem pra saúde. E, por isso, muitas pessoas buscam relaxar e aproveitar a folguinha ao máximo. Contudo, o que era para ser um momento de relaxamento do corpo e da mente, se transformou na obrigação de se ser produtivo. É o dever, a obrigação de aproveitar. A modernidade pode ser uma das hipóteses para o que parece ser uma atual imposição social de se divertir. É o que destaca o doutor em Filosofia, professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e autor de vários livros, Bajonas de Brito Júnior. “A obrigação da busca de diversão é um comportamento compulsivo na sociedade em que vivemos e, cada vez mais, ganha um aspecto administrado e quantificável. Você pode expor na sua conta do Facebook o número de coisas que faz, e, através da comparação com os outros, tal como se compara o número de amigos, pode ter maior ou menor sensação de estar preenchendo o seu tempo”, ressalta o professor. Além disso, a obrigação da produtividade no tempo livre pode estar relacionada à falta de autoestima,

que gera insegurança, como aponta a psicóloga e presidente do Conselho Regional de Psicologia do Espírito Santo, Adriana Salezze Fraga. “Quando eu começo a me preocupar mais com que o outro está pensando e não com aquilo que eu estou sentindo ou conseguindo fazer, pode ser que tenha algum problema com a autoestima, a autoconfiança, de ter que provar coisas para os outros”, afirma a psicóloga. Outra hipótese é a competitividade do ser humano. “Embora as sociedades burguesas se diferenciem bem entre o século XIX, XX e XXI, uma coisa permanece como fio comum: a competição. O espírito de rivalidade e competição sempre perpassou a vida social, daí o peso imenso da inveja na história. Entretanto na sociedade burguesa há uma competição mais profunda que, primeiro, é da própria estrutura do sistema, que envolve o mercado, a inovação, a busca de oportunidades não exploradas e as janelas de oportunidades”, afirma o professor Bajonas.

A obrigação de se divertir pode ser patológica Adriana também aponta a ansiedade patológica como outra causa para a pessoa ter obrigação de se divertir. Primeira Mão | Julho de 2013

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A ansiedade, segundo a psicóloga, é uma emoção que todos os seres humanos têm e é saudável, porém o problema é quando se ultrapassa o limite do tolerável. “Eu chamo a ansiedade de emoção da preparação. É por causa da ansiedade que você se prepara para o que vem a seguir, para uma prova, uma viagem. Então, até certo limite, a ansiedade é normal e saudável. Passou-se desse limite é que começa a ser um problema. Torna-se patológico”, alerta Adriana. A ansiedade patológica faz a pessoa viver num eterno frenesi. No tempo livre, ela não para em nenhum momento por conta da necessidade de se ocupar. Sempre pensa no que fazer durante o dia, independentemente se está no trabalho ou de folga. “Ela precisa se sentir útil o tempo todo. Quando ela está no trabalho, seja intelectual ou operacional, a mente está sempre em funcionamento. E isso acontece também quando ela está à toa. Gera um sentimento de culpa por não estar produzindo. Então mesmo quando está descansando, pensa em todas as coisas que está deixando de fazer”, frisa a psicóloga. Os prejuízos para a pessoa com ansiedade patológica são os mais variados. Desde elevação do nível de estresse até irritabilidade, agitação e cansaço. Além disso, os movimentos das pernas e mãos ficam mais agitados e involuntários e, em casos mais extremos, há dificuldade de dormir. “Existem pessoas que são tão ansiosas, que não conseguem relaxar, se divertir e não têm prazer”, declara Salezze. A psicóloga ainda ressalta que as pessoas que já possuem tendências a serem ansiosas têm mais probabilidade de ter essa ansiedade na hora de se divertir. As pessoas quem têm o ritmo de vida menos agitado, dificilmente vão ter esses problemas no momento de lazer.

De onde vem a obrigação de se divertir O sempre se divertir vem dos mais variados pontos, mas parece que tudo converge para a modernidade iniciada na Revolução Industrial, no século XVIII. “A emergência do tempo livre é, sobretudo, um fato ligado à sociedade burguesa e ao mundo moderno. A própria noção de ‘tempo livre’ pouco existia antes. Nas sociedades basicamente agrícolas, em que as pessoas diziam que deitavam com as galinhas e levantavam com os galos, não havia essa liberdade de horários, a não ser para os nobres. Com o surgimento do proletariado moderno, concentrado em espaços urbanos, afastado das antigas tradições, o tempo livre se torna aquele tempo em que as massas trabalhadoras não estão presas à fábrica pelo contrato de trabalho”, explica o professor. O dever de se divertir pode vir também do entretenimento, principalmente o reforçado na mídia, que traz culpa à pessoa por não aproveitar cada segun-

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do do seu tempo livre. “O entretenimento é um mercado em busca de lucros e usa a publicidade para reforçar a obrigação do divertimento. Quem revende esse produto, o entretenimento, buscará, através da publicidade, mobilizar os seus consumidores reais ou potenciais para que ocupem o seu tempo livre, suas férias, com esse produto”, destaca Bajonas. Hoje, a contemporaneidade é marcada pela internet. A sociedade mundial está ligada, queremos saber de tudo, e isso se transforma em uma compulsão. Segundo Bajonas, o divertimento é parte das lógicas compulsivas que permeiam a maioria das “práticas que nos são destinadas/permitidas: compulsão de acesso às redes sociais, de interesse pela intimidade das celebridades, compulsão de receber e enviar mensagens, de colecionar o que podemos encontrar na rede, sejam amigos no Facebook, sejam imagens, músicas, vídeos, informações, contatos”. Em relação aos argumentos da modernidade, o filósofo destaca que a obrigação em se divertir é uma sedução: “Não existem propriamente argumentos, existem seduções, encenações retóricas dirigidas a libido, ao desejo, as próprias trocas sociais, e outros apelos que, em certos casos, podem ser mobilizados pela publicidade para atrair o sujeito a preencher seu tempo vago”. Há um paradoxo. Tempo livre e obrigações são palavras que não combinam e não se relacionam. Esse paradoxo vem justamente da afirmação de que a diversão é uma indústria, assim como o é o entretenimento. No entanto, vive-se em um tempo onde o que se faz na rua, na escola, na empresa, em casa, nas férias, em viagens, são produtos das mídias sociais dominantes. “Desse modo, você é compelido a espelhar toda a sua vida nas janelas dessa empresa, os perfis, e só assim você se torna uma vida realmente real, essa redundância é necessária”, aponta Bajonas. Querendo ou não, vemos em propagandas frases como “a nossa obrigação é a sua diversão”, ou “o seu prazer é a nossa obrigação”. A conclusão do doutor em Filosofia, Bajonas de Brito Junior, é que desde o início da criação do chamado “tempo livre”, não há de fato tempo livre. “Na verdade, não existe tempo livre. Há uma concorrência feroz para capturar o aparente tempo livre das pessoas”. Além do mais, ele analisa que quando estamos de folga, na maioria das vezes ocupamo-nos com trabalhos. “Basta lembrar que até as mães da minha geração, o tempo de descanso era ocupado compulsivamente com o tricô e o crochê, que eram passatempos, prenda feminina e arte. Centenas de milhares de quilômetros de cachecóis, meias, luvas, toucas, saiam dessa ocupação do tempo livre. Como se vê, esse tempo vago, no fundo, ocupado com trabalho. Era uma diversão obrigatória, como é hoje, com características diversas, o envolvimento com as mídias sociais no tempo livre”, analisa.


Mesmo quando estรก descansando, pensa em todas as coisas que estรก deixando de fazer

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SOCIEDADE CRISTIAN FAVARO e KAROLINE LYRIO

Roacutan

é doce, mas não é

tic tac não!


E

sse medicamento é contra-indicado para pacientes com insuficiência hepática, hipervitaminosa. Não deve ser utilizado por mulheres grávidas ou que possam ficar grávidas durante o tratamento”. Essas são algumas informações presentes na bula do Roacutan que mostram a grande complexidade do medicamento. Apesar disso e de todos os outros possíveis efeitos colaterais, muitos adolescentes dessa nova geração o tomam como se fosse tic tac. O Roacutan é um medicamento indicado apenas para o tratamento de formas graves de acne, não para derrubar aquele cravinho que insiste em aparecer no seu rosto antes da balada. Ele contém uma substância derivada da vitamina A - a isotretinoína, que é utilizada pela Medicina no tratamento da acne e, também, na quimioterapia de certos tipos de câncer. Como se trata de uma medicação extremamente eficaz no combate a acne, muitas pessoas, principalmente adolescentes, buscam esse tratamento. A dermatologista Telma Lúcia Macedo, ressalta que a procura por esse tipo de intervenção é mais frequente na adolescência, a partir dos 15 anos. Segundo a dermatologista, os jovens tomam conhecimento desse tipo de medicamento porque “a informação hoje é globalizada, pois além do contato com colegas da mesma faixa etária, tem também a internet, as redes sociais. A maioria dos adolescentes fica muito feliz no 2º e 3º mês de tratamento,quando o rosto está limpo. A alegria fica estampada nos olhos e expressão do jovem”. Contudo, há perigos nesse tratamento. O remédio pode gerar vários efeitos colaterais. Entre os mais comuns estão ressecamentos (da pele, mucosa nasal e dos olhos), queilite, que é o ressecamento, descamação e rachadura dos lábios, além do aumento do colesterol. Exatamente por isso, antes de ser prescrito, vários exames são solicitados pelo médico para verificar se o paciente não terá complicações e, caso essas complicações apareçam durante o período de uso do medicamento, o tratamento deve ser imediatamente interrompido.

Foto: Karoline Lyrio

Roacutan é um remédio para tratamento de acnes em estado grave, que, sem prescrição médica, pode ser muito perigoso.


Jorge Lavagnoli, universitário de 21 anos, fez uso do Roacutan durante seis meses, sendo que o tratamento completo indicado pela médica foi de oito meses. Quando começou a tomar o remédio, o estudante já estava ciente de todos os riscos e dos efeitos colaterais. “De imediato, não senti nenhum efeito colateral além dos que já são esperados, como pele e lábios bastante ressecados. Porém, era difícil ter que manter uma dieta privada de comida gordurosa e álcool, além do que eu tinha que beber bastante líquido e sempre utilizar protetor solar”, contou o universitário.

Mas a dermatologista explica que esses distúrbios do sono e alterações de humor ainda não foram comprovados como efeitos colaterais do medicamento. “É descrito em bula depressão e uma série de outros sintomas ligados à psique. No entanto, o paciente com acne tem a instabilidade do adolescente e desta forma não se conseguiu provar se a depressão era exclusivamente pelo medicamento”.

A minha psiquiatra me contou que ela atende a muitos casos parecidos com o meu, em que os pacientes que tomam o Roacutan chegam com queixas de insônia, e até mesmo de depressão.

Depois, a insônia, problema que ele já tinha, foi agravada. Quando procurou uma psiquiatra, ela receitou tomar outra medicação para combater a falta de sono. Esse remédio é o também conhecido Rivotril, que foi receitado em uma dose de 0,5 mg. “A minha psiquiatra me contou que ela atende a muitos casos parecidos com o meu, em que os pacientes que tomam o Roacutan chegam com queixas de insônia, e até mesmo de depressão. Ela falou que até já é comum”, disse Jorge.

“O risco maior que vejo é a gravidez indesejada devido a Teratogenicidade, na qual o aborto, mesmo assim, é proibido, além de ser um trauma na vida de qualquer mulher. Não queremos que isto aconteça, por isso, tantos cuidados na prescrição”.

Apesar de ser direcionado a casos mais graves de acne, o Roacutan é caro, podendo passar dos R$ 150, cada caixa com 30 cápsulas. Mas, se você se enquadra nos requisitos e quer tomar o remédio, aí vai uma boa notícia: O medicamento é fornecido gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Basta procurar um dermatologista que ele irá informar todos os passos necessários.

Foto de divulgação

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Primeira Mão | Julho de 2013


feito à mão Viviann Barcelos

Ilustração: Dalton Dasou

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Curas e curas

ongelado pelo ar-condicionado da sala de espera do consultório psicológico do SUS, Fernando espera apreensivo pelo seu primeiro diagnóstico. Embora os sintomas sejam notáveis, ainda possui dúvidas sobre a patologia. Sabe que até o tratamento começar, o mal-estar que vive se alastrará. “Sus...”, pensa. Entre os estalos dos dedos e o bater do pé no chão, o psicólogo retorna a sala, olha-o com atenção, franze a testa e pergunta desde quando ele se sente daquele jeito. O jovem revira os olhos e conta que sua mãe uma vez dissera, com um sorriso malicioso escondido no canto esquerdo da boca, que seu pai jogara no bicho ao saber de sua gravidez, dia 24 de janeiro de 1989. Relutou em jogar no dia do acontecimento por causa do bicho que aquele número significava, mas jogou. No dia seguinte, ao pegar o resultado, surpreendeu-se. Ganhou sete mil reais em cima do filho que nem nascera. Em cima do bicho que, embora não tenha muita simpatia, apostara. Na vigésima quarta semana de gravidez, com aproximadamente cinco meses dentro do ventre de sua mãe, outro sinal: em mais uma das ultrassonografias do acompanhamento pré-natal, Fernando apareceu com as pernas cruzadas. Seu pai, que no mês anterior se maravilhara com a notícia de ter um “cabra macho” para acompanhá-lo, olhou com estranheza e perguntou se era mesmo menino aquela criança. Queria saber se estar de pernas cruzadas significava algum tipo de aberração. O médico, sem pestanejar, respondeu: “um pouco delicado, mas é menino”. Fernando nasceu no dia 24 de agosto de 1989, dia do artista. Seu pai não gostou muito da ideia. Pediu que o parto fosse adiado para o dia seguinte, dia do soldado. Mas a obstetra recusou o pedido.

Desejou que seu único filho se alistasse no exército. Mas logo nos primeiros anos de vida, percebeu que Fernando não tinha jeito para essas coisas. Ao completar quinze anos, seu pai o presenteou: levou-o numa casa de shows e pagou a mulher mais bonita, vulgo boazuda, da casa para fazê-lo homem. Ensiná-lo a ser homem. Sentir e suar como homem. No quarto, meio sem jeito, Fernando tinha necessidade de falar e a moça, sem entender muito, esperava ansiosamente a sua vez de também se expressar. Na manhã seguinte, ela confessou para o jovenzinho que vivera a melhor noite de sua vida com um homem que julgava ser mais homem que muito homem, pois a tratava como uma mulher como qualquer outra mulher. O combinado, porém, era que a noite tinha sido uma orgia sem fim. O psicólogo ainda estava atento, olhando as nuances de seu rosto e o questionou sobre o porquê de ele estar ali. Fernando, hoje aos vinte e quatro anos, explicou que estava atendendo um pedido de sua mãe. Ela, em prantos, disse que não queria ver o seu marido morrer de desgosto. O menino, que não se tornara soldado, estava no consultório disposto a fazer o tratamento necessário para, ao curar-se, curar seu pai. O psicólogo tinha o diagnóstico em mãos, embora ainda receoso de ler. Qual diagnóstico? Cura-macho. Não, não para o Fernando. Ele estava são. Era para seu pai que, infelizmente, estava em estado de ignorância terminal. Tratamento: bom-senso. Tempo de duração: até o fim da vida. O psicólogo ainda acrescentou: caso os sintomas persistam, o preconceito do seu pai deverá ser amputado devido aos riscos de contaminação.


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Primeira M達o | Julho de 2013


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