Primeira Mão #135

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edição

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primeira mão Tecnologia

Revista Laboratório do Curso de Comunicação Social da Ufes

tecnologia retrô18 Publicação de e-books 09

Corpo e tecnologia 13

Novos usuários tecnológicos 16

Aprenda com os tutoriais 22


A tecnologia aliada ao corpo

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Capa

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Perfil Antônio Rocha

Entrevista sobre a Era Digital

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Situe-se com a geolocalização

chamada Os aplicativos em destaque

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Novos usuários de tecnologia

O universo dos e-books

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O ensinamento dos tutoriais

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Editorial

Ao assumirmos o compromisso com a Revista Primeira Mão, sabíamos o tamanho da responsabilidade que teríamos com o produto, e principalmente, com o público para o qual ela seria direcionada: os alunos da Universidade Federal do Espírito Santo. E foi vencendo dificuldades, disponibilidades de horários, discordâncias de opiniões que chegamos à terceira e última edição da Revista Primeira Mão do semestre 2013/1. Nessas três edições, nos deparamos com o desafio de entender determinados assuntos de temas específicos, a fim de transmitirmos as informações da melhor maneira para o leitor. Sem dúvidas, foi a disciplina do curso que mais se aproximou da realidade que encontraremos na profissão daqui a pouco mais de um ano. Desde as reuniões de pauta até a avaliação da revista pronta, o aprendizado foi imenso. Aprendemos a cima de tudo, que para alcançarmos o sucesso coletivo, o empenho individual é fundamental. Na última edição do semestre, a Revista Primeira Mão traz a Tecnologia como tema principal. Os avanços tecnológicos que beneficiam os métodos de saúde e educação. Dispositivos que cada vez se tornam mais indispensáveis para a sociedade e transformam o comportamento humano. O estilo retrô que traz nos novos produtos conceitos e estéticas do passado. Reportagens que nos levam a reflexão de como estamos lidando com as inovações da era digital. Com a certeza do dever cumprido, desejamos uma boa leitura a todos. À equipe da Revista Primeira Mão e ao professor orientador, os parabéns por mais uma etapa cumprida. Até breve! Primeira Mão é uma revista laboratório, produzida pelos alunos do 6º período do curso de Comunicação Social - Jornalismo. Universidade Federal do Espírito Santo. Av. Fernando Ferrari, 514, Goiabeiras | Vitória - ES CEP 29075-910 . Ano XXIV, número 135. Semestre 2012/2. Reportagem: Andressa Andrade Cecilia Moronari Cristian Favaro Edberg França Edézio Peterle Jéssica Lopes Rebel João Carlos F. Bastos

Karina Mauro Karoline Lyrio Letícia Comério Luiz Zardini Jr. Magalli Souza Lima Mariana Bolsoni Mariana Massariol Paula Gama

Samylla Estofel Andreão Tamires Mazin Vanessa Ferrari Viviann Barcelos

Diagramação: Cecilia Moronari Magalli Souza Lima

Edição e Revisão: Edézio Peterle Jéssica Lopes Rebel Karina Mauro

expediente

Projeto Gráfico: Esther Radaelli Isabella Mariano Thaiana Gomes Viviane Machado

Primeira Mão

Professor Orientador: Rafael Paes Henriques Tiragem: 800 exemplares Impressão: Gráfica Universitária revistaprimeiramao @gmail.com

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ERFIL por KAROLINA LOPES

Foto: Jéssica Rebel

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PERFIL por JÉSSICA REBEL

Conserta-se

máquina de escrever Humilde, simpático e comunicativo, Antônio conserta máquinas de escrever há 45 anos e afirma que nunca lhe faltou trabalho

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ois cômodos pequenos. Empilhadas, desorganizadamente organizadas até o teto, dezenas de máquinas de escrever dos mais diversos tamanhos, cores, formas e marcas. Algumas em bom estado, outras nem tanto. O espaço vazio no chão é estreito, medida exata para a passagem de uma única pessoa. E poeira. Muita poeira. Esse é o local de trabalho de Antônio Fernando Costa Rocha, também conhecido como Toninho, um trabalhador que criou três filhos e seis netos consertando máquinas de escrever e de calcular. Os aparelhos datilográficos, no modelo como são mais conhecidos, nasceram em 1808, exatos 141 anos antes de Antônio. E hoje, 205 anos depois de sua criação, ainda não foram esquecidos por muitos. Prova disso é que Toninho ainda consegue se manter apenas com os reparos e vendas das antiguidades. O uniforme de trabalho é composto por short de tactel, camiseta surrada e chinelos. Os cabelos brancos e as rugas denunciam a idade e, nos 63 anos vividos, Antônio sempre morou no mesmo lugar. A casa, que era de seus pais adotivos, ficou de herança para ele. Mas não só a casa. A oficina que hoje está repleta de antiguidades, outrora pertenceu ao seu pai, o vendedor de caldo de cana da Rua Henrique Moscoso, em Vila Velha. Toninho sempre trabalhou sozinho e conta que certa vez carregou 15 máquinas nas costas, descendo prédios e atravessando de Vitória a Vila Velha de bote. Ainda assim, nunca sofreu nenhum acidente com os aparelhos. “Nunca derrubei uma máquina e me orgulho muito disso. Elas eram bem caras na época, e o cuidado era redobrado”, conta. Ele já atendeu prefeituras, Marinha, Exército, Ministério do Trabalho, Telest (atual Oi/Telemar), e a lista continua por mais de 45 anos de serviço. Seu Antônio também vende máquinas de escrever. Basta escolher o modelo e ele faz os acertos necessários, limpa e vende. Antônio é uma pessoa bastante conhecida em Jaburuna. Talvez seja por isso que todos que passam em frente à sua oficina o cumprimentam animadamente. “Ô Tonim!”, exclamam. Os dentes que lhe faltam não tiram o sorriso de seu rosto, e tranquilamente ele responde: “Opa!”. O técnico de aparelhos de escrever mais conhecido da região não aprendeu a arte do conserto sozinho. Precisou realizar cursos técnicos em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, que o proporcionaram o conhecimento necessário para desenvolver o ofício. Os cursos eram oferecidos pelas empresas que fabricavam as mais famosas máquinas da época: Olivetti, Facit e Remington. Antônio Fernando ainda é um defensor da natureza e filósofo nas horas vagas. Religioso que só, possui um mantra em sua vida: “O ódio excita contendas, mas o amor cobre todas as transgressões” (Pv. 10.12). Para ele, o bem e o mal são duas forças que andam paralelamente e, sem as duas, ninguém vive. Humanitário e prestativo, também ajuda os mais necessitados. “Certa vez veio um senhor bem humilde aqui perguntando se eu consertava ventilador. Imagina você, no calorão e sem ventilador? Eu não arrumo, mas para aquele senhor, eu consertei”, confessa. Em meio a muitos devaneios, Antônio faz previsões: “A raça brasileira não vê o passado dela, só vê o futuro. Quem vê o futuro, só encontra computadores, mas também tem que saber que precisa de uma máquina mecânica para escrever”. Toninho crê que caso falte energia durante quatro horas, o mundo para, pois hoje tudo é movido à energia. Nesse mar de novas tecnologias surgindo e aprimorando-se a cada dia, histórias como a do seu Antônio, vão de encontro a esse cenário. Com um celular sem câmera ou aplicativos e rodeado por dezenas de máquinas de escrever e de calcular, Toninho se sente realizado. E não precisa de um celular da última geração para ser feliz. Será que ele conseguirá ser um símbolo da resistência ao cenário até quando? Essa previsão ele ainda não fez. Primeira Mão | Setembro de 2013

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ENTREVISTA por EDÉZIO PETERLE

Tecnologia e essência humana Em meio às inovações tecnológicas o homem corre o risco de perder sua maior riqueza: A essência.

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ivemos a Era Digital. As inovações tecnológicas são desenvolvidas em curtos espaços de tempo. Aparelhos cada vez menores e com variadas funções são disponibilizados no mercado de uma forma nunca vista. As utilidades da tecnologia moderna são, sem sombra de dúvidas, de grande importância. Mas aonde iremos parar? Será que somos protagonistas dessa evolução ou reféns da tecnologia?

Qual é a contribuição da tecnologia para o desenvolvimento da sociedade? A contribuição da tecnologia para a sociedade é maravilhosa. Não podemos negar que ela tem uma contribuição importante e fundamental na época contemporânea. O problema é a falta de limite da sua colaboração. De algum modo ela tem a intenção de ser todo o real. As funções orgânicas e a reprodução, por exemplo, passam a ser tecnológicas. A tecnologia de alguma forma tenta substituir a natureza? Se tudo é tecnológico, a tecnologia pode beneficiar a própria natureza, ou seja, a natureza, por si só, se torna precária. A tecnologia beneficia produzindo de uma forma melhor que a natureza. Isso me parece desmedido, arrogante e inteiramente destrutivo, pelo fato de que coloca a natureza em

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Fernando Pessoa é doutor em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, e professor do Departamento de Filosofia da UFES. Pessoa estuda o pensamento de Martin Heidegger, filósofo alemão, que tematiza ampla e profundamente a questão da técnica moderna. Em entrevista à revista Primeira Mão, o professor Fernando Pessoa nos ajuda a refletir sobre o avanço da tecnologia na atualidade e a perda da essência do homem.

uma disponibilidade da utilização técnica, como se o objetivo da natureza fosse ser explorada tecnologicamente em benefício do homem. O que é uma balela, pois a tecnologia deveria ser um instrumento para fins humanitários. A tecnologia está sob o controle do homem? De modo algum a tecnologia é um instrumento do homem. Hoje em dia ele é um instrumento da tecnologia. Quem pauta esse avanço tecnológico não são as necessidades vitais, mas a própria necessidade de desenvolvimento tecnológico. A própria tecnologia que impõe o seu desenvolvimento. Prova disso é que hoje temos fome na África e até mesmo no Brasil, e mesmo assim as tecnologias não se desenvolvem na perspectiva de sanear a fome, mas se desenvolvem na forma de levar pessoas a marte. Não é um interesse pautado na realidade.


Foto: Secretaria de Comunicação da Ufes

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Quais os malefícios mais evidentes da tecnologia? Se pegarmos a história do mundo, do nascimento de Cristo até a Revolução Industrial, a relação do homem com o mundo se manteve mais ou menos estável, sem desequilíbrio. Do século XVIII até agora, o que é muito pouco tempo, 400 anos, olha o que aconteceu na Terra. A destruição que foi causada, a ponto de a qualidade de vida humana estar ameaçada por buraco na camada de ozônio, por chuva ácida. Dizer que a tecnologia traz apenas benefícios é uma balela. O problema é o modelo de desenvolvimento que foi imposto historicamente no destino do Ocidente, e que o homem nem se questionou. Então, podemos dizer que o homem está sob o poder da tecnologia? Estamos em uma era científico-tecnológica, isso significa dizer que o fundamento do real da nossa época é científico-tecnológico. A essência da técnica não é nada técnico, essa é a questão de Heidegger. Na perspectiva tecnológica o real se manifesta como a natureza, como matéria-prima, e o homem como força de trabalho. A relação do homem com a natureza é vista a partir da produção. Como se isso fosse a essência do homem. Na perspectiva tecnológica o homem trabalha para produzir e consumir. Produção e consumo que ditam a relação do homem com os outros. Isso é nefasto, pois perde-se a dimensão poética da existência. A produção acaba justificando tudo na medida em que ela passa a ser o fundamento. O homem tem que responder, solucionar, garantir. Maior produtividade com o menor custo. De que forma os avanços tecnológicos influenciam no convício social? Muitos dizem que as redes sociais e a internet aumentaram o convívio entre pessoas. A experiência que eu tenho com isso, apesar de não usar redes sociais, é o oposto. Muitas pessoas que participam de redes sociais às vezes vão a minha casa, chegam, ficam uma semana, mas não chegam, pois estão o tempo todo “torpediando”, no bate-papo, às vezes estão sentados à mesa, almoçando, em um lugar de confraternização, de troca, e a pessoa não está ali presente, porque ela tem que ficar recebendo e passando mensagens com uma urgência enorme. É uma situação alienante. Nas palavras de Heidegger, “foram abolidas todas as distâncias, mas a ausência de distância não trouxe proximidade”. Proximidade é muito mais do que ausência de distância, passa por uma questão afetiva, que muitas vezes as redes sociais não permitem. Com as novas tecnologias, a forma do indivíduo pensar mudou?

Há uma tendência de a pessoa substituir um pensamento mais aprofundado, por um pensamento mais calculador, mais operacional, informativo. Nossa época demanda isso. Quando você problematiza alguma questão, há uma certa rejeição. É uma forma de estigmatizar qualquer pensamento que não se solucione rapidamente. O mundo de certa forma fica muito banal, pois fica acessível a todos, o que é um equívoco já que os homens são diferentes. Querer que todos tenham acesso a tudo é não permitir haver Beethoven, não permitir haver Dostoiévski, não permitir haver Einstein. Há uma pseudodemocratização de deixar tudo acessível a todos, mas de uma forma superficial. Podemos considerar esse avanço tecnológico como problemático? Totalmente. A problemática é o perigo de se transformar a essência do homem. O homem está deixando de ser homem, na medida em que ele espera viver essencialmente de forma tecnológica e esquece daquilo que lhe é fundamental, como a verdadeira criação, a origem, o original. O perigo consiste na ameaça à essência do homem. Perigo esse que Chaplin mostrou na obra “Tempos Modernos”. Na universidade é feita uma discussão sobre o avanço tecnológico de forma adequada? De forma nenhuma. Há uma aceitação incondicional da ciência e tecnologia como únicos horizontes possíveis para o estudo universitário, tanto é que a qualquer congresso de educação, ciência e pesquisa, só se fala em ciência e tecnologia. A maioria das bolsas para o exterior, uma grande maioria delas, 90% é ciência e tecnologia. Nós na faculdade, estudamos filosofia, arte, letras, mas, digamos assim, como ciências menores. Não tem tanta importância como a física. A distribuição desproporcional de verbas é bem nítida dentro da Universidade. Não é uma crítica, é uma positividade. Sem dúvida nenhuma, a tendência é o ensino ser cada vez mais voltado para Ciência e Tecnologia. Para as pessoas que estão iniciando discussões sobre o tema, também aos que estão iniciando a vida acadêmica, qual o conselho do senhor? Não embarcar nas coisas cegamente, para poder construir uma perspectiva crítica. Em qualquer área que o estudante escolher é importante ter discernimento para, independente daquilo que dizem, aprender. Não assumir algo sem questionar. Não reproduzir bobagens que ás vezes são ditas. E também, não se iludir com o funcional, o prático, o instrumental. Buscar sempre uma visão crítica em relação aos assuntos que se deparar.


CULTURA por CECILIA MORONARI e LUIZ ZARDINI JR.

Impresso ou digital?

Escolha o seu e boa leitura!

Foto: Cecilia Moronari

O crescimento das publicações digitais deixa incerto o futuro dos livros tradicionais

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crescimento do consumo de publicações digitais no Brasil e no mundo é notório. Os motivos são muitos: a redução no preço dos dispositivos de leitura (os chamados e-readers), a facilidade de acesso às obras mais restritas (como aquelas que já estão esgotadas e sem previsão para uma reimpressão), a forma rápida de acesso aos livros digitais e, também, o preço, normalmente mais acessível. Os livros digitais chegam a qualquer parte do mundo com apenas um clique. O número de leitores de publicações digitais vem crescendo a cada ano, inclusive no Brasil. Segundo dados da 3ª edição da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, 9,5 milhões de pessoas são leitores de ebooks no país. Espera-se que o setor cresça em torno de 200% neste ano, dependendo da quantidade de e-readers comprados pelos brasileiros. “Você pode baixar um livro impresso em outro país em questão de minutos, sem pagar uma exorbitân-

cia por isso”, conta Gabriela Ribeiro Cuzzuol, mestranda em Artes e professora da disciplina de Produção Editorial, do curso de Comunicação Social da Ufes. Gabriela Ribeiro atua há oito anos na produção editorial de livros e já trabalhou para diversas editoras do país, como a Universo dos Livros, Planeta, Ediouro, Rocco, MacMillan Publishers, Campus Elsevier, entre outras. Já executou várias funções, que vão desde a coordenação de produção editorial até a preparação de texto, passando por redação, tradução e preparação. Mas, afinal de contas, o que é um livro? Como funciona o processo de produção de uma obra? Diferentemente do que possamos pensar, o processo de publicação de um livro envolve diversas etapas. Essas etapas recebem o nome de processo editorial e são necessárias para a correção do texto original do autor, que será editado, diagramado e finalizado para um suporte específico, que pode ser o impresso ou o digital. Uma das etapas mais importantes é Primeira Mão | Setembro de 2013

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o projeto editorial, no qual a obra ganha um conceito para que todas as partes do livro (texto, capa, marketing, distribuição) estejam conectadas. A captação do original, que pode ser disputada em leilão com outras diversas editoras, também é uma das diversas etapas da produção de um livro. Além disso, entre os passos estão a preparação e a edição de texto. Sem contar o projeto gráfico do livro e da capa, que merece atenção especial. Ao longo de sua carreira, Gabriela acompanhou o crescimento do consumo de livros digitais. Para ela, nós estamos inseridos em uma cultura influenciada pelo advento da cultura digital e seus meios de comunicação. “Com a internet, a influência das novas mídias e de dispositivos móveis, a leitura não ficaria de fora dessa tendência. Se nossas relações, comunicação e história, estão sendo fortemente influenciadas pelo digital, nada mais natural do que o livro digital ser cada vez mais incorporado às nossas vidas”, afirma.

ta. Criado pela International Digital Public Forum (IDPF), um e-pub é feito a partir de arquivos em HTML (extensão usada nas páginas de internet). Já os e-books (electronic books, livros eletrônicos), acrescenta, são uma classe geral de arquivos de texto e podem ter vários formatos. As extensões mais conhecidas são .doc e .pdf. Diante disso, existem grandes diferenças entre a produção de um livro que será impresso e de um livro que será disponibilizado na plataforma digital. “A primeira diferença é a conceitual. O suporte, seja ele impresso ou digital, é o meio. E a aproximação entre o meio e a mensagem é imensa. Em um livro impresso, por exemplo, o projeto deve considerar o tipo de papel, a fonte a ser utilizada. Já o e-pub possibilita o redimensionamento de página, ou seja, o tamanho da fonte perde a importância, porque o leitor pode alterá-la. No digital eu posso inserir um vídeo, disponibilizar links com referências para o leitor, enfim, as possibilidades são inúmeras e estão apenas começando a ser exploradas”, afirma.

Você pode baixar um livro impresso em outro país em questão de minutos, sem pagar uma exorbitância por isso.

Para Gabriela, o livro digital não é um desdobramento do livro impresso. Desenvolver um livro digital do zero ou adaptar uma obra já existente em papel para o formato e-pub é completamente diferente. “O e-pub (electronic publication, publicação eletrônica) possui funcionalidades distintas, distribuição diferenciada e, muitas vezes, alcançará outro público. O novo suporte oferece inúmeras e incríveis possibilidades e potencialidades”, salien-

Herta Torres, especialista em responsabilidade social, lê livros em plataformas digitais desde 2009. Começou a se interessar quando havia indisponibilidade de livros que ela gostaria de ler em formato tradicional no Brasil. “Me acostumei rapidinho e hoje não passo um dia sem ler no meu Kindle, que por sinal é uma ferramenta excelente, porque Foto: Cecilia Moronari

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é portátil e fácil de ler”, conta. Além disso, revela que não deixou de ler livros impressos e que, só compra, quando a publicação tem imagens importantes, ou até mesmo uma capa interessante.

Acredito que podemos esperar o hibridismo. Acho que o trabalho realizado com o conteúdo começará a ser pensado por uma perspectiva mais ampla, mais interfaceada e, sobretudo, multimídia.

Alguns fatores contribuíram fortemente para o crescimento do consumo de publicações digitais. Uma das razões é a redução dos custos dos dispositivos de leitura, o que fez com que mais pessoas pudessem ter acesso a eles. “A facilidade da compra em versão digital é outro fator. O leitor paga via cartão de crédito, baixa e em poucos minutos tem o livro em mãos. Além disso, o livro digital chega facilmente em locais onde há dificuldade de instalação de livrarias físicas. Outra razão para o crescimento é a questão ambiental. Eles não são impressos, e a maioria deles nem pode ser, indo ao encontro da tendência ecologicamente correta, tão em voga atualmente”, completa Gabriela. Sobre o que será do futuro das publicações, de um modo geral, muitos entusiastas acreditam que o impresso será substituído pelo digital. As opiniões são divergentes e, embora vários outros também sejam contrários a essa posição, tem quem aposte que os livros impressos ainda continuarão reinando por muito tempo. “Carregamos uma herança de seis mil anos de história do livro. Por mais influenciados que sejamos pela cultura digital - que de fato, modificou nossa subjetividade e, consequentemente, nossas formas de comunicação - isso não será deixado para trás assim”, afirma Gabriela. Os livros digitais podem resolver questões que os impressos não podem e, portanto, também têm o seu devido lugar na história da humanidade e da sociedade. Para ela, no futuro, o digital aumentará a sua penetração onde o impresso não alcança e resolverá questões que o impresso não consegue. É o caso de livros científicos específicos, que servem para fontes de pesquisa, mas que não estão mais

Ilustração: Divulgação

disponíveis de forma física.

Ainda sobre o futuro das publicações, Gabriela faz uma aposta. “Acredito que podemos esperar o hibridismo. Acho que o trabalho realizado com o conteúdo começará a ser pensado por uma perspectiva mais ampla, mais interfaceada e, sobretudo, multimídia. Há espaço, leitores e necessidade tanto de um quanto de outro. Ao receber o conteúdo, ou desenvolver um projeto, os editores começarão a pensar em diferentes suportes e saídas para o mesmo. Isso é excelente, pois quem ganha é o leitor. No entanto, trata-se de um processo que está em fase inicial e ainda há muito a ser feito. Eu costumo dizer que, de fato, o desenvolvimento do livro digital está apenas no início, pois exige uma mudança de pensamento, uma mudança na forma de entender e conceber o livro”, conclui.


SOCIEDADE TAMIRES MAZIN, KAROLINE LYRIO E JOÃO CARLOS FRAGA

A tecnologia como extensão

do corpo

Foto: Karoline Lyrio

Corpo humano e máquina: uma discussão importante para que, no futuro, o homem não se torne um escravo da máquina.

As máquinas foram e são criadas como paralelos das partes do corpo, e é por isso que acabam se tornando extensões do nosso corpo”. Essa frase do filósofo Vilém Flusser, datada de 1979, exemplifica bem como as tecnologias são criadas de acordo com a forma física humana. Para entender isso, basta pararmos para refletir sobre estas analogias: as lentes das câmeras imitam os nossos olhos, os fones de ouvido assemelham-se a extensões do nosso sistema auditivo, e até mesmo os tablets e celulares touch estão, literalmente, a um toque de nossas digitais. Porém, até que ponto o ser humano deixa de ser orgânico e passa a ser mecânico? Renata Rezende, professora doutora do curso de Comunicação Social na Universidade Federal Fluminense, desenvol-

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veu um estudo sobre o corpo tecnológico em 2005 e acredita que “toda tecnologia pode ser usada em prol do homem. O risco, entretanto, é criar padrões que se tornem obrigatórios, modelos de corpos determinados”, definindo como as pessoas devem ser, de maneira que as deficiências se tornem problemas. O Centro de Reabilitação Física do Estado do Espírito Santo (Crefes) é uma unidade hospitalar dividida em cinco alas de tratamento. Nele, são atendidas, exclusivamente pelo SUS, pessoas com sequelas neurológicas e/ou ortopédicas que necessitam de reabilitação física e/ou auditiva. A Unidade de Tratamento Neurológico Adulto e Infantil (UTNAI) é responsável por auxiliar pacien-


tes que perderam algum tipo de função motora. Com o uso de adaptações, chamadas de órteses, os pacientes podem retomar suas atividades diárias, como digitar ou até mesmo comer com uma colher. Tereza Cristina Ceulin, terapeuta ocupacional, conta que atende à cerca de 50 pacientes por semana, que geralmente sofreram Acidente Vascular Cerebral (AVC) ou Traumatismo Crânio Encefálico (TCE). Além dela, a equipe de tratamento é composta por fisiatra, neurologista, fisioterapeuta, psicólogo, fonoaudiólogo e assistente social. A Unidade de Tratamento de Prótese e Órtese (UTPO) é o setor responsável pelo tratamento de pessoas com amputação. Cleilda Ribeiro Tótola, fisioterapeuta, conta que a diabetes é uma das principais causas da amputação, juntamente com graves traumatismos, câncer, hanseníase, doenças vasculares, infecções (osteomielite – infecção nos ossos) e má formação congênita. De acordo com Cleilda, cerca de 15 novos pacientes amputados chegam por semana ao UTPO. Após a amputação, o processo para que os pacientes recebam as próteses é longo. Eles passam por uma triagem, realizada por assistente social e psicólogo, em que é analisada a necessidade e a possibilidade do uso da prótese. Em seguida, o amputado é encaminhado para uma palestra, na qual são explicados os cuidados que se deve ter, tanto antes quanto depois da protetização, desde o enfaixamento correto do coto, até o posicionamento adequado dos membros amputados.

Renata Rezende explica que, na sociedade atual, nem todo mundo pode ter acesso a próteses ou formas de adaptações às suas deficiências. Esse fator pode gerar preconceito, além de um “problema estrutural”, já que as cidades não foram construídas adequadamente para locomoção de deficientes físicos. Ademais, gera-se certo desconforto e insatisfação para essas pessoas com limitações, pois elas não se sentem adequadas ao modelo padrão de corpo perfeito, criado pela indústria da moda, publicidade e cinema. Existem ainda algumas pessoas que fazem uso desse tipo de tecnologia sem uma verdadeira necessidade, como é o caso do implante de próteses de silicone nos seios apenas para aumentar o seu tamanho. As cirurgias plásticas acabam sendo a alternativa pela busca do corpo perfeito, tornando o ser humano escravo da sociedade consumista, da perfeição. Renata acredita que no futuro “iremos usar as máquinas com mais frequência e depender delas muito mais. Nossa memória, por exemplo, hoje está cada vez mais nos computadores. Enfim, continuamos humanos, mas a possiblidade de nossos corpos serem misturados às intervenções maquínicas aumenta razoavelmente”, conclui.

A fisioterapeuta explica que alguns pacientes que têm diabetes, por exemplo, não podem utilizar próteses, pois o esforço cardíaco e respiratório realizado para o uso delas é muito grande. Isso pode causar complicações e fazer com que o paciente venha a amputar outro membro. Eles não são como os pacientes amputados devido a acidentes. A doença ainda está presente no organismo deles, o que torna a luta constante, e o tratamento mais complicado. Depois da palestra, os pacientes passam aproximadamente dois meses modelando o coto para que a prótese se encaixe de maneira viável. Após a protetização, o paciente recebe acompanhamento fisioterápico. O tempo de tratamento, desde a triagem até que o paciente receba alta, é longo, geralmente de oito meses a um ano. “Ainda não me sinto normal”, diz o adolescente JDG de 16 anos, morador da cidade de Colatina que, após sofrer um acidente de moto, perdeu parte da perna esquerda. Depois de passar por acompanhamento médico e psicológico, ele está se adaptando ao uso da prótese transtibial (indicada para casos de amputação abaixo do joelho), e fazendo fisioterapia uma vez por semana.

Foto: Karoline Lyrio


DICAS MAGALLI SOUZA LIMA

Sem eles os celulares são apenas celulares

Aplicativos como Whatsapp, Instragram, Youtube e Google Maps estão entre os mais baixados e usados por usuários de smartphones, tablets e celulares. Entretanto, para além dessa variedade, existe uma imensa gama de outros aplicativos que também têm ótimas funcionalidades e estão ganhando seus espaços.

Vine Lançado em Janeiro deste ano pelo Twitter, a função do Vine é conectar pessoas por meio de vídeos rápidos de, no máximo, seis segundos. Ele funciona em formato de rede social, com perfil e permite que os usuários tenham seguidores, mas é caracterizado por ser compartilhado em outras redes. A novidade é que após o Instagram disponibilizar os mesmo recursos para seus usuários, o Vine lançou novas possibilidades, como classificação de vídeos, foco manual e a função de criação de Stop Motion, entre outros detalhes. Sistemas: IOS e Android Preço: Gratuito para download

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Ilustração: Divulgação


Waze Além de funcionar como uma espécie de GPS, o Waze é uma ótima ferramenta que possibilita saber, em tempo real, os locais que estão com congestionamentos ou interdições. É possível ainda encontrar rotas alternativas, saber quais são os postos de abastecimento mais próximos e baratos, e receber dados dos pontos mais conhecidos pela rota de sua escolha. E tudo isso pode ser compartilhado com seus amigos, já que o aplicativo também funciona como uma rede social. Ilustração: Divulgação

Sistemas: IOS, Android e Blackberry Preço: Gratuito para download

TuneIn Radio Esse aplicativo é voltado para quem gosta de escutar música e acompanhar o que acontece pelo mundo. Com o TuneIn Radio você tem acesso a mais de 70 rádios de diversos países. Ainda é possível fazer buscas de acordo com o seu gosto musical, procurar artistas, gravar programas, programar lembretes com horários e ouvir podcasts. É importante saber que o funcionamento só é efetivo com o uso da internet. Sistemas: IOS, Android e Blackberry Preço: Gratuito para download Ilustração: Divulgação

Zite Em formato de revista eletrônica, esse aplicativo divide em categorias os jornais e revistas de sua preferência e personaliza as informações que você deseja acompanhar. Com ele é possível ainda armazenar matérias para ler em outro momento, compartilhar conteúdos por e-mails e até em redes socais. Sistemas: IOS e Android Preço: Gratuito para download

Ilustração: Divulgação

Procreate Para quem trabalha com desenhos e quer um toque profissional na hora de criar, essa ferramenta te possibilita ter sensibilidade no traço, diversas opções de pinceis, 128 camadas para auxiliar na criação, além de até 250 níveis de “desfazer”, o que ajuda a não errar e apagar o desenho a todo o momento. Visto como um destaque, o Procreate tem ainda diversas opções de você deixá-lo personalizado à sua maneira. Sistemas: IOS e Android Preço: Gratuito (pacote reduzido). A partir de US$ 4,99 (pacote com mais opções). Ilustração: Divulgação


COMPORTAMENTO KARINA MAURO e PAULA GAMA

Os novos usuários de tecnologia

Foto: Paula Gama

A internet não é mais uma realidade apenas dos jovens. Uma pesquisa aponta que o número de pessoas com mais de 50 anos conectadas à internet cresceu 222,3% nos últimos seis anos.

S

ua mãe tem Facebook? Você conhece alguém que tenha a avó nas redes sociais? Já recebeu um comentário engraçadinho/constrangedor da sua tia em sua foto do perfil? Pois você não está sozinho. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), comprovou que nos últimos seis anos houve um crescimento de 222,3% no número de pessoas acima dos 50 anos acessando a internet, representando um total aproximado de 5,6 milhões de novas pessoas conectadas.

76 anos, ela decidiu entrar em um curso de informática, oferecido pelo Centro Comunitário do seu bairro. “Eu via meus filhos e netos usando o computador e pensava ‘Como eles são inteligentes! Um dia vou aprender a mexer nesse treco.’ Fui lá, fiz o curso e aprendi”. Em três meses Dona Dometilla recebeu o diploma de conclusão e se sente mais jovem, pois está conectada com outras gerações, além de muito mais feliz. Apesar de ainda não usar as redes sociais, ela não descarta a possibilidade de aderir ao Facebook em breve.

Na opinião da médica geriatra Daniela Gonçalves, o motivo desse crescimento é que as pessoas estão vivendo cada vez mais, tornando-se idosos com muito mais capacidade e funcionalidade do que antes. “A informática é cada vez mais presente na rotina das pessoas e é pré-requisito em cada vez mais situações. As pessoas usam mais a informática no dia a dia e envelhecem mais, com isso o número de idosos usando a internet aumenta exponencialmente”, explica.

Roseni Pereira também está se sentindo muito mais jovem por causa das redes sociais, “Eu gosto muito de conversar, com o Facebook posso falar com meu filho que mora na Bahia, meus amigos de longe, com todo mundo”. Quando suas amigas começaram a entrar nas redes sociais, Dona Rose não quis ficar para trás e começou a se interessar pelo mundo virtual. No início, tinha receio de usar o computador do filho e fazer algo errado, mas quando ganhou um computador de presente, tudo se resolveu. Aos 64 anos, cada dia é um novo aprendizado. Ela conta que até iniciou um curso de informática básica,

Para Dometilla Sperandio, a idade não importa. Aos

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mas abandonou antes de concluir: “Eu tinha pressa em aprender a usar o computador e no curso eles explicavam muito devagar. Parei de ir ao curso, mas se tenho alguma dúvida, pergunto à minha nora e ela me ensina rapidinho”.

Para a geriatra Daniela, as pessoas envelhecem em um contexto e devem participar dele sempre que possível. Os idosos são um grupo extremamente heterogêneo e cada vez maior, e vão ocupar progressivamente mais espaços no mundo contemporâneo. Por isso, não devemos nos assustar ao ver idosos cada vez mais conectados, usando as mesmas tecnologias que os jovens. Além disso, utilizar o computador pode ajudar os idosos a reduzir a perda de memória e a preservar a capacidade de raciocínio e aprendizado, prevenindo-se de doenças como o Mal de Alzheimer.

Um dos grandes desafios que os idosos enfrentam ao começar a aprender algo novo é a falta de memória, por isso, fazer lembretes em um caderno pode ajudar muito. Paulo tem um exemplo divertido em que a falta de memória interferiu em sua vida em rede. “Durante dois anos eu tive um blog de futebol, escrevia vários textos sobre os jogos, recebia comentários, fiz amigos. Mas um dia eu esqueci a senha e tive que deixar o blog pra lá”. Depois disso, ele comprou um bloquinho de notas, onde anota suas senhas e tudo o que aprende no dia a dia.

“A informática é cada vez mais presente na rotina das pessoas e é prérequisito em cada vez mais situações”.

Paulo Roberto é outro que não vive sem internet. Aos 64 anos, já participou de diversas redes sociais: Orkut, Twitter, LinkedIn, Facebook. Ele já está totalmente imerso no universo da web e confessa que quando o sinal da internet cai, fica de mau humor. “A internet me fez muito bem, me sinto rejuvenescido, pois tenho contato com as novas gerações. Até aprendi a falar inglês com a ajuda da internet”. Paulo conta que já está craque. Lê notícias, entra em blogs e sites de idiomas, mas há sete anos, quando começou a aprender, teve muitas dificuldades. “Meus filhos me ensinaram bastante, mas eles tinham pouca paciência, reclamavam de ter que me ensinar várias vezes a mesma coisa. Com o tempo eu fui pegando a manha, comecei a anotar tudo em um caderninho e estudar todos os dias, isso me ajudou a exercitar a memória”.

Dona Maura também derrubou estereótipos. Aos 72 anos, ela é apaixonada por artesanato, dá aula de crochê e usa a internet como um complemento para a sua paixão, pois ali encontra ideias e modelos para seus trabalhos. Ela começou a se interessar em usar o computador três anos atrás, já que ao ver o seu neto sempre conectado despertou sua curiosidade. Assim como Dona Rose, ela começou a fazer um curso de informática, mas desistiu porque tinha pressa em aprender a usar a internet. “No curso eu aprendi a ligar o computador, eu não sabia mexer em nada. Mas depois eles começaram a ensinar coisas que eu nunca mais iria usar, como fazer tabelas. Aí eu comprei uma apostila e pedi ao meu neto para tirar minhas dúvidas”. Maura Locatelli, também usa a internet para se comunicar com as amigas e a família.Segundo ela, estar conectada é uma fonte de prazer no tempo livre. “A internet é um vício gostoso, faz muito bem até para a minha autoestima. Antes eu fazia crochê, saía pra dar aula e quando chegava me sentia sozinha, agora com a internet eu procuro modelos, compartilho com as minhas amigas. É como se eu estivesse conversando com elas aqui”.

Solução para a exclusão social Uma pesquisa realizada na Universidade de Brasília pela jornalista e doutora em Sociologia Janara Souza, em 2009, procurou investigar o que mais atraía os idosos na internet. Aumentar as relações sociais por meio de e-mails e ferramentas de bate-papo, buscar novas amizades, trocar receitas e conteúdos, namorar, ter momentos de descontração e melhorar a autoestima foram respostas dadas pelos entrevistados. Todas as respostas têm a ver com interação social. Isso mostra que a internet é um importante espaço de sociabilidade para qualquer geração, principalmente para a terceira idade, se manter em contato com o mundo, afastando a exclusão social e a solidão. Os idosos que estão conectados, além de estarem socializando mais, estão exercitando as funções cerebrais, fazendo bem para a própria saúde mental. Para eles, o que era desafio de aprender algo novo se tornou companhia, entretenimento, juventude e saúde.

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Foto: Primeira Mão | Setembro de Paula 2013 Gama


CONSUMO ANDRESSA ANDRADE e LETÍCIA COMÉRIO

Tecnologia

nostálgica

Baseados emestéticas dispositivos, estéticasantigos, e conceitos antigos, produtoso reutilizam Baseados em dispositivos, e conceitos produtos reutilizam passado com tecnologia o passado com tecnologia atualizada atualizada. Foto: Letícia Comério

A

o longo dos anos, equipamentos tecnológicos mais sofisticados foram surgindo e antigas tecnologias foram sendo consideradas obsoletas, mas existem aqueles que olham para o passado com nostalgia, afinal, é nele que residem os fundamentos do que existe no presente. Tudo o que hoje se conhece como avançado é o resultado de uma evolução. Atualmente, tecnologias analógicas encontram espaço no mundo digital, também modernizadas. Design marcante é um diferencial para um produto, uma característica atrativa, pois foge do padrão convencional e chama atenção do consumidor. Criando harmonia, o retrô combina estética de um período passado com inovação, funcionalidade e tecnologia. Assim, marcas tradicionais estão trazendo de volta todo o charme de décadas anteriores para o conforto do século XXI. No entanto, como afirma a professora de Marketing da Ufes, Hervacy Brito, “Esse revival nunca é viver exatamente como era, mesmo que os produtos sejam

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os mesmos, existem outras leituras, outros usos”. Peças de décadas passadas em bom estado ou restauradas são chamadas de vintage, já as retrô são peças novas, produzidas com tecnologias modernas, mas que são inspiradas no vintage. Ambas possuem uma carga histórica e afetiva. Assim, nostalgia e marketing formam uma parceria de sucesso. A música é um exemplo que comprova isso. Em meio a tantas cantoras parecidas na cultura pop atual, Amy Winehouse e Lana Del Rey chamaram atenção e fizeram bastante sucesso justamente por usarem a estética e a sonoridade vintage, tendo nisso seu diferencial. Com a maior acessibilidade da internet, a velocidade da vida foi acelerada, as novidades aparecem mais rapidamente e seu consumo torna os produtos descartáveis e diminui o apego do consumidor. O acelerado processo de globalização atual faz com que o ciclo de vida dos produtos seja cada vez menor e a nostalgia desperta nas pessoas sen-


timentos de originalidade e sustentabilidade. Afinal, antigamente o mercado não produzia tanto e as pessoas tinham uma relação diferente com os produtos. Como eles não eram abundantes havia a necessidade de conservá-los mais, cuidava-se bem, pois tinha que durar anos. Hoje, o retrô gera bons negócios e alimenta um mercado fiel. O marketing se apropria da memória afetiva e da estética desses produtos para também vender novos produtos, como explica a professora Hervacy: “Toda vez que as empresas estudam uma área para investir elas não criam uma demanda, o marketing é sempre orientado pelo comportamento do consumidor e procura perceber mudanças e desejos e, então, trabalhar para satisfazêlos”. É desta forma que, com estrutura moderna, a marca Volkswagen relançou o icônico Fusca, agora chamado de New Beetle. Diferentemente do antigo modelo a edição atual não é mais um carro popular e o seu público alvo também mudou. Esse é o caso também da indústria fonográfica. No Brasil, a arte de colecionar vinil foi recentemente reimpulsionada devido à reabertura da Polysom, única fábrica de vinil da América Latina, que havia fechado em 2007. A empresa foi comprada pelos donos da gravadora Deckdisc e reativada em 2009, produzindo também vinis de artistas atuais. De acordo com o presidente da Polysom, João Augusto, em 2012, a produção de LPs aumentou 110% em relação a 2011, e no primeiro semestre de 2013, as vendas de vinil subiram 6%, em comparação com o mesmo período do ano passado.

Para Golias, dono do sebo Golias Discos, que compra, troca, aluga e vende vinil há 50 anos no Centro de Vitória, o CD tem pureza e beleza, mas dá defeito, arranha e vai para o lixo. Já o disco, além da sua durabilidade, não permite pirataria. “Não mexo com CD. Eu mesmo só peço pra decoração. Ele arranha e você joga fora. O vinil dura pra sempre” e observa “Quebrei em 1998 por causa do CD, mas veja só que ironia: o CD está em decadência e o LP voltando. Minha maior felicidade é continuar trabalhando com LP”. Ou seja, há demanda e público consumidor dessa antiga mídia. Um dos donos da Casa Martini, que vende, troca e compra aparelhos antigos e novos, Fabiano Martini, também diz que o som do disco é diferente do CD. “É um som mais puro. E vinil está querendo voltar agora. Está uma procura enorme, os clientes procuram mais aparelhos pra tocar vinil”, confirma Martini. Prova disso é que as vitrolas estão ficando escassas na loja. “Muitos estão querendo e quem tem não vende mais. A procura está grande mesmo!”, afirma. Consequentemente, para acompanhar esse retorno, toca-discos mais modernos estão sendo lançados em tamanhos menores, mais leves, e com entrada USB e para CD, conversor para mp3 e conexão para fones de ouvido. Começou com uma linha de frigobar e agora conta com geladeira e fogão. Unindo design à funcionalidade, a Brastemp conseguiu criar objetos de desejo e decoração, fazendo, inclusive, com que o produto migre da cozinha e ganhe destaque em outros ambientes da casa. Para a criação de sua

Foto: Letícia Comério

Foto: Letícia Comério Primeira Mão |Foto: Setembro 2013 Letícia de Comério

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linha retrô a marca envolveu equipes de design, tecnologia e marketing e desde seu lançamento teve grande aceitação. Estes equipamentos possuem preços mais altos do que a média da marca e são produzidos em menor escala, fazem parte de uma das linhas Premium. Esse retorno ao passado também chegou à produção de imagens. Em contrapartida a atual massificação da produção de fotografia digital, banalizada pelas câmeras de celular, a FujiFilm lançou em 2012, no Brasil, a Fuji Instax, câmera analógica de revelação instantânea, técnica consagrada pela famosa Polaroid. Grande sucesso na segunda metade do século XX, as câmeras de fotos instantâneas foram caindo no esquecimento devido à popularização das câmeras digitais.

Com o passar do tempo, o mercado voltou-se cada vez mais para as câmeras digitais e, por isso, em 2008, a Polaroid anunciou que iria abandonar a produção de filmes. Preocupado, o artista e empresário sueco Florian Kaps se mobilizou para comprar a última instalação de produção de filmes instantâneos da marca, localizada na Holanda. Assim foi criado The Impossible Project, empresa que passou a produzir novos filmes instantâneos e também alguns modelos de câmeras, sendo assim, responsável por trazer de volta as famosas Polaroids ao mercado. Outra marca que teve seu uso retomado foi a Lomography, que produz máquinas fotográficas pequenas e fáceis de usar, para facilmente serem transportadas e, assim, registrar o cotidiano, proposta semelhante ao que hoje é feito pelas câmeras de celular. A baixa qualidade do material da LOMO e sua alta sensibilidade proporcionam cores vibrantes e saturadas e mudanças marcantes na iluminação devido à fraca capacidade de captura de luz, que pode causar defeitos nas imagens, considerados um dos seus principais atrativos. O defeito se torna efeito, isto é, vira um diferencial de mercado.

Esse revival nunca é viver exatamente como era, mesmo que os produtos sejam os mesmos, existem outras leituras, outros usos

Durante anos, as Polaroids foram consideradas as câmeras com a tecnologia mais avançada do mercado, já que contavam com a característica única de imprimir as fotos na hora. Ela nasceu para atender a uma necessidade de uma época. A instantaneidade do resultado fotográfico, hoje tão óbvia, foi revolucionária para uma sociedade ainda analógica. Com a popularização das câmeras digitais, celulares com câmeras e aplicativos como o Instagram, hoje pode até ser mais fácil tirar fotos, ver e compartilhar o resultado na hora. Ver, mas não tocar.

O retorno a uma estética do passado também é um dos motivos para o grande sucesso do aplicativo Instagram. Com seus efeitos programados os que simulam fotografia analógica são os mais utilizados, principalmente os que tentam se apro-

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ximar dos resultados obtidos por uma LOMO, o que aumentou a popularidade da câmera e, consequentemente, sua venda. Gerente da Full Color, única loja que revela fotos em Vitória, Marcos Barbosa, conta que “Hoje a revelação é toda mecanizada. Existe uma máquina onde se põe o negativo e o processo é feito automaticamente. É inviável fazer manualmente como era feito antes”. E, a respeito das diferenças entre as plataformas, explica que “Fotografar no digital é muito frio, muito interpessoal, não tem envolvimento, não tem interação. No analógico tem uma relação no seu processo de criação tem participação do ser humano, tem envolvimento. Tecnicamente falando é ruim, mas culturalmente é genial”.

Um dos motivos para essa mudança é que o foco da família estava nos pais e hoje está nos filhos, na sua educação, em ter um número menor de filhos para poder investir mais neles. Então, esses jovens vão consumir com mais informação, poder de escolha e renda. Desta forma, a nostalgia, então, se configura em um produto que pode tanto consumido por aqueles que vivenciaram o contexto em que ele surgiu ou simplesmente por aqueles que querem experimentar uma época que não foi vivenciada, podendo achar o produto diferente e original. Nostalgia é um mecanismo de encantamento para os consumidores, pois mexe com seu imaginário. E o marketing estabelece um laço sentimental com esse tempo passado ao permitir o consumidor experimentar uma ligação emocional com o produto que mostra a força do passado como atrativo.

Se fossem pelos mais velhos essa cultura já tinha acabado, os jovens é que estão insistindo

O público que usa os filtros no celular está na mesma faixa etária de quem consome as câmeras analógicas, como afirma Marcos, “A cultura é cíclica, ela vai e volta. Se fossem pelos mais velhos essa cultura já tinha acabado, os jovens é que estão insistindo. Quem ainda revela, em sua maioria, são jovens”. Sobre essa mudança do público consumidor, Hervacy analisa, “Antigamente não havia essa variedade de produtos voltados pro mercado jovem, hoje você tem. O padrão de consumo do jovem de antigamente era muito pequeno, o poder de escolha deles também. E se você for olhar bem, não eram os jovens que tinham aparelhos tecnológicos antigamente, eram pessoas mais velhas, hoje não”.

“A tecnologia privilegia a preguiça. Não se pensa mais, tudo vem pronto”, considera Marcos, e esse trabalho a mais que os produtos antigos proporcionam são seu destaque. Inseridos em outro contexto, o que possibilita diferentes usos e releituras, o retrô é uma boa possibilidade de olhar para o passado não só como lembrança, mas também como inspiração, ele torna o vintage uma novidade. Assim, resgatar a estética do passado aliada a uma tecnologia moderna propõe novas experiências.

Foto: Letícia Comério

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Foto: Letícia Comério Primeira Mão | Setembro de 2013


COMPORTAMENTO SAMYLLA ANDREÃO e MARIANA MASSARIOL

Tutoriais: salvando pessoas

em minutos

Foto: Mariana Massariol

Está precisando aprender algo rapidinho? Com certeza tem um tutorial na internet pronto para te ensinar.

Você já buscou explicações através de textos, imagens ou vídeos na internet que pudessem te auxiliar em alguma tarefa? Se a resposta for não, saiba que existem muitas pessoas dispostas a ensinar e a aprender, e fazem isso por meio de tutoriais. Um tutorial é uma ferramenta de ensino que pode ser feita nos formatos de vídeo ou de texto. No segundo caso, o uso de imagens é opcional, podendo auxiliar na explicação. Os avanços tecnológicos trouxeram consigo câmeras digitais, webcams e celulares com câmeras de boa qualidade. Normalmente os tutoriais são feitos com câmeras digitais de qualidade bem acima das webcams e câmeras de celular. Os tamanhos foram compactados e os preços, reduzidos. Isso popula-

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rizou o uso desses equipamentos, facilitou a produção de vídeos caseiros e sua disponibilização via internet. Com essa diversidade de aparelhos fazer tutoriais e postá-los no YouTube virou febre entre as pessoas, e eles tornaram-se peça chave na blogosfera. Os textos dos blogs, sejam escritos ou falados – no caso dos vídeos -, são repletos de oralidade, o que passa a ideia de um diálogo entre amigos. Assistir um vídeo sobre maquiagem é como pedir dicas para aquela amiga que entende do assunto, sem o incômodo da abordagem. O vídeo está ali, à disposição, para ser visto a qualquer momento e em qualquer lugar.


Pessoas que entendam de um determinado assunto podem ser vistas como referência por quem não tem o mesmo entendimento. Por isso, há uma enorme procura por tutoriais de maquiagem, penteados, cuidados com a pele, unhas, receitas, e até mesmo programas de computador. Alice Salazar, Julia Petit e Camilla Coelho são muito conhecidas por jovens que querem informações sobre algum produto de maquiagem, desde sua qualidade até o modo de usar, ou que buscam ideias de como fazer penteados para eventos. Em entrevista ao apresentador Jô Soares, Julia Petit contou que começou a fazer tutorias para mostrar às amigas como era fácil fazer um penteado, por exemplo. Segundo ela, existiam muitos blogs sobre moda, mas poucos tratavam de maquiagem e cabelo. Os que existiam, eram, em sua opinião, chatos. O Petisco, blog de Julia, disponibiliza semanalmente tutoriais de maquiagem e cabelo, além de dicas de moda, estilo, músicas e viagem. Márcia Heringer, moradora de Cariacica, costuma fazer vídeos com dicas e resenhas de produtos. Ela acredita que essa iniciativa ajuda na divulgação do seu trabalho. “O meu canal – de tutoriais – em si me dá pouco retorno financeiro, mas acho que aumenta a minha exposição como profissional e, com isso, tenho trabalhado mais”, afirma. Para ela, são válidos o compartilhamento de opiniões e as novas amizades feitas. É válido ressaltar que muitas blogueiras recebem produtos mesmo antes de serem lançados no mercado. Com eles em mãos, gravam vídeos explicativos, resenhas e testes, o que gera uma enorme ansiedade nos seguidores do blog, e, muitas vezes, uma grande fila de espera nas lojas. Em alguns casos, elas chegam a receber dinheiro por esse tipo de divulgação. Camila Coutinho, do Blog Garotas Estúpidas, é uma dessas famosas blogueiras. Ela costuma mostrar os vários presentes que recebe: roupas, acessórios, maquiagem e até mesmo celulares. A estudante de arquitetura e urbanismo, Leticia Araujo, é adepta desse tipo de ferramenta, seja para aprender a fazer a maquiagem ou para auxiliá-la em alguma matéria da faculdade. “Já pesquisei sobre o meu curso em tutoriais, precisava fazer um trabalho para a faculdade e busquei tutorial na internet para ver como fazia”, confessa. Além dos temas citados, Leticia ainda assistiu tutoriais de customização de roupas, penteados, dicas de como arrumar o quarto e o que levar em uma viagem.

lá em casa ficam curiosos para saber o que eu vou fazer de diferente para comer.” Ela ainda conta que buscou em tutoriais para escolher qual celular comprar, pois estava em dúvida. “Quando fui trocar de celular, já que o meu estava meio velhinho, busquei ajuda em sites que comparavam celulares, e me ajudou bastante a escolher, agora busco aplicativos para ele, são tantos que às vezes não sei qual baixar”. E ainda completa “Não sei o que seria de mim sem esses sites de tutoriais, procuro de tudo neles”. Hoje é possível acompanhar todos os lançamentos, novidades, enfim, as últimas tendências. Os tutoriais nos ensinam como usá-los. Digitar “como usar” no YouTube é receber uma infinidade de possíveis terminações: como usar delineador, como usar fixador de penteado, como usar cílios postiços. Qualquer um pode ser “tutor”, ainda que não tenha muitos conhecimentos em informática. Programas de edição de vídeos estão aí, ao alcance de todos, e, caso você não saiba como usá-los, pode aprender - através de um tutorial, claro!

Tutoriais de tecnologia Quer saber qual celular comprar, qual é o melhor aparelho portátil para games, quais jogos serão lançados ou qual aplicativo pode ser útil, ainda que você não fizesse ideia que existisse? Isso tudo você também pode encontrar em um tutorial. Os sites TechTudo, vinculado ao G1.com, e o TecMundo mostram as novidades na área de tecnologia e compararam celulares semelhantes para que seus leitores escolham o que mais se adequa às suas necessidades. Além disso, comentam jogos e aplicativos e muitas outras dicas preciosas sobre os assuntos.

Cansei de miojo Muitos estudantes quando saem de casa não têm noção de como fritar um ovo, e não fazem ideia de como irão manter uma alimentação saudável longe da maravilhosa comida da mamãe. Esses estudantes podem ficar tranquilos! Na internet, sites como o Tudo Gostoso disponibilizam, além das receitas, o passo-a-passo de como elas são feitas. Isso facilita a vida de quem não quer comer apenas macarrão instantâneo e comida congelada.

Já a estudante de Engenharia Civil, Fernanda Freitas, costuma olhar em sites receitas de comidas para fazer nas festinhas que oferece em sua casa aos amigos. “Sempre olho em sites que mostram o modo de preparo de alguns pratos para fazer, aprendi a fazer um empadão maravilhoso, meus amigos adoram, sempre que acontecem as sociais Foto: Divulgação

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SOCIEDADE EDBERG FRANÇA e CRISTIAN FAVARO CARRIÇO

A geolocalização

muito além de um GPS Serviços de localização estão entre os aplicativos mais baixados por usuários de smartphones. Além de dicas sobre o trânsito, esses app’s fornecem informações que podem garantir a segurança e o bem-estar da população

Foto: Divulgação

O

s mecanismos de localização, já há algum tempo, são realidade em nosso cotidiano. Localizar-se virou uma tarefa habitual e divulgar essa localização faz parte do universo de milhões de pessoas conectadas às redes sociais e dispositivos que realizam essa função.

A geolocalização vai muito além de um GPS no celular. Seu uso pode melhorar, entre outras coisas, a oferta de serviços de bares e restaurantes, por exemplo. É o caso do Foursquare, considerado um dos principais aplicativos que utilizam os serviços de geolocalização. Com ele, você pode opinar sobre cidades, restaurantes, bares e cinemas que visita, além de fazer avaliações dos serviços prestados nesses locais. O app, ainda, certifica os usuários de acordo com a frequência nos locais. Por exemplo: se você faz check-ins frequentemente em um determinado local, as chances de você se tornar Prefeito (maior certificação atribuída a um usuário no Foursquare) do lugar são enormes. Outro aplicativo de geolocalização bastante

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popular é o Waze, um dos mais populares navegadores GPS, cujo uso já é bem expressivo no Brasil. Os últimos números informam que já são 2,1 milhões de usuários somente no país. Ele mostra a situação do trânsito naquele exato momento, de acordo com informações enviadas pelos próprios usuários. Mesmo que você não queira ter o trabalho de fazer anotações, basta deixá-lo aberto, ele envia a velocidade do seu carro e a rua onde você trafega, o que já abastece automaticamente a base de dados sobre o trânsito naquela parte da cidade. No mundo todo, estima-se que cerca de 40 milhões de usuários estão ativos no aplicativo.

Bem mais que um check-in Diretor Técnico e sócio fundador da Geocontrol, empresa capixaba especializada em criação, desenvolvimento e produção de tecnologia, Luiz Lozer, atribui esse crescimento de aplicativos de localização à necessidade do “onde” e ao poder que as


Ilustração: Divulgação

pessoas têm de localizar tudo e todos. “É possível detectar frotas inteiras, forças de trabalho e consumidores. E isso é bastante útil”. Pensando nessa praticidade e na importância desse sistema, a Geocontrol, produz softwares avançados que permitem maior eficiência no desenvolvimento do trabalho de setores públicos que zelam pelo bem-estar da sociedade.

de saída do transporte e também de chegada ao seu local de destino, podendo esta ser variável de acordo com as situações do trânsito, além de acusar se o itinerário a ele estabelecido foi cumprido ou não. “Se as coordenadas estabelecidas pelo trajeto dos ônibus forem descumpridas, automaticamente um alarme é disparado, gerando uma infração para aquele veículo”, explica Luiz.

Todo esse turbilhão de localização teve início com a cartografia e foi se expandindo com uma modificação nos sistemas. “Nós tivemos a sorte de ter o sistema GPS disponível. Existia um “erro” no GPS que era proposital. Ele dava uma precisão de apenas 300 metros quando se tentava localizar algo. Ele era muito bom pra achar uma cidade, mas não uma rua. Eles tiraram esse “erro” e começamos a ter a precisão de 5 metros”, esclarece Lozer.

Segundo Lozer, “antigamente, muitos motoristas descumpriam o itinerário estabelecido com receio de que houvesse atrasos durante seu percurso e, como não havia monitoramento naquela época, muitos lugares que faziam parte da rota obrigatória, eram simplesmente ignorados pelos condutores dos veículos”.

Luiz Lozer afirma que as perguntas “o quê?”, “quando?” e “onde?” são os três fatores principais que determinam toda essa demanda da população por serviços de geolocalização. O querer saber a todo e qualquer custo onde as coisas estão e como elas funcionam, apontam para o desenvolvimento, cada vez mais crescente, de plataformas úteis que atendam essa busca. Para Lozer, o programa que possui maior reconhecimento pela sociedade, dos quais a Geocontrol já desenvolveu, é o Sistema Pontual. O software, que combina a localização dos veículos dada pelo sistema de rastreamento veicular Georast, faz o agendamento de viagens determinada pelo Governo do Estado e a identificação dos veículos que farão cada viagem repassada pelas empresas. Uma das funcionalidades do software desenvolvido pela empresa é o controle de rastreamento de ônibus, gerando uma eficiência muito maior para o servidor que monitora as posições em que os veículos se encontram. O Georast indica o horário

Mesmo com todos os benefícios proporcionados pela geolocalização há, ainda, aqueles que a utilizam de forma inapropriada. Um exemplo é o aplicativo Waze, citado anteriormente, que fornece informações sobre o trânsito. Entre os serviços mais utilizados nele estão os alertas de blitz. Muita gente acaba utilizando o aplicativo como uma forma de burlar as leis. Para Lozer, “não importa o meio, nem a tecnologia, o importante é a maneira que as pessoas usam. Para tudo na vida nós vamos ter meios de usar mal as coisas. O próprio automóvel, por exemplo, o que o faz tirar vidas é a forma com que as pessoas o usam”. Em relação à mania de publicar a localização nas redes sociais, Luiz ressalta que isso deve ser feito com toda prudência. “A pessoa pode divulgar a localização para um amigo, mas essa informação também poderá ser acessada por outra pessoa com segundas intenções. Precisamos ter responsabilidade e pensar nas consequências. É uma coisa que vamos ter que nos acostumar. O limitador é: você realmente quer que as pessoas saibam o tempo todo onde você está?”, questiona. Primeira Mão | Setembro de 2013

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EDUCAÇÃO MARIANA BOLSONI, VANESSA FERRARI e VIVIANN BARCELOS

Tecnologia e educação: muito além de quadros digitais Investir em tecnologia na educação é exercer a pluridisciplinaridade escolar, incentivar criações e estimular novas maneiras de olhar o mundo. Diferentemente do que muitos acreditam, investir em tecnologia na educação é muito mais do que equipar as escolas com equipamentos tecnológicos. Tablets, computadores e quadros digitais não são suficientes para estimular o desenvolvimento intelectual do estudante. Apesar da suma importância desses aparelhos, é necessário também investir em tecnologia na educação criando um diálogo pluridisciplinar nas escolas, colocando as disciplinas no mesmo nível hierárquico e agrupando-as de modo a fazer aparecer as relações existentes entre elas. Esse diálogo proporciona oportunidades a professores e estudantes de ampliar seu conhecimento e melhorar sua visão crítica. O ensino tradicional teve sua última reforma no início da década de 70. Tal reforma, realizada em um contexto de Ditadura Militar, objetivava o controle do ensino. O Estado, então, passou a traçar diretrizes e compor modelos educacionais que direcionam os professores e administradores da escola no sentido de seus interesses. Exemplo disso, foi a adoção do livro didático como mecanismo ideoló-

gico para a difusão dos saberes, limitando a capacidade crítica dos estudantes. Nesse momento, ao invés de ser uma base para a formação intelectual do indivíduo, a educação foi estabelecida como mecanismo de transmissão de ideologias, adquirindo caráter tecnicista (aquele que oferece muita ênfase à formação de competências e habilidades, mas nenhuma ênfase as atitudes do ser humano), deixando de lado a tão importante pluridisciplinaridade. Essas práticas educacionais, porém, devem ser reinventadas. Mais do que aparelhos, a tecnologia é um modo de enxergar o mundo que, na maioria das vezes, não é ensinado nas escolas. Graça Lobino, pesquisadora associada ao Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação Cientifica e Movimento Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente (GEPEC CTSA), do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), e professora universitária, afirma que a escola é constituida não só de disciplinas, mas também de todo contexto de ambiente e sociedade em que

Ilustração: Sub-Secretária de Ciência e Tecnologia de Cochoeiro de Itapemerim

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ela se coloca. “A mudança tem que ser na cultura. Historicamente essa área sempre foi negligenciada na estrutura e na organização curricular brasileira, na quase ausência do ensino dos professores que irão mediar esses saberes no ensino fundamental, especialmente nas séries iniciais da escolaridade. A tecnologia deve servir como melhoria das condições de vida”.

um pensamento de que a educação da pessoa está hierarquizada com as disciplinas de língua materna: português e matemática”.

É necessário iniciar uma nova cultura no que diz respeito à aplicação do conhecimento

A tecnologia no âmbito escolar, portanto, seria uma forma de ativar modos de conhecimentos e trocas de saberes e fazeres para potencializar o conhecimento do estudante. Vivenciando um contexto é possível transformar aquilo que está ao seu redor, contribuindo para uma inteligência coletiva, na qual todos possam colaborar e cooperar, independentemente de aparelhos eletrônicos. A formação dos professores é decisiva também para a formação dos alunos. É a partir desses profissionais que a escola define suas diretrizes e aplica a pluridisciplinaridade. Segundo a pesquisadora, não basta capacitar os professores em atuação. É necessário iniciar uma nova cultura no que diz respeito à aplicação do conhecimento. O professor, em sua formação, não foi ensinado a olhar o mundo a partir dessa perspectiva tecnológica, logo, ele não saberá transmitir aos seus alunos um conhecimento que não adquiriu, o que gera um ciclo negativo no processo educativo. Outra especialista no assunto é a professora Taísa Texeira, do Departamento de Pedagogia da Ufes. “Enxergar a tecnologia no âmbito educacional requer uma reforma de pensamento que busque uma nova maneira de ver conteúdo e disciplinas. Requer até mesmo repensar o que seria uma escola e o que seria ensino e educação e, por isso, a formação dos professores é essencial. Uma formação voltada para a não fragmentação dos segmentos e a não hierarquização dos conteúdos e disciplinas vai resultar em uma escola que também não vê a hierarquização do conhecimento como algo principal. Hoje, diz-se muito que o aluno tem que ler, escrever e contar. Isso nada mais é que formar

Para iniciar um novo ciclo, é necessário gerar políticas públicas que visem à nova formação de profissionais na educação e contrastar as visões oficiais presentes no sistema de ensino, construindo novos olhares. Para tanto, é necessário explorar os conhecimentos sob um olhar político social, tendo uma reflexão crítica. O desenvolvimento desse olhar promove uma nova visão do modo de vida, das condutas e de como as pessoas se colocam na sociedade. As políticas públicas contribuiriam para intensificar a ideia de que é necessário modificar e fornecer suporte para o processo de formação dos docentes.

De olho nas oportunidades Os resultados do investimento em tecnologia nas escolas tem um espaço garantido, todos os anos, durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, promovida pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Na edição de 2012, entre os tantos projetos selecionados para participar da Semana aqui no estado, o “Cão Guia Robô” ganhou visibilidade e conquistou o 3º lugar na categoria Desenvolvimento Tecnológico da Feira Ciência Jovem. O projeto foi desenvolvido por alunos da Escola Estadual Clovis Borges Miguel, localizada no município de Serra. Ele auxilia a locomoção de deficientes visuais e começou a ser desenvolvido em 2011, no projeto de robótica educacional do programa Mais Tempo na Escola. A professora e coordenadora do projeto, Nedinalva de Araújo Sellin, conta que a direção da escola trabalha em função do incentivo ao desenvolvimento de artigos e projetos voltados para a tecnologia. “Os alunos fazem atividades extraclasse onde criam e desenvolvem projetos em prol da sociedade. Trabalhamos com interdiscipli

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naridade, assim o aluno consegue vivenciar todas as áreas e ter facilidade para escolher a profissão”. Segundo a professora, a escola pretende expor mais projetos na Feira de Ciências e Engenharia deste ano e, quem sabe, concorrer novamente ao Prêmio Ciência Jovem. Entre os motivos que a escola tem para estimular a criação de projetos, um deles é a Feira de Ciências e Engenharia, uma competição realizada dentro da Semana Estadual de Ciência e Tecnologia. A Feira assume um papel social de incentivo à criatividade e que, através do desenvolvimento de projetos, estimula a reflexão e a conscientização dos alunos. Para muitos estudantes, esse é o caminho para competições nacionais, como por exemplo, a Ciência Jovem, que reúne diversos trabalhos científicos de escolas de todo o Brasil com objetivo de mostrar a diversificada produção científica, desde a educação infantil ao ensino médio.

“Dois pontos fora da curva” Aqui no estado essa reflexão sobre a tecnologia no âmbito educacional é recente, entretanto, duas escolas públicas se destacam na produção e desenvolvimento de projetos que aguçam um olhar voltado para o ambiente social onde estão inseridas: a Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Filomena Quitiba, em Piúma, e a Escola Estadual de Ensino Fundamental Tancredo Almeida Neves, em Vitória.

A Escola Filomena Quitiba é uma das responsáveis por fazer o interior do estado se destacar. Tudo começou com a professora Carcilia, que levava seus alunos a São Paulo para visitar museus, teatros e eventos culturais e, quando voltavam, usavam da criatividade para mostrar como foi a visita. Hoje em dia, não há mais viagens, mas a escola não parou de produzir a Feira de Ciências, realizada anualmente. O evento, que busca a interdisciplinaridade e o envolvimento com a comunidade, se tornou cultura da escola. A diretora Fabiane Taylor, explica que os alunos são estimulados a produzir logo no primeiro bimestre. “Realizamos feira de ciências todos os anos e buscamos trabalhar com todas as matérias engajadas, assim os alunos levam a sério e se sentem motivados. O envolvimento da comunidade também é fundamental”. Este ano, na 28º Feira de Ciências, os projetos serão expostos na rua assim os pequenos cientistas também poderão desenvolver a oratória. Já a escola Tancredo Neves, localizada em uma das regiões com maior vulnerabilidade social da Região Metropolitana, é o espaço que recebe o projeto coordenado por professores do Ifes, que visa a formação de educadores sócio ambientais para promover a alfabetização científica de alunos do ensino fundamental a partir de atividades realizadas em torno de Hortas Educativas. Com o cultivo das hortas, os alunos tem a possibilidade de desempenhar atividades que envolvem diversas disciplinas aprendidas em sala de aula. Para

Foto: Secretaria Estadual da Ciência. Tecnologia, Inovação, educação profissional e trabalho

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Foto: Secretaria Estadual da Ciência. Tecnologia, Inovação, educação profissional e trabalho

o seu sucesso, o desenvolvimento do projeto não é somente dentro da escola, mas também conta com a participação dos pais e de toda comunidade escolar. As escolas Filomena Quitiba e a Tancredo Almeida Neves não representam a maioria das escolas do estado. O professor de química Rodolfo Boone afirma que os professores possuem ideias e força de vontade, porém, por falta de verba não levam os projetos a frente. “Em 2011, foi realizado um projeto a nível nacional, no qual os alunos deveriam criar maneiras sustentáveis para economia de

energia elétrica. O projeto foi desenvolvido pelos alunos junto aos professores de química, física e biologia, mas como era fora de nossa cidade surgiriam custos, o que impossibilitou a concretização do projeto”.

Caso Coreia Até os anos 60, a Coreia do Sul apresentava níveis sociais e econômicos comparáveis aos países mais pobres da Ásia. Após a Guerra das Coreias, no final da década de 50, e com forte investimento na educação básica, o país cresceu significativamente: em Primeira Mão | Setembro de 2013

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menos de 50 anos se tornou a maior exportadora de tecnologia no mundo. O investimento na educação é prioridade para os coreanos. A estratégia utilizada pelo país foi investir no ensino básico, desenvolvendo e aperfeiçoando as aptidões dos alunos. Ao chegar no ensino médio e superior, o estudante está capacitado para colocar em prática o aprendizado adquirido durantes seus primeiros anos de formação. É válido ressaltar que a formação dos professores, o investimento em material de apoio e a melhoria da estrutura e funcionamento das escolas, combinado com a cultura de valorização do ensino, também foi decisiva para o avanço do país. O incentivo à educação não é só por parte do governo. Empresas privadas como a Samsung, LG, Kia e Hiunday possuem sede no país e, com interesse de agregar futuros profissionais, monitoram os estudantes e investem em seu desenvolvimento. O objetivo é lapidar talentos individuais e transformar

potencial em resultados concretos. Os jovens, inseridos em uma competição tecnológica, sabem que no futuro poderão ser recompensados por suas habilidades e pelo seu esforço. A situação no Brasil é outra. Além do investimento público no ensino superior ser significativamente maior que no ensino fundamental, o incentivo privado é recente e não estimula o estudante a desenvolver projetos, para que no futuro possam vir a agregar seu conhecimento à empresa. O que se apresenta como um horizonte mais próximo é pensar em uma reinvenção da educação. A educação que hoje é feita nas escolas ainda precisa de muitas medidas que contemplem, por exemplo, a não hierarquização das disciplinas. Dos passos mais urgentes, a renovação na formação dos professores, a disposição política para adotar esse novo olhar e a sensibilização da sociedade para repensar o que é ensino, educação e tecnologia, pode fazer com que a educação no Brasil tome novos rumos.

Interdisciplinaridade

Pluridisciplinaridade

Processo de integração recíproca entre várias disciplinas e campos de conhecimento. Constitui uma associação de disciplinas, por conta de um projeto ou de um objeto que lhes sejam comuns. Um conteúdo sobre o meio ambiente, por exemplo, pode ser aplicado dentro de várias matérias em atividades de: Língua Portuguesa, Matemática, Ciências, Artes, Geografia e História.

É a justaposição de diversas disciplinas situadas no mesmo nível hierárquico e agrupadas de modo a fazer aparecer as relações existentes entre elas. Ao estudar a violência, por exemplo, poderia ser estudado conceitos e pesquisas oriundas das áreas da Pedagogia, Sociologia, Psicologia, bem como contar com a participação de colegas especialistas nessas áreas do conhecimento.

Como bancar um projeto? Várias são as oportunidades para quem tem interesse em desenvolver o seu projeto aqui no estado. Veja algumas delas: Programa de Iniciação Científica Júnior (PIC Jr): incentivo para orientar alunos da educação básica no desenvolvimento de projetos de pesquisa cientifica e tecnológica. Iniciação Cientifica e Tecnológica (ICT): oferece bolsas para estimular estudantes de graduação para a carreira científica e tecnológica, por meio do aprofundamento do conhecimento. Bolsa Pesquisador Capixaba (BPC): destina-se a pesquisadores com doutorado. A bolsa visa ao aumento da produtividade, refletindo diretamente no número de pesquisadores capixabas bolsistas de produtividade no Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico (CNPq).

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feito à mão

Redes (anti)sociais Viviann Barcelos

Eu gosto de redes sociais. Gosto muito, por sinal. Tenho como ‘’amigos’’ meus amigos, familiares, pessoas que gostaria que fossem meus amigos, pessoas que falei um ‘’oi’’ uma vez na vida, gente que nem fala comigo na rua... Porém, acredito que essa plataforma de comunicação, o Facebook, criou uma necessidade que aprisiona muita gente. Vivemos em uma cultura de notificações, em que a todo momento o universozinho ali de cima tem que indicar uma novidade. Muitos não sabem, porém, que esse universo não representa o mundo real e que as melhores novidades estão fora dele. Quem disse que era apenas uma modinha, enganou-se. Em uma sociedade em que as relações são cada vez mais intensificadas no universo virtual, os verbos “curtir” e “compartilhar” passaram a ter muito mais valor. Vivemos, pois, em um reality show virtual, vigiando uns aos outros e fazendo verdadeiros paredões online. Essas características pós-modernas demoraram a chegar à minha casa. Aos 15 anos, como presente, ganhei um computador daqueles grandalhões, com o monitor que ocupava quase a mesa inteira. Lá em casa não tinha internet e, para ser sincera, nem na minha rua tinha. Embora eu adorasse aquela máquina, ela ainda não era o centro das atenções. Com o passar dos anos, porém, a necessidade de ter internet para substituir as bibliotecas reais pelas virtuais foi notória. Colocar internet, entretanto, não foi o suficiente, o que nos fez trocar de computador. Isso também não foi o suficiente para três pessoas dentro de casa – dois universitários e uma dona de casa. Na tentativa de melhorar as coisas, comprei um notebook; depois meu irmão comprou um tablet; depois nós dois compramos um celular com tecnologia Android; depois demos um celular com tecnologia Android para minha mãe. E as coi-

sas vão bem por enquanto, mas minha mãe já avisou que comprará um notebook para ela. Um dia, estava eu na sala da minha casa, online no chat do Facebook e minha mãe, no quarto ao lado da sala e também online no chat, quando, de repente, subiu uma janela: “Minha filha, traz um gole de café para mim?”. Assim eu percebi que aquilo que eu estudo não está presente apenas na minha faculdade, entre eu e os meus amigos, mas também – e bem notoriamente – bem debaixo do meu nariz: em minha casa. Não sou uma crítica de mal com a vida e, muito menos, de mal com a internet. Acho que os bytes de conexão trouxeram benefícios incontáveis para a sociedade. Mas penso que não me identifico com a lógica de exposição das redes sociais. Minha vida, simplesmente, não é interessante o suficiente para ganhar curtidas alheias e, ainda que fosse, prefiro muito mais que aquilo que é só meu, a minha privacidade, seja zelada. Excesso de mimimi gera muito blábláblá. Tem gente que gosta de redes sociais, assim como tem gente que gosta muito, tem gente que gosta demais e tem gente que nem gosta. O que é impossível é não reconhecer que a sociedade do espetáculo está cada vez mais superlotada, e nela sempre cabe mais um para “falar o que pensa”, perpetuando estereótipos e preconceitos. Sempre cabe mais um para expor o outro e, principalmente, a si mesmo. E o cafezinho, que antes era pedido na voz da minha mãe, agora é pedido pelo chat. Pelo menos ela não publica na minha linha do tempo, imagine só... Primeira Mão | Setembro de 2013

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