Primeira Mão junho 2018

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nº 149 junho/2018

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FÉ INTOLERÂNCIA AGRESSÃO p. 17 Geração Z e sua primeira eleição p. 04 Tá liberado! Games são modalidades esportivas p. 28


PRIMEIRA EDITORIAL MÃO Futebol, política e religião. Agrupando esses três assuntos, já ouve-se logo o complemento clássico: não se discutem! Mas porque não, se estes talvez sejam os assuntos mais presentes na vida do brasileiro? Com essa pergunta em mente, a equipe da Primeira Mão, a Revista Laboratório do curso de Comunicação Social da UFES, decidiu romper fronteiras e estourar as bolhas de comodidade colocando esses temas em discussão. Nos apropriamos da função crítica do jornalismo para mostrar que devemos nos desafiar e explorar os assuntos, principalmente os em que existe uma grande possibilidade de divergência. Para isso, a Primeira Mão, nesta segunda edição do ano de 2018, produziu reportagens que exploram as diferenças, que extrapolam o limite do comum e que levam um conteúdo exclusivo para o leitor. Saímos do factual e colocamos em pauta verdadeiras discussões de importância ao explorar as crenças, descrenças e gostos dos brasileiros. Com a tão conhecida tríade “futebol política e religião” como temática, a segunda edição da Primeira Mão não poderia deixar de trazer temas de impacto. A questão do aborto nas mais diversas religiões e a intolerância religiosa são algumas das matérias que vem para mostrar que, apesar de ser uma revista laboratório, estamos aqui para falar sério. Reportagens que exploram também temas da modernidade, como os esportes online, ou que elucidam dúvidas coletivas, como matérias sobre coligações e primeiro voto, vem para complementar essa ediçao e mostrar que discutir esses temas, é, além de possível, muito necessário. Turma do 6º período de Comunicação Social - Jornalismo

fb.com/primeiramao jornal1mao@gmail.com @revistaprimeiramao

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POLÍTICA p. 04 O meu primeiro voto p. 11 Para onde vai o meu voto?

RELIGIÃO

ESPORTE

p. 13 Religião e Ciência:

p. 28 Muitos mais que um

p. 17 Intolerância religio-

p. 36 Mulher, conheça sua

do conflito ao diálogo

sa: o medo do desconhecidoconflito ao diálogo

“joquinho” força!

p. 21 Jovens pela fé p. 25 Aborto: a polêmica do direito à vida

Primeira Mão é uma revista laboratório, produzida pelos alunos do 6º período do curso de Comunicação Social/Jornalismo, da Universidade Federal do Espírito Santo. Av. Fernando Ferrari, 514, Goiabeiras | Vitória - ES CEP 29075-910 jornal1mao@gmail.com. Ano XXVII, número 148. Semestre 2018/1 Reportagem e edição: Carolina Moreira Matheus Andreatta Professor Orientador: Ana Luisa Monteiro Rafael Bellan Danielle Gonçalves Paulo Marcos Angelo Parrela Diagramação: Eliza Frizzera Richele Ribeiro Bernardo Barbosa Bruna Pereira, Carolina Gessica Lopes Silvia Fonseca Bruna Pereira Moreira, Henrique AnHenrique Andreão Thais Marchesi Camila Nascimento dreão, Richele Ribeiro Izabela Bellumat Thaisa Côrtes PRI MEI RA

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POLÍTICA

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O meu primeiro voto

Há pouco menos de 5 meses para primeiro turno das eleições, a geração Z terá sua estreia nas urnas em busca de um Brasil melhor. Thaísa Côrtes

Fonte:TRE-ES

Desde as últimas eleições presidenciais brasileiras, em outubro de 2014, muitos foram os acontecimentos que mudaram o cenário político, e que ainda mudam. De lá pra cá, a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), que havia ganho a reeleição sofreu um impeachment; políticos de 14 partidos foram denunciados e investigados pela Operação Lava-Jato, tendo, por exemplo, o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB) preso. O caso mais recente e simbólico foi a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 7 de abril deste ano. Os últimos quatro anos foram os dos mais emblemáticos na política brasileira e traz para as eleições de 2018 uma urgência de mudanças, tanto ideologicamente, quanto politicamente. É nesse contexto de profundas transformações e conturbação, além da esperança por um Brasil “melhor”, que

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a geração Z, os nascidos no final da década de 1990 irão estrear nas urnas. O primeiro voto vem carregado de deveres e muitos jovens tentam adiar o máximo possível a responsabilidade de escolher um candidato para representar as ideias nas quais defendem: alguns por desinteresse pelo tema, outros por medo do compromisso. O voto brasileiro é obrigatório para todos os cidadãos maiores de 18 anos e menores de 70. E, desde a Constituição de 1988, a chamada Constituição Cidadã, é facultativo para os jovens a partir de 16 anos e para os acima de 70 anos. Marcos Roberto é Chefe do Cartório da 57ª Zona Eleitoral, em Vila Velha, município de maior colégio eleitoral do Espírito Santo nas últimas eleições (2016) e esclarece a importância de ter jovens participando do processo eleitoral brasileiro: “A impor-

tância maior é em relação ao fortalecimento da democracia. Quanto mais gente participando do processo eleitoral em si, serão mais opiniões e mais votos. Essa foi a intenção do Tribunal Superior Eleitoral ao liberar o voto facultativo para maiores de 16 anos”, assinala. No Espírito Santo, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral, verificou-se um crescimento acima dos 60% em relação aos jovens de 16 anos que procuraram pelos Cartórios Eleitorais capixabas para tirar o seu título nos anos de 2014 e 2016, e um crescimento de pouco mais de 30% dos jovens de 17 anos neste mesmo período. Esses números traduzem a realidade? Os números, entretanto, podem ir de encontro com a realidade que muitos vivem: a do desinteresse pelos assuntos políticos. Para o Cientista Político Irineu Barreto o ano de 2018 pode ser traduzido

Jovens Jovens com com título título de de eleitor eleitor Faixa etária

2014

2016

Homens de 16

1.819 (46,09%)

3.652 (50,5%)

Homens de 17

6.629 (46,14%)

9.492 (49,11%)

Mulheres de 16

2.128 ( 53,91%)

3.296 (49,5%)

Mulheres de 17

7.739 (53,86%)

9.839 (50,89%)

Aumento do número de jovens eleitores de 2014 para 2016.

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Marcos Roberto


POLÍTICA rados revisados, 10% foram de novos eleitores. “Foram aproximadamente 20 mil novos eleitores cadastrados só em Vila Velha”, indica. Irineu Barreto assinala que o ideal é que os jovens entrem na política pela via da sua própria realidade: “Assim como na escola que estuda, em sua comunidade, nos movimentos sociais. Pois dessa forma, a política ganha sentido e significado, uma vez que pode mudar a realidade na qual este jovem está inserido”. E foi dessa maneira que a caloura de pedagogia da Universidade Federal do Espírito Santo Marcelly Campos, de 18 anos, conheceu a política. A história tem início com a inspiração de sua madrinha, que é professora. Mas foi dentro da escola que Marcelly se viu aprendendo e colocando em prática. “No meu segundo ano passei a me interessar mais pelo assunto e foi justamente o ano que a Dilma sofreu o impeachment e que começaram a aparecer as propostas de reforma do Ensino Médio e também a PEC 241, que culminou com a

ocupação da minha escola”, lembra. Marcelly foi uma das alunas que ocuparam as suas escolas no processo de ocupação que aconteceu em outubro de 2016 em todo o Brasil contra a Proposta de Emenda Constitucional 241, que limitaria o aumento dos gastos públicos pelos próximos 20 anos. A escola de Marcelly, a EEEFM Almirante Barroso, foi a primeira no Espírito Santo a ser ocupada, e acabou influenciando mais de 60 outras, entre elas os Institutos Federais (Ifes). “Foi tudo muito ao mesmo tempo, antes de participar das ocupações eu já ía aos atos de ruas. E depois disso, ocupei também a Secretaria de Educação do Estado e já viajei a Brasília”, relembra a estudante. Marcelly garante que tem aprendido diariamente e que por causa da política conheceu outros movimentos: “Passei a conhecer mais o movimento feminista e me aproximando do movimento negro, pois de certa forma está tudo interligado. Você acaba percebendo qual é o seu papel nisso tudo”. Foto: Nunah Alle

como o “ano do desencanto na política” e o desinteresse se dá, especialmente, pelo assunto aparecer aos jovens sempre com uma perspectiva negativa: “A política aparece associada à corrupção, estruturas de poder arcaicas e burocracia, por exemplo”, explica Irineu, que também é docente do curso de Direito do Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas, em São Paulo. O termo ‘desconfiança’ traduz perfeitamente os sentimentos do estudante de Comunicação Social Arthur Gabriel Brisson, de 18 anos, que esse ano votará pela primeira vez, mas garante “não estar afim”: “Acho que o nosso país está sem esperança. Sempre que aparece algo relacionado à política, já ficamos desconfiados e fora os últimos anos que descobriram sobre a corrupção. Isso me desmotivou”, conta. Arthur ainda indaga: “Agora que o país está nessa lama de ladrões, em quem eu poderia votar?”. Mas, estimular a participação dessa nova geração nos processos que constituem a sociedade na qual ela vive e ter a percepção de que a política pode ser o acesso e/ou o espaço de transformação de suas próprias vidas não parece ser um caminho tão difícil a ser percorrido. Na última revisão do eleitorado realizada no município de Vila Velha, entre junho de 2017 e fevereiro de 2018, por exemplo, Marcos Daniel revela um aumento de jovens que procuraram os cartórios para tirar o título. Essa percepção reflete em números: dos 200 mil eleito-

A universitária Marcelly Campos em ato contra o Extermínio da Juventude Negra.

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POLÍTICA O que foi a PEC 241? A Proposta de Emenda Constitucional aprovada pela Câmara dos Deputados como PEC 241 e posteriormente pelo Senado como PEC 55, em dezembro de 2016, tem como objetivo limitar despesas com saúde, educação, assistência social e Previdência, por exemplo, pelos próximos 20 anos. Conhecida como a ‘PEC dos Cortes de Gastos’, ela motivou o movimento de ocupações estudantis de escolas públicas e federais, em outubro do mesmo ano. A importância do primeiro voto O desinteresse e a desconfiança do Arthur e a paixão e o engajamento da Marcelly, ambos de 18 anos e que votarão pela primeira vez este ano tem explicação. Para o professor Irineu Barreto o desinteresse é provocado pelo fato da política estar associada a algo negativo, enquanto o interesse acontece devido à experiência real no sistema. “A distância entre os jovens e a política é provocada por ela ser frequentemente associada a algo negativo, corrupto, arcaico. E o jovem não vê relação entre o seu mundo e o mundo da política. Por outro lado, àqueles que têm interesse já tiveram experiência real, como grêmio estudantil ou movimentos sociais, ou por influência familiar. Há várias famílias que

gostam e discutem política e isso é importante”, explica. O contexto político atual, porém, tem sido motivo também para o crescente desinteresse. Arthur acredita que o que mais tem desmotivado a não querer votar é devido a tudo que tem lido e assistido a respeito da política brasileira. Já Marcelly, apesar de ansiosa para participar pela primeira vez do processo eleitoral, não tem muita expectativa por ainda não ter um candidato. No entanto, o primeiro voto, ainda que dentro desta conjuntura atual, faz-se importante. “O jovem participa da sociedade, das mudanças da sua comunidade. Ele passa a pensar que a partir do voto poderá ajudar a gerir a sua cidade, o seu Estado e o país, além de ser uma voz ativa também para reivindicar melhorias”, compartilha Mar-

cos Roberto. Assim também acredita Marcelly, que dá ao primeiro voto o caráter de extrema importância: “Votar é um ato muito democrático, o de escolher quem você quer que te represente. E o primeiro voto acontece em um período de descobertas para nós e, além disso, estamos participando do processo de construção da sociedade”. A questão que a jovem coloca de escolha e de participação é explicado pelo Cientista Político Irineu Barreto como o processo de protagonismo. “O primeiro voto emancipa o jovem politicamente, o estimula a participar, a escolher e a cobrar do seu eleito. Além disso, o torna protagonista, o que deveria ser anseio de todos os jovens”, defende Irineu.

Irineu Barreto - Professor e Cientista Político

Primeiro título, como faço? Primeiro título, como faço? Se você tem 16 a 18 anos e ainda não é eleitor, mas está a fim de votar ainda esse ano: se liga nessas dicas: 1. Você tem até o dia 9 de maio para comparecer ao Cartório Eleitoral mais próximo de sua residência. Lembrando que o voto é obrigatório para os acima de 18 anos; 2. Você precisa levar um documento oficial que o identifique: Certidão de nascimento, RG ou carteira de trabalho; 3. E levar também um comprovante de residência; 4. Mas fique atento se você é do sexo masculino com 18 anos ou mais: é obrigatória a apresentação de comprovante de quitação com o serviço militar. Para maiores informações, acesse o site do Tribunal Regional Eleitoral do Espírito Santo, o TRE-ES: http://www.tre-es.jus.br

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“O primeiro voto emancipa o jovem politicamente, o estimula a participar, a escolher e a cobrar do seu eleito. Além disso, o torna protagonista, o que deveria ser anseio de todos os jovens”, defende Irineu.

Foto:Rodrigo Gavini

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POLÍTICA

POLÍTICA Fala Jovem!! A Revista Primeira Mão escutou alguns jovens de 16 a 18 anos para saber suas expectativas a respeito do primeiro voto e do processo eleitoral e descobriu que muitos ainda estão divididos, mas sabem da importância que o voto tem. A tempo, os menores de idade não serão identificados. também. Aos 16 anos eu não tinha confiança, por isso não votei. Por ser uma responsabilidade, é preciso conhecer o processo bem, tanto os candidatos, como as propostas.

M. O. C., 17 anos Meu plano era votar esse ano, só que a preguiça de ir tirar o título é muito grande. Vejo o ato de votar como uma obrigação, não com medo. E queria que ele fosse facultativo.

V. T. F., 17 anos Pretendo tirar o título antes do prazo final, pois quero votar esse ano, mas tenho encontrado certa dificuldade devido ao horário da escola.

P. S., 16 anos Já pensei em tirar o título sim, e pretendo ir antes do dia 9 de maio. O que me impediu de ir até hoje foi a burocracia e o tempo de demora, além da rotina de estudos. Queria que o voto fosse facultativo,pois acredito que a maioria da população não tem uma consciência política boa, é fácil de manipulá-la.

S. S., 17 anos Na verdade meu pai me obrigou a tirar o título, mas eu entendo que será uma eleição importante e vou votar sim, pois o voto representará minha voz na democracia. R. P., 17 anos Vai ser a primeira vez que eu vou fazer parte da escolha de um representante do nosso país, então me dá um certo receio de fazer a escolha errada. Mas estou pesquisando sobre alguns candidatos e acompanhando notícias à respeito.

G. P. R., 16 anos Como eu não me identifiquei com nenhum candidato, acho que não vale a pena ir até lá tirar o título. E. S. V, 16 anos Votar é uma responsabilidade muito grande. Até pensei em tirar,mas vou adiar o quanto eu puder. Mas gostaria que minha escola fizesse campanhas e palestras sobre política. Beatriz Souza Almeida, 18 anos É muito importante participar do processo eleitoral e uma responsabilidade grande

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V. R., 17 anos Sinceramente eu só espero que o Bolsonaro não ganhe, mas estou um pouco ansioso também para votar pela primeira vez. Ansioso porque é uma das formas que eu tenho de tentar mudar esse cenário político, votando em alguém que realmente queira fazer a mudança. FreePik


POLÍTICA FreePik

Isso é fake ou é news? Propagandas políticas liberadas no meio online, em especial, nas redes sociais. Uma geração que cresceu no meio virtual e sabe como ninguém utilizar as ferramentas que a internet dispõe. Uma crescente de boataria e notícias falsas, como em correntes de WhatsApp e posts compartilhados. Isso tudo soa como caos? Não para a Agência Lupa! A primeira agência de notícias do Brasil a se especializar na técnica jornalística mundialmente conhecida como fact-checking, isto é, a checagem de fatos, juntou-se ao Canal Futura para lançar, em fevereiro deste ano, o projeto “Fake ou News: é falso ou é notícia”, com o apoio da Google. Douglas Silveira é gerente de marketing da Lupa e bateu um papo com a Revista Primeira Mão. Confira na íntegra como foi: Douglas, como surgiu a ideia do projeto? Antes desse projeto surgir, nós temos o Programa Lupa Educação, criado em abril de 2017, cujo objetivo é dar treinamento para jovens universitários e profissionais de todas as áreas do conhecimento acerca do

processo de checagem. Nessas oficinas, percebemos a presença de muitos alunos do ensino médio, que queriam aprender sobre o factchecking e aplicar dentro dos seus estudos. Foi a partir disso que começamos a sentir a necessidade de, principalmente, focado nas eleições e naqueles que iam votar pela primeira vez, em como a gente poderia contribuir para que tivéssemos jovens que conseguissem checar os seus candidatos. E ajudá-los no que falamos sempre: votar consciente. E como eles podem utilizar o fact-checking para votar consciente? É saber fiscalizar, saber checar as informações, as promessas dos candidatos. Ter um discurso mais objetivo e mais profundo nas correntes de WhatsApp e nos grupos de família em relação ao que é colocado lá como ‘informação’. Nada mais que trabalhar com os jovens no sentido de orientá-los. Não temos o objetivo de dizer em quem eles devem ou não votar. Isso não é o trabalho da Lupa, de determinar qual é o melhor ou pior candidato. O nosso trabalho se resume em buscar as informações verdadeiras e apresentar isso aos leitores. Nossas matérias são todas linkadas e revelamos todas as nossas fontes, nenhuma fonte da Lupa é encoberta. Essa geração que votará pela primeira vez esse ano cresceu na internet e sabe utilizar muito bem as ferramentas online. Vocês perceberam essa demanda?

Exatamente. Quando a gente começou a perceber a presença desses estudantes do ensino médio nas oficinas, muitos até não tinham um repertório político aprofundado, mas havia uma pré-disposição para se buscar essas informações por justamente saberem mexer muito bem nos recursos onlines, as ferramentas disponíveis na internet. E como é o projeto “Fake ou News”? É um trabalho realizado em parceria com o Canal Futuro e com o apoio da Google, a fim de estimular os jovens e demais públicos o compromisso e a responsabilidade, além da necessidade de se duvidar e checar uma informação antes de compartilhar. Acreditamos que uma hora ou outra seremos vítimas de notícias falsas e queremos que eles entendam a importância de checar antes. Pois a ideia é alertar não só os jovens, mas o público em geral de que, na dúvida, não compartilhe. Essa é a premissa do projeto. Pensando nessa garotada é que surgiu o projeto ‘Fake ou News: é falso ou é notícia’, justamente também para desmistificar esse conceito de ‘fake news’. Uma vez que se é ‘news’ (notícias), é algo verdadeiro e foi checada. Além disso, esse termo tem sido usado de forma equivocada como adjetivo para atacar jornalistas, como é o caso de Donald Trump, nos Estados Unidos. O que contém na plataforma do “Fake ou News”? Vídeos produzidos pelo canal Futura, com particiPRI MEI RA

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POLÍTICA

POLÍTICA pação ou não da Lupa. Tem tutoriais, que chamamos de “Trilhas” e cada uma dessas trilhas têm um tema e são divididas por passos, onde cada passo vai mostrando de forma bem objetiva e didática as ferramentas, as informações, além de dar dicas sobre mitos eleitorais e questões ligadas ao processo eleitoral como um todo. Esse ano a plataforma será dedicada a segurança na internet, a checagem de dados e informações, onde mostramos algumas ferramentas fáceis de serem usadas e disponíveis na internet, com a temática: ‘antes de compartilhar ou opinar, chequem’. E tem alguma curiosidade? Utilizamos a linguagem jovem a nosso favor. Sabemos que muitos memes são utilizados para espalhar desinfor-

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mação, com isso, criamos alguns memes animados a favor da checagem e que podem ser compartilhadas no WhatsApp, Twitter e Facebook. A Lupa acredita que o primeiro voto é importante? Não temos uma campanha específica do primeiro voto, mas levantamos a bandeira da importância sim. O voto, na verdade, é o momento onde a gente tem voz, o momento que mais se pede a participação popular - nesse sentido para se construir uma sociedade mais democrática-, mas que para isso acontecer é importante o trabalho da checagem. Pois isso não vale só no campo da política, vale na vida como um todo. Acreditamos que quem tem boa informação consegue tomar decisões mais acertadas na vida.

Você sabia?

Não se pode afirmar que as eleições de 2018 serão as mais importantes da história democrática do Brasil, uma vez que é preciso checar os parâmetros de comparação para saber se são mais ou menos importantes. O que se sabe é que diante do cenário político e social atual, essas eleições serão de fato marcantes. Mas por que para a Agência Lupa também poderá ser significativa? Porque para estas eleições foram liberadas o uso de propagandas políticas nas redes sociais. E a Lupa é nativa digital, uma startup que nasceu nas novas mídias e que tem todo o trabalho em função disso. “Pensamos na quantidade de boataria e desinformação que possivelmente surgirá nesse período, uma vez que as redes digitais é um campo que facilita a disseminação dessas notícias falsas. Nisso, o nosso trabalho e a nossa responsabilidade aumentam muito”, explica Douglas Silveira.


POLÍTICA

Para onde vai o meu voto? Alguns candidatos com muitos votos não conseguem se eleger, enquanto outros com baixa adesão ganham cadeiras no legislativo

Isabela Bellumat Nas Eleições de 2016 Camila Valadão foi a quinta candidata a Vereadora com mais votos em Vitória e não conseguiu se eleger. Em Vila Velha, Joel Rangel também não conseguiu se reeleger para Vereador, apesar de ser o quinto mais votado. Esses candidatos foram prejudicados pelo modelo eleitoral do Brasil

que privilegia a coligação, levando em conta a quantidade de votos acumulados e não os votos para os candidatos individualmente. Uma coligação acontece quando um partido político se une à outros para garantir que seus objetivos em comuns sejam concretizados, sendo eles benefícios para o povo

ou garantir vantagens, como a representação federal e cadeiras políticas. Foi por esse motivo que candidatos como Camila Valadão do PSOL e Joel Rangel do PMDB não conseguiram se eleger, suas coligações não atingiram o coeficiente mínimo de votos, independentemente de serem um dos mais votados.

VOTO PROPORCIONAL As eleições para Deputados Estaduais, Federais e Vereadores funcionam seguindo um número mínimo de votos (coeficiente eleitoral) para cada município.Em Vitória,por exemplo, cada coligação ou partido precisa de 12.373 votos para eleger um candidato. Caso esse número seja maior, divide-se o maior número pelo coeficiente eleitoral. Por exemplo, se uma coligação obter 24.746 votos, pode nomear os dois vereadores com mais votos.

Referência: Site do TRE http://www.tre-es.jus.br/

CÁLCULO DO COEFICIENTE ELEITORAL

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POLÍTICA “O problema acontece quando políticos com ideais diferentes se unem para levantar mais votos para o representante da coligação” contrapõe Ana Paula Siqueira, Cientista Social e Ativista Política. Isso ocorre porque quando se está filiado a uma coligação, os votos obtidos por um candidato se transformam em um montante na somatória de seu representante na coligação. Para explicar melhor como essa parte do Sistema Político Brasileiro funciona, pode-se dividir as eleições em dois tipos de cargos, os Majoritários, compostos pela Presidência da República, Governadores, Senadores e Prefeitos, e os Proporcionais, formados pelos Deputados Estaduais, Federais e Vereadores. Sendo assim, é possível formar uma coligação, união

entre partidos, que lançarão um representante para ser candidatos a um dos cargos majoritários. Por exemplo, nas eleições de 2014 os partidos PROS, PSDB, DEM, SD, PEN e PRP se coligaram ao PMDB para lançar o representante Paulo Hartung a candidato de Governador do estado. Esta mesma coligação que elegeu Paulo Hartung, no entanto, pode se dividir entre outras coligações menores para lançar representantes aos cargos proporcionais. Com uma única condição, essas coligações filhas não podem ter ideais deferentes da coligação mãe. Veja no infográfico a exemplificação. Além de garantir votos para o representante da coligação, os participantes dessa união podem conseguir ainda outras vantagens. Especialista em Direito Eleitoral e ex-professor de Cursinhos,

Humberto França, explica que essas vantagens podem resultar em “promessas de cargos em ministérios, secretarias e até cadeiras no legislativo”, caso a campanha seja bemsucedida, “além de cabos eleitorais e fazer transferência de tempo no horário eleitoral, para garantir mais exposição”, afirma o professor, nem sempre favorecendo o candidato com mais votos. Quando questionada sobre a legalidade dessa manobra, Ana Paula Siqueira diz que “por incrível que pareça, esta transferência de votos está garantida por lei”, em referência a lei Nº 9504, decretada em 1997. Ativista Política há 10 anos, Ana Paula ainda reforça que a população deve defender seu direito de voto e colocar suas vozes nas urnas. “Assim podemos fazer diferença como cidadãos, precisamos de mais consciência política”, afirma.

Eleições Majoritárias

Eleições Proporcionais

QUER SABER ONDE PODE ACHAR AS COLIGAÇÕES? O fechamento dos acordos de coligação terminam todo dia 05 de Agosto do ano eleitoral e podem ser conferidas nos sites de cada partido ou no site do Tribunal Regional Eleitoral (http://www.tre-es.jus.br/).

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RELIGIÃO

Religião e Ciência: do conflito ao diálogo

Pela fé, milhares de pessoas encontram uma oportunidade de recomeçarem suas vidas. Por outro lado, fenômeno é frequentemente estudado por especialistas Paulo Marcos afundamento craniano com perda de massa encefálica, ficando mais de 90 dias em coma no hospital. Sua mãe conta que o médico disse para a família que dali Daniel só sairia morto, ou na melhor das hipóteses, em estado vegetativo. “Foi difícil ouvir isso, mas como evangélica eu não consegui aceitar esse diagnóstico médico, pois tinha certeza que o Deus a quem eu sirvo tiraria meu filho dessa situação”, relata Dona Maria. O ex-coletor residual, que hoje tem 43 anos, diz não se lembrar de nada do

acidente, mas que não tem dúvida de que foi Deus quem o curou. “Eu sou um milagre ambulante, o próprio médico me afirmou isso”. Hoje ele leva uma vida normal, realizando atividades que a equipe médica duvidara que pudessem ser feitas novamente após o acidente. Trabalhando e dirigindo , Daniel faz questão de contar sua história, e mostra muito otimismo ao falar de seus objetivos de vida. “Minha principal ocupação hoje é pregar o evangelho e dar o meu testemunho nas igrejas, disso eu não abro mão”.

Foto Paulo Marcos

“Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não se veem”. O versículo da Bíblia Sagrada, tirado do capítulo onze do livro de Hebreus é uma pequena explicação do que seria a Fé para aqueles que acreditam. A presença de tal fenômeno está presente na história de milhares de famílias do mundo inteiro, que acreditam na existência de uma força superior que se faz presente nas mais diversas situações cotidianas. Para a dona Maria de Lurdes, mãe de Daniel da Silva dos Santos, essas crenças foram o que a sustentaram ao ver seu filho quase morto após um grave acidente de bicicleta há 11 anos. A bicicleta que ele utilizava perdeu os freios em uma ladeira no Bairro da Penha, em Vitória, no Espírito Santo. Daniel caiu e bateu a cabeça na sapata de concreto de um poste de iluminação, e sofreu um grave

Daniel teve traumatismo craniano e ficou mais de 90 dias em coma. Nem os médicos acreditavam que ele sobreviveria.

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RELIGIÃO

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Afinal, Fé é emoção ou normais do conhecimento tos casos, mas não assume razão? O padre Ivo Ferreira médico e temos que ter a o reconhecimento. “Ela não de Amorim, da paróquia São sensibilidade de saber reco- dá o braço a torcer, pois tem José, em Maruípe, conta que nhecer”, ressalta o médico. medo de perder o campo para O milagre não é algo os religiosos”, conta a líder. a fé é a força motora do milagre. E afirma que ela não per- comentado apenas por Dentre tantos casos tence apenas à religião cristã. evangélicos ou católicos. que conhecemos durante a “É um dado comum em todas Na Umbanda, por exemplo, apuração da reportagem, um as religiões. É uma crença de o milagre é reconhecido, que chamou muito atenção que um Deus existe, um ato mas explicado como algo foi o da dona de casa, Mônido interior de quem está con- que só acontece a quem ca Lima, de 26 anos, vencido da existência, que era uma fiel free da presença Dele”. “O acreditar é interno, então quentadora de um O pastor evangélico e centro religioso, em psicólogo, Fábio Daniel ele tem a ver com sentimen- Vitória. Ela particiRibeiro, da Igreja Batis- tos, com a emoção, e com o pava da linha mais ta, concorda e ressalta esperar incansavelmente por radical do Candomsua opinião de que a algo que poderá acontecer” blé, a linha negra. Fé é o equilíbrio entre Aos 18 anos, Mônia razão e a emoção. ca foi diagnosticada Já o milagre é, para a re- merece. Quem afirma isso com um sério câncer no esôligião, um acontecimento ex- é a zeladora Inês Miranda fago e laringe. Segundo ela, traordinário, algo incomum, Domingas, que se dedica esse câncer foi resultado de formidável e sem explicação há 35 anos ao centro espíri- seitas religiosas em que ela lógica. É um sinal ou indício ta em que é líder, no Centro participava nessa linha negra, de que há uma interferência de Vitória. Para ela, o ato onde ingeria sangue e carnes sobrenatural e divina na vida de receber um milagre só cruas de animais em estado dos homens. “A ciência sabe se dar pelo merecimento de decomposição, que eram que o milagre existe, mas da pessoa que tem fé firme oferecidos em sacrifícios. ela nunca vai atestá-lo. Pois e muita confiança. “O dom “Eu passava até 40 dias só como ela (a ciência) explica- de receber uma cura, não me alimentando de sangue ria que alguém paraplégico é para qualquer um. É para e carne podre. Os espíritos voltou a andar, logo depois aqueles que merecem, e me usavam, dizia que eu era de médicos e especialistas nem todos são capazes de o cavalo deles, e escrava do afirmarem que seria algo im- merecer, por isso ele é con- diabo”, relata a dona de casa. possível?” explica o pastor. testado pela ciência”, expliMesmo após ter vivido O neurologista Renan ca a zeladora de 76 anos. tais situações, Mônica conta Ainda segundo a líder que a experiência mais estraPirolla, 29 anos, trabalha no Hospital das Clínicas, em São espiritual, a ciência reco- nha que passou foi um pouco Paulo, e se considera cris- nhece o milagre em cer- antes de descobrir o câncer. tão. Ele nos conta que acredita em milagres, mas que O QUE SÃO MILAGRES? nunca presenciou nenhum caso que fosse considerado Na nossa cultura, a palavra milagre está milagroso nos anos em que ligada a uma concepção de Deus que exerce sua profissão. Ele recriou uma ordem natural que só pode lata também que não acha a ser suspensa por intervenção dele. medicina uma ciência exata, Milagre é um evento sobrenatural, inexe que os médicos precisam plicável, que causa estranheza e admireconhecer que erros e falhas ração. Só é entendido como tal pela fé. acontecem. “Existem coisas que fogem de situações PRI MEI RA

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RELIGIÃO me curar, meu câncer sumiu. Já se passaram 11 anos, e eu ainda estou aqui, não sinto nada, e meus exames mais recentes também não indicam nada”, conta a pastora. Para alguns médicos, todo caso tem uma explicação e que milagres são crenças religiosas que afetam o psicológico de muitos pacientes que preferem acreditar que uma força divina superior irá cura-los, do que enfrentar a realidade de suas doenças e traumas. A clínica geral, Doutora Nádia Mercedez, de 45 anos, diz que a ciência é um corpo de conhecimentos adquiridos via observação, identificação, pesquisa e explicação de determinadas categorias de fe-

nômenos e fatos, formulados de forma metódica e racional, e que para ser provada precisa passar por diversas análises e laudos comportamentais padronizados, através de pesquisas. E que seria por esse motivo, que os milagres não são tão reconhecidos no campo médico. ”Acreditamos em algo palpável, mensurável e medido. Como podemos dar credibilidade a fé se temos nossas próprias explicações para fatos extraordinários?”, questiona a Doutora. E quando a própria medicina recomenda a cura através da Fé? Foi o que aconteceu com o engenheiro da computação, Alan Araújo, 25 anos, que aos

O QUE É A FÉ? Segundo a Biblía: Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem. (hebreus 11:1). Dicionário: Convicção intensa e persistente em algo abstrato que, para a pessoa que acredita se torna verdade. Segundo a união espírita: Fé é uma convicção firme e inabalável de que algo é verdadeiro, mesmo sem nenhuma prova ou confirmação. É a absoluta confiança numa ideia, mesmo que evidências apontem o oposto.

Foto Paulo Marcos

Ela afirma ter recebido uma revelação de Deus através de um desconhecido, onde Ele (Deus) mandava dizer para ela que tinha um propósito em sua vida e que a tiraria da tal religião. De acordo com seu relato, ela achou graça dessa tal revelação, não segurou o riso diante de quem o fez, e chegou a dizer ao desconhecido que odiava “crente”, principalmente pastor evangélico, e que não tinha intenção alguma de se converter a outra denominação religiosa. A pessoa que a contou o estranho recado, apenas disse que tal desprezo não valeria de nada, e que ela estaria em cima de um leito de hospital quando o visse novamente, e que seria nesse dia que acreditaria na profecia. Para sua surpresa, o relato do estranho homem acabou se cumprindo meses depois. E quando Mônica estava internada sem esperança alguma de sobreviver ao câncer, o desconhecido apareceu em seu quarto no hospital, acompanhado de um grupo religioso. Ao se apresentar para a dona de casa, o homem a lembrou da profecia e disse que Deus não a deixaria morrer. Hoje, 11 anos depois desse sobrenatural episódio de vida, Mônica, que se tornou pastora evangélica, se diz curada e que acredita que é uma prova de que milagres existem. “O médico disse para minha família que eu tinha apenas 48 horas de vida devido ao câncer que já estava espalhado dentro de mim, mas um tempo depois de me converter ao evangelho, e acreditar que Deus poderia

Pr Fábio Daniel e Alan Araújo. A igreja sob a liderança do pastor, fez uma campanha de 90 dias de oração pela cura de Alan PRI MEI RA

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De acordo com Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 8% da população brasileira diz não seguir religião alguma. É o caso de Gessildo Barcelos, um aposentado de 59 anos, que se considera ateu convicto. Não acredita que Deus existe e muito menos em milagre. Para ele, Jesus nunca existiu e sua história é uma invenção do império romano. “O milagre é imaginação da cabeça do ser humano”, conta o aposentado, que relata também que a religião se propaga em países subdesenvolvidos, principalmente em periferias, e que a igreja se prolifera na ignorância, através do poder de convencimento de falsos lideres religiosos. “A fé é abstrato, é como sentir o cheiro e não ver nada, ela vem da cabeça de cada um e da religiosidade deles”, afirma Gessildo. Para ele, a cura que é atribuída ao milagre, é na verdade, a regeneração do próprio corpo e também acredita que todos os casos considerados milagrosos devem possuir explicações lógicas de médicos e especialistas. O aposentado afirma ler cer-

ca de 20 livros por anos, e a maioria deles fala sobre religião, e que por isso, diz ter propriedade para falar sua opinião em relação à religião. Diferente de Gessildo, muitosbrasileiros se consideram cristãos e acreditam em fenômenos milagrosos. Tal crença é o motivo que leva milhares de pessoas às ruas durante uma das festas mais famosa do Espírito Santo, a Festa da Penha. A festividade religiosa tem duração de oito dias, e há 60 anos faz parte da história dos capixabas. Com várias missas e romarias realizadas no Convento da Penha, na cidade de Vila Velha, o evento reúne milhares de fiéis que percorrem cerca de 14 km entre a Catedral de Vitória e a Prainha, para pedir ou/e agradecer pelas graças alcançadas. Não é difícil encontrar relatos de pessoas que acreditam em sua fé, são milhares de histórias e testemunhos quase inacreditáveis, que só quem passou pode atestar. Mas para quem ouve, fica apenas a dúvida. Será mesmo que tudo isso pode ser possível?

Foto Rafael Andreão

16, no meio de uma partida de futebol com os amigos, teve sua visão totalmente escurecida. Quando procurou um especialista, no Hospital das Clínicas, em Vitória, Alan acreditava que havia sofrido apenas um deslocamento de retina. Mas após vários exames, o médico não constatou nada e disse que nunca havia visto algo semelhante. Recomendou então, que a família buscasse a solução na religião, sugerindo até que procurassem um pai de santo. “Ficamos surpresos com a recomendação, não esperávamos esse tipo de conselho, ainda mais por sermos uma família evangélica”, contou o engenheiro. Não se conformando com essa avaliação médica, seu pai procurou um neurologista, pensando que poderia ser algum problema neurológico, mas novamente nada foi constatado. Alan é membro da igreja Batista em que o pastor Fábio Daniel é o líder, e foi lá que resolveu compartilhar sua história. “A igreja se mobilizou em oração, foram 90 dias com toda a igreja orando. Com o horário marcado às três horas da madrugada, cada um em sua própria casa, mas com esse compromisso de orar por ele”, relatou o pastor. Após alguns meses de oração, o engenheiro sentiu sua visão voltar quando tocava guitarra durante um culto em sua igreja. “Foi um momento muito marcante na minha vida. Eu não tenho dúvidas que a minha recuperação não foi apenas pela fé e intercessão dos irmãos. Foi à mão de Deus na minha vida”, conta o extasiado o engenheiro.

O terço para a festa da Penha, padroeira do Estado e maior festa religiosa do Espírito Santo


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Intolerância religiosa: o medo do desconhecido

Religiões de matriz africana são os principais alvos da intolerância religiosa no Brasil Bruna Pereira e Carolina Moreira

Era junho de 2015 quando Kaylane Campos, então com 11 anos, saía de uma cerimônia religiosa acompanhada de amigos, na Zona Norte da capital carioca, usando vestes comuns às cerimônias: vestido branco e adereço na cabeça da mesma cor. No caminho de casa, Kaylane acabou ferida na cabeça por uma pedra, lançada por homens os quais não conhecia. Patric Douglas Anjo Soares Ferreira, também morador do Rio de Janeiro, no subúrbio, foi demitido em abril de 2016 da Prefeitura de Mesquita, onde trabalhava, após ir ao local com roupa branca e adereços religiosos. Tanto Patric quanto Kaylane são praticantes do candomblé, religião derivado do animismo africano e que no Brasil, acabou sofrendo sincretismo com o Catolicismo.

Só em 2017, o Brasil registrou uma denúncia a cada 15 horas em relação à intolerância religiosa. Os dados, que são do Ministério dos Direitos Humanos, apontaram os Estados de São Paulo, Rio e Minas Gerais como líderes em casos. Já a cidade do Rio de Janeiro concentrou, só neste ano de 2018, quase 50% das denúncias recebidas em todo o Estado. A intolerância não fica restrita aos casos de violência física. Recentemente o livro infantil Omo-Oba Histórias de Princesas, que tem temática voltada à cultura africana foi substituído de um colégio após pressão de um grupo de evangélicos. O livro conta mitos africanos originários das comunidades Ketu e foi escrito pela especialista em temáticas étnico-raciais e professora da Universida-

de Federal do Espírito Santo (Ufes) Kiusam de Oliveira. “O meu livro foi o primeiro, mas há tantos outros escritores que produzem e produziram materiais nesse sentido, enaltecendo a ancestralidade africana. Tenho receio que comece uma caça também no campo da literatura”, destacou Kiusam. Esses são alguns exemplos de atitudes que vão de encontro com a Constituição Brasileira vigente, a qual declara o Brasil como um país laico, isto é, cujo poder do Estado é oficialmente imparcial em relação às questões religiosas, não apoiando nem se opondo a nenhuma religião. Dados do último Censo Demográfico realizado pelo IBGE, em 2010, verificam crescimento dos grupos religiosos como evangélicos e espíritas. Os evangélicos, por

A UMBANDA E O CANDOMBLÉ NO BRASIL

0,3% 570 mil Umbandistas Candomblecistas PRI MEI RA

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Foto: Arquivo pessoal PRI MEI RA

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RELIGIÃO Vila Velha, por uma amiga. “Minha mãe sempre pede a Deus para me tirar de lá. Sempre escuto piadas e vejo olhares julgadores, inclusive de amigos e da minha própria família. Só que a Umbanda tem me ensinado a não ser negativo e invejoso. A amar o próximo e a ser praticante da caridade”, conta Leandro e completa, emocionado: “Foi na Umbanda que eu me encontrei, e isso é lindo”. O artista gostava de frequentar a mesma religião que sua mãe, porém sentia que lhe faltava algo. “Eu sentia uma necessidade espiritual muito grande, até que eu fui ao terreiro com uma amiga que. Foi em março de 2017 e me apaixonei”. Para o professor de Filosofia e Doutor em Ciências da Religião Edebrande Cavalieri, a intolerância é um problema grave. “A intolerância religiosa é fruto do ódio que está crescendo nesse país nos úl-

timos anos. Quem mais sofre com a intolerância são as camadas menos favorecidas da população, a camada negra e pobre. É nas periferias das grandes cidades, onde estão situados os terreiros que o clima de intolerância e ódio se tornam mais fortes.”, explica o professor e garante que essa violência que não deveria ser permitida em um Estado democrático. O QUE DIZ A LEI? “É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias”, diz o artigo 5° da Constituição Federal.

Foto: Arquivo pessoal

exemplo, passaram a representar 22,2% da população, tendo um crescimento de 7% desde 2000. Outro grupo que cresceu foram os espíritas de 1,3% para 2%, representando 3,8 milhões de brasileiros. As religiões de matriz africana, candomblé e umbanda são 0,3% da população. Atualmente são quase 570 mil brasileiros que ainda sofrem com a intolerância por praticar as religiões trazidas pelos africanos. O que faz questionar que nada mudou desde a vinda dos mesmos ao Brasil, no século XVI. Episódios de falta de respeito e intolerância religiosa são recorrentes cinco séculos depois. O artista circense e capixaba Leandro Szablak já passou por isso. Quando criança frequentava a igreja Maranata com sua família, mas há um ano conheceu a Umbanda, quando foi apresentado ao Centro São Geraldo, no centro de

Leandro Szablak com família e amigos, alguns são integrantes da Gruta São Geraldo

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RELIGIÃO bologia do negro”, observa. “Uma sensação de ‘até breve’”, afirma repórter ao visitar centro de Umbanda A Revista Primeira Mão recebeu um convite mais que especial: conhecer o Centro Umbandista e Espírita Gruta São Geraldo, em Vila Velha. Abaixo o relato da repórter Carolina Moreira, que foi junto a Bruna Pereira. “Era um sábado chuvoso de abril, quando a entrevistada Bianca Gomes de Oliveira nos convidou para conhecer o Centro Umbandista e Espírita Gruta São Geraldo. O local, em atividade há mais de 50 anos, fica localizado na subida do Morro do Moreno, em Vila Velha. Chegando na gruta, fomos recebidas com abraços e convidadas a adentrar e se acomodar nas cadeiras de plástico que estavam ali. De imediato fomos servidas com um chá quente de gengibre, que logo despertou o interesse de algumas abelhas que se encontravam por perto. Confesso que elas incomodaram um pouco.

Próxima a mata, a gruta era pequena e acolhedora. Pingos de chuva caiam das pedras e das árvores que cercavam o local. Era gira de Exu, a entidade depositária dos caminhos e protetora dos médiuns. Na Umbanda ela é considerada guardiã dos terreiros. Durante a cerimônia recebemos papel e caneta, para colocarmos os nomes de pessoas vivas (ou mortas) para oração. A todo o momento as músicas envolviam os rituais, homenageando e convidando as entidades ao convívio no centro. Em um momento fomos convidadas a nos dirigir até a frente, onde havia um médium incorporado. Era um tipo de consulta em que teríamos a chance de pedir conselhos espirituais e direcionamento divino àquela entidade de luz que estava à nossa frente. O passe, como é chamado, é uma experiência de intensa troca e a presença de uma força espiritual. O momento foi o primeiro de nossas vidas, mas, sem dúvidas, deixou uma sensação de “até breve”.

Foto: Arquivo pessoal

A estudante Bianca Gomes começou a frequentar o centro de Umbanda, Gruta São Geraldo em 2010, por curiosidade. Hoje, ela sofre preconceito da sogra, que é evangélica. “Minha sogra não aceita outras religiões. As pessoas, em geral, têm preconceito, elas fazem brincadeiras, dizem coisas inconvenientes e por isso eu prefiro não contar para qualquer um que vou ao terreiro. Faço isso para evitar o julgamento de pessoas que não conhecem a religião”. Já o professor Tiago Amorim frequenta o Candomblé há mais de um ano, na casa de mãe Néia, no município de Serra. Bem resolvido com a religião que escolheu, impõe-se às críticas. “Se algo acontece fora do que eu espero, logo em seguida eu rebato. Só que conheço pessoas que se escondem e não falam da religião. O preconceito não está presente só no candomblecista, que vai ao terreiro e ao barracão, o preconceito está em tudo que faz parte da sim-

Centro de Umbanda, Gruta São Geraldo, localizado em Vila Velha.

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Jovens pela fé Missionários cristãos acreditam que a oração pode auxiliar o desenvolvimento humano e social

Géssica Lopes “Está escrito: ‘Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus’”. É por meio desse versículo, encontrado na Bíblia Sagrada, no livro de Mateus, que muitos jovens se inspiram para levar o ensino bíblico a quem ainda não o conhece. Além de aprendizado, esses jovens procuram também levar apoio, não apenas com orações, mas também com diversas ações sociais. Entre vários desafios e prazeres que um jovem pode realizar durante sua vida, muitos optam por levar seus aprendizados religiosos para pessoas que ainda não os conhecem. A Palavra de Deus é, para muitos, algo sagrado que deve ser vivido e compartilhado, e é atrás desse objetivo que jovens no Brasil e no

mundo tem saído de suas casas com o propósito de levar para outras pessoas, sejam lá de onde forem, o conhecimento bíblico e suas orações. Ser missionário é algo que vem do coração, é saber ouvir e obedecer ao chamado de Deus a qualquer hora. Essa é a definição dada por muitos desses jovens ao serem questionados por que tomam tais atitudes de largarem tudo para se arriscarem em lugares distantes, e muitas vezes desconhecidos. Artur Varejão é um desses missionários, que com apenas 15 anos resolveu se aventurar na Amazônia para compartilhar sua fé. “Fui para lá em agosto do ano passado. Foi muito gratificante poder compartilhar o amor de Deus com outras pessoas

e ver a alegria delas ao nos receber. Senti a presença de Deus e o cuidado Dele o tempo todo”, lembra o estudante. Artur é membro da Igreja Batista Monte Sinai, em Vitória, e revela o que o levou a fazer uma viagem missionária. “Foi o amor de Deus e a oportunidade de conhecer um novo lugar e novas pessoas que ainda não conheciam a Cristo”, contou o jovem que disse também que pôde conhecer as necessidades da comunidade em que foi missionário. “Vivem uma vida bem simples, precária, sem contato com as áreas urbanas. E por estarem às margens do Rio Amazonas, sua subsistência é baseada na pesca e na produção de farinha de mandioca”.

o amor de Deus e a oportunidade de “ Foi conhecer um novo lugar e novas pessoas que ainda não conheciam destacou Artur Varejão.

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Cristo,

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Foto: arquivo pessoal

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Artur Varejão com ribeirinhos no Amazonas. Por mais que pareça gratificante, a assistente social Regiane Santos revela que, na verdade, fazer missões não é tarefa fácil, pois o voluntário precisa estar preparado para inúmeras situações. “Fui para o estado do Rio Grande do Sul, e de lá fui direcionada para o município de São Marcos. Na época eu estava com 24 anos. A população não era muito receptiva, pois eram muitos desconfiados com qualquer um que chegasse a suas terras. Mas quando eles percebem suas intenções e te conhecem melhor, acabam te respeitando e deixando você se aproximar e criar um relacionamento harmonioso”, conta a missionária.

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Muito além do crescimento espiritual, a busca pela evangelização tem também contribuído com o desenvolvimento social de milhares de pessoas no mundo inteiro. Atualmente, de acordo com a Junta de Missões Mundiais, existem cerca de 1800 missionários espalhados em 77 países nos 5 continentes. Muitos deles não se limitam apenas a proclamação do evangelho, mas levam também suas habilidades profissionais para melhor atender as comunidades carentes ao redor do mundo, como nos relata o Pr. Gilnei Gil, que é missionário mobilizador da Junta de Missões Mundiais no Espírito Santo. “Hoje o

Missionário não se limita apenas a formação na Área da Teologia. Temos médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, engenheiros, pedagogos entre outros. Temos missionários que atuam na área da Saúde, educação e esporte. Áreas que acabam sendo porta de entrada, principalmente em países onde há proibição à pregação do evangelho”, relata. Mas para se tornar um missionário cristão é necessário muito mais que vontade. Preparação espiritual, didática religiosa e comunhão na igreja, são os principais requisitos para quem deseja realizar tais desafios. O pastor Jorge Rodrigues é ministro


Foto: arquivo pessoal

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Foto: arquivo pessoal

Luciano Ramos e Vitor Ribeiro, participantes do projeto “Uns pelos outros”.

Vitor Ribeiro, Mariana Garcia e Luciano Ramos, criadores do projeto “Uns pelos outros”. PRI MEI RA

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RELIGIÃO de missões na Igreja Batista Monte Sinai, em Vitória. Para ele, a boa convivência na igreja, junto aos outros membros, é fundamental para que o jovem compreenda o sentido de missão. “Fazer missão é muito mais do que compartilhar aprendizados bíblicos. É passar para as pessoas sua preocupação em levá-las para o caminho de Deus, mostrando-se prestativo, não apenas como evangelizador, mas como um ser humano que entende as necessidades do outro”, explica. De acordo com o pastor, a igreja possui uma das funções mais importantes duran-

te o processo de aprendizado do jovem, que vai desde a orientação até ajuda psicológica. ”Aquilo que o jovem ver dentro das igrejas será refletido em suas obras durante sua missão. A igreja torna-se então, responsável não apenas por mostrar o que a Palavra de Deus pode fazer na vida das pessoas, mas também ao dar o exemplo e o incentivo”, comenta o evangelista. Outra ação importante das igrejas é a participação financeira que ajuda a arcar com as despesas dos jovens missionários. Os recursos partem principalmente da igreja local, ou seja, a igre-

ja responsável por preparar o cristão, recolher a oferta e mantê-lo no local que será realizado o trabalho. A Junta de Missões Nacional e Mundial são agências que ajudam a administrar esses recursos e que repassam os valores aos missionários em ação. Além de recolher todas as ofertas, estas agências também ficam responsáveis por encaminhá-las de forma legal para cada local. Isso é necessário pelo fato de cada país possuir um custo, e uma moeda diferente. Desta forma, o missionário recebe o valor correto de acordo com suas necessidades.

MISSIONÁRIO EM CAMPO O trabalho missionário não é realizado apenas longe de casa ou mantido por uma grande instituição. Existe a opção de realizar tais obras nos locais mais pertos de casa, sem que haja a necessidade de ir para longe. A atividade pode ser realizada com a comunidade mais próxima, e o trabalho missionário consegue ser realizado com vizinhos, amigos ou familiares. É o que Vítor Ribeiro, 20, Mariana Garcia, 19, e Luciano Ramos, 40, fizeram. Os jovens criaram o projeto “Uns pelos outros”, que tem por objetivo levar o ensinamento bíblico de

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forma mais leve e descontraída para os moradores da região de Porto de Santana, em Cariacica. De acordo com Vitor, a ideia surgiu em meio a uma discussão do grupo que tentava encontrar algo que chamasse a atenção das pessoas que ainda não tinham contato com a igreja. “O projeto surgiu em 2017, de uma forma inexplicável. Estávamos com os mesmos objetivos em nossos corações, e depois de algumas reuniões, iniciamos o projeto em plena praça pública.”, contou o jovem, que relatou também, que acredita que esse

trabalho possui um propósito missionário e social. “Entendemos assim por que além de ajudarmos espiritualmente, tentamos também ajudar financeiramente. Não de forma a contribuir com algum valor, mas tentando direcionar uma pessoa para alguma casa de reabilitação, ONG, ou se juntando para montar uma cesta básica para uma família, por exemplo. Claro que mesmo realizando essas obras, nosso objetivo principal sempre será anunciar o reino de Deus e levar sua Palavra”, ressaltou Vitor.


RELIGIÃO

Aborto: a polêmica do direito à vida

Dados do Datasus revelam que em 2016 foram registradas cerca de 200 mil internações hospitalares em decorrência de abortos, mais da metade realizados clandestinamente. Ana Luisa Monteiro

paz, a abortar. O aborto só é permitido por lei em casos de estupro, quando a gravidez traz risco de vida para a mulher e quando o feto é diagnosticado com anencefalia. O fato de ser ilegal, no entanto, não impede que as mulheres busquem procedimentos clandestinos para interromper a gravidez, colocando até mesmo a própria vida em risco, o que torna a questão do aborto um problema sério de saúde pública. A Pesquisa Nacional do Aborto 2016 (PNA 2016) mostrou que o aborto é um evento frequente na vida reprodutiva das mulheres brasileiras. O inquérito domiciliar cuja amostra representa a população feminina de 18 a 39 anos alfabetizada das áreas urbanas do Brasil, revelou que, aos 40 anos de idade, quase uma em cada cinco mulheres já fez aborto (uma em cada 5,4), com uma frequência maior entre mulheres jovens, 29% em idades entre 12 a 19 anos e 28% entre 20 e 24 anos. Por ser feito na clandestinidade, o aborto induzido leva a maioria das mulheres a serem hospitalizadas por complicações geradas pelo procedimento. De acordo com dados do Datasus, departamento de informática do

Sistema Único de Saúde, em 2016 foram realizadas 197.026 internações hospitalares em decorrência de abortos. Desse número, 47% foram registrados como abortos espontâneos, 1% por razões médicas e 53% registrados como outras gravidezes que terminam em aborto. O Estudos Nacionais, projeto independente de pesquisa e estudo nos âmbitos da geopolítica, comunicação social e opinião pública, afirma que o número de abortos

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Juliana Morais* tinha 19 anos quando suspeitou que estava grávida. Desesperada, começou a procurar meios de realizar um aborto. Até encontrar um site que, ao comprovar a gravidez, enviava um remédio que podia causar aborto. “Custava caro, uns 800 reais ou mais. Mas como meu namorado estava ao meu lado desde o início e arcando com tudo, eu estava tranquila, ia fazer o exame. Caso desse positivo, iria tentar o remédio porque eu não poderia ter o filho”, contou. Juliana explicou que, por mais que seu sonho seja ser mãe, o momento era péssimo para ela, que estudava e morava com os pais. Após o exame de sangue dar negativo para gravidez, Juliana contou que o sentimento foi de alívio. “Mesmo eu querendo muito ser mãe, isso não me fez pensar duas vezes sobre abortar, pois era a minha vida em jogo, meu futuro, futuro do meu namorado, o resultado negativo trouxe muito alívio mesmo”, relatou. O aborto no Brasil é crime previsto nos artigos 124 a 127 do Código Penal, podendo penalizar a gestante que aborta, a quem realiza o procedimento e a quem leva uma gestante, considerada inca-

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Em foram realizadas

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internações hospitalares em decorrência de abortos. Fonte: Datasus

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clandestinos está próximo do considerado como outras gravidezes que terminam em aborto (53%) presente nos dados do Datasus, que é quando o médico suspeita que o aborto da paciente não foi espontâneo. Esse número significa 103.958 abortos suspeitos de clandestinidade em 2016 no Brasil. Pessoas ligadas a doutrinas religiosas que possuem grande poder em decisões políticas do país tem uma participação grande em questões que envolvem o aborto, principalmente no desejo de criminalizá-lo em qualquer situação. Em novembro de 2016, foi criada uma Comissão Especial da Câmara dos Deputados em Brasília para analisar uma Proposta de Emenda à Constituição, a PEC 181/15. O conteúdo da emenda foi alterado durante a tramitação por uma forte pressão da bancada religiosa para que a definição da vida com início desde a concepção fosse estabelecida na Constituição, o que tornaria ilegal a interrupção da gravidez mesmo nos casos permitidos hoje pela lei. A aprovação dessa Comissão Especial levou milhares de mulheres às ruas em protesto em todo o país, exigindo que seus direitos não fossem retirados. As alterações que condenam o aborto, porém, ainda não foram aprovadas. A antropóloga e cientista política Sonia Missagia de Matos explica que não existe problema algum se o político for uma pessoa religiosa. O problema nasce, porém, quando esse político, para atender objetivo específico próprio ou de um peque-

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no grupo, veda o direito de liberdade das pessoas, manipulando a vontade dos eleitores e induzindo que decisões baseadas em normas morais sejam tomadas. “Cabe ao Estado criar estratégias para lidar com questões controversas e fazer ajustes em forma de políticas públicas para atender temas sociais fundamentais, como a liberdade de crenças, ensino religioso, aborto, anencefalia, eutanásia, etc”, afirmou Sonia. Em contrapartida à iniciativa da Câmara dos Deputados, o Supremo Tribunal Federal (STF) convocou em março deste ano uma audiência pública para instruir uma ação que pede a descriminalização do aborto até a 12ª semana de gestação, proposta pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e pela Anis - Instituto de Bioética. A ação propõe garantir às mulheres o direito constitucional de interromper a gestação, sem necessidade de qualquer forma de permissão específica do Estado. A audiência deve ser realizada no mês de junho de 2018. Opiniões em debate De acordo com o último censo demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), católicos (64.6%) e protestantes (22.2%) significam a maioria na população brasileira. Desta forma, boa parte das opiniões sobre a questão do aborto podem estar relacionadas à discursos religiosos. O guardião e pároco do Santuário do Divino Espírito Santo de Vila Velha no Espírito Santo frei Djalmo Fuck explica que a Igreja Católica tem uma doutrina muito clara em relação ao

aborto, que é a de proibir essa prática em qualquer situação, porque o que está em jogo é a vida humana. “A vida é um dom de Deus e ela precisa ser protegida e respeitada desde o ventre até a morte natural. A vida está acima do nosso querer e do nosso controle”, afirmou o frei. Pensamento semelhante tem o pastor da Igreja Evangélica Missionária Canaã José Pedro da Silva ao reconhecer que o aborto em qualquer circunstância vai contra os fundamentos bíblicos encontrados em Êxodo 23: 7 e Salmos 139: 13-16. Ele acredita que existe vida desde o momento da fecundação e que ninguém tem o direito de interferir na sequência dessa vida sendo gerada. “A vida não começa quando a mãe dá a luz, começa durante a gestação. Desde o momento em que houve fecundação, ali começa a vida e ninguém tem direito de interromper a sequência de uma vida, só Deus.


Só Deus tem a vida para dar e só ele que pode tirar”, expressou. A ginecologista e obstetra Elaine Christine Simões Silva reafirma a questão da vida começar desde o momento da concepção, afirmando que é durante o período embrionário, até sete semanas, que ocorre o processo de formação dos órgãos. “O coração já está formado desde a sexta semana, com esse tempo já dá para escutar os batimentos cardíacos do bebê, ou seja, tem vida sim”, esclareceu Elaine. Juliana Morais, por sua vez, ao passar pela realidade de ter que fazer um aborto, conta que começou enxergar a situação de forma diferente de outrora. “Muitas pessoas acham que quem aborta é quem abomina a vida, bebês, etc. Mas isso envolve muita coisa, ainda quero ser mãe e não abro mão disso, porém, o aborto é um direito da pessoa, direito de ter a sua vida”, declarou. A pesquisadora e feminista Bianca Bortolon destacou o direito da mulher na questão do aborto ao expor que a sociedade é fundada em princípios liberais e os seres humanos têm, em teoria, o direito natural à vida, à li-

berdade e à propriedade. Ela declarou que a falta do direito da mulher ao seu próprio corpo seria, portanto, um ataque aos seus direitos fundamentais enquanto indivíduo. “É mais uma demonstração de como a falta de poder social das mulheres ainda persiste em nossa sociedade. O indivíduo, aquele que tem direito à vida, à propriedade e à liberdade seria apenas o sujeito masculino”, afirmou. A ginecologista Elaine revela, em sua opinião pessoal, que a mulher deveria ter o direito de escolha entre ter o filho ou não. Porém, a legalização do aborto só seria uma solução se o país investisse em uma educação mais estruturada. “Nossas mulheres têm que ser mais instruídas sobre sexualidade, precisamos de uma base escolar melhor, para que a legalização também não vire um problema no país”, declarou. O frei Djalmo Fuck contou que, mesmo a Igreja Católica não sendo favorável a decisão da mulher em abortar, ela realiza o trabalho de acolhê-las para conversar. “O aborto, a gente sabe, ele causa um trauma na mulher, muitas ficam anos se arrependendo de ter abortado”, disse. O frei, ao defender que

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a sociedade não pode culpabilizar somente as mulheres por abortar, cita a passagem bíblica na qual uma mulher está sendo apedrejada por se prostituir (João 8: 1-11). “Existem várias nuances que precisam ser consideradas. É muito fácil jogar a culpa na mulher, se ela pecou ela precisa ser apedrejada. Mas o que Jesus fez? Conversou com a mulher, com as pessoas em volta e disse: ‘aquele que não tiver pecado que atire a primeira pedra’”, manifestou o frei. Em relação à opinião dos brasileiros em geral, a pesquisa quantitativa “Percepções sobre o aborto no Brasil”, realizada pelo Instituto Patrícia Galvão em novembro de 2017 com pessoas acima de 16 anos, revelou que apenas 26% de todos os entrevistados foram favoráveis que as mulheres pudessem decidir por interromper a gravidez em qualquer situação. Os números variaram, no entanto, quando as circunstâncias foram consideradas. Em casos de gravidez por estupro, 67% dos entrevistados declararam ser a favor do aborto, sendo a maior porcentagem favorável. Enquanto a menor seria em casos de gravidez não planejada, que obteve 16% dos entrevistados a favor.

Opiniões “A vida está acima do nosso querer e do nosso controle”, frei Djalmo Fuck da Igreja Católica. “A criminalização do aborto é a criminalização do direito da mulher em decidir sobre o próprio corpo e, também, a própria vida”. Bianca Bortolon - pesquisadora e feminista. “A legalização do aborto só seria uma solução se o país investisse em uma educação mais estruturada”. Elaine Christine Simões Silva - ginecologista e obstetra. “Mesmo eu querendo muito ser mãe, isso não me fez pensar duas vezes sobre abortar, pois era a minha vida em jogo, meu futuro.” - Juliana Morais (nome fictício). PRI MEI RA

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ESPORTE

Muito mais que um “joguinho” Crescimento dos jogos eletrônicos levanta discussão sobre os games serem ou não uma modalidade esportiva

Henrique Andreão e Angelo Parrella

Foto: Henrique Andreão

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com o esporte eletrônico. O estudante Henrik Borges não deixa enganar. Fã do jogo League of Legends, Henrik conta que seu interesse pelo esporte derivou do seu gosto de jogar e a vontade de melhorar sua performance. “Eu comecei a jogar LoL em 2012 e no começo eu não tinha interesse em acompanhar os profissionais, mas com o passar do tempo comecei a assistir alguns vídeos no Youtube e acabei conhecendo a Pain Gaming, que é o time que eu torço”, aponta. Henrik lembra como o gosto por jogos eletrônicos o levou a conhecer outras pessoas que compartilham do mesmo interesse. “Os jogos me trouxeram diversos amigos. Na época que eu jogava

Foto: Angelo Parrella

Quem está acostumado com esportes tradicionais pode estranhar, mas os games estão ganhando cada vez mais destaque como modalidade esportiva. O esporte eletrônico, o eSports, despontou com a cultura dos jogos eletrônicos, que se popularizaram nas últimas duas décadas. Seu público e mercado vêm crescendo cada vez mais. Games online, como League of Legends (LoL), DoTa 2, Hearthstone e Counter-Strike: Global Offensive (CS:GO) fizeram com que a cultura do eSport eclodisse no mundo todo, principalmente entre os jovens. Se no futebol é normal ter seus aficionados acompanhando o cenário profissional, não é muito diferente

Henrik Borges PRI MEI RA

MÃO

Matheus Morette

Call of Duty no PlayStation 3 fiz amizades que levo até os dias de hoje”. Contudo, com o crescimento do eSport até mesmo quem nunca encostou no mouse do computador para jogar tem acompanhado os cenários competitivos. O estudante Matheus Morete assiste a diversos campeonatos de CS:GO e se diz um grande fã do esporte mesmo sem nunca ter jogado. “Eu nunca joguei uma partida de CS:GO, porém, quando assisto aos campeonatos, eu sinto a competitividade, emoção e a alegria de poder torcer. Eu gosto de esporte em geral e para mim o eSport é mais uma modalidade”, afirma. Matheus ressalta que gostaria que os jogos eletrônicos tivessem mais visibilidade como esporte. “Eu espero que a modalidade continue a crescer, até porque é um entretenimento que eu gosto demais. Sou fã do Fallen, torço para o time da Sk Gaming - time brasileiro que está entre os melhores do mundo - e gostaria muito de ver o time que torço carregando a bandeira do Brasil em uma disputa nas Olimpíadas”.


são, porém se constituem em uma linha diferente do esporte físico”, explana. José Luiz ressalta, porém, que a ascensão dos jogos eletrônicos no mundo dos esportes é algo essencialmente capitalista, pois com o crescimento e o maior acesso à tecnologia as pessoas são levadas a buscar novos horizontes de diversão e, “inconscientemente”, o surgimento de novas modalidades de esportes. “Existe uma tendência na aparição de novos esportes. Haja vista que para uma determinada modalidade seja aceita como esporte é avaliado principalmente o viés do capital. Se existe consumo para prática ou para assistir, com certeza essa modalidade vai se desenvolver como esporte”. Outra discussão que causa muita polêmica é sobre os impactos que essa modalidade pode causar. É impor-

Professor José Luiz dos Anjos

tante destacar a diferença entre o jogo eletrônico como esporte e ele como forma de entretenimento para quem joga. “Os jogos eletrônicos ajudam a melhorar o pensamento lógico, memória e aprendizagem verbal. Porém, o eSport transmitido pela mídia é diferente do jogo que uma pessoa consome em sua casa. Apesar de ser o mesmo conteúdo, quando consumido de forma compulsiva pode prejudicar a pessoa que joga”, alerta José Luiz. Foto: Henrique Andreão

Afinal, jogo eletrônico é esporte? O crescimento do público e do mercado tem gerado muitas discussões sobre os jogos eletrônicos serem realmente considerados uma modalidade esportiva. Existem aqueles que acreditam que o “joguinho” nunca vai ser considerado um esporte, enquanto outros afirmam que os esportes eletrônicos são válidos. O doutor e especialista em Sociologia do Esporte da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), José Luiz dos Anjos, afirma que, assim como o xadrez é um esporte, os jogos eletrônicos também os são. “O jogo eletrônico, ao contrário do que muitos pensam, trabalha muito a questão do corpo, exige muito da concentração e do preparo de quem joga. Assim como o xadrez é considerado esporte, jogos eletrônicos também

Foto: Henrique Andreão

ESPORTE

Jogadores investem cada vez mais em equipamentos para melhorar a performance nos jogos eletrônicos. PRI MEI RA

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ESPORTE ESPORTES ELETRÔNICOS NAS OLIMPÍADAS Recentemente, o Comitê Olímpico Internacional (COI) se reuniu com o presidente do Comitê de Candidaturas de Paris, Tony Estanguet, e com representantes dos jogos eletrônicos para avaliar a possibilidade de incluir o eSport como uma modalidade olímpica nos Jogos Olímpicos de 2024, em Paris. A discussão sobre o assunto cresceu após a inserção de esportes urbanos, como o

surfe e skate, nas Olimpíadas de Tóquio, em 2020. Enquanto o debate continua, o Conselho Olímpico da Ásia saiu na frente e decidiu incluir alguns jogos eletrônicos no quadro de esportes dos Jogos Asiáticos de 2022, na China. Para o professor José Luiz dos Anjos, essas mudanças poderão ocorrer por causa da alteração nas preferências do público

mais jovem. “Nas próximas Olimpíadas, o surf e o esporte urbano, como skate, vão começar a aparecer. Tudo isso porque o público está envelhecendo e os esportes tradicionais já não chamam a atenção da nova geração. Já os novos esportes vêm justamente para trazer esse novo público e para que os jovens possam participar dos eventos mundiais”, afirma.

De olho nos números Enquanto muitos acham que é “só um joguinho”, os dados mostram outra realidade. Só na semi-final de LoL de 2017 foi registrado um pico de 80 milhões de espectadores simultâneos, e segundo um estudo feito pela Newzoo, empresa holandesa especialista no mercado tecnológico, o crescimento do eSport superou expectativas: em 2016, o mercado de esportes eletrônicos teve um rendimento de 493 milhões de dólares; no ano seguinte, a arrecadação foi para 655 milhões; para 2018, a expectativa é que o número seja aproximadamente de 900 milhões. A empresa ainda espera que o rendimento chegue a

1 bilhão e 650 milhões de dólares em 2020. Não pense que o Brasil fica de fora dessa tendência. A pesquisa da Newzoo mostrou que o país é o terceiro no mundo em número de espectadores dos esportes eletrônicos, atrás apenas da China e dos Estados Unidos. Os brasileiros são tão envolvidos nos eSports que os fãs correspondem a quase metade de todo o público da América Latina. A maior parte das transmissões de eSport é feita em sites de streaming, como o Twitch TV. Entretanto, com a expansão do mercado, canais como SporTV, ESPN, e Fox Sports investiram no cenário e já possuem esportes eletrônicos em suas grades.

Empresas, famosos e times grandes também estão atentos nesse novo nicho e tem apostado no esporte eletrônico. Recentemente, o exjogador Ronaldo Fenômeno se tornou sócio do “CNB eSports Club”, uma das maiores empresas do ramo no país. O Clube de Regatas do Flamengo também entrou no mundo do eSport e criou um time do jogo League of Legends. Empresas como Vivo, Gillete e Submarino também investiram em equipes no Brasil e no mundo. Nos Estados Unidos, a NBA, principal liga de basquete do país, criou a sua “versão gamer”: uma nova liga de basquete virtual, em parceria com a desenvolvedora do jogo NBA 2K.

O CRESCIMENTO DOS PRÊMIOS DOS CAMPEONATOS MUNDIAIS (LOL, DOTA 2), EM DÓLARES 2011 League of Legends DoTa 2

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2016

2017

2,6 milhões

1,8 milhões

5 6,6 9,1 1 milhão 1 milhão 1,4 milhões milhões milhões milhões

10,8 milhões

50 mil

2012

2013

2014

2015

1 milhão 1 milhão 1 milhão 1 milhão

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ESPORTE ESPORTE eSport capixaba Aqui no Espírito Santo, o Rio Branco Futebol Clube anunciou uma equipe do jogo Counter Strike: Global Offensive. O time ainda é recente, mas a ideia apareceu como sugestão do atual diretor de eSport do clube Lucas Negrelli, que afirma se divertir jogando CS:GO. “Eu tinha a prática de jogos eletrônicos, então por conhecer um pouco do cenário do eSport, procurei alguns amigos envolvidos dentro do Rio Branco e propus a ideia de juntar a nova modalidade pelo amor ao time”.

Jonas Barbosa, diretor do time de CS:GO, conta que quando a seleção foi aberta, a procura foi grande e, apesar de já terem quatro jogadores no time, ainda falta preencher uma vaga. “Divulgamos nossa inscrição para jogadores interessados em participar da equipe e a partir disso fomos montando o time. Foram ao todo 86 inscritos para preencher 5 vagas”, relata. A intenção, segundo Jonas, é atrair os olhares dos mais novos para o clube e, ao mesmo tempo, apresentar aos torcedores mais tradicionais a nova modalidade que

os “capas pretas” estão participando. “A oportunidade que o Rio Branco abriu para os jogadores de eSport é muito boa. A intenção é juntar o tradicionalismo do time junto com a juventude. Queremos um time que além de partilhar o amor pelo nosso Estado, possa treinar de forma presencial.” Além disso, os dirigentes ressaltam que a vontade do clube é ampliar para outros jogos eletrônicos, como LoL e até mesmo Fifa, mas que por agora o foco é alcançar os principais times da modalidade. Foto: Angelo Parrella

OS JOGOS MAIS ASSISTIDOS NA TWITCH TV EM FEVEREIRO DE 2018 League of Legends 80.9 milhões de horas Fortnite 65.5 milhões de horas

Counter Strike Global Offensive 37,4 milhões de horas DoTa 2 32.9 milhões de horas Hearthstone 27.9 milhões de horas Overwatch 26.7 milhões de horas World of Warcraft 15.1 milhões de horas Grand Theft Auto V 14.6 milhões de horas Monster Hunter World 13.2 milhões de horas Dados: Newzoo

Lucas Negrelli e Jonas Barbosa.

BRASIL NO FOCO DO CS:GO No Counter Strike: Global Offensive, o Brasil é um dos destaques no cenário mundial. A equipe brasileira “SK Gaming” ganhou oito títulos só em 2017, e é considerada uma das melhores do mundo. Gabriel “FalleN” Toledo, capitão do time, ganhou o prêmio de Personalidade do Ano 2016, pela eSports Industry Awards, além de ser considerado por mui-

tos especialistas como o melhor líder de equipe do jogo. Nessa edição da premiação, Marcelo “coldzera” David, outro membro da equipe, foi considerado o “Melhor Jogador de PC”. No mesmo ano, “coldzera” também foi premiado como o melhor jogador do ano pelo “The Game Awards”, popularmente conhecido como “Oscar dos games”.

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PLAYERUNKNOWN’S BATTLEGROUNDS 43.1 milhões de horas

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Com o crescimento do mercado de games, muitos investidores tem apostado na realidade virtual.

Já Hearthstone criou um cenário competitivo tão grande que em seu último campeonato mundial, realizado este ano, teve como prêmio a quantia de R$ 3,2 milhões. O jogo de cartas

ainda coleciona vários prêmios, dentre eles o de melhor cardgame de 2013 pela Forbes e o de melhor jogo para dispositivos móveis de 2014, dado pela The Game Awards. Foto: Freepik

Mobiles liderando A facilidade de entrar no mundo do eSport só tem aumentado. Com a disseminação em massa dos smartphones, muitos jogos foram criados na plataforma mobile. Com isso, novas modalidades passaram a surgir, é o caso dos jogos Clash Royale e Hearthstone. Clash Royale teve seu primeiro campeonato mundial no ano passado e registrou 27,4 milhões inscrições, o que tornou as disputas pelas 16 vagas da final acirradas. Pode parecer “coisa de criança”, mas a brincadeira no celular rendeu ao mexicano, Sergio Ramos, o prêmio de US$ 150 mil. Em tempo, Clash Royale registrou mais de 100 milhões de downloads no Google Play.

Foto: Freepik

ESPORTE

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Estudo feito pela Newzoo, em 2017, mostrou que existem 66.3 milhões de jogadores de console no país. PRI MEI RA

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ESPORTE ESPORTE

PRAZER, EU SOU JOGADOR PROFISSIONAL (DE GAMES)

Foto: Leaguepedia (Susan Lasen)

Arlindo “Element” Neto, 22 anos, é jogador profissional no jogo League of Legends. Começou a carreira no time “Get Over It”, mas começou a se destacar nacionalmente quando participou do Campeonato Brasileiro de League of Legends (CBLoL), jogando pela “RMA eSports”. O jogador passou por times relevantes no cenário brasileiro, como “KaBuM! Black” e “CNB eSports Club”. Arlindo também morou por um tempo no Chile, jogando profissionalmente pela equipe “Kaos Latin Gamers”. Atualmente é reserva na equipe “Submarino Stars” e streamer na Twitch TV.

Qual sua opinião sobre o jogo eletrônico ser considerado esporte? É um esporte como qualquer outro. A diferença é que você não faz um esforço físico. Mas você tem um esforço mental absurdo que acarreta em você trabalhar todos os dias da semana. De que forma o eSport mudou sua vida? Eu saí de casa logo depois do 3º ano e me senti como estivesse numa faculdade em outro estado, aos 18 anos. Ao invés de estar estudando, eu estava treinando com uma coisa profissional. Com o passar dos anos eu me

acostumei com as mudanças. Quais sacrifícios e desafios você enfrentou para chegar onde chegou? Nesses anos todos, o maior sacrifício que eu passei foi ficar longe da minha família e amigos quando eu fui pro Chile pra ganhar mais dinheiro. Eu fiquei longe de todo mundo para lutar por um sonho. É uma profissão que você não tem sempre um lugar fixo. O que você acha que acontecerá no cenário do eSport? O esporte eletrônico no Brasil só tende a aumentar porque é algo que você faz pelo computador. É algo que você mesmo, ou seu filho, ou seu primo podem se divertir. E as vezes pra um acaba ficando mais rentável do que um cara que estudou, por exemplo. Assim como o futebol ajuda muitas pessoas, você acredita que o esporte virtual pode melhorar a qualidade de vida de alguém? Depende de quem a pessoa é dentro do mundo dos games. Ela precisa necessariamente ser famosa pra ganhar dinheiro. Isso vai impactar diretamente na qualidade de vida da pessoa. O que te levou a sair da carreira de jogador para se dedicar ao streaming? Eu tenho uma doença crônica no meu braço PRI MEI RA

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Foto: Riot Games

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ESPORTE ESPORTE e trabalho na parte da noite. Começo a streamar às 23h e vou até 9h ou 10h da manhã. Nesse horário eu fecho a stream e vou dormir pra começar a transmissão à noite de novo. Pretende continuar na área de streaming? Qual sua expectativa pro futuro? Pretendo continuar como streamer porque é algo que só tende a crescer, já que você trabalha com mídia e tem uma proximidade maior com o público. O público te ajuda muito a conseguir as coisas. E dependendo do nú-

mero que você atingir você pode fechar ótimos patrocínios. Qual sua mensagem para as pessoas que querem entrar nessa área de investimento ou no competitivo de jogos eletrônicos? Quero dizer que é um caminho árduo a ser seguido. Você só começa a ser reconhecido quando consegue mil espectadores na sua stream. Com 2 ou 3 mil as pessoas te notam mais. Mas só quando você começa a pegar 5 mil espectadores fixos é que você fica realmente famoso. Foto: Arquivo pessoal do jogador

que impactou diretamente na minha decisão de parar de jogar profissionalmente. Uma outra questão de trabalhar com streaming é a maior flexibilidade de tempo. Como é a sua rotina hoje? Quanto tempo você se dedica ao streaming? E na época das competições, como era seu dia? Por conta do time da Submarino eu ainda tenho que treinar pro campeonato do circuito de acesso ao CBLoL. Mas acabando ele eu volto à minha rotina normal. Almoço e janto normalmente,

“Element” foi campeão da “Copa Latinoamerica Sur Clausura” pela Kaos Latin Gamers. Foto do arquivo pessoal PRI MEI RA

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ESPORTES ESPORTE

Mulher, conheça sua força!

A procura por conhecimentos de defesa pessoal e artes marciais é crescente entre o público feminino Thais Marchesi Numa sociedade em que as noções culturais sobre o papel da mulher permeiam a objetificação sexual e a ausência do poder sobre o próprio corpo, somos forçadas a procurar por alternativas para lidar com possíveis situações de assédio ou agressão. Uma dessas alternativas que vem se destacando são as técnicas de defesa pessoal. A autodefesa feminina visa a preparação do corpo para situações de risco, tanto para evitar a violência, como para o confronto direto. Não necessita de força, mas sim de habilidade e treino, trabalhando pontos

de pressão, torção e desequilíbrio, e servindo para que alguém, com menos tamanho e força, consiga executar os movimentos e imobilizar um possível agressor que seja maior e/ou mais forte. “Ficar mais atenta na rua e aos riscos, com perceber algum agressor vindo em sua direção”, são diferenças que Letícia Barreto, praticante de Krav Maga há três anos, indica como significativas no dia-dia. O Krav Maga é uma luta que foca na neutralização de ameaças que utiliza movimentos defensivos e ofensivos simultaneamente e que, segundo Letícia, só

passou a perceber as situações depois que começou a praticar: “A luta já me tirou de algumas situações ruins. Acredito que atualmente é fundamental que as mulheres saibam se defender”. De acordo com o professor de Krav Maga Marcelo Farinelli, a procura pelas aulas por parte do público feminino tem aumentado e hoje representam entre 30% a 40% das turmas. “Esse aumento é explicado devido à sensação de insegurança. Além disso, em uma situação de agressão real, é preciso habilidade técnica e capacidade emocional”, relata Marcelo.

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Fique sempre atenta!

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“Uma coisa que sempre é falada em sala de aula e, talvez sirva como uma dica: é mudar a postura na rua. As pessoas costumam andar muito desatentas, sem prestar atenção no entorno, no que acontece à sua volta. Elas se distraem no celular, pensando no que irão fazer amanhã, no que aconteceu ontem. O agressor na rua quer facilidade, não quer dificuldade. Assim, quando ele percebe alguém distraído e com um comportamento mais apático, acaba mirando como alvo. Estar atento já inibe uma série de problemas.” Marcelo Farinelli, professor de Krav Maga.


Foto: Thais Marchesi PRI PRI MEI MEI RA RA

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Foto: Thais Marchesi

ESPORTE

Alunas de krav Maga do Professor Marcelo Farinelli

O professor esclarece que em sua modalidade esses dois aspectos são trabalhados constantemente: “O primeiro, a habilidade técnica é possível evoluir mais rapidamente, já a capacidade emocional varia de acordo com o aluno”. Mesmo que algumas artes marciais já sejam programadas para técnicas de defesa, qualquer uma delas pode ser utilizada para esse fim. Pais da adolescente Bruna Oliveira, de 13 anos, o

casal Fabrícia Santa e João Luiz Oliveira tem a preocupação de que a filha saiba se defender, o que os levou matriculá-la no judô. “Ela é nossa caçula e não tivemos essa atenção com os outros dois filhos. Com a nossa preocupação, a matriculamos no judô, quando tinha 9 anos”. Hoje os pais veem que além da questão de autodefesa e prática esportiva, a filha tem a luta como um hobby.

A sensação de insegurança dentro dos ônibus e pelo caminho que faz diariamente para chegar até em sua casa fez com que a estudante Laísa Simonneti, de 20 anos, procurasse pelo Muay Thai, luta marcial típica da Tailândia que desenvolve o condicionamento físico, a concentração e a autoconfiança. “Sou iniciante, pratico há três meses, porém já tenho me sentido mais segura”, diz.

Para auxiliar na sua defesa, memorize as áreas vulneráveis do corpo, isto é, as áreas onde ao receberem a aplicação de quaisquer pressões, como um golpe, causará dor de imediato.

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