Primeira Mão Ufes 117 agosto 2009

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edição 117.ano XIV.agosto de 2009

Tempo

Perdido 02 Driblado 03 Que não volta 04.05 Relativo 06.07 Quem explica? 08.09 Amigo 10 Digital 11 De criança 12.13 No cinema e na música 14 E nós 14 Dos Sexos 15


A triste realidade de um

tempo que

não volta Histórias de decepção com o rumo que a vida tomou Leonardo Quarto Marlon Marques

Para a física, o tempo é relativo. Na pressa, ele é curto. Na espera, longo. Na decepção, não volta mais. A falta de paciência, facilmente notada no trânsito, nas filas, e na busca de resultados imediatos, mostra que de uma forma ou de outra, o homem acredita que sempre está perdendo tempo. Camilo Marcarini sentiu a ação do tempo na pele. Jogou futebol

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Diante de um choque tão grave, Camilo chegou a pensar que ia morrer. Mas depois de certo tempo, reagiu. Conscientizouse de seu problema de saúde e procurou reabilitação. O jogador acredita que vai voltar a trabalhar assim que a recuperação acabar. Formado em Educação Física, dá graças a Deus de ter estudado e possuir que se arrepende e muito condições de seguir a do que não realizou. Uma série de complexos fez vida. com que Sílvia deixasse A postura do atleta de ir a festas, viagens e é a mais indicada em aproveitasse “a melhor casos como esses. O fase da vida”. Como psicólogo José Eduardo saída, resolveu fazer Sassemburg diz que tudo de uma vez, mais nessa situação é muito tarde, aos 20 anos, já na comum encontrar faculdade. pessoas aos “cacos”. O doutor lembra que a Sempre ansiosa, Sílvia frustração é resultado ainda quer tudo na de uma expectativa hora. Ao perceber que gerada e não se encontrava em uma correspondida. E é essa situação extrema de ansiedade do cotidiano ansiedade, tentou mudar que gera uma sensação e até procurou ajuda de tempo perdido no psicológica. Contudo, na indivíduo. “A pessoa opinião da jornalista, não está preparada o mais importante foi amadurecimento para o fracasso e não o entende que as coisas adquirido com o tempo. podem simplesmente “Percebi que estava indo não funcionar”, diz de um extremo ao outro, o que também não era Sassemburg. legal”. Esse tipo de falta de compreensão foi um dos Sassemburg lembra que problemas enfrentados quando uma escolha pela jornalista Sílvia é feita, milhares são Gonçalves. Com rejeitadas. O que é normal, uma adolescência mas pode ser perigoso conturbada, ela revela diante da negação

Camilo Marcarini depois de parar de jogar futebol que pretende dar aulas

do enfrentamento dos problemas apresentados pela vida. “Essa não aceitação pode gerar doenças cardíacas e psicológicas”, alerta. Dessa fase, Sílvia não gosta de falar muito. Mesmo com o problema superado, ainda sente vergonha de algumas coisas que fez ou deixou de fazer. Quando perguntada se poderia exemplificar algum arrependimento, disfarça. “Foram várias coisas. Mas no final, descobri que tudo era bobagem. Existem problemas muito mais sérios que os meus”. Sílvia assume que perdeu tempo e revela que não lida bem com a frustração, mas que conseguiu certo equilíbrio sozinha. “Não posso me considerar uma pessoa equilibrada. Essa palavra é muito forte. Mas, sou feliz”.

Expediente. Equipe 2009.1: Aghata Avanza; Aline Dias; Ana Paula Chaves; Anna Karla Lerbach; Brunella França; Carlos Augusto Almeida Neto;Daniel Vargas; Fabiana Tessinari; Gabriela Zorzal; Geize Miranda; Janaina Silva; Kássia Salazar; Leonardo Quarto; Luiz Alberto Rasseli Jr.; Marcela Rangel; Marlon Marques; Natasha Siviero; Priscila Gonçalves; Rafael Arcanjo Jr.; Roberta Duarte; Shamylle Alves; Simone Azevedo; Sylvia Ruth; Thais Schoereder. Professor Orientador: Rafael Paes 1556JP Editores: Brunella França; Daniel Vargas Diagramação: Brunella França; Carlos Augusto de Almeida Neto; Daniel Vargas; Rafael Arcanjo Jr.; Sylvia Ruth Gráfica: JEP Tiragem: 1000 exemplares O Primeira Mão é um jornal experimental do Curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Espírito Santo. Av. Fernado Ferrari S/Nº, Goiabeiras, Vitória - ES, Cep: 29060-900. Departamento de Comunicação Social, Tel.: (27) 4009-2603 Foto da capa: (cc) - flickr.com/photos/oberazzi

viva o pixel !

p

durante 20 anos. Começou ainda criança no salão, passou pelo campo em São Paulo, mas fez sucesso mesmo na areia. Em março, defendia a Seleção Brasileira em mais um desafio rumo a Copa do Mundo de Beach Soccer que acontece em dezembro. “Já estava com a minha vaga certa”, diz. Contudo, apenas três meses depois, Camilo viu seu “chão sumir”. Após dois desmaios na arena, resolveu procurar um médico e fazer uma série de exames. Ouviu o pior. A constatação de uma arritmia cardíaca o obrigou a abandonar o futebol imediatamente.


Tem um minutinho?

Foto do clássico “Tempos Modernos”, onde Carlitos luta contra o tempo na linha de produção onde trabalha.

Não! Gabriela Zorzal Shamylle Alves

M e s m o gostando muito da Se existe uma coisa realmente democrática é o tempo. vida agitada Todos nós dispomos das mesmas vinte e quatro horas que leva, para fazer atividades e, ainda assim, achamos que a jornalista sempre falta tempo em nossas vidas. Trabalhar, conta que sente estudar, cuidar da família, fazer um curso extra, falta de ter um participar da comunidade e ainda arrumar um tempo para se tempinho para dormir. Em algumas ocasiões, dedicar a hobbies, hábitos essenciais ao ser humano como o como ir ao cinema, sono, a alimentação e o lazer, são eliminados ver filmes em casa e do cotidiano com a necessidade de se ganhar ler. “Gostaria de ter tempo e de se produzir mais. um tempinho para ficar à Suzana Tatagiba, Rafael Reis e Mariana Poleze. toa. Gosto de ir à Conceição Três pessoas, três realidades, três vidas totalmente da Barra, de ir à praia e de jogar diferentes. Mas, então, o que eles têm em comum? conversa fora. Hoje, faço isso muito Os três dizem em unanimidade: falta tempo! pouco, pois falta tempo”, lamenta Segundo a jornalista Suzana Tatagiba, seu dia Tatagiba.

Administre tempo!

melhor

seu

1- Faça uma lista semanal das atividades que precisa realizar. 2- Ordene as tarefas por ordem de prioridade. 3- Anote tudo em um lugar bem visível (agenda, celular, geladeira). 4- O que não for feito, passe para a lista da semana seguinte como prioridade.

É o caso de Rafael Reis, que além de cantar em shows, festas e eventos e de fazer faculdade, estagia em uma assessoria de comunicação, cursa o Técnico em Informática e dá aula de catequese para 40 crianças

Faça uma revolução sem fazer nada Enquanto muitas pessoas correm contra o tempo para dar conta de tantas tarefas, outras dedicam o tempo livre a fazer uma tarefa apenas: nada.

A realidade da estudante universitária Mariana Poleze também é corrida apesar de não ser tão diversificada como a de Rafael Reis. Mariana acorda às seis e meia da manhã e vai para o trabalho em uma empresa de logística. Depois de uma exaustiva rotina diária de serviço, o que ela mais deseja é ir para a casa descansar. Assim seria, se à noite ela não tivesse que ir à faculdade. “Depois de um dia inteiro de trabalho, confesso que vou para a faculdade já cansada, mas tento dar o melhor de mim, afinal, o estudo é muito importante para o meu futuro, por isso não me importo tanto de fazer alguns

É nos fins de semana que a estudante tenta “desestressar”, saindo com amigos e vendo televisão. Mas o tempo às vezes não é suficiente. Durante a semana, é praticamente impossível realizar as tarefas e trabalhos passados pelos professores. Mariana utiliza os dias de descanso para fazêlos. “Os feriados prolongados têm sido fundamentais para dar uma revigorada. É neles que consigo descansar melhor, pensar menos em trabalho e faculdade, sair e viajar com a família e amigos”, reflete Mariana Poleze. Essa necessidade de fazer tanta coisa dá a impressão de que falta tempo. Ele se transforma em um recurso escasso e totalmente perecível. É que uma hora que se passou nunca mais será recuperada, não se pode voltar o relógio e aproveitá-la de novo. Diante dessa escassez, uma alternativa é se organizar. Veja algumas dicas no box abaixo:

recebem por e-mail a programação dos eventos com data, local e dicas especiais. Segundo Marcelo Bohrer, criador do movimento, a ânsia contemporânea de dar conta de tudo com rapidez e eficiência torna-se um vício e, como tal, prejudica a saúde. Por isso a necessidade de se desconectar e se abster desse ritmo intenso por algum momento. O clube conta hoje com mais de 6 mil sócios no Brasil e no exterior. O símbolo do grupo é um cubo vazio. O objeto, que funciona como uma barraca, serve para sinalizar os locais de eventos do grupo.

O clube do Nadismo, criado em 2005 em Londres pelo designer Marcelo Bohrer, foi lançado oficialmente no Brasil em 2006 e tem como objetivo principal criar um momento especial que ofereça a oportunidade rara de efetivamente parar e não fazer coisa alguma. Os eventos do nadismo ocorrem no mínimo uma vez por mês em locais públicos como parques e Mais informações: seus participantes ao se associarem, marboh.com.br/clubedenadismo

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Os fins de semana de Suzana Tatagiba também são agitados. No sábado e domingo, ela tem a oportunidade de planejar suas aulas e de corrigir as provas e trabalhos da faculdade, além de participar de reuniões do sindicato. “É uma rotina com certeza desgastante, mas que já estou acostumada, apesar de me sentir exausta”, afirma Suzana.

Está enganado quem pensa que só as pessoas que têm uma carreira firmada são sobrecarregadas. A necessidade de experiência e especialização, antes mesmo de se formar, é tanta, que muitos jovens dedicam seu tempo a estágios e cursos de média e longa duração enquanto freqüentam a faculdade.

Segundo Rafael, o segredo para conseguir fazer tudo é administrar bem o tempo. “Tenho uma programação a seguir durante o dia. Tudo tem a sua hora, hora de estudar, cantar, trabalhar, ficar com a família, tempo para a igreja, sair com os amigos...”

sacrifícios”, conta Mariana, que só consegue relaxar de fato depois das 23:30 h. Essa é a hora que ela chega em casa e, finalmente, pode dormir. E dormir pouco, porque tem que acordar cedo no outro dia.

Foto: divulgação

deveria ter pelo menos 36 horas, assim ela poderia dar conta de todas as suas obrigações e ainda ter um tempinho a mais para descansar. E não é por menos. Suzana trabalha na parte da manhã e da tarde como assessora técnica na Prefeitura de Vitória e, durante a noite, dá aulas em uma faculdade da capital. Além disso, todos os dias ela realiza pela internet suas funções de presidente do Sindicato dos Jornalistas.

em sua comunidade, o bairro da Glória, em Vila Velha. O tempo de lazer foi transformado em trabalho. Nos momentos livres, ele se dedica a música.

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Sinto falta de algo... Marcela Rangel Priscila Gonçalves

Saudades de um tempo que não volta “Oh! Que saudades que tenho Da aurora da minha vida, Da minha infância querida Que os anos não trazem mais!” Casimiro de Abreu (poema “Meus oito anos”)

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Do grego nostos, “retorno para casa”, e de algia, “dor ou aflição”, a nostalgia é considerada um dos sentimentos mais comuns do século XXI. A contemporaneidade, com sua velocidade e sobrecarga de informações, se torna a época perfeita para evocar esse sentimento saudosista. De acordo com o professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra,

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Rui Bebiano, a velocidade e a quantidade de informações processadas pelo homem contemporâneo encontram na nostalgia a ferramenta necessária para resistir ao apagamento do passado. O desejo de voltar ao passado e mudar algo pode fazer com que as pessoas se aprisionem em uma esfera utópica e nostálgica e recordem um passado mais “florido” ou focado em suas melhores partes. “A operação nostálgica desenvolve, desta maneira, com o permanente apoio da imaginação, uma espécie de processo de higienização do acontecido, limpando-o das irregularidades, fazendo-o parecer completo e coerente, e transformando-o, por esta via, em exemplo e objeto de atração”, explica o professor

Rui Bebiano em seu texto “Nostalgia e imaginação: dois fatores dinâmicos num mundo global”. A incessante busca por recordar determinados momentos pode ganhar contornos psiquicamente conturbados. O psicólogo Fabrício Moraes explica que, uma pessoa que fica constantemente “atualizando” fatos passados, pode se tornar “fechada” ao futuro e a novas experiências. “Quando uma pessoa teve experiências muito negativas, ela se fecha ao futuro como uma forma de se proteger de possíveis repetições dessas experiências. Inconscientemente, ela cria um padrão de comportamento que busca evitar acontecimentos parecidos com os que viveu. Por outro lado, experiências


Contudo, a nostalgia não possui somente pontos negativos. Se por um lado ela pode ser uma forma de escapar do presente e das responsabilidades de um mundo adulto, por outro, ela pode possuir aspectos potencialmente terapêuticos. Podemos encontrar elementos que foram significativos e que nos possibilitaram ser felizes num dado momento de nossa vida. Desse modo, esses elementos indicam um caminho para recuperarmos o sentido perdido, explica o psicólogo Fabrício Moraes.

Guardando o tempo O disco de vinil, ou simplesmente vinil, é o símbolo mor do apego a décadas passadas. Também conhecido como LP (Long Play) ou bolachão, o vinil é objeto de desejo dos nostálgicos mais inflamados, como o estudante de 25 anos, Rafael Magnago Xavier, que se autodenomina um oitentista nato. Colecionador desde 1997, Rafael possui 178 discos de vinil, verdadeiras relíquias de fazer inveja a qualquer nostálgico de plantão. Os Menudos, New Kids On The Block, Trem da Alegria, Balão Mágico, Carrossel, Polegar, Dominó, Roupa Nova, Sérgio Malandro, Xuxa, Fofão e Bozo são apenas alguns exemplos de artistas que Rafael cultua até hoje por meio de seus LPs. Ao som de Super Fantástico, do grupo Balão Mágico, Rafael revela que sua paixão por décadas passadas é resultado de um inconformismo com os estilos musicais

que se iniciaram nos anos 90, cujas canções evocavam (e ainda evocam) sexo e pornografia. “Eu sentia falta da riqueza na letra das músicas e na sua produção”, desabafa o estudante, que, ao buscar refúgio no que acreditava ser música de qualidade, mergulhou no mundo dos amantes da década de 80. Além disso, Rafael ressalta a superioridade do áudio analógico em relação ao digital. “O áudio do LP é mais vivo, parece que estou no local da gravação”, argumenta o estudante. A coleção de Rafael é renovada constantemente. Ele adquire exemplares raros em sebos da Grande Vitória e em sites da internet. Dependendo do artista e do estado de conservação do LP, os preços podem chegar a mais de R$100. “Quem sabe o valor de um LP não vende barato”, explica Rafael. Eleito como o mais nostálgico entre os amigos, Rafael conta que seus vinis o levam a uma época boa e que não volta. “É como um flash-back, que me traz bem-estar. Eu amo a década de 80”, finaliza.

Ritual O ritual ocorre todos os fins de semana. Do Micro System, Rafael utiliza apenas as caixas de som, que ficam diretamente conectadas no toca-discos. Ele escolhe o LP, tira-o pela borda, segura-o pelas laterais, apoiando-o na perna, inspeciona os dois lados para garantir que não há arranhões, coloca o LP no toca-discos, atentando-se para a agulha, que não pode estar suja e nem desencaixada. Antes de colocar a agulha, Rafael deixa o disco rodar uma vez, verificando se está tudo correto, afinal não pode correr o risco de arranhar o LP ou danificar a agulha. “É um ritual prazeroso e relaxante manusear os meus discos. É uma forma de desestressar”, diz o estudante. Os cuidados de Rafael com os discos são muitos. Vão desde à forma de manuseá-los e guardá-los até à limpeza mensal, com um limpador específico para essa finalidade, embebido em álcool. A maior precaução, contudo, é não usá-los frequentemente, para não desgastá-los. Os LPs são usados ocasionalmente e de forma revesada.

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muito positivas p o d e m levar a pessoa a acreditar que nunca passará por situações tão boas como aquelas e, então, ela se fecha para novas experiências”, relata Moraes.

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Quanto tempo

tem o tempo? Fabiana Tessinari Thaís Schoereder

Um dia tem 24 horas, uma hora 60 minutos e um minuto 60 segundos. às vezes, um minuto parece uma eternidade ou pode passar voando. Porque a percepção que cada pessoa tem do tempo é diferente, apesar dele ser igual para todo mundo. “Quando somos crianças, a chegada de um aniversário ou do Natal parece ser mais longa. Enquanto para um adulto, as preocupações e obrigações do dia-adia acabam impedindo a expectativa quanto a essas comemorações.

A rotina pode fazer o tempo passar mais rápido. No entanto, um grande acontecimento pode mudar isso. Nada se compara à ansiedade de uma noiva à beira do altar, por exemplo”, afirma a psicóloga Cynthia Fernandes. Dulciane Vieira, 32 anos, recém-casada, conta que durante os preparativos do seu casamento, sentia como se o tempo tivesse que parar para que pudesse dar conta de organizar tudo. “Logo que fiquei noiva, há dois anos, parecia faltar muito tempo para a cerimônia. Mas quando chegou mais perto, o tempo passou voando. Minha vontade era que todos à minha volta parassem o que estavam fazendo para me ajudar”, revelou.

Carpe Diem Dicas 1- Procure viver experiências novas; - Viaje para lugares diferentes; - Mude e marque, fazendo um ritual, uma festa ou registros com fotos; - Troque de paisagem. Tire férias com a família para um lugar quente em um ano e frio no seguinte;

2 - Faça festas de noivado, casamento, 15 anos, bodas disso ou daquilo, bota-foras e participe da formatura de sua turma; - Visite parentes distantes; - Vá a uma final de campeonato; - Comece um novo curso;

A psicóloga Cynthia Fernandes destaca que quando há um deslocamento do tempo, ou seja, coisas importantes ou fora da rotina acontecem, a percepção do tempo muda. “Há um movimento que nos faz perceber mais as coisas. Uma viagem a um lugar novo, por exemplo, é uma coisa que faz a pessoa parar e prestar atenção nos detalhes”. Para evitar que a vida “passe sem que percebamos”, a psicóloga aconselha dar atenção às coisas simples: ouvir mais os outros, sentir o gosto da comida e estar realmente no trabalho ou na aula. “Deve-se dar importância ao que se está fazendo no momento, sem pensar no futuro, no que terá que fazer depois. Cada circunstância merece uma atenção especial”, completa.

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Nadando, pedalando e correndo contra o tempo

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Pâmella Oliveira, triatleta de 21 anos, campeã da Copa Brasil de Triatlo e do Brasileiro Olímpico de Triatlo na categoria sub-23 anos, decidiu não tratar o tempo como um inimigo, mas se aliar a ele e aproveitá-lo com eficiência. A atleta começou sua carreira na natação e só depois resolveu se dedicar ao esporte. “O triatlo é uma prova longa, mas nem por isso, cada minuto deixa de ser precioso. Às vezes, quando analiso cada parte da competição, percebo que se tivesse nadado um pouco mais rápido, poderia ter ido melhor no ciclismo, ou se tivesse pedalado mais forte, poderia ter alcançado o pelotão da frente na corrida. Por isso, é bom estar sempre ligada no tempo”, considera. “Geralmente, uso relógio durante as provas para controlar o ritmo da corrida”, admite. Pâmella lembra que, durante suas competições na natação, o tempo era ainda mais valioso. “Uma vez, em um campeonato de natação havia quatro participantes, todas com tempos muito parecidos. A prova acabou sendo decidida apenas nos últimos centésimos segundos, na batida de mão”. A atleta dedica sete horas por dia para treinamento e afirma que a percepção do tempo é bastante diferente durante as competições. “Os treinos parecem intermináveis. No fim do dia, estou super cansada. Já durante as disputas, a adrenalina é grande. Nem percebo que fico mais de uma hora fazendo esforço. Sou só coração”.


Precioso tempo

A mesma situação gera sentimentos contrários na vida das detentas Sylvana Oakes, 34 anos, e Michele Machado, 27 anos. Para a primeira, que já cumpriu 11 meses de uma pena de quatro anos, é difícil falar se o tempo passa rápido ou devagar. “Sinto muita falta dos meus filhos; penso que não estou acompanhando o desenvolvimento deles. Mas também, acho que não aproveitava cada minuto em liberdade e hoje vejo que o tempo é precioso”, lamenta. “Aqui, realizo atividades produtivas. Estudo e trabalho na contagem das marmitas, na entrega de pães, varro e passo pano nos corredores e coloco o lixo para fora, todos os dias. E isso ajuda a passar meu tempo”. Já para Michele, que está presa há um ano e dois meses, o tempo parece não passar. “Tenho esperanças de que, depois do recurso, minha pena caia para três anos e dois meses e nem mais um dia, que aqui, parecem ficar bem mais longos. Sinto como se meu tempo não fosse aproveitado, fosse simplesmente perdido, porque não faço nada. Gasto meus dias jogando baralho e dominó”, confidencia.

3 - Escolha roupas diferentes; - Não pinte a casa da mesma cor; - Beije diferente sua paixão e viva com ela momentos diferentes; - Leia livros diferentes; - Veja outras culturas, visite museus estranhos, deguste pratos esquisitos;

4 - Escolha roupas diferentes; Troque a cor do cabelo. Deixe a barba, tire a barba; - Compre enfeites diferentes no Natal ou faça os enfeites com a participação das crianças; - Vá a shows; - Cozinhe uma receita nova, tirada de um livro novo;

Longo tempo Para Luis Jesus Ignácio, 79 anos, que sofre de obesidade mórbida e de um desvio na coluna, não é nada fácil passar seus dias na cama. “À noite é menos pior, porque vejo os noticiários. Durante o dia minha esposa e a empregada vêm até o quarto e conversam um pouco, mas não posso fazer nada, só ver tevê. Não consigo ler por conta da posição que fico na cama. Por isso, passo a maior parte do meu tempo sonhando com o futuro”, revela. Luis afirma ainda que mede seu tempo de acordo com o horário das refeições e dos telejornais. “Meu dia parece longo e tedioso”, lamenta.

5 - Tenha filhos. Eles destroem a rotina; - Faça festas de aniversário, marcando o evento e diferenciando o dia. Use e abuse dos rituais para tornar momentos especiais diferentes de momentos usuais;

de lugares diferentes, com religiões diferentes e que gostem de comidas diferentes. - Busque experiências novas. Seja diferente. Porque se você viver intensamente as diferenças, o tempo vai parecer mais longo. Fonte: borkenhagen.net/reflexoes/pertem

É tempo de ser mãe A gestante Cristine Silva Santos, 39 anos, vê seus dias passando cada vez mais rápido. Com cinco meses de gravidez, a secretária está ansiosa para a chegada de seu primeiro filho. “Depois de tantos anos de espera, parece que foi ontem que descobri a gravidez. A gestação está passando rápido, mas cada dia é especial, já que tenho sempre novas surpresas. Vejo minha barriga crescendo, percebo as diferentes posições do bebê, as reações do meu corpo e do meu humor. Não existe mais rotina”, conta orgulhosa. “Quero curtir cada dia da gravidez. Porém, tenho que correr contra o tempo para tomar todas as providências, afinal, estou à espera de uma vida”.

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fotos: Fabiana tessinari/ Rafaella Rodrigues/ Thaís Shoereder/Acervo/divulgação

6 - Cerque-se de amigos. Amigos com gostos diferentes, vindos

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Companheiro do Espaço

Algumas explicações da ciência e da Filosofia que ajudam a entender o tempo Aghata Avanza Ana Paula Chaves Rafael Arcanjo Jr.

Das rugas que inevitavelmente um dia irão cobrir seu rosto às mudanças em sua forma de pensar e ver o mundo, tudo é resultado da relação inexorável que todos mantemos com ele. Impalpável, volátil, relativo, complexo. Nossas aulas de História nos ensinaram que o tempo é linear e contínuo. Havendo um passado, que é fruto da memória, um presente de onde falamos e um futuro ao qual estamos fadados. Pensar o tempo estendido em uma linha que atravessa um espaço vazio como a única forma pra explicá-lo tornou-se insustentável depois das descobertas de Einstein e do século XX. Nossa época, cheia de fragmentações e incertezas, nos leva a isso.

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A professora de História Débora Reis acredita que o ensino da disciplina não pode se limitar a explicar o tempo de forma linear, devendo haver uma dinâmica que relacione fatos e épocas, já que a História é um processo e o tempo visto desse ângulo não é tão linear quanto se pensa.

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A mudança em nossa só não superou a crescimento e morte. de relógio. Uns de nobre material, programados para a ele de diferentes preciso. Alguns alguns instantes completar um ciclo de décadas, como nós Larissa Bassani,

percepção do tempo simples narrativa: vida, O homem é uma espécie plástico, outros, do mais mas todos relógios, registrar o tempo, reagir formas e parar quando organismos vivem apenas e isso já lhes basta pra vida. Outros atravessam humanos. É o que afirma bióloga.

Estudos efetuados com pessoas que foram confinadas em cavernas, sem a possibilidade de utilizar relógios e de se orientar pelo sol, mostraram que nosso dia poderia, nessas condições, ser de mais de 30 horas. Nesse caso, somente o relógio interno estava funcionando, sendo ele o responsável por essa dilatação do tempo. Os organismos biológicos têm formas diferentes de absorver o tempo. Ao nascer, o organismo funciona de u m a forma e, com o passar do tempo, ele cria e desenvolve estruturas, estabelecendo caminhos, novas formas de funcionar. Isso não significa que o corpo, no caso do organismo humano, fique mais ou menos inteligente em determinada época. Em cada uma delas, o corpo estabelece uma forma particular para se manter vivo, entre cada período vivido não há melhora ou piora de rendimento. Nós causamos graves mudanças na constituição do tempo natural, tentamos superá-lo, mas acabamos superados por ele. Ao se armar de toda a tecnologia para se tornar o senhor de seu tempo e de suas rugas, o homem se tornou refém de uma rotina que, de acordo com a bióloga Larissa Bassani, causa doenças e nos envelhece precocemente.

Relatividade Não se sabe o que é o tempo, pelo menos não completamente. Nesta época, a tecnologia redefine esse termo a cada instante. Renata Rezende, professora universitária e doutoranda em Comunicação, que baseia sua tese no estudo de novas tecnologias, diz que os “dispositivos técnicos aos quais temos acesso e seu uso alteram nosso olhar sobre o mundo”. Assim, nossas concepções sobre o tempo vêm mudando com o uso de novas tecnologias. A internet, por exemplo, mostra que tudo pode acontecer em vários locais ao mesmo tempo, fazendo o tempo triunfar sobre o espaço. Permitindo que se ouça uma boa música, de uma boa rádio FM, com uma ótima qualidade de áudio, que está a dezenas de milhares de metros do ouvinte. Fisicamente impossível, pois a freqüência da rádio não opera por mais de alguns poucos quilômetros. Nesse contexto, tempo e espaço assumem outras dimensões. Em uma das tentativas de definição, o termo tempo é entendido como um continuum em que um evento sucede outro, do passado ao futuro. Assim, o homem tentou medi-lo, criando os relógios. Para David Landes, em seu livro Revolução no tempo: relógios e a construção do mundo moderno, o relógio mecânico foi o que levou, para bem ou para mal, a formação de uma civilização atenta à passagem do tempo e, consequentemente, à produtividade e ao desempenho. O relógio torna-se, então, um dos símbolos do capitalismo. O professor doutor em filosofia, E d e b r a n d e Cavalieri, concorda e explica

ser medido.

que as formas de se mensurar o tempo foram criadas a partir das necessidades das atividades de trabalho e que, antes de tudo, o tempo é experiência, sentido, e não pode


Não há nada na Física que corresponda à passagem do tempo. Os físicos dizem que o tempo n ã o flui: ele simplesmente é. No cotidiano d e uma pessoa comum, o tempo é constituído por passado, presente e futuro. A ideia de Newton sobre o tempo segue essa lógica, e ela iluminou o caminho da Física durante muito tempo. Para o pai da gravidade, o “tempo é simplesmente um parâmetro universal que indica como um sistema evolui”. “Newton caracteriza a evolução do sistema. Um grande problema é porque esse parâmetro flui em um único sentido, do passado para o futuro”, afirma o professor de Física da Ufes Júlio Fabris.

uma experiência, não possui medida, já que não se pode mensurar sentimentos e sensações de uma experiência amorosa, por exemplo. Dessa maneira a concepção de tempo ganha duas dimensões, uma relacionada à experiência (Kairós) e outra relacionada à medida (crhonos). A primeira, é o tempo da presença daquilo q u e é vivenciado, costuma ser chamada de tempo da graça na religião e é livre de medidas; a segunda pode ser considerada a própria medida. Na Filosofia o tempo é questão essencial e muitos autores se debruçaram sobre ela. Dentro da fenomenologia, por exemplo, a concepção de tempo está relacionada à consciência do homem. E é tal consciência que estabelece o modo de vivência desse tempo. O e

sociólogo, psicólogo

“A teoria da relatividade (1915) inovou ao estabelecer que o tempo não é mais ‘universal’, cada observador mede o seu tempo. Mas, ao fazer isso, não retirou do tempo seu caráter de parâmetro que mede a evolução do sistema”, comenta Fabris. essência

do tempo costuma preocupar físicos e filósofos, ora aproximando-os, ora tornando-os distantes, no que diz respeito ao entendimento que cada um deles tem do assunto. Para o professor de filosofia, a teoria de Einstein demonstra a preocupação da ciência em tratar o tempo de uma nova forma que não aquela regida pelos padrões mecanicistas da física newtoniana. Ainda segundo Cavalieri, sendo o tempo um sentido,

descobrir o sentido do tempo não é o que podemos chamar de tarefa simples, mesmo com todas as explicações lógicas não conseguimos compreender, nem mesmo os centistas explicam, questões como a volta no tempo ou uma viagem para o futuro. Entre todas as dúvidas sobre o tempo, podemos extrair a certeza de que todas as lacunas deixadas, as quais não podemos preencher, formam a porta das possibilidades. E as possibilidades é o que nos leva a especular, criando assim novas dúvidas.

médico Norbert

O legado de Einstein

Entretanto, depois de Einstein, a Física sugere que o tempo é algo relativo: duas coisas que acontecem no mesmo instante para um observador podem ocorrer em instantes diferentes para outro, que esteja em um ponto de referência diferente do primeiro. Confira o box logo ao lado.

A

filósofo, alemão,

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Elias, definiu o tempo em seu livro “Sobre o Tempo” da seguinte maneira: “‘tempo’ diríamos, designa simbolicamente a relação que um grupo humano ou qualquer grupo de seres vivos dotado de uma capacidade biológica de memória e de síntese, estabelece entre dois ou mais processos, um dos quais é padronizado para servir aos outros como quadro de referência e padrão de medida”. Essa vivência, segundo o professor Cavalieri, vem sendo suprimida pela técnica que esvazia o sentido da experiência.

Foto: Acervo

Nada pode se deslocar mais rapidamente que a luz. É esta imposição que acaba gerando a relatividade do tempo. Para que todos meçam a mesma velocidade da luz, independente do seu estado de movimento, é necessário que cada um meça um tempo particular, de acordo com o seu estado de movimento. Desta forma, observadores que se movem um em relação a outro podem medir a mesma velocidade de um mesmo objeto (um feixe de luz, por exemplo) mesmo que o tempo corra diferente para cada um deles. Como poderíamos saber o que está ocorrendo no planeta Marte nesse exato momento? Terra e Marte estão separados pela distância de 20 minutos-luz. Assim, alguém na Terra não poderia saber o que acontece em Marte nesse momento, pois, a informação não pode ultrapassar a velocidade da luz. Sendo assim, apenas 20 minutos depois de ocorrido o fato, é que o observador poderia falar sobre o que aconteceu em Marte. Lá, após os 20 minutos, o que é passado torna-se futuro para aquele que está na Terra.

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Houve uma verdadeira revolução na mensuração do tempo nos últimos 50 anos, a qual fez do tempo a mais precisa entre todas as entidades físicas. Desses avanços tecnológicos surgiu o relógio atômico, que permite entre outras coisas m eficiente sistema de localização por satélite, conhecido como GPS - sigla em inglês para Sistema de Posicionamento Global - cada vez mais presente em nosso cotidiano.


Entrevista

O tempo como amigo

ninguém pode evitar os danos do tempo. A senhora p Mas por quê? p gostaria de ter esse poder? Gostaria de parar o tempo pra não passar por Justamente por não acreditar determinadas situações? que tinha vivido tanto tempo. É muita coisa, não é? Depois que parei de chorar, dormi. Quando Não! São coisas da vida, do acordei, vi que já tinha 60 anos tempo. Nunca liguei pra isso. e um dia de vida (risos), então Acho que vivi corretamente minha era hora de seguir em frente. infância e minha juventude. Hoje Com o tempo, a gente aprende vivo bem minha velhice. Não a lidar com o próprio tempo. queria parar minha vida quando Hoje tenho 86 anos e lido bem era mais nova, assim como não com isso. Espero o que virá. quero que minha velhice passe mais rápido. Vivo um dia de cada vez e acho que ainda p O que é o tempo para a tenho coisas a fazer... senhora?

É um amigo. Um grande amigo.

Luíz Alberto Rasselli Jr.

O quê, por exemplo? p

Não sei o que, mas sim que há coisas a realizar. Lido bem com as perspectivas para o futuro, quem sabe não chego aos 100 anos? Só o que não quero é dar trabalho a ninguém, ou perder um filho... Não há que aprendi ainda quando nada pior que isso. No mais, sigo criança, que diz muito sobre isso. em frente. O que ficou para trás, ficou.

Setenta e dois anos é a expectativa p E o que o seu amigo te de vida do brasileiro segundo o ensinou? Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE. A bem da verdade, o número tem crescido: A ouvir, ver e calar. A esperar. A trabalhar. A viver. Há um poema*, em 1991 era de apenas 61 anos. Naquela época, “dona” Ilza Soares Leite já havia atravessado a linha que demarca a média. E hoje, obviamente, não haveria de ser diferente. São 86 anos de vida. Dona Ilza destoa também pela vitalidade, pela fala lúcida e forte, características que, até certo ponto, são difíceis de serem encontradas em pessoas de idade mais avançada. “Quantos anos você me dá?”, ela perguntou. O repórter já sabia, mas não se assustaria se ela dissesse ter menos.

Sou o tempo que passa, que passa Sem princípio, sem fim, sem medida

Muita coisa ficou para trás? p

Vou levando a Ventura e a O tempo e a vida levam nossos Desgraça, pais, alguns irmãos, meu marido, Vou levando as vaidades da Vida que se foi em 1993, filhos... São situações das quais não gosto de lembrar, mas com que A correr, de segundo em segundo precisamos lidar. Vou formando os minutos que correm...

A senhora a todo o momento Formo as horas que passam no relacionou o tempo e a vida... mundo, p

Formo os anos que nascem e Um é o outro, desde o primeiro morrem. até o último momento. Não há como separá-los. Não há vida Ninguém pode evitar os meus sem tempo. danos...

A jovialidade, contudo, não é capaz de privá-la de outras “intempéries”; não do tempo climático, mas do tempo “meio infinito no qual os acontecimentos se sucedem”, como Vou correndo sereno e constante: diz o dicionário Larousse Cultural. E * “O tempo”, de Olavo Bilac. os acontecimentos deixam marcas, Desse modo, de cem em cem anos, principalmente quando se sucedem Formo um século e passo adiante. há tanto tempo. Dona Ilza sabe bem como é.

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Foto: Luiz Alberto Rasseelli Jr.

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Trabalhai, porque a vida é pequena

p A senhora imaginou que viveria

por tanto tempo?

Pra ser sincera, não. Não mesmo. Quando completei 60 anos, e isso foi em 1984, tive uma crise de choro interminável...

E não há para o tempo demora! Não gasteis os minutos sem pena! Não façais pouco caso das horas!

A terceira estrofe fala que


Entre a mão e a contramão do tempo Como a compressão temporal das redes virtuais facilita ou atrapalha a construção do conhecimento Roberta Duarte Simone Azevedo

“A velocidade do veículo nos faz pensar em movimentos de criação e desmantelamento dos modos de formação psicológica, moral e ética num r i t m o

como o estudante Fábio Magalhães, 20 anos, utilizam a Internet como a principal fonte de pesquisa e informação. Rapidez, agilidade e praticidade são as características do mundo virtual que atrai milhares de jovens. Nas escolas, cada vez mais os alunos aderem à tecnologia para dar suporte aos estudos. Os livros, que até duas décadas atrás eram o principal meio de acesso ao conhecimento, foram preteridos pela rede mundial de computadores. “Uma pesquisa que, utilizando bibliotecas levaria uma semana, com a Internet pode ser feita em apenas um dia”, avalia o universitário Rafael Vilarino, 24 anos. A velocidade própria dos meios eletrônicos pode, no entanto, reduzir a capacidade crítica e limitar a formação moral dos usuários. Pelo menos é o que aponta uma pesquisa realizada nos Estados Unidos pela University of Southern, Califórnia. De acordo com o estudo, o cérebro não acompanha

“Mas deve-se tomar cuidado para que o aluno realmente estude e não faça o famoso copiar e colar”, ressalta. O que antes era restrito às páginas impressas e demandava um certo tempo de busca, hoje é obtido em apenas um clique. “É certo que muitos jovens apenas copiam, muitas vezes sem sequer ler o conteúdo encontrado. Mas acredito que eles fariam a mesma coisa com livros, revistas e afins. A forma de educação é que deve ser alterada para que contemple essa nova tecnologia e oriente os alunos sobre como utilizá-

alucinante e vertiginoso. As referências antes tão seguras e fixas dão lugar a modulações provisórias mais flexíveis e globalizadas”, considera a psicóloga Denise Pesca.

la”, afirma o universitário Marcelo Antunes, 32 anos.

Qualidade de uso

O tempo-real, a

Pais e educadores também se preocupam com a qualidade e a confiabilidade das páginas acessadas. De acordo com o professor de história Gibran Chequer, as informações fragmentadas e sem uma base científica concreta atrapalham a formação do conhecimento do estudante que navega pela rede. “Alguns sites são até confiáveis, mas os wikipedias da vida podem inferir no erro conceitual e factual dos conteúdos, o que leva a uma degradação do ensino”, acrescenta. Já o professor de biologia Robson Malta acredita que essa forma de pesquisa traz vantagens devido à facilidade de encontrar os temas procurados.

desterritorialidade e a interatividade, que constituem o formato dessa nova ferramenta, inauguraram uma nova percepção do tempo, do espaço e, conseqüentemente, das relações sociais. A pedagoga e professora Alessandra Machado argumenta que o mundo digital é fundamental para o processo de socialização das pessoas. “O número de usuários que utilizam estes recursos para a construção de relações pessoais, afetivas e emocionais, aumenta cada vez mais. É possível estar em contato com um número cada vez maior de pessoas ao mesmo tempo e se relacionar virtualmente com quem nunca vimos. Isto fascina. Mas

é preciso filtrar e controlar o tempo de uso dessas tecnologias”, considera. Prejuízos à parte, o benefício destacado é certamente a multiplicidade e a facilidade com que se consegue obter qualquer informação. “Nenhuma mídia é boa ou ruim em si. Devemos repensar o uso que fazemos dela. Há que se perguntar ao próprio jovem o uso que tem sido feito dessa mídia. Acredito que se produzam coisas potencializantes e despotencializantes. Se essas mídias facilitam a procura, elas podem render bons frutos como uma ampla rede de conhecimentos compartilhados”, pondera Denise

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a rapidez dos sites de notícias que permitem atualizações breves e constantes, o que pode prejudicar o desenvolvimento emocional dos jovens, uma vez que as informações não têm o tempo necessário para serem absorvidas e processadas analiticamente.

Ilustrações: Sylvia Ruth

“Não preciso ficar horas em uma biblioteca só procurando os livros”. Esse é o pensamento de muitos jovens que, assim

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Perfil

Rotina de

criança Geize Miranda Sylvia Ruth

Ter tempo livre não significa ficar sem fazer nada. Esses momentos podem ser usados pelos pequenos para desenvolver sua criatividade. O pensador italiano Domenico De Masi ficou conhecido pelo best-seller O Ócio Criativo. Para ele, o ócio não é ficar à toa, mas ter tempo livre para fazer o que nos interessa e, assim, poder criar com liberdade.

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Uma criança, porém, não tem compreensão do que isso quer dizer. Cabe aos pais mostrar a ela o lado positivo da ociosidade. Ao escolher suas atividades, a criança vai descobrindo do que gosta. Quando os pais deixam algum tempo livre na agenda do filho, ele não executará somente os comandos dados pelos adultos, mas, aprenderá a fazer suas escolhas.

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Entrevistamos três crianças, cada uma com o seu jeito de aproveitar o tempo. Rodrigo, 8 anos, só estuda e usa o tempo livre para brincar. Lia e Lúcia, 6 e 7 anos, também estudam, mas têm o dia cheio de atividades. Conheça agora o que elas pensam sobre o dia a dia.

Brincar não cansa Rodrigo Santos Ferreira cursa a 3ª série do Ensino Fundamental. Sai para a escola às 12h10. Mas, antes de ir estudar, ele brinca. Rodrigo gosta de acordar tarde, por volta de 9h. Todos os dias ele usa o tempo livre para andar de bicicleta, soltar pipas, jogar cartas e futebol com um amigo. As tarefas da escola são feitas à noite, quando a mãe chega para auxiliá-lo.

Para ele, a melhor parte do dia é a hora em que está em casa. Melhor ainda se o dia estiver ensolarado para aproveitar bastante. Essa rotina sem muitas ocupações não é algo ruim para Rodrigo. “Se eu não tivesse nenhuma obrigação, como ir à escola, eu ficaria o dia todo vendo desenho. Não enjoo

de ver meus p e r s o n a ge n s p r e f e r i d o s .” Já quando o assunto é se ocupar o dia todo, Rodrigo acredita que seria muito cansativo. “Ter muita coisa para fazer ia me deixar muito cansado. Brincar o dia todo não cansa”.

A mãe, Fernanda Vaz dos Santos, acha que para a idade dele ainda é aceitável e é até bom que ele tenha um tempo livre. “Mas, ele já está crescendo e chegando numa fase que precisa se ocupar mais. Quero que ele faça aulas de música para se desenvolver mais”, diz Fernanda.

Ao final da conversa, Rodrigo confessa que, às vezes, enjoa de ficar à toa e se tivesse que escolher fazer alguma atividade extra, faria aulas de futebol e natação. Mas, como diria Toquinho em sua canção ‘É bom ser criança’, “é bom ser criança. Isso

Fotos: Cintia Casate/ Geize Miranda

Brincar, brincar e brincar. Toda criança quer aproveitar seu tempo para fazer o que gosta. Por mais que exista uma infinidade de atividades para ocupar o tempo das crianças o que elas gostam mesmo é de brincadeiras. E o tempo que elas têm livre pode ser aproveitado para desenvolver suas capacidades.


às vezes nos convém. Nós temos direitos que gente grande não tem. Só brincar, brincar, brincar [...] É bom ser criança, ter amigos de montão. Fazer cross saltando, tirando as rodas do chão. Soltar pipas lá no céu, deslizar sobre patins. Bem que isso podia nunca mais ter fim”.

Uma agenda cheia

Um horário colado no caderno de Lúcia indica as atividades de cada dia. Mas as irmãs não se cansam, a rotina puxada é pura diversão. Mesmo no curso de inglês, um desafio para muita gente grande, elas encontram motivo para aproveitar. Lúcia está aprendendo a dizer as horas. “What time is it?” (que horas são) – arrisco. “One... Como é esse? Forty-five” – responde. Eram 13h45 mesmo.

Elas também já fizeram balé, mas preferiram sair. Segundo elas, porque é “chato”. Lia mostra o colant que ficou aposentado depois que abandonaram as sapatilhas e os pliês. “Quer dizer que um dia você vai voltar para o balé?” – pergunto. “Nãããoo. É muito chaaaatttoo”, ela responde sorrindo.

Lia e Lúcia Casate Ramaldes não podem perder tempo. A agenda cheia foi um desafio para a entrevista. Entre o descanso do almoço e a espera pelo transporte que Fim de semana é dia de acordar tarde as levaria para o e brincar o dia inteiro. Mas não tem inglês, elas contaram problema ter que esperar até o sábado o que fazem para durante o dia.

para chamar a amiga da vizinhança para brincar. Lúcia diz que o problema é ter que dormir cedo no domingo. “Domingo não pode dormir tarde porque tem que acordar cedo na segunda-feira. Aí eu não posso assistir ‘Fann-táásss-ticoo...’”, lamenta cantando o nome da revista eletrônica global. A mãe, Rosa, explica que é melhor ver as filhas ocupadas com outras atividades que em casa. “Senão, elas ficam o dia todo ali ó”, fala apontando para a televisão.

No segundo semestre, o dia-adia das meninas dá uma desacelerada. Rosa prefere tirá-las da natação para que elas tenham mais tempo para a escola, que costuma ficar mais exigente. As meninas não se incomodam, ano que vem tem mais.

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De manhã, vão para a escola; à tarde, às segundas e quartas, têm natação; terças e quintas, inglês. Na sexta, a aula preferida de Lúcia: artes. E Lia também adora as três horas que passa na oficina estudando artes, música e teatro, e corre para mostrar os últimos quadros que pintou. Fã dos quadrinhos de Maurício de Sousa, ela lê uma historinha com desenvoltura admirável para quem vai fazer 7 anos no dia 13 outubro – perto do dia das crianças, comemora – e do Natal também.


p

Play list

Anna Karla Lerbach Alex é um escritor que se vê ameaçado de morte por causa de um empréstimo que fez com agiotas e é obrigado a escrever um livro inteiro em menos de um mês para conseguir salvar a sua vida. Calma! Essa história não é de nenhum personagem da vida real. É do filme Alex e Emma – escrevendo sua história de amor, mas vai dizer que não parece um pouco com a dos preparativos do casamento de Dulciane Vieira da matéria sobre a relatividade do tempo? Para ambos o tempo passou muito rápido e quase não deu para fazer o que se devia. OK, essa foi um pouco forçada, mesmo porque Dulciane não corria risco de vida, mas se preparava para uma nova. Mas a pressa da triatleta Pâmella Oliveira tem tudo a ver com a Adrenalina de Chev. Entretanto, é óbvio que no cinema tudo é muito mais exagerado. Por isso, Chev também corre contra o tempo, mas é para descobrir a cura do veneno que está em seu sangue. Depois de tanta correria, imaginar que o tempo passou rápido demais não é nada incomum. Quem abandonou a antiga vida, assim como o jogador de futebol Camilo Marcarini, foi o personagem de Angelina Jolie, em Uma vida em sete dias, que muda toda a sua vida depois de saber que morrerá em poucos dias.

No cinema E quem descobriu isso quase tarde demais, foi a médica Elizabeth, de E se fosse verdade, que depois de sofrer um acidente e ficar em coma descobre que quase não deu atenção a sua vida pessoal. Está vendo, Suzana Tatagiba? Acho bom você administrar melhor seu t e m p o para

não perder as melhores partes da sua vida! Talvez em Click ela poderia encontrar a solução para os seus problemas. Era só encontrar um controle remoto que controla o tempo, assim como fez o arquiteto Michael Newman. Pode falar, muito fácil! Entretanto, é melhor tomar cuidado com isso, porque dar atenção só para as melhores partes da vida também não é lá muito bom, não é? Ainda

mais quando elas já passaram há um bom tempo. Se Rafael Xavier pensava que só ele adorava o passado, Noah, de O diário de uma paixão, também não fica atrás. Vai dizer que ler um diário que conta toda a sua vida para alguém, todos os dias, não é adorar demais o seu próprio passado? Agora, falando de futuro, cada vez mais parece que estamos sem tempo. A sorte é existir a Internet, que facilita um pouco as coisas. Sabia que não são só os estudantes F á b i o Magalhães e Rafael Vilarino q u e utilizam a internet para fazer pesquisas? Ou você acha que Bella ia descobrir tão rápido que Edward era vampiro sem a internet? É, quem diria... Até o teen movie Crepúsculo tem traços de realidade. Agora, depois disso tudo. Acho que você já está convencido de que cinema também tem muito a contar sobre o tempo além da duração dos filmes. Por que não aproveitar para conhecer ainda mais histórias por meio desta arte? Pelo menos, não será por falta de dicas de filmes, não é?

O tempo na música em todos os tempos “Tempo, tempo mano velho, falta um tanto ainda eu sei. Pra você correr macio”.

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Pra você que achava que só tinha tempo no cinema, se enganou completamente. Vai dizer que Pato fu não estava falando Sobre o Tempo? Aliás, não é só Pato fu não, no território brasuca tem de Roberto Carlos a Legião Urbana, música do tempo atravessando as barreiras do tempo. Aliás, não é só aqui que está tudo dominado, não. Só para falar das mais famosas no território estrangeiro, tem Ray Charles, Frank Sinatra, Elvis Presley. Só peso pesado! Olha só a lista:

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1 - Green Day -- time of tour life 2 - Elvis Presley -- Always on my mind 3 - Pato Fu -- sobre o Tempo 4 - Guns N`Roses – Yesterdays 5 - Cazuza – O tempo não para 6 - Ray Charles – (Night time is) The right time 7 - Legião Urbana – Tempo Perdido 8- Roberto Carlos – O Tempo e o vento 9 – Jota Quest – Mais uma vez 10 - Frank Sinatra – My way

Crônica

Nós

eo

tempo Aline Dias

Não sei qual é o tempo certo de a gente estar com as pessoas ou quanto tempo é suficiente perto de uma pessoa querida. No fim das contas, nem todo tempo do mundo é suficiente pra conter a saudade que vem depois do tempo-morte. E eu também não sei lidar direito com isso a não ser pela escrita. Não sei por quanto tempo a gente chora, quando é a hora de começar e qual a reação a se ter quando dizem: Aline, o seu avô não aguentou. E eu entendo que esse eufemismo todo é pra dizer que ele não volta. E todos sabemos do tempo que ele esteve doente e também do tempo-morte corroendo pacientemente seus pulmões até que tudo acabasse. Pois essas coisas saem corroendo pulmões alheios, criando dores e dando forças. Eu não sei chorar. Tive muita inveja da minha irmã que se descabelou logo que soube que já não haveria tempo nunca mais para estarmos com nosso avô. Depois ela ficou com a cara inchada e começou a soluçar enquanto eu só sabia cruzar os braços, andar de um lado para o outro e pensar que eu não consigo ir a hospitais. Não gosto do clima. Não tive tempo de aprender que volta e meia uma visita num quarto triste pode ser a última visão de alguém de quem sempre se vai sentir saudade. Então fica esse monstro solto no meu estômago e eu me reconheço nos gestos da minha avó que diz que não sabe o que vai fazer agora. Pra mim, era um avô; pra ela, o companheiro da vida inteira que um dia num baile avisou ao colega do lado: - Se aquela morena ali me der bola, eu caso com ela. E casou. Mas ainda dá tempo de sorrir e de sermos sinceros. Meu pai logo contou ao meu irmão de três aninhos que o papai do céu chamou o vovô. O menino entendeu rápido e logo perguntou: - Vovô está junto com Michael Jackson, Papai? - Isso, filho. O Vovô está tocando violão pro Michael Jackson dançar.


Guerra dos sexos Aline Dias Natasha Siviero

Bom Um marinheiro me contou Que a boa brisa lhe soprou Que vem aí bom tempo O pescador me confirmou Que o passarinho lhe cantou Que vem aí bom tempo

Um marinheiro me contou Que a boa brisa lhe soprou Que vem aí bom tempo Um pescador me confirmou Que um passarinho lhe cantou Que vem aí bom tempo Ando cansado da lida Preocupada, corrida, surrada, batida Dos dias meus Mas uma vez na vida Eu vou viver a vida Que eu pedi a Deus Chico Buarque

Do duro toda semana Senão pergunte à Joana Que não me deixa mentir Mas, finalmente é domingo Naturalmente, me vingo Eu vou me espalhar por aí

É dinheiro

No compasso do samba Eu disfarço o cansaço Joana debaixo do braço Carregadinha de amor Vou que vou Pela estrada que dá numa praia dourada

Ligeiro

Ninguém, a não ser um idiota, escreve a não ser por dinheiro. Samuel Johnson

“da noite p’r’o dia, Meu chapéu virou bacia. João Guimarães Rosa

Elas

Muito E a falta que eu fiz nessa semana

Coisas que pareceriam óbvias Até pra uma criança Por onde andei? Enquanto você me procurava Será que eu sei? Que você é mesmo Tudo aquilo que me faltava... Amor eu sinto a sua falta E a falta é a morte da esperança Como um dia Que roubaram o seu carro Deixou uma lembrança Que a vida é mesmo Coisa muito frágil Uma bobagem Uma irrelevância Diante da eternidade Do amor de quem se ama

Por onde andei? Enquanto você me procurava E o que eu te dei Foi muito pouco ou quase nada E o que eu deixei? Algumas roupas penduradas Será que eu sei? Que você é mesmo Tudo aquilo que me faltava...

Olho muito tempo o corpo de um poema até perder de vista o que não seja corpo e sentir separado dentre os dentes um filete de sangue nas gengivas Ana Cristina Cesár

Pouco Não tenho tempo pra mais nada, ser feliz me consome muito. Clarice Lispector

Vencido quem tem olhos pra ver o tempo soprando sulcos na pele soprando sulcos na pele soprando sulcos? o tempo andou riscando meu rosto com uma navalha fina sem raiva nem rancor o tempo riscou meu rosto com calma (eu parei de lutar contra o tempo ando exercendo instantes acho que ganhei presença)

acho que a vida anda passando a mão em mim. a vida anda passando a mão em mim. acho que a vida anda passando. a vida anda passando. Futuro acho que a vida anda. vida anda em mim. “Chega um tempo em que um homem a acho há vida em mim. moral não pode obedecer uma lei que a vidaque em mim anda passando. sua consciência diz que é injusta.” acho que a vida anda passando a mão em mim Martin Luther King, Jr. Nando Reis

Que ainda dá Desculpe Estou um pouco atrasado Mas espero que ainda dê tempo De dizer que andei Errado e eu entendo As suas queixas tão justificáveis

e por falar em sexo quem anda me comendo Passa é o tempo na verdade faz tempo mas eu “Goza, goza da flor da mocidade. Que o tempo trata a toda ligeireza escondia ele me pegava à força e por E imprime em toda a flor sua pisada.” porque trás Gregório de Mattos Guerra

De Tainhas Ai de ti, Copacabana, porque os badejos e as garoupas estarão nos poços de teus elevadores, e os meninos do morro, quando for chegado o tempo das tainhas, jogarão tarrafas no Canal do Cantagalo; ou lançarão suas linhas dos altos do Babilônia. Rubem Braga

um dia resolvi encará-lo de frente e disse: tempo se você tem que me comer que seja com o meu consentimento e me olhando nos olhos… acho que ganhei o tempo de lá pra cá ele tem sido bom comigo dizem que ando até remoçando Viviane Mosé

Perdido Se vivermos durante muito tempo, descobrimos que todas as vitórias, um dia, se transformam em derrotas. Simone de Beauvoir

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Eles

Que dá num tal de fazer nada Como a natureza mandou Vou Satisfeito, a alegria batendo no peito O radinho contando direito A vitória do meu tricolor Vou que vou Lá no alto O sol quente me leva num salto Pro lado contrário do asfalto Pro lado contrário da dor

Fotos: divulgação/internet

Homens, mulheres e tempo: a pauta. Logo a nossa. Na tentativa de vencer o tempo, eles escrevem, elas escrevem. Nós escrevemos a falta de tempo, o tempo de tema. O tempo todo a nossa guerra quer ser superada antes que o tempo acabe. Que não acabe conosco o mau tempo, caríssimo tempo bom de aspas.



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