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Identificar os principais pontos fortes

É imposível imaginar o nosso mundo globalizado sem os princípios e a prática de multilateralismo que lhe estão subjacentes

Quando da sua criação, há mais de meio século, no agitado rescaldo de uma guerra mundial, as Nações Unidas reflectiam as grandes esperanças da humanidade numa comunidade mundial justa e pacífica e ainda encarnam esse sonho. Continuamos a ser a única instituição mundial com legitimidade e competência que decorrem da sua composição universal e cujo mandato abrange o desenvolvimento, a segurança e os direitos humanos, bem como o ambiente. Nesse sentido, a ONU é única na cena mundial. Somos uma organização sem capacidades militares independentes e dispomos de recursos relativamente modestos, no domínio económico. No entanto, a nossa influência e impacte no mundo são muito maiores do que muitos pensam – e, por vezes, muito maiores do que nós próprios percebemos. Esta influência não decorre do exercício de um poder, mas da força dos valores que representamos, do nosso papel na criação e manutenção de normas internacionais, na nossa capacidade de sensibilização da opinião pública e de estimular a sua acção e da confiança de que gozamos, em virtude do trabalho prático que realizamos no terreno, para melhorar as condições de vida das populações. A importância dos princípios e das normas é facilmente subestimada, mas, ao longo das décadas que se seguiram à criação das Nações Unidas, a aceitação cada vez mais generalizada de novas normas afectou profundamente as vidas de muitos milhões de pessoas. A guerra, que outrora era um instrumento utilizado normalmente pelos Estados, foi hoje em dia banida universalmente, excepto em algumas circunstâncias muito específicas. A democracia, que antes era ameaçada pelas diversas formas de autoritarismo, não só prevalece na maior parte do mundo como é considerada geralmente a forma mais legítima e desejável de governo. A protecção dos direitos humanos fundamentais, outrora considerada feudo exclusivo dos Estados soberanos, é agora uma preocupação universal que transcende tanto governos como fronteiras. As conferências organizadas pelas Nações Unidas nos anos 90 foram marcadas, por vezes, por discórdias, mas desempenharam um papel fulcral na criação de consensos normativos e na criação de soluções práticas para os grandes problemas da nossa época. Em mais nenhum outro quadro foi possível à comunidade internacional como um todo definir respostas para enfrentar o desafio da globalização, com que todos, ou quase todos, podiam concordar. Na verdade, é nessas respostas que este relatório pretende basear-se. Mais recentemente, fomos testemunhas do aparecimento de campanhas transnacionais específicas, tendo em vista reforçar as normas existentes e instituir regimes jurídicos, conduzindo, por exemplo, à convenção sobre a proibição das minas terrestres ou ao acordo do ano passado sobre uma maior redução da dívida dos países pobres mais endividados. Estas campanhas, realizadas muitas vezes em concertação com as Nações Unidas, ajudaram a sensibilizar a comunidade internacional para muitas questões vitais de âmbito mundial e a modificar a sua atitude em relação a elas.


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