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a responderem melhor às necessidades da nova era. Mas existe um preceito tradicional que se aplica hoje em dia com mais força do que nunca: tudo começa com a prevenção.

Impedir os conflitos sangrentos É quase universalmente reconhecido que mais vale prevenir do que remediar, e que as estratégias de prevenção devem atacar as raízes dos conflitos e não apenas os actos de violência que são os seus sintomas. Mas este consenso nem sempre se traduz em actos. Os dirigentes políticos têm dificuldade em convencer a opinião pública da necessidade de realizar acções preventivas no estrangeiro, porque os custos são palpáveis e imediatos, enquanto os benefícios – o facto de um acontecimento futuro indesejável ou trágico não se vir a registar – são uma realidade que os dirigentes têm mais dificuldade em transmitir e o público em compreender. Assim, a prevenção constitui, antes e acima de tudo, um desafio para os dirigentes políticos. Caso pretendamos sem bem sucedidos na prevenção dos conflitos sangrentos, temos de compreender claramente as suas causas. As guerras não são todas iguais: por conseguinte, nenhuma estratégia será eficaz universalmente. Que existe de diferente nas guerras que afligiram os povos, desde o início da década de 1990? Alguns dos conflitos importantes da última década foram guerras de sucessão do pós-comunismo, em que dirigentes sem escrúpulos exploraram as formas mais primitivas de nacionalismo étnico e diferenças religiosas, para conservarem ou adquirirem o poder. Alguns destes conflitos – e alguns desses dirigentes – já foram relegados para os livros de história e esperamos que o mesmo aconteça em breve com os restantes. Hoje em dia, as guerras são, na sua maioria, guerras entre os pobres. A que se deve esse facto? Os países pobres dispõem de menos recursos económicos e políticos para gerirem os conflitos. Por exemplo, não dispõem de capacidade para fazer transferências financeiras importantes para grupos ou regiões minoritários e podem temer que o seu aparelho de estado seja demasiado frágil para resistir a uma delegação de poderes, dois instrumentos utilizados regularmente nos países mais ricos. Isto significa que cada uma das medidas que descrevi na secção anterior – cada passo dado para reduzir a pobreza e atingir um crescimento económico sólido – é um passo dado para a prevenção dos conflitos. Portanto, todos quantos estão empenhados na prevenção dos conflitos e no desenvolvimento – as Nações Unidas, as instituições de Bretton Woods, os governos e as organizações da sociedade civil – devem enfrentar estes desafios de uma forma mais integrada. Mas podemos fazer ainda mais. Em inúmeros países pobres em guerra, a condição de pobreza é acompanhada por clivagens marcadas em termos étnicos ou religiosos. Quase sempre, os direitos dos grupos que se encontram numa situação de subordinação não são suficientemente respeitados, as instituições do Estado não lhes concedem um lugar suficiente e a repartição dos recursos da sociedade favorece a facção dominante em detrimento das outras.

A segurança começa com a prevenção.


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