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Estas tecnologias permitem, o que talvez seja ainda mais importante, que pessoas, que, de outro modo, permaneceriam separadas pela distância, a cultura e o nível económico, se liguem, possibilitando assim que nós, os povos, compreendamos melhor o que somos. No entanto, todas estas possibilidades estão vedadas aos que não dispõem da tecnologia, por falta das infra-estruturas ou do capital necessários ou devido aos quadros regulamentares. E, assim, o desafio é claro: se quisermos que a globalização realize as suas promessas, controlando os seus efeitos nefastos, teremos de aprender a governar melhor e a governar melhor em conjunto. É por isso que a Cimeira do Milénio se realiza num momento fascinante, não apenas do ponto de vista simbólico, mas também em termos práticos.

Governar melhor em conjunto O que entendemos pelo termo «governação», quando aplicado à esfera internacional? Que características deverá apresentar, se quisermos gerir eficazmente a transição de um mundo internacional para um mundo planetário? Para certos espíritos, este termo evoca um governo mundial, monstros burocráticos centralizados que esmagam os direitos dos povos e dos Estados. Nada é menos desejável. Os Estados fracos são hoje um dos principais impedimentos a uma governação eficaz, tanto a nível nacional como internacional. Para bem dos seus povos e no interesse dos nossos objectivos comuns, devemos contribuir para reforçar a capacidade de governar desses Estados, e não miná-la ainda mais. Além disso, a própria noção de hierarquias centralizadoras constitui um anacronismo no nosso mundo fluido, extremamente dinâmico e fortemente unido em rede, e representa um vestígio ultrapassado da maneira de pensar do século XIX. Contudo, os Estados devem também tomar mais consciência do duplo papel que lhes cabe no nosso mundo global. Para além das responsabilidades distintas que cada Estado assume para com a sua própria sociedade, os Estados são também, colectivamente, os guardiões da nossa vida comum neste planeta, uma vida partilhada pelos cidadãos de todos os países. Não obstante a agitação institucional que está muitas vezes ligada à globalização, nenhuma outra entidade pode rivalizar com o Estado ou substituí-lo. É por isso que, se quisermos gerir bem a globalização, é preciso antes do mais e acima de tudo que os Estados actuem de acordo com o seu duplo papel. Isso implica que as estruturas de decisão, através das quais a governação se exerce no plano internacional, devem reflectir a realidade do nosso tempo. O Conselho de Segurança constitui um excelente exemplo. Assente na distribuição do poder e nas alianças de 1945, a sua composição já não representa inteiramente nem o carácter nem as necessidades do nosso mundo global. O mesmo se pode dizer de certos grandes foros económicos: todos os países são consumidores dos efeitos da globalização e, portanto, todos devem ter uma palavra a dizer sobre o processo. O papel excepcional das Nações Unidas na nova era global decorre da nossa composição e alcance universais e dos valores comuns consagrados na Carta.

O domínio público internacional deve estar mais aberto à participação dos numerosos actores cujos contributos são essenciais para gerir a via da globalização.


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