Continuum 05 - A geração por vir

Page 7

Não é só de avanços tecnológicos que se caracteriza o futuro. De acordo com o ator, dramaturgo, diretor e um dos fundadores da companhia de teatro paulistana Os Satyros, Ivam Cabral, o teatro se manterá vivo por mais que novas mídias e novas formas tecnológicas de arte e de indústria de entretenimento de massa surjam. “Aliás, o teatro saberá se aproveitar desses novos recursos para também se reinventar”, diz. Para ele, uma tendência atual que deve se estender para o futuro, além do resgate do ator como artista e autor da obra no processo de montagem do espetáculo, é a questão da inserção do teatro na vida da cidade. “O teatro procurará novas formas de se realizar na sociedade”, explica. “Seja com a busca de novos espaços, seja por meio da pesquisa de novas formas de linguagem que quebrem com a relação palco-platéia tradicional.”

Tanto Cabral quanto Scliar concordam que no futuro a arte manterá o caráter de engajamento social. “A essência do teatro é a crítica”, afirma o dramaturgo. “O teatro sempre será uma experiência comunitária, instantânea e de ligação direta com a sociedade. Sua função crítica manterá viva a chama da criação.” O escritor gaúcho segue por linha semelhante: “Enquanto houver opressão, intolerância, racismo, haverá literatura engajada”. Que assim seja.

Ruptura à vista Tom Zé fala sobre o que a arte brasileira pode oferecer no futuro O ano, 969. A canção, 2001. Nela o futuro se apresenta como o tempo que desloca o homem, com sua velocidade irreal. O que pensa, quase 40 anos depois, um dos criadores de 2001, o cantor e compositor baiano Tom Zé sobre o futuro das artes no Brasil? De acordo com ele, o futuro das artes no Brasil é “encontrar métodos intelectuais ou maquinais para criar ou realizar estados estéticos originais de uma prática renovadora”. Segundo o compositor, em outras palavras, seria algo como encontrar uma forma de “fantasia racional”. “É uma linha que se aproxima insistentemente de uma curva, sem jamais alcançá-la dentro de uma distância finita”, esclarece. Para Tom Zé,

o Brasil, futuramente, ainda colherá grandes frutos artísticos. “Poderemos debulhar, por muitas décadas, os troncos proteinados de um impulso que vem de debaixo do chão, onde, comprimido, contém-se um imenso cabedal de cultura moçárabe [referência aos cristãos da Península Ibérica sob influência árabe] e saber poético armazenados na traiçoeira inocência do folclore.” Quanto à questão do que está por vir após a chamada arte contemporânea, o artista é categórico: “A arte contemporânea está prestes a ser substituída por algum outro movimento artístico e este será”.

.7


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.