Todos os Gêneros 2019

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MOSTRA DE ARTE E DIVERSIDADE



TODOS OS GÊNEROS Mostra de Arte e Diversidade 6a edição

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São Paulo, 2019


Coordenação editorial Carlos Costa Edição Amanda Rigamonti Conselho editorial Ana de Fátima Sousa, André Seiti, Carlos Gomes, Duanne Ribeiro, Galiana Brasil, Milena Buarque e Regina Medeiros Projeto gráfico Guilherme Ferreira Produção editorial Luciana Araripe Produção gráfica Lilia Góes (terceirizada) Supervisão de revisão Polyana Lima Revisão Karina Hambra e Rachel Reis (terceirizadas) Colaboraram nesta publicação Auritha Tabajara, Camila Svenson, Davi de Jesus do Nascimento, Filipe Acácio, Helena Vieira, Isabella Lanave, João Silvério Trevisan, Jonas Maria e Tao



sumรกrio


EDITORIAL

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Velhice e LGBTs: as vidas que não viraram purpurina por Helena Vieira

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Iracema sem chão por Auritha Tabajara

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Obscura maravilha por João Silvério Trevisan

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ENTREVISTA

“Liberdade é você ter o direito ao seu corpo” com Jonas Maria

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FOTOGRAFIA

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PROGRAMAÇÃO

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Show

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Mesas

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Teatro

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Leitura dramática

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Apresentação

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Cinema

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editorial

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O envelhecimento é um processo que circunda nossa existência. Nos últimos anos temos visto um aumento da população idosa, o que traz à tona novas questões e desafios – que contemplam desde espaços e atividades que sejam inclusivos para a pessoa idosa até como se constituem essas relações e afetos na terceira idade. Enquanto é difícil para o idoso se sentir parte de uma sociedade que tem a tendência a anular sua existência, essa situação é ainda mais complicada e pouco debatida quando se fala da população LGBTQ+. Onde estão essas pessoas? Que espaços ocupam? Quais são os desafios para sua inclusão? Em sua sexta edição, o evento Todos os Gêneros: Mostra de Arte e Diversidade aborda essas questões ao colocar em pauta o debate sobre o envelhecimento do corpo LGBTQ+. A programação tem início com um show de Angela Ro Ro e conta com espetáculos teatrais, mesas, curso e exibição de filme. Além dessas atividades, que acontecem no Itaú Cultural entre os dias 11 e 17 de julho, esta publicação reúne textos que abordam a temática em pauta. Helena Vieira faz um ensaio sobre o conceito de envelhecimento na sociedade ocidental e como a população LGBTQ+ é – ou deixa de ser – contemplada. Há ainda um conto inédito de João Silvério Trevisan, um cordel feito especialmente para este livro por Auritha Tabajara e uma entrevista com Jonas Maria. Por fim, cinco artistas visuais traduzem em imagens o conceito desta edição do evento. Eduardo Saron diretor do Itaú Cultural

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velhice e lgbts: a s vidas que não viraram purpurina

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por Helena Vieira, pesquisadora, transfeminista

e escritora. Estudou gestão de políticas públicas na Universidade de São Paulo (USP). Foi colunista da revista Fórum e contribuiu em diversos meios de comunicação, como o Huffpost Brasil, a revista Galileu e Cadernos Globo. É 10 colaboradora do SsexBbox Brasil.


“Bicha não morre, vira purpurina.” Vera Verão – Jorge Lafond

O envelhecimento é social: utilidade, distinção e morte O envelhecimento é um processo incompreensível se alijado de seu contexto histórico, econômico e social. Nem sempre significou a mesma coisa e não acontece igualmente para todos os sujeitos; é atravessado pelas categorias de gênero, classe social, raça e sexualidade, entre outras. Frequentemente, na cultura ocidental em geral e na brasileira em específico, o envelhecimento é tomado como um processo negativo, de perda e destituição. É quando “tudo [no corpo] está caindo”, quando “a juventude está indo embora”, quando “murchamos”. Essa compreensão negativa do envelhecimento é ainda mais marcante nos corpos e sujeitos socialmente produzidos para ser desejáveis, como é o caso de mulheres e LGBTs. Inventamos diversas tecnologias cosméticas, estéticas e tantas outras para reduzir os efeitos aparentes do envelhecimento ou para resgatar a juventude. O corpo, em uma sociedade capitalista, é submetido à lógica da utilidade e da produtividade, é um componente de mercado e está sobrecodificado em termos de vida útil, como qualquer outra mercadoria.

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A velhice, para além desses aspectos, sobretudo entre as pessoas mais pobres, é acompanhada pelo medo do abandono, da pobreza, do acesso precário aos serviços de saúde, da solidão. Afinal, a experiência de envelhecer é também a consciência da morte e da lida constante com inúmeras mortes – das pessoas conhecidas e de todo um conjunto de significantes que estruturavam e compunham o mundo que nos forma. Há uma valorização social das características corporais relacionadas com a juventude, com o corpo jovem, produtivo, viril, “durinho”. Essas características podem ser pensadas em termos de “corponormatividade”, que organiza as posições e as relações entre os sujeitos e entre instituições e sujeitos, alocando à margem os corpos que mais se afastem dos modelos ideais, numa distribuição desigual da dignidade e da humanidade. Corpos velhos, corpos gordos, LGBT e tantos outros são destituídos de autonomia ou corrigidos ad aeternum. No caso da velhice e das inúmeras tecnologias desenvolvidas para retardar o envelhecimento ou recobrar a juventude, os mecanismos de controle sobre o corpo são explícitos. Há, contudo, entre os próprios idosos, uma distribuição desigual da precariedade, tomando aqui a expressão cunhada pela filósofa Judith Butler, no que diz respeito à intersecção entre os diversos marcadores sociais da diferença. Neste texto, trato especificamente da intersecção entre velhice e sexualidade, pensando, a partir de diversas perspectivas, como envelhecem os corpos LGBT. Para isso é preciso entendermos como operam, sobre corpos LGBT em geral, os dispositivos de estigma e exclusão, para assim conseguirmos traçar mais corretamente as afetações mútuas entre os marcadores. 12


Os estereótipos LGBT e a invisibilidade do corpo velho São muitos os discursos que compõem o imaginário social acerca de um pretenso “universo LGBTQIA+” ou ainda, um tanto inadequadamente, de um “mundo gay”, reminiscência dos tempos em que as experiências e os modos de vida dissidentes da “normalidade heterossexual” eram classificados sob uma mesma identidade gay ou homossexual. Opto aqui pela expressão imaginário social para me referir à produção de marcadores sociais hipersimplificados, que, arbitrariamente relacionados, operam na produção de identidade e distinção, estabelecendo, dessa forma, pistas que possibilitariam a compreensão do “estranho”, constituindo assim os estereótipos. Penso que não seja possível traçar uma causa fundamental ou momento em que nascem esses estereótipos, contudo é possível perceber que resultam, atualizam-se ou modificam-se na conjugação de discursos variados, desde as representações cinematográficas e televisivas até os livros e manuais de medicina e de psicologia, os discursos de políticos, o ativismo LGBT, os púlpitos de igrejas e as muitas redes sociais virtuais. O estereótipo, nesse caso, serviria também de aparato de verificação da “normalidade heterossexual”, uma vez que a presença de quaisquer signos associados (arbitrariamente) às formas de dissidência sexual perturbaria o conjunto de relações sociais e deslocaria o sujeito marcado para fora do protegido território da normalidade, rumo ao desconhecido (e violento) terreno baldio da anormalidade. Os estereótipos de identidade sexual são, assim como diversos outros dispositivos de regulação da sexualidade, elementos coextensivos das normas de gênero, de tal forma que

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é impossível falar sobre sexualidade sem que se fale sobre gênero. Ainda que a didática divisão entre orientação sexual e identidade de gênero se faça necessária no campo das lutas políticas, é fundamental sabermos que são categorias imbricadas e que diversas vezes se indistinguem. A heterossexualidade, como regime político, perpetua e estabiliza as relações sociais de gênero na medida em que ela constitui a “razão de ser” do gênero ao postular a complementaridade “natural” entre homem e mulher, pênis e vagina, espermatozoide e óvulo etc. Dessa forma, um homem ou uma mulher não heterossexuais seriam, de modos distintos, menos homem e menos mulher. Se por um lado os estereótipos operam na regulação da sexualidade por hipersimplificação, a partir da associação arbitrária entre signos diversos, por outro, considerando que são amplamente conhecidos e reconhecidos porque compõem o imaginário social ocidental, podem ser apropriados pelos sujeitos marcados, o que abre espaço para a invenção de arranjos e combinações que permitam a intrusão, a assimilação, o pertencimento ou a subversão nos territórios da normalidade, provocando deslocamentos. As muitas formas de composição dos signos de dissidência estão atreladas à agência dos sujeitos marcados, que, apesar de submetidos a processos de interpelação social semelhantes – levando-se em conta apenas o marcador dissidência sexual –, constroem respostas diversas e singulares de acordo com as possibilidades de negociação que estabelecem com a heteronormatividade, ainda que não o façam deliberadamente, mas como práticas de sobrevivência. 14


Os processos de negociação e problematização dos estigmas sociais em torno dos sujeitos LGBT, ao constituírem um campo de entendimento, constituem também uma economia da visibilidade e da invisibilidade, fazendo com que, na composição com outros marcadores sociais da diferença, algumas formas de existir sejam submetidas a duros regimes de invisibilidade, como é o caso de LGBTs idosos. Toda a estereotipia presente nos imaginários sociais sobre LGBTs é marcada por juventude, desejo, sexo, beleza. Categorias essas que, em nossa sociedade especificamente, não pertenceriam ao universo da velhice ou do envelhecimento.

LGBTs e envelhecimento: os corpos que insistem em não virar purpurina No conjunto de discursos que compõem a velhice no mundo ocidental, apesar de todo o enquadramento da produtividade e da utilidade, percebemos que se construiu um lugar social – o de avó – para as mulheres e o de “patriarca” para os homens, na conversão da experiência em uma forma de capital, muito marcado pela estruturação cristã, que vê na velhice um lugar a ser respeitado, ainda que não desejado. A longevidade e o acolhimento familiar, inexistentes para muitas pessoas velhas, sobretudo aquelas mais pobres, são possíveis somente na dinâmica da família tradicional burguesa, em que o cuidado dos filhos e dos netos opera como uma condição moral. Dessa forma, ainda que destituídos de autonomia, os que envelhecem seguem tendo um lugar familiar com algum nível de acolhimento, o que, supostamente, os livraria da solidão. 15


A heterossexualidade como regime político, conforme apresentado anteriormente, também regula, nesse sentido, a relação entre sujeitos e idades distintas, inclusive no reconhecimento da velhice como uma etapa específica da vida, na demanda por direitos etc. LGBTs, de outro modo, não gozam da proteção dos laços familiares, sobretudo em contextos de expulsão, impedimento de constituição de famílias homoparentais e acirrada precariedade. Por muito tempo, falar sobre o envelhecimento desses sujeitos sexo-gênero-dissidentes era falar sobre minorias irrepresentáveis; afinal, o HIV/Aids nos matou, a violência nos matou, o suicídio nos matou. Por muito tempo eram corpos e sujeitos que não chegavam a virar cinzas ou a envelhecer, transformavam-se em purpurina, pois suas vidas existiam e representavam-se somente na festa, no desejo e na juventude. Os discursos de longevidade não compunham o repertório social acerca desses sujeitos. Como envelhecem os LGBTs? Onde estão e que tipo de ações e relações precisamos constituir para esses sujeitos que ousaram não virar purpurina e cujo lugar social parece inexistente?

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iracema sem chão

_ por Auritha Tabajara, primeira mulher indígena

a publicar um livro em cordel no Brasil. É professora, terapeuta holística e contadora de histórias. Apaixonada pela rima, cresceu ouvindo narrativas de sua avó e, desde pequena, lê e escreve. Durante uma década, atuou como 18 alfabetizadora em uma escola na aldeia onde morava.


Sou Auritha Tabajara Nascida longe da praia, Fascinada pelas notas E melodia da jandaia. No Ceará foi à festa Meu leito foi a floresta Na companhia de Maia. Minha essência ancestral Me encontra cordelizando, Em amparo faz-me existir, Ao mundo eu vou contando Que minha forma de amar Ninguém vai colonizar, Da arte vou me armando. Filha da mãe natureza, Mulher indígena eu sou, Com a força feminina, Cinco séculos atravessou, Cada vez mais sábia e forte. Seu medo não é morte Que o preconceito gerou. Hoje essa mulher levanta Com letra e voz autoral Contra toda violência, Por um amor ancestral, De um corpo esvaziado, Usado sem ser amado, Na lei do homem normal. 19


E baseado na bíblia O homem veio ditar. Sua fé diz que é pecado O mesmo sexo amar. E com massacre e doença Nossa língua e nossa crença, Tentaram assassinar. Essa força feminina Traz um sagrado poder, Pois nascemos da floresta E com ela vamos morrer, É nossa ancestralidade E nossa diversidade Que nos faz sobreviver. Minha avó é referência Desde o tempo de menina Até me tornar mulher Nas histórias que ela ensina, Estou pronta para voar, A minha forma de amar É raiz que nunca termina. Fui casada tive filhos, Quatro, para variar, Vitória Kawenne Cauê, Ana vem comigo ficar, Vitória e Cauê morreram, E para o meu desespero Kawenne não sei onde está. 20


Eu não sou como Iracema A de José de Alencar, Virgem dos lábios de mel, Sem história pra lembrar. Trago comigo a memória, Sou Auritha com história Mulher livre para amar. Sou lésbica, sou indígena Resistindo à violência, Nordestina, feminista Sou mulher de resistência, Ao regime à dominação Vivo a discriminação, Desigualdade e persistência.

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obscur a maravilha

_ por João Silvério Trevisan, escritor de literatura ficcional, ensaística e infantojuvenil, tendo 12 livros publicados, entre ensaios, romances e contos. O mais recente é sua primeira obra autobiográfica, Pai, Pai (Ed. Alfaguara, 2017), finalista dos prêmios Jabuti e Oceanos. Ativista na área de direitos humanos, em 1978 fundou o Somos, primeiro grupo de liberação homossexual do Brasil, e foi um dos editores fundadores do mensário Lampião da Esquina, primeiro jornal voltado para a 22 comunidade LGBT brasileira, ainda na década de 1970.


Quando entrou, uma dor indistinta e pesada impregnava o salão mortuário do hospital. A dor, sempre a dor. Alguns poucos parentes e amigos de rosto macerado espalhavam-se pelos sofás sem cor. Na sala ao lado, o corpo da mocinha jazia sobre uma mesa à espera do caixão. Mesmo coberto por um lençol padrão, deixava evidentes os sinais devastadores do câncer. Sua antiga beleza moldara-se a um rosto seco e um corpo mirrado, de ossos pontiagudos que indicavam a passagem do tempo acelerada pela doença, de modo a escantear para sempre sua juventude. A dor que golpeia a beleza, a alma. [...] Sentou-se na própria antessala da sua dor, ali tão velho. Cansado, via nos olhos circundantes quanto a dor pode ser rabugenta, teimosa e arrogante. [...] Conversou banalidades. Ninguém conseguia falar da dor que não fosse de modo banal. Mesmo as lágrimas, em sua tentativa de legitimidade, eram banais diante da morte. Sentiu-se errado, errático, esquerdo. Olhou ao redor buscando um canto onde coubesse a sua incapacidade de encarar a dor, para dizer seu nome como quem o pronuncia pela primeira vez. Uma azia de espírito tomou-o de assalto. Está bem. Eu me tornei um velho amargo. Mas o que isso quer dizer? Afinal, “velho amargo” é um pleonasmo. Ajeitou-se na poltrona desbotada para não despertar emoções. Ouviu vozes, não lhe interessavam os comentários sobre a morte. Conhecia todos de cor. [...] 23


No banheiro do hospital, urinou com a dificuldade brindada pela velhice da próstata. Pensou, pensou, quantas centenas de pessoas não estiveram aqui mijando com sinceridade enquanto despejavam lágrimas furtivas pra não escancarar a dor diante dos demais. Não só por vergonha, é mais ainda o asco da ferida que se abre a contragosto, como se a vida fosse um carrossel de dores a desfilar histéricas, indecentes. O medo da nossa podridão chegando sorrateira. Balançou aquele seu complemento, lutando com os resquícios de mijo. E nem se deu conta de que estava sendo terrivelmente paciente, ali com seu pinto na mão, enquanto a última gota da bexiga buscava lentíssima o caminho natural para escoar. [...] De volta ao salão, ocorreu-lhe um poema de Jorge Luis Borges, que declamou no coração, exilado no hospital: “uma obscura maravilha nos espreita: a morte, esse outro mar, essa outra flecha que nos livra do sol, da lua e do amor”. Tão óbvio. Tão verdadeiro. [...]

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Por coincidência, naquele dia recebera pelo correio, encomendado de um sebo, um livro que há muito procurava. Um estudo místico sobre a luta entre Jacó e o Anjo. Feroz. Incompreensível. O Anjo arauto do Senhor pede a Jacó que o solte. Jacó exige ser abençoado antes. Então o Anjo toca sua perna e o deixa coxo. Antes de ir-se, renomeia Jacó como “aquele que luta com Deus”. Jacó passa a mancar por toda a vida, marcado


pelo enigma divino. Ora, se isso é bênção, obrigado. Eu não quero ser abençoado por um deus sádico, para não dizer falsário, que promete felicidades impossíveis – num outro mundo. [...] Sim, eu sei. Nem sequer fui abençoado, mas minha perna se arrasta de velhice. Da vida eu queria grandes epifanias, e o que vejo mais próximo à grandeza é a morte. Acossado por picuinhas todos os dias, o que fazer da pouca vida que me resta? [...] Tropeçando em suas dúvidas seculares, sentiu-se rolar escada abaixo pelos degraus da dor. Foi quando viu o rapaz entrar no salão mortuário do hospital. Primeiramente, não teve certeza de ser o mesmo. A seguir, levou um susto. Era, sim. Debaixo da barba rala, o rosto encolhera. Ainda se viam seus olhos irrequietos, agora borrados por certa melancolia e rodeados de vincos. Quanto tempo se passara? Uns dez anos atrás, talvez. Como se chamava? Nunca soube. Onde o encontrara? Não lembrava, mas reconhecia. Reviu cada gesto, cada suspiro que o tinha marcado. Sentiu-se perplexo. O rapaz parecia muito mais velho do que deveria. Sua antiga beleza ficara um tanto caricata. Em novo sobressalto, percebeu: ele arrastava ligeiramente uma perna. [...] O tempo tinha desmascarado Jacó, herói. Horror. A beleza do passado podia desandar numa fábrica de horrores. Foi o que pensou. Saudações pt encheu o saco pt quero cair fora pt só não sei pra onde ir pt

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[...] Ficou ali mesmo, olhando obsessivo. Acompanhava os movimentos do rapaz com o rabo dos olhos. Até que se rendeu. Passado o estranhamento, seu encanto irrompe de volta. Sua beleza ludibriou o tempo e vai se revelando sob o aparente massacre. Nota que, apesar de tudo, ele tem o mesmo andar de um príncipe. Sua majestade não é forçada, parece nascer do íntimo dos músculos. Seu rosto se ilumina por um vago sorriso a meio do caminho, sensual, oferecido. Como se não precisassem de porto seguro, os olhos parecem seguros em qualquer lugar. Um príncipe, talvez tenha tudo para ser feliz. Sente ímpetos. Não de prazer nem de mera atração. Contempla a beleza ainda jovem como quem se extasia ante um milagre de sobrevivência. A beleza que nos submete também é capaz de nos salvar. Ela nos arrasta para a superação da mesquinhez, das picuinhas. Provoca lampejos, labaredas. Porque assim se sentia: iluminado por aquele clarão que, de pisoteado pelo tempo, se tornara ainda mais belo. Fechou os olhos. Eis aí a imagem de um deus. Sentiu ímpeto de cair de joelhos e rezar, não, nem precisa olhar enquanto rezo, ele está lá, irradiando um mistério que fascina porque não entendo essa capacidade de arrastar o meu olhar e me atirar ao chão, como Jacó teria feito depois de lutar com o anjo, para receber a sua bênção. O ímpeto da luta, o ímpeto da bênção. Foi o que pensou. [...]

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De volta para casa, olhou pela janela do ônibus, tentando voltar à realidade. Ah, ali era o cinema onde viu Ben-Hur pela primeira vez, a arrogância disfarçada no rosto de Charlton Heston, a beleza de Stephen Boyd, que o deixara fascinado com seu


queixo furadinho no meio. Ali, o velho Circo Piolin, há quanto tempo, é agora uma loja para cães e gatos. Naquele cortiço do lado, ah, era uma elegante rua sem saída, de sobradinhos onde moravam minhas tias italianas. E, nesta esquina, como era mesmo o nome do cineminha de arte? Sim, Melina Mercouri naquele filme a que assistira ali, baseado na tragédia grega, final inesquecível com Anthony Perkins no carro a toda velocidade, gritando o nome de Fedra ao som do órgão de Johann Sebastian Bach, ah, saudade, ah, fantasmas. Uma cidade que agora só existia como sítio arqueológico das suas lembranças. [...] Nos buracos do asfalto, o ônibus balançava. Nosso futuro é virar petróleo, depois de decantar por séculos nas profundezas da terra. Nossos carros são movidos a dinossauros, não por nossas ideias nem por nossas grandes obras. Talvez um pouco da sabedoria de Sócrates esteja movendo este ônibus, graças à sua carcaça grega. Ou seria a grande poesia dos ossos de Homero? Quem sabe o susto de Adão e Eva, ao serem flagrados pecando no paraíso. Nossa consciência, essa desgraçada que perambula atrás de seu próprio rabo, juntou-se aos detritos dos dinossauros, do Homo sapiens, da merda depositada por tantos séculos em nossos rios. Afinal, faz mais sentido a merda do que tudo o que não conseguimos compreender. E ele repetiu. Até a consciência virar combustível. [...] Já tarde, comeu um lanche na pequena cozinha do seu apartamento. Na televisão, um escritor vetusto se jactava da sua saúde aos 90 anos. Irritou-se. E isso virou uma qualidade de caráter, um exemplo de dedicação, persistência, alegria

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de viver. Tudo muito fofo. Pensou nos vetustos dinossauros tornados petróleo. Que merda essa gente entende por alegria de viver? Que bosta de vida vivem, tolhendo-se para caber na camisa de força chamada vida. Parou no meio do lanche. Sentia o excesso da noite no hospital. Seu mau humor lhe trouxe náuseas. A comida lhe parecia demasiada. Como se quisessem lhe enfiar a vida goela abaixo. Tudo era excessivo. Viver, uma demasia povoada de fantasmas. [...] Tomou o remédio para dormir. Só. Rolando sozinho, igual a tantas noites, em tantas décadas passadas. De início, uma bicha velha amarga, como já vira tantas ao seu redor. Sem outro recurso, com o passar dos anos, aprendeu a não odiar a solidão. Ao contrário. Mesmo capengando, seu Jacó interior passou a amar o espaço de que podia desfrutar sozinho. Assim pensando, rumou para a cama. Como quem segue até o abatedouro da consciência cansada de tanto mancar, esperou o remédio fazer efeito. [...]

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Tempestade e ímpeto. Acordou na manhã seguinte com essas duas palavras insistindo bestamente na cabeça. Pensou que a ideia de ímpeto lhe martelava como sinônimo de vida. Mas logo teve dúvidas. Não seria meramente espasmo, um ímpeto de morte? Ainda na cama, duvidou mais. Há espasmo também no amor. O orgasmo, uma pequena sucessão de espasmos. Quantas vezes o tinha experimentado, com tantos homens, alguns amados, outros nem tanto. Passaram todos quase sem deixar sinais, com seus orgasmos semelhantes a soluços. Não estaria o gozo próximo do suspiro agônico? O


espasmo que determina o encerramento do ímpeto – não seria isso o gozo? Ou seja, prenúncio da inevitável morte? [...] Então lembrou por inteiro, como se a alma vomitasse uma parte de si. Era um campeonato de futebol interescolar, nos seus tempos de professor. Acontecera num colégio do interior, tantos anos atrás. Os alunos o tinham escolhido como paraninfo do time. Afinal, ele sempre fora um excelente mestre, melhor do que o treinador cheio de poses e inseguranças. Tentara insuflar entusiasmo durante a disputa, mas o time da sua escola perdera a partida final. Um jovem campeão adversário encaçapara, ele só, três bolaços no gol. Mais entediado do que triste, fora dormir cedo num dos pequenos alojamentos da escola anfitriã. De manhã muito, acordara com o barulho da passarada interiorana. A luz ardida, entrando pelas frestas da veneziana, incidia sobre a cama ao lado. Olhou. Um rapaz roncava de leve, com as pernas ligeiramente encolhidas. Seu corpo, de músculos talhados à perfeição, estava nu. O lençol caído de lado deixava à mostra seu sexo apaziguado. Quando, de repente, o rosto se virou para seu lado, ainda dormindo, viu diante de si o jogador campeão que derrotara seu time. Sentiu um choque de encantamento. Jamais uma derrota lhe parecera tão bela, estampada naquele corpo de herói em repouso. Tantos anos depois, o mesmo príncipe lhe aparecera no salão mortuário de um hospital. Ainda que massacrada pela vida, sua beleza resistira no corpo claudicante. [...] 29


Permaneceu longo tempo na cama, sem vontade de levantar. Regurgitou sensações, medos, lembranças, horrores, mágoas, raivas tantas. Bobagens em forma de palavras a esmo despencavam de um invisível céu interior e martelavam em sua alma, sem que as conseguisse escolher. Sou. Fui. Algo. Demais. Ímpeto. Enjoo. Velho. Encantamento. Insuportável peso. Demasia. Enjoo. Viver. Herói. E de repente: herói, horror. Tão próximas palavras tão díspares. Envelhecer, voar, vida. Velhice: reino de fantasmas. Pensou. [...] Enquanto tomava o café, percebeu dentro de si uma espécie de ressaca espiritual. Segurou a xícara por longo tempo, olhando para nada, enquanto equacionava algo desconhecido, que veio se configurando com uma nesga de compreensão. Então, sem se dar conta, começou a sussurrar para si mesmo palavras que se imbricavam em frases e sentidos. Sim, quero passar o melhor dia possível. Porque é um dia único, irrepetível. Sim, uma parte inédita da minha grande aventura humana se esvai para sempre. Por isso, quero celebrar o fato de estar vivo. Tantas vezes quantas puder. Sim, até o ponto de fazer da vida uma celebração. A começar por agora. Não demorou a perceber. Finalmente iniciava um dia rezando. Era a prece de um Jacó coxo. Sem interlocutor, sem Deus. Podia chamar aquilo de ímpeto. Talvez bênção. São Paulo, 20 de maio de 2019.

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“ liberdade é você ter o direito ao seu corpo ” _ 32 entrevista por Amanda Rigamonti e Milena Buarque


Jonas Maria nasceu e cresceu em uma pequena cidade de 20 mil habitantes no interior de Minas Gerais. Mudou-se para outra cidade, esta com 80 mil habitantes, para fazer faculdade de letras. Concluída sua graduação, veio no começo de 2018 para São Paulo, cidade que atualmente tem mais de 12 milhões de habitantes. Aos 28 anos – e não 17, como brinca –, Jonas alimenta diariamente um canal direto com quem se interessa pelas questões que pesquisa e vive, que envolvem gênero e transexualidade, pelo perfil @jonasmariaa no Instagram. Acredita que esse canal direto fortalece a comunidade trans e ajuda no seu entendimento de si e do outro. Nesta entrevista, compartilha um pouco de sua trajetória e alguns desejos e anseios.

Como/quando você soube que era trans? Eu descobri a transexualidade quando estava na faculdade, em 2013, se não me engano. Descobri pesquisando na internet, por acaso encontrei um artigo que dizia “os dez homens mais bonitos que nasceram mulheres”; a princípio não fazia sentido essa frase, né? Aí comecei a ver, pesquisar, caí no YouTube – tinha uma comunidade trans lá – e foi aí que comecei a perceber que isso existia, que a transexualidade era uma questão, porque fora desse universo é muito difícil a gente ouvir falar sobre. Não está na mídia, de um modo geral, e, quando está, é representada de uma forma muito humorística ou fatalística – no humor a gente tem aquela gozação do que é trans, que é uma mentira, uma reprodução de estereótipos –, e fora isso temos o quê? Nos programas policiais, só casos de travestis que foram brutalmente mortas, então esse tipo de contato que eu tive não despertou nada em mim. 33


Encontrei vários blogs também, e foi a partir daí que comecei a fazer um blog meu, para falar sobre isso. Porque é quase uma tradição, faz parte da cultura trans, você assistir a essas pessoas, aprender com elas e querer passar para outras pessoas trans a sua experiência, a sua perspectiva, e eu fiz meu blog a partir disso, de pensar que eu queria compartilhar minha visões sobre isso.

E quando foi a criação desse blog? Foi mais ou menos um ano depois que eu comecei a assistir a esses vídeos. Eu fiquei muito na dúvida ainda e fiz o blog porque queria expor essas questões que eu estava tendo – se eu era ou não, essa exploração mesmo. Eu tive contato com pessoas que estavam muito certas de si e pra quem aquilo já estava dado. E me incomodava o fato de não ter ninguém questionando – pessoas com dúvida, medo. Queria que aquele blog me ajudasse a dar passos também. Então o blog foi uma válvula de escape para eu começar a fazer acontecer de algum modo. Antes de tomar hormônio, antes de cirurgia, tudo.

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Eu descobri a transexualidade em 2013, fiz o blog em 2014 e, em 2015, eu, enfim, fiz a cirurgia. A primeira coisa que eu fiz foi a cirurgia, não tomei o hormônio primeiro. Normalmente a gente tem uma narrativa clássica trans – no geral, não é necessariamente uma regra – em que primeiro você tem que procurar um psicólogo, e a partir dele eles lhe dão um laudo, aí você vai tomar hormônio, muda de nome e depois que faz a cirurgia de retirada dos seios, depois algumas pessoas vão retirar útero/ovário, e por fim algumas pessoas fazem a cirurgia de redesignação sexual. No meu caso, como eu tinha muitas dúvidas em relação ao hormônio, optei pela cirurgia primeiro, porque era algo que eu não tinha certeza de que eu queria, mas eu estava disposto a fazer, entendi que era uma


questão que eu não tinha como saber de antemão – eu não tinha como saber se essa configuração corporal era de fato o que eu queria, o que eu gostava. Eu suspeitava que sim, mas decidi assumir essa responsabilidade e fazer isso, e pensei que se não desse certo eu seria o responsável por essa escolha. Acho que a transexualidade tem um pouco disso. É uma coisa que você tem que viver pra saber, não dá pra dizer de antemão que já é aquilo, não dá pra ter essa certeza. Então para mim foi nesse sentido, fazer a cirurgia e então pensar, a partir da experiência dela feita, se aquilo era o que eu queria. Felizmente, foi. E, uma vez que eu tomei a coragem, depois da cirurgia, aquilo me colocou em outra lógica de pensamento; eu comecei a ficar mais confiante, ter mais autoestima, confiar mais nos meus instintos, e foi a partir dela que eu comecei a tomar os hormônios.

Como foi essa etapa?

A parte dos hormônios foi um rolê, porque na minha cidade eu liguei para todos os endocrinologistas e nenhum quis me atender, todos falaram que não conheciam, não tinham especialidade nisso – sendo que não existe mesmo uma especialização trans. E aí eu comecei a tomar por conta própria os hormônios; é uma realidade trans, muitos vão fazer isso, primeiro porque é um processo burocrático. O SUS oferece, mas não é tão simples, nem toda cidade oferece, só em cidades grandes a gente encontra com mais facilidade. E no particular não só é caro, como é difícil encontrar médico disposto. Em São João del-Rei [MG] eu não encontrei ninguém, ninguém mesmo.

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Aí vem a questão da internet, que é muito importante, esse compartilhamento de histórias. Porque outras pessoas trans já haviam compartilhado endócrinos. Aí eu, que já tinha começado por conta, procurei uma endócrino na capital, Belo Horizonte. Então eu fui lá, mas fui uma vez só, porque era caro. Ela falou que estava tudo certo. Hoje em dia sigo fazendo por conta, mas tento assumir uma responsabilidade comigo mesmo de fazer os exames, para ter certo controle, saber que está tudo bem. Na internet, no meu blog, as pessoas entram em contato comigo e muitas falam que querem começar por conta, e algumas pessoas já me criticaram porque eu falo as opções que a pessoa tem de hormônio, a dosagem que é padrão e no geral funciona pra todo mundo, e as pessoas meio que reclamam de eu dar esse tipo de orientação sendo que eu não sou médico. A questão é: muitos médicos igualmente não sabem sequer por onde começar. Já vi médicos receitando o dobro da dosagem sem razão para isso. Muitas pessoas trans tomarão por conta de qualquer jeito. Eu opto por ao menos dar um norte a elas, é melhor do que seguirem ciclos de academia, que não se aplicam a nós. Também digo para elas serem responsáveis, fazerem os exames por conta enquanto tentam atendimento público.

No começo você sentia ansiedade por ver transformação?

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Não. Acho que isso que é interessante. É realmente um processo, você não acorda de um dia para o outro com barba na cara. Porque, se fosse assim, eu acho que seria traumático. Você não nasceu daquele jeito. Então é um processo. O que


já torna isso mais leve. E há alguns mitos em relação à testosterona – que torna a pessoa mais agressiva, impaciente. Algumas pessoas relatam isso, de fato, mas eu acho que de um modo geral isso está mais ligado à pessoa em relação a ela mesma do que ao hormônio, embora o hormônio acabe, sim, afetando o comportamento. Eu fiquei muito impaciente depois da testosterona, mas é também porque eu já não estava tolerando mais esses preconceitos.

O que é gênero para você? Eu entendo gênero como um sistema em que a gente vive. A gente sabe que gênero é construído socialmente, esses papéis são atribuídos de acordo com o genital que a pessoa tem. É um sistema que hierarquiza os corpos, é um sistema que controla os corpos. O gênero dita: mulher tem vagina, é feminina... É um sistema hierárquico e de controle dos corpos. Porque a gente não é dono do nosso corpo. Pra fazer tudo isso eu preciso de um laudo, um parecer médico. Então, se uma mulher cis quisesse tirar os seios, ela não poderia, porque a medicina não aceita, não contempla isso, então tem um controle aí. Para você tirar os seios, precisa abdicar da sua condição política de mulher para fazer a cirurgia.

E o Instagram? Como você decidiu criar esse canal de diálogo? A princípio tive o blog, que já estava inserido nessa tradição trans de consumir conteúdos de outras pessoas trans e passar sua visão. E aí eu fiz isso porque a narrativa nunca vai contemplar todo mundo. A gente tem um discurso médico que diz uma coisa, mas, quando outras pessoas começam a falar de si, a gente vê que esse discurso não se sustenta muito. Quando surgem pessoas trans com as histórias delas, começam a surgir conflitos, não é uma história linear perfeita. En-

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tão acho importante a gente falar de si para romper com esse discurso hegemônico do que é ser trans, então eu parti disso. E o Instagram veio em um segundo momento, quando comecei a me interessar por estudar gênero e transexualidade. Pensei que seria interessante, porque na comunidade trans muita gente não tem acesso a essas discussões mais profundas de gênero. Então pensei em começar a produzir isso no Instagram como forma de compartilhar, mostrar que há vários discursos e estudos sobre gênero e transexualidade.

O que mudou na sua vida depois que você criou o canal? Inclusive no seu processo. Eu acho que é um ensinamento mesmo, porque enquanto está com você parece que está perfeito. E é importante quando você começa a apresentar aos outros e as pessoas começam a questionar para você se questionar também, para saber até que ponto aquilo que eu estou falando faz sentido ou não. E até para aprender a lidar com críticas. Por exemplo, fiz um vídeo e uma pessoa respondeu que não concorda, mas não apresentou nada, então você começa a criar uma maturidade também. Acho que se expor é problemático, porque você começa a receber algumas críticas que te afetam, mas ao mesmo tempo você começa a saber distinguir quais críticas ouvir ou não.

Há alguma coisa que perguntam e você não aguenta mais ter de responder? Eu aguento responder, sim! O que eu mais recebo é “Como eu sei que sou trans?”. Quase diariamente. Mas é uma pergunta que eu aceito e entendo, porque eu estive nesse momento. 38


Que tipo de conteúdo você gosta de consumir no Instagram? Eu estou tão atolado nas questões críticas que acho que nem tenho tempo pra entretenimento [risos]. Gosto de ver cachorros... Mas questões feministas é o que eu mais sigo. Filosofia. Meu processo é esse no momento, não tem muito divertimento mesmo.

Você já pensou/pensa no envelhecimento do seu corpo? Difícil. Nunca parei para refletir muito sobre isso porque acho que a questão trans tem uma coisa muito interessante, pelo menos em relação aos homens trans, que é a seguinte: há um certo anacronismo entre a idade e o que aparenta ter. Então eu sempre aparentei ser muito mais novo do que de fato sou, mesmo quando eu era lido como uma mulher sapatão – porque eu acho que, quando você não performa feminilidade, você fica meio jovem. Quando passei a ser lido como homem, também sou lido como um homem muito mais jovem do que sou. Embora tenha 28 anos, como não tenho barba, eu acho que não tenho várias características que me fariam ser lido como alguém de 28 anos. Mas não vejo o envelhecimento como algo negativo, acho que faz parte do processo, não tenho planos de parar com a testosterona, espero que tudo corra bem em termos de saúde para que eu possa continuar. Mas isso eu falo do ponto de vista de um homem trans. Porque a gente sabe que entre mulheres trans a expectativa de vida é de 35 anos, então elas têm uma visão completamente diferente disso. 39


Como é São Paulo para você? Cheguei em fevereiro de 2018 e São Paulo para mim foi muito libertadora. Porque quando eu estava com a minha mãe eu estava tomando uma dose mais baixa de hormônio, já que ela não podia saber. No meu primeiro ano eu não tive muitas mudanças. Por um lado, pela dose mais baixa, mesmo; mas também porque eu acho que estava meio travado psicologicamente. Na comunidade trans isso é muito comum. Às vezes uma pessoa descobre a transexualidade e antes mesmo de ela passar por qualquer procedimento já fica com uma feição diferente, isso é muito comum. Porque parece que o psicológico, a forma como a gente se vê, afeta o nosso corpo. Então acho que eu tive uma trava nesse primeiro ano – não consciente, claro –, de eu não conseguir chegar ao meu potencial porque tinha todas essas questões que estavam me impedindo. Então, quando vim, enfim pude colocar a dose normal e não ter medo de deixar as coisas acontecer. Quando vim para São Paulo meio que eu me libertei disso, tive uma tranquilidade, e notei muita diferença.

O que é liberdade para você? Nesse contexto, acho que liberdade é você ter o direito ao seu corpo e modificá-lo da maneira como você entende, deseja, sem precisar seguir um modelo estabelecido por outras pessoas, sem precisar ser visto como doente por isso, sem precisar ser expulso de casa.

Qual é a sua utopia para o futuro?

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Tem essa conversa paralela de como seria uma sociedade sem gênero. E, se ela existe, para onde iria a transexualidade. Se não tem gênero, a transexualidade então para de existir? As pessoas vão parar de modificar seus corpos? Eu acho que,


como já se pensa muito sobre questões éticas envolvendo o uso da tecnologia no corpo, vai caminhar muito para isso, já não vai ser uma questão de gênero, mas uma questão de direito ao corpo.

Quando você diz "Crie seu corpo, use seus próprios olhos", o que significa? Na comunidade trans a gente tem esse discurso médico que é muito forte, da narrativa trans clássica, que diz o que deve ser feito. A medicina tolera as pessoas trans desde que elas sigam o que é esperado, o que foi estabelecido. “Se você quer tirar seus seios, isso te faz homem, então você deve seguir essa trajetória para ser um homem e aí a gente vai te reconhecer como tal”, sendo que isso não se aplica a todo mundo, isso está quase imposto – ter que passar por todos esses procedimentos para poder ser trans, ou para ganhar o direito de passar por esses procedimentos. Então quando eu falo isso é porque as pessoas na comunidade trans, pelo menos de um modo geral, antes se referiam muito a um corpo cis como o corpo que queriam ter. Só que esse é um corpo que, por um lado, é um corpo inalcançável. Porque a gente é trans e tem marcas que nos fazem trans. Então é mais parar de olhar para esse corpo cisgênero que é o padrão e passar a olhar não só para outros corpos trans. Às vezes eu quero tomar hormônio, mas não quero tirar os seios – e vice-versa. Então é você se construir a partir do que você quer, de como você vê seu corpo.

Quais livros/teóricos você indicaria? Manifesto Contrassexual e Testo Junkie, de Paul Beatriz Preciado, e Manifesto Ciborgue, de Dona Harraway. 41


"A velhice é um conceito que passa por um processo de invenção negativa, que nasce de um entendimento simbólico de uma etapa da vida que perdeu o seu sentido produtivo, sobretudo no mundo ocidental. A pessoa quando envelhece é destituída de sua complexidade. Perde aquilo que a define como humano para se transformar em um ser de pouca utilidade, cujas competências intelectuais são postas em questão, seu desejo é posto em questão e suas vontades são deslegitimadas o tempo inteiro.

O ENVELHECIMENTO TE CONVERTE EM VELHO, E NÃO EM UM SER HUMANO ENVELHECIDO.


_ Helena Vieira

Cinco artistas visuais que transgridem o que ainda conhecemos como a norma sexual e de gĂŞnero apresentam suas leituras sobre o envelhecimento do corpo LGBTQ+.



_ Filipe Acácio, de Fortaleza (Ceará), é pesquisadorx, artista visual e desenhadorx gráfico. Mestre no programa de pós-graduação em artes da Universidade Federal do Ceará (UFC). Desde 2012 atua como diretorx de fotografia em longas e curtas-metragens. Sua pesquisa se contamina na performance, na dissidência de gênero e nas implicações entre corpo e espaço nos processos de resistência anticolonial. É artista residente na Pivô Arte e Pesquisa até agosto de 2019. Também neste ano participa das exposições À Nordeste, no Sesc 24 de Maio em São Paulo/SP, e Arquivos de Sentimentos, no espaço Emergency, em Vevey, na Suíça.

foto: Circularidade do Tempo | Filipe Acácio

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_ Davi de Jesus do Nascimento, de Pirapora (Minas Gerais), é artista barranqueiro curimatá, arrimo de muvuca e escritor fiado. ​Gerado às margens do Rio São Francisco – curso d’água de sua pesquisa –, trabalha coletando afetos da ancestralidade ribeirinha e percebendo “quase rios’’ no árido. Utiliza o corpo como instrumento de medida do mundo. Corpo-médium, confrontado e confundido com a natureza. Uma natureza aquática, barrenta e silenciosa; que pode ser lida como isca, peixe e pedra.

foto: Sem Título | Davi de Jesus do Nascimento

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_ Tao, artita visual autodidata, nasceu sem mãe e sem pai na cidade de Cubatão (São Paulo); foi adotada, como filha, pela professora de artes da rede pública de ensino Rosana Bruni. Mudou-se para São Paulo em 2013 em busca de conhecimento acadêmico na área da fotografia. Seu trabalho desdobrou-se obsessivamente para diversas áreas da produção multimídia desde então. O corpo se tornou objeto na pesquisa performática apresentada no Festival Internacional da Imagem em 2017; a pintura e o desenho, como válvula, preencheram frestas e paredes de exposições e galerias; a música passou a ser qualquer passo; a fotografia ressignificou as relações.

foto: Em Tempo | Tao

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_ Camila Svenson nasceu em Campinas (São Paulo). É artista interdisciplinar e mora em São Paulo, onde trabalha com vídeo, fotografia e apropriação de objetos encontrados pela cidade. Investiga múltiplas experiências de encontro com o outro e como esses encontros acontecem e são modificados quando mediados por uma câmera. Participou de mostras coletivas nos Estados Unidos, na Colômbia, no Brasil, na Islândia e no México. A individual You Will Never Walk Alone aconteceu no Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo, em 2017.

foto: Gretta Sttar | Camila Svenson

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_ Isabella Lanave é uma fotógrafa e jornalista brasileira nascida e criada na cidade de Curitiba (Paraná). É cofundadora da YVY Mulheres da Imagem, faz parte da Women Photograph e foi citada pela revista Time em 2017, como uma das 34 fotojornalistas a ser seguidas. Está trabalhando em projetos de longo prazo relacionados a questões de classe, gênero, raça e saúde mental na América Latina.

foto: Heliana Hemetério | Isabella Lanave

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programação


QUINTA

show ANGELA RO RO

SEXTA

show ANGELA RO RO mesa QUESTÃO DE GÊNERO, ENVELHECIMENTO E PERSPECTIVAS

SÁBADO

mesa ENVELHECIMENTO DOS CORPOS E/OU DO PENSAMENTO.

DEPOIS DE ABERTOS OS ARMÁRIOS, O QUE GOSTARÍAMOS DE NÃO CARREGAR?

teatro MENINES

DOMINGO

mesa ARTISTAS, CRIAÇÃO E ENVELHECIMENTO teatro MENINES

SEGUNDA

leitura dramática 12º ROUND – A LUTA CONTINUA

TERÇA

apresentação INTERVENÇÕES MÚLTIPLAS: FINALIZAÇÃO DE OFICINA cinema ROGÉRIA, SENHOR ASTOLFO BARROSO PINTO mesa A DIVERSIDADE NO AUDIOVISUAL BRASILEIRO

QUARTA

teatro ROMEU & JULIETA 80


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show


ANGELA RO RO Angela Ro Ro é cantora, compositora e pianista. Iniciou sua carreira no final dos anos 1970, com o lançamento de seu primeiro LP, que trazia a canção “Amor, Meu Grande Amor”.

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QUINTA 20h

Influenciada por ícones do jazz, como Ella Fitzgerald e Cole Porter, ela mistura em suas baladas standards jazz e blues. Suas composições foram gravadas por diversos artistas da MPB, como Maria Bethânia, Ney Matogrosso e Luiz Melodia.

Piano e voz Angela Ro Ro Técnico de som Ryan Rodrigues Iluminação Antonio Marcos Silva

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12 SEXTA 20h

Duração aproximada: 70 minutos Sala Itaú Cultural (piso térreo) 224 lugares

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mesas

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QUESTÃO DE GÊNERO, ENVELHECIMENTO E PERSPECTIVAS com Jordhan Lessa, Luiza Freitas e Rogério Pedro mediação Helena Vieira Helena Vieira é pesquisadora, transfeminista e escritora. Estudou gestão de políticas públicas na Universidade de São Paulo (USP). Foi colunista da revista Fórum e contribuiu em diversos meios de comunicação, como o Huffpost Brasil, a revista Galileu e Cadernos Globo. É colaboradora do SsexBbox Brasil. Jordhan Lessa é homem trans. Atua como assessor para questões de saúde e segurança na Coordenadoria

12 SEXTA 16h

Duração aproximada: 120 minutos Sala Vermelha (piso 3) 70 lugares

Especial da Diversidade Sexual da Prefeitura do Rio de Janeiro (Ceds Rio) e é autor da autobiografia Eu Trans: a Alça da Bolsa – Relatos de um Transexual (Ed. Metanoia, 2014) e do livro digital Quem Somos? (independente, 2018).

Luiza Freitas nasceu intersexo e foi registrada como do gênero masculino. Aos 9 anos de idade percebeu que gostaria de ser reconhecida como mulher e aos 15 começou sua transição, tendo realizado posteriormente a cirurgia de retirada do sexo masculino. Atualmente, dá palestras pelo Brasil sobre sexualidade e gênero a partir de sua trajetória.

Rogério Pedro é graduado em administração de empresas com especialização em gestão financeira, articulador social e responsável pela criação e implantação da Eternamente SOU – organização sem fins lucrativos que promove o bem-estar e o acolhimento de pessoas idosas LGBT na cidade de São Paulo.

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SÁBADO 16h

ENVELHECIMENTO DOS CORPOS E/OU DO PENSAMENTO. DEPOIS DE ABERTOS OS ARMÁRIOS, O QUE GOSTARÍAMOS DE NÃO CARREGAR?

com Amara Moira, João Silvério Trevisan e Yone Lindgren mediação Ramon Nunes Mello Amara Moira é travesti, feminista e doutora em

Duração

teoria e crítica literária pela Universidade Estadual

aproximada:

de Campinas (Unicamp), além de autora do livro

120 minutos Sala Vermelha

autobiográfico E se Eu Fosse Puta (Hoo Editora, 2016).

(piso 3)

João Silvério Trevisan é escritor de literatura ficcional,

70 lugares

ensaística e infantojuvenil, tendo 12 livros publicados, entre ensaios, romances e contos. Ativista na área de direitos humanos, em 1978 fundou o Somos, primeiro grupo de liberação homossexual do Brasil, e foi um dos editores fundadores do mensário Lampião da Esquina, primeiro jornal voltado para a comunidade LGBT brasileira, ainda na década de 1970.

Ramon Nunes Mello é poeta, escritor, jornalista e ativista dos direitos humanos. Mestre em literatura brasileira pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é autor dos livros de poemas Vinis Mofados (Língua Geral, 2009), Poemas Tirados de Notícias de Jornal (Móbile Editorial, 2011) e Há um Mar no Fundo de Cada Sonho (Verso Brasil, 2016).

Yone Lindgren é defensora, promotora e consultora em direitos humanos e diversidade. Militante LGBTTQIA, é coordenadora-geral do movimento D›Ellas e coordenadora política nacional da Articulação Brasileira de Lésbicas (ABL). Além disso, integra diversas outras frentes de ativismo em questões de gênero e contra a violência. 60


ARTISTAS, CRIAÇÃO E ENVELHECIMENTO

com Dulce Muniz, João Acaiabe, Neon Cunha e Renato Borghi mediação José Cetra Dulce Muniz é atriz, diretora de peças para teatro, rádio e televisão, roteirista e dramaturga. Tem atuação também no campo das políticas culturais, como membro de comissões e associações de classe.

14

DOMINGO 15h

Duração aproximada:

João Acaiabe é ator, locutor, contador de histórias, radialista e professor de interpretação. No cinema, o papel que lhe deu mais notoriedade foi no curta-metragem O Dia em que Dorival Encarou a Guarda – dirigido por Jorge

120 minutos Sala Vermelha (piso 3) 70 lugares

Furtado e José Pedro Goulart –, que lhe rendeu o prêmio de Melhor Ator e o Kikito no Festival de Gramado em 1986.

José Cetra é mestre em artes cênicas pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), pesquisador teatral e membro da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA). É também editor do blog Palco Paulistano e autor do livro O Palco Paulistano de Golpe a Golpe (1964-2016) (Giostri Editora, 2017).

Neon Cunha é ativista independente, mulher negra, ameríndia, feminista interseccional e trans. Tem atuado na Marcha das Mulheres Negras de São Paulo e participado de palestras, rodas de conversa e debates.

Renato Borghi fundou o Teatro Oficina em 1958, com José Celso Martinez Corrêa. Nos anos 1970, fundou o Teatro Vivo, com Esther Góes, e juntos produziram espetáculos de resistência à ditadura militar. Durante a década de 1980, escreveu peças como A Estrela Dalva e Lobo de Ray-Ban. Em 1993, fundou o Teatro Promíscuo, com o ator Élcio Nogueira Seixas.

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16 TERÇA 20h30

A DIVERSIDADE NO AUDIOVISUAL BRASILEIRO

com Adélia Sampaio, Ariel Nobre e Lufe Steffen mediação Antônio Moreno Os convidados falam sobre a presença de personagens LGBTQIA+ na produção audiovisual brasileira. Adélia Sampaio, atualmente com 75 anos, foi a

Duração

primeira mulher negra a dirigir um longa-metragem

aproximada:

no Brasil, Amor Maldito, um dos primeiros filmes

120 minutos Sala Itaú Cultural

brasileiros com um casal lésbico como protagonista.

(piso térreo)

Antônio Moreno é graduado em comunicação social, cinema

224 lugares

e jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF), mestre em artes pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com a tese A Personagem Homossexual no Cinema Brasileiro, e doutor em ciências da comunicação pela Universidade de São Paulo (USP), com a tese Cinema, Ideologia e Infância, a Recepção das Ideologias em Filmes Espanhóis de Crianças e com Crianças, 1953-1975.

Ariel Nobre é cineasta, trans e responsável pelo projeto Preciso Dizer que te Amo, campanha de sensibilização contra o suicídio de homens trans.

Lufe Steffen, cineasta e pesquisador, é diretor de São Paulo em Hi-Fi e já realizou curso sobre o panorama LGBT no cinema nacional.

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teatro


MENINES Com humor e leveza, o espetáculo explora afetos e tabus por meio de um descontraído jogo de cenas curtas sobre enamorados, amigos, pais e filhos, cidadãos. Em cena, um elenco formado

13 SÁBADO 20h

por pessoas cis, trans e não binárias faz da peça uma celebração da liberdade de expressão de gênero.

Texto e idealização Marcia Zanelatto Direção Cesar Augusto e Marcia Zanelatto Consultoria intelectual Guilherme Almeida Diretor-assistente Pedro Uchôa Elenco Agnes Lobo, Bruno Maria Torres, Elisa Caldeira, Ian Belisario, Maíra Garrido, Pedro Marquez e Zane Atriz convidada Simone Mazzer Espaço cênico Beli Araújo e Cesar Augusto Direção musical Luisa Toledo e Maíra Garrido Iluminação Adriana Ortiz Figurino Maria Duarte Visagismo Marcio Mello Fotografia Renato Mangolin Vídeo e teasers Bruna Leal e Renato Mangolin Arte Thiago Ristow Conteúdo para transmídia Bruna Leal e Marcia Zanelatto Técnico e operador de luz Anderson Peixoto Produção-executiva Renata Campos Direção de produção Juliana Mattar Realização Transa Arte e Conteúdo

_

14

DOMINGO 19h

Duração aproximada: 60 minutos Sala Itaú Cultural (piso térreo) 224 lugares

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17 QUARTA 20h

ROMEU & JULIETA 80 Inusitada montagem do clássico de Shakespeare – que narra a rivalidade entre os Montecchios e os Capuletos em uma Verona de 1600, e o amor proibido de Romeu e Julieta –, em que o apaixonado casal é interpretado pelos consagrados atores Renato Borghi e Miriam Mehler, ambos na casa dos 80 anos de idade.

Duração aproximada: 100 minutos Sala Itaú Cultural (piso térreo) 224 lugares

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Direção, adaptação e iluminação Marcelo Lazzaratto Elenco Carolina Fabri, Elcio Nogueira Seixas, Miriam Mehler e Renato Borghi Direção de arte Simone Mina Trilha sonora Daniel Maia Operação de som Viviane Barbosa Operação de luz Ricardo Barbosa Contrarregra Hugo Léo Ferreira Camareira Maria das Graças Gracinda Fotografia Roberto Setton Produção-executiva Rick Nagash Produção Anayan Moretto Assessoria de imprensa Adriana Monteiro (Ofício das Letras)



l e itura dramรกtica

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12º ROUND – A LUTA CONTINUA Inspirado em fatos reais, o texto é uma homenagem à vida e ao legado do tricampeão mundial de boxe Emile Griffith, norte-americano que desde os anos 1960 se tornou uma voz conhecida na luta pelos direitos civis dos homossexuais no mundo. No ringue, sua história ficou marcada pela disputa do título mundial contra o cubano Benny Paret em 1962. Na ocasião, após Paret ter proferido ofensas em relação à orientação sexual de Griffith, este o golpeou tanto no final da luta que o oponente entrou em coma, falecendo dez dias depois. A história do pugilista é construída não apenas por meio de sua voz, mas por uma série de personagens reais que tiveram importância fundamental em sua vida, como a mãe, os adversários e os namorados. Além deles, figuras fictícias surgem no palco a fim de promover uma contextualização histórica.

15

SEGUNDA 20h

Duração aproximada: 65 minutos Sala Itaú Cultural (piso térreo) 224 lugares

Dramaturgia Sérgio Roveri Elenco João Acaiabe, Lena Roque, Lucélia Sérgio, Rogério Brito e Sidney Santiago Kuanza Produção Cia. Os Crespos, Rafael Ferro, Selo Homens de Cor e Sidney Santiago Kuanza Iluminação Edu Luz

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apresen tação

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INTERVENÇÕES MÚLTIPLAS: FINALIZAÇÃO DE OFICINA No último dia da oficina Como Eliminar Monstros: Abordagens Contemporâneas a Partir do HIV, que acontece ao longo de julho, será apresentado um mosaico de intervenções artísticas nos espaços públicos do Itaú Cultural, como um reflexo das urgências narrativas provocadas pela oficina. Trata-se de intervenções curtas, criadas a partir das diversas linguagens trazidas pelos participantes, apontando caminhos embrionários que poderão se verticalizar no futuro.

16 TERÇA 18h

Duração aproximada: 60 minutos Sala Vermelha (piso 3) 70 lugares

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cinema 72


ROGÉRIA, SENHOR ASTOLFO BARROSO PINTO (2018) Com direção de Pedro Gui, o longa-metragem conta a história de Rogéria, que nasceu Astolfo. Assim que “surgiu”, Rogéria tomou as rédeas da situação e escondeu Astolfo da sociedade. Agora, quer dar voz a ele. Para tanto, este docudrama aborda as histórias das duas pessoas, que se conjugam em uma só, mas têm relações ímpares e complexas entre si.

16 TERÇA 19h

Duração aproximada: 80 minutos Sala Itaú Cultural (piso térreo) 224 lugares

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Memória e Pesquisa - Itaú Cultural Todos os gêneros: mostra de arte e diversidade / organização Itaú Cultural. - 6. ed. – São Paulo: Itaú Cultural, 2019. 76 p.: il., 22x16cm. ISBN 978-85-7979-123-9 1. Gênero. 2. Sexualidade. 3. Literatura. 4. Envelhecimento. 5.Homossexualidade. 6. Exposição de arte – catálogo. I. Instituto Itaú Cultural. II. Título. CDD 306.76

Famílias tipográficas Verlag e Sentinel Papéis Color Plus Marfim 180 g/m2 (capa) e Polén Bold 90 g/m2 (miolo) Tiragem 2 mil exemplares Impressão Stilgraf, São Paulo, inverno de 2019



_ TODOS OS GÊNEROS Mostra de Arte e Diversidade quinta 11 a quarta 17 de julho de 2019 _ ENTRADA GRATUITA _ ITAÚ CULTURAL Avenida Paulista, 149, São Paulo/SP, 01311 000 [próximo à estação Brigadeiro do metrô] itaucultural.org.br atendimento@itaucultural.org.br fone 11 2168 1777


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