Próximo ato: teatro de grupo

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em propositores de situações, ideias e estímulos para espectadores que, nos casos mais radicais, eram tratados como parceiros de criação. O último espetáculo do Asdrúbal Trouxe o Trombone, A Farra da Terra, por exemplo, foi criado por meio de oficinas públicas e modificado a partir das opiniões colhidas nos muitos ensaios abertos que o grupo realizou antes da estreia, no Sesc Pompeia, São Paulo, em 1983. A observação de Walter Benjamin sobre o caráter modelar de uma produção, que pode ser medido pela capacidade que os criadores têm de socializar os meios produtivos, sem dúvida se aplica a esse trabalho, que transformou espectadores em colaboradores. Não apenas por isso, o Asdrúbal talvez possa ser tomado como paradigma da criação coletiva nos anos 1970. Mas, talvez por isso, sirva como exemplo de união entre o que Jean-Pierre Sarrazac chama de teatro íntimo e teatro público. O “grande” e o “pequeno”, o público e o íntimo, o teatro político e o “teatro de arte” ganharam nova conformação nas criações dos grupos cooperativados. E se projetaram nos processos colaborativos de hoje. Silvia Fernandes é professora do Departamento de Artes Cênicas e do Programa de PósGraduação em Artes Cênicas da ECA-USP. Pesquisadora do CNPq, atua nas áreas de teatro brasileiro contemporâneo e teoria teatral. Entre outros trabalhos, publicou Teatralidades Contemporâneas (Perspectiva, 2010), Grupos Teatrais, Anos 70 (Editora da Unicamp, 2000) e Memória e Invenção: Gerald Thomas em Cena (Perspectiva, 1996). É coeditora da revista Sala Preta.

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