Sem Título, 1986, obra de Paulo Monteiro construída em sua sala no ateliê do grupo Casa 7 | Foto: Paulo Monteiro
Quando comecei a fazer quadrinhos, em 1977, Hélio Oiticica já era uma referência na vanguarda artística brasileira. Eu mal sabia disso. Quase tudo que se fazia na década de 1970 era marginal, inclusive as histórias em quadrinhos brasileiras do “udigrudi” (palavra abrasileirada do inglês underground). As informações circulavam com muita dificuldade em meio à ditadura militar e, se quiséssemos ver ou saber de alguma coisa, tínhamos de correr atrás. Hélio faleceu em 1980. E só em 1986 uma galeria particular de São Paulo reuniria parte de suas obras em uma mostra intitulada O q Faço É Musica. Quando vi essa exposição, fiquei bem impressionado. O trabalho de Hélio tinha uma cor surpreendente, principalmente os alaranjados e vermelhos. Uma cor parecida com aquelas usadas nas pinturas das fachadas de casas populares. Sem nenhum “empeteco”. As caixas bólides eram despretensiosamente pintadas – o que dava uma sensação de liberdade... como se qualquer pessoa pudesse fazer aquilo. Naquele mesmo ano de 1986 houve uma mudança muito significativa no meu trabalho. Eu comecei a achar que a superfície das minhas pinturas estava saturada. Existia para mim a questão do peso que vinha da observação dos trabalhos de Philip Guston. Eu procurava articular alguma coisa em relação à matéria no espaço real. Achava que os aspectos físicos da tinta, como o peso, a maleabilidade e a elasticidade, eram mais relevantes do que aqueles que diziam respeito à cor. O apoio das coisas no chão e na parede era o assunto que começou a me interessar. As peças que surgiram daí eram montagens de pedaços de madeira, ferro e massa de calafetação, e muitas se perderam com o tempo. 26