OBSERVATÓRIO ITAÚ CULTURAL
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Nesta edição, cujo tema é Cultura, Artes e Pandemia – Cenários e Tendências Após a Crise do Novo Coronavírus, discutimos na esfera das artes o agora, a pandemia em pleno curso, e o depois, o que nos reserva o “d.v.”. De uma complexidade crescente diante de um micro-organismo, a cultura está se ressentindo do fechamento de todos os espaços que fazem viva uma cidade. Mas nem tudo tem o sinal invertido, negativo: com o cancelamento de grandes shows, surgiram festivais on-line, como One World: Together at Home, com curadoria de Lady Gaga em parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS), que alcançou um público de mais de 20 milhões de pessoas. Sua proposta era não somente amenizar o isolamento, mas também arrecadar fundos para o combate à pandemia. Daniela Ribas Ghezzi escreve justamente sobre o importante papel que a comunidade musical tem tido nestes tempos de recolhimento, como diz o autor norteamericano Paul Auster. Para além de combater o desânimo de quem está do lado de cá do celular ou do computador, músicos de todo o mundo têm produzido dezenas de festivais virtuais para continuar com sua arte, marcar seu território autoral e oferecer sua matéria-prima: a voz. Muitos foram os artistas que repensaram e reinventaram seus processos criativos fazendo uso contínuo do que está à mão neste momento, a internet. E, como diz Daniela, criaram “canais de discussão, de divulgação de boas práticas de isolamento e assepsia, de sistematização de boas práticas em política cultural e para a recuperação do setor, de levantamento de fundos para necessitados”. Nos 20 textos que compõem este número, seus autores contemplam um conjunto de
sugestões que podem dar algum alento à arte e a quem dela vive. Isabela Souza e Rebeca Brandão, a partir de suas experiências em gestão de projetos, fazem uma reflexão sobre como a cultura é vista por quem está no poder e quais são os fatores determinantes para elaborar as políticas públicas. Por ter nascido e crescido na Maré e por trabalhar no Observatório de Favelas, Isabela acredita que, para avançarmos como sociedade com menor nível de desigualdade, será preciso valorizar “a urgência de mulheres, de pessoas negras e de origem popular em espaços decisórios e deliberativos de governos e instituições”. Somente desse modo as políticas públicas poderiam ser reinventadas atendendo a demandas sociais. Rebeca amplia o debate ao dizer que não se pode “repetir velhas práticas excludentes, que colaboram diretamente para a manutenção de uma estrutura social racista, sexista e classista”. O impacto da covid-19, doença que fez a maioria das pessoas se isolar e não ter interação social, atingiu duramente museus e centros culturais, com portas fechadas desde o início da pandemia. Exposições são pensadas, desenhadas e programadas para atrair o que há de essencial para a sua sobrevivência: as pessoas. Como boa parte delas está em casa, não se sabe ao certo qual será o destino das mostras. Lucimara Letelier, fundadora do Museu Vivo, comenta em seu texto que, se o público está impedido de ir até um centro para ver arte, “o lugar de relevância mora mais no diálogo que sustenta a conexão ativa com o público [...] do que em seu espaço expositivo como elo principal de interação. Torna-se mais importante o que o museu tem a dizer do que o que tem a mostrar”. É uma abordagem diferente para os museus, que precisaram, ainda que involuntariamente,