O valor da cultura: rumo a uma nova narrativa

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O VALOR DA CULTURA: rumo a uma nova narrativa

GUIA DE APLICAÇÃO PARA PROJETOS CULTURAIS E CRIATIVOS

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O VALOR DA CULTURA: RUMO A UMA NOVA NARRATIVA – GUIA DE APLICAÇÃO PARA PROJETOS CULTURAIS E CRIATIVOS


SUPERINTENDENTE ITAÚ CULTURAL Jader Rosa

OBSERVATÓRIO Coordenação Luciana Modé

Equipe Andreia Briene

EQUIPE PEOPLE’S PALACE PROJECTS DO BRASIL Diretor Paul Heritage

Consultoria Leandro Valiati

Editor Gustavo Möller

Equipe Karina Ruiz Mariana Steffen Natália Nunes Aguiar

Memória e Pesquisa | Itaú Cultural O Valor da Cultura: rumo a uma nova narrativa: Guia de Aplicação para projetos culturais e criativos / vários autores; organizado por Observatório Itaú Cultural e People’s Palace Projects do Brasil; dirigido por Paul Heritage; consultoria de Leandro Valiati; editado por Gustavo Möller . - São Paulo : Itaú Cultural ; People’s Palace Projects do Brasil , 2023. 60 p. : E-pub. Inclui bibliografia e índice. ISBN: 978-65-88878-76-7 1. Economia da Cultura. 2. Indústrias Criativas. 3. Guia metodológico. 4. Desenvolvimento sustentável. 5. Projetos Culturais e Criativos. I. Itaú Cultural. II. Fundação Itaú. III. People’s Palace Projects do Brasil. IV. Observatório Itaú Cultural. V.Título. CDD 306.3

Bibliotecária Ana Luisa Constantino dos Santos CRB-8/10076 2

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SUMÁRIO 04

APRESENTAÇÃO INSTITUCIONAL

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INTRODUÇÃO

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METODOLOGIA E QUESTÕES CONCEITUAIS

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PRIMEIRA ETAPA – CONTANDO A SUA HISTÓRIA

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SEGUNDA ETAPA – DEFININDO DIMENSÕES E INDICADORES DE IMPACTO

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TERCEIRA ETAPA – ELABORANDO QUESTÕES

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QUARTA ETAPA – COLETANDO DADOS

38

QUINTA ETAPA – ANALISANDO SEUS DADOS

42

SEXTA ETAPA – APRESENTANDO OS RESULTADOS


APRESENTAÇÃO INSTITUCIONAL Nestes 35 anos de trajetória, o Itaú Cultural (IC) participou ativamente do fomento, da produção e da difusão do conhecimento sobre arte e cultura brasileiras. São diversas ações que acompanham os debates da contemporaneidade, estimulando reflexões sobre temas que permeiam a sociedade brasileira, entre eles, questões referentes à gestão, à economia e às políticas culturais. Por meio do Observatório Itaú Cultural, criado em 2006, a organização sistematiza, torna compreensível e dissemina informações sobre os setores cultural e criativo, atuando como um espaço de apoio ao desenvolvimento de políticas culturais. Vale destacar algumas iniciativas: o “PIB da Economia e das Indústrias Criativas” (Ecic) e a plataforma digital e interativa Painel de Dados, que oferecem informações e indicadores sobre mercado de trabalho, gastos públicos e comércio internacional; publicações como a Revista Observatório e livros sobre gestão e economia criativa; e, no campo da formação, o Mestrado profissional em economia e política da cultura e das indústrias criativas, parceria entre o IC e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Todas iniciativas que estimulam o olhar para além do valor econômico, mas também a compreensão do valor simbólico que impactam os projetos e iniciativas culturais e artísticas. Desta forma, em 2018, o Observatório Itaú Cultural – acreditando nos valores e impactos das artes e da cultura – desenvolveu uma metodologia de pesquisa em parceria com a consultoria

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People’s Palace Projects para mediação do impacto de projetos Assista o vídeo sobre o Manual aqui

artísticos e culturais. Na ocasião, foi aplicada a primeira experiência em cinco projetos da edição Rumos Itaú Cultural 2017-2018 e aprimorada e validada em 2022 com 19 projetos da edição 20192020. Assim nasce a pesquisa “Valor da cultura: rumo a uma nova narrativa”, cujo objetivo é repensar as estruturas tradicionais de mensuração do valor da cultura, utilizando referências dos campos social, artístico e econômico. A pesquisa procura identificar e compreender as diferentes formas pelas quais a cultura é capaz de transformar os indivíduos e contextos em seu entorno, a partir de diferentes práticas e manifestações do campo cultural. Com o compromisso de instrumentalizar artistas, produtores e gestores culturais, desenvolvemos este manual a fim de divulgar a metodologia e o processo de sua construção – em conjunto com as organizações e os agentes criativos parceiros –, além de oferecer uma base a todos que queiram aprimorar suas práticas de gestão e mensuração do valor simbólico da arte e da cultura de seus projetos. Boa leitura! Itaú Cultural

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INTRODUÇÃO Qual é o valor da cultura? De que forma esse valor é definido e mensurado, e que histórias podemos contar a partir dele? Essas são algumas das perguntas que deram início ao debate que provocou a realização da pesquisa “Valor da Cultura: Rumo a uma nova narra1

Esta pesquisa consiste em uma nova aplicação da metodologia desenvolvida pela PPP, chamada Relative Values, que ocorreu entre junho de 2017 e maio de 2018 com 2 organizações brasileiras (Agência Redes para Juventude e Redes da Maré) e 2 organizações inglesas (Battersea Arts Centre e Contact Theatre). Em 2019, o projeto Beyond Exchange (Relative Values II) adaptou a metodologia para que fosse aplicada por artistas e produtores culturais, e não apenas por grandes organizações. Por último, em 2021, o projeto Raízes de Resiliência, em parceria com o Instituto Inhotim, aplicou a metodologia junto a cinco organizações culturais do Quadrilátero Ferrífero, em Minas Gerais.

tiva”1, realizada em conjunto pelo Observatório do Itaú Cultural e pelos professores Paul Heritage e Leandro Valiati (People’s Palace

Projects do Brasil). O principal objetivo da pesquisa é contribuir para a criação de uma narrativa que demonstre o valor da cultura para além de medidas exclusivamente econômicas ou quantitativas, de modo a incorporar outras dimensões que evidenciem como a cultura é capaz de alterar, de forma significativa, aqueles que estão envolvidos com ela, seja como realizadores, seja como consumidores. Para isso, buscamos articular a dimensão da prática artística com a pesquisa, incentivando e possibilitando que indivíduos atuantes no campo da cultura assumam um papel protagonista na discussão do valor da cultura. Assim, em uma primeira fase, em 2018, a pesquisa foi cocriada junto a cinco projetos selecionados pelo edital Rumos, do Itaú Cultural: Editora e Gráfica Heliópolis (São Paulo, SP), Grupo Ninho (Crato, CE), Hip Hop Caboclo (São Paulo, SP), Verdevez (Teresina, PI) e Retratistas do Morro (Belo Horizonte, MG). A escolha dos projetos foi realizada pela equipe de pesquisadores e do Observatório Itaú Cultural, junto aos gerentes do programa Rumos. Desta primeira fase, resultou uma série de indicadores construídos conjuntamente.

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Em uma segunda fase (2021/22), trabalhamos com outros 19 projetos contemplados pelo edital de 2019 do Rumos Itaú Cultu2

Os projetos selecionados para a segunda fase de implementação da metodologia são os seguintes: 10 Desertos de Erros (Porto Alegre, RS), A Voz da Esperança (Quinta Capa Quadrinhos - Teresina, PI), Aã (Córregos Vivos - Belo Horizonte, MG), Baixada Sonora (Rio de Janeiro, RJ), BREU (Salvador, BA), Cinemáquina: Memória em movimento (Aracaju, SE), Concerto para vaca e boi (Brasília, DF), EPA! Encontro Periférico de Artes - 5ª Edição (Salvador, BA), Festival de Circo de Taquaruçu (Palmas, TO), Gilda Cartonera (Ubatuba, SP), Memórias de um Esclerosado (Portuñol Porto Alegre, RS), Meu caminho até a escola (Rio de Janeiro, RJ), Mocambo (Maceió, AL), Mochileiros Arquivistas (Salvador, BA), O vizinho silencioso (Goiânia, GO), Primavera Para as Flores Negras, por Funmilayo Afrobeat Orquestra (São Paulo, SP), Problemas e aspirações do negro brasileiro – 3º ato (João Pessoa, PB), Publicação do primeiro dicionário bilíngue Kaiowá-Português-Kaiowá (Belo Horizonte, MG), Yvy Pyte - Coração da Terra (Belo Horizonte, MG).

ral.2 No processo, foram discutidos instrumentos de pesquisa e de coleta de dados, bem como os indicadores resultantes da primeira fase do projeto. Essa foi a primeira vez que muitos projetos participaram da pesquisa, o que fortaleceu o entendimento de que a metodologia desenvolvida em edições anteriores pode ser amplamente adaptada e replicada. Assim, elaboramos este guia com o intuito de divulgar nossa metodologia, bem como os indicadores propostos, além do próprio processo de elaboração, em conjunto com as organizações e os agentes criativos parceiros desses indicadores. Com isso, objetivamos ampliar o diálogo a respeito do que se tem realizado, bem como oferecer ferramentas acessíveis para avaliar o impacto do trabalho na área cultural e apresentar os resultados em linguagem compreensível e intercambiável entre contextos diversos. O manual é dividido em sete seções, para além desta introdução, que seguem a mesma lógica do processo de pesquisa. Iniciamos com uma breve discussão metodológica e conceitual, seguida de outras seis seções com as diferentes etapas de aplicação da metodologia. Cada etapa é dependente da anterior e permite ao pesquisador desenhar sua própria avaliação de acordo com as necessidades intrínsecas ao seu projeto. A jornada aqui detalhada é, antes, um incentivo ao descobrimento de caminhos, mais do que uma rota já traçada. Busca-se ampliar o poder das histórias e narrativas em novos formatos e abordagens. Esperamos que seja útil a todes que, assim como nós, têm como objetivo central explorar e demonstrar o valor da cultura. Boa leitura! Equipe People’s Palace Projects do Brasil

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Metodologia e questões conceituais

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Para compreender os efeitos que as práticas culturais proporcionadas por um projeto ou organização geram nos indivíduos, é preciso levar em consideração o contexto de cada um, incluindo seu local e forma de atuação. Com isso em mente, sugerimos uma abordagem que procura incluir e sistematizar dados referentes a estes três tópicos: contexto, atuação e impactos.

EIXO I: CONTEXTO Com foco no território, inclui estatísticas (dados secundários) socioeconômicas para um panorama dos territórios com que o projeto/organização se relaciona. São utilizados dois grupos de dados: i) caracterização socioeconômica, representada por informações como esperança de vida ao nascer, renda per capita, índice de GINI e escolaridade; e ii) dimensões específicas consideradas pelos agentes criativos parceiros como essenciais para caracterizar o território em que atuam – como, por exemplo, dados sobre produção e equipamentos culturais.

EIXO II: ATUAÇÃO Este eixo busca reunir informações sobre a atuação das pessoas que compõem a organização cultural ou que desenvolvem o projeto específico que está sendo analisado. Reconhece-se que projetos distintos envolvem diferentes dinâmicas de funcionamento, objetivos e relações com o seu público e os participantes. Em um segundo momento da análise, a reunião desses dados auxiliará a compreensão da relação entre a entrega da experiência cultural e seus efeitos.

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EIXO III: IMPACTOS O terceiro eixo de análise busca captar os impactos das práticas culturais, isto é, os resultados mais duradouros 3

gerados pela transformação da realidade social3 propor-

DRAIBE, S. M. Avaliação de implementação: esboço de uma metodologia de trabalho em políticas públicas. In: BARREIRA, M. C. R. N; CARVALHO, M. do C. B. de. (Orgs.) Tendências e perspectivas na avaliação de políticas e programas sociais. São Paulo: IEE/PUC/SP, 2001.

cionada pelos projetos. A unidade de análise para esse eixo é a experiência do participante do projeto, seja ele público de uma peça, visitante de uma exposição ou um(a) escritor(a) que teve seu livro publicado. Coletamos, ainda, informações de pessoas que tiveram diferentes relações com o projeto, seja participando da equipe, seja tendo contato dentro do campo profissional/artístico. Este último eixo é o foco do presente guia e busca apresentar diferentes maneiras de mensurar o impacto da cultura. Durante a explicação da pesquisa nas seções seguintes, além de traçar suas diferentes etapas, forneceremos insumos para a compreensão de dimensões e indicadores, propondo um questionário com variáveis básicas.

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primeira etapa CONTANDO A SUA HISTÓRIA

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I.Autoconhecimento: definição do trabalho realizado e estruturação de narrativas Para propor indicadores, é preciso saber o que desejamos medir. As artes e a cultura podem ter impactos sociais e econômicos dos mais diversos, os quais recaem sobre diferentes públicos. Assim, os efeitos positivos de iniciativas culturais podem percorrer variados caminhos; assim, decidir em qual deles você quer focar é o primeiro passo para identificar os pontos necessários para compreendê-los. Para isso, é importante que o trabalho desenvolvido por você/sua equipe esteja bem definido para você(s). Perguntar-se as questões a seguir pode ajudar a estruturar essa narrativa:

1. O que eu faço/O que nós fazemos? Que trabalho é realizado? (Conteúdo). 1.2 Como e quando este trabalho/projeto começou a ser realizado? 1.3 De onde vem a minha ligação com este trabalho/tema/projeto?

2. Quem realiza as atividades/cada uma das atividades? (Equipe). 3. Onde elas ocorrem? (Localização e abrangência). 3.1 Como é a relação com esse local? Existe vínculo com o território?

4. Quando elas acontecem? (Periodicidade). 5. Como as atividades são feitas? (Descrição). 6. Com quem o trabalho é realizado? (Parcerias). 7. Para quem o trabalho é realizado? (Público e objetivos). 7.1 Como posso descrever as pessoas para as quais o nosso trabalho é voltado? 7.2 Como é a nossa relação com essas pessoas/esse grupo de pessoas/essa comunidade?

8. Por que meu/nosso trabalho é realizado? (Motivação).

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Ao responder a essas perguntas, você e sua equipe poderão elaborar narrativas que resumem as atividades e os projetos desenvolvidos por vocês. A partir dessa compreensão, fica mais fácil identificar pontos como: quem são as pessoas/os grupos de pessoas envolvidos no seu trabalho e impactados por ele (equipe, parcerias e público); os efeitos que as atividades realizadas podem ter (objetivos e motivação); que consequências vocês esperam ver ao realizarem suas atividades (objetivos e motivação); a abrangência do trabalho de vocês – e de seu impacto (localização, abrangência e periodicidade); bem como a relação com os territórios onde vocês atuam.

II. O que pesquisar e com quem falar Os impactos da cultura podem percorrer múltiplos caminhos, e é preciso decidir entre eles para conseguir explorar a fundo e compreender cada fio desse novelo de histórias. Por exemplo, pode ser que você queira explorar os efeitos de um programa específico desenvolvido por você/sua organização. Por outro lado, em vez de focar em algum projeto específico, talvez você deseje mensurar o valor dos vários projetos que você/sua organização desenvolveu. Da mesma forma, você pode preferir compreender o impacto das suas ações sobre sua rede de colaboradores e não sobre o público final. Refletir sobre as perguntas a seguir e/ou discuti-las com sua equipe contribui para consolidar o propósito da pesquisa e ajuda a norteá-la:

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1. O que, do meu trabalho, eu gostaria de entender melhor? Que história eu gostaria de contar?

2. Quem está envolvido nessa história? 3. Com quem é preciso conversar para obter as informações necessárias para contar essa história?

4. Como documentá-la? 5. Com quem eu gostaria de compartilhar minhas descobertas?.

Tendo estruturado as respostas a essas perguntas, torna-se mais fácil identificar sobre que aspectos do seu trabalho você deseja pesquisar, bem como definir seu público-alvo (ou seja, quem e quantas são as pessoas que vão participar da pesquisa). A partir disso, você poderá avançar na reflexão sobre que perguntas devem ser feitas para que você obtenha as informações de que precisa. Finalmente, ter em mente possíveis interlocutores com quem você gostaria de compartilhar seus achados (por exemplo: potenciais financiadores, membros do poder público ou demais agentes criativos) é um importante passo para delinear as informações a serem obtidas e a forma como elas devem ser apresentadas.

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segunda etapa DEFININDO DIMENSÕES E INDICADORES DE IMPACTO

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Dois paradigmas parecem orientar a discussão sobre o valor da cultura na sociedade contemporânea. Por um lado, há a perspectiva que destaca o valor intrínseco dessas práticas, que remete ao valor essencial das práticas culturais e aos efeitos subjetivos que elas são capazes de gerar nos indivíduos que as experienciam. De outro lado, há a ótica que enfatiza os valores instrumentais das práticas culturais, isto é, entendendo-as como um meio para se alcançarem objetivos específicos – sociais ou econômicos, tais 4

5

HOLDEN, J. How we value arts and culture. In: Sustaining Cultural Development. Routledge, 2016. p. 39-50.

como inclusão social, emprego, saúde etc.4. Neste cenário, ganhou

UNESCO. Creative Economy Report. 2013.

para o desenvolvimento social e econômico dos países5.

espaço o debate sobre a economia criativa, promovendo o olhar sobre a contribuição dos chamados setores culturais e criativos Neste guia, buscamos conciliar ambas as visões, sugerindo uma nova abordagem. Por meio da coleta de dados junto aos participantes e/ou público relacionado a cada projeto, voltamos nosso foco para os impactos que as práticas artísticas e culturais são capazes de gerar nestes indivíduos. Para isso, propomos indicadores desses impactos. Indicadores são ferramentas que permitem quantificar conceitos abstratos

6

JANUZZI, P. Indicadores sociais no Brasil. Campinas: Alínea, 2001.

através de evidências da realidade social6. Para isso, é importante assegurar que estas quantificações estejam inseridas dentro do contexto de cada projeto e reconhecer a relevância dos(as) participantes e suas trajetórias. É possível identificar uma série de dimensões individuais sobre as quais as práticas culturais geram impacto. A partir da análise da literatura relacionada, reunimos as dimensões consideradas mais relevantes de acordo com os objetivos da pesquisa e as características dos projetos selecionados. Seguindo a proposta de cocriação da pesquisa, as duas etapas de trabalho – com cinco e depois com dezenove projetos selecionados no edital Rumos – propuseram as seguintes dimensões:

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ACESSO À CULTURA

LACERDA, A. P. Democratização da cultura X democracia cultural: os pontos de cultura enquanto política cultural de formação de público. Anais do seminário internacional. Políticas culturais: teoria e práxis, p. 1-14, 2010.

8

LOPES, J. M. T. Da democratização da Cultura a um conceito e prática alternativos de Democracia Cultural. Saber & Educar, n. 14, 2009.

9

SOUZA, V. Cidadania Cultural: entre a democratização da cultura e a democracia cultural. pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura, Ano 8, número 14, semestral, out/2017 a mar/ 2018

10

BARROS, J. N. Cultura, Memória e Identidade: contribuição ao debate. Cad. hist., Belo Horizonte, v. 4, n. 5, p. 31-36, dez. 1999

11

POLLAK, M. Memória e Identidade Social. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 5, n. 10, 1992, p. 200-212.

A importância da formação de públicos é questão central para a ideia de democracia cultural, que busca proporcionar “o acesso, fruição, produção e distribuição da cultura por todos os cidadãos”7, compreendendo a ação cultural a partir da pequena escala8. Reside aqui uma proposta de dinamização da cultura local com base em suas próprias práticas, respeitando as referências das diferentes comunidades9 e suas trajetórias e incentivando a diversidade cultural.

IDENTIDADE Entendendo que a cultura é uma forma de lente pela qual os indivíduos enxergam e constituem a realidade, compreendemos que ela é também “condição para a construção da história e da memória de um povo e, portanto, formadora da sua identidade”.10 Assim, temos nas práticas e nas ações culturais a possibilidade de representação da memória e da cultura de um povo, reforçando a sua identidade – ou não, na medida em que essa história, essa memória, é ou não contada. Para Pollak (1992), memória e identidade são valores disputados, sendo que a memória tem um papel fundamental enquanto elemento constituinte da identidade, na medida em que contribui para o sentimento de continuidade dentro do tempo e de coerência do indivíduo, elementos essenciais da construção da identidade11.

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AUTOCONFIANÇA

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CROSSICK, G.; KASZYNSKA, P. Understanding the value of arts and culture. Swindon: Arts & Humanities Research Council, 2016.

13

HAMPSHIR, K. R.; MATTHIJSSE, M. 2 Can arts projects improve young people’s wellbeing? A social capital approach. Social Science & Medicine, 71, p.708-716, 2010.

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Há diversos estudos apontando as diferentes formas pelas quais práticas culturais geram bem-estar, sobretudo enfocando grupos sociais que apresentam condições de saúde específicas.12 Para essa pesquisa, reconhecemos a importância destes resultados, mas enfatizamos uma concepção de bem-estar de caráter subjetivo e interativo, que remete sobretudo ao indivíduo reflexivo, autônomo e empático, também tocando na questão da autoestima pessoal ou autoconfiança. Os indicadores apresentados nessa dimensão remetem à percepção dos indivíduos sobre si mesmos após a participação e/ou contato com o projeto selecionado. Perguntas abertas foram utilizadas visando provocar a reflexão e a subjetividade dos participantes.

REDES A concepção de redes sociais utilizada remete ao conceito de capital social e enfatiza a construção de relações duradouras entre os indivíduos. Com frequência, a literatura traz esse processo associado à noção de bem-estar, sobretudo demonstrando que a construção de relações sociais pode implicar melhor saúde física e mental13. Para os fins deste guia, consideramos que a construção destas redes tem por si só importância, sem nos ater aos potenciais benefícios daí decorrentes14.

Para uma discussão aprofundada sobre a importância e os benefícios da construção de redes sociais, ver: PORTELA, Marta; NEIRA, Isabel; DEL MAR SALINAS-JIMÉNEZ, Maria. Social capital and subjective wellbeing in Europe: A new approach on social capital. Social Indicators Research, v. 114, n. 2, p. 493-511, 2013.

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TERRITÓRIO

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Lopes (2009), grifos do original.

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POLLICE, F. Traduzido por OLIVEIRA, A. G.; CRIONI, R.; OLIVEIRA, B. A. C. C. O papel da identidade territorial nos processos de desenvolvimento local. Espaço e cultura, UERJ, RJ, n. 27, p. 7-23, jan./ jun. De 2010

O conceito de democracia cultural, já mencionado aqui, chama a atenção para a ação cultural encarada “de baixo para cima e de dentro para fora”15, isto é, emanando principalmente do local em que é realizada segundo os repertórios compartilhados pela comunidade. Nesse sentido, entra em questão a ideia de território, entendido sob a perspectiva da relação entre a identidade de uma comunidade e o espaço que esta ocupa16. A forma pela qual as práticas culturais proporcionadas pelos projetos selecionados afetam a relação dos participantes com os territórios abordados – sendo ou não os de residência destes indivíduos –, constitui uma das dimensões de potencial impacto da cultura.

ENGAJAMENTO A última dimensão que trazemos trata do engajamento

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social, entendido como ações conscientes e públicas, sejam individuais, sejam coletivas, realizadas para identificar e tratar questões de interesse público17. Embora não seja uma demanda explícita dos projetos, entendemos que as questões que abordam e/ou as formas como se relacionam com os participantes podem gerar impactos desta natureza nos indivíduos, provocando reflexões de cunho político-social e ações propositivas. Cada uma dessas dimensões conceituais pode se desdobrar em diferentes características específicas, que chamamos de indicadores. Uma vez que você tenha refletido sobre qual dimensão melhor se adequa a sua realidade, tente elaborar/escolher indicadores que representem essas dimensões. Essa é a temática da subseção seguinte.

STERN, M. J.; SEIFERT, S. C. Civic Engagement and the Arts: Issues of Conceptualization and Measurement. Washington DC: Americans for the Arts, 2009. Disponível em: https:// animatingdemocracy. org/sites/default/files/ CE_Arts_SternSeifert. pdf. Acessos em julho de 2019.

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I. Indicadores Indicadores são ferramentas analíticas que sistematizam informações da realidade por meio de códigos. Com isso, somos capazes de organizar bancos de dados contendo variáveis que representam informações mais ou menos objetivas (como o grau de escolaridade de uma pessoa) ou abstratas (como a sensação de bem-estar). Os indicadores expressam, portanto, propostas de como medir atributos e fenômenos por meio de taxas ou índices, compostos por uma ou mais variáveis. Neste guia, propomos indicadores que sejam capazes de apreender o valor das atividades culturais e artísticas desempenhadas por você/sua organização a partir das dimensões conceituais supramencionadas. Para elaborar indicadores, procure pensar sobre o que já se sabe a respeito das pessoas afetadas pelo seu trabalho e quais são os dados sociodemográficos disponíveis:

1.

São pessoas majoritariamente negras, brancas, indígenas?

2.

São mulheres, homens, pessoas cis, pessoas trans?

3.

São pessoas com alto grau de escolaridade? E a renda?

4.

São pessoas que atuam no mercado de trabalho informal?

5.

Essas informações são importantes dentro do escopo do meu trabalho?

Busque refletir sobre quais dessas informações são importantes para descrever globalmente essas pessoas. Procure pensar também nos territórios onde você/sua organização atua:

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6.

Quais são os índices de criminalidade no local?

7.

É um bairro/comunidade centralizado ou periférico?

8.

Como é o acesso das pessoas a eventos de arte e cultura?

Para além desses dados oficiais, procure refletir a respeito de outras informações que você possui sobre o público atingido pelas atividades desenvolvidas por vocês: você já recebeu algum retorno a respeito da participação deles em eventos e atividades promovidos por vocês? De que forma vocês podem ter impactado as vidas dessas pessoas? Como um guia para essas reflexões, propomos os indicadores resumidos no quadro a seguir, onde se detalham as dimensões discutidas anteriormente, bem como seus respectivos indicadores e suas definições. Por certo, nem todas as dimensões ou indicadores são aplicáveis a todos os projetos/organizações. Assim, o quadro tem como intuito principal ser uma referência para o desenvolvimento de indicadores.

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DIMENSÃO

INDICADOR

Acesso à cultura

Desenvolvimento de habilidades

Percepção de desenvolvimento de novas habilidades artísticas, criativas e culturais não antes desenvolvidas.

Acesso à cultura

Exposição a temas

Conhecimento de temas antes não familiares, incluindo, mas não restrito aos seguintes tópicos: Cultura afro-brasileira; Culturas indígenas; Representatividade e/ ou direitos da população LGBTQIA+ (incluindo pessoas não-binárias); Acessibilidade e direitos de pessoas com deficiência; Saúde pública; Preservação do meio ambiente; Preconceito racial ou Violência racial (a depender do projeto); Violência policial; Violência contra mulheres e meninas; Intolerância religiosa; História de grupos sociais marginalizados; Literatura não convencional; Cinema não convencional e/ ou periférico; Culturas regionais; Tecnologia e sociedade; Cultura sonora; Práticas e atividades lúdicas/de entretenimento; Patrimônios culturais e imateriais; Preservação cultural e memória; Preservação audiovisual; Lutas populares e mobilização social; Ritmos africanos; Manifestações culturais populares e/ou regionais; Vigilância digital; Direito e cidadania digital; Produção cultural e curadoria; Políticas públicas de cultura; Mercado da música; Estrutura e planejamento urbano; Preconceito social ou cultural; Culturas regionais; História familiar e atavismo; Questões de classe; Políticas públicas de demarcação de terras indígenas; Conflitos geracionais.

Acesso à cultura

Atividades culturais

Aumento de frequência nas práticas de atividades culturais e criativas diversas.

Redes

Estabelecimento de redes de contato profissional

Ampliação ou criação de contatos profissionais relacionados às profissões culturais e criativas.

Redes

Estabelecimento de redes de contato pessoal

Ampliação ou criação de contatos de maneira generalizadas.

Autoconfiança

Autoconfiança para realizar atividades

Percepção de ser capaz de liderar o desenvolvimento de atividades diversas de cunho político, social e cultural.

Autoconfiança

Sentimento de eficácia

Percepção de ser capaz de efetuar mudanças no futuro da comunidade/território/cidade/país.

Identidade

Identificação com uma comunidade

Identificação direta com uma determinada comunidade, que pode ser racial, territorial, de ofício, de hábitos ou gostos etc.

Identidade

Curiosidade sobre uma cultura

Curiosidade sobre a cultura da região/de uma comunidade/do território e/ou populações indígenas e/ou afro-brasileiras.

Território

Identificação com o território

Intensidade com que os projetos alteram a relação dos participantes com os territórios de atuação.

Território

Ocupação de novos lugares

Reposicionamento da percepção sobre o espaço mais amplo da cidade e/ou território.

Engajamento

Atenção para questões sociais

Geração de ações conscientes e públicas, sejam elas individuais ou coletivas, realizadas para identificar e tratar questões de interesse público.

Engajamento

Percepção sobre arte e política

Viabilização de reflexões de cunho político-social e ações propositivas.

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DEFINIÇÃO

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terceira etapa ELABORANDO QUESTÕES

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I. Termo de consentimento e conduta ética Por mais que, algumas vezes, o fato de a pessoa saber que está participando de uma pesquisa influencie as suas respostas, é necessário sempre deixar claro para as pessoas que se trata de uma pesquisa e que elas podem desistir de responder ao questionário a qualquer momento. Para garantir que as pessoas recebam todas as informações necessárias para decidirem se responderão ou não ao questionário e para que elas possam expressar claramente se aceitam ou não participar da pesquisa, construa um termo de consentimento. Nele: • Indique qual é o tema da pesquisa e seu título; • Identifique qual é a instituição e/ou as pessoas por trás dessa pesquisa e informe os contatos pertinentes; • Informe que tipos de dados serão coletados (indique se as respostas são anônimas ou não); • Indique se, como, com quem e em que termos os dados coletados na pesquisa podem vir a ser compartilhados com 18

terceiros (e aja sempre de acordo com a LGPD18);

Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD): Lei nº 13.709 de 2018, “dispõe sobre o tratamento de dados pessoais, inclusive nos meios digitais, […] com o objetivo de proteger os direitos fundamentais de liberdade e de privacidade e o livre desenvolvimento da personalidade da pessoa natural”.

• Esclareça que a participação das pessoas na pesquisa é voluntária e não acarreta nenhum tipo de despesa ou remuneração; ◦ Caso haja remuneração pela participação, deixe claro qual é essa remuneração, como e quando ela será efetivada, bem como que essa remuneração não está condicionada às respostas que a pessoa der para as perguntas realizadas; • Informe que as pessoas podem pedir que seus dados sejam excluídos da base de dados, caso seja possível identificar quais dados correspondem àquela pessoa (no caso de pesquisas anônimas, isso geralmente não é possível).

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ATENÇÃO: • Tenha meios de garantir a segurança dos dados que você vier a armazenar, sejam eles bancos de dados de pesquisas online, áudios e vídeos, questionários em papel ou anotações, especialmente se a pesquisa abordar temas sensíveis. • Lembre-se também de que pesquisas com adolescen19

tes e, sobretudo, crianças, seguem regras específicas19.

Conforme a Resolução nº 466 de 2012 do Conselho Nacional de Saúde (especialmente itens II.2 e IV.6). Disponível em: <https:// www.inca.gov.br/sites/ ufu.sti.inca.local/files// media/document// resolucao-cns-466-12. pdf>. Acessado em 03 jan. 2023.

II. Tipos de questão Questionários fechados, os chamados surveys, são compostos quase totalmente por questões também fechadas, já que oferecem as opções de resposta. Esse tipo de abordagem é importante porque consegue alcançar um número maior de pessoas e cobrir variados temas num mesmo formulário. Além disso, quando as opções de resposta são pré-determinadas, os dados coletados podem ser comparados de maneira mais direta e objetiva. Cada tipo de questão, por sua vez, tem vantagens e limitações específicas. A escolha entre elas deve ser bem informada e atender às suas necessidades.

Questões binárias São questões fechadas com apenas duas opções de resposta – não há uma opção como “Outro(s)”. As opções de resposta são, quase sempre, categorias, e não números – como “Sim” ou “Não”.

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Atenção: em geral, tratam-se de questões que representam interpretações limitadas/limitantes de um dado fenômeno. Exemplo: Você assistiu ao filme XXXXX? ( ) Sim ( ) Não

Questões de resposta única Há várias opções de respostas dentre as quais apenas uma deve ser escolhida. As alternativas podem ser números ou categorias. Geralmente, oferecem as opções “Nenhuma das anteriores”, “Não sei” e “Prefiro não responder”.

Exemplo: Qual meio você mais utiliza para assistir a filmes e documentários? ( ) TV a cabo ( ) Cinema ( ) Plataformas de streaming (Prime Video, Disney+, MUBI, Netflix etc.) ( ) TV aberta ( ) Torrent ( ) Prefiro não responder ( ) Não sei

Questões de múltipla escolha São questões com várias opções de resposta, dentre as quais você pode escolher mais de uma opção. Pode haver limite de escolhas ou não. Geralmente, esse tipo de questão inclui opções como

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“Outro(a)”. Nesse caso, essa opção funciona como uma questão aberta, onde a pessoa pode inserir qualquer resposta.

Exemplo: A leitura de histórias em quadrinho levou você a ter contato com algum dos temas abaixo? (Marque quantas alternativas achar necessário). ( ) Cultura afro-brasileira ( ) Culturas indígenas ( ) Preservação do meio ambiente ( ) Preconceito racial ( ) Outro (especifique)

Saiba mais: Na hora da análise desse tipo de questão, cada opção é considerada como uma questão binária em que sua resposta é “sim”, caso você marque aquela opção, ou “não”, caso você a deixe em branco.

Questões ordinais (ou de escala) Envolvem escolher entre opções de resposta previamente ordenadas em uma escala – que pode variar de tamanho.

Exemplo: Em uma escala de 1 a 10, em que 1 significa completamente desinformado, e 10 significa totalmente informado, como você avalia seu conhecimento sobre cinema nacional? 1

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a. Escala Likert A escala Likert é um tipo específico de questão escalar comumente usada para avaliar o grau de concordância/discordância com uma dada afirmação. Utiliza-se uma escala unidimensional, contendo, na maior parte das vezes, números ímpares de alternativas (geralmente 5 ou 7).

Exemplo: Entre 1 e 5, em que 1 significa que você DISCORDA totalmente e 5 que você CONCORDA totalmente, o que você acha da seguinte frase? “O contato com o circo despertou minha curiosidade sobre a cultura da minha região”. ( ) 1 – Discordo totalmente ( ) 2 – Discordo parcialmente ( ) 3 – Nem concordo, nem discordo ( ) 4 – Concordo parcialmente ( ) 5 – Concordo totalmente

Questões de classificação As questões de classificação (ou de rankeamento) demandam que os respondentes classifiquem as alternativas de resposta na

ordem de sua preferência. Ou seja, as opções não são previamente ordenadas.

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Exemplo: Dos 19 projetos contemplados pelo edital Rumos Itaú Cultural e participantes do projeto Relative Values, da

People’s Palace Projects do Brasil, indique quais são os seus três favoritos, em ordem de preferência: ( ) Projeto A ( ) Projeto Ф ( ) Projeto γ ( ) Projeto ч ( ) Projeto X ( ) Projeto ζ

Questões abertas Apresentam perguntas sem oferecer opções de resposta. No entanto, podem (e tendem a) estabelecer critérios de resposta, como limite de caracteres ou de linhas. Exemplo: O projeto influenciou a forma como você entende a relação entre arte e política? De que maneira?

III. Formulando as perguntas do questionário III. I. Questões sociodemográficas É preciso conhecer seu público-alvo. Mesmo que você tenha uma boa ideia de quem é atendido pelos seus projetos, participa das suas atividades ou compõe sua equipe, é importante traçar um perfil detalhado dessas pessoas. Informações sociais e demográficas, como gênero, raça e faixas de idade, escolaridade e renda, são essenciais.

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O detalhamento de algumas informações e a inclusão de determinadas questões dependem das necessidades da pesquisa, como é o caso do local de moradia: você pode desejar saber o estado, o município, o distrito ou até o bairro onde alguém vive. Do mesmo modo, ao perguntar o gênero de alguém, podem-se oferecer as opções “feminino”, “masculino”, sem distinção entre pessoas cis e trans, ou pode ser preciso coletar dados mais detalhados. Outro exemplo é a ocupação: para alguns, saber qual é o trabalho das pessoas também é relevante, e não apenas sua renda. Assim, estabeleça quais informações sociodemográficas são importantes para traçar o perfil do seu público-alvo e proponha questões que consigam acessá-las. A seguir, apresentamos as questões utilizadas na edição de 2021/22 do projeto.

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VARIÁVEL

PERGUNTA

OPÇÕES DE RESPOSTA

OPÇÃO “OUTRO(A)”

Idade

Qual a sua idade?

-

-

Gênero

Você se identifica como sendo de que gênero?

Masculino Feminino Não-binário

“Outro (especifique)”

UF

Em que estado você reside?

Unidades da Federação (Brasil)

“Não moro no Brasil (informe o país)”

Município

Em que município você reside?

-

-

Escol.

Qual a sua escolaridade?

Nunca estudei Ensino Fundamental incompleto Ensino Fundamental completo Ensino Médio incompleto Ensino Médio completo Ensino Superior incompleto Ensino Superior completo Pós-graduação

-

Renda

Qual é, mais ou menos, a renda mensal na sua casa? Ou seja, qual é a soma da renda de todas as pessoas que moram na sua casa?

Até 1 salário-mínimo Mais de 1 até 3 salários-mínimos Mais de 3 até 6 salários-mínimos Mais de 6 até 9 salários-mínimos Mais de 10 salários-mínimos

-

Raça

Você se identifica como sendo de qual raça ou origem étnica?

Negra Branca Amarela – Especificar origem familiar (chinesa, coreana, japonesa etc.) Indígena – Especificar etnia

“Outra” “Especifique (caso tenha respondido Amarela, Indígena ou Outra)”

III.II. Questões relacionadas a indicadores Para além das questões sociodemográficas, procure propor entre 10 e 12 questões que dialoguem com indicadores-chave para expressar o valor do seu trabalho. Os tópicos e os indicadores propostos na edição de 2021/22, bem como as questões que procuraram mensurá-los, são:

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DIMENSÃO

INDICADOR

TIPO DE QUESTÃO

QUESTÃO

Acesso à cultura

Desenvolvimento de habilidades

Likert

Seu envolvimento com o [nome do projeto] levou você a desenvolver novas habilidades (artísticas, culturais, criativas)?

Acesso à cultura

Exposição a temas

Múltiplas respostas

Conhecer e/ou se envolver com o [nome do projeto] levou você a ter contato com algum dos temas abaixo?

Acesso à cultura

Atividades culturais

Múltiplas respostas

Conhecer e/ou se envolver com o [nome do projeto] levou você a realizar alguma das seguintes atividades com maior frequência?

Redes

Estabelecimento de redes de contato profissional

Likert

Você conheceu (novos) artistas, produtores ou outros profissionais na área da cultura através do [nome do projeto]?

Redes

Estabelecimento de redes de contato pessoal

Likert

É possível dizer que você conheceu novas pessoas através do seu contato com o [nome do projeto]?

Autoconfiança

Autoconfiança para realizar atividades

Múltiplas respostas

Depois do seu contato com o [nome do projeto], você se sente mais confiante para realizar alguma das seguintes atividades?

Autoconfiança

Sentimento de eficácia

Likert

Você acredita que consegue mudar o futuro da sua cidade/do seu país/da sua comunidade?

Identidade

Identificação com uma comunidade

Likert

Depois do contato com o [nome do projeto], eu me sinto parte ou me identifico com uma comunidade (essa comunidade pode ser racial, territorial, de ofício, de hábitos ou gostos etc.).

Identidade

Curiosidade sobre uma cultura

Likert

O contato com o [nome do projeto] despertou minha curiosidade sobre a cultura da minha região/de uma comunidade/do território onde moro/atuo ou já morei/atuei das populações indígenas e/ou afro-brasileiras.

Território

Identificação com o território

Likert

Depois de conhecer e/ou me envolver com o [nome do projeto], eu me identifico (ainda mais) com o território onde moro ou já morei.

Território

Ocupação de novos lugares

Likert

Após o contato com o [nome do projeto], passei a frequentar novos lugares ou espaços – físicos ou virtuais.

Engajamento

Atenção para questões sociais

Aberta

Seu envolvimento com o [nome do projeto] chamou a sua atenção para alguma questão social?

Engajamento

Qual questão?

Aberta

Se sim, qual(quais)?

Engajamento

Percepção sobre arte e política

Aberta

O projeto influenciou a forma como você entende a relação entre arte e política? Como?

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quarta etapa COLETANDO DADOS

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I. Com quantas pessoas falar A quantidade de pessoas que você precisará consultar para obter as informações de que precisa depende diretamente do que você decidiu pesquisar (qual história você quer contar) e, portanto, do seu público-alvo. Por exemplo, se você quer entender como seu último projeto, realizado em uma comunidade quilombola, impactou sua equipe, então, seu público-alvo será a equipe que trabalhou com você neste projeto. Essa equipe, por sua vez, pode ser composta por 4, 10 ou 30 pessoas e isso influenciará sua abordagem. Se você tiver uma equipe reduzida, a imersão nas informações que essas pessoas têm para te passar, em suas experiências e narrativas, será muito maior. Por outro lado, se sua equipe for grande, a melhor abordagem é aplicar questionários fechados, com perguntas e opções de resposta pré-definidas a esse público. Quando você tem um público-alvo extenso, você pode tentar alcançar todas as pessoas que o compõem ou apenas uma parcela dessas pessoas, que chamamos de amostra. Uma amostra pode representar todas as pessoas de um grupo grande em relação a vários aspectos (como idade, renda, gênero, atitudes e opiniões, por exemplo). Existem fórmulas e técnicas para se construírem amostras representativas de uma população-alvo. No entanto, esses aspectos técnicos são necessários quando o objetivo da pesquisa é apresentar um retrato fiel de um grupo muito grande. E parte das técnicas para formular amostras requer que haja informações prévias sobre o público geral. No nosso caso, porém, o objetivo da pesquisa é conhecer um grupo de pessoas e entender como ele pode ser impactado por nossas ações culturais e artísticas. Por isso, mais do que se preocupar com cálculos amostrais e margens de erro, o importante é procurar alcançar o maior número de pessoas possível dentro do universo escolhido como público-alvo da pesquisa e buscar incluir pessoas diversas em suas características. Por exemplo, se você

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decidir analisar o impacto de um projeto que só envolveu mulheres negras, incluir várias faixas de idade na pesquisa é importante. Por outro lado, se você for avaliar o impacto de seus vários projetos, é importante conversar com pessoas que fizeram parte de cada um desses projetos, sem excluir nenhuma.

II. Quantas respostas esperar Por mais que haja esforço para alcançar o maior número possível de pessoas dentro do universo que compõe o público-alvo da pesquisa, é importante saber que nem todas essas pessoas responderão ao questionário, especialmente se ele for aplicado online. Responder a um questionário demanda tempo e atenção, bem como requer que a pessoa se sinta confortável e confiante a respeito da pesquisa. Por isso, muitas pessoas podem não ter interesse em responder ou podem abandonar o questionário no meio – especialmente quando a aplicação é virtual. Além disso, questões que abordam tópicos mais delicados, como a renda familiar; ou questões mais demandantes, como as que pedem que a pessoa escreva, tendem a ter um número maior de ausência de respostas. Portanto, não se assuste caso a taxa de respostas completas do seu questionário seja inferior a 75%, ou haja menos respostas a determinadas questões. O importante é manter constante a divulgação do questionário e procurar entender as causas de eventuais proporções muito elevadas de desistência durante o preenchimento do formulário. Por isso, é crucial construir questionários sucintos e objetivos, bem como evitar questões confusas ou muito demandantes.

III. Aplicação da pesquisa Existem algumas maneiras de aplicar questionários fechados. Na entrevista face a face, você fala pessoalmente com alguém e

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preenche o questionário em papel ou em um aparelho eletrônico. Outra maneira de você mesmo(a) preencher o questionário é aplicando-o por telefone com a pessoa entrevistada. Finalmente, você pode optar por enviar um link em formulários online para que a própria pessoa responda a pesquisa. Cada uma dessas alternativas tem vantagens e desvantagens, além de apresentarem algumas especificidades na coleta de respostas e montagem do banco de dados.

I.I. Aplicação face a face Essa opção tende a ser menos custosa para quem responde, pois, em geral, quem preenche o questionário é quem está aplicando. Assim, esse método costuma viabilizar mais respostas completas. Por outro lado, também é mais comum que os respondentes sintam mais o peso de pressões sociais em relação a determinados temas mais sensíveis. Nesse sentido, respostas mais “desejáveis” socialmente tendem a ser mais numerosas do que em outras formas de aplicação. A aplicação face a face pode ser feita tanto em um aparelho eletrônico que lança as respostas em um site quanto em papel. Nesse caso, os dados devem ser inseridos em uma planilha manualmente, o que requer atenção e algum conhecimento de como construir bancos de dados. Além disso, é essencial enumerar os questionários aplicados e recolher as assinaturas do Termo de Conduta previamente à aplicação da pesquisa.

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I.II. Aplicação por telefone A alternativa de aplicar pesquisas por telefone mantém a vantagem de reduzir desistências no meio do questionário e ameniza o problema das respostas socialmente desejáveis. Porém, é mais difícil acessar os respondentes por telefone e conquistar sua confiança. Além disso, é mais difícil coletar o consentimento formal em participar da pesquisa. No mais, o uso de aparelhos eletrônicos ou papel para coletar as respostas e suas consequências sobre a montagem do banco de dados se assemelham à pesquisa face a face.

I.III. Aplicação online As ferramentas de coleta de dados remota são muito difundidas e facilitam a organização dos dados, uma vez que disponibilizam bancos de dados montados, em formatos diversos. Existem variados sites de aplicação online de formulários, havendo versões gratuitas e pagas. Survey Monkey e Google Forms são, provavelmente, os mais reconhecidos. A versão gratuita deste oferece mais recursos do que aquele. Por isso, recomendamos seu uso. Contudo, o alcance desse tipo de pesquisa tende a ser menor, uma vez que o número de pessoas que responde a disparos de pesquisas online é reduzido, e, dentre os que começam a responder o questionário, muitos abandonam no meio. Nesse sentido, elaborar formulários objetivos e simples é muito importante. Além disso, em pesquisas online, não é possível sanar eventuais dúvidas dos(as) respondentes, o que pode afetar as respostas recebidas. Dessa forma, é essencial utilizar uma linguagem acessível e direta.

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quinta etapa ANALISANDO SEUS DADOS

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I. Conheça seus dados

Primeiramente, você deve explorar seu banco de dados: examinar cada variável e o número de respostas recebidas, além de avaliar onde há mais respostas faltando e identificar uma ou outra tendência.

II. Limpe os dados

Caso haja respostas faltantes (aqueles casos em que a pessoa deixou de responder a uma ou mais questões), é necessário avaliar se é preciso, conforme o escopo da pesquisa, excluir esses dados. Além disso, é preciso eliminar respostas que não correspondem ao escopo da pesquisa (alguém que não faz parte do público-alvo, por exemplo).

III. Explore as tendências dos dados

Faça tabelas de frequência: • Absoluta: a quantidade de vezes que a mesma resposta é dada. Por exemplo, o número total de pessoas do gênero feminino que responderam. • Relativa (percentual): a quantidade de vezes que a mesma resposta é dada em relação ao número total de respostas. Por exemplo, 65 pessoas do gênero feminino representam qual porcentagem de todo mundo que respondeu? É importante ter em mente que analisar e visualizar variáveis numéricas (que são medidas em valores numéricos que fazem sentido) é diferente de analisar variáveis categóricas (cujos valores são divididos em faixas e categorias e expressos por palavras). No caso das variáveis numéricas, frequentemente usar imagens para ilustrar os dados é mais indicado do que usar tabelas.

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IV. Faça análises combinadas

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Tabelas são estruturas usadas para organizar dados. Ao passo que em uma tabela de frequência simples vemos informações sobre uma única variável, que pode ser categórica ou numérica, nas tabelas cruzadas estruturamos comparativamente duas ou mais variáveis categóricas. Por isso, essas tabelas têm dois sentidos de análise: as colunas e as linhas. Por meio das tabelas cruzadas (também conhecidas como tabelas dinâmicas, pivô ou multidimensionais20), podemos estruturar, resumir e

Nas tabelas dinâmicas, existe a possibilidade de inserir valores de uma variável numérica, ao invés da contagem de observações em uma célula correspondente a uma combinação de variáveis. Por exemplo, a partir da variável numérica “salário”, podemos calcular a média salarial de mulheres negras (sendo “sexo” a primeira, e “raça” a segunda variável categórica analisada).

exibir uma grande quantidade de dados, avaliar a interação entre as variáveis e detalhar sua relação em números absolutos, percentuais totais e percentuais por combinações de categorias. O conteúdo dessas tabelas inclui: 2. Contagem da célula: número de observações para aquela combinação de categorias. 3. Percentual da linha: percentual que cada célula representa dentro de uma linha da tabela. Ele é calculado dividindo o número de observações daquela célula pelo total de observações daquela linha. 4. Percentual da coluna: percentual que cada célula representa dentro de uma coluna da tabela. Ele é calculado dividindo o número de observações daquela célula pelo total de observações daquela coluna. 5. Percentual do total: é a porcentagem que cada célula representa em relação às observações totais inseridas na tabela. É calculada dividindo as observações daquela célula pelo total geral de observações da tabela.

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V. Programas estatísticos

Existem vários softwares para análise e visualização de dados quantitativos, como, por exemplo, Excel, SPSS, Stata e R, sendo os dois primeiros os mais intuitivos. O Excel tem as ferramentas necessárias para análises descritivas e visualizações básicas. Por isso, sugerimos seu uso. Também há softwares para análise de textos, como Atlas.ti e Nvivo. Para a visualização de dados em texto, como a elaboração de nuvens de palavras, por exemplo, é possível utilizar várias ferramentas. O site https://www.wordclouds.com/ é uma ótima opção para gerar nuvens de palavras

online de maneira fácil e intuitiva.

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sexta etapa APRESENTANDO OS RESULTADOS

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Para além de analisar nossos dados e gerar tabelas, gráficos e outras figuras que auxiliam a visualização e a compreensão dos resultados, a forma como apresentamos as nossas descobertas também merece atenção. Por isso, é importante estruturar nossos relatórios de maneira estratégica, didática e atrativa, bem como acessar outras fontes de evidência para nossas conclusões, propostas e demandas.

I. Ordem de exposição dos assuntos 1. Contexto: é necessário contextualizar nossos interlocutores a respeito da pesquisa e, principalmente, a respeito do projeto/organização sobre o qual estamos falando. Para ajudar a estruturar essa contextualização, lembre-se das questões de autoconhecimento da primeira etapa deste guia. Além disso, contextualizar o trabalho e a pesquisa também requer que o território abarcado pelo projeto seja detalhado. Aqui, é importante levantar informações que descrevam esse território.

2. Perfil: depois do contexto, é recomendado traçar o perfil das pessoas envolvidas na pesquisa: quem são essas pessoas? Quais são suas principais características? Perguntas como as que seguem são um bom direcionamento: • Essas pessoas são de que gênero? Existe um desequilíbrio quanto a essa característica? • Elas se consideram como sendo de quais raças? Existe alguma raça que seja predominante? • E quanto à faixa de idade, à renda, à escolaridade…? O que sabemos sobre isso?

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3. Impacto: finalmente, é o momento de apresentar os resultados centrais da análise de impacto que foi desenvolvida sobre seu projeto/sua organização. Para organizar seus achados, separe as principais conclusões por temas (dimensões) e os costure de maneira coerente, sem deixá-los soltos no relatório.

4. Demandas e proposições: seu relatório pode ser voltado para diferentes públicos, como potenciais financiadores, parceiros e ex-parceiros, poder público ou mesmo sua equipe. Por isso, suas conclusões também vão variar conforme o público que você tem em mente. Nesse sentido, você pode retomar as descobertas que fez e propor caminhos de atuação da sua organização, bem como novos projetos, ou pode, por outro lado, apresentar demandas para gestores públicos e outros atores que têm impacto no setor cultural e artístico.

II. Materiais de apoio Para auxiliar na apresentação dos seus achados, é interessante buscar materiais de apoio que exemplifiquem os dados. Dessa forma, conseguimos dar mais materialidade aos nossos achados e deixamos o relatório mais intuitivo. Boas opções são: • Vídeos e áudios com depoimentos de pessoas impactadas (lembre-se de pedir a autorização de cada pessoa para publicar sua imagem e sua voz). • Relatos recebidos por e-mail, mensagens em aplicativos ou SMS ou mesmo escritas à mão. • Imagens.

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III. Como lidar com resultados negativos Se houver resultados negativos (ou seja, se aquilo que você imaginou previamente não foi amparado pelos dados), desafiadores ou contestadores, procure apresentá-los em conjunto com uma proposta de enfrentamento ou solução. Resultados inesperados e negativos fazem parte do cotidiano de pesquisas e não deixam de enriquecer o debate e as alternativas de atividades futuras. Por isso, não é preciso se preocupar ou focar apenas esses resultados. O importante é procurar entender por que você obteve esses resultados e como lidar com essa informação de maneira propositiva.

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