Cildo Meireles: a arte é a vida

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CILDO MEIRELES: A ARTE É A VIDA!

ARTES VISUAIS | HISTÓRIA

CADERNO DO PROFESSOR

Dados internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Fundação Itaú|Itaú Cultural

Cildo Meireles: a arte é a vida! / São Paulo : Itaú Cultural , 2024. (Cadernos do professor) 20 p. : PDF.

Inclui bibliografia.

ISBN:978-85-7979-157-4

1. Educação. 2. Meireles, Cildo. 3.Artes Visuais. 4. Arte Contemporânea. 5. Plano de aula. I.Fundação Itaú. II.Itaú Cultural. III.Enciclopédia Itaú Cultural. IV.Título.

CDD 370

Bibliotecária Ana Luisa Constantino dos Santos CRB-8/10076

guia de ícones

analisar, questionar, elaborar hipóteses, comentar (questionando)

apresentar, relatar, compartilhar em voz alta

comentar, explicar

dica

discutir, conversar

ler

observar, ver (imagens)

observar, ver (obra de arte)

ouvir, colocar (música) para tocar

recuperar, retomar, relembrar

registrar

trabalho interdisciplinar

título

Cildo Meireles: a arte é a vida!

Esta sequência de aulas busca uma aproximação com a produção artística contemporânea a partir do estudo de obras do artista Cildo Meireles. Explora conexões conceituais e proposições poéticas para a compreensão de como essas obras de arte se relacionam com contextos históricos, além do potente entrelaçamento entre arte e vida na construção e reconstrução de seus significados.

objetivos

• Explorar a obra do artista Cildo Meireles;

• Refletir sobre a arte contemporânea;

• Entender a relação entre arte e vida;

• Relacionar as práticas artísticas às diferentes dimensões da vida social, cultural, política, histórica e econômica;

• Produzir uma proposta poética ligada à intervenção.

áreas do conhecimento

Arte e História. apresentação

segmento(s) e habilidades da BNCC

Ensino Médio: EM13LGG101 EM13LGG102 EM13LGG104 EM13LGG105 EM13LGG201 EM13LGG202 EM13LGG203 EM13LGG204 EM13LGG301 EM13LGG302 EM13LGG303 EM13LGG304 EM13LGG602 EM13LGG603.

duração

6 aulas.

recursos necessários

• Computador e projetor ou imagem impressa;

• Materiais de desenho seco (lápis de cor, canetinhas coloridas, giz pastel oleoso, lápis grafite, caneta pincel);

• Papel sulfite em diversos formatos (A3, A4, A5 e A6).

São Paulo, 2024

desenvolvimento

Toda obra de arte está diretamente relacionada com seu tempo, evoca técnicas, modos de produção e saberes que constituem nossa compreensão e decodificação do mundo.

Ao longo da história da arte, deparamos com expressões tradicionais, como a pintura de gênero, que inclui natureza-morta, retrato, paisagem etc. Ao percorrermos as inúmeras transformações da arte até a contemporaneidade, notamos mudanças significativas nos modos tanto de fruí-la como de produzi-la.

A partir dos anos de 1960, a arte contemporânea intensifica a hibridização das linguagens artísticas, cujas técnicas se modificam e reverberam com a utilização de novas mídias, como instalações, happenings e performances

O citacionismo, a apropriação e a releitura, além do corpo como extensão, suporte e componente das obras de arte, são procedimentos importantes para novas questões sobre a arte. Muitas vezes é possível notar, entre outras características, a crítica social e a intensificação de temas políticos nas obras.

Nesse sentido, apresentamos algumas propostas pedagógicas baseadas em três obras do artista Cildo Meireles: Missão/Missões (Como construir catedrais) (1987-2020), Abajur (1997-2010) e Inserções em circuitos ideológicos

– Projeto cédulas (1970-2019).

Autor com produção prolífica e diversificada, Cildo Meireles trabalha com inúmeros suportes ligados ao cotidiano. Por isso desejamos que as apreensões e as discussões sobre o trabalho desse artista colaborem com as múltiplas interpretações produzidas pela relação entre arte e vida

A seguir, propomos a aproximação das obras de Cildo a partir de exercícios de fruição, leitura de imagem e vivências poéticas, atividades que podem ser exploradas tanto nas aulas de artes visuais como nas de história, bem como em parceria entre ambas as disciplinas.

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1º MOMENTO – Obra 1 – Missão/Missões (Como construir catedrais)

Imaginação

Com os alunos de olhos fechados, leia o seguinte descritivo da experiência de uma pessoa diante da obra Missão/Missões (Como construir catedrais) Peça para os alunos imaginarem como ela é.

“De longe avistei esse grande cilindro de tecido preto transparente com uma luz que vinha do seu interior. Fiquei curioso para saber o que tinha lá dentro. Fui me aproximando e, à medida que chegava mais perto, consegui ver que em cima existia um círculo iluminado, cheio de coisas que não identifiquei. Embaixo, no sentido diametralmente oposto, também havia outro círculo de “coisas” brilhantes. Como se fossem a tampa e a base brilhantes de um cilindro de paredes de tecido preto transparente. Acho que tem alguma coisa ali no meio: uma coluna, uma linha brilhante que liga a tampa à base… Deixa eu chegar mais perto… Chego à parede de tecido transparente: sim, existe essa coluna no meio. E o que é isso aqui em cima? Parecem ossos… Será mesmo? Percebo que posso atravessar esse tecido para ver melhor. Busco uma entrada… encontro e adentro… Nossa! São ossos mesmo! Uau! Estranho, será que são ossos humanos? Ah, embaixo são moedas douradas! Ossos iluminados em cima e moedas douradas brilhantes embaixo. E essa coluna brilhante no meio? São coisas empilhadas, mas não consigo saber o que é… Recorro à etiqueta da obra e voilá: são hóstias da Igreja Católica, uma coluna de hóstias! Está montado o quebra-cabeças e ele é muito intrigante: um teto de ossos ligado a um chão de moedas douradas por uma coluna de hóstias. Tudo isso envolto por um tecido preto transparente. O que será que tudo isso quer dizer?”

Prática

Peça aos alunos que desenhem como imaginam a obra a partir da descrição

Comparativo

Coloque todos os desenhos no chão e, com todos os alunos em volta, compare-os. Ressalte as semelhanças e as diferenças entre eles.

Revelação

Mostre algumas imagens da obra. Observe com eles os pontos de convergência e de afastamento entre os desenhos e as imagens.

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Cildo Meireles

Missão/Missões (Como construir catedrais), 1987 600 mil moedas, 800 hóstias de comunhão, 2 mil ossos de gado, 80 pedras de pavimentação e tecido preto 249,94 cm x 345,95 cm x 345,95 cm

Foto: Edouard Fraipont

Instalação: Sesc Pompeia, São Paulo (SP), 2019-2020

Cerca de 600 mil moedas colocadas no chão; 2.200 ossos pendem do teto e se conectam às moedas por uma delicada coluna central composta por 800 hóstias; um tecido negro transparente envolve a instalação.

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Leitura da obra e relações interdisciplinares

Em uma roda de conversa com os alunos, levante hipóteses interpretativas.

O título da obra é Missão/Missões (Como construir catedrais). Apresente o significado e o contexto histórico de missões e catedrais. Faça associações entre esse título e os elementos que compõem a obra: ossos, moedas douradas e hóstias. Qual a relação do título com esses elementos? Qual a relação entre missão e catedrais? Por fim, qual a relação entre as hóstias, as moedas de ouro e os ossos? Deixe os alunos formularem livremente hipóteses que respondam a todas essas perguntas.

Percebemos pelo título da obra e pelos elementos que a compõem que ela se refere a acontecimentos históricos específicos. Por isso, o conhecimento desses eventos permite compreender a obra e, do mesmo modo, a obra proporciona a compreensão desses fatos históricos. A partir do contexto apresentado, estimule os alunos a debaterem de que forma a obra se refere a essas questões. Peça que justifiquem suas hipóteses.

O olhar do artista é crítico sobre o papel das missões religiosas nesse período histórico. A crítica é sugerida pela conexão de hóstias com ossos e dinheiro. De acordo com fontes históricas, a busca por riquezas e recursos naturais no Brasil no período colonial teve como base a exploração da mão de obra escravizada de povos originários e de africanos e seus descendentes e a catequização dos indígenas.

Sobre o formato da obra, faça algumas perguntas para a turma. Que tipo de obra de arte é essa? Quais semelhanças e diferenças que ela tem em relação a uma escultura e a uma pintura? Como é o comportamento do espectador em relação a essa obra? O que é permitido a ele fazer?

Apresente o verbete instalação, um tipo de obra muito presente na arte contemporânea. Explique que a obra de Cildo Meireles possui as especificidades desse tipo de produção: criação de um ambiente que conecta diferentes materiais e possibilita ao espectador percorrer a obra e, por diversas vezes, adentrar nesse ambiente.

Para finalizar, deixe uma pergunta em aberto: o que quer dizer a frase “como construir catedrais” presente no título da obra? Como as conexões feitas até agora ajudam a responder essa pergunta?

Lição de casa: escrever um parágrafo com hipóteses de resposta essa pergunta.

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2º MOMENTO

Retomada

Peça aos alunos que se sentirem confortáveis que leiam o parágrafo de lição de casa. Mostre a imagem da obra novamente. A partir das leituras, peça para os alunos lembrarem das conversas da aula anterior. Na lousa, apresente em forma de itens uma síntese dessas informações e acrescente pontos importantes que não tenham sido levantados por eles.

Prática de organização cognitiva –Mapa

mental

Materiais: papel sulfite ou papel para desenho tamanho A3 (ou A4 se não tiver A3) e materiais de desenho (lápis grafite, lápis de cor, giz pastel oleoso e canetinha). Para sintetizar os possíveis significados dessa obra e relacionar tudo o que levantamos sobre a obra até aqui, vamos construir um mapa mental (conferir exemplos de mapa mental na área Sites, p. 23).

Em uma folha de papel, os alunos devem listar todas as informações levantadas na discussão sobre a obra: ossos, hóstias, moedas, tecido preto transparente, missões, catedrais, Brasil colonial, violência, exploração, povos indígenas e quaisquer outras informações pertinentes. Depois, proponha conectores entre esses elementos, como frases, palavras, desenhos ou linhas.

Exponha todos os mapas feitos pelos alunos e proponha leituras cruzadas: um aluno lê o mapa do outro, a partir das conexões feitas (por exemplo, Na busca de ouro, a Igreja explorou os indígenas para construir catedrais na Europa). Todas as leituras devem se relacionar com a obra e conjuntamente apresentar a interpretação coletiva da classe sobre a obra.

3º e 4º MOMENTOS – Obra 2 – Abajur

Aproximação – antevendo

Materiais: giz pastel oleoso ou lápis de cor, folha de papel A4 para desenho, prancheta; providenciar gravação prévia do som do mar ou acesso a esse som na internet.

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Preparação

Organize os alunos em círculo, coloque o som do mar em movimento e do grasnar de gaivotas voando. Peça para os alunos fecharem os olhos e imaginarem uma cena a partir desses sons. Ainda de olhos fechados, peça que prestem atenção na narração do trecho a seguir (pode ser previamente gravado pelo professor) e desenhem a paisagem que surgir na imaginação.

Ao longe vejo uma estrutura iluminada e circular que se assemelha a uma imensa luminária, na qual vejo o mar e uma grande embarcação com muitas velas. Há um céu com partes azuis e muitas nuvens, está ensolarado e vemos algumas gaivotas a sobrevoar o navio e o mar. Na praia ao fundo – como se estivéssemos a observar o instante em que se grita da embarcação “Terra à vista!” –, percebemos montanhas e uma densa mata, como uma terra virgem. Ao nos aproximarmos da paisagem circular, nos deparamos com um mecanismo giratório – abaixo da estrutura com a imagem –, que é movido pelo trabalho e pela força humana, e que nos leva às imagens das moendas pintadas por Debret e que nos remetem aos engenhos manuais de cana de açúcar.

Jean-Baptiste Debret

Engenho Manual que Faz Caldo de Cana, 1822 Aquarela sobre papel 17,6 cm x 24,5 cm Acervo Museus Castro Maya – Iphan/MinC (Rio de Janeiro, RJ)

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Cildo Meireles

Abajur, 1997-2010

Projeção

Foto de Autoria desconhecida/Mira Filmes

Acervo Fundação

Bienal de São Paulo

Instalação: 29ª Bienal de São Paulo, 2010

Revelação, leitura de obra e algumas conexões históricas

Revele o registro da obra aos alunos para que haja a comparação do que foi desenhado e imaginado com a imagem da obra Abajur

Com os alunos organizados em roda de conversa, pergunte: você percebe semelhanças entre seu desenho e a imagem da obra? Você desenhou ou imaginou algo que não há na descrição ou na imagem da obra?

Percebe que a imagem está estática e o movimento se dá pelo força motriz abaixo dela? Como imaginou a estrutura que se assemelha à moenda, cuja força motriz é o trabalho humano? Há diferença entre o que é falado/contado e o desenhado?

Tal qual a obra Missão/Missões, por que podemos definir essa obra como uma instalação? A estrutura tem algo a ver com o título da obra? Há alguma imagem em que isso fique mais evidente?

Se vemos a imagem em uma tela gigante, quais as semelhanças e as diferenças se vista em uma tela de cinema? Mostre o funcionamento de um praxinoscópio e um fenacistoscópio (vide o recurso Sites ao fim do caderno para sugestões).

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Em qual momento histórico eram utilizadas as moendas manuais de cana de açúcar? Para qual momento de nossa história o artista nos remete com esta obra?

Quais são as metáforas que emergem nessa obra? Há alguma citação ou crítica contida nela? A obra aborda alguma relação de trabalho? Podemos citar modos de exploração do trabalho e escravidão contemporânea? Hoje em dia, há países que ainda são colônias?

Prática de organização cognitiva –Mapa poético

Materiais: imprima em tamanho A5 e A6 palavras-chave relacionadas à obra (instalação, abajur, iluminação, mar, trabalho, movimento, cansaço, paisagem, escravidão, força motriz, luz, invasão, descoberta etc.); papel kraft (2 metros de largura); tesoura; lápis grafite, lápis de cor, giz pastel oleoso e canetinha; imagem da obra impressa.

Divida os alunos em pequenos grupos e leia as palavras impressas. Disponibilize papéis em branco e coloridos em tamanho A5 e A6, tesoura e canetinha.

Peça que incluam palavras, desenhos ou relações sobre a obra que não foram ainda apresentadas.

Mostre uma imagem da obra Abajur no centro da folha de papel kraft e, com a ajuda dos grupos, organize um mapa com todas as palavras e todos os desenhos, inclusive os produzidos na sensibilização do começo desta aula. Observe a disposição e as relações feitas e compare com a afirmação apresentada no Catálogo da 29a Bienal Internacional de São Paulo (2010): “Neste ambiente paradoxal, dividido entre o que a obra revela e o que aparentemente oculta, o artista utiliza a escala e a concretude do corpo humano para lançar um enigma sobre a formação do espaço social brasileiro, evocando a violência do tempo e da história”.

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Cildo Meireles

Zero Dólar, 1978

Lito offset sobre papel moeda

29,20 cm x 25 cm

Foto: Humberto Pimentel/ Itaú Cultural

Acervo Banco Itaú

5º MOMENTO – OBRA 3 – Inserção em Circuitos Ideológicos 3. Projeto Cédula

Aproximação

Com os alunos organizados em roda de conversa, mostre uma nota de dinheiro qualquer. Inicie uma análise material sobre o objeto: de que material é feito? Como é feito? Em seguida proponha uma interpretação sócio-histórica: o que uma nota de dinheiro simboliza? Para que serve? Qual o papel dele nas sociedades modernas e contemporâneas?

Depois de colher algumas respostas da turma, ilustre a discussão com as obras

Zero Dólar e Zero Cruzeiro, de Cildo Meireles.

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Peça para que os alunos comentem o que eles pensam de notas ou moedas com o valor numérico de zero. Com os alunos organizados em roda de conversa, proponha alguns questionamentos: qual o valor de uma nota de zero dólar ou zero real? Quais as motivações que levam o artista a criá-las? O que elas representam?

Faça uma leitura dos materiais que a compõem e das imagens que estão estampadas nela. Existe relação desses elementos com o valor?

Leitura da obra

Ainda em roda de conversa, leia o descritivo da obra para os alunos e depois mostre a Inserções em circuitos ideológicos - Projeto cédulas . Nessa obra, vemos uma nota de dinheiro antigo carimbada com a pergunta “Quem matou Herzog?”

Faça perguntas que orientem a conversa sobre esta obra. De quando é essa nota? Quem é Herzog? Como ele morreu? É provável que poucos alunos tenham respostas para essas perguntas, então vale uma pesquisa sobre o jornalista Vladimir Herzog

Cildo Meireles

Zero Cruzeiro (1970-2019)

Offset sobre papel moeda

6,50 cm x 15 cm

Foto: Humberto Pimentel/ Itaú Cultural Acervo Banco Itaú

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Cildo Meireles

Inserções em circuitos ideológicos – Projeto cédulas (1970-2019)

Fotografia preto e branco

Foto: Pat Kilgore

Acervo do Artista

Essa nota é uma obra de arte ou uma nota de dinheiro ordinária com algo escrito como as que circulam frequentemente? Sabendo que essa nota foi colocada novamente em circulação com a frase carimbada, qual o local de exposição dessa obra? O que essa resposta tem a ver com o título Inserções em circuitos ideológicos?

Que outros tipos de circuito você conhece?

Com essa proposta, Cildo Meireles traz um formato novo de obra que transita fora dos sistemas artísticos estabelecidos. Ela é inserida em um circuito pré-existente e ganha circulação e alcance próprios. O artista fez outros tipos de inserções em diferentes circuitos, como o Inserções em Circuitos Ideológicos – 1.

Projeto Coca-Cola.

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O artista retomou esse procedimento a partir de novos eventos similares ao caso Herzog.

Conexões históricas

Ainda em roda de conversa, vamos relacionar o fato da morte do jornalista Vladimir Herzog e a nota que circula com a pergunta sobre quem é o responsável por seu assassinato. Como a obra se relaciona com o evento histórico? Como um contribui com a existência e o desdobramento do outro?

Perceba que o momento histórico da Ditadura Militar (1964-1985) e o formato de obra que Cildo Meireles propõe estão diretamente conectados, pois não havia liberdade de expressão para se fazer explicitamente essa pergunta carimbada.

Cildo Meireles

Inserções em Circuitos Ideológicos – 1. Projeto Coca-Cola, 1970 Inscrições em garrafas de vidro

Foto: Humberto Pimentel/ Itaú Cultural Acervo Banco Itaú

Cildo Meireles

Inserções em circuitos ideológicos - Projeto cédulas (1970-2019)

Cédulas de real

Foto: Pat Kilgore

Acervo do Artista

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6º MOMENTO

Retomada

Retome a conversa com um pouco de história. Proponha uma pesquisa sobre a origem e a função histórica do dinheiro. Apresente os trabalhos Zero Dólar, Zero Cruzeiro e Zero Centavo e introduza a obra Árvore do Dinheiro, que evoca os materiais que compõem o papel-moeda.

É importante esclarecer se todos os alunos sabem o que é uma Ditadura Militar e quando ela aconteceu no Brasil, oferecendo esse contexto básico. Retome o caso Herzog e destaque que, durante o período ditatorial, aconteceram muitas outras mortes motivadas pela manifestação de ideias e pensamentos divergentes. Por causa do ambiente repressivo, surgiram trabalhos em muitas áreas das artes (música, teatro, cinema, artes visuais) engajados em denunciar as violências produzidas no país.

Prática de organização cognitiva –Mapa mental

Materiais: papel sulfite ou papel para desenho tamanho A3 (ou A4), lápis grafite, lápis de cor, giz pastel oleoso e canetinha.

Reunidos em pequenos grupos, proponha aos alunos que façam mapas mentais da seguinte maneira: de um lado, a obra e todos os seus desdobramentos (nota de dinheiro, frase, circuito de circulação etc.); do outro, o evento histórico e suas consequências (ditadura, morte de Herzog etc.).

Os alunos desenham os conectores, que podem ser linhas, palavras ou até desenhos.

Atividade final – Intervenção

(Essa atividade pode ser feita em parceria com a disciplina de história).

Organize os alunos em grupos de até 5 integrantes. A partir de um fato histórico do Brasil ou de um acontecimento contemporâneo, cada grupo deve produzir frases ou desenhos que problematizem o evento escolhido. Em seguida, o grupo deve encontrar lugares da escola que proporcionem circulação para o trabalho (bancada da secretaria, caderno de um colega, mural etc.). É importante salientar a responsabilidade da mensagem e os limites éticos do que vai ser comunicado. O artista é responsável pela sua proposta.

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Materiais: papéis tamanho A4, folha de papel adesivo (para construção de adesivos), canetinhas, lápis de cor, giz pastel oleoso, lápis grafite, borracha.

O aluno pode construir intervenções com outros materiais, pois, como vimos na obra de Cildo Meireles, é possível se apropriar de algo já existente e inseri-lo em circuitos vigentes. É preciso lembrar novamente a responsabilidade ética do artista ao se apropriar de algo que não é de sua autoria. Importante também condicionar a apresentação do trabalho à aprovação do professor para evitar desdobramentos indesejados. Dessa forma é possível garantir parâmetros éticos construídos em conjunto com os alunos.

Outro ponto importante é responsabilizar cada grupo pelo registro do trabalho e das reverberações que eventualmente ele provoque. Isso pode ser feito por meio de fotos, pequenas entrevistas, desenho de observação e reflexões pessoais.

Apreciação e discussão sobre os trabalhos de intervenção Cada grupo vai apresentar os registros da sua intervenção. A partir deles, debata sobre os objetivos de cada grupo e o que foi alcançado ou não com a intervenção. Converse sobre as reações das pessoas ao ter o seu caminho atravessado por uma intervenção artística.

Nesse contexto, proponha uma recapitulação do projeto e de tudo o que foi aprendido a partir de três eixos principais: Brasil colonial, Ditadura Militar, arte contemporânea/Cildo Meireles.

20 CADERNO DO PROFESSOR

reflexão final

Apartir da fruição e do aprofundamento das temáticas trabalhadas por Cildo Meireles, a turma teve a oportunidade de analisar formas e conteúdos próprios da arte contemporânea, como a instalação, a apropriação e a intervenção. Estudaram também questões sobre a arte conceitual e de como eventos históricos são tratados poeticamente em manifestações artísticas.

Nas temáticas traçadas por Cildo Meireles, tiveram a oportunidade de analisar e revisitar momentos político-sociais importantes (formação do Brasil, Brasil colonial, Ditadura Militar), que ressignificam esses períodos e suas consequências.

Os alunos também puderam vivenciar a experimentação artística – tanto na produção, como na apropriação e na intervenção – na construção das inúmeras relações possíveis entre a arte e a vida cotidiana.

sugestões complementares

Em depoimento concedido durante a Ocupação Cildo Meireles, ocorrida em 2011 no Itaú Cultural em São Paulo, o artista defende o termo Artes Plásticas como sendo mais adequado do que Artes Visuais, pois considera que todos os sentidos podem ser ativados por uma obra de arte, não apenas o olhar. Assim, Cildo aponta a contribuição do Neoconcretismo para essa percepção mais ampla da experiência artística. Explore obras do artista que convocam múltiplos sentidos para sua apreciação.

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referências

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BARBOSA, Ana Amália. Releitura, citação, apropriação ou o quê? In: BARBOSA, Ana Mae (Org.). Arte/Educação Contemporânea: Consonâncias Internacionais. São Paulo: Cortez, 2005, pp. 143-149.

CAUQUELIN, Anne. Figuras e Modos de Arte Contemporânea: Uma Introdução. São Paulo: Martins, 2005.

CILDO. Direção: Gustavo Rosa. Rio de Janeiro: Matizar Produções Artísticas, 2008 (78 min), son., color.

COTRIM, Cecília; FERREIRA, Glória (Org.). Escritos de Artistas : Anos 60/70. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.

REBOUÇAS, Júlia; MATOS, Diego (Cur.). Entrevendo. São Paulo: Sesc Pompeia, 2019. 172 p. Exposição realizada no período de 26 set. 2019 a 2 fev. 2020. Disponível em: https://issuu.com/sescsp/docs/catalogo_exposicao_cildo_meireles. Acesso em: 6 nov. 2023.

FREIRE, Cristina. Arte Conceitual. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.

FREYRE, Gilberto. Casa Grande & Senzala. Rio de Janeiro: Record, 2001.

FREYRE, Gilberto. Sobrados e Mucambos. Rio de Janeiro: Record, 2002.

FLORES, Moacyr. Colonialismo e Missões Jesuíticas . Porto Alegre Est Editora, 1983.

GASPARI, Elio. A Ditadura Envergonhada: As Ilusões Armadas. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014.

GODOY, Marcelo. A Casa da Vovó: Uma Biografia do DOI-Codi (1969-1991), o Centro de Sequestro, Tortura e Morte da Ditadura Militar. São Paulo: Alameda, 2014.

LAGNADO, Lisette. Cildo Meireles: desvio para a interpretação. In: Bienal Internacional de São Paulo, 24., São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 1998. pp. 398-401.

22 CADERNO DO PROFESSOR

MATOS, Diego; WISNIK, Guilherme (Org). Cildo – Estudos, espaços, tempo São Paulo: Ubu, 2018.

OCUPAÇÃO Cildo Meireles. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2023. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/evento647487/ocupacao-cildo-meireles. Acesso em: 9 ago. 2023.

RIVETTI, Lara. Cildo Meireles. Celeuma, São Paulo, v. 2, n. 3, pp. 174-176, dez. 2013. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/celeuma/article/view/87720 Acesso em: 6 nov. 2023.

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BIENAL INTERNACIONAL DE SÃO PAULO, 29., 2010, São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 2010. 459 p. Exposição realizada no período de 25 set. a 12 dez. 2010. Disponível em: https://issuu.com/bienal/docs/29a-catalogo-pt Acesso em: 6 nov. 2023.

SCOVINO, Felipe. Cildo Meireles . Rio de Janeiro: Azougue, 2012. (Coleção Encontros)

Sites

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verbetes utilizados

• Intervenção

• Arte Contemporânea

• Instalação

• Happening

• Performance

• Citacionismo

• Apropriação

• Cildo Meireles

• Missão/Missões (Como Construir Catedrais)

• Inserções em circuitos ideológicos – Projeto cédulas [Herzog]

• Inserções em circuitos ideológicos – Projeto cédulas [Amarildo]

• Inserções em Circuitos Ideológicos – 1: Projeto Coca-cola

• Engenho Manual que Faz Caldo de Cana,

• Jean-Baptiste Debret

• Zero Dólar

• Zero Cruzeiro

• Zero Centavo

• Vladimir Herzog

• Árvore do Dinheiro

• Ocupação Cildo Meireles

• Itaú Cultural

• Neoconcretismo

24 CADERNO DO PROFESSOR

núcleo de informação e difusão digital

Gerência

Tânia Rodrigues

Coordenação de Enciclopédia

Luciana Rocha

Produção e Pesquisa

Felipe Alencar (estagiário)

Matias Monteiro

Nathalia Burato

Pedro Guimarães

Revisão

Quadratim (terceirizada)

Redação

Pablo Talavera e Solange Ardila

núcleo

Gerência

de criação e plataformas

André Furtado

Coordenação de Conteúdos Multiplataforma

Carlos Costa (até 2024)

Design

Girafa Não Fala (terceirizada)

Produção Editorial

Bruna Guerreiro

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