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Voguing ou Vogue
O Voguing, também chamado de Vogue, é um estilo de dança que surgiu dentro da cultura ballroom, sendo introduzido em diferentes categorias dos bailes. Possui três subdivisões, o Old Way10, o New Way11 e o Vogue Femme12. Sua origem, segundo David DePino, importante DJ da comunidade vogue, deu-se em um clube noturno chamado Footsteps, em
Nova Iorque:
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Paris Dupree was there and a bunch of these black queens were throwing shade at each other. Paris had a Vogue magazine in her bag, and while she was dancing she took it out, opened it up to a page where a model was posing and then stopped in that pose on the beat. Then she turned to the next page and stopped in the new pose, again on the beat. [...] Another queen came up and did another pose in front of Paris, and then Paris went in front of her and did another pose [...] This was all shade—they were trying to make a prettier pose than each other—and it soon caught on at the balls. At first they called it posing and then, because it started from Vogue magazine, they called it voguing (LAWRENCE, 2011).13
Seguindo o ritmo da música e posando como modelos da revista Vogue, os competidores também abusavam de expressões faciais, alimentando o shade na competição. A notável dança extrapolou os limites dos bailes por conta
10 Modo clássico do voguing, como realizado na década de 1980.
11 Voguing com novos desdobramentos, incorporados na atualidade.
12 Um dos desdobramentos do estilo New Way.
13 “Paris Dupree estava lá e um monte dessas queens negras estavam jogando shade umas nas outras. Paris tinha uma revista Vogue em sua bolsa e enquanto estava dançando, ela tirou da bolsa, abriu em uma página onde tinha uma modelo posando e parou naquela pose com a batida da música. Então ela virou para a próxima página e parou em uma nova pose, novamente junto com a batida. [...] Outra queen veio e fez uma outra pose na frente de Paris, e então Paris foi na frente dela e fez outra pose (...). Isso tudo era shade - elas estavam tentando fazer uma pose mais bonita que a outra - e isso logo pegou nos bailes. Primeiro eles chamaram de posing e depois, por ter começado por conta da revista Vogue, chamaram de voguing” (LAWRENCE, 2011, tradução própria) da “necessidade do acompanhamento de uma música para o Voguing” (SANTOS, 2018). Dessa forma, alguns membros praticavam seus movimentos em clubes noturnos e discotecas de Nova Iorque, o que chamou atenção de DJs e outros frequentadores do local, colaborando com a divulgação da dança. Assim, no final da década de 1980, a dança vogue começava a aparecer nas mídias e redes de comunicação da época, como jornais, televisão e revistas, elevando sua visibilidade (SANTOS, 2018).
Nesse cenário, alguns dançarinos de vogue participaram de importantes eventos, como desfiles de grandes marcas e videoclipes musicais. Além disso, no início da década de 1990, Jennie Livingston lançava seu premiado documentário Paris is Burning, fundamental na divulgação da cultura ballroom, bem como do voguing. A cultura também foi notada pela cantora Madonna, ícone pop, que lançou a música chamada Vogue, acompanhada por um videoclipe com integrantes dos balls, levando-os também em sua turnê mundial, a Blond Ambition Tour. Tais acontecimentos foram marcantes para a comunidade, colocando-a em evidência para o público geral. Contudo, há ressalvas quanto à apropriação e a forma de representação adotadas tanto por Livingston quanto por Madonna, que supostamente utilizaram a cultura como meio lucrativo e de autopromoção, colocando os próprios membros da ballroom em segundo plano e sem a devida recompensa financeira (LAWRENCE, 2011).



Independente de sua popularização fora da cena ballroom, o voguing é parte fundamental em sua construção. No contexto que está inserida, a dança surge como for- ma de resistência e, ao mesmo tempo, crítica social. O voguing inclui movimentos que exploram e evidenciam corpos marginalizados, é uma demonstração de liberdade. Além disso, a imitação das poses feitas por modelos em grandes revistas traz a reflexão acerca dos espaços ocupados pela comunidade, que é extremamente segregada; levanta-se, então, questionamentos sobre onde são “bem-vindos” e se, em algum momento, seriam os seus corpos e/ou de seus semelhantes representados naquelas revistas.
