
apenas um acidente

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apenas um acidente

Um importante conjunto da obra de Eduardo Coutinho foi realizado no CECIP, o Centro de Criação de Imagem Popular. Filmes que originalmente percorreram sobretudo circuitos de exibição universitários, comunitários e associativos. Na programação de dezembro, o Cinema do IMS reúne alguns desses títulos. São eles, Santa Marta – Duas semanas no morro, em que Coutinho acompanha o dia a dia da comunidade no Rio de Janeiro, no final dos anos 1980; Boca de lixo, sobre o cotidiano de catadores de lixo para além dos estigmas tradicionais; e Babilônia 2000, um filme de ano-novo, em que Coutinho coleta as impressões dos moradores do morro da Babilônia, no Rio, sobre a virada do milênio. Para além desses títulos, a mostra apresenta uma reexibição de As canções apresentada por Laura Liuzzi, assistente de direção do longa. A turma do DPA, os Detetives do Prédio Azul, retorna para uma nova aventura: uma jornada pelo reino mágico de Ondion, para encontrar um amigo desaparecido.
Ainda este mês, dois dos principais premiados do Festival de Cannes deste ano: Foi apenas um acidente, em que Jafar Panahí elabora ficcionalmente sua experiência enquanto preso político, e o drama familiar-cinematográfico Valor sentimental, de Joachim Trier. Richard Linklater remonta ao espírito e à estética da Nouvelle Vague numa recriação das filmagens do Acossado, de Godard. Retorna às telas de cinema em cópia restaurada em 4K o clássico O iluminado, de Stanley Kubrick.



[imagem da capa] Nouvelle Vague, de Richard Linklater
A queda do céu
Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha | DCP
D.P.A. 4 – O fantástico reino de Ondion
Mauro Lima | DCP
Foi apenas um acidente (Yek tasadef sadeh)
Jafar Panahi | DCP
Nouvelle Vague
Richard Linklater | DCP
O iluminado (The Shining)
Stanley Kubrick | DCP, restauração 4K
Valor sentimental (Affeksjonsverdi)
Joachim Trier | DCP
As canções
Eduardo Coutinho | Arquivo digital
Babilônia 2000
Eduardo Coutinho | Arquivo digital
Boca de lixo
Eduardo Coutinho | Arquivo digital
Santa Marta – Duas semanas no morro
Eduardo Coutinho | Arquivo digital
19:00 Foi apenas um acidente (102')
14:00 D.P.A. 4 – O fantástico reino de Ondion (109')
16:10 ocupação eduardo coutinho
As canções, sessão apresentada por Laura Liuzzi (90')
18:30 Foi apenas um acidente (102')
16:00 Foi apenas um acidente (102')
18:30 A queda do céu (108')
O iluminado (143')
19:00 O iluminado (143')
14:00 D.P.A. 4 – O fantástico reino de Ondion (109')
16:10 Foi apenas um acidente (102')
18:30 O iluminado (143')
19:00 Nouvelle Vague (106')
19:00 Nouvelle Vague (106')
Neste dia o IMS Poços estará fechado
19:00 Valor sentimental (132')
14:00 D.P.A. 4 - O fantástico reino de Ondion (109')
16:10 Nouvelle Vague (106')
18:30 Foi apenas um acidente (102')
16:00 ocupação eduardo coutinho
Santa Marta – Duas semanas
no morro (54')
18:00 O iluminado (143')
16:00 ocupação eduardo coutinho
Boca de lixo (50')
18:00 Foi apenas um acidente (102')
14:00 D.P.A. 4 – O fantástico reino de Ondion (109')
16:10 Valor sentimental (132')
18:45 Nouvelle Vague (106')
16:00 ocupação eduardo coutinho
Babilônia 2000 (80')
18:00 Valor sentimental (132')
Programa sujeito a alterações. Eventuais mudanças serão informadas em ims.com.br.
Claudius Ceccon1
1. Texto originalmente publicado em setembro de 2023, como parte da mostra de filmes Coutinho 90 no Cinema do IMS Paulista. [N.E.]
“Só se pode subverter o real, no cinema ou alhures, se se aceita, antes, todo o existente, pelo simples fato de existir.”
Essas são as palavras de Coutinho, finalizando um texto escrito para o catálogo do festival Cinéma du Réel em 1992.
Eu só li essa frase muito tempo depois. Ela representa o que foi Coutinho no CECIP, o Centro de Criação de Imagem Popular. A decisão de trabalhar numa organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, que se propõe a atuar em comunicação e educação, na defesa e na ampliação de direitos de cidadania, é uma decisão arriscada, quixotesca, no limite do impossível, se não houver, para sustentá-la, uma fundação, um endowment, um lastro financeiro que garanta sua sobrevivência. O impossível se materializou no grupo que criou o CECIP. Tínhamos apenas a vontade, o desejo de realizar algo que contribuísse para a construção de um ideal democrático, depois de 21 anos de ditadura civil-militar. O que tínhamos a oferecer como garantia eram apenas nossas histórias de vida, as experiências que vivemos naqueles anos, a confluência dos vários percursos abertos, num caminhar em que esperança e utopia se alimentavam mutuamente. Tínhamos Paulo Freire, Washington Novaes, Ana Maria Machado, Marialva Monteiro, Ennio Candotti e Eduardo Coutinho, para nomear
alguns nomes mais conhecidos. O Projeto Vídeo Popular era um sonho gestado durante muito tempo, que, após um momento inicial no Iser, tomou forma definitiva no CECIP, num processo do qual Coutinho participou intensamente. A TV Maxambomba, que produzia e projetava vídeos nas praças da Baixada Fluminense, é parte de experiências que aconteceram naqueles anos, mas sua inspiração, sua referência, era o Cabra marcado para morrer.
O que é “defender e ampliar direitos de cidadania”? Mesmo não tendo clareza sobre essa questão e muito menos uma resposta quanto aos caminhos para chegar lá, a presença de Coutinho nos livrou de sermos, como instituição, um instrumento de agit-prop (agitação e propaganda). No debate de um seminário realizado em 1997 na PUC-SP, sobre ética e história oral, Coutinho revelou o que está presente em tudo o que ele fez no CECIP, suas ideias, seu método de trabalho:
“Eu não faço roteiros escritos, inclusive, porque acho que, se eu fizer um roteiro escrito, não preciso filmar, já está feito o filme. Tento fazer filmes em que tenho perguntas a colocar e vou tentar saber quais são as respostas fazendo o filme. Geralmente o filme, quando dá certo, não termina com uma resposta-síntese. Então, eu não faço cinema para militantes, graças a Deus, e meus filmes
terminam, suponho eu, com perguntas e reflexões, e não com uma resposta.”
Os projetos que lhe foram apresentados tiveram dele uma respeitosa e intensa atenção. Coutinho tinha uma capacidade de concentração absoluta no tema proposto, até penetrar profundamente nele e, de certa maneira, incorporá-lo, em suas ambiguidades e incertezas. Só então se considerava em condições de ouvir, de escutar o outro, qualquer que fosse sua identidade, gênero ou característica pela qual comumente classificamos as pessoas que encontramos.
A valorização do que Coutinho realizou em vídeo, desde a consagração de seu Cabra marcado para morrer, em 1984, até sua volta às salas de cinema, em 1999, com Santo forte e Babilônia 2000, (também coproduzidos pelo CECIP), foi feita nesse terreno que alguns consideram como uma espécie de série B do campeonato A cinematográfico. Volta Redonda, memorial da greve, Santa Marta – Duas semanas no morro, Boca de lixo e Mulheres no front fazem parte dessa fase, da qual constam também O jogo da dívida – Quem deve a quem?, A lei e a vida, entre outras produções. São “filmes” que não foram para as telas do cinema, mas fizeram outros percursos: circuitos universitários, associações comunitárias, sindicatos, comunidades de base. São produções que
foram apresentadas em festivais nacionais e internacionais e que receberam quase uma centena de prêmios importantes. Foram consagrados, sobretudo, por audiências que fazem parte de movimentos cuja influência no dia a dia de comunidades não é percebida por pesquisas ou estatísticas, até que, por algum fato, aflorem à superfície, em protestos de todo tipo, como se fossem um fenômeno inesperado da natureza a desafiar o status quo.
A produção de Coutinho desvela essa fase cecipiana, onde ele teve toda a liberdade de aperfeiçoar a sua técnica da escuta, essa capacidade extraordinária que possuía, um dom genuíno e original.
O CECIP era o refúgio de Coutinho, uma base estável, protegida, onde ele podia ler, escrever com dois dedos na sua Olivetti 22, receber quem ele desejasse ou aquiescesse conversar e preencher cinzeiros com cigarros consumidos pela metade. Nas equipes formadas pelas produções que ele realizou no CECIP, passaram profissionais de primeira linha e jovens iniciantes que já o tinham como modelo. Sérgio Goldenberg, assistente em Santa Marta, Theresa Jessouroum, em Volta Redonda. Pablo Pessanha, Jacques Cheuiche, Jordana Berg, Cristiana Grumbach, Tim Rescala, um time de colaboradores que talvez não
acontecesse em outro ambiente. Mas, além dessa turma, toda a equipe do CECIP foi influenciada pela presença cotidiana de Coutinho, por suas opiniões, pelas conversas, pelo seu senso de humor.
Cada uma das produções que constam dessa série tem histórias que precisariam de mais espaço para serem contadas. Mas o resultado que Coutinho obteve em cada uma delas mostra sua disposição em dar voz aos que não a têm e, com isso, revelar a realidade que não se deve naturalizar. Sindicalistas, favelados, catadores de lixo e mulheres que mudam a vida de suas comunidades são indícios de mudanças, do “inédito viável” que Paulo Freire propunha. O que foi possível preservar da trajetória de Coutinho está hoje sob os cuidados do Instituto Moreira Salles. Além de filmes e documentários em vídeo, há anotações em inúmeros cadernos e recortes. Num pequeno texto de Claude Lanzman sobre os títulos que pensou para seu documentário Shoah, Coutinho sublinhou o que poderia ser o resumo de sua obra: “o lugar e a fala”.
Rio, agosto de 2023

Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha | Brasil | 2024, 108’, DCP (Gullane+)
Baseado nas palavras poderosas do xamã e líder Yanomami Davi Kopenawa, o documentário retrata a comunidade Watoriki durante o importante ritual funerário Reahu, um esforço coletivo para segurar o céu. O filme atua como uma contundente crítica xamânica àqueles que Davi Kopenawa chama de “o povo da mercadoria”, ao garimpo ilegal e à mistura mortal de epidemias trazidas pelos forasteiros, chamadas de xawara. Em primeiro plano, a beleza e a força geopolítica da cosmologia Yanomami e dos espíritos xapiri.
A queda do céu estreou na Quinzaine de Cinéastes, mostra paralela do Festival de Cannes 2024. Desde então, circulou por uma série de festivais e reuniu prêmios, como os de Melhor Longa-Metragem Documentário Internacional no 27º Festival Internacional de Cinema de Guanajuato, no México, Prêmio Especial do Júri no DMZ Docs, na Coreia do Sul, e Prêmio de Melhor Som e Melhor Direção de Documentário no Festival do Rio, todos em 2024.
Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia).

Yek tasadef sadeh
Jafar Panahi | Irã, França, Luxemburgo | 2025, 102’, DCP (Imovision)
Quando o mecânico Vahid encontra por acaso o homem que acredita ter sido seu torturador na prisão, ele o sequestra decidido a se vingar. Mas a única pista sobre a identidade de Eghbal é o som peculiar de sua perna com prótese. Vahid, então, recorre a um grupo de outras vítimas libertas em busca de confirmação. E o perigo só aumenta. Enquanto enfrentam o passado e suas visões de mundo divergentes, o grupo precisa decidir: será realmente ele, sem dúvida alguma? E o que significaria, na prática, a retribuição?
Em entrevista a Jean-Michel Frodon disponível no material de imprensa do filme, o diretor conta: “Entrei em uma nova fase como cineasta. Do meu primeiro filme, O balão branco (Badkonade sefid), em 1995, até Fora do jogo (Afsaid, 2006), eu me concentrava nas minhas questões como diretor. Havia pressões, claro, mas eu podia me dedicar a encontrar soluções para problemas cinematográficos. Depois da minha primeira prisão, em 2010, quando fui proibido de viajar ou fazer filmes, meu foco mudou para minhas próprias circunstâncias. Antes, minha câmera estava voltada para fora, mas, desde então, voltou-se para dentro, para o que eu estava vivendo – como pode ser visto nos filmes que fiz, de Isto não é um filme (In film nist) até Sem ursos (Khers nist). Mas, agora que essas restrições foram suspensas, senti a necessidade de olhar para fora novamente – só que de forma diferente desta vez, moldada por tudo pelo que passei, incluindo uma segunda pena de prisão, entre julho de 2022 e fevereiro de 2023. Então, sim, a câmera volta para fora, mas com um ponto de vista diferente do de antes.” [...]
“A segunda experiência na prisão deixou uma marca ainda mais profunda. Quando saí, senti que precisava fazer um filme pelas pessoas que conheci atrás das grades. Eu lhes devia esse filme. Mesmo falando a partir da minha experiência pessoal, ela se alinha ao que estava acontecendo na sociedade iraniana de forma mais ampla – especialmente com a revolução Mulher, Vida, Liberdade, que começou no outono de 2022. Muita coisa mudou naquele período.”
O mais novo filme de Jafar Panahi estreou mundialmente na edição deste ano do Festival de Cannes, onde conquistou a Palma de Ouro, principal prêmio do festival.
Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia).

D.P.A. 4 – O fantástico reino de Ondion
Mauro Lima | Brasil | 2025, 109’, DCP (Paris Filmes)
Na nova aventura dos Detetives do Prédio Azul, Mel e Zeca encaram uma mega, hiper, super perigosa missão para encontrar Max, que sumiu misteriosamente. Em busca do amigo, eles vão parar no reino mágico de Ondion, um colorido mundo lúdico com duendes, floresta encantada, castelo e uma vila com barracas mágicas que vendem biscoitos que flutuam, flores falantes e frutas malabaristas.
O filme teve estreia na 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em 2025.
Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia).

Richard Linklater | França | 2025, 105’, DCP (Mares Filmes)
Esta é a história de Godard filmando Acossado (À bout de souffle, 1960), contada no estilo e no espírito com que Godard fez Acossado.
Em depoimento disponível no material de imprensa do filme o cineasta declara: “Isso não é sobre refazer Acossado, mas olhar para ele a partir de outro ângulo. Quero mergulhar em 1959 com minha câmera e recriar a época, as pessoas, a atmosfera. Quero andar com a turma da Nouvelle Vague. Eu disse a todos os atores: ’Vocês NÃO estão fazendo um filme de época. Vocês estão vivendo o momento. Godard é um crítico conhecido, mas está dirigindo seu primeiro filme. Vocês estão se divertindo filmando com ele, mas ao mesmo tempo se perguntam se esse filme algum dia será lançado...’”
Nouvelle Vague estreou na edição deste ano do Festival de Cannes.
Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia).

The Shining Stanley Kubrick | EUA | 1980, 143’, DCP (Warner Bros.), restauração 4K
Uma oportunidade para assistir nos cinemas, em nova restauração 4K, o clássico e aterrorizante filme de Stanley Kubrick.
Durante o inverno, um homem é contratado para ficar como vigia em um hotel no Colorado, e vai para lá com a mulher e seu filho. Porém, o contínuo isolamento começa a lhe causar problemas mentais sérios, e ele vai se tornado cada vez mais agressivo e perigoso, ao mesmo tempo que seu filho passa a ter visões de acontecimentos ocorridos no passado, que também foram causados pelo isolamento excessivo.
Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia).

Affeksjonsverdi
Joachim Trier | Noruega, Alemanha, Dinamarca, França, Suécia, Reino Unido, Turquia | 2025, 132’, DCP (Retrato Filmes)
As irmãs Nora e Agnes reencontram seu pai distante, o carismático Gustav, diretor outrora renomado que oferece a Nora um papel naquele que espera ser seu filme de retorno. Quando Nora recusa a proposta, descobre que ele deu o papel a uma jovem estrela de Hollywood, ambiciosa e entusiasmada. De repente, as duas irmãs precisam lidar com a complicada relação com o pai e com a presença inesperada de uma atriz americana inserida bem no meio das complexas dinâmicas familiares.
Em sua estreia no Festival de Cannes deste ano, Valor sentimental recebeu o Grand Prix, segunda principal premiação do Festival.
Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia).
A exposição Ocupação Eduardo Coutinho, com curadoria de Carlos Alberto Mattos e da equipe Itaú Cultural, apresenta a trajetória de Eduardo Coutinho, sua obra e seu processo de criação. Um rico material audiovisual, somado a documentos, objetos e fotografias de seu acervo pessoal e de amigos e colegas de profissão, ajuda a conhecer e relembrar o cineasta. Concebida e apresentada pelo Itaú Cultural em São Paulo, a mostra esteve em cartaz no IMS Rio, e agora chega a Poços de Caldas, onde ganha uma nova expografia e uma programação de atividades paralelas.
Durante todo o período da exposição, o Cinema do IMS apresenta uma seleção de filmes do diretor, junto a textos críticos e outras atividades, em uma programação realizada em parceria com a VideoFilmes e o CECIP.
Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).

Eduardo Coutinho | Brasil | 1989, 54’, Arquivo digital (CECIP)
O documentário mostra de perto o dia a dia dos moradores do morro Santa Marta, Zona Sul do Rio de Janeiro.
Coutinho comenta seu modo de fazer filmes em entrevista a Alcimere Piana e Daniele Nantes, publicada na revista Intermídias, em 2005: “Meus filmes começam dizendo que uma equipe de cinema foi num lugar, é sempre assim. Eu não moro na favela Babilônia, não moro no Santa Marta, eu não moro no Master. Então, sempre o filme começa com as regras do jogo. O jogo é o filme, e as regras são essas: no Nordeste, numa favela ou num prédio, tem uma equipe, tem um tempo e vamos ver o que acontece. Isso é dado
inicialmente, sempre se trata de um filme, não é a vida na favela. Não é um filme sobre a religião na favela. É um filme sobre a equipe de cinema que vai ao morro conversar sobre religiosidade. Ninguém pediu para ser filmado, ninguém está interessado em ser filmado, a gente vai lá. Não é televisão, é um ato gratuito.”
Premiado como Melhor Documentário Estrangeiro no Festival de Vídeo de Bogotá, 1989.

Eduardo Coutinho | Brasil | 1992, 50’, Arquivo digital (CECIP)
Trata do cotidiano dos catadores de lixo do vazadouro de Itaoca, em São Gonçalo, a 40 km do Centro do Rio de Janeiro. O lixo como trabalho e como estigma. O roubo da imagem alheia, pecado original de todo documentário.
“O lixo é um filme que aconteceu meio sem previsão…”, comenta Coutinho em entrevista a Cláudia Mesquita. “Eu tinha filmado um outro lixão para outro filme, O fio da memória, que acabou nem entrando… Eu fiquei lá uma meia hora, era minha primeira vez num lixão, e ali eu vi o que nunca havia se mostrado no cinema. Tinha gente fritando ovo, gente jogando bola, igual em qualquer lugar. Eu queria fazer um filme sobre aquilo. Não como o Ilha das Flores [de Jorge Furtado], o lixo como conceito, mas o lixo como realidade.”
Entre outros prêmios, Boca de lixo foi escolhido Melhor Filme no Rencontres des Cinémas d’Amérique Latine, em Toulouse, 1993.

Eduardo Coutinho | Brasil | 2000, 80’, Arquivo digital (VideoFilmes)
No morro da Babilônia, no Rio, uma equipe de filmagem acompanha os preparativos para o réveillon e ouve os moradores sobre suas expectativas para o ano 2000.
Em seu blog, o crítico e pesquisador Carlos Alberto Mattos escreve: “Em “Babilônia 2000, a dimensão ética de seus procedimentos comparece de maneira impressionante: o espaço para a ficção de si, para uma espécie de autofabulação sobre cada vida, está pulsando. O que ele perseguia era justamente ‘o teatro da vida’, a maneira ou saída que cada um encontra para endereçar sua fantasia ao outro, ao mundo. Ele diz: ‘Quero da pessoa o impulso de se construir enquanto está comigo, quero que ela construa um retrato de si mesma’. Para Coutinho, a presença da câmera
funda uma ética e cria um espaço de enunciação que diverge de qualquer vontade de verdade filosófica ou matemática. Trata-se da maneira mais aguda que cada sujeito toma sua ficção para si e a devolve ao mundo. E essa ética fundada pela câmera – terceiro elemento, mediação e revelação…”
[Texto completo em: bit.ly/coutinho2000]

Eduardo Coutinho | Brasil | 2011, 90’, Arquivo digital (VideoFilmes)
Homens e mulheres cantam e falam sobre as músicas que marcaram suas vidas.
Em entrevista a André Bernardo, em dezembro de 2011, Coutinho relata: “A princípio, a ideia era fazer um filme só sobre músicas do Roberto Carlos. Mas, aí, já viu, né? Ia dar um trabalho danado negociar os direitos das músicas. Daí, resolvi fazer um filme sobre anônimos cantando músicas que marcaram suas vidas. Foi o filme mais rápido e barato que já fiz. Só para você ter uma ideia, gravei 42 depoimentos em seis dias. A câmera não tem zoom. A luz é sempre a mesma. O cenário é um só o filme inteiro. Levei só dois meses para selecionar os participantes. A história do Brasil que me interessa é essa. É a história da canção brasileira. Não estou falando de Pixinguinha ou de Hermeto Pascoal. Estou falando de canção. A canção é o maior
patrimônio brasileiro. No filme, apareceu gente cantando tudo que é tipo de música: de Noel Rosa a Jorge Benjor, de Silvinho a Roberto Carlos, de Orlando Silva a Nelson Gonçalves. Curiosamente, não tivemos uma música estrangeira sequer. Isso me intrigou bastante.”
“Olha, para ser honesto, a única fraude que eu cometi no filme foi incluir a música da Wanderléa, ‘Ternura’. Em 1999, conheci uma das personagens do filme. Na ocasião, Fátima [personagem de Babilônia 2000] era hippie. Hoje, virou evangélica. Só que a música da vida dela era um hino religioso. Nada contra. Mas não combinava com a história dela. Foi quando pedi que cantasse ‘Ternura’, da Wanderléa.”
[Íntegra da entrevista em: bit.ly/cançõesims]
Instituto Moreira Salles
Cinema do IMS
Coordenador | Curador
Kleber Mendonça Filho
Supervisora de curadoria e programação
Marcia Vaz
Programador adjunto
Thiago Gallego
Produtora de programação
Renata Alberton
Assistente de programação
Lucas Gonçalves de Souza
Projeção
Fagner Andrades e Gilmar Tavares
Revista do Cinema do IMS
Produção de textos e edição
Thiago Gallego e Marcia Vaz
Diagramação
Marcela Souza e Taiane Brito
Revisão
Flávio Cintra do Amaral
A programação do mês tem apoio do CECIP, das distribuidoras Gullane +, Imovision, Mares Filmes, Paris Filmes, Retrato Filmes, Universal Pictures do Brasil, VideoFilmes e Warner Bros.
Agradecemos a Camila Leal Ferreira, Claudius Ceccon, Dinah Frotté, Giulia Aguiar, Guilherme Terra Silva, Juliana Martins, Laura Liuzzi, Maria Carlota Bruno.
Ingressos à venda pelo site ingresso.com e na bilheteria do centro cultural, para sessões do mesmo dia. No ingresso.com, a venda é mensal, e os ingressos são liberados no primeiro dia do mês. Ingressos e senhas sujeitos à lotação da sala. Capacidade da sala: 85 lugares.
Ocupação Eduardo Coutinho
Curadoria da exposição: Carlos Alberto Mattos e equipe Itaú Cultural Realização e curadoria da mostra de filmes: Cinema do IMS
Parceria:


Com apresentação de documentos comprobatórios para professores da rede pública e privada, estudantes, crianças de 3 a 12 anos, pessoas com deficiência, portadores de Identidade Jovem, maiores de 60 anos e titulares do cartão Itaú (crédito ou débito).
Em casos de cancelamento de sessões por problemas técnicos e por falta de energia elétrica, os ingressos serão devolvidos. A devolução de entradas adquiridas pelo ingresso.com será feita pelo site Programa sujeito a alterações. Eventuais mudanças serão informadas no site ims.com.br e no Instagram @imoreirasalles. Confira as classificações indicativas no site do IMS.

O iluminado (The Shining), de Stanley Kubrick

Visitação: terça a sexta, das 13h às 19h. Sábados e domingos, das 9h às 19h.
Entrada gratuita.
Sessões de cinema: Quinta a domingo. Rua Teresópolis, 90 CEP 37701-058
Cristiano OsórioPoços de Caldas ims.pc@ims.com.br
ims.com.br
/institutomoreirasalles @imoreirasalles @imoreirasalles /imoreirasalles
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