

O Cinema do IMS dedica parte de sua programação do mês de maio às lutas e culturas LGBTQIAPN+ no Brasil, África do Sul e Estados Unidos, no Ciclo Zanele Muholi e no Circuito Ballroom. Enquanto Muholi usa a arte como ferramenta de empoderamento, denúncia e afeto para a comunidade LGBTQIAPN+ sul-africana, o Circuito Ballroom traz à luz narrativas das culturas ballroom do Rio de Janeiro, Juiz de Fora e Estados Unidos a partir de dois programas de filmes.. Buscando desafiar as formas convencionais de apreensão e significação em torno do filme e das imagens de pessoas pretas, a sessão INDETERMINAÇÕES deste mês exibe filmes que evocam coletividades, fontes de desejo e pulsão de vida, a despeito do país, do fim, da raça, através da musicalidade.
Além se ser uma das primeiras mulheres a dirigir filmes em Hollywood, Ida Lupino também foi pioneira ao abordar temas nada convencionais à época, como gravidez fora do casamento, bigamia e os efeitos psicológicos de um estupro. Em maio, o cinema do IMS inaugura a mostra Dirigidos por Ida Lupino, uma retrospectiva dedicada às obras desta autora singular.
Ainda pelas vias do empoderamento feminino e da quebra de tabus, entram em cartaz As primeiras, de Adriana Yañez, sobre a primeira seleção feminina de futebol do Brasil, e Lispectorante, de Renata Pinheiro, sobre uma mulher à beira dos 60 anos que atravessa uma crise existencial e financeira e começa a ver cenas fantásticas através de uma fenda nas ruínas de onde morou a escritora Clarice Lispector. Já Manas, de Marianna Brennand, denuncia os dramas e abusos vividos por meninas e mulheres na comunidade ribeirinha da ilha de Marajó. Em Inventário de imagens perdidas, de Gustavo Galvão, num futuro próximo, uma revolução fundamentalista coloca o Brasil em guerra civil, enquanto em Terremoto em Lisboa, de Rita Nunes, dados apontam para uma probabilidade muito alta de um enorme sismo poder atingir uma Lisboa ambientada em 2027. E em Criaturas da mente, novo filme de Marcelo Gomes, o sonho aparece como motor da revolução humana.
[imagem da capa]
O mundo é o culpado (Outrage), de Ida Lupino
Abá e sua banda
Humberto Avelar | DCP
As primeiras
Adriana Yañez | DCP
Criaturas da mente
Marcelo Gomes | DCP
Inventário de imagens perdidas
Gustavo Galvão | DCP
Kasa Branca
Luciano Vidigal | DCP
Lispectorante
Renata Pinheiro | DCP
Manas
Marianna Brennand | DCP
Milton Bituca Nascimento
Flavia Moraes | DCP
Onda nova
Ícaro Martins e José Antônio Garcia | DCP, restauração 4K
Sempre garotas (Girls Will Be Girls)
Shuchi Talati | DCP
Terremoto em Lisboa (O melhor
dos mundos)
Rita Nunes | DCP
Anjos rebeldes
(The Trouble with Angels)
Ida Lupino | DCP
O bígamo (The Bigamist)
Ida Lupino | DCP
O mundo é o culpado (Outrage)
Ida Lupino | Arquivo digital
Sessão indeterminações
Alafin Oyó
TV Viva | DCP
Canto II
Juçara Marçal e Cadu Tenório | DCP
Copacabana
Flávio Frederico | DCP
Mandacura
biarritzzz | DCP
Memória Goitacá
Eloísa de Mattos e Paulo Sérgio Pestana |
DCP
Nada haver
Juliano Gomes | DCP
Ayanda & Nhlanhla Moremi’s Wedding
Zanele Muholi | Arquivo digital
Difficult Love
Zanele Muholi e Peter Goldsmid |
Arquivo digital
Eye Me
Zanele Muholi | Arquivo digital
Foot for Love
Veronica Noseda e Elise Lobry |
Arquivo digital
Thokozani Football Club: Team Spirit
Thembela Dick | Arquivo digital
Circuito ballroom: cinema, identidade e protagonismo
Feminino
Carolina Queiroz | Arquivo digital
Queens at Heart
Arquivo digital
Salão de baile – This Is Ballroom
Juru e Vitã | DCP
The Queen
Frank Simon | DCP, restauração 4K
É possível assistir a alguns dos filmes em cartaz no Cinema do IMS com recursos de acessibilidade em Libras, legendas descritivas e audiodescrição. Para retirar o equipamento com recursos, consulte a bilheteria do IMS Paulista. Em caso de dúvidas, entrar em contato pelo telefone (11) 2842-9120 ou pelo e-mail imspaulista@ims.com.br.
15:50 Milton Bituca Nascimento (110')
18:00 As primeiras (78')
20:00 O mundo é o culpado (75')
13
14:00 As primeiras (78')
16:00 Lispectorante (93')
18:00 Inventário de imagens perdidas (77')
20:00 Criaturas da mente (85')
20
14:00 Lispectorante (93')
16:00 Inventário de imagens perdidas (77')
18:00 Manas (101')
20:00 Ciclo Zanele Muholi (98')
16:00 Criaturas da mente (85')
18:00 Manas (101')
20:00 Kasa Branca (95') 7
15:50 Milton Bituca Nascimento (110')
18:00 As primeiras (78')
20:00 Sempre garotas (118') 14
14:30 Criaturas da mente (85')
16:20 Inventário de imagens perdidas (77')
18:00 Lispectorante (93')
20:00 Anjos rebeldes (111') 21
14:30 Criaturas da mente (85')
16:20 Lispectorante (93')
18:20 Inventário de imagens perdidas (77')
20:00 Manas (101')
16:20 Inventário de imagens perdidas (77')
18:00 Manas (101')
20:00 Sempre garotas (118') 1
14:00 Milton Bituca Nascimento (110')
16:10 Onda nova (102')
18:20 As primeiras (78')
20:00 Sempre garotas (118') 8
14:00 Milton Bituca Nascimento (110')
16:30 Criaturas da mente (85')
18:20 Inventário de imagens perdidas (77')
20:00 Lispectorante (93')
15
14:20 Inventário de imagens perdidas (77')
16:00 Manas (101')
19:00 Sessão indeterminações: Improvisações sônicas, imaginação fugaz (69'), seguida de debate com Salloma Salomão, Lorenna Rocha e Gabriel Araújo
22
14:20 Inventário de imagens perdidas (77')
16:00 Criaturas da mente (85')
18:00 Manas (101')
20:00 O bígamo (80')
29
16:00 Manas (101')
18:00 Lispectorante (93')
20:00 Terremoto em Lisboa (74')
2
14:00 Abá e sua banda (84')
15:50 Milton Bituca Nascimento (110')
18:00 Sempre garotas (118')
20:20 As primeiras (78')
22:00 Onda nova (102')
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14:20 As primeiras (78')
16:00 Criaturas da mente (85')
18:00 Lispectorante (93')
20:00 Inventário de imagens perdidas (77')
22:00 Sempre garotas (118')
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14:00 Sempre garotas (118')
16:30 Criaturas da mente (85')
18:20 Inventário de imagens perdidas (77')
20:00 Manas (101')
22:00 Lispectorante (93')
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14:20 Kasa Branca (95')
16:20 Lispectorante (93')
18:20 Inventário de imagens perdidas (77')
20:00 Manas (101')
22:00 Sempre garotas (118')
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14:40 As primeiras (78')
16:30 Terremoto em Lisboa (74')
19:00 Circuito Ballroom
The Queen + Queens at Heart (90'), sessão seguida de conversa com Flip Couto e as curadoras Julie Pereira e Dani Anjos
3
14:00 Abá e sua banda (84')
15:50 Milton Bituca Nascimento (110')
18:00 Sempre garotas (118')
20:20 As primeiras (78')
22:00 Onda nova (102')
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14:20 As primeiras (78')
16:00 Criaturas da mente (85')
18:00 Lispectorante (93')
20:00 Inventário de imagens perdidas (77')
22:00 Sempre garotas (118')
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14:00 Inventário de imagens perdidas (77')
15:40 Sempre garotas (118')
18:00 O mundo é o culpado (75')
20:00 Manas (101')
22:00 Lispectorante (93')
24 virada cultural
14:30 Abá e sua banda (84')
16:30 Sessão indeterminações: improvisações sônicas, imaginação fugaz (69')
18:00 Anjos rebeldes (111')
20:20 As primeiras (78')
22:00 Onda nova (102')
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14:30 Criaturas da mente (85')
16:20 Terremoto em Lisboa (74')
18:00 Circuito Ballroom
Salão de Baile - This Is Ballroom + Feminino (120')
20:20 O bígamo (80')
22:00 Manas (101')
14:00 Milton Bituca Nascimento (110')
16:10 Onda nova (102')
18:20 As primeiras (78')
20:00 Sempre garotas (118')
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14:30 Onda nova (102')
16:30 Criaturas da mente (85')
18:20 Inventário de imagens perdidas (77')
20:00 Lispectorante (93')
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14:20 Kasa Branca (95')
16:20 Inventário de imagens perdidas (77')
18:00 Lispectorante (93')
20:00 Manas (101')
25 virada cultural
14:00 Abá e sua banda (84')
16:00 Kasa Branca (95')
18:00 Ciclo Zanele Muholi (98')
20:00 As primeiras (78')
Kleber Mendonça Filho
Há uma corrente constante na percepção de tempo no trabalho de curadoria de uma sala de cinema. Isso talvez seja ainda mais forte num momento histórico tão duro como o de hoje. Encontramos nos filmes de arquivo espelhos para o presente. Isso continua sendo um eixo essencial de curadoria do Cinema do IMS, tão importante como a defesa de um cinema feito hoje e para o futuro. Desta vez, chamamos a atenção para o cinema de Ida Lupino, cineasta pioneira em Hollywood, realizadora de filmes narrativos produzidos à beira do studio system em Los Angeles e Hollywood, nas décadas de 1940, 1950 e 1960.
Atriz, estrela e depois cineasta, Ida Lupino foi durante décadas descartada, como uma curiosidade, uma artesã, uma nota de rodapé curiosa em Hollywood. De fato, na época em que dirigiu seis longas-metragens – entre o final dos anos 1940 e início dos 1950 –, não há registro de outras cineastas em atividade em Hollywood.
Seu nome vem sendo resgatado com os seus filmes, a mística em torno dela própria carregada – por um lado – de um certo glamour em volta da atriz que dividiu filmes com Humphrey Bogart, Olivia de Havilland e Joan Fontaine, contratada da Warner Bros. e que muito lutou para não ser transformada numa reserva de Bette
Davis nas produções do próprio estúdio. A atriz Ida Lupino foi dirigida por Raoul Walsh, Fritz Lang, Nicholas Ray, Michael Curtiz. Ela tinha outras coisas em mente e partiu para investir num estúdio independente – The Filmmakers – ao lado do seu marido, o roteirista e produtor Collier Young.
Essa sua movimentação de independência é vista nitidamente hoje como o mesmo tipo de pulsão que guiou nomes de enorme força do cinema off-Hollywood na produção estadunidense do século XX, como John Cassavetes, John Sayles e Robert Altman, e também – importante ressaltar – mulheres autoras que seguiram a trilha feita por Lupino, como Barbara Loden, Julie Dash e Kathryn Bigelow. É fascinante e perturbador podermos hoje, separados por quase 80 anos de história do cinema de Hollywood, observar conquistas apenas recentes na presença de mulheres como realizadoras e autoras de cinema reconhecidas, e de certa forma frutos da ponta de lança incrível que foi Ida Lupino.
O poderoso curador de gostos cinematográficos e historiador do cinema e crítico nova-iorquino Andrew Sarris (1928-2012) escreveu uma vez sobre Ida, “Os filmes que Ida Lupino dirigiu expressam muito dos sentimentos, mas pouco da competência que ela foi capaz de projetar de forma tão admirável
como atriz”. Ele ainda enfiou a faca mais fundo e lembrou da única experiência da grande dama Lillian Gish como diretora, usando a célebre frase de Gish na época para insinuar uma sensação acerca de toda
a obra de Lupino: “Dirigir um filme não é serviço para uma dama”… Felizes de poder programar no Cinema do IMS uma revisão do cinema de Lupino, num momento talvez mais sofisticado de observação sobre os filmes do passado. Nossa seleção inclui os seis longas-metragens e alguns dos trabalhos que Lupino fez para a TV como a profissional do audiovisual pioneira que foi.
sessão indeterminações
Lorenna Rocha e Gabriel Araújo
Se biografar, documentar, categorizar e classificar as formas de expressão de personalidades e coletividades culturais negras marcam o cinema brasileiro de todos os tempos, como a música preta poderia apresentar uma torção – ou uma quebra – a um conglomerado de imagens e sons que está grafado em nosso imaginário e que acaba por fazer emergir proposições e contraposições acerca da ideia de cinema negro? Inspirada nas ideias de Arthur Jafa, Fred Moten, Stefano Harley, GG Albuquerque, Denise Ferreira da Silva e Castiel Vitorino Brasileiro, Improvisações sônicas, imaginação fugaz convoca diferentes matérias fílmicas a fim de perseguir os sons, as musicalidades e as pretitudes sônicas, 1 ou
1. Em diálogo com o pensamento de Michael Boyce Gillespie, o pesquisador e crítico musical GG Albuquerque apresenta a categoria de pretitudes sônicas, que consiste em sairmos “da lógica da representação e da representatividade (que identificaria uma música negra como apenas feita por negros e/ou majoritariamente apreciada por negros) para pensar em métodos criativos, formas artísticas e imaginações estéticas escuras, isto é, modos de fazer que tomam a racialização como uma proposição formal radical capaz de desafiar as concepções musicais da tradição hegemônica branca ocidental e abrir outras possibilidades de relação com o sonoro”. Ver: “Barulhinho do vapo vapo: pensando através do som e das pretitudes sônicas”. Revista Música, v. 24, n. 1, jul. 2024, pp. 1-28. Disponível
seja, os procedimentos formais e inventivos imaginados pelas múltiplas expressões performativas pretas, para repensar o cinema negro brasileiro, os métodos que o circunscrevem e o perturbam e, no limite, a própria noção de raça.
Desde quando começamos a desenhar o programa da plataforma indeterminações, uma convocação nos persegue. Em “69”, palestra transcrita e publicada no livro Black Popular Culture (Nova York: New Press, 1992), Jafa questiona: “Como fazer com que as imagens pretas vibrem de acordo com certos valores frequenciais que existem na música preta?”. A essa, acrescentamos outra pergunta: como as expressividades musicais e performáticas da cultura negra poderiam reimaginar nossa relação com o cinema negro e brasileiro?
“A performance preta sempre foi a improvisação contínua de uma espécie de lirismo do excedente – invaginação, ruptura, colisão, aumento”, pontua Moten em Na quebra (São Paulo: n-1, 2023), ao refletir sobre as rítmicas e interpretações do jazz estadunidense. No Brasil, a disrupção, o excesso e a experimentação encontram ecos do samba ao funk, das rodas de terreiros aos círculos de oração, do congado ao frevo, ritmos,
em: www.revistas.usp.br/revistamusica/article/ view/225636/208382.
que dá nome à obra. O registro não se furta em trazer, para seus quadros, a experimentação sonora do coletivo que vive entre a luta e a festa. Na contramão, “Canto II” (2015), faixa do disco Anganga (Juçara Marçal, Cadu Tenório, QTV Selo, 2015), nos faz encarar o ruído e a profundeza dos lamentos de um canto de trabalho.
danças e movimentos que atravessam esta sessão e comunicam sobre a construção da cultura sonora do país. São ainda capazes de inscrever o inconformismo e a fugacidade presentes nas vidas marcadas pelo trauma colonial e pela rebeldia.
Imagens de arquivo, gravações de desktop, glitches de internet, matéria de TV, peça sonora e filme-ensaio compõem o percurso fílmico e fonográfico de Improvisações sônicas, imaginação fugaz . O programa busca desafiar as formas convencionais de apreensão e significação em torno do filme e das imagens pretas, estabelecendo contato e fricção com as multiplicidades sônicas das criações e formas de ver/ouvir/sentir o mundo a partir das experiências e radicalidades pretas. São imagens que evocam coletividades, fontes de desejo e pulsão de vida, a despeito do país, do fim, da raça.
Mandacura (biarritzz, 2016) dispara o tom e as frequências da sessão, em sua persistência nas formas e deformações das mãos. O exercício de montagem, que abusa de gif, glitch e imagens de baixa resolução, reescreve conexões e deslocamentos em torno da “mão que rege o mundo”. Em Memória Goitacá (Eloísa de Mattos e Paulo Sérgio Pestana, 1976), voltamos à tradição documental brasileira. O retrato de habitantes do litoral de Atafona, no Rio de Janeiro, apresenta relações entre trabalho, performance e comunidade, em que brincadeiras, cantigas e folguedos revelam que a pureza não é uma opção. 2 Uma matéria da TV Viva de 1989 apresenta o afoxé pernambucano Alafin Oyó,
2. Frase da antropóloga estadunidense Anna Tsing (2022), em O cogumelo no fim do mundo: sobre a possibilidade de vida nas ruínas do capitalismo (São Paulo: n-1, 2022).
Ao fim do nosso baile, o díptico composto por Copacabana (Flavio Frederico, 1999) e Nada haver (Juliano Gomes, 2022) cria uma inversão. Enquanto o primeiro investe na explosão cacofônica da virada do fim de ano para se aproximar das alegrias e tristezas que acometem aqueles que buscam esperança na beira da praia, o segundo investe na contenção de um furto discreto de imagens para contar uma história íntima que, sob o grave gótico do funk mineiro, ressoa o rolezinho de uma multidão.
O programa será comentado pelos programadores da Sessão indeterminações e pelo multiartista, pesquisador e educador Salloma Salomão, e é acompanhado por um ensaio textual da crítica de cinema e pesquisadora Ana Júlia Silvino, que nos convida a pensar num cinema que filma não para a captura, mas para a escuta. A vinheta que apresenta a seleção de filmes deste mês é assinada pela artista visual e cineasta Lia Letícia, uma peça original produzida para a sessão.
Ana Júlia Silvino
Nos últimos anos, a provocação do cineasta e videoartista norte-americano Arthur Jafa – “Como fazer com que as imagens pretas vibrem de acordo com certos valores frequenciais que existem na música preta?”1 – tem ressoado no Brasil, direto dos arquivos dos anos 1990, como um chamado para repensar a relação entre som e imagem no cinema negro brasileiro. Contudo, essa questão parte de uma suposição que talvez precise ser desestabilizada: e se o som não puder ser traduzido em imagem?
Se a música preta opera em intensidades que não se deixam capturar inteiramente pelo olhar, a questão não está apenas em transpor suas frequências para o campo visual, mas em reconhecer que a vibração não se traduz, e sim se propaga. Os ritmos do hip hop , do samba e do funk não são códigos a serem lidos como uma imagem, mas forças que movimentam, que desestabilizam, que se fazem sentir antes mesmo de se tornarem representação.
A falha não está apenas na tentativa de categorizar essas pulsações dentro de uma gramática visual, mas na própria expectativa de que som e imagem possam ser apreendidos da mesma forma. Há algo que
sempre escapa aos limites do dicionário das imagens, que reverbera fora do visível, que insiste naquilo que não pode ser enquadrado. E talvez seja exatamente essa impossibilidade de fixação que torna a seguinte pergunta tão vibrante: ao invés de tentar enquadrar essas frequências dentro das imagens, como permitir que o cinema se torne permeável a elas? Como filmar não para capturar, mas para escutar? Como afinar o olhar para que ele não só veja, mas ouça? Como nos tornamos dignos dessa escuta?
Em Improvisações sônicas, imaginação fugaz, os visuais vibram em sintonia com os ouvidos, e os sons estremecem em imagens. Antes de pensar em como fazer com que as imagens pretas vibrem nas mesmas frequências da música preta, como se as coisas realmente pudessem ser transpostas de uma linguagem a outra, nos cabe pensar sobre o som como forma, método e expansão.
As associações livres funcionam muito bem como meio, mas são inadequadas com o devir das coisas quando abordadas como fim.
1. JAFA, Arthur. “69”. In: WALLACE, Michele (org.). Black Popular Culture. Seattle: Bay Press, 1992.
É possível, sim, a partir dessa seleção de obras, pensar os frames, por exemplo, como atabaques. Superfícies – percussivas – que desafiam as ordens do tempo, cadências rítmicas que inserem momentos dentro da
lógica inconstante e imprevisível do som; discursos inacabados, cantos coletivos, construções vazias, bailes e multidões. Mas o efeito de comparação é, em parte, escasso.
Como podemos falar das imagens como atabaques se ainda somos incapazes de compreender o que se produz com esse instrumento? Como abordar as festas das almas invocadas pelos pontos tocados pelos Ogãs? O ouvido nunca foi conivente com o medo que os olhos têm do mistério, com o desejo do conhecimento pleno e indiscutível através da visão. A escuta é a única tecnologia capaz de desvendar esses enigmas, pois, em sua atividade, nunca cessa de produzir outros.
Assim, o canto de Juçara Marçal vibra na escuridão da sala, entrelaçando-se aos ruídos de Cadu Tenório em “Canto II”, eco do LP O canto dos escravos . Na música, a cultura negra responde à sua vocação ancestral e se torna espaço de ressonância. A textura sonora – do ruído eletrônico e do compasso da voz melódica, que ecoa em sua própria materialidade, difusa em relação aos outros sons que compõem a faixa –não apenas desloca o canto da rigidez dos arquivos históricos, mas o converte em pulsos elétricos, códigos de informação que trafegam pelo circuito sonoro para chocar contra a tela negra do cinema. As imagens Alafin Oyó, de TV Viva
que brotam da nossa imaginação e do olhar, guiadas pelo som, parecem vibrar na mesma frequência da sequência inicial do curta Copacabana (Flávio Federico, 1999). Nela, a câmera errante rasteja pela areia e entre os corpos, como se fosse convocada e sacudida pelo Ponto. A tecnologia da imagem se transforma em encantamento.
O caráter espiritual do ritmo também atravessa todos os outros filmes desta sessão. Em Alafin Oyó (TV Viva, 1989), essa dimensão se revela na fusão entre o afoxé e as vozes que ressoam as memórias de tradição e resistência afro-brasileira. O cortejo nas ruas do Recife transforma o espaço urbano em território ritual, onde música, dança e oralidade se entrelaçam numa catarse coletiva. O ritmo não apenas embala, mas convoca: é a força espiritual que ativa ancestralidades e redesenha o presente com passos e tambores. Em Memória Goitacá (Heloísa Mattos e Paulo Sérgio Pestana, 1976), o ritmo vibra no contraste entre o trabalho e a celebração. O filme atravessa as paisagens do Norte Fluminense não apenas para documentá-las, mas para escutá-las: é nos cantos, nos batuques e nas danças que o passado se inscreve e a coletividade se refaz.
Em Mandacura (biarritz, 2016), a combinação de diferentes formatos digitais – como
animações, colagens e registros de tela –cria uma fusão entre o real e o abstrato.
O som de tambores e cânticos adiciona profundidade à paisagem visual, gerando um diálogo entre tecnologia e memória. Já em Nada haver (Juliano Gomes, 2022), a narrativa não segue um percurso convencional, mas transmite a sensação de que algo está sempre prestes a acontecer. Uma provocação aos ouvidos, que esperam a virada do beat que não chega, e, ao mesmo tempo, aos olhos, que anseiam por uma interpretação daquelas imagens estáticas dos rolezinhos. Diante disso, é necessário pensar a escuta não como uma operação passiva de recepção, mas como um modo de envolvimento profundo com o mundo. Diferente do olhar – que frequentemente classifica, distingue e separa –, o ouvir compromete o corpo inteiro numa experiência de porosidade. Escutar é ser afetado por aquilo que não se vê, é deixar-se atravessar por presenças que não se impõem como imagem. No cinema, essa escuta radical propõe outra relação com o tempo e com a narrativa: uma forma de atenção que não busca entender, mas sustentar a presença do som como potência de mundo. Essa escuta pode proporcionar ao cinema negro brasileiro um espaço livre das categorias preestabelecidas, onde os paradoxos e as
incongruências se tornam forças propulsoras de um processo criativo radical, no qual a memória passa a ser ruído, e o afeto, pulsação.
Se há uma ética que emana dessa escuta, ela se funda na disposição de ser transformada pelo som. Escutar é também consentir em não saber tudo, é aceitar ser conduzido por outra lógica – mais circular, mais relacional, mais afetiva. Nessa condição, o cinema deixa de ser um espelho e se torna tambor: não reflete, reverbera. E, ao reverberar, convoca outras formas de presença e outros tempos. Que o som continue ecoando no escuro.
Daniele Queiroz
Daniele Queiroz é curadora de arte contemporânea no Instituto Moreira Salles e cocuradora da exposição Zanele Muholi: beleza valente, em cartaz no IMS Paulista. A exposição apresenta uma retrospectiva inédita do trabalho de Muholi, abrangendo fotografias, vídeos, pinturas e esculturas, com obras inéditas produzidas no Brasil.
Retratar a luta da comunidade LGBTQIAPN+ negra na África do Sul é um dos pilares da produção de Zanele Muholi (Durban, África do Sul, 1972), nome de destaque das artes visuais na contemporaneidade. Muholi, que se identifica como ativista visual, tem trabalhado de maneira incansável ao longo de mais de 20 anos a fim de denunciar violências cometidas contra seus pares, mas também, e principalmente, criar no conjunto de sua obra um lugar de resistência, beleza e afeto. Zanele Muholi começou sua carreira a partir de um lugar de desespero. A ausência de imagens de pessoas negras e queer, somada ao crescente número de crimes de ódio praticados contra a comunidade LGBTQIAPN+ na África do Sul, levaram Muholi à fotografia e ao vídeo. Seus primeiros trabalhos possuem a urgência da denúncia, a necessidade imperiosa de dizer “nós estamos aqui, nós existimos”. David Goldblatt, fotógrafo e cronista do apartheid sul-africano, foi seu principal mentor na Market Photo Workshop, escola de fotografia que forneceu alfabetização visual para uma série de artistas que foram marginalizados pelas consequências das políticas do regime de segregação racial enfrentadas no país. Anos mais tarde, Thembela Dick, diretora de Thokozani Football Club, seria aluna de Muholi na mesma escola, reforçando a missão de não apenas retratar as pessoas,
mas fornecer ferramentas para que a luta se amplie e difunda.
Difficult Love, dirigido por Zanele Muholi e Peter Goldsmid, celebra a vida e a existência de mulheres lésbicas na África do Sul. Feito em um momento em que Muholi ainda se identificava como uma mulher cis lésbica –hoje elu se identifica como uma pessoa não binária –, Difficult Love apresenta os bastidores de sua carreira e mostra como arte e o ativismo são inseparáveis em seu trabalho. Em uma produção bastante íntima e pessoal, Muholi aborda questões de raça através da relação afetiva que mantinha com uma mulher branca, mas também, e principalmente, questões de gênero que atravessam a vida da comunidade LGBTQIAPN+ sul-africana: da aceitação da família à luta por visibilidade na mídia, o direito à maternidade e a reivindicação ao direito de sentir-se africana (parte da população acreditava – e alguns ainda acreditam – que a homossexualidade seria uma característica trazida pela colonização ao continente africano).
O respeito, o afeto e a potência do coletivo são laços que unem as produções audiovisuais apresentadas no Instituto Moreira Salles. Durante todo o ano de 2013, Zanele Muholi registrou rituais de casamento e funerais da comunidade LGBTQIAPN+, momentos em que o luto e a celebração caminham juntos,
criando possibilidades de festejo e encontro, proximidade e aceitação das famílias, além do reconhecimento da família estendida que é criada por laços de fraternidade, apoio e compreensão. Em Ayanda & Nhalahla’s Wedding, podemos entender a importância desses rituais também como forma de reconhecimento da cidadania da comunidade LGBTQIAPN+, além de testemunhar o encontro entre gerações, a desconstrução de crenças e a realização de um arquivo visual em que as pessoas possam apenas existir e serem retratadas a partir da felicidade. O tema dos funerais aparece também em Difficult Love, em que Muholi registra a cerimônia de despedida de sua mãe, Bester, que trabalhou a vida inteira como empregada doméstica para famílias brancas. Sobre os rituais, Muholi diz:
“O casamento de Ayanda Magoloza e Nhlanhla Moremi em Katlehong ocorreu quatro meses depois que Duduzile Zozo foi assassinado em Thokoza. [...] Muitas pessoas da região participaram da cerimônia, abençoaram o casal recém-casado e oraram por eles e por seus filhos. Ansiamos por essas bênçãos, pois continuamos a ler sobre as provações e tribulações que as pessoas
LGBTQIAPN+ enfrentam em suas igrejas, onde a homossexualidade é perseguida. Em 2014, quando a democracia sul-africana comemora seus 20 anos, parece mais
importante do que nunca erguer novamente nossa voz contra os crimes de ódio e as discriminações feitas contra a comunidade LGBTQIAPN+.”
A coletividade e a construção de práticas de resistência em grupo aparecem também nos filmes Foot for Love e Thokozani Football Club. Ambos os filmes falam sobre a criação e manutenção de um time de futebol sul-africano composto por mulheres lésbicas. Se em Foot for Love podemos acompanhar a marcha das jogadoras e sua luta por visibilidade e direitos humanos básicos, em Thokozani Football Club, é possível também compreender tanto a espacialidade onde acontecem os jogos quanto a existência de vínculos afetivos que o esporte possibilita (entre as mulheres do time, mas também nas relações de vizinhança, inclusive com homens heterossexuais, simpatizantes do clube). Nos depoimentos das jogadoras, temos mais uma vez a apresentação de uma coletividade que não apenas é representada, mas que possui autonomia de fala e criam conjuntamente com as diretoras e Zanele Muholi.
Em todos os filmes, a questão espacial é de grande importância. Grande parte das cenas tem como pano de fundo as townships, áreas urbanas sul-africanas subdesenvolvidas e racialmente segregadas, construídas nas bordas de grandes cidades, que, ao longo do
apartheid, foram designadas para pessoas não brancas, especialmente pessoas negras e indianas. Durban, uma das maiores cidades da África do Sul, contém uma série de townships, incluindo Umlazi, local onde Muholi nasceu e construiu laços que guiam as produções. Da mesma maneira, quando vemos as marchas em Paris ou as jogadoras brincando na praia em um final de tarde, é impossível esquecer não só do apartheid, mas de todos os regimes de segregação racial e de gênero que proíbem pessoas negras e da comunidade LGBTQIAPN+ de habitarem os espaços públicos. Essa proibição se deu, no apartheid, de maneira legal: durante o regime, em Durban, mais de dois quilômetros de praia foi reservado para os sul-africanos brancos (que representavam 22% da população na época), o que deixou apenas 650 metros para a maioria negra (que representava 46% da população na época). A segregação, porém, continuou no pós-regime, por questões de segurança e confiança de ocupar livremente as ruas, por conta de todo o preconceito e a violência dos crimes de ódio. Nas obras de Muholi, a ocupação dos espaços públicos e coletivos – a rua, a praia ou o campo de futebol – também é uma forma de resistir.
Em Eye Me, videoinstalação produzida por Zanele Muholi, uma centena de pares
de olhos nos encara. Ao longo de todo o seu trabalho, o olhar representa um papel central, questionando quem olha e quem é olhado. Ao colocar seus participantes em confronto direto com as lentes da câmera, Muholi aborda políticas de representação (tanto de raça quanto de gênero) bastante caras à história da imagem: as pessoas retratadas se empoderam das fotografias e dos vídeos, fazem perguntas e não aceitam serem mais uma vez subalternizadas. Quando pensamos em séries como Faces e fases ou Somnyama Ngonyama, o olhar direto, propositivo e provocador dialoga diretamente com a videoinstalação e os filmes apresentados no cinema. Ter a oportunidade de assistir a esse conjunto de filmes em português representa uma ponte importante de construção de conhecimento e colaboração diretamente entre África do Sul e Brasil. Assistir a essas produções e refletir sobre as diferenças e similaridades com nosso contexto brasileiro é também uma forma de colaborar com a luta coletiva em prol dos direitos das pessoas negras da comunidade LGBTQIAPN+ não apenas nesses países, mas de maneira mais ampla, usando a arte como ferramenta de empoderamento, denúncia e afeto. “Eu estou apenas capturando o amor”, diz Zanele Muholi.
Abá e sua banda
Humberto Avelar | Brasil | 2024, 84’, DCP (Vitrine Filmes)
Abá é um jovem príncipe cujo maior desejo é ser músico. Ele consegue escapar do castelo do pai sem ser reconhecido por ninguém. Quando conhece Ana, uma garota que toca bateria, o rapaz percebe a oportunidade de formar uma banda ao lado do amigo de infância, Juca, um músico genial. É o primeiro passo para seguir o sonho de criança: tocar no Festival da Primavera, o maior evento do reino de Pomar, responsável pela renovação da natureza. Mas Abá vai precisar da ajuda dos amigos para enfrentar Don Coco, que quer acabar com a diversidade que existe no local.
Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).
Adriana Yañez | Brasil | 2024, 78’, DCP (Olé Produções), cópia legendada em inglês
O documentário retrata a vida de um grupo de mulheres que vive nos subúrbios do Rio de Janeiro. Perto dos 60 anos, elas guardam um passado em comum: são a base da primeira seleção feminina de futebol do Brasil. Quando começaram a jogar, o esporte era proibido para mulheres.
O filme acompanha a rotina de cada uma delas em seu cotidiano, refletindo para onde foram os planos sonhados, como lidam com o passado, as escolhas e o envelhecimento.
“As primeiras é uma história sobre a amizade feminina, sobre memória e sobre a capacidade dessas mulheres de reconstruir suas vidas apesar das injustiças que sofreram”, resume a diretora Adriana Yañez no material de divulgação. “É também um resgate histórico que reconhece a importância que elas têm para o futebol feminino, buscando a reparação de um apagamento de quatro décadas”.
O filme teve sua première mundial na 27ª
Mostra de Cinema de Tiradentes, levando o prêmio de Melhor Filme pelo Júri Popular, mesmo prêmio que arrebatou no 14º CineFoot – Festival de Cinema de Futebol. O documentário participou também do prestigiado Festival de Jeonju, na Coreia do Sul, e da seleção de eventos em países como Canadá, Espanha, Irlanda, Itália e República Tcheca.
Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).
Marcelo Gomes | Brasil | 2024, 85’, DCP (Bretz Filmes)
O sonho como motor da revolução humana. Esse é o mote de Sidarta Ribeiro, neurocientista brasileiro que, há 20 anos, estuda os mistérios do sonhar. No filme Criaturas da mente, Sidarta explora como os sonhos e outras formas de acesso ao inconsciente podem transformar a experiência humana. Em sua investigação, propõe unir os saberes ancestrais dos povos originários e de origem africana no Brasil ao conhecimento científico, além de uma reavaliação científica das experiências com alucinógenos.
Criaturas da mente surge da busca de Marcelo Gomes por compreender sua própria dificuldade de sonhar ou, como relata no filme, de guardar imagens de seus sonhos, durante o lockdown da
pandemia de covid-19. Foi a partir daí que Gomes procurou Sidarta Ribeiro para auxiliá-lo. Em entrevista para o Correio Braziliense, o diretor fala da relação do cinema e do sonho: “Cinema é um sonho: você entra numa tela escura, não é? Senta na cadeira, abre os olhos e encontra com seres imaginários, com seres não reais, fantasmas criados a partir de imagens. E elas se movimentam?! Tudo no cinema tem a ver com o sonho. E, logicamente, como a gente trabalha com cinema, a relação da gente com o sonho muda. Às vezes, eu sonho cenas de filme, às vezes eu acordo, de noite, para anotar sonhos que têm a ver com histórias que eu estou filmando, com filmes que eu monto. Sonho e realidade de cineastas trazem limites muito próximos. Com fronteiras próximas, se misturam.”
O documentário foi o filme de abertura da 57ª edição do Festival de Brasília. [Íntegra da entrevista: tinyurl.com/criaturasmg]
Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).
Inventário de imagens perdidas
Gustavo Galvão | Brasil | 2023, 77’, DCP (Crisol Filmes)
Num futuro próximo, uma revolução fundamentalista coloca o país em guerra civil. Duas mulheres em fuga se escondem no campo. Seus caminhos se cruzam numa casa povoada por memórias de um ex-cineasta, esquecido como o próprio cinema.
“Inventário de imagens perdidas surgiu do impulso de reunir amigos inconformados e decididos a fazer algo veloz, urgente e com o coração, em reação a um país (o Brasil) que testemunhava o avanço da extrema direita e do fundamentalismo evangélico”, relata o diretor Gustavo Galvão no material de imprensa do filme. “Os anos se passaram, a extrema direita diversificou seu alcance, e os desafios vividos pelo cinema são ainda maiores. O filme nasceu como um grito que não era possível guardar mais no peito e que ainda reverbera dentro de nós. Não por acaso, tudo gira
em torno de um cineasta recém-falecido e de sua ex-aluna, pega de surpresa por uma revolução conservadora.”
O longa foi selecionado para diversos festivais ao longo de sua trajetória, dentre eles o 41º Festival Cinematográfico Internacional del Uruguay, a 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, o 38º Festival de Cinema Ibero Latino-Americano de Trieste, dentre outros.
Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).
Luciano Vidigal | Brasil | 2024, 95’, DCP (Vitrine Filmes)
Dé é um adolescente negro da periferia da Chatuba, no Rio de Janeiro, que recebe a notícia de que a avó, Almerinda, está na fase terminal da doença de Alzheimer. Ele tem a ajuda de seus dois melhores amigos, Adrianim e Martins, para enfrentar o mundo e aproveitar os últimos dias de vida com ela.
“Eu sou nascido e criado numa favela no Brasil. E a favela é muito inspiradora”, declara Vidigal em entrevista à Fred Film Radio, por ocasião da exibição do filme no Festival de Torino, na Itália. “Tem muitas histórias potentes e singulares que eu, como cineasta, quero mostrar pro mundo. E esse filme nasceu a partir de uma observação minha de um jovem amigo do meu irmão que convivia com a avó que estava em eminência de morte por causa da doença de Alzheimer. E eu percebi que a relação deles ficou muito bonita através do afeto.
E eu entendo e acredito que o afeto num lugar chamado favela e numa pele preta pode ser revolucionário. Essa história me tocou, e eu escrevo sobre o que me toca.”
No Festival do Rio, em 2024, Kasa Branca recebeu os prêmios de Melhor Direção em Ficção, Melhor Fotografia, Melhor Ator Coadjuvante, para Diego Francisco, e Melhor Trilha Sonora Original.
[Íntegra da entrevista: bit.ly/kasabrancalv]
Ingressos: R$ 15 (inteira) e R$ 7,50 (meia).
Renata Pinheiro | Brasil | 2024, 93’, DCP (Embaúba Filmes)
Glória Hartman, uma mulher madura que atravessa uma crise existencial e financeira, volta à sua cidade natal, que passa por um processo de abandono. Através de uma fenda nas ruínas de onde morou a escritora Clarice Lispector, Glória começa a ver cenas fantásticas que vão alterar sua vida.
“Lispectorante não nasceu de um algoritmo, ou de uma comoção, não é sobre um problema social, não é sobre uma estatística assustadora. É um filme sobre o esquecido, ignorado, inexistente. Sobre a alma, sobre a alma de uma mulher de quase 60 anos, uma cidade abandonada, um sobrado em ruínas e um andarilho romântico”, conta a cineasta Renata Pinheiro para a Bravo!.
[Citação retirada da matéria: tinyurl.com/ lispectoranterp]
Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).
Marianna Brennand | Brasil | 2024, 101’, DCP (Paris Filmes)
Marcielle, de 13 anos, vive em uma comunidade ribeirinha na ilha do Marajó com o pai, a mãe e três irmãos. Instigada pelas falas da mãe, ela cultua a imagem de Claudinha, sua irmã mais velha, que teria partido para longe após “arrumar um homem bom” nas balsas que passam pela região. Conforme amadurece, Tielle vê suas idealizações ruírem e fica presa entre ambientes abusivos. Ciente de que o futuro não lhe reserva muitas opções, ela decide confrontar a engrenagem violenta que rege sua família e as mulheres da comunidade.
Em entrevista à RFI, a cineasta Marianna Brennand conta que, quando deu início a seu trabalho, acreditava que os dramas vividos por meninas e mulheres na ilha do Marajó eram um problema local e que sensibilizariam um público limitado, essencialmente brasileiro. Mas, aos poucos, sua própria visão mudou.
“Através de uma história que é muito específica, dentro de um contexto geográfico e socioeconômico particular, a gente fala a todas as mulheres. Infelizmente é raro você encontrar uma mulher que não tenha sofrido algum tipo de violência ao longo da vida. Então me interessava muito que, através da Marcielli, do despertar e da busca de liberdade para sair dessa situação, a gente pudesse também falar com outras mulheres.”
Manas foi premiado com o Director’s Award Giornate degli Autori em Veneza, em 2024.
[Íntegra da entrevista: tinyurl.com/manasmb]
Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).
Milton Bituca Nascimento
Flavia Moraes | Brasil | 2025, 110’, DCP (Gullane+)
O documentário musical parte da turnê de despedida de Milton Nascimento, um dos maiores artistas brasileiros de todos os tempos, para entender a complexidade simples de sua obra e o quanto os mistérios que ele carrega permitem refletir sobre a alma brasileira.
Além de acompanhar a longa e bem-sucedida turnê de Nascimento, a diretora Flavia Moraes reúne depoimentos de personalidades, como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, Mano Brown, Djamila Ribeiro, Quincy Jones, Spike Lee e Paul Simon.
Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).
Onda nova
Ícaro Martins e José Antônio Garcia | Brasil | 1983, 103’, DCP, restauração 4K (Vitrine Filmes)
Acompanhamos as histórias das jogadoras do Gayvotas Futebol Clube, um time feminino formado em 1983, em plena ditadura militar, ano em que o esporte foi regulamentado para as mulheres no Brasil, após ter sido banido por quatro décadas. Com o apoio de renomados jogadores da época, como Casagrande, Pita e Wladimir, elas enfrentam os preconceitos de uma sociedade conservadora. Paralelamente, lidam com problemas pessoais e se preparam para um simbólico jogo internacional contra a seleção italiana.
O filme foi exibido na 7ª Mostra de Cinema de São Paulo, em 1983. Logo em seguida, foi proibido pela censura do regime militar e só lançado quase um ano depois.
Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).
Sempre garotas
Girls Will Be Girls
Shuchi Talati | Índia, França, EUA, Noruega | 2023, 118’, DCP (Filmes do Estação)
Em um rigoroso internato situado no Himalaia, Mira, de 16 anos, descobre o desejo e o romance. Mas seu despertar sexual e rebelde é interrompido por sua jovem mãe, que nunca conseguiu amadurecer.
Sempre garotas, escrito e dirigido por Shuchi Talati, é um retrato do mundo adolescente, cheio de possibilidades e entusiasmo, mas também de pressões e restrições impostas pelos papéis conservadores de gênero. O filme mostra uma mãe e uma filha que navegam em mundos nem sempre feitos para elas, mas dentro dos quais elas insistem em se rebelar e criar, uma para a outra, novas realidades.
“Sinto que, coletivamente, todas nós conhecemos essa escola, quer você tenha estudado em um convento ou em outro tipo de instituição, as especificidades geralmente não importam. Acho que todas nós já passamos por essa experiência
de ser fortemente policiada quando adolescente em relação ao que vestir, como se comportar e o que é apropriado e moral”, conta Talati em entrevista para o portal Firstpost.
“Eu estava refletindo sobre esse legado do constrangimento e pensei que realmente queria contar a história sobre o despertar sexual de uma jovem, seu primeiro romance, seu desejo, sem que a narrativa a envergonhasse. Eu não queria que ela fosse a garota má que faz algo ruim, mas sim a garota boa, a melhor, a personagem que amamos e que está vivenciando uma experiência totalmente normal. E, na narrativa, isso é tratado como normal e mundano. A narrativa lhe dá autonomia. Ela tem permissão para se divertir. Ela não é punida por isso, e isso foi importante para mim”.
O filme foi vencedor do Prêmio do Público de Melhor Filme e do Prêmio de Melhor Atriz para Preeti Panigrahi no Festival de Sundance, em 2024.
[Íntegra da entrevista em inglês: tinyurl.com/ sempregarotasst]
Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).
Terremoto em Lisboa
O melhor dos mundos
Rita Nunes | Portugal | 2024, 74’, DCP (Filmes do Estação)
Lisboa, 2027. Marta e Miguel fazem parte de um grupo de cientistas e são um casal na vida privada. Os dois veem-se frequentemente em polos opostos no que diz respeito a questões científicas. Esse conflito será posto à prova numa noite decisiva, em que dados analisados por Marta apontam para uma probabilidade muito alta de um enorme sismo poder atingir Lisboa. Os cientistas ficam indecisos sobre alertar a população para a possível tragédia iminente.
Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).
Dirigidos por Ida Lupino
Além de ser uma das primeiras mulheres a dirigir filmes em Hollywood, Ida Lupino também foi pioneira ao abordar temas nada convencionais à época, como gravidez fora do casamento, bigamia e os efeitos psicológicos de um estupro.
Em maio, o cinema do IMS inaugura a mostra Dirigidos por Ida Lupino, uma retrospectiva dedicada às obras dirigidas pela autora singular.
Ida Lupino (1918-1995) foi uma atriz, diretora, escritora e produtora britânica que desafiou os padrões de sua época. Ao longo de sua carreira de 48 anos, participou de 59 filmes e dirigiu oito, trabalhando principalmente nos Estados Unidos. Mais conhecida pelo seu trabalho como atriz durante a Era de Ouro de Hollywood, sua obra enquanto diretora ainda é pouco conhecida no Brasil.
No primeiro mês de mostra, o Cinema do IMS exibe três dos principais títulos de sua obra: O mundo é o culpado (1950), O bígamo (1953) e Anjos rebeldes (1966).
Ingressos:
Dias 6, 14, 17, 22 e 31/5: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).
Dia 24/5, Virada Cultural: Entrada gratuita. Distribuição de senhas 60 minutos antes da exibição. Limite de uma senha por pessoa. Sujeito à lotação da sala.
Anjos rebeldes
The Trouble with Angels
Ida Lupino | EUA | 1966, 111’, DCP (Park Circus)
Anjos rebeldes acompanha as aventuras de Mary e Rachel, duas jovens enviadas a um colégio interno católico, gerido pelo pulso de ferro da madre superiora. As meninas se rebelam contra as rígidas regras do colégio, apesar das tentativas da madre superiora de conter os estragos causados pela dupla.
The Bigamist
Ida Lupino | EUA | 1953, 80’, DCP (Park Circus)
Um homem casado em segredo com duas mulheres sofre a pressão de sua enganação.
mundo é o culpado
Outrage
Ida Lupino | EUA | 1950, 75’, Arquivo digital (Park Circus)
Uma jovem que acaba de ficar noiva tem a sua vida completamente destroçada quando é violada a caminho de casa.
Sessão indeterminações
Improvisações sônicas, imaginação fugaz
Se biografar, documentar, categorizar e classificar as formas de expressão de personalidades e coletividades culturais negras marcam o cinema brasileiro de todos os tempos, como a música preta poderia apresentar uma torção – ou uma quebra – a um conglomerado de imagens e sons que está grafado em nosso imaginário e que acaba por fazer emergir proposições e contraposições acerca da ideia de cinema negro? A sessão busca desafiar as formas convencionais de apreensão e significação em torno do filme e das imagens pretas, estabelecendo contato e fricção com as multiplicidades sônicas das criações e formas de ver/ouvir/sentir o mundo a partir das experiências e radicalidades pretas. Filmes que evocam coletividades, fontes de desejo e pulsão de vida, a despeito do país, do fim, da raça.
Entrada gratuita. Distribuição de senhas 60 minutos antes da exibição. Limite de uma senha por pessoa. Sujeito à lotação da sala.
TV Viva | Brasil | 1989, 7’, DCP (Cinemateca Pernambucana Jota Soares/Centro de Cultura Luiz Freire)
Cultura, dança e religião se entrelaçam nessa reportagem que registra o Alafin Oyó, um dos mais importantes blocos afrocarnavalescos de Pernambuco, nas ruas e praias de Olinda.
Juçara Marçal e Cadu Tenório | Brasil | 2015, 5’, DCP (Alternetmusic)
Faixa sonora de Anganga (QTV Selo), disco que apresenta reinterpretações contemporâneas de vissungos (cantos de trabalho) recolhidos por Aires da Mata Machado Filho na década de 1920, em São João da Chapada, município de Diamantina (MG), além de cantos do congado mineiro.
Flávio Frederico | Brasil | 1999, 13’, DCP (CTAv)
Um ensaio visual do último dia do ano na praia mais famosa do mundo: Copacabana. Mar, pessoas, desejos, expectativas de futuro, rituais e o samba.
biarritzzz | Brasil | 2016, 10’, DCP (Acervo da diretora)
Como precisamos dos nossos deuses? O que eles estão tentando nos dizer? O fim está próximo. O começo também. Um pedaço de uma era, de uma história, de uma única história? Nós. E uma mão que rege o mundo.
Eloísa de Mattos e Paulo Sérgio Pestana | Brasil | 1976, 19’, DCP (CTAv/SAV/ Ministério da Cultura)
No litoral de Atafona, localizado no estado do Rio de Janeiro, o trabalho rural mistura-se e transforma-se em folguedos, brincadeiras e expressividades culturais. Por sua vez, o passado colonial é confrontado pelo canto e pela dança daquelas que sobrevivem à exploração dessa terra.
Juliano Gomes | Brasil | 2022, 11’, DCP (Acervo do diretor)
Ensaio doméstico com fotografias de um rolezinho encontrado ao acaso. Um pré-filme de arquivo tentando (re)animar o que é mundano e perene.
Zanele Muholi, um dos nomes mais importantes das artes visuais na contemporaneidade, possui como um de seus pilares retratar a luta da comunidade LGBTQIAPN+ negra na África do Sul. Desde o início dos anos 2000, Muholi, que se define como ativista visual, usa a arte como ferramenta de empoderamento, denúncia e afeto. Em diálogo com a exposição retrospectiva Zanele Muholi: beleza valente, o cinema do IMS apresenta um programa de curtas que abordam questões de gênero, raça e sexualidade dentro do contexto sul-africano, entrelaçados pelo respeito, pelo afeto e pela potência do coletivo.
Ingressos: Entrada gratuita. Distribuição de senhas 60 minutos antes da exibição. Limite de uma senha por pessoa. Sujeito à lotação da sala.
Ayanda & Nhlanhla Moremi’s Wedding
Zanele Muholi | África do Sul | 2014, 12’, Arquivo digital (Acervo pessoal)
Ayanda Magoloza se casou com Nhlanhla Moremi em 9 de novembro de 2013 em Katlehong. Elas trocaram os votos no Kwanele Park. Sua união matrimonial foi abençoada pelo pastor Tebogo Moema, da Dominion Life Ministry Church. Mais tarde naquele dia, os procedimentos do casamento foram realizados na cidade de Vosloorus, na casa de Nhlanhla. O vídeo foi capturado por Nqobile Zungu, Themba Vilakazi e Zanele Muholi.
Zanele Muholi e Peter Goldsmid | África do Sul | 2010, 48’, Arquivo digital (Acervo pessoal)
Difficult Love é um retrato íntimo e instigante de Zanele Muholi e sua visão altamente pessoal sobre os desafios enfrentados pelas lésbicas negras na África do Sul. O filme apresenta entrevistas com Muholi, bem como com seus amigos, colegas e pares, e oferece uma visão geral convincente de Zanele, de sua vida e de seu trabalho. Esse documentário comovente nos leva por trás da fachada da arte e compartilha conosco o ambiente altamente político que Muholi precisa navegar para trazer à luz suas fotografias exuberantes.
Zanele Muholi | África do Sul | 2008, 2’, Arquivo digital (Acervo pessoal)
Videoinstalação produzida por Zanele Muholi em que uma centena de pares de olhos encaram o espectador.
Veronica Noseda e Elise Lobry | França | 2012, 12’, Arquivo digital (CaSdB)
24 de junho de 2012: sob uma chuva torrencial, um jogo de futebol diferente de qualquer outro acontece no Parc des Princes, em Paris. Ele opõe dois times femininos: o Thokozani Football Club, do município de Durban, e o time francês das Dégommeuses. Em campo, as jogadoras sul-africanas demonstram a mesma determinação de sua vida cotidiana, quando são confrontadas com a violência e a discriminação por serem mulheres negras que não cumprem as regras de gênero.
Thokozani Football Club: Team Spirit
Thembela Dick | África do Sul | 2014, 22’, Arquivo digital (CaSdB)
Thokozani Football Club: Team Spirit é um retrato de um time de futebol. As jogadoras são, em sua maioria, mulheres lésbicas, que vivem sua paixão e lutam contra o ódio e a homofobia. Esse documentário, dirigido por uma jogadora de futebol lésbica, acompanha as meninas durante os jogos ou em sua vida cotidiana. Elas falam sobre seu relacionamento com a família, sobre a alegria de estarem juntas ao ar livre, mas também sobre rejeição e violência.
Nos dias 30 e 31 de maio e 1 de junho, o IMS Paulista se transforma em um espaço pulsante para celebrar a cultura ballroom, ressaltando seu protagonismo no Brasil e nas diásporas. Com curadoria assinada por Julie Pereira e Dani Anjos, integrantes do Potências T – grupo formado por pessoas trans do IMS –, o circuito apresenta dois longas e dois curtas que dialogam com o universo dos bailes e suas relações com o mainstream. Um convite para se encantar, refletir e pertencer a essa celebração única da identidade e da resistência cultural.
Ingressos: Entrada gratuita. Distribuição de senhas 60 minutos antes da exibição. Limite de uma senha por pessoa. Sujeito à lotação da sala.
Carolina Queiroz | Brasil | 2016, 26’, Arquivo digital (Acervo da diretora)
Como a performatividade de uma drag queen é capaz de nos mostrar que, no fundo, não existe a natureza do feminino além dos atos, gestos e signos?
O filme envolve o telespectador na questão de performances de gênero, aproximando-as para um cenário regional. Utilizando da temática queer, o curta discute a relação de identidade de gênero, questionando conceitos baseados no que é considerado masculino ou feminino.
“Trabalhar com esse assunto no documentário surgiu através da minha amizade com o Nino. Sabendo que ele já se montava como drag, resolvi associar ao meu interesse pelas questões de gênero, o que me torna uma mulher, toda performatividade das drag queens e como ele pega e utiliza essas características femininas”, relata a diretora Carolina Queiroz, na época do lançamento do curta, para o portal de notícias da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
“Essas questões que implicam que você deixa de ser homem por fazer uma coisa feminina, ou que você deixa de ser mulher por fazer uma coisa masculina, se tornam muito problemáticas e fechadas. Acredito que a compreensão deve ser de forma mais orgânica e, por isso, é importante trazer à tona esse lugar de limite do gênero, já que eles se encontram, se chocam e se misturam, não fica tão separado.”
[Íntegra da entrevista: tinyurl.com/femininocq]
EUA | 1967, 22’, Arquivo digital (Kino Lorber)
Queens at Heart é um raro olhar sobre a vida de quatro mulheres trans e a cultura drag em meados dos anos 1960 em Nova York.
De acordo com Jenni Olson, historiadora e pesquisadora de arquivos LGBTQIAPN+ que redescobriu o filme na década de 1990, em matéria para o site da UCLA, “Misty, Vicky, Sonja e Simone são quatro mulheres trans corajosas que discutem francamente suas vidas pessoais com um entrevistador homem, cis e heterossexual, que afirma ter conversado com ‘milhares de homossexuais’ (e que claramente não entende a diferença entre orientação sexual e identidade de gênero).
Embora o interrogatório seja assustador e inadequado por parte do entrevistador e seja muitas vezes difícil de suportar, as mulheres conseguem transcender o tom do entrevistador e se apre-
sentam com um incrível senso de dignidade e franqueza. Elas falam sobre suas vidas duplas: sair como mulheres à noite, mas viver como homens durante o dia, e sobre como tomam hormônios e sonham em ‘mudar de vida’. Uma fala sobre como evitar o alistamento militar, outra sobre seu noivo e outra sobre o tormento da infância como um jovem efeminado. A honestidade e vulnerabilidade delas são realmente uma dádiva.”
[Íntegra da matéria em inglês: tinyurl.com/ queensatheartims]
Salão de baile – This Is Ballroom
Juru e Vitã | Brasil | 2024, 94’, DCP (Retrato Filmes)
Nas margens da baía de Guanabara, uma comunidade de jovens LGBTQIAPN+ resgata e vivencia a cultura ballroom. Rio is burning!
Salão de baile é o primeiro longa-metragem documental brasileiro a explorar profundamente o universo da cena ballroom no Rio de Janeiro, oferecendo uma imersão na cultura do voguing e dos balls, lugares que servem como espaços de resistência, celebração e autoexpressão para esses jovens da periferia do Rio de Janeiro. O filme acompanha a produção de um ball, mergulhando na vida de seus participantes e revelando tanto os momentos de glória quanto os desafios enfrentados por essa comunidade vibrante e marginalizada.
Com uma trajetória de sucesso em festivais internacionais – incluindo exibições no CPH, em Copenhagen, e no Sheffield DocFest, no Reino Unido –, o filme já foi exibido em cinco países.
No Brasil, ele encerrou a 13ª edição do Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba, além de ter sido premiado no Festival do Rio como Melhor Montagem e ter recebido menção honrosa no prêmio Felix de Melhor Documentário.
Frank Simon | EUA | 1968, 68’, DCP, restauração 4K (Kino Lorber)
Mais de 40 anos antes do programa RuPaul’s Drag Race, esse documentário inovador sobre o concurso de beleza Miss All-America Camp de 1967 apresentou ao público o mundo de competição drag. O filme nos leva aos bastidores do concurso para acompanhar as candidatas enquanto elas ensaiam, jogam shade e se transformam em suas drag personas na preparação para o grande evento. Organizada pela ícone e ativista LGBTQIAPN+ Flawless Sabrina, a competição contou com um painel de jurados famosos, como Andy Warhol e suas superestrelas Edie Sedgwick e Mario Montez. Mas talvez o momento mais memorável do filme seja a afronta épica, chamando a atenção para o preconceito racial da cena dos concursos de beleza, feita por Crystal LaBeija, que viria a formar a influente Casa LaBeija e teve grande destaque no documentário Paris Is Burning (1990).
Uma peça vibrante da história queer, The Queen será exibido em restauração 4K.
Cinema
Coordenador | Curador
Kleber Mendonça Filho
Supervisora de curadoria e programação
Marcia Vaz
Programador adjunto
Thiago Gallego
Produtora de programação
Quesia do Carmo
Assistente de programação
Lucas Gonçalves de Souza
Projeção
Ana Clara da Costa,
Adriano Brito e Pedro Rehem
Serviço de legendagem eletrônica
Pilha Tradução
Revista de Cinema IMS
Produção de textos e edição
Thiago Gallego e Marcia Vaz
Diagramação
Marcela Souza e Taiane Brito
Revisão
Flávio Cintra do Amaral
A programação do mês tem apoio do Centre Audiovisuel
Simone de Beauvoir e CTAv – Centro Técnico Audiovisual e das distribuidoras Bretz Filmes, Crisol Filmes, Embaúba Filmes, Filmes do Estação, Gullane +, Kino Lorber, Olé Produções, Paris Filmes, Park Circus, Vitrine Filmes e do projeto Sessão Vitrine Petrobras.
Agradecemos a Alternetmusic, Ana Júlia Silvino, Barbara Alves Rangel, biarritzzz, Cadu Tenório, Carmen Galera, Carolina Queiroz, Cinemateca Pernambucana Jota Soares/ Centro de Cultura Luiz Freire, Dani Anjos, Daniele Queiroz, Flip Couto, Gabriel Araújo, George Schmalz, Juçara Marçal, Juliano Gomes, Julie Pereira, Jyan França, Lia Letícia, Lorenna Rocha, Peggy Préau, Retrato Filmes, Salloma Salomão, Sandra Escribano Orpez e Zanele Muholi.
Ingressos à venda pelo site ingresso.com e na bilheteria do centro cultural, a partir das 12h, para sessões do mesmo dia. No ingresso.com, a venda é mensal, e os ingressos são liberados no primeiro dia do mês. Ingressos e senhas sujeitos à lotação da sala.
Capacidade da sala: 145 lugares.
Sessão indeterminações
Realização: Cinema do IMS
Curadoria e produção: Lorenna Rocha e Gabriel Araújo
Com apresentação de documentos comprobatórios para professores da rede pública, estudantes, crianças de 3 a 12 anos, pessoas com deficiência, portadores de Identidade Jovem, maiores de 60 anos e titulares do cartão Itaú (crédito ou débito).
Em casos de cancelamento de sessões por problemas técnicos e por falta de energia elétrica, os ingressos serão devolvidos. A devolução de entradas adquiridas pelo ingresso.com será feita pelo site Programa sujeito a alterações. Eventuais mudanças serão informadas no site ims.com.br e no Instagram @imoreirasalles. Não é permitido o acesso com mochilas ou bolsas grandes, guarda-chuvas, bebidas ou alimentos. Use nosso guarda-volumes gratuito. Confira as classificações indicativas no site do IMS.
Terça a quinta, domingos e feriados sessões de cinema até as 20h; sextas e sábados, até as 22h.
Visitação, Biblioteca, Balaio IMS Café e Livraria da Travessa
Terça a domingo, inclusive feriados das 10h às 20h.
Fechado às segundas.
Última admissão: 30 minutos antes do encerramento.
A entrada no IMS Paulista é gratuita.
Avenida Paulista 2424
CEP 01310-300
Bela Vista – São Paulo tel: (11) 2842-9120
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