Jornal Terceiro Olho - Química 2

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RACIAL NO ESPORTE: TRAJETO DESDE O FIM DA ESCRAVATURA À ATUALIDADE “O que você está fazendo ativamente para combater o racismo?”

Essa é uma reflexão presente no livro Pequeno Manual Antirracista da Djamila Ribeiro. Após mais de 130 anos desde a abolição da escravatura no Brasil, a população negra brasileira ainda luta por direitos básicos, inclusive no esporte. Mesmo que o racismo seja considerado crime, atletas são ofendidos por companheiros de equipe, torcida e por dirigentes com frequência no futebol e em outros desportos. Compreender o tamanho da discriminação e como é possível superá-la é confrontar uma ferida que acompanha o país desde a época da colonização. Em 13 de maio de 1888, a princesa Isabel assinou a Lei Áurea, colocando fim à escravidão no Brasil, entretanto isso não foi suficiente para acabar com os preconceitos raciais, prova disso foi a criação da Lei do Amadorismo. Devido à insatisfação da elite branca do Rio de Janeiro com a presença de negros entre os jogadores de futebol, o Diário Oficial Carioca, em 1917, divulgou a lei citada anteriormente, que visava à formação de times sem pessoas negras.

Fonte:Googleimagens por: Eduarda Damasceno, Elian Rangel e Sara Azevedo

Segundo o Observatório da Discriminação Racial no Futebol, as denúncias de racismo no país foram de 20, em 2014, para 43, em 2017. No ano de 2019, considerado o auge, 67 casos relatados.Éperceptível o quanto esse tipo de preconceito é grande no Brasil, e isso não é de hoje somente. Uma forma de proporcionar a superação do racismo dentro do futebol no país é que a Confederação Brasileira de Futebol puna os clubes de forma mais severa, como por exemplo jogos com portões fechados ou até mesmo exclusão do torneio, dessa forma os clubes pensariam em formas ativas de combate e prevenção ao racismo.

Entretanto, mesmo após tantos anos, esse tipo de discriminação perdura até os dias atuais.

Instituto Federal Fluminense campus Itaperuna lho

DISCRIMINAÇÃO

1ª edição: 28/06/2022 1

Duda: O que poderia ser feito para sermos uma sociedade cada vez menos machista e racista? Giovana: Acho que uma das maneiras é tratar desses assuntos, é questionar, procurar o porquê e não nos conformarmos, é fazermos o que vocês estão fazendo. Uma vez li uma fala de uma belíssima escritora, Conceição Evaristo, que dizia "Nossa escrevivência não pode ser lida como histórias para ninar os da casa grande e sim para 2 por: Maria Eduarda Sobreira

ENTREVISTA SOBRE A PRESENÇA DO MACHISMO E DO RACISMO NA LITERATURA BRASILEIRA

Duda: A sociedade influencia o prestígio dos homens? Giovana: Ótimo questionamento, sem dúvidas. O homem por diversas vezes ainda é visto como superior, digo isso sem achismos, é fato. Quando pegamos, por exemplo, um homem e uma mulher que trabalham na mesma empresa, nos mesmos cargos, ainda encontramos uma grande diferença nos seus respectivos salários. Um exemplo claro disso é o esporte, sobretudo o futebol, a maior luta das jogadoras hoje não é dentro de campo, mas sim fora dele, sempre buscando igualdade salarial e, de certa forma, social também.

Giovana: Bom, acredito que isso se deve ao fato de sempre estarmos emaranhados no machismo. Por exemplo: Maria Angélica Ribeiro era escritora e dramaturga, possui obras sensacionais, mas já em sua época a sociedade era extremamente patriarcal, não se aceitava a capacidade feminina de escrever, de ocupar cargos diferentes do que eram estipulados a elas. É insano pensar que muitas escritoras usavam pseudônimos masculinos como a única maneira de terem suas obras lidas. Sendo assim, para mim é evidente que o machismo é uma das principais dentre as dificuldades que mulheres enfrentam que as impede de terem o devido reconhecimento; isso não só na literatura, mas em qualquer outra área, inclusive nos tempos de hoje, infelizmente.

O jornal Terceiro Olho entrevistou uma aluna do 2º ano do curso de eletrotécnica do Instituto. Giovana Camila Henrique, de 17 anos, é bolsista e membro da Academia de Letras IFF campus Itaperuna. Maria Eduarda (Duda): Por que foi tão difícil as mulheres ganharem espaço no meio literário?

Duda: A imagem que a mídia tentou passar de Machado de Assis foi, por muito tempo, como se ele fosse uma pessoa branca. Por que você acha que isso aconteceu? Giovana: Acredito que aconteceu porque ele viveu em uma sociedade escravagista. Infelizmente não se aceitava que uma pessoa negra pudesse ocupar lugar de prestígio, quem dirá como escritor, mas se esqueceram de que estamos tratando de Machado de Assis, o apelidado "Bruxo do Cosme Velho", o homem é um gênio e consegue nos surpreender até hoje. E isso incomodava a sociedade na época, por isso era mais fácil clareálo que reconhecer o seu devido talento enquanto uma pessoa negra.

I U F V C O R A C O R A L I N A O N C U E E I A T T A G A I L É Z A G N E N R U P O E D N T S D H S N I M S T H D A N I E T A H S H I I C R T H I L D L L C S H A A N T A H Y T O R E I E G T I T G E R A S X L F A Y T O U N N E I S W A O D Y L A E U O M A S E R N E H M N L R I G L E B G H S L G F A H M A S A N E N E P D P C H T Y I A E H E D R H O R L E E W O A S E Ã R A M I U G H T U R T T S R D C O N C E I Ç Ã O E V A R I S T O incomodá-los em seus sonhos injustos". Ela questiona e denuncia todo o sofrimento do povo negro desde a escravidão, e porque não questionar?! A escravidão acabou, a época patriarcal também, por que ainda presenciamos ou assistimos a cenas machistas, racistas e preconceituosas? Para mim o principal caminho é não se conformar. Por meio das respostas da entrevistada, é possível notar a enorme presença do machismo e do racismo no meio literário. E, segundo Giovana, a principal forma de combater esses preconceitos é através do questionamento e da desconformidade. Fonte:acervopessoaldaentrevistada 3

CAÇA-PALAVRAS Encontre o nome de 4 mulheres da literatura brasileira, sendo elas: Cora Coralina, Conceição Evaristo, Ruth Guimarães e Zélia Gattai

As obras de Júlia Lopes de Almeida, uma escritora brasileira do período realista, são marcadas por críticas à cultura patriarcal na virada dos séculos XIX e XX, mostrando-se essenciais em meio a um Brasil extremamente sexista e conservador. Em “Os Porcos”, um dos contos da coletânea Ânsia Eterna, não seria diferente. A obra citada conta a história da cabocla Umbelina, que engravida do amante, o filho do dono da fazenda. O pai da protagonista, ao saber da gravidez, enche-lhe de surra e ameaça jogar seu neto como alimento aos porcos, a mãe renega-a, e o homem que a engravidou lhe fecha as portas. Umbelina, tomada por um desejo de vingança pelo abandono, decide levar a gravidez adiante e matar a criança perto da fazenda do amante, para que este sinta a angústia de ver o próprio filho recém-nascido morto; iria, além disso, deixar a criança viver um pouco e fazê-la chorar, com o intuito de que seu pai ouvisse esse choro e o guardasse na memória até o dia de sua morte, como um remorso. Ao entrar em trabalho de parto, Umbelina se dirige à fazenda, mas o bebê nasce no meio do caminho. Sentindo-se fraca e com o corpo esmagado de dores, a roceira consegue apenas prestar os primeiros cuidados ao filho e logo desmaia. Entretanto, ao acordar e um pouco antes de morrer, Umbelina ainda vê, vagamente, um vulto negro carregando um monte de carne nos dentes: era uma porca. Umbelina representa uma mulher em silêncio, anulada e silenciada por reflexos de uma obediência forçada na qual a mulher, em meio a uma comunidade misógina, precisava submeter-se para simplesmente continuar existindo. Os porcos podem ser interpretados como essa sociedade patriarcal marcada pelas atrocidades físicas e morais contra as mulheres, e essa percepção é possível através da forma como esses seres foram descritos no conto, por exemplo: “Os leitões vinham por vezes, barulhentos e às cambalhotas, envolverem-se na sua saia e ela sacudia-os de nojo, batendolhes com os pés [...]”. A leitura provoca angústia, repugnância, nojo, reflexão, e é exatamente isso que Júlia Lopes quer, o objetivo dela, tal como os escritores realistas faziam, é mostrar as “marcas de sangue embaixo do tapete”: nesse caso, a violência contra as mulheres.

AS MARCAS DE SANGUE EMBAIXO DO TAPETE

Verônica Berta, 2018 adaptação do conto Os porcos 4 por: Sara Azevedo

É engraçado como as coisas foram se tornando injustas com o tempo. Verdade que sempre estamos seguindo em frente, mas os passos anteriores não foram apagados. Ganhar um brinquedo o qual você deve montá-lo antes de aproveitá-lo é uma mistura de sentimentos: por mais que você queira muito que aquele encaixe e desencaixe acabe, até que a montagem se torna algo bom. Sendo assim, imagine a seguinte situação: um vizinho abelhudo toma seu brinquedo da sua mão e começa a montá-lo sem nem dizer nada, sem nem mesmo seguir o manual, ele muda tudo fazendo com que não fosse o que era antes, ou o que era para ser algum dia. Muitas vezes essas proporções não são tão pequenas, uma "remodelagem" com base no que um indivíduo arrogante acha que é certo pode tomar dimensões esmagadoras, como um povo ou uma cultura inteira.

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CULTURA?

Onde estão os índios? Onde está a representatividade? Ninguém vê um indígena numa propaganda do McDonald's, da mesma forma que as pessoas mal procuram aprender a tocar instrumentos como o Atabaque ou o pandeiro. Certos caminhos devem ser pisados por nós mesmos para que outros sigam nossos passos. por: Henrique Pereira Ximenes da Silva por: Bruno Ipólito

por: Julio Torres da Silva Mota IFF Itaperuna realiza roda de conversa sobre assédio no ambiente escolar com convidados especiais Nesta última quarta-feira (22), ocorreu, no cineteatro do IFF Itaperuna, uma roda de conversa abordando a seguinte temática: "Assédio escolar: denúncias e estratégias de enfrentamento". Promovido pelo projeto de extensão Filhas da Luta, do Instituto Federal Fluminense Campus Itaperuna, este evento contou com a participação do Centro Integrado de Atendimento às Mulheres (CIAM), OAB vai à escola, OAB Mulher - subseção 11ª Itaperuna/RJ e projeto Mulher Melhor. “Muitas vezes os alunos não sabem que estão cometendo ou sofrendo assédio, contudo, acabam sendo vítimas caladas. O coletivo filhas da luta se dispõe a ajudar essas pessoas.

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Fonte:instagramFilhasdaLuta por: Heloísa Ferraz A roda de conversa abordando a temática do assédio no ambiente escolar é o primeiro passo para a mudança, pois a construção da identidade começa na juventude, sendo imprescindível saber que desde cedo as atitudes geram consequências.” Destaca Júlia Alonso, bolsista do projeto filhas da luta.

"Respeito é bom e eu gosto" é o que todos dizem, mas majoritariamente não produzem para a propagação do respeito. Exemplo e prova disso são as diferentes formas de preconceito e injúria direcionadas à cultura brasileira, provenientes do meio indígena e afrobrasileiro. Esses meios, que são sempre considerados berços de aspectos culturais primitivos e "feios", são, na verdade, palco das mais lindas formas artísticas nacionais, não sendo a toa que, por exemplo, a capoeira se tornou patrimônio cultural imaterial da humanidade pela Unesco. Capoeira como um gênero de dança, luta e esporte vai além de algo simples. De certo que vista por arte corporal, é muito forte e característica em nossa cultura. É no mínimo desolador que esse patrimônio seja rotulado e reduzido pejorativamente como "macumba" e "marginalidade" entre outras desrespeitosas definições.

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Considera-se preciso que haja urgentemente a compreensão do senso comum sobre as manifestações culturais de origem negra no Brasil. É imprescindível o real entendimento de quão admiráveis e importantes são tais costumes, pois representam uma escala enorme de nossa população e nossa história, ligada a cada brasileiro de forma direta ou indireta. A capoeira traz com ela suas histórias passadas de gerações para gerações em formas de cânticos e costumes. Também mostra a força e resiliência da negritude em âmbito nacional, assim como um caminho para a busca da identidade e representatividade do afrodescendente em nossa respectiva sociedade. Foi usado, como embasamento para a formação de tal opinião, o depoimento em relação ao assunto de Jackson Lima. por: Julia Verdan e Leonardo Medeiros

ARTE NEGRA

TODOS QUE CONTRIBUÍRAM PARA QUE O JORNAL TERCEIRO OLHO FOSSE REALIZADO PRODUTORES DE CONTEÚDO: Bruno IsabellaHenriqueHeloísaElianEduardaIpólitoDamascenoRangelFerrazXimenesMaestri-diagramação e site Julia Verdan Julio SaraMariaLeonardoTorresMedeirosEduardaSobreiraAzevedo ENTREVISTADOS: Giovana Camila Jackson Lima Júlia Alonso 8 CONFIRA TAMBÉM O NOSSO SITE! https://sites.google.com/view/terceiro olho/%C3%BAltimas not%C3%ADcias?authuser=0

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