Nosso Campus #16 - Dezembro/Janeiro 2015

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Informativo mensal do Câmpus Salvador Dez/Jan 2014 Ano 3 N° 16

A robótica

como instrumento educacional Estudantes criam empresa júnior Família ganha novas formas e conceitos


Cultura da paz: do individual ao coletivo A contemporaneidade despontou no século XXI com um conjunto extraordinário de fenômenos sociais. O advento da globalização, que facultou a comunicação via internet, por meio de poderosas redes de comunicação de massa, contribuiu para a aglutinação das culturas espalhadas por todo o globo terrestre. Em tempo real, é possível conversar com pessoas de vários pontos do planeta e trocar experiências antes inimagináveis. De um lado, isso contribuiu para facilitar as relações sociais entre as pessoas, aproximando -as de diferentes e inumeráveis formas, como uma espécie de caleidoscópio colorido, em que a tela do computador se transformou num produto atrativo. De fato, comunicar é preciso! No entanto, a produção e o consumo de aparelhos celulares assumiram níveis tão elevados que já não basta a propriedade de um, mas de vários e com diferentes chips. O consumismo desenfreado, “deus” do capitalismo brutal, tornou-se o boom de um tempo em que não se tem tempo para desfrutar do tempo livre de ser. A globalização influenciou essa mudança, no sentido de que as relações humanas, talvez, tenham se caracterizado mais pela busca de respostas imediatistas, diante de alguma nova questão planetária ou emergencial, que pela sabedoria, a qual requer relativa dose de paciência.

Parece que a vida ficou mais prática, porque mais rápidas se tornaram as alternativas de resolução de problemas. Entretanto, no complexo tecido da condição humana, demarcado pela diversidade em múltiplos aspectos, podemos constatar a presença de um fenômeno mundial, que instiga a inteligência a adotar medidas, senão de erradicação, pelo menos, de contenção:

“Urge construirmos uma cultura voltada para o exercício de sociabilidades, em que a paz seja institucionalizada” a violência. A violência figura entre os mais elevados índices de intolerância da convivência social. Seja por meio do discurso ou da agressão física, da violação de direitos ou de crimes cometidos contra a pessoa, a violência protagoniza as manchetes de jornais, ao ponto de, hoje, integrar programas promovidos pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

FOTO: MAURITÂNIA FERNANDES

Com a palavra...

Recordemos, portanto, que o movimento “Cultura da Paz” foi iniciado em 1999, pela Unesco, com o objetivo de prevenir situações ameaçadoras, “como o desrespeito aos direitos humanos, a discriminação, intolerância, exclusão social, pobreza extrema e degradação ambiental”. O texto da Organização associa a cultura da paz à resolução de conflitos, por meio da não violência, utilizando-se a educação, a conscientização e a prevenção, com base nos princípios da tolerância, da solidariedade, do direito à vida, à pluralidade e aos direitos individuais. Nessa concepção, o estado de paz ultrapassa a fronteira do particular e ingressa nos campos político e jurídico, fazendo-se necessária sua garantia constitucional. O fenômeno da violência requer atuação individual e coletiva para a sua desconstrução. Urge construirmos uma cultura voltada para o exercício de sociabilidades, em que a paz seja institucionalizada. Uma cultura possível: a cultura da paz. Sem recusar a complexidade de ser humano e os desafios de lidar com as diferenças, a construção da cultura da paz depende de esforço conjunto para um diálogo sensível e responsável sobre um direito universal: o de viver em paz! Celiana Maria dos Santos Pedagoga

Envie o seu artigo, de 30 a 40 linhas, ou sugestão de pauta para comunicacao_ssa@ifba.edu.br, com nome completo, curso ou setor, além de contatos telefônicos. Serão desconsideradas as produções de caráter político-partidário e/ou religioso, bem como conteúdos preconceituosos e depreciativos a grupos e/ou pessoas. Reitor do IFBA Renato da Anunciação Filho, Diretor Geral do Câmpus Salvador Albertino Nascimento, Chefe da Divisão de Comunicação, jornalista responsável e revisora Andréa Costa - DRT-BA 1962, Reportagem Gabriela Cirqueira, Mauritânia Fernandes e Verusa Pinho, Projeto gráfico Gustavo Pontas, Diagramação Lilian Caldas, Apoio administrativo Valdinice Alcântara, Impressão Grasb | Periodicidade Mensal, Tiragem 1.000 exemplares, Circulação Câmpus Salvador e Reitoria | Endereço Rua Emídio dos Santos, s/n, Barbalho - Salvador/BA, CEP: 40301-015 | Telefone (71) 2102-9509 | Facebook IFBA_Salvador_Oficial | Site www.ifba.edu.br | E-mail comunicacao_ssa@ifba.edu.br

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Canal do Estudante

Jovens empreendedores Prevista para ser inaugurada no primeiro semestre de 2015, a Adminova é a empresa júnior fruto do bacharelado de administração do Câmpus Salvador do IFBA. Com o objetivo de prestar serviços de consultoria, planejamento e gestão, bem como desenvolver projetos para instituições públicas, privadas e organizações não governamentais, a empresa pretende, ainda, fomentar o ensino prático da administração. De acordo com o professor e idealizador da Adminova, André Souza, o projeto está em fase de formação, o que abre espaço para estudantes interessados participarem. “Os alunos têm visitado outras empresas para entender o funcionamento e a dinâmica das atividades, como controle financeiro, plano de negócios, captação de recursos, dentre outros. Estamos elaborando o estatuto e definindo cargos. Nosso maior foco são as pequenas empresas e instituições sem fins lucrativos, que demandam atividades de consultoria. Iniciaremos nossas atividades com instituições do entorno do câmpus e organizações não governamentais que têm carências nas áreas

de gestão e captação de recursos”, ressalta André. O estudante do 5º semestre do bacharelado de administração e presidente do diretório acadêmico, Fábio Neves, pretende usar as atividades da empresa júnior como auxílio em seu estágio na Divisão de Compras do câmpus e na sua formação acadêmica. “Mesmo antes de iniciar seu funcionamento, a Adminova já vem contribuindo para a nossa percepção prática na constituição das atividades empresariais, com um alinhamento entre os aspectos teóricos estudados nas disciplinas”. Além de favorecer a troca de conhecimentos e experiências entre alunos e professores, a empresa júnior possibilitará o aprofundamento para o exercício da profissão. “O grande desafio em nossa estrutura será permitir ao aluno do curso de administração conciliar suas atividades profissionais com o trabalho na empresa. O projeto não prevê uma remuneração financeira, mas um conjunto de atividades para capacitação que os preparem para o mundo do trabalho, a partir de uma vivência prática”, destaca André.

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“Ensino automatizado”

Projeto traz a robótica para o cotidiano escolar

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no-aprendizagem de física”, que integrou a programação da XVII Semana de Física da UEFS, neste ano. De acordo com a professora Andrea Bitencourt, coordenadora do grupo, por meio de projetos de pesquisa e extensão, o GSAM elabora novas perspectivas para diversas áreas da automação, sobretudo a robótica. “Desde 2011, desenvolvemos estudos de modelagem e simulação, controle de processos, automação - incluindo a residencial -, projetos de sistemas mecatrônicos e robótica educacional, com iniciativas que abarcam energias renováveis e tecnologias assistivas. Com grande demanda de profissionais, por conta da crescente diversidade de indústrias do Complexo Industrial de Camaçari, em especial, as de integração de manufatura, como montadoras de automóveis e suas fornecedoras de insumos e acessórios, a robótica contribui com o aperfeiçoamento das habilidades teóricas e práticas dos alunos para atuação no mundo do trabalho”, sinaliza.

Revelando talentos Segundo o ex-bolsista do grupo e atualmente estudante do curso de engenharia elétrica na Universidade de São Paulo (USP), Alexandre Aguiar, que foi premiado no VII Congresso Norte-Nordeste de Pesquisa e Inovação (Connepi), em 2012, com

o trabalho “Desenvolvimento de efetuadores para robô manipulador didático”, escolhido como o melhor da área de engenharia, o ambiente que o GSAM proporciona atrai e motiva os alunos. “Ter seu trabalho reconhecido é extremamente gratificante e elemento motivador para a continuidade dos projetos”, declara. A criação de dispositivos robóticos já superou o limite da sala de aula, levando diversos estudantes a competições em todo o país, como a Olimpíada Brasileira de Robótica (OBR), destinada a crianças e jovens do ensino fundamental, médio ou técnico, de até 19 anos de idade, que pretende estimular carreiras científico-tecnológicas e identificar novos talentos. É o caso do aluno do 4º ano do curso técnico de automação industrial Douglas Ramos, que competiu com joFOTO: GABRIELA CIRQUEIRA

Área de pesquisa relativamente nova, mas em constante crescimento, a robótica vem sendo utilizada, principalmente, em indústrias, como as automobilísticas. No campo da educação, tem se tornado uma importante ferramenta para o ensino, ao possibilitar situações de aprendizagem que estimulam desde a resolução de problemas e do trabalho em equipe à interdisciplinaridade, criatividade e construção de conhecimentos. Nesse contexto, o Grupo de Pesquisa em Sistema de Automação e Mecatrônica (GSAM), do Câmpus Salvador do IFBA, desenvolve projetos na área de robótica educacional, além de participar e promover eventos, como olimpíadas e torneios, com o objetivo de desenvolver habilidades e despertar o interesse dos alunos pela ciência, com ênfase na tecnologia. Dentre os trabalhos realizados, destaca-se o projeto de extensão “A robótica como ferramenta educacional para o ensino de tecnologia”, aprovado pelo edital da Pró-Reitoria de Extensão (Proex) nº 2/2013. Utilizando a robótica como ferramenta didática no ensino fundamental e médio, o grupo já desenvolveu a oficina “Como funciona um robô?”, na XVI Semana de Física da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) e no Colégio Estadual Thales de Azevedo, em Salvador, no ano passado, além da palestra “A utilização da robótica no ensi-

Douglas Ramos, integrante do GSAM, foi finalista nacional na OBR


FOTO: ARQUIVO GSAM

Robô produzido pela equipe Autobot

Torneios de Robótica

vens de todo o Brasil, neste ano, ganhando medalha de bronze, na modalidade teórica de nível cinco (para alunos do ensino médio ou técnico), e, ano passado, também recebeu premiação em nível nacional, quando teve a oportunidade de fazer um minicurso de robótica, que aconteceu na cidade de Fortaleza, no Ceará. “A participação em eventos como a OBR possibilita um contato direto com o mundo da robótica, o que é de imensa valia para a formação dos estudantes, já que meu curso se relaciona diretamente com essa área. À medida que a robótica e a automação avançam, com suas novas técnicas e tecnologias, tais como os robôs, ambas se beneficiam, crescendo juntas, em ritmo exponencial”, destaca. Segundo Douglas, a preparação para a olimpíada requer um estudo plural. “Para a prova teórica, na primeira fase, estudei principalmente matemática, física e os fundamentos elementares da robótica, com foco na interdisciplinaridade entre essas áreas. A

zadas por robôs aptos a superar terrenos hostis, atravessar áreas desconhecidas, desviar de obstáculos e subir rampas. As regras da competição foram baseadas e adaptadas da modalidade prática da Olimpíada Brasileira de Robótica (OBR), que, neste ano, premiou 11 estudantes do câmpus na modalidade teórica, categoria nacional, além da equipe Autobot, que ficou em 3º lugar na etapa regional da modalidade prática. fase final consistiu na construção e programação de um robô. Para isso, contei com o minicurso oferecido pelo evento e, primordialmente, com os conhecimentos do

Premiação O projeto “Casa automatizada”, de autoria das estudantes do 2º ano de automação industrial e integrantes do GSAM, Ana Carolina Silva, Lara Pinheiro, Larissa Assis, Hosana Lima e Vivian Barcelos, conquistou o 3º lugar, no 5º Encontro de Jovens Cientistas (EJC), evento realizado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), de 30 de setembro a 3 de outubro deste ano. O trabalho havia sido aprovado na categoria

“Gabinete de curiosidades científicas (experimentos)”, ao lado do “Robô seguidor de linha”, de autoria dos alunos Gabriel Julião, Caléo Meneses e Márcio Almeida. Ambos foram orientados pelos docentes Andrea Bitencourt e Justino Medeiros. Cerca de 500 pessoas, dentre estudantes, professores orientadores e ouvintes de instituições públicas e privadas de todo o país participaram no evento. FOTO: ARQUIVO PESSOAL

Em outubro deste ano, durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, o GSAM realizou “I Torneio de Robótica do Câmpus Salvador do IFBA (RoboIFBA)”. Aberto ao público, o evento teve a missão de estimular o interesse pela robótica, por meio da criatividade e da resolução de problemas em equipe. O desafio consistiu em simular um ambiente de desastre, com risco para o ser humano, no qual algumas tarefas precisavam ser reali-

GSAM, do qual sou membro”. Ao lado dos colegas Beatriz Cerqueira, Caléo Meneses, Frank Smera, Hugo Thomás Mendes, Lorenna Vilas Boas, Márcio Vinícius Almeida e Nathália Martins, integrantes do grupo, Douglas participou da etapa regional da modalidade prática da OBR 2014 e conquistou medalha de bronze com a equipe Autobot, que, em 2013, esteve no torneio de robótica da First Lego League (FLL) e levou o prêmio de estrela iniciante. Com o desafio “Fúria da Natureza”, a competição propunha soluções inovadoras para prevenir ou reduzir os danos de desastres naturais, como tornados, avalanches, tempestades, enchentes e deslizamentos de terra. Os responsáveis pela orientação dos jovens foram os docentes Andrea Bitencourt e Justino Medeiros.

Equipe que conquistou o 3º lugar no EJC 2014

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Espaço do Servidor

FOTO: GABRIELA MALAQUIAS

Apesar de serem nossos hermanos, os peruanos têm peculiaridades culturais que não encontramos por aqui. Além de neve e deserto, o idioma, a gastronomia, a indumentária e a aparência dos nativos - com fortes traços indígenas -, ora aproxima, ora distancia o Peru do Brasil. Todavia, as diferenças não impediram Milton Elvis Zevallos de escolher nosso país como sua segunda casa, ou melhor, sua residência definitiva. No Câmpus Salvador do IFBA, além de professor, ele é o atual coordenador de eletrotécnica e líder do Grupo de Pesquisa no Desempenho dos Sistemas Elétricos de Potência. “Sou professor de eletrotécnica desde outubro de 2010. Como eletricista, formado no Peru, também em um instituto técnico, trabalhei por quase dois anos na área e decidi cursar engenharia elétrica. Vim ao Brasil para fazer um curso de pós-graduação e decidi me candidatar para o concurso de professor, a fim de trabalhar com pesquisa e formar novos profissionais”, descreve.

Da América do Sul também veio o professor do curso superior de radiologia Guillermo López. Casado com uma baiana, o argentino garante que a rivalidade histórica entre o Brasil e seu país está apenas no futebol. “Temos paixões muito similares, até mesmo por esse esporte, popular em ambos os países. Gostamos de estar com a família nos finais de semana e de expressões culturais, como cinema e outras artes - peculiares em cada local. Nossa principal diferença está na alimentação, consumimos muita carne”, brinca. A opinião é compartilhada pelo colega Milton Zevallos. “Assim como os brasileiros, nós, peruanos, também somos um povo com muitas crenças e comemorações religiosas, além de gostarmos de comida apimentada. Nossa principal diferença está no modelo educacional: no Peru, não existe uma relação tão próxima entre professor e aluno, como percebi aqui”. Outra característica importante que se manifesta no contato com os estudantes é o idioma, mesmo com a similaridade entre as línguas portuguesa e espanhola. “A comunicação foi o primeiro desafio ao chegar ao Brasil, na tentativa de expressar minhas ideias”, destaca Milton. Para Guillermo, o dia a dia em sala de aula é o que facilita o entendimento entre professores e alunos. “Estudei português, durante três anos, na Universidade de Buenos Aires, no entanto, ainda tenho que faMilton destaca a comida apimentada e a diversidade cultural como aspectos semelhantes entre o Peru e o Brasil

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FOTO: GABRIELA CIRQUEIRA

O desafio de ser professor estrangeiro no Brasil

Guillermo pretende ficar em solo brasileiro e acredita que ainda há muitos progressos para alcançar

lar de forma pausada na sala de aula. Só à medida que criamos vínculo, eles se acostumam com o meu sotaque”. Desde 2010, como professor do IFBA, Guillermo é o responsável técnico pelo Laboratório de Física Radiológica (Lafir) e realiza doutorado no Programa de Pós-Graduação no Instituto de Ciências da Saúde (ICS) da Universidade Federal da Bahia (UFBA). “Pretendo ficar aqui, onde me estabeleci com minha família. Os desafios foram muitos e são muitos os progressos a alcançar. Mas não superam os benefícios de trabalhar na área que gosto, ter muitos amigos e conhecer cada vez mais este país maravilhoso, que me brindou com muitas oportunidades, as quais sou eternamente grato”, conclui.


Cultural

“Família, êh! Família, ah! Família!” O refrão da música de Nando Reis, que ficou famosa com a banda Titãs e como abertura do programa televisivo Malhação, apresenta um tema muito recorrente no período natalino: o ser e estar em família. Proveniente do latim, a etimologia da palavra refere-se a um conjunto de indivíduos, em geral, ligados por laços de parentesco, que vivem sob o mesmo teto, bem como a um grupo de pessoas unidas por convicções e interesses comuns. Com as mudanças advindas desde o princípio da industrialização, a sociedade contemporânea apresenta uma diversidade de conceitos ligados à família. Se antes os homens eram os únicos responsáveis pela renda da casa, hoje as mulheres dividem em igual ou, até mesmo, em maior parte essa tarefa; filhos não apenas biológicos, mas, adotivos, integram os lares brasileiros e de tantos outros países; além dos núcleos tradicionais (constituídos por pais e filhos), as famílias também podem ser compostas por casais do mesmo sexo (que decidem ou não adotar uma criança); por amigos que, durante um tempo, moram juntos; por uma mãe solteira e seu filho; por avós e netos, en-

fim, a essência de união e fraternidade é o ponto em comum de todas essas variações. “A família não é estática. A mudança começa quando a mulher passa a desempenhar um papel importante na sociedade, não só o de mãe. Com a consolidação da cidadania feminina, há uma inserção no mercado de trabalho, mesmo que de forma precarizada. Essa é uma vertente de relevância, já que, muitas vezes, as mulheres são provedoras do lar, o que demonstra que não vivemos mais em uma sociedade marcada pelo poder do homem”, declara o professor e chefe do Departamento Acadêmico de Sociologia, Psicologia e Pedagogia do Câmpus Salvador do IFBA, Sinval Araújo. Do ponto de vista sociológico, família não é apenas uma constituição da natureza, no sentido da reprodução, mas uma construção social. É o que afirma o docente: “Há uma crise no cenário religioso, nas instituições de ensino, no contexto político e em todo o mundo. As famílias, sejam elas quais forem, estão ganhando espaço na mídia, porque a mudança é perceptível. No IFBA, ensinamos os alunos a respeitarem as “Ela está nos apresentando um mundo novo e nós estamos ajudando a construir o mundinho dela!”

FOTOS: ARQUIVO

diferenças e a entenderem que existem várias formas de relacionamento e amor, como os casais homossexuais”, comenta Sinval. Nesse contexto, está tramitando, no Congresso Nacional, um projeto de lei do Senado Federal que propõe o “Estatuto das Famílias”, o PLS nº 470/2013, que pretende revogar parte do Código Civil Brasileiro, além de estabelecer novas regras. Ao contrário do referido código, que compreende as questões familiares a partir do casamento entre homem e mulher, o estatuto protege a família em qualquer de suas modalidades, reconhecendo, inclusive, laços de parentesco gerados pela socioafetividade - enteado(a) e padrasto/madrasta -, bem como relações homoafetivas. Há um ano, a professora Micheli Venturini, chefe do Departamento de Educação Física do câmpus, adotou uma menina de dois anos de idade, ao lado de sua companheira, Regina Sandra Marchesi. Juntas há 13 anos, elas queriam uma criança, preparando-se no âmbito emocional e financeiro. O primeiro passo foi a inscrição no Cadastro Nacional de Adoção (CNA). “Contamos com o apoio de nossas famílias e, quando ficamos sabendo a história da Ana, resolvemos as questões legais e fomos ao Ceará, terra natal dela. Assim que o juiz concedeu a guarda, trouxemos a Ana e não nos afastamos mais. Hoje estamos adaptadas, convivemos bem com o ambiente escolar, onde fomos bem recebidas. A diretora até quis saber de que forma gostaríamos de ser tratadas, e respondemos: apenas ‘como uma família’! Por coincidência, o primeiro projeto da escola foi sobre esse assunto”, relata Micheli. A respeito do tema, Regina ressalta que hoje se dá muita importância às

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Cultural diferentes formas de construção familiar. “Isso não é algo recente, mas está sendo reconhecido agora. As pessoas devem tirar essa máscara de hipocrisia”, pontua. Para Micheli, o preconceito existe porque a sociedade ainda não aprendeu a conviver com essa questão. “Aninha carrega marcas fortes, consideradas rótulos na sociedade, como ser negra, adotada e criada por duas mulheres brancas. Queremos que ela aprenda a conviver com a sua história. Recentemente, criamos uma história em quadrinhos para ilustrar a nossa família, contando como era antes da chegada dela e a importância que tem em nossas vidas”, relembra. De acordo com a professora, o fato de ter conseguido batizar Ana Patrícia na Igreja Católica, com certidão de nascimento em nome de duas mães, foi uma conquista significativa. “A igreja é um espaço ainda restrito, mas fomos muito bem tratadas pelo padre. Nossa família veio do Espírito Santo para participar, em meados de outubro deste ano. Foi uma preparação para o Natal, que, para nós, não é uma simbologia, mas um fato, momento de reafirmar o nosso compromisso familiar. Ela nos apresentou um mundo novo e nós estamos ajudando a construir o mundinho dela”, finaliza.

Educação começa em casa? Para a assistente social do Câmpus Salvador do IFBA Heide Damasceno, a presença da família na escola é uma parceria necessária à educação. “A família é vista como a base do grupo social. Nos dias atuais, ela tem se tornado cada vez mais complexa. Quando alguém questiona o que é família, é muito difícil apresentar um conceito pronto e acabado. É nesse grupo que toda pessoa deveria crescer e se desenvolver, aprendendo o convívio social respeitoso. Ao longo da história, a família tem sofrido mudanças estruturais, alterando rela8

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ções e, até mesmo, a sua composição. Temos o núcleo predominante (formado por pai, mãe e filhos), bem como os ‘novos’ arranjos familiares (relações baseadas no cuidado e afeto, não em laços de sangue). Nesse sentido, só podemos definir o que é família, quando perguntarmos: o que é família para você? Qual é a sua família?”, explica. A estagiária da Coordenação de Atenção ao Estudante (CAE), Andressa Passos, complementa a informação ao citar, dentre as diversas composições familiares, as reconstituídas depois do divórcio. “O IFBA é uma escola que nos apresenta toda essa diversidade. No caso dos estudantes dos cursos integrados, que são majoritariamente adolescentes, é fundamental o envolvimento da família no processo de ensino e aprendizagem. Os responsáveis pelos estudantes, sejam eles pais, tios, avós, genitores biológicos ou adotivos, devem participar tanto da vida acadêmica quanto politicamente das decisões da instituição. Os espaços para isso têm sido garantidos nas reuniões gerais com

os responsáveis, nos plantões pedagógicos e atendimentos dos diversos profissionais da Diretoria Adjunta Pedagógica e de Atenção ao Estudante, no Conselho do Câmpus (recentemente criado) e na Associação de Pais e Responsáveis dos Estudantes do IFBA”, ressalta. Nesse sentido, desde agosto deste ano, profissionais do Serviço Social criaram o projeto “Ciclo de debates com famílias”. Abraçado pela Associação de Pais e Responsáveis, os encontros discutem temas escolhidos em reunião, como diversidade sexual e étnico-racial, adolescência e relações familiares, evasão escolar e repetência, segurança e mobilidade. Segundo o jovem Matheus Lima, aluno do 1° ano do curso técnico de química e bolsista do Programa de Assistência e Apoio ao Estudante (Paae), família é a base de tudo. “Do meu ponto de vista, educação começa em casa, mas é preciso que exista uma relação de responsabilidade das duas partes”, diz. Para este Natal, o estudante deixa uma mensagem: “Não dê presente, dê amor”!

2014-2015 Mensagem de fim de ano

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o o a o ano novo trazem consig par em sag pas a e o alin O período nat a o alcance das revigorando pensamentos par aprofundamento da reflexão, Para o Câmpus amento de outras realizações. nej pla o e s ida lec abe est tas me endizados tar no outro, compartilhar apr edi acr é car edu A, IFB do r ovamos Salvado espírito da coletividade, ren o pel s do tiva Mo s. ista qu e dividir con ssa comunidade, de com cada integrante da no os laços de parceria e amiza democrático e um câmpus cada vez mais uir str con s mo ssa po e qu a par 2015 de muitas vitórias! sustentável. Feliz Natal e um

Albertino Nascimento lvador Diretor Geral do Câmpus Sa


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