Revista amigos do alecrim

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AMIGOS DO

AlECRIM EDIÇÃO COMEMORATIVA | NATAL/RN | JUNHO 2015

Um bairro

o d a i c n d i fe r e

Os segredos do comércio que é o berço econômico de Natal

E as diversas fases do bairro contadas por quem construiu essa rica história EDIÇÃO ESPECIAL | Amigos do Alecrim | NATAL/2015 | 1


Depoimentos

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Depoimentos

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Depoimentos

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EDITORIAL

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Um bairro, mil histórias...

Superação: a garra de um grande homem

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Carreira: o berço de uma história de sucesso

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História: a união como alicerce de um negócio familiar de sucesso

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Educação: tradição de mãos dadas com o presente e futuro

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Empreender: como ir do campo para o sucesso

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Qualidade: o sorvete potiguar que virou referência nacional

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Primeiramente, gostaria de agradecer a Deus e minha família por mais um trabalho concluído. Aos patrocinadores, pois sem eles este projeto jamais seria viabilizado. Aos meus queridos amigos, Maurifran Galvão (Faça Comunicação) e Fábio Henrique (Comercial), além de toda brilhante equipe da Ideia Comunicação, que estiveram comigo no desenvolvimento e criação desta edição. Aos ilustres colaboradores Zenaíde Castro, Edmo Sinedino e Rubens Lemos Filho, o meu reconhecimento. A Revista Amigos do Alecrim tem como finalidade relatar histórias dos moradores do bairro, a importância do comércio local para a sociedade potiguar e a inserção da região no roteiro cultural e gastronômico da cidade. Nas páginas a seguir, você conhecerá histórias de sucesso, que hoje parecem fáceis, mas que revelam trajetórias repletas de dificuldades. Vamos mostrar como um dos bairros mais antigos da capital continuou a crescer ao longo dos anos, rompendo a importância de suas igrejas, feira e cemitério, para se transformar no berço econômico de Natal. As famílias que viveram e ainda vivem por lá e construíram uma relação de amor com o Alecrim. Relatar cada uma dessas histórias para mim é muito mais do que orgulho, é uma honra. Escutar as dificuldades e, principalmente, as superações de vários empresários que hoje são verdadeiros cases de sucesso me faz vislumbrar um futuro cada vez mais promissor. Aos mais jovens, fica uma única mensagem: nunca desista dos seus sonhos. Isso porque, cada um dos personagens que estão nesta revista passou por momentos difíceis, mas souberam fazer a diferença e crescer em meio à crise. Que aprendamos fazer cada dia melhor, como eles fizeram. Uma boa leitura.

Fernando Quintiliano

Ensino: a educação como uma obra de vida

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Esporte: o eterno Alecrim Futebol Clube

DIRETOR Fernando Quintiliano - fernandoquintiliano@bol.com.br - 84 99101 1000 | Comercial Fernando Quintiliano e Fábio Henrique | TEXTOS Felipe Araújo e Bethise Cabral | EDIÇÃO Ideia Comunicação 84 3206 5815 FOTOS E CAPA Maurifran Galvão | Arquivo Pessoal dos entrevistados | COLABORADORES Edmo Sinedino, Rubens Lemos Filho e Zenaide Castro | DIAGRAMAÇÃO E PROJETO Faça! Comunicação e Design 84 3086 4815 | GRAFICA Unigráfica | tiragem 10.000 exemplares EDIÇÃO ESPECIAL | Amigos do Alecrim | NATAL/2015 | 5


Dinheiro

m i r c e Al

O bolso do

Augusto Vaz, Presidente do CDL

Ruas movimentadas, feiras, lojas de todos os tipos e dinheiro. Muito dinheiro. O Alecrim pode ser visto por uns como apenas mais um bairro popular de Natal, mas muitas dessas pessoas não imaginam a quantidade de capital que é movimentado nas ruas do bairro. De acordo com dados da Prefeitura de Natal, o mercado do Alecrim é tão dinâmico que já representa, em média, 74,4% de presença do comércio varejista de toda a capital. Ou seja,

mais da metade de todo o mercado de varejo localizado na cidade está concentrado unicamente no bairro do Alecrim. Essa realidade não é difícil de ser observada. Basta dar um giro pelo bairro, que a olho nu, vai ser possível identificar a quantidade de pessoas que trabalham, compram e visitam as ruas do Alecrim todos os dias. O bairro respira comércio e muitas famílias sobrevivem, principalmente, dele. De acordo com Antônio Augusto Medeiros Carvalho, presidente da Câmara de Lojistas de Natal (CDL) de Natal, a representatividade que o bairro tem para o mercado potiguar é tamanha que faz dele um dos principais centros de vendas da cidade, contendo uma média de seis mil estabelecimentos de comércio. “Trata-se de um local promissor, tanto para conseguir emprego, como para empreender, já que se pode vender e comprar de tudo. Além disso, o bairro recebe uma quantidade significativa de visitantes todos os dias”, aponta o presidente. Outro fator que tem feito do Alecrim um local próspero para os que procuram emprego é a grande quantidade de microempresas reunidas no local - segmento que tem se destacado com ênfase no mercado de trabalho por oferecer uma boa quantidade de vagas de emprego. Para conseguir inserção nesse mercado dinâmico e agitado, basta passear pelas ruas e espalhar o currículo, já que em muitas vias de acesso, até as menos movimentadas, têm seus metros quadrados ocupadas por lojas de roupas, oficinas, tendas, camelódromos, entre outros estabelecimentos. O presidente também afirma que, mesmo com tanta oferta de produtos e serviços, empreender no Alecrim ainda é um passo a ser encorajado. “A área tem suas vantagens. Mesmo que muitas lojas optem pelos grandes centros comerciais privados, como os shoppings, o Alecrim nun-

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Variedades e preferências

As ruas do Alecrim oferecem de tudo e mais um pouco. Do lado de uma loja de artigos para animais domésticos é possível encontrar um estabelecimento apertado onde se vendem mochilas de colégio. Mais adiante, encontra-se a feira do Alecrim, uma das mais movimentadas do bairro, na qual se vende peixe, carne e verdura. Em outra rua é possível comprar livros antigos em um sebo e ao mesmo tempo fazer um lanche rápido. Ainda com toda essa variedade, é possível perceber os tipos de comércio que se destacam. Segundo Antônio Augusto, um deles é o de vestuário. “No bairro nós temos várias lojas que oferecem muita coisa, como tecidos, descartáveis, eletrônicos, entre outros. Mas um setor que podemos destacar é o de vestuário, já que é possível encontrar diversos estabelecimentos do ramo em todo o Alecrim. Entre outros segmentos, o mercado de roupas tem, sem dúvida, seu destaque no bairro”, afirma o presidente.

ca perde o posto, devido a uma série de fatores, como localização e movimentação de pedestres e carros pelo bairro. Todavia, para empreender no Alecrim é preciso que se faça um estudo prévio sobre o tipo de público que visita o local, para que se escolha o tipo de produto certo a ser comercializado, bem como o preço cobrado por eles”, relata Antônio Augusto.



Ponto de encontro

Uma praçao de

t ra di ç ã

Dividindo a movimentada Rua Amaro Barreto, no Alecrim, a Praça Gentil Ferreira revela-se como um importante ponto histórico da capital potiguar. Em meio ao tumultuado tráfego de pessoas e veículos, numa paisagem onde o comércio é a estrela principal, muitos aproveitam o lugar para descansar ou apenas fazer amigos. Neste cenário, a Praça tornou-se um ponto de encontro que reúne várias gerações. Logo ao chegar à Praça, a energia típica do Alecrim pulsa nas calçadas. “Aleluia irmão, aleluia!”, grita com todo o ar dos pulmões um pastor em meio a uma pregação pública. Mais à frente, dividindo espaço com diferentes carrinhos de comida,

algumas pessoas esperam seus ônibus na calçada. Quem passa pelo local, mal sabe que aquele espaço já foi um dos principais pontos econômicos do bairro do Alecrim, sendo referência e fonte de renda para inúmeras famílias e profissionais. Um deles é o comerciante Nelson de Almeida. Natural de Parelhas (RN), todos os dias Nelson vai à Praça vender água de coco e, assim, conseguir seu sustento. “Há quatro anos eu trabalho como vendedor nesse local. Em minha vida já trabalhei muito, inclusive como caminhoneiro. É um trabalho tranquilo, apesar de muitas vezes ser desgastante”, explica o comerciante enquanto entrega um coco gelado

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Nelson de Almeida, comerciante


História a um comprador da rua. Assim como Nelson, várias pessoas trabalham na Praça todos os dias. Lá, a diversidade de produtos encontrados é sempre um diferencial, sendo possível encontrar desde lanches, a aparelhos eletrônicos. Mas nem sempre o que movia os visitantes eram o dinheiro e as compras. No início de sua história, a Praça era conhecida como um local onde tudo acontecia. As notícias da cidade eram aguardadas ansiosamente pelas pessoas que esperavam a tiragem do antigo Diário de Natal – nesta época, o jornal circulava somente à tarde. Atualmente, ainda há aqueles que preservam essa tradição, mesmo que o movimento dos carros e dos pedestres cubra o ar de agitação. Próximo ao relógio é possível encontrar diversos deles, sentados e reunidos para simplesmente contemplar o dia e falar sobre a vida. Eles se conhecem pelo nome e sabem as histórias de cada um - como bons amigos de longa data. O aposentado Sebastião Lima faz parte do grupo e fala com carinho desses momentos. “Todos os dias eu me reúno aqui com o pessoal. Gosto muito desse lugar porque sempre estamos conversando e compartilhando bons momentos com pessoas que conhecemos”, relata Sebastião ao lado da animada roda de amigos.

O nome da Praça surgiu devido à homenagem que ela presta ao professor e engenheiro Gentil Ferreira, que fora três vezes prefeito de Natal. O lugar também é conhecido como a Praça do Relógio. Isso porque, em 1966, o Rotary Club presenteou o espaço com um imponente relógio. A ideia do clube era prestar serviço aos cidadãos potiguares – naquela época nem todos os moradores do bairro popular tinham condições de comprar um relógio. Em 2011, a peça foi substituída por um relógio mais moderno, que ainda hoje informa as horas para vários potiguares que por ali passam.

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Base Naval

Orgulho para

r a m m alé

Na Rua Sílvio Pélico, no bairro do Alecrim, um contraste ganha ênfase. Em meio às ruas movimentadas e ruidosas da região, por trás dos extensos e característicos muros brancos, o que mais se destaca é o silêncio, a ordem e a organização. Instituição fundada em 1941, a Base Naval de Natal sempre foi respeitada e bem quista pelos potiguares, principalmente por aqueles que buscam seguir o sonho de ingressar na carreira militar e servir à

Marinha do Brasil. Trata-se de mais um personagem da longa história do Alecrim – que acompanhou o crescimento e desenvolvimento do bairro – e que ainda traz representatividade para a capital potiguar e para todo o país. A história da Base Naval é antiga. Em sete de setembro de 1922 foi publicado o Decreto Presidencial nº 15.672, que considerava a importância de se ter uma defesa marítima em localização estrategicamente

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privilegiada e que oferecesse aos navios militares apoio técnico, como reabastecimento de munições e combustíveis. Entretanto, foi somente em meio à Segunda Guerra Mundial que a Base Naval de Natal fora construída. “Toda essa área já pertencia à Marinha do Brasil. No início do século XX, funcionava neste espaço a antiga Escola de Aprendizes Marinheiros do Rio Grande do Norte e parte do terreno estava arrendada para os tanques de combustíveis


Comandante Rodolfo Góis de Almeida

da Prefeitura Municipal e para o hangar de manutenção das aeronaves da Air France. Com a Segunda Guerra Mundial, foram construídas as oficinas e instalações da Base Naval com o propósito de servir ao apoio logístico e manutenção dos navios brasileiros da Força Naval do Nordeste e norte-americanos da Quarta Esquadra que operaram no Atlântico Sul a partir do Recife”, conta o atual Comandante da Base Naval de Natal, Capitão-de-Mar-e-Guerra Rodolfo Gois de Almeida. Segundo ele, o histórico conflito teve grande influência para a construção da base naval, pois para as forças aliadas era primordial ter um ponto estratégico próximo ao continente africano e à Europa. Ao

mesmo tempo, para o país, a construção de uma base naval no Nordeste também foi de grande utilidade, e ainda é. O Comandante explica que o complexo da Base Naval de Natal conta hoje com mais de duas mil pessoas trabalhando. Esse número compreende, tanto os ocupantes de postos elevados, como aqueles que ainda estão iniciando a carreira na Marinha. “Muitos militares e civis da Marinha trabalham e vivem no Alecrim. Além de toda a estrutura da Base Naval, aqui no bairro temos cerca de 500 imóveis funcionais ocupados pelos militares e suas famílias. Neste contexto, é fácil constatar o importante papel da Base Naval na vida e na economia do bairro, bem como no oferecimento de oportunidades de carreiras”, relata o Comandante. Hoje, os interessados em seguir a carreira militar devem seguir um longo trajeto. “Existem várias formas e oportunidades para que se consiga entrar na Marinha do Brasil, mas sempre digo que devemos ‘cantar a pedra’, ou seja, arriscar, tentar e ter fé. Para o ingresso na carreira marinheira, existem diversos concursos públicos, que hoje têm sido cada vez mais divulgados. O das Escolas de Aprendizes Marinheiros, do Colégio Naval e o da Escola Naval, são alguns deles, contudo, qualquer que seja a ‘porta de entrada’, sempre é preciso ter garra e perseverança para que se alcance e

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Vista aérea Base Naval de Natal

realize o tão esperado sonho”, enfatiza o Comandante Rodolfo. Apesar dos tempos de guerra terem passado o trabalho não acaba na Base Naval. Em meio à ordem são perceptíveis pessoas apressadas e cheia de afazeres. “A nossa missão principal é realizar a manutenção dos oito Navios-Patrulha sediados em Natal; manter os equipamentos industriais - dentre os quais se destaca o Dique Flutuante Cidade do Natal, construído nos EUA há 71 anos e que até hoje auxilia o serviço

de manutenção dos navios – em pleno funcionamento; e adestrar militares para cumprirem as suas diversas tarefas em toda a jurisdição do Comando do 3º Distrito Naval que compreende os estados do RN, CE, PE, PB e AL. Dentre estas, são notáveis as operações de Patrulha Naval realizadas em uma área marítima que corresponde a 40% de todas as Águas Jurisdicionais Brasileiras, comumente conhecidas como ‘Amazônia Azul’; e as ações de Socorro e Salvamento realizadas em área oceânica cujo

Dique Flutuante Cidade do Natal 12 | EDIÇÃO ESPECIAL | Amigos do Alecrim | NATAL/2015

ponto mais distante pode chegar a 1.200 milhas náuticas (cerca de 2200 km) de Natal, cuja responsabilidade advém de convenção internacional da qual o país é signatário”, informa o Comandante. Além disso, dentre as atividades secundárias realizadas pela Base Naval, destacam-se a manutenção e o guarnecimento da Estação Científica do Arquipélago de São Pedro e São Paulo e a formação militar-naval de cerca de quatrocentos novos marinheiros-recrutas, anualmente.


EDIÇÃO ESPECIAL | Amigos AMIGOS do Alecrim DA CIDADE | NATAL/2015 ALTA | 13


HenriEtte Cortez

Comércio

Olha a Feira do Alecrim

! e t n e g aí

Ao andar pela Rua Presidente Bandeira, também conhecida como Avenida 2, é possível encontrar de tudo. A via movimentada por carros e pedestres conta com uma infinidade de lojas. A versatilidade é a principal característica do local. Na Avenida é possível encontrar desde produtos eletrônicos a carrinhos de lanche funcionando em total harmonia. Nas calçadas, diversos objetos, como bolsas, vestidos e bonés disputam o espaço com aqueles que transitam pelo local. Tantas ofertas de produtos, no entanto, não conseguem minimizar o sucesso do que é comercializado um pouco mais à frente, quando se entra na Rua dos Cai-

cós, antiga Avenida 7. Sob barracas de lona branca, vendedores, compradores, visitantes, moradores e até animais fazem permanecer viva e ativa a Feira do Alecrim - uma das mais antigas da capital potiguar. Nem parece que o calor e o barulho são problemas para as pessoas que ali passam todo sábado. Fonte de renda para muitas famílias, o local é uma verdadeira mistura de cores, produtos e rostos. Em meio a essa atmosfera está o vendedor Pedro Sousa de Freitas. O comerciante olha para os visitantes com olhos de quem espera e, ao mesmo tempo oferece, abordando eventualmente algumas pessoas com um simples “Quer comprar

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Pedro Sousa de Freitas, feirante


Oficialização macaxeira?”. Pedro atua como feirante há mais de 20 anos, atividade que herdou do pai. Em sua banca, os clientes podem comprar macaxeira e banana, mas o vendedor alega já ter comercializado outros tipos de produto, como feijão, batata e milho. Quando questionado sobre o que ele acha de sua profissão, ele afirma ser um negócio rentável. “Trabalhando nesse ramo, consigo lucrar mais do que um salário mínimo. É um serviço que gosto, já que conseguir um emprego hoje em dia está difícil e aqui eu conheço todo o pessoal que trabalha e compra. Não penso em largar tudo isso”, explica Pedro. A Feira do Alecrim existe há 95 anos. Sua primeira edição aconteceu em 18 de julho de 1920, um dia de domingo, organizada pelo paraibano José Francisco dos Santos. Ao longo de sua história, o local foi se adaptando e se aperfeiço-

ando, de modo que seus comerciantes conquistassem direitos e garantias de um trabalhador digno. A Feira se apresenta como um verdadeiro comércio, onde é possível encontrar vários tipos de alimentos. Ao lado de uma banca que só vende frutas e legumes, por exemplo, é possível encontrar pilhas de peixes. Mais à frente, o cliente pode comprar diferentes grãos. Atraída pelas variedades e preços baixos, a dona de casa Benita Silva Santos se desloca quase sempre do bairro Neópolis, zona sul de Natal, a procura de bons preços de pescado na Feira do Alecrim. “Em frente à minha casa existe um comércio de peixes, mas visito a Feira no intuito de comparar preços. Minha escolha se deu pelas variedades e pela fama que a Feira tem de ser um lugar acessível que oferece muitos produtos diferentes”, relata Benita.

Desde 1930, os comerciantes da Feira do Alecrim são tidos como profissionais que contribuem para a tributação do município. Em 12 de junho de 1958, o espaço recebeu uma placa de bronze, no atual número 1297, da Avenida Coronel Estevam, o que atesta oficialmente a realização da feira. Em março de 2007, o comércio também passou por um processo de padronização e organização promovido pela Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (Semsur). Com esse trabalho, comerciantes e visitantes do espaço conquistaram uma série de benefícios, como banheiros químicos, lixeiras, guardas municipais que zelam pela segurança do local e também garis, para cuidar da limpeza. As bancas que compõem a Feira também foram padronizadas, no intuito facilitar o acesso das pessoas e otimizar ainda mais esse comércio, que hoje é tido como o mais popular da capital potiguar.

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Feira do povo Por Rubens Lemos Filho

Me pediram, por amizade e afeto, para escolher o espaço mais democrático de Natal. Era para uma tarefa acadêmica. Não minha. Escolhi o lugar que vai ficando, sorrateiro e incandescente, na cidade e nas almas que se verticalizam: no quilo, no grito, no sol. É na Feira do Alecrim que se expõe a paisagem humana de Natal. Canto ecumênico. Ricos, pobres, pretos, brancos, gordos, magros, homens potentados, patuscas mulheres. O ato de amanhecer o dia entre barracas, sentindo o cheiro das carnes, molhos, aves, peixes e frutas, tenras, macias, podres, não distingue classe social. Nem exige diploma. É o dever cumprido com a face mais genuína das cidades. O sábado renova seu velho rosto na hora em que a madrugada se despede. O

galo canta, o Alecrim se levanta e dispara o movimento incessante de gente, carros de mão, facões amolados cintilando, vendedores berrando como se a sobrevivência acabasse ali. Acaba para renascer, esperança, sete dias depois. Vai à Feira do Alecrim quem tem carro importado, quem tem carro pequeno, quem nem carro tem. São dezenas, centenas de donas Xepas, de saia ou de bermudas e suor pingando, a discursar recebendo o dinheiro trocado ou as notas graúdas dos que não economizam e trocam o luxo dos shoppings, hipermercados, pela magia que só a feira tem. Que só a feira do Alecrim esbanja. Feira do Alecrim da pechincha, dos cachaceiros retardatários quando as

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lonas e barracas vão sendo desarmadas, abrindo a larga avenida ao toque frio das buzinas e automóveis. O barulho de uma feira, o seu tumulto, o corre-corre, formam um painel muito mais natural do que sociológico. Os que vão à feira aprenderam com os pais, que acompanhavam os avós dos seus filhos, que carregam seus rebentos pelas mão, à paga de um caldo de cana, de um pão doce ou de um pastel requentado de queijo. Cana tomada em feira é a dor dos derrotados na vida, imperadores do território onde o preço é o que vale, e o que menos importa. Para se conhecer Natal, a verdadeira, é preciso ser guiado pela Feira do Alecrim. Antiga, decadente, brilhante quando o sábado acorda para alegrar o que resta na semana.


SUPERAÇÃO

A garra de um grande

m e m o h

Dr. Paulo Xavier Trindade

Apesar de rico em história, na cultura popular e no comércio, um dos maiores tesouros do Alecrim se encontra nas pessoas que ali vivem. O trabalho duro e a superação são os pilares para a construção de várias histórias construídas pelo bairro. As ruas movimentadas e cheias de lojas são palco para muitos que dão início à carreira ali mesmo, no coração de Natal. Uma dessas pessoas é Paulo Xavier Trindade, que desde muito pequeno teve que encarar uma dura realidade e hoje trabalha como diretor do Hospital Infantil Varela Santiago. Mas para chegar até o posto que ocupa, Dr. Paulo passou por muitos desafios, sendo necessária força de vontade e foco para vencer. As provações do médico começaram logo no início de vida. Aos quatro anos de idade ele perdeu os pais, tendo que viver com a avó. No entanto, aos 17 anos teve que viver sozinho, pois sua avó foi viver no estado do Rio de Janeiro. “Quando vivia com a minha avó, morava em uma casa de taipa, bem simples. Era possível, inclusive, ver quem passava na calçada pelas frestas das paredes”, conta Dr. Paulo. Essa realidade perdurou por alguns anos,

período em que era semianalfabeto e trabalhava na feira do Alecrim para conseguir seu próprio sustento. Foi do amigo e fuzileiro naval, Luciano de Oliveira, que veio um convite que iria mudar a vida do médico para sempre. Luciano chamou Paulo para estudar, se esforçar e mudar de vida. “Na época eu também era bastante influenciado por meus amigos que trabalhavam para os Correios e ganhavam bem. Isso tudo contribuiu para que eu quisesse mudar de vida e estudar, ainda que estivesse desnivelado com as turmas dos alunos”, acrescenta o médico. Foi na escola Ary Parreiras que ele iniciou sua formação, interessando-se cada vez mais pelos caminhos que os estudos lhe proporcionavam. Também estudou no Ateneu e na Escola Industrial, local que frequentou tanto como aluno, como professor. “Paralelamente, eu tinha que estudar e trabalhar na feira do Alecrim como vendedor de vísceras, para conseguir o sustento. Era uma rotina puxada, tinha que acordar às cinco horas da manhã para conseguir utilizar o único banheiro que havia no prédio em que morava. Mas isso nunca

me impediu de seguir em frente e manter o foco na minha formação e no meu futuro”, declara. Para o médico, a dura realidade retratava o seguinte fato: criança pobre tinha que se esforçar em dobro para ser alguém na vida. Anos de muita batalha se passaram, luta esta que rendeu títulos e muitas conquistas. Uma delas, o convite para fazer um curso de artes industriais na Escola Técnica do Estado do Paraná. “O curso me abriu muitas portas e me rendeu uma mudança significativa na minha vida. Em nível de comparação, quando trabalhava na feira do Alecrim eu ganhava apenas um salário mínimo. Quando voltei, já ganhava quinze salários”, ilustra. Também se formou em medicina na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), instituição onde também atuou como professor. A partir daí, a sua carreira só fez crescer. Hoje Dr. Paulo enxerga sua vida e relata que sua vivência no Alecrim foi repleta de proveito e momentos de alegria. “Quando criança pulava o muro da Base Naval para assistir filmes no cinema de lá, participava do catecismo, brinquei e me diverti bastante. Posso afirmar que eu vivi todas as aventuras de uma criança numa infância típica do Alecrim”, conta ele. Paulo Xavier é casado com Liana Barbosa Trindade e é pai de três filhos, todos com carreiras encaminhadas. “Minha filha Carolina Barbosa também seguiu a mesma profissão que a minha e hoje atua como geriatra. Quando soube que ela estudaria medicina foi uma das grandes felicidades da minha vida”, conta. Toda sua trajetória contribuiu para que seu estilo profissional fosse repleto de sentimento de família e fraternidade, de modo que o auxílio ao próximo esteve sempre presente. Mas quem pensa que Dr. Paulo Xavier descansa após ter alcançado sua realização profissional está enganado. “Tenho 77 anos e não parei, trabalho doze horas por dia”.

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Necrópole

Lápides s a i r ó t s i h on t a m qu e c

Ao andar pelas ruas movimentadas do Alecrim, é possível sentir uma energia que irradia de maneira ativa e pulsante por todos lugares ensolarados do antigo bairro de Natal. Essa atmosfera se prolonga por várias avenidas, ruelas e becos até chegar na movimentada Fonseca e Silva, rua onde se localiza o Cemitério do Alecrim. É só passar pelos altos muros brancos e azuis para sentir uma calmaria e silêncio, um fator que contrasta fortemente com o que está do lado de fora de seus contornos. O cemitério, um dos maiores marcos da história de Natal, hoje é tido como um contraponto: a parada final de muitos falecidos e ao mesmo tempo um acervo histórico vivo, que contém

Lurdes de Sousa, funcionária do cemitério

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nomes que sempre estarão na memória dos potiguares. Uma das apreciadoras e funcionárias do cemitério é Lurdes de Sousa. Trabalhando desde menina em atividades diversas no cemitério, Lurdes encara todos os dias a missão de zelar pelo espaço público, encerando túmulos, limpando, entre outras tarefas. “O que mais me agrada nesse trabalho é o fator da calmaria. Aqui não existem pessoas falando o tempo todo, nem carros de som. Aqui dentro tudo é paz. O cemitério geralmente só é movimentado no Dia de Finados ou outras datas comemorativas”, explica a funcionária, que sempre ao entrar no cemitério faz o sinal da cruz diante do túmulo do


História

Padre João Maria, considerado Santo por muitos potiguares. Em meio às lápides, verdadeiras obras de arte, é possível ler vários nomes. Alguns deles já foram até citados nos livros de história do Estado, outros são lembrados pelos familiares e entes queridos. Dentre os mais conhecidos, estão Café Filho, o único potiguar até o momento que já ocupou o cargo de Presidente da República, o soldado-mártir Luiz Gonzaga, que foi executado durante a Intentona Comunista, e também o ex-prefeito Djalma Maranhão. Juvino Barreto, o pioneiro no

processo de industrialização do Rio Grande do Norte, Januário Cicco, Henrique Castriciano e Câmara Cascudo também compõem a lista daqueles que jazem no Cemitério do Alecrim, além de soldados americanos mortos na Segunda Guerra Mundial. Todos esses nomes fazem do local um grande livro de história esculpido em mármore e concreto. O cemitério está quase sempre aberto a visitantes. “Por se tratar de um lugar público, a entrada é permitida nos horários das 7h às 11h e das 13h às 17h”, informa Lurdes.

O Cemitério do Alecrim por si só já demonstra ser um dos lugares mais históricos da capital potiguar. O livro “Alecrim ontem, hoje e sempre”, escrito pelo professor Evaldo Rodrigues de Carvalho, por exemplo, conta que a autorização da obra do cemitério data de muito tempo, em 1855. Neste mesmo ano, os cidadãos de Natal passavam por um difícil surto de cólera, o que aumentou enfaticamente o número de falecidos na região. Nessa época, o bairro era ocupado por poucas pessoas, que viviam em casas de taipa e roças. O centro de Natal se concentrava nas regiões baixas e costeiras, como o bairro da Ribeira. Apesar de distante da concentração urbana da época, o Cemitério do Alecrim se mostrou aos cidadãos como um local adequado para o sepultamento de entes queridos. Antes de ser inaugurado, os corpos eram enterrados em áreas próximas às igrejas. Sua boa localização, alta e afastada da cidade, acabou por chamar atenção de muitos potiguares, inclusive dos mais ricos da capital, que hoje fazem do cemitério sua atual morada.

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Igrejas

Igreja São Pedro

a d aju

A fé que constrói e

Paralelamente à criação e surgimento de muitas cidades brasileiras, uma das instituições que mais se mostra símbolo de tradição e serviço social é a igreja. Em Natal, por exemplo, os primeiros conglomerados urbanos e construções estavam sempre aos arredores da imponente instituição católica. Em bairros históricos da

capital potiguar, como o Alecrim, essa realidade não foi diferente. As paróquias do bairro carregam consigo a história de toda uma comunidade e fazem permanecer vivas as tradições católicas atreladas ao serviço social e comunitário. De acordo com o pároco José Freitas Campos, também conhecido por Padre

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Campos, o serviço das igrejas é tão representativo quanto significativo. “Na paróquia de São Sebastião, a qual eu ministro, contamos com uma série de trabalhos que auxiliam não apenas os paroquianos que frequentam às missas aos domingos como também muitos habitantes do Alecrim. Contar com uma ins-


tituição assim é poder ajudar um bairro carente a sempre seguir por bom caminho, trazendo jovens para o serviço social e se mostrando um espaço que nos ajuda a viver de maneira mais tranquila e longe de problemas como drogas, entre outros”, relata Campos. A paróquia conta hoje com diversos grupos e pastorais que são responsáveis por levar a palavra de Deus para a comunidade do Alecrim. Dentre eles, se destacam as pastorais da juventude, que promove encontros e ações religiosas efetuadas pelos jovens da paróquia; e a familiar – que existe desde 1964 e promove eventos como o Encontro de Casais com Cristo (ECC) - um dos mais antigos e conhecidos no Brasil. Segundo Padre Campos, a paróquia atende a comunidade do bairro do Alecrim e de Dix-Sept Rosado e existe desde 1949. “Ao longo desse tempo a igreja foi passando por uma série de mudanças e aperfeiçoamentos na sua estrutura. Na década de 1960, por exem-

plo, o teto caiu e logo após a igreja passou por reformas. Atualmente, a paróquia conta com as capelas de São Vicente de Paulo, Santo Inácio de Loyola e Cristo Redentor”, informa o padre. Outra paróquia que faz parte do bairro do Alecrim desde 1919, sendo a segunda de Natal e a primeira igreja construída na cidade no século XX, é a de São Pedro, localizada na Rua Presidente Sarmento. Segundo Padre Mota, pároco da igreja, a instituição católica simboliza muitos fatos da história da capital. “A escolha de São Pedro como patrono foi devido ao fato de nenhuma outra igreja ou capela em Natal ter o primeiro Papa como protetor. Em 29 de Junho de 1919, foram colocados os sinos e a festa de inauguração se deu aos 17 de Agosto de 1919, às 8h da manhã, ao som da charanga dos escoteiros do Alecrim”, conta ele. Naquele dia, 85 pessoas foram confirmadas pelo sacramento da crisma e às 16h houve uma procissão com a imagem de São Pedro, hoje localizada

no alto da torre de igreja. De acordo com Padre Mota, uma das maiores contribuições deixadas não somente para o bairro como também para toda a cidade de Natal foi a formação de consciência através da educação, trabalhos do Colégio da Sagrada Família e serviços de cunho social prestados nas comunidades da Rua Ocidental de baixo, Guarita e na Capela de Nossa Senhora da Conceição. Atualmente, a paróquia está envolvida em uma série de projetos sociais, que são as principais ferramentas para a constante atuação da igreja para com a comunidade do bairro. Distribuição de cachorros quentes e sopas para mendigos, além de trabalhos de evangelização com pessoas carentes são exemplos do trabalho desenvolvido pela paróquia, que continua com todo o ritmo a ajudar no que for preciso as pessoas do bairro do Alecrim, pregando o evangelho e praticando a caridade.

Igreja São Sebastião EDIÇÃO ESPECIAL | Amigos do Alecrim | NATAL/2015 | 21


CARREIRA

Dr. Valério Florêncio, Dr. Pedro Florêncio, Dra. Ana Maria Florêncio e Dr. Márcio Florêncio

O Alecrim como berço de uma

o s s e c u s e d a i r ó t h is

Há 32 anos, a seridoense Ana Maria Florêncio decidiu acreditar no potencial do bairro do Alecrim. A médica oftalmologista juntamente com seu companheiro de vida e de profissão, Dr. Pedro Florêncio, fundaram a Visão Clínica de Olhos em 22 de junho de 1983, e com ela apresentaram um novo conceito de atendimento médico no bairro. A proposta era proporcionar a população do bairro um serviço acessível e de qualidade, à época carente de clínicas oftalmológicas. “Foi nessa fase de minha vida profissional que aprendi lições valiosas. Percebi que a relação médico-paciente extrapola os temas corriqueiros da especialidade a qual me dedico. É preciso enxergar lá no fundo, na alma das pessoas, e assim colaborar com mais do que uma simples consulta médica”, conta emocionada, Dra. Ana. O amor pela profissão foi marcante ao ponto de os dois filhos do casal,

Márcio Alexandre e Valério Henrique, escolherem seguir o mesmo caminho. Dra Ana Florêncio relembra que os meninos foram criados dentro do consultório. Os meninos cresceram e se tornaram médicos oftalmologistas conceituados. Em 2009, deram início ao planejamento de um sonho há muito acalentado pela família, a construção do Hospital Brasileiro da Visão (HBV). O empreendimento foi pensado para oferecer cuidado total à saúde ocular, de uma forma eficiente, moderna e segura. “A Clínica do Alecrim começou a ficar pequena para os nossos sonhos de atender cada vez mais pessoas, de uma forma cada vez mais inovadora e de qualidade. A vontade de expandir o nosso trabalho para além das fronteiras do bairro foi motivada por isso”, explica o primogênito, Dr Márcio Florêncio. Em 2011, o sonho ganhou vida e

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o HBV foi inaugurado. O atendimento de excelência aliado a equipe de profissionais qualificados e ao ambiente sofisticado em local de fácil acesso, formaram a receita perfeita para coroar uma história de mais de três décadas de dedicação. “Tratamos no HBV qualquer patologia ocular, da consulta ao procedimento cirúrgico”, comenta Dr. Márcio Florêncio. Tradição e tecnologia andam juntas no trabalho desenvolvido pelos oftalmologistas do HBV, que cuidam para que o paciente enxergue o lado bom da vida, sempre colocando o atendimento humanizado como o ponto primordial. “Sempre fui apaixonada por esse mundo dos olhos, que considero janelas da alma, por exprimirem todas as emoções que sentimos. Para uma vida plena, esse sentido precisa ser bem cuidado’, conclui Dra. Ana Florêncio.



histórias do bairro

Uma figura de

a i c n ê r e f e r

Domingos Sávio

A vida no Alecrim vai além das movimentações do mercado e do barulho nas ruas. Algumas pessoas que sempre viveram no bairro já se tornaram figuras conhecidas para muitos, sendo parte integrante de todo o mosaico heterogêneo e multiforme que é o Alecrim. Um exemplo vivo desse fato reside em uma das poucas casas que ainda restam na Avenida Presidente Bandeira, uma das mais movimentadas da região: Domingos Sávio Toscano de Brito, técnico de engenharia da Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern). Nascido e criado no bairro, Domingos afirma ter muitas histórias para contar. Desde pequeno, a vivência na região era intensa e o convívio com a vizinhança ainda traz a ele boas recordações. “Acompanhei parte da história do Alecrim. Vi a região se tornar uma das mais movimentadas da cidade, que hoje reúne todos os serviços que precisamos, seja em bancos, lojas, comércio e afins. É tanto que, morando em uma das vias mais frequentadas, estranho mesmo é o silêncio. O barulho já se tornou co-

mum, corriqueiro” conta Domingos. Nascido na época em que as crianças nem sonhavam com tablets ou smartphones, Domingos viveu a infância que hoje muito se procura. “Antes de se tornar um estacionamento, o canteiro que fica em frente à minha casa era um terreno vazio. Lá, eu costumava brincar de muitas coisas quando criança, como futebol, bola de gude, pipa e carrinho de lata. Era uma realidade diferente da de hoje”, relata. Em seus pertences, ainda se encontra o antigo time de futebol de botão do Corinthians, da época em que ex-jogador Roberto Rivellino ainda atuava no time – dentre as décadas de 1960 e 1970. Falar sobre sua história traz à memória de Domingos várias lembranças – costumes sobre como era a vida no Alecrim, fatos do passado, lugares e cenários. “Me vêm à memória os desfiles das Escolas de Samba, no Carnaval dos anos 1980. Eram momentos de alegria e que sempre ficarão marcados na minha vida”, conta ele. Durante os fins de semana, Domingos pescava com seu pai, José Toscano de Brito, na época sócio-fundador do Clube de Caçadores, ainda existente no Alecrim e localizado vizinho à casa de Domingos. Na adolescência, também tínhamos o hábito de assistir filmes religiosos, que eram promovidos pela Assembleia de Deus do bairro. Apesar de naquela época sermos ainda adolescentes, víamos aquilo com bastante respeito e curtíamos esse momento religioso e de reflexão”, relata ele. Por residir no Alecrim, empreendimentos como lojas e lanchonetes não poderiam faltar em seu relato. “Lembro-me de uma padaria que ofertava os pães mais saborosos e crocantes da região, além do delicioso aroma produzido pelo Café Dois Amigos, que percorria pelas ruas do Alecrim durante as tardes”, conta o técnico.

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Carreira

Apesar dos prazeres de uma vida simples e fraterna, Domingos também seguiu o caminho dos estudos. Quando criança estudou no Instituto Sagrada Família até o término do primeiro grau. Fez o curso técnico em saneamento na antiga Escola Técnica Federal do RN (Etefern), hoje Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN) e serviu às forças armadas, onde conquistou reconhecimentos como Honra ao Mérito e Certidão de Boa Conduta. Hoje, Domingos soma 28 anos de trabalho efetuado na Caern e tem como patrimônio principal sua família: Maria de Fátima Medeiros, sua esposa, e Lorenna Medeiros Toscano de Brito, sua filha de 18 anos. Outro componente que já é praticamente da família é a camionete Chevrolet C11, fabricada em 1967 e que sempre pertenceu à família. “Era do meu pai e hoje eu ainda a tenho. Faz parte tanto da nossa vida como do próprio bairro, virando até ponto de referência para muitos que nem conhecem o bairro, mas ao avistarem a camionete, já se situam e acham seus caminhos”, brinca Domingos.


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Personagem

s e v i r ou

A história de um Sonhar com uma profissão específica é algo bastante comum, principalmente na fase da infância. Mas, para algumas pessoas, a escolha da profissão acontece repentinamente: num passe de mágica, ou melhor, com um simples convite. No Alecrim, bairro que respira comércio, agitação e trabalho, é possível se deparar com muitos profissionais que começaram assim, de repente, e quando se dão conta já completaram décadas nas carreiras que abraçaram. Esse é o caso do ourives João Maria Félix, também conhecido como Patola, que há 41 anos atua no ramo da ourivesaria. Sua história profissional no bairro começou na adolescência. Assim como muitos no Alecrim, o trabalho é a principal fonte de sustento da família e por isso, todos os dias, ele saia de casa para trabalhar como comerciante. “Tudo começou quando eu vendia variedades nas ruas. Na época, eu comercializava itens como alho, pimenta, palha de aço e fósforo. Quanto a este, na época existia uma promoção: se comprássemos dez unidades ganhávamos um porta-fósforo. Eu comprava vinte, ganhava os dois acessórios e aproveitava para vendê-los também”, conta Patola. O trabalho diário na rua trouxe ao comerciante uma das coisas mais valiosas no mercado: a visibilidade. A exposição de Patola fez com que, certo dia, um ourives do bairro, o fizesse a seguinte pergunta: “Você sabe fazer uma aliança?”. O ourives em questão é Sebastião Alves Hermínio, mais conhecido como Seu Sebastião, e também o ourives mais antigo do bairro. “Trabalho aqui no Alecrim desde os 14 anos, são mais de 50 anos dedicados ao trabalho que amo, a ourivesaria”, comenta. Esse foi o pontapé inicial para uma carreira de décadas. “O ourives estava precisando de alguém que soubesse fazer uma aliança, um dos trabalhos mais simples da profissão. Todos os que atuam com ourivesaria começaram fazendo objetos simples, como uma aliança”, conta Patola. Proposta lançada, e João Maria decidiu aceitar. Afi-

nal, não teria nada a perder. Pelo contrário. Segundo ele, o trabalho de fazer uma simples aliança lhe rendeu mais dinheiro do que se trabalhasse na feira do bairro mais de uma vez. “Não deu outra, comecei a trabalhar para ele, já que vi uma possibilidade de melhorar de vida e de carreira. Desde então não larguei a profissão”, conta Patola. Com o passar dos anos, a vida do então ourives foi seguindo em ritmo de ascensão. Em 1981, Patola montou sua própria oficina de ourivesaria, a Karinna Joias, nome que homenageia sua primogênita. “Com o aprendizado que adquiri trabalhando na oficina, decidi montar meu próprio negócio. Hoje, sou um dos ourives mais antigos do local e já temos funcionários de funcionários, ou seja, pessoas que trabalham para ourives que já foram nossos colaboradores, mas que decidiram também abrir uma loja do ramo”, relata Patola. Sua oficina trabalha com uma rica variedade de joias, dentre brincos, pulseiras, argolas, e anéis de formatura. “Outro produto que tem sido bastante pedido pelos nossos clientes é a mandala. Trata-se de uma circunferência feita de metal com palavras confeccionadas, como frases de efeito ou nomes de integrantes da família.

Tem feito sucesso entre muitos clientes”, acrescenta o ourives. Ao longo de sua carreira, suas técnicas de ourivesaria se aperfeiçoaram cada vez mais. Hoje, Patola é um dos poucos do alecrim que conseguem fazer cravação de pedras preciosas. “Aqui se encontram diversos profissionais, mas quem estiver procurando alguém que saiba fazer cravação de pedras, vai encontrar poucos. É preciso ter força de vontade para fazer esse serviço. Eu mesmo quase desisti quando fui aprender. Mas tudo isso ajuda na profissão e me fez crescer ainda mais na área em que atuo”, avalia Patola. João Maria hoje olha para a sua vida e percebe o patrimônio que construiu. “Tenho hoje três filhas e dois netos, que fazem parte do meu tesouro mais precioso: a família. Trabalhando como ourives, consegui conquistar muita coisa na vida, inclusive um nome no mercado. Hoje não vale a pena sair do Alecrim, que é um dos bairros que me traz mais vantagens em termos econômicos, já que possuo um espaço próprio, estacionamento para os clientes entre outras coisas. Mas, mesmo se um dia eu saísse daqui, eu ainda teria espaço no mercado, já que aqui na oficina conquistamos clientes fieis”, relata.

João Maria Félix, também conhecido como Patola e Seu Sebastião

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História

União é o alicerce de um negócio

o s s e c u s e d r fa m ilia

A história da maior rede de supermercados do Rio Grande do Norte teve início com a decisão tomada pelo patriarca de uma grande família, Leôncio Etelvino de Medeiros, agricultor e comerciante, que decidiu deixar para trás a cidade onde morava no Seridó para tentar uma nova vida na capital do Estado. O ano era 1958, e a decisão de Seu

Etelvino se mostrou acertada desde o começo. Em pouco tempo o seridoense adquiriu cinco pontos comerciais no antigo mercado público do centro da cidade, onde ergueu com muito suor as bases da história de um empreendimento de muito sucesso. Os anos foram passando, os negócios no mercado público se fortalecendo, até que em uma noite de janeiro de

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1967, uma tragédia quis colocar um fim no sonho de Seu Etelvino. O incêndio do mercado, até hoje com causas desconhecidas, destruiu todas as lojas do espaço, incluindo os cinco pequenos pontos comerciais da família Medeiros. “‘O fogo destrói e a gente constrói’, foi com essa frase que meu pai deu rumo e uniu toda a família em torno de um novo sonho: reerguer o negócio da fa-


Moraes Neto

mília”, afirma Manoel Etelvino, filho de Seu Etelvino. O patriarca voltou aos negócios com garra e lutou a cada dia para alcançar sua meta. A tragédia foi uma espécie de despertar para uma nova realidade, não bastava mais o sonho despretensioso de dirigir pequenas empresas e sobreviver com simplicidade. As chamas do incêndio amplificaram os desejos da família, em especial de Seu Etelvino, e foi aí que nasceu o Nordestão, hoje a maior Rede de Supermercados do Rio Grande do Norte. Presente na vida dos norte-riograndenses desde 15 de setembro de 1972, quando a primeira loja da rede loja foi inaugurada no bairro do Alecrim, o Nordestão contou com a liderança inspiradora de Seu Etelvino até a inauguração da segunda loja, na Deodoro da Fonseca, esquina com a Trairi, no centro de Natal. Seu filho Manoel, hoje diretor-presidente da empresa, afirma que a missão foi passada adiante. “Vieram a terceira loja, na Salgado Filho, a quarta no

Manoel Etelvino de Medeiros, presidente

‘O fogo destrói e a gente constrói’, foi com essa frase que meu pai deu rumo e uniu toda a família em torno de um novo sonho. bairro de Cidade Jardim, a quinta no Bairro Santa Catarina e a sexta no bairro de Igapó. Mais recentemente, inauguramos a loja do Tirol, a de Nova Paranamirim e o SuperFácil”. A proposta da oitava loja do Grupo, o SuperFácil Atacado, foi inovadora para o Estado. Com foco concentrado no ramo de atacado e varejo, a loja se destaca pelo preço baixo de suas mercadorias, além de marcar o início da expansão da Rede para além da cidade de Natal. “Apesar de ser uma nova proposta, prezamos pela garantia do nosso diferencial, que é o bom atendimento”, explica Manoel Etelvino. A escolha para a localização do empreendimento, situado em Emaús - Parnamirim, levou em consideração o fato de que o foco da loja seria não somente os pequenos comerciantes, mas também a dona de casa que procura preços baixos, aproveitando assim o grande fluxo de potenciais clientes que passam todos os dias pela BR-101. Com mais de quatro décadas de dedicação ao povo do Rio Grande do Norte, a Rede de Supermercados Nordestão garante não só o menor preço, mas o melhor atendimento. “Meu pai uma vez nos disse que iria construir os alicerces da empresa, e que sob nossa responsabilidade ficaria a continuidade do projeto. O Nordestão nada mais é que um projeto que teve continuidade, um sonho que se tornou realidade”, comenta emocionado Manoel Etelvino.

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Educação

o r u t u f e e t n pr es e

Colégio das Neves: tradição de mãos dadas com

No coração do bairro do Alecrim, existe uma instituição de ensino com os pés fincados na fé e na tradição. O Colégio Nossa Senhora das Neves, da Congregação das Filhas do Amor Divino, foi inaugurado em 5 de agosto de 1932, na rua Rua Fonseca e Silva, de número 1088, no Alecrim. Atendendo em um primeiro momento apenas meninas, o trabalho desenvolvido pelas Irmãs logo se tornou conhecido e o espaço já não era suficiente para atender a todos os interessados em uma educação evangelizadora e de valores sólidos. Foram envolvidas por esse contexto que as Irmãs procuraram um terreno para a construção das futuras instalações do

Colégio das Neves e acabaram comprando um sítio, próximo à Igreja São Pedro, no mesmo bairro. O novo prédio da Escola começou a funcionar plenamente no atual endereço em 7 de março de 1937, e contava na ocasião com os cursos primário, ginasial e comercial, além de outras atividades como curso de piano, acordeom, datilografia e línguas (inglês, alemão e francês). Anos depois foram instalados cursos de pintura, costura, bordado e flores. À medida que o tempo passava, muitos benefícios foram feitos na Escola, tanto na estrutura física quanto no aspecto pedagógico. “A nossa maior preocupação sempre foi aliar a tradição às

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mudanças de cada período. Somos uma Escola reconhecidamente tradicional, porém que vem sempre empreendendo modernizações”, afirma Irmã Marli, diretora da Instituição. O caráter vanguardista do Colégio das Neves é evidenciado por momentos marcantes de sua história, como, por exemplo, a fundação do Grêmio Cultural Rui Barbosa, em setembro de 1957, como também a criação do jornal “O Reflexo”, em 1958, e da TV Neves, em 1980. “Por alguns anos, as eleições do Centro Cívico Escolar Madre Auxiliadora Nóbrega de Almeida foram coordenadas pelo Tribunal Regional Eleitoral e a votação se dava pela urna eletrônica, como


Arqu it e tura

Construção do Cenic

Construção do prédio atual

Fachada do prédio principal

Primeiro prédio 1932

Depoimentos

Pátio interno 1946

História Alunas de Música 1958

Biblioteca 1948

nas eleições oficiais”, comenta Irmã Marli, exemplificando como a Escola é antenada com as mudanças que ocorrem no cotidiano do país. Acreditar em uma educação que vai além da transmissão de conteúdo é um dos pilares no projeto pedagógico do Colégio Nossa Senhora das Neves. Neste ano, a matriz curricular foi ampliada com a inserção de vivência e aprendizados para seus alunos por meio do método da Escola da Inteligência, idealizada pelo psiquiatra, escritor e pesquisador Dr. Augusto Cury. A iniciativa busca promover o trabalho em equipe, a qualidade de vida e a saúde emocional para professores, alunos e famílias.

As primeiras internas do colégio velho

Visita à obra

Momento Cívico

Alunas internas de 1955

O investimento em novas tecnologias também é um diferencial da Escola, que conta com o Portal Futurum e o Núcleo de Aprofundamento de Ensino (NAE), o primeiro é um ambiente de conhecimento, ensino e aprendizagem, que oferece uma plataforma online, moderna e atualizada, com recursos para professores e alunos. Já o NAE consiste em aulas laboratoriais de ciências e matemática para os alunos menores, química, física, biologia e matemática para o 9º ano e Ensino Médio e produção textual para todos os níveis. Em se tratando de Educação Infantil, novas ideias aportaram na escola e possibilitaram a criação do berçário. “O projeto

foi pensado para unificar a educação e proporcionar tranquilidade e segurança às mães que precisam retornar ao trabalho”, explicou Irmã Marli. O espaço recebe bebês a partir do quarto mês. O Neves estrutura-se e reestruturase em programas e projetos educativos, vislumbrando redimensionar as políticas pedagógicas e acompanhar a evolução pela qual o mundo inteiro tem passado, mas consegue se manter consciente do papel que precisa desempenhar. Opta por concepções educacionais que viabilizam um caminhar em direção ao aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e, principalmente, aprender a ser.

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Empreender

Do campo para o

o s s e c su

O bairro do Alecrim está repleto de histórias de empreendedores, pessoas visionárias e gente que põe a mão na massa quando o assunto é vender seu peixe. Há décadas o local movimenta consideravelmente o mercado potiguar e esse tipo de negócio faz parte do cotidiano de muitos habitantes do bairro - até mesmo dos que nem nasceram no Alecrim. É o caso dos dois irmãos Josebel e Gerson Cirne, que, em 1967 resolveram sair da região do Seridó e tentar uma nova vida na capital potiguar, sendo hoje os proprietários de uma das maiores redes de lojas do Estado do Rio Grande do Norte: a Iskisita Atacado. De acordo com a superintendente, Janini Patrícia Rangel, a história da em-

presa muito se assemelha com a do próprio bairro. “É aquela máxima de ‘tudo a gente encontra no Alecrim’, ou ‘se eu não encontrar no Google, eu encontro no Alecrim’. Conosco é a mesma coisa e levamos isso muito a sério. Tudo você encontra na Iskisita”, afirma Janini. Como muitos empreendimentos, a rede começou como um pequeno negócio. No caso da Iskisita, um armarinho. O bairro escolhido foi o Centro da Cidade, na Rua Princesa Isabel, onde o comércio era bastante promissor. Com a popularidade de aviamentos, a procura por esse tipo de material era grande. Na época, as pessoas tinham o hábito de recorrer às costureiras para confeccionar suas rou-

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pas. Se aproveitando dessa realidade, os proprietários não se acomodaram e se esforçaram para fazer do armarinho um negócio de destaque nesse ramo, conquistando cada vez mais potiguares com serviços diferenciados. Para isso, o trabalho era dobrado, ou quem sabe triplicado, já que o ramo da moda é algo que passa por constantes atualizações. Josebel, que era o responsável pelas compras, tinha que estar sempre atento às necessidades do mercado, além de fazer viagens para o sul do país em busca de novidades – trajetos estes que eram longos e cansativos. O árduo trabalho foi rendendo frutos. Cinco anos após ser fundada, a Iskisita Atacado, visando atender melhor


os clientes e acreditando na ascensão do mercado do Alecrim, passou por uma expansão e abriu a primeira filial no bairro, localizada na Rua Presidente Bandeira. Naquela época, as mercadorias eram as mesmas das comercializadas no armarinho, mas o renome da empresa já ganhava destaque na capital, sendo referência no seu seguimento e comercializando mercadorias produzidas em fábricas de renome em todo o país. O bairro também ajudou bastante na conquista de visibilidade e sucesso da loja, fato que ainda acontece nos dias de hoje. “O Alecrim tem uma localização privilegiada. Ônibus de todas as partes de Natal passam por aqui e já trazem a clientela fiel. São eles que sempre falam ‘pode deixar que eu resolvo isso, essa semana vou ao alecrim, procuro lá na Iskisita’. O Alecrim representa a casa da empresa”, afirma a superintendente. Em 1974, a Iskisita adquiriu o seu primeiro prédio oficial no bairro do Alecrim, sendo esse um importante passo para a empresa. Enquanto na parte inferior da construção funcionava a loja, no andar de cima se localizava o estoque. Nesse tempo, o trabalho não parava. A sociedade de apenas dois irmãos crescera e, por ser um empreendimento estritamente familiar, já era esperado que os filhos dos dois irmãos atuassem em prol da instituição. O crescimento da rede foi constante e continua até os dias de hoje. Atualmente, a Iskisita Atacado é responsável por abastecer a maioria dos estabelecimentos comerciais dos Estados do Rio Grande do Norte e Paraíba. “A Iskisita se destaca pela grande variedade e menor preço, são os dois melhores amigos dos clientes. Você procura diversos itens, encontra e ainda economiza. Essa é nossa garantia: que eles entram na loja, saem satisfeitos e voltam em breve”, aponta Janini.

Josebel Cirne, diretor da Iskisita Atacado

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Pioneirismo

Centro de velório São José - Natal/RN

a r o d e h l o c a e e lev

Grupo Vila: o luto tratado de uma forma

Morada da Paz - Recife/PE 34 | EDIÇÃO ESPECIAL | Amigos do Alecrim | NATAL/2015


Em meio à heterogeneidade de serviços prestados no bairro do Alecrim, um segmento específico chama atenção não apenas devido às mais de seis décadas de atuação, mas também pelo serviço diferenciado que presta ao público potiguar. O Grupo Vila é uma empresa familiar que nasceu no Alecrim com o objetivo de mudar a maneira como as pessoas lidam com a morte. O ano de 1948 marcou a inauguração do primeiro empreendimento do Grupo, a Casa Mortuária São Francisco das Chagas. Fundada pelo patriarca da família, Aurino Vila, a Casa foi pensada para mudar a maneira como as pessoas tratavam as famílias enlutadas, prezando sempre pelo acolhimento e atenção para com os familiares. Com o falecimento do patriarca, em 1965, os filhos assumiram a empresa. “Naquela época, assumir um negócio como aquele foi uma pancada para todos nós. Nosso pai faleceu quando eu tinha apenas 18 anos e já nessa idade tinha que cuidar dos negócios da família junto com meu irmão”, relata Magno Vila. Um dos acontecimentos mais representativos da história do Grupo Vila foi a construção do Morada da Paz, inaugurado em 1993 como sendo o primeiro cemitério parque do Rio Grande do Norte e que hoje também atua como crematório. “O Morada da Paz é um divisor de águas na nossa história. Percebemos que Natal carecia desse tipo de serviço, com o qual já éramos familiarizados não apenas por termos atuado boa parte da nossa vida com serviços funerários, mas também por termos conhecimento de trabalhos inovadores em outros estados do Brasil”, explica Eduardo Vila.

Ao longo de toda sua trajetória, o Grupo Vila nunca deixou seus laços com o Alecrim. “Durante nossa infância, o Alecrim não era o bairro comercial que é hoje. No local só existiam alguns sítios e um grande terreno que pertencia à fazenda da nossa avó”, relata Magno Vila. “Nós nascemos aqui e passamos nossa infância brincando por essas ruas. Foram muitas histórias vividas aqui”, completa Magno. Este sentimento de pertença fez com que, mesmo após o crescimento do Grupo, os irmãos decidissem manter a sede da empresa no bairro. A empresa que começou com mortuária no Alecrim se expandiu e ultrapassou os limites do Rio Grande do Norte, atuando hoje nos estados da Paraíba e de Pernambuco, tendo mais de 30 empreendimentos, entre funerárias, centrais de velório, cemitérios e crematórios, além do Plano Sempre de Assistência Funeral. O Grupo Vila também conta com uma equipe funcional composta por 850 profissionais. Apesar de estar inserida em um segmento tradicionalmente conservador,

Magno Vila

Nilo Vila

Funerária Morada da Paz - João Pessoa/PB

a empresa está em um processo constante de busca pela inovação, fato que confere seu destaque no ramo de serviços funerários. Além de ser o pioneiro na implementação dos cemitérios-parques e crematórios de todo o Nordeste, o Grupo investe em novas maneiras de acolher melhor as famílias que vivenciam o difícil momento da perda de um ente querido. Os planos da empresa são de aderir a novas tendências, como cemitérios verticais e o crematório pet – para animais de estimação. “São vocações desse mercado que, apesar de poucos saberem, está sempre inovando”, ressalta Eduardo. A expansão das atividades do Grupo para outras cidades do estado do Rio Grande do Norte também está a caminho: cemitérios serão inaugurados em Mossoró, Caicó, Assu e São Gonçalo do Amarante. A história do Grupo está marcada por ascensão, fruto de esforço e dedicação de uma família que ultrapassou os obstáculos impostos pela caminhada da vida e soube tirar proveito das oportunidades que surgiram.

Eduardo Vila EDIÇÃO ESPECIAL | Amigos do Alecrim | NATAL/2015 | 35


Fotos: Canindé Soares

Qualidade

Antônio Leite Jales, proprietário da SterBom

Referência nacional em

s e t e v r so

A cidade de Messias Targino, no Médio Oeste potiguar, foi o berço de uma história de empreendedorismo que deu certo. Lá, nasceu Antônio Leite Jales, que viveu uma infância marcada pela simplicidade. Em 1974, em virtude de uma doença que acometeu o patriarca da família, Antônio Leite mudou-se para Mossoró, onde teve o primeiro contato com o nicho de mercado ao qual se dedica até os dias de hoje: sorvetes. Na nova cidade, o primogênito da família foi atrás de um emprego para poder colaborar com as despesas da casa. Nessa busca encontrou o dono de uma fábrica

de picolés e pediu uma oportunidade para tornar-se um vendedor. O senhor, em um primeiro momento, não levou o pedido muito a sério, tendo em vista o porte físico do ainda adolescente Antônio Jales. Decidiu então conceder, ao invés de um carrinho de picolés, uma caixa de isopor, e assim teve início a história deste jovem com o mundo dos sorvetes. Durante esse período, Antônio também ajudava o dono da fábrica e com isso teve a oportunidade de aprender como era o processo de fabricação do picolé. Com o passar do tempo juntando suas economias, conseguiu arrendar uma

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máquina e, antes de completar 18 anos, comprou a fábrica toda com o dinheiro que sobrava da venda dos picolés. Os rumos profissionais mudaram um pouco com a chegada dos 20 anos, pois ele teve a oportunidade de realizar um sonho de criança, tornar-se mergulhador. Antônio vendeu a fábrica de sorvetes e picolés e foi trabalhar numa empresa de dragagem chamada Ster Engenharia, a convite do filho de um dos sócios da empresa. A experiência o transformou em mergulhador profissional - uma fase sempre lembrada com muito carinho por Antônio.


Em 1990, vivendo na cidade do Guarujá (SP), Antônio Leite se tornou pai. E esse acontecimento o motivou a retornar a Natal. Assim, ele se desligou da Ster Engenharia, mas a experiência adquirida durante os doze anos trabalhando como mergulhador serviu de alguma forma

para, em 1991, tomar a decisão de retornar ao mercado de sorvetes. O agora empresário, com as economias e as verbas da rescisão comprou algumas máquinas em São Paulo e fundou a SterBom, nome que presta uma homenagem à empresa na qual trabalhou por doze anos.

O bairro do Alecrim foi primeira sede da Empresa. A primeira Loja também nasceu no bairro, ficando localizada na Avenida 7, na Rua dos Caicós. Hoje, a SterBom conta com mais de 600 colaboradores, produz sorvetes, picolés, casquinha e coberturas para sorvete, além de gelo e água mineral. O sorvete ainda é o principal produto da empresa, que está presente no Rio Grande do Norte (RN), Pernambuco (PE), Paraíba (PB) e Ceará (CE). O casquinho é vendido em todo o Brasil e todo o sistema de logística é feito pela própria SterBom. Com muitos projetos em mente, Antônio Jales olha otimista para o futuro e afirma que a crise de mão de obra que hoje muitos empresários enfrentam será superada. Reconhece as mudanças positivas que ocorreram no país nos últimos anos, e que influenciaram diretamente na qualidade de vida das pessoas, especialmente das menos favorecidas. Acredita também que as novas gerações chegarão ao mercado muito preparadas e se declara de braços abertos para aliar o seu produto a essa mão de obra que em breve estará atuante.

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Referência

Pioneirismo e qualidade

lo u a P o ã S r a z a B o d o marca m o tra balh

Washington Reis de Almeida e seu pai Paulo Almeida Pereira

Em uma localização privilegiada na Avenida Presidente Bandeira, no bairro do Alecrim, o Bazar São Paulo se destaca por ser uma referência em vendas de fogos de artifício no Rio Grande do Norte. O comerciante Paulo Almeida Pereira, e seu filho Washington Reis de Almeida, administram o estabelecimento e se orgulham do caminho trilhado ao longo dos anos. Foi em uma visita à cidade de Caraúbas, no ano de 1958, que o senhor Paulo se deparou pela primeira vez com uma banca de fogos. “Foi no ano da Copa do Mundo em que o Brasil foi campeão pela primeira vez. Trabalhei durante todo o sábado na feira de Caraúbas e conheci um rapaz que

vendia fogos de artifício. Na segunda-feira fui a Janduís, cidade na qual moravam meus tios, e lá encontrei o mesmo rapaz. Desse dia em diante eu sabia que iria trabalhar com venda de fogos”, conta. A primeira experiência autônoma aconteceu na década de 1960, na cidade de Mossoró, com uma banquinha na frente de casa. O negócio cresceu rapidamente e em 1962 Seu Paulo já vendia mercadoria para revenda. Anos mais tarde, ocorreu a mudança para Natal, onde se estabeleceu no bairro do Alecrim, com a Barraca São Paulo. “Eram 30 dias do mês de junho dedicados à comercialização de fogos de artifício”, relembra.

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Como não havia autorização para comercializar o produto fora do período das festas juninas, Seu Paulo decidiu investir na compra de um prédio no bairro para montar uma lanchonete, sem abandonar jamais a venda de fogos durante o mês de junho. “Tivemos que obedecer a legislação dos órgãos competentes, que concediam apenas uma licença temporária, no mês de junho, para a venda dos fogos”, explica Washington. O Bazar São Paulo, como é conhecido hoje, foi inaugurado no início da década de 1990. Em decorrência das mudanças na legislação que regulamenta o comércio do produto, Seu Paulo hoje pode se dedicar integralmente à venda de fogos de artifício. Foi a partir dessa época, que pai e filho decidiram ofertar um novo produto aos clientes: o show pirotécnico. “Absorvemos a demanda de eventos como o Carnatal e campanhas políticas, como também shows de Reveillon, festas de padroeiras e eventos esportivos. Executamos os grandes espetáculos do Estado. Participamos da final da Copa do Nordeste em 1997, quando o América foi campeão, e a final do Brasileiro da Série C, quando o ABC foi campeão”, relata Washington. Ao falar sobre a experiência da prestação de serviço para o Carnatal, Seu Paulo relembra que o evento abriu as portas para o Bazar São Paulo realizar trabalhos em outros Estados. “Levamos nosso trabalho para o Fortal e o Recifolia, carnavais fora de época dos estados do Ceará e Pernambuco”, comenta. Qualidade, segurança e atenção ao cliente são marcas registradas do trabalho ofertado pelo Bazar São Paulo. Pai e filho se orgulham ao dizer que nunca tiveram nenhum tipo de acidente na realização dos shows. “Treinamos nossa equipe com técnicos especializados em queima e montagem de shows pirotécnicos, prezamos muito pela segurança dos nossos clientes e colaboradores”, conclui Washington.


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Comércio

Um negócio de destaque

Francisco Derneval de Sá Júnior

e m o n e r Tradição e

Muito se fala sobre o Alecrim ser um dos bairros mais comerciais da capital potiguar. Isso se dá devido à sua longa trajetória enquanto centro de comércio. Quem visita o Alecrim irá encontrar de tudo. Melhor ainda: quem não encontrar o que procura no Alecrim, não vai achar em nenhum outro lugar de Natal. Essa fama que o bairro tem entre os potiguares não é algo recente, existindo há várias décadas, o que torna essa região da cidade uma das mais lucrativas e que movimentam mais capital em todo o Estado. Um dos estabelecimentos que acompanha essa trajetória do bairro comercial há muitos anos e hoje se estabelece fortemente no mercado de bolsas e artigos para viagens é a Casa Sarmento. Este ano, a loja completa 65 anos e se mostra como um mercado familiar, passado de pai para filho. No início de sua

trajetória, a Casa Sarmento era uma loja de variedades, comercializando artigos tanto de viagens como para casa. Com o passar dos anos, o estabelecimento foi se desenvolvendo e conquistando cada vez mais espaço no mercado, se especializando hoje em bolsas, malas, mochilas e artigos para viagem. De acordo com o diretor administrativo da Casa Sarmento, Francisco Derneval de Sá Júnior, o desenvolver do empreendimento foi efetuado gradativamente, permanecendo na sua família. “Há 65 anos, quem cuidava dos negócios da Casa era meu avô. Foi ele quem criou o empreendimento, investindo em comércio de variedades. Com o passar do tempo, nossa família foi desenvolvendo esse mercado, garantindo cada vez mais um espaço de destaque. Meu pai e eu hoje trabalhamos em conjunto nesse negócio”, conta Derneval Jr.

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A loja oferece diversos produtos, mas sempre voltando-se à mesma linha de perfil comercial. Acessórios de couro, conjuntos de malas, bolsas, nécessaires, estojos, pastas, artigos escolares e de viagens estão à disposição. Essa oferta rica e chamativa está sempre aliada aos diversos diferenciais que a loja apresenta. De acordo com Derneval Jr, pontos positivos do estabelecimento fazem da Casa Sarmento uma loja de destaque. “Além de sempre prezarmos pela qualidade dos nossos produtos, contamos com tradição e prestação de serviços. Isso é refletido nos nossos vários anos de história. Além disso, também contamos com um ponto especial: a oficina exclusiva”, informa o diretor. Esse trabalho se apresenta como uma das maiores peculiaridades da loja. Com a oficina, os clientes contam com apoio técnico da equipe a qualquer momento do dia. “Qualquer material vendido na nossa loja que sofra alguma danificação pode ser concertado com a nossa oficina, que está aberta 24h”, informa o diretor. Com toda a movimentação promovida pelo Alecrim e o mercado fervescente do local, a Casa Sarmento acompanha de perto a dinâmica do capital e hoje enxerga o local como um dos mais proveitosos para o comércio potiguar. Derneval Jr. conta que, segundo dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), 44% do ICMS arrecadado em toda Natal são provenientes do mercado do Alecrim. “Isso é só um exemplo de como o bairro tem força no ramo do comércio. É um local que, apesar das dificuldades, consegue ter um destaque significativo”, salienta o diretor. Atualmente, a Casa Sarmento conta mais uma loja no Praia Shopping, localizado em Ponta Negra. A empresa faz parte do Grupo Sarmento, que também conta com franquias do mesmo ramo, como a Le Postiche e Bagagerie, no Midway Mall.


entrevista

o d a c r e M De olho no

trada na AEBA aconteceu naturalmente, devido a Casa Sarmento ser um das lojas mais antigas do bairro e consequentemente ter bastante representatividade em relação aos lojistas.

Francisco Derneval de Sá

A história do Alecrim muitas vezes se confunde com a do crescimento do mercado potiguar nas últimas décadas. Apresentando-se como um dos maiores responsáveis pela circulação de capital de toda a cidade de Natal, o bairro é palco para muitas histórias de ascensão - tanto de pessoas que vivem para o comércio, como para empresas que começaram no Alecrim e hoje já são ícones da atividade econômica. Personagem que acompanhou de perto essa evolução e presenciou o desenvolvimento do comércio popular do bairro, Francisco Derneval De Sá trabalhou ativamente no ramo mercadológico, sendo sócio-fundador da Associação Comercial dos Empresários do Bairro do Alecrim (AEBA) e proprietário da Casa Sarmento. Nascido no município de São Paulo do Potengi, Rio Grande do Norte, o empresário conta que a visão ampla de mercado é de berço, tendo sua família se mudado para a capital potiguar ao perceber o grande potencial de comércio que a cidade apresentava – fato ocorrido quando Derneval tinha apenas dois anos de idade. Aqui, ele relata a atuação em prol da AEBA e enfatiza a importância que o mercado do Alecrim tem para a econo-

mia e para àqueles que encontram nele seu sustento. Como começou sua história com o Alecrim? Ao enxergar em Natal um mercado promissor, nossa família se mudou para cá. Em 1950, possuíamos uma loja no bairro de Cidade Alta. Nesse mesmo ano, decidimos mudar o local do estabelecimento, escolhendo o Alecrim como nova praça. Isso se deu por acreditarmos na capacidade de crescimento e desenvolvimento comercial que o bairro apresentava na época. E foi o que de fato aconteceu. Hoje, o Alecrim é fundamental para a cidade do Natal, pois é o maior gerador de emprego e renda da capital, sendo responsável por quase 50 mil postos de trabalho, entre formal e informal. O bairro conta com mais de seis mil empresas formais cadastradas e é visitado diariamente por mais de 100 mil pessoas. Como se deu sua atuação com a AEBA? A associação foi fundada em 2003, e eu fui um dos sócios fundadores. A AEBA surgiu para unir os lojistas do bairro, com o intuito de buscar alternativas para o desenvolvimento comercial. A minha en-

Para a Associação, como é avaliada a evolução do comércio na capital potiguar nos últimos anos? O comércio cresceu muito nos últimos 20 anos. Houve uma expansão de shoppings – que teve seu momento maior com a inauguração do Midway Mall, em 2005 – explosão no mercado imobiliário e muitas famílias adotaram Natal como sua cidade. Tudo isso contribuiu para o crescimento de áreas comerciais que se proliferaram por toda a cidade. No entanto, apesar da concorrência, o comércio do Alecrim nunca perdeu seu posto de maior e mais movimentado centro comercial da cidade do Natal. Mesmo com a entrada de elementos importantes na esfera comercial, como os shoppings, galerias comerciais e lojas de rua, o Alecrim ainda é o bairro no qual o consumidor sabe que vai encontrar tudo o que procura. Apesar de já ter crescido, o comércio potiguar ainda tem horizontes promissores? Sim, o comércio é muito dinâmico, vive em evolução. E o comerciante potiguar, apesar das dificuldades, sempre encontra uma maneira criativa para crescer. Qual seria o seu conselho para aqueles que decidem entrar nesse mercado hoje? Buscar sempre o conhecimento - seja por meio de treinamentos, de cursos ou de estágios. Procure sempre estar qualificado. O comércio está em evolução constantemente, por isso torna-se um desafio diário entrar neste mercado. Exige-se disciplina, coragem, foco, dinamismo e muito entusiasmo ao mesmo tempo. É uma atividade que cobra muita cautela e paciência.

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Ensino Depoimentos

. . . m i s s a u o ç e m co

São 47 anos dedicados à educação. Uma história que

Em 1968, na Rua Brasília, nº 712 do bairro Alecrim, os professores Aluísio Machado Cunha e Maria Magnólia Ferreira Machado criaram o Ginásio Reis Magos. Com 69 alunos, divididos em cinco salas, a escola oferecia conhecimento para crianças da Educação Infantil ao 5º ano do Ensino Fundamental. Neste ano, também passou a fazer parte do quadro da escola, a professora Lindemânia Severina de Araújo Costa, que em 1978 tornou-se a diretora da instituição. Dois anos depois, a escola passou a ser chamada de Instituto Reis Magos e

hoje funciona com 1054 alunos, da Educação Infantil ao Ensino Médio. Com o trabalho sério e com uma equipe de qualidade, o Reis Magos foi tornando suas salas de aulas cheias de vida, um lugar de conhecimentos e exercício da cidadania. A oração, todos os dias, para iniciar as atividades nos turnos matutino e vespertino; às quintas-feiras, o hasteamento da bandeira do Brasil e o canto do Hino Nacional marcam o cotidiano do colégio, além da interação constante entre escola, aluno e família.

O uso de múltiplas linguagens é incentivado em todos os níveis escolares e inclui linguagem corporal, verbal e nãoverbal com apoio de multimídia. A prática da leitura e produção de textos é incentivada sistematicamente. Por isso, além da biblioteca, existe uma confortável sala de leitura para despertar no aluno o prazer de ler, além dos vários projetos desenvolvidos nessa área. As aulas em campo marcam as aprendizagens de forma organizada, criativa, interativa e participativa, o que torna os momentos de aprendizagens inesquecíveis.

A educação não é uma fórmula de escola, mas uma obra de vida. Celestin Freinet

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Depoimentos

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Refrigeração

Pedro Campos, diretor da empresa

Um mercado crescente em meio ao

m i r c e l A o c alor d

Fundada em 1983, a Campos Equipamentos e Refrigeração iniciou suas atividades no bairro de Lagoa Nova e um ano depois mudou para o bairro do Alecrim, onde permanece até hoje. No início, a empresa atuava na prestação de serviços e assistente técnico autorizado dos principais fabricantes de ar condicionado e refrigeração, até que, em 1985, funcionando na Avenida Coronel Estevam, passou também a comercializar peças de refrigeração e ar condicionado. Em 1997, a Campos Refrigeração mudou-se para a Avenida Presidente Bandeira, onde havia uma grande concentração de lojas de refrigeração, e passou a atuar exclusivamente no comércio. Em 2001,

a empresa inseriu novos produtos à sua linha comercial, e passou a vender equipamentos para bares, hotéis, restaurantes, açougues, padarias, supermercados, condomínios e indústrias. Seis anos depois, pesquisando as necessidades dos seus clientes, a empresa percebeu que havia uma grande deficiência no mercado de Natal, e decidiu montar uma loja especializada para atender os empresários de bares, restaurantes e hotéis, oferecendo num só lugar todos os itens necessários ao seu negócio, do talher à câmara frigorífica, da forma de pizza a vitrine refrigerada, da faca profissional aos equipamentos da cozinha industrial, da peça de refrigeração ao con-

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dicionador de ar Split. Atualmente, a empresa tem duas lojas, uma na Avenida Presidente Bandeira e outra na Avenida Presidente José Bento, ambas no bairro do Alecrim. Juntas, somam mais de 3.000 m² de área, agregando loja, depósito e administrativo. As lojas contam com mais de 7.000 itens e empregam 46 funcionários. “Eu sempre acreditei no bairro do Alecrim, pois foi aqui que dei meus primeiros passos como comerciante. Inicialmente, com carrinho de pipoca e depois vendendo produtos de decoração de árvore de natal, numa pequena banca de camelô, quando tinha apenas 14 anos, e já sonhava um dia ter uma loja neste bairro”, conta o Diretor da


Loja da Campos Refrigeração, na Avenida Presidente Bandeira

As melhores marcas de condicionadores de ar são comercializadas na empresa

Mais de 7000 itens compõem o portfólio de produtos

empresa, Pedro Campos. Foi no Alecrim que a empresa viu prosperar seus negócios, diversificando suas atividades e se consolidando no mercado de refrigeração e ar condicionado. A Campos Refrigeração tem preocupação permanente com o atendimento e a satisfação dos seus clientes, investindo em estoque, treinamento de pessoal e oferecendo produtos de qualidade e de marcas renomadas. “Estamos atentos às novidades do mercado, sempre visitando feiras e fornecedores a fim de oferecer produtos atualizados e devidamente certificados pelos órgãos reguladores”, disse Pedro Campos. A venda de condicionadores de ar representa um terço do faturamento da empresa, que tem no seu portfólio as melhores marcas do mercado. “Optamos em trabalhar com Consul, Springer, Midea, Carrier, Brastemp, Komeco e Elgin, pois são fabricantes que conseguimos ter acesso fácil na aquisição de peças, o que nos permite dar um atendimento mais rápido quando ocorre algum problema no equipamento”, explica Pedro Campos. A empresa é especializada na venda de condicionadores de ar do tipo Split, Janela ou Central e possui uma equipe de vendas preparada para fazer o cálculo da carga térmica e definir o equipamento ideal para climatizar qualquer tipo de ambiente, proporcionando conforto térmico e a satisfação dos seus clientes. Para atender de forma cada vez mais eficaz, existe uma preocupação da Campos Refrigeração em capacitar e melhorar o nível técnico dos vendedores, instaladores e mecânicos de ar condicionado e refrigeração, com a realização de seminários e palestras técnicas ministradas por engenheiros dos fabricantes de equipamentos que comercializa. É esse atendimento diferenciado, a experiência de décadas com a venda de condicionadores de ar e o relacionamento com os principais fabricantes que fazem a diferença em relação a outras lojas. O cliente sabe que o compromisso e responsabilidade da empresa não cessam quando ele recebe o produto que comprou - vai muito mais além. A Campos dá o suporte necessário, faz o acompanhamento pós-venda e age com tempestividade para consertar eventuais defeitos que venham surgir nos equipamentos comercializados. EDIÇÃO ESPECIAL | Amigos do Alecrim | NATAL/2015 | 47


Dedicação

Boanerges Júnior

O Alecrim como sede de um negócio

o t r e c u e d e u i m o b il iá ri o q

Negócios imobiliários não são muito comuns de encontrar no bairro do Alecrim, mesmo com a grande fama do bairro de abraçar todo tipo de empreendimento. A imobiliária Terra&Terra, que escolheu o bairro para fincar suas bases há 15 anos, se destaca nesse contexto e hoje comemora o sucesso da escolha. Especializada na administração e venda de loteamentos populares, a Terra&Terra possui atualmente uma carta com mais de três mil clientes ativos e administra mais de 100 loteamentos. O empenho e a dedicação presentes no trabalho da imobiliária reforçam o prestígio do negócio, que tem um alcance de atuação vasto, alcançando toda a região metropolitana da Grande Natal.

O diretor comercial da Terra&Terra, Boanerges Figueiredo, fala da importância da inserção da imobiliária no mix de produtos e serviços ofertados no Alecrim. “A escolha do bairro para a instalação da Terra&Terra apesar de não óbvia, foi desejada e cuidadosamente planejada. Sabíamos que o Alecrim tinha muito a nos oferecer. Expandimos o negócio, a carta de clientes, e sequer cogitamos sair daqui”, comenta. O relacionamento com o cliente é o diferencial da empresa, que busca a total transparência, mantendo o cliente informado de cada etapa do processo, prezando sempre pela agilidade, segurança e clareza nas informações. “Ofertamos assistência durante a fase burocrática da negociação até o fechamento do negó-

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cio”, explica Boanerges. Há sete anos a empresa expandiu seus negócios e hoje atua também em condomínios residenciais, sejam horizontais ou verticais. O pioneirismo está presente em todas as ações da imobiliária, que agora começa a negociar loteamentos em Caiçara do Norte, município da microregião de Macau. “A facilidade de negociação que oferecemos permite o cliente se sentir mais à vontade na hora da compra. O investidor, por exemplo, quando percebe que a área irá valorizar, aposta no negócio. Trabalhamos para alcançar a total satisfação do cliente, e desburocratizar o processo é um passo importante rumo a esse objetivo”, conclui Boanerges.


Grรกfica Unigrรกfica


Fotos: acervo do SEBRAE

Inovação

Projetos que impulsionam os

s o i c ó g e n s o n e m icro e pequ

Fomentar o empreendedorismo e colaborar para o desenvolvimento sustentável é a missão do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) desde 1972, ano em que foi criado. A entidade participa de processos de elaboração e implantação de projetos inovadores ao redor do país, oferecendo apoio e expertise aos empresários locais. No Rio Grande do Norte, a empresa sem fins lucrativos oferece uma gama de serviços, dentro os quais se destaca o Programa ALI - Agentes Locais de Inovação,

que teve o bairro do Alecrim como cenário pioneiro, ainda no ano de 2009. “O ALI Alecrim foi o projeto que implantou a metodologia ALI no Rio Grande do Norte, antes formatado apenas nas cidades de Curitiba (PR) e Brasília (DF)”, explica Mabele Dutra, gestora de projetos de comércio e serviços do Sebrae. Hoje, o ALI é um programa nacional, presente em todos os Estados da Federação. Sua estratégia é informar micro e pequenas empresas sobre a importância da inovação na gestão empresarial, per-

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mitindo assim que as mesmas alcancem novos patamares de desenvolvimento e competitividade. O Alecrim foi escolhido para receber a primeira etapa do projeto por se tratar do maior adensamento comercial do Rio Grande do Norte. Mabele afirma que os empresários do bairro não acessavam os serviços oferecidos gratuitamente pelo Sebrae e que a ida do Agente Local de Inovação até o empresário modificou essa realidade. “Hoje, construímos uma relação de confiança e temos uma dinâ-


mica completamente diferente de antes da instalação do projeto”, comemora. O administrador comercial da Casa do Zíper, Lauir Filho, afirma que a chegada do ALI na empresa permitiu uma visão panorâmica dos pontos que poderiam melhorar no estabelecimento. “O agente montou um projeto com várias sugestões de mudanças. Algumas conseguimos implementar imediatamente, outras ainda estão em processo. O importante é que o primeiro passo foi dado”, assegura. O proprietário do Atacado do Bebê, José Ailton, empresa especializada em artigos para recém-nascidos, pontua que o projeto aproximou o empresário local do Sebrae. “A cultura empresarial é muito fechada, muitas vezes arredia. O projeto ALI abriu a mente de muitos empresários e o resultado dessa parceria foi constatado com o aumento das vendas”, frisou José Ailton. Inovação não é algo difícil de ser implementado, nem sinônimo de muitas despesas, pode ser praticada por empresas de qualquer porte e setor de economia. O projeto iniciado no Rio Grande do Norte, pelo bairro do Alecrim, foi transformado em programa e hoje atende empresas de todo o Estado. Outra forma de interação entre o Sebrae e o bairro é a Semana do MEI, rea-

lizada há cinco anos no Alecrim. Trata-se de uma mobilização nacional em prol da formalização de negócios e capacitação de empresários de pequeno porte enquadrados na categoria jurídica do Microempreendedor Individual (MEI). “Montamos uma estrutura na praça Gentil Ferreira para realizar os atendimentos. Inicialmente, nosso foco eram os profissionais que trabalhavam por conta própria, incenti-

vando-os a sair da informalidade”, explica Ruth Maia, coordenadora do MEI. Com o passar dos anos, o programa passou a abarcar a questão da qualificação, ou seja, para os profissionais já formalizados. Desta forma, o Sebrae oferece qualificação gratuita e com isso colabora com a expansão das atividades e fortalecimento dos negócios e empresariado local.

Ruth Maia, coordenadora do MEI EDIÇÃO ESPECIAL | Amigos do Alecrim | NATAL/2015 | 51


Fotos: Alex Régis

estrutura

Reforma do mercado publico da Avenida 6

o ã ç a z i l r e vi t a

Ícone do Alecrim, Mercado da Seis passa por

O Alecrim é um dos bairros mais tradicionais da capital potiguar, foi oficializado como tal pela lei n° 251 de 30 de Setembro de 1947, mas a criação de fato ocorreu no dia 23 de outubro de 1911. Considerado um dos centros comerciais mais importantes do Estado, o Alecrim concentra atualmente 31% da atividade empresarial da cidade e 40% de todo o comércio varejista de Natal, com foco ainda mais acentuado no comércio popular. Inserido neste contexto está o Mercado Público Antônio Carneiro, que teve seu projeto iniciado em 1967, sendo inaugurado três anos depois, no dia 4 de setembro de 1970. Localizado no coração do Alecrim, na Rua dos Canindés, o Mercado popularmente conhecido como “Mercado da Seis” em referência à chamada Avenida Seis, na qual faz esquina, reúne uma diversificação de serviços e produtos. Lá, encontra-se praça de alimentação, comércio de secos e molhados, verduras e frutas, carne bovina, aves, mangaio, artigos de couro, cerâmica, itens decorativos, além dos artesãos que

exercem suas atividades nos locais e trabalham com uma diversidade de produtos – entre os quais, cordas, cerâmica, gesso, cipó e fibras. O tradicional Mercado está novamente em fase de renovação, a exemplo do que já acontecera em 2008, quando a gestão do então prefeito Carlos Eduardo promoveu a sua última reforma. À época, foram recuperadas a iluminação, as telhas, reorganizados os boxes e trocado o piso, que era de cimento e passou a ser de granito. Na atual administração, novamente do prefeito Carlos Eduardo, a Prefeitura de Natal, por intermédio da Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (Semsur), firmou parceria com o grupo empresarial Armazém Pará, por meio do projeto “Tudo de Cor Pra Você”, da empresa Coral Tintas. O projeto, de alcance nacional, beneficia as cidades por onde passa, escolhendo áreas importantes para o patrimônio público e renovando sua pintura. O Mercado Antônio Carneiro foi contemplado com o projeto devido à sua impor-

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tância histórica para o bairro do Alecrim. A parceria com o grupo holandês AkzoNobel, de tintas e revestimentos, doou ao Município 1.250 litros em produtos. O material doado servirá para colorir os 2.641 metros quadrados do espaço. Os serviços de reestruturação do Mercado da Seis, porém, não ficam restritos à pintura. Estão sendo executados serviços de recuperação de toda a parte hidráulica do prédio, bem como dos banheiros, das rampas de acessibilidade e também os serviços de revestimento das paredes, impermeabilização da caixa d’água, substituição de calhas na cobertura do mercado, colocação de novas telhas de fibrocimento e piso tátil. A Prefeitura é responsável pela mãode-obra necessária e está investindo recursos da ordem de R$ 135 mil para restaurar a infraestrutura do Mercado, que possui 90 boxes em sua estrutura. A Semsur também fez recenseamento, renovando o cadastro dos atuais permissionários. Assim, o velho Mercado da Seis estará de


Marco Polo

Outros investimentos:

João Maria Alves

Mercados Públicos recebem investimentos da Prefeitura Desde 2013, no início da atual gestão do Município, os mercados públicos da cidade vêm ganhando uma nova cara. A Prefeitura de Natal realiza a recuperação destes equipamentos e, até o momento, investiu recursos superiores a R$ 5 milhões. O prefeito Carlos Eduardo ressalta a importância dessas ações de revitalizações dos mercados públicos, chamando a atenção para o incentivo que gera no comércio popular. “Com os mercados em melhores condições, os pequenos comerciantes passam a ter mais possibilidades

Prefeito Carlos Eduardo

de faturamento e, consequentemente, de gerar mais empregos. O público e a população como um todo ganham, por sua vez, com a concorrência que o processo naturalmente provoca e com a diversidade dos serviços”, avalia o prefeito. O primeiro equipamento do gênero a receber serviços de reestruturação foi o Mercado Público das Quintas. Foram feitos trabalhos de recuperação do telhado, com uma nova cobertura, pintura interna e externa, reparo nas calçadas que o circundam, nova fachada, reforma na administração e construção de área especifica para destinação do lixo. O valor da obra foi da ordem de R$ 30 mil. O segundo Mercado a receber os serviços de manutenção foi o de Petrópolis,

através de parceria entre a Prefeitura do Natal e o Armazém Pará, por meio do projeto “Tudo de Cor Pra Você”. Em outubro de 2013, o equipamento público foi reinaugurado após receber os serviços de pintura, reforma do mezanino, ganhar iluminação especial, recuperação e instalação de novos telhados nos boxes, além da implantação de rede de internet sem fio, de novos ventiladores na praça de alimentação, equipe permanente de limpeza, contratação de segurança armada, câmeras de segurança e novo design em aerografia. O valor da obra foi de R$ 150 mil. Outro projeto de destaque nessa fase de recuperação dos mercados públicos de Natal é a construção do Mercado das Rocas. O espaço abrigava o antigo mercado público do bairro da Zona Leste e dará lugar ao primeiro Mercado Modelo da cidade. O prédio — reconstruído com um investimento de R$ 4,1 milhões — contará com 82 salas, um elevador, duas escadas, quatro entradas, quatro banheiros, dois vestiários e um fraldário, todos totalmente adaptados para pessoas com deficiência. Além dos 54 boxes de venda de produtos variados, o Mercado Modelo das Rocas terá espaço para caixas eletrônicos, dois balcões de informações e uma praça de alimentação. O arco central, que cobrirá o mercado, está sendo erguido com ferro galvanizado, sustentado por pilares de metal. O prédio também receberá novas estruturas hidráulica e elétrica, e um sistema de climatização. A Prefeitura estima a inauguração do Mercado Modelo das Rocas para outubro deste ano. Também com o intuito de melhorar a estrutura para receber a população, a Prefeitura de Natal finalizou pouco antes da última Semana Santa melhorias no Mercado do Peixe, igualmente localizado no bairro das Rocas. O equipamento público recebeu manutenção da câmara refrigerada, limpeza, ventiladores, pintura, desinsetização, revisão da parte elétrica, nova iluminação e a instalação de uma câmara refrigerada para o acondicionamento do lixo orgânico. O valor dos serviços ficou em R$ 65 mil. Está em curso, ainda, o processo de reestruturação do Mercado da Redinha. A Semsur está fazendo a pintura do equipamento e substituindo o sistema de

Visita as obras do Mercado Modelo das Rocas

iluminação, com a exclusão de pontos irregulares de energia e implantação de mecanismos de proteção contra quebra de lâmpadas e explosões. Serão realizadas também reformas nos banheiros e esgotamento sanitário do local, substituição das pias de todos os boxes, implantação de rampas de acessibilidade, colação de piso tátil, novo telhado, instalação de caixas d´águas, além de uma redistribuição dos boxes para melhor fluidez do público que visita o local. O valor da obra no Mercado da Redinha ficará em torno de R$ 300 mil.

Camelódromos Após cinco anos sem intervenção do Poder Público, os Centros de Comércio Informal da cidade também receberam investimentos. A Prefeitura aplicou R$ 210 mil em obras de recuperação nos “camelódromos” instalados no Alecrim e na Cidade Alta. Ambos tiveram toda sua parte elétrica revitalizada. Além disso, o Camelódromo do Alecrim ganhou nova pintura, novamente graças à atuação da Prefeitura, em um trabalho coordenado pela Semsur. Maurifran Galvão

cara nova para seguir em frente escrever novos capítulos de sua história, atraindo velhos e novos clientes e fortalecendo cada vez mais os laços que o unem ao bairro onde tem morada.

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Mercado da seis

Por Zenaide Castro

Um dos ícones do bairro do Alecrim é o Mercado Público Antônio Carneiro, mais conhecido como Mercado da Seis, por estar localizado na esquina das avenidas Quatro e Seis. O mercado foi

João Dionísio do Nascimento, artesão

inaugurado no dia 4 de setembro de 1970 para abrigar comerciantes de vários segmentos. De tempos em tempos é chegada a hora de renovar a fachada, dar uma repaginada no lugar. É o que está ocorrendo agora, com a reforma iniciada no segundo semestre de 2014 e que enche de esperança os comerciantes que tiram do mercado o sustento de suas famílias, como o artesão João Dionísio do Nascimento. O artesão conta que chegou ao mercado há cerca de seis anos e gosta bastante do lugar. “Produzo as minhas peças aqui mesmo e vendo para as lojas. Minha clientela é fixa e vem buscar os produtos. Boa parte do meu artesanato vai casas de praias, pousadas, resorts, inclusive de outros estados e até para o exterior. Já tem peça minha até

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nas Filipinas”, diz, orgulhoso. João Dionísio está no ramo há cerca de 42 anos e trabalha com sisal, cerâmica, cabaça, sementes. Na sua opinião, o movimento era muito fraco cinco anos atrás, mas agora melhorou bastante. A reforma no mercado está sendo feita pela Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (Semsur) e a previsão é que esteja concluída ainda no primeiro semestre deste ano. Estão sendo feita a pintura, recuperação da infraestrutura, reforma nos banheiros e a parte da acessibilidade do prédio. O total do valor gasto na obra é de R$ 135 mil. A Prefeitura de Natal também contou com a parceria do projeto “Tudo de Cor para Você” das Tintas Coral e do Armazém Pará. O projeto da Coral doou 1.250 litros de tintas e outros produtos


A noite em que o mercado virou cinzas para revestimento de paredes. A última reforma do mercado do Alecrim ocorreu entre os anos de 2007 e 2008. O mercado possui 44 anos. O lugar dispõe de praça da alimentação, cerca de 75 lojas de vários segmentos e até uma biblioteca popular criada pelo comerciante Iranilson Ferreira da Silva há cerca de sete anos, com livros de vários gêneros: enciclopédia, didático, infantil, histórico, romance e réplicas da obra “De pé no chão também se aprende a ler”, de Paulo Freire, e de um engenhos de cana de açúcar. Outros dois comerciantes que anseiam por um movimento mais aquecido no mercado são José Luís da Silva, mais conhecido como Cazuza, e Honorato Rodrigues de Oliveira. Cazuza nasceu em Parelhas e chegou ao mercado em 1971, ano em que foi inaugurado. Como bom seridoense, trabalha vendendo queijo, carne de sol e outros produtos da região. Ele afirma que o movimento hoje é cerca de 20% menor que antigamente. “Pelo menos até uns 10 anos atrás o movimento era bem melhor. Hoje falta divulgação”, lamenta. Já Honorato Rodrigues de Oliveira, que também está no mercado desde a sua inauguração, vende cestos, palha e cereais, produtos que traz de Pernambuco e de São Gonçalo do Amarante. Possui seis boxes no mercado e trabalha juntamente com a família. Vende muito para artesãos e profissionais na área de decoração. “Também acho o movimento fraco, consequência da falta de divulgação, mas estou confiante que, em breve, as coisas irão melhorar”, enfatiza.

“Estudava no Ensino Médio e a O Mercado do Alecrim viu passar professora pediu que eu fizesse um pelos seus corredores muitas histórias, trabalho de cordel. De início, fiquei sem vidas que se cruzaram ao longo do saber como fazer. Foi quando veio a tempo, alegrias, tristezas. A maior delas inspiração de escrever sobre o incêndio e que certamente marcou para sempre no Mercado da Seis. Para mim foi muito quem já havia chegado ao lugar no dia importante ter escrito. É como se eu ti20 de agosto de 2007, foi quando um vesse eternizado aquele momento. Pena incêndio destruiu a sua estrutura, as lojas e os sonhos de muitas pessoas que que terminei ficando sem nenhuma sobreviviam do comércio local. O tempo cópia e, para completar, o computador passou, os comerciantes se reergueram, quebrou e eu perdi o texto original. Só existe um exemplar com um dos mas essa triste marca ficou para sempre colegas do mercado”, diz, lembrando ter na memória de quem viveu aqueles sido esse o único cordel que escreveu momentos de desespero. em sua vida. O incêndio no mercado serviu de inspiração para Elinae de Sousa Revorêdo escrever um cordel, o único escrito ao longo de sua vida, relatando o incidente, ocorrido durante a madrugada, pegando de surpresa os comerciantes que chegaram para trabalhar na segunda-feira. Elinae tem 56 anos e está no mercado desde o ano 2000. Começou com uma lanchonete, mas atualmente vende feijão verde. “Penso em trabalhar com produtos artesanais, como crochê e outros trabalhos manuais”, diz, antes de relatar como se deu a ideia de escrever o cordel. Elinae de Souza Revorêdo

“Vou escrever agora um caso que aconteceu comigo. O mercado pegou fogo, parecia até castigo. Foi desastroso e causou muito desgosto. Houve o incêndio, para minha surpresa. Em uma segunda-feira, dia 20 de agosto. Foi uma luta muito dura e torta, chegamos. Na terça-feira estava fechada as portas. Quando cheguei na terça-feira, alguém me falou: O mercado está fechado e não vai abrir. Que brincadeira é essa? Comecei a rir. Olhei as portas fechada, corri para a frente e fui constatando. O mercado estava queimado, tinha gente de todo lado. Nas portas guardas municipal, rádio e televisão. Tinha até jornal. O fogo foi alto, parecia um trapézio. Porém, o mais prejudicado foi o sapateiro Digézio. Humilde, sem reclamar, no entanto. Do seu lugar só restou o canto. Outro no lugar dele tinha arrancado os cabelos. Como ele não tem para arrancar, disse: - Deus vai me ajudar. Isso é um pesadelo!” (Trechos extraídos do cordel “O incêndio no Mercado do Alecrim”, de autoria de Elinae de Souza Revorêdo).

Honorato Rodrigues de Oliveira EDIÇÃO ESPECIAL | Amigos do Alecrim | NATAL/2015 | 55


Cultura e interação com escolas e comunidade A cultura corre nas veias de Iranilson Ferreira da Silva. Comerciante de frango no Mercado do Alecrim há cerca de 15 anos, ele não se limita a vender o seu produto. “Quando cheguei aqui observei que recebia turista e alunos de escolas públicas e privadas, certamente atraídos pela importância do mercado para a cidade. Porém, tanto um como o outro estavam ‘soltos’, não havia algo a mais que fizesse com que eles voltassem, faltava atrativo”, conta. E continua: “Analisando isso, comecei e organizar o lugar para receber a escola. Em 2006, Organizei o material didático sobre a escravidão, sobre os índios e, ao invés da escola vir, eu convidava a escola. Quando os alunos chegavam assis-

tiam a apresentações de grupos folclóricos, como Capoeira, Maculelê, Mamulengo. Implantamos o Canto de Memória Mestre Severino Guedes, pioneiro da escola de samba e do Bambelô, dança regional famosa na região”. O artesanato é um forte do mercado. Atrai muita gente, principalmente os turistas que buscam esse tipo de atrativo que vai além dos roteiros turísticos convencionais. O diferencial do mercado é a cultura popular mantido pelos próprios comerciantes. “A gente gosta de fazer cultura. A gente vai às escolas públicas e particulares levando a informação sobre o mercado e, depois, a escola traz os seus alunos para visitarem o mercado”, comemora Iranilson.

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Iranilson Ferreira da Silva


Depoimentos

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ARTES

a r u t l u C

Alecrim também é

Apesar de muito conhecido pelo comércio pulsante e pela sua história, o Alecrim apresenta uma face às vezes desconhecida ou pouco lembrada pelos potiguares. O bairro há muitos anos conta com atividades culturais, que mantém vivas as tradições de décadas atrás, auxiliando a comunidade a cultivar sua identidade e ao mesmo tempo oferecer destaque para o local, rendendo prêmios em concursos artísticos dentre outros eventos. Essa veia cultural do Alecrim abrange instituições e grupos específicos, além de personalidades que há anos enriquecem ainda mais esse cenário no bairro.

r a l u sing

Um artista alecrinense

Antônio Hare, nascido no Alecrim em 12 de dezembro de 1965, filho de Julieta e Evangelista, cursou na UFRN Aquacultura com Pós Graduação na área, Educação Artística com habilitação em Música e Artes plásticas, e atualmente cursa Engenharia de Aquicultura. Com uma visão que permeia a sustentabilidade, tema recorrente atualmente,

Antônio Hare, produz sua obra mostrando a diversidade de possibilidades do reaproveitamento de objetos do lixo. Hare denuncia com sua arte seu incômodo, utilizando objetos encontrados no lixo do Alecrim, transformando-os em decorativos e utilitários, instigando assim à reflexões acerca da influência do capitalismo que cria o

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consumismo exacerbado, alimentando a cultura do descarte. O diferencial é que desvela a rápida evolução tecnológica e a consequente produção do lixo não degradável, também mostra um período de intensa desvalorização da moeda brasileira, a diversidade religiosa, além de resgatar a cultura regional.


Capoeira

s o c r a M e r t s e M o d

de 600 participantes. “Com o grupo nós buscamos manter viva as tradições e a memória do Alecrim, para que se torne um berço para a cultura afro-brasileira. É um trabalho importante tanto para a identidade potiguar como para a economia, educação e turismo”, aponta Marcos. Para isso, o grupo faz apresentações e atividades em escolas e diversas comunidades, tanto de Natal como de outros municípios do Estado. Marcos também conta que no próprio mercado do Alecrim é possível fazer apresentações de capoeira. “Na esquina das antigas Avenidas 4 e 6 eu tenho um negócio onde se vende diversos equipamentos de capoeira. Em meio ao mercado movimentado do Alecrim, nós fazemos apresentações, abertas a todos que por ali passam”, afirma Marcos.

Fotos: acervo pessoal do Mestre Marcos

A riqueza cultural do Alecrim também reflete a diversidade artística de todo o Brasil. A capoeira é responsável por manter viva as tradições afro-brasileiras e no bairro é possível encontrar pessoas que vivem esse estilo de vida e participam ativamente de grupos dessa expressão cultural. Um deles é o mestre de capoeira Marcos Antônio Gomes de Carvalho, que há mais de 46 anos vive no Alecrim e nele encontrou a porta de entrada para mundo da capoeira. “Recebi influências da escola de samba Asa Branca e foi lá onde tudo começou, quando também fui recebi incentivo de Mestre Guedes”, relata Marcos. O mestre, que também é educador físico, é fundador da Associação de Capoeira Nacional Origem Angola, criada em 1976, e que já conta com uma média

Jogando capoeira:

Os tambores do bambelô Asa Branca: Mestre Marcos, Orlando, Contra Mestre Alisson. Mestre Fernando e Contra Mestre Igor

Mestre Marcos, Dona Lúcia Guedes, Mestre Fernando (filho do Mestre Guedes) e Dona Maria Guedes (viúva do Mestre Guedes) EDIÇÃO ESPECIAL | Amigos do Alecrim | NATAL/2015 | 59


Te a tro I n t erve n tivo O Grupo teatral Para Eu Parar De Me Doer completa cinco anos de existência em 2015 e para comemorar a data monta um espetáculo resgatando memórias e afetos do bairro do Alecrim. O projeto, intitulado “Memórias do Alecrim”, foi contemplado pelos editais Sesc Artes Cênicas, Funarte Arte na Rua e pelo Fundo Municipal de Cultura, e fará sua primeira apresentação no dia 29 de junho de 2015. O produtor e membro-fundador do grupo, Thiago Medeiros, diz que o espetáculo é um presente para o bairro, local onde nasceu e morou por 17 anos. “Acredito na necessidade de encontrarmos outros espaços de fruição para além da Ribeira, Centro da Cidade e Ponta Negra. E escolhemos o Ale-

crim para colocar isso em prática”, afirma. Partindo da observação do outro, através de intervenções promovidas pelas ruas do Alecrim, o grupo busca um fortalecimento e reconhecimento dos moradores. “O texto da peça é muito do que coletamos de memória oral, transformamos essas memórias em texto para o teatro”, explica Thiago. Com cinco atores em cena - Alessandra Augusta, Ananda Krishna, Maiara Pontes, Daniel Silva e Lazaro Aguyo - dramaturgia de Marina Rabelo, Michelle Ferret e Thiago Medeiros, e produção audiovisual de Wallace Yuri, o desejo do grupo é oxigenar espaços no bairro do Alecrim que promovam a cultura, com diálogo aberto com o audiovisual, dança, música e poesia.

e s n e in r c e l A iz r t a er p m I

O nome chega a até ser imponente. Mas quem batizou a escola de samba do Alecrim não poderia deixar de usar uma nomenclatura de respeito, dada à longa trajetória do grupo e seu papel como representante do bairro em muitos Carnavais. De acordo com Lenilson da Costa, aderecista da escola de samba, a instituição faz presença em carnavais da capital potiguar desde meados dos anos 1970 e 1980. “Sempre representamos o bairro do Alecrim nas festas de Carnaval, geralmente desfilando na segundafeira no bairro da Ribeira”, conta Lenilson. Na festa deste ano, a escola foi responsável por reunir cerca de 600 pessoas nas ruas da cidade para desfilar e fazer brilhar o nome da escola e do bairro. A atuação do grupo é tamanha que já conquistou premia60 | EDIÇÃO ESPECIAL | Amigos do Alecrim | NATAL/2015

ções e méritos. Apesar disso, Lenilson lamenta a falta de apoio popular. “A escola é responsável por manter viva a cultura brasileira no bairro. Trata-se de um ponto de referência importante para a cultura do local. No entanto, precisamos sempre de apoio para que possamos manter as nossas atividades e nos tornar um verdadeiro ícone para bairro”, relata Lenilson. O aderecista explica que sua motivação em trabalhar com a escola decorre de sua experiência ainda na infância. “Quando era criança, eu costumava pular carnaval com a Imperatriz Alecrinense. No bairro de Mãe Luíza eu cheguei a participar da escola de samba Acadêmicos do Morro. Mas, quando me mudei para o Alecrim, decidi atuar na Imperatriz e lá estou há dez anos”, relata Lenilson.


Sebo

Uma história na

a r i e l e pra t

Hábitos que não mudam

Jácio Medeiros

O bairro do Alecrim não é histórico apenas pelos seus prédios antigos, lojas e instituições. É possível encontrar resquícios do passado até nas prateleiras das lojas. Quem está à procura de itens e acessórios de décadas passadas possivelmente encontrará no Alecrim. Afinal, o local oferece desde os produtos mais modernos até aqueles que acabam caindo no esquecimento. Nesse contexto, no qual o antigo e o novo dividem o mesmo espaço, um local ganha destaque: o sebo Transa Livros. As pessoas que visitam o local não deixam de sentir a sensação nostálgica ao se depararem com aquele artigo antigo, ou com o CD que os pais escutavam ou até o vinil que fez tanto sucesso em determinado momento da história do século passado. Segundo Jane Medeiros, proprietária do Transa Livros, foi essa sensação que motivou seu irmão, Jácio Medeiros, a criar os vários sebos que se espalham pela cidade de Natal. Antes de se tornar um sebo de fato, Jácio começou a trabalhar no ramo do comércio por meio de uma cigarreira, na qual vendia itens variados. “Com o passar do tempo, meu irmão resolveu fazer do seu estabelecimento um local onde vendesse, além dos produtos

variados, livros de bolso populares. Logo após, ele passou a vender vinil e daí para frente passou a comercializar apenas os livros e artigos antigos”, conta Jane. Na época em que o sebo fora de fato estabelecido, o bairro do Alecrim contava com o cinema São Luís, que antes era ponto de encontro para vários potiguares. Ano após ano, com o consumo cada vez maior de produtos culturais, os sebos forma ficando cada vez mais populares. Segundo Jane, seu irmão foi o primeiro no Alecrim a investir nesse tipo de negócio. “Jácio foi o pioneiro no bairro a fazer esse tipo de trabalho. Com o tempo foram surgindo mais sebos, mas boa parte deles por influência do meu irmão”, conta ela. No Transa Livros é possível encontrar diferentes itens. Para fazer jus ao nome que tem, o carro chefe do sebo são os livros – didáticos, paradidáticos e dicionários de diversas línguas – mas o estabelecimento também conta com outros produtos. “Algumas pessoas procuram o sebo para comprar revistas, CDs, DVDs e até vinil. Tudo isso é vendido na loja”, informa Jane. Além da variedade de produtos, a loja, localizada na Avenida Presidente Bandeira, também conta com uma lanchonete. A ideia é fazer com que as pessoas que estão

Com o desenvolvimento avançado da tecnologia, muitas pessoas têm optado pelas telas luminosas dos computadores, tablets e celulares para praticar o hábito da leitura. Para a proprietária do sebo, apesar desses avanços, que trazem ao público uma nova maneira de ler livros e revistas, o sebo sempre terá seu espaço no mercado. “Quem gosta de ler mesmo procura os livros. Pode até ver algumas coisas virtuais, mas a leitura no papel vai ter sempre o seu espaço e seu apreço”, explica. Jane conta que, apesar de o Transa Livros já existir há 35 anos, a movimentação no sebo é constante. “Sempre existem aqueles que procuram os produtos ofertados na loja, como colecionadores ou pessoas em busca de um livro didático. Sendo assim, não tenho dúvida de que, mesmo com a tecnologia de ponta, tanto os livros como os sebos nunca perderão seu espaço”, salienta Jane

de passagem pelo local, ainda que não estejam à procura de livros ou revistas, possam ser atraídos pela lanchonete e, ao experimentar um dos lanches, acabem entrando no sebo e vendo as variedades que ele oferece. “Esse é um dos nossos diferenciais. O cliente vem, mesmo que para tomar um açaí, por exemplo, e acaba se deparando com os produtos vendidos no Transa Livros”, explica Jane.

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música

Reinaldo Azevêdo

O berço de um

o d a t e c a f i t l u m e na t a l e ns Ele nasceu e residiu durante muito tempo na Avenida Coronel Estevam, mais conhecida por Avenida 9, no agitado bairro do Alecrim. Sagitariano incontido, é graduado em Odontologia, pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), e atua na área da Hipnologia Clínica e da Saúde Pública. Ele é Reinaldo Azevêdo, tem 64 anos, e não se limita apenas a uma esfera da arte e do conhecimento.

O morador do Alecrim também se destacou na área do Jornalismo e da Publicidade, como cartunista e ilustrador. No inicio dos anos 1970, fez parte, juntamente com intelectuais e desenhistas potiguares, da formação do Grupo de Pesquisa de Histórias em Quadrinhos do Rio Grande do Norte - GRUPEHQ, fato consolidado durante a “I Exposição Norteriograndense de Histórias em Quadrinhos”, realizada na então galeria

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da Biblioteca Pública do Estado. É desta época a concepção do personagem “O Coveiro”, um justiceiro adaptado nos quadrinhos aos sertões nordestinos, que foi criado por Reinaldo. “O Coveiro é um jagunço, um fanático religioso, um neurótico antissocial, completamente à margem da lei”, explica. A música também envolveu e encantou o artista, que desde a década de 1960 está em um relacionamento sério


com a guitarra. Também chamado de “Lobão”, Reinaldo foi arrebatado com a chegada da Beatlemania e da JovemGuarda. Naquela época, participou de alguns conjuntos musicais, como o do Colégio Padre Monte, em 1966, depois “Os Nobres” e “Os Zíngaros”, em 1969, oriundos de São Paulo do Potengi. Estes últimos trazidos por Reinaldo para atuarem em Natal, com ensaio de repertório marcado sempre na Av. 9. Em 1973, passou a fazer parte da banda “Os Brasas”, que culminou na famosa Banda Anos 60. Band-leader, gravou o seu primeiro disco-solo na gravadora Somax, em Recife, em 1988. Em julho de 2005, concretizou um sonho musical, gravou o CD solo “Reinaldo Azevêdo Instrumental”, onde pôde explorar melhor o profundo amor pela guitarra e compartilhar o resultado desse romance com todos aqueles que amam o rock. Com arranjos bem elaborados, a partir da sua inseparável

“Fender” e adaptações criativas, Reinaldo, executou todos os instrumentos e fez uma espécie de tributo aos seus grandes ídolos do Rock Instrumental, ecoando como agradáveis lembranças nostálgicas em nossas mentes. Em novembro de 2010, o artista deu um passo além, gravando um CD ao vivo comemorativo aos 25 anos da Banda anos 60, no teatro Vila Hall, em Ponta Negra. Dois anos depois, já como escritor, lançou, no clube dos Radioamadores de Natal, o livro Iconográfico “Cangaço – Tatuado no Traço”. Através de gravuras feitas a bico de pena, a obra retrata o fenômeno do cangaço no Nordeste brasileiro. Atualmente, além de desenhista, escultor, artesão e luthier - fabricante de instrumentos musicais, Reinaldo Azevêdo dedica-se de forma mais acentuada ao artesanato em couro, notadamente a pirogravura em vaqueta natural, com auxílio do fogo, inspirando-se sempre no

épico do sertão nordestino, onde explora a temática do sertanejo, do cangaceiro e do jagunço, enfatizando as desigualdades sociais, sua geografia, seus costumes e suas questões religiosas. Atuando na área da produção cinematográfica, Reinaldo gravou, nas dependências do cemitério do Alecrim, seu videoclipe noturno denominado “O Coveiro”, em alusão ao personagem criado por ele na época dos quadrinhos do GRUPEHQ. O videoclipe será lançado ainda em 2015. “Foi uma filmagem esplêndida, verdadeira realização de um sonho. Contei com a parceria de vários amigos da época em que brincávamos pelas ruas do Alecrim. A direção ficou sob a responsabilidade de Jota Maciano e Castelo Casado, enquanto que a edição foi feita por mim, com mais uma vez a ajuda do amigo Jota Maciano. Fiquei muito feliz com o resultado”, conclui Reinaldo Azevêdo.

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Depoimentos

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Depoimentos

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Gastronomia

O gostinho do

Al e c r i m

Falar do Alecrim não é apenas abordar temas como comércio e pontos históricos da capital potiguar. Lar para muitos cidadãos de Natal, o bairro também se mostra um local familiar e de espírito confraternizador, onde se pode encontrar desde moradores que nunca saíram da mesma rua até famílias que amam a vizinhança e ali mesmo criam seu próprio negócio. Neste cenário, a gastronomia ganhou um toque especial e há quem frequente o Alecrim apenas para desfrutar dos sabores que o bairro oferece. Nós visitamos o local e apresentamos aqui um pouco dessa gastronomia peculiar.

MPB Bar

Um dos maiores atrativos que um estabelecimento pode ter é a música. Local que une bom gosto culinário e cultura, o MPB Bar é um estabelecimento que há quase duas décadas conquista um público especial. Criado em 1997, por Nilson Rodrigues, morador do Alecrim até hoje, o bar passou por reformas ao longo de sua história foi melhorando cada vez mais. “Meu pai começou com o bar no nosso próprio espaço de casa. No início, eram poucas mesas e poucas cadeiras. Hoje temos um público fiel e específico, já que a ideia era selecionar uma clientela que curtisse Música Popular Brasileira (MPB)”, aponta Nilson Rodrigues Filho, atual proprietário do MPB Bar. O estabelecimento oferece diversos aperitivos regionais e apresentações de música ao vivo. A especialidade da casa é a tripa de porco torrada com batata doce . Além dela, a carne de sol com nata e o frango à passarinha são sempre opções pedidas pelos clientes. “Também servimos aperitivos como pasteis, moela, bolinhos de charque, codorna, entre outros”, acrescenta Nilson. Quando questionado sobre como ele enxerga o bairro do Alecrim para os negócios, o proprietário afirma que uma das principais vantagens de se trabalhar na região está na vizinhança. “Temos aqui um forte sentimento familiar. Nascemos aqui e somos conhecidos por muitos da região, o que acaba sendo positivo para os negócios, já que tudo se torna mais unido”, relata Nilson. O MPB Bar está localizado na Rua dos Pajeús, antiga Avenida 8.


Restaurante Totoia

Sua fama transcende as ruas do Alecrim. Restaurante bastante querido e procurado por muitos potiguares, o Totoia tem uma legião de clientes fieis, que saem de onde estiverem só para saborear as comidas regionais servidas no estabelecimento, em especial a famosa galinha caipira, prato mais popular e carro chefe do restaurante. De acordo com Maria Ozenir Gomes Cabral, proprietária do Totoia, o estabelecimento já está presente no mercado há quase 40 anos. “No mês de novembro, completaremos 39 anos de existência”, conta Maria Ozenir, também conhecida pelo próprio nome do seu restaurante, Totoia. O nome engraçado era o apelido de Antônio Cabral da Cos-

ta, marido já falecido de Maria que também trabalhava no estabelecimento. “No início de tudo começamos com o Bar do Totoia, localizado na Avenida 3. Lá nós servíamos apenas tira gostos. O restaurante veio depois, estando localizado na Rua Mirabeau Pereira. Com ele, passamos a servir pratos de comidas regionais, dentre outros pedidos”, relata Maria. A fama da galinha caipira veio surgir já nos tempos de Bar. “Meu marido sempre tinha o costume de comer galinha caipira aos domingos. Certo dia, oferecemos a galinha como tira gosto no bar, ao acaso. As pessoas gostaram bastante do prato e acabaram pedindo sempre a galinha, o que acabou se tornando nosso prato principal”, relata Maria. No entanto, o restaurante também trabalha com pratos variados, como peixe, camarão, carneiro, entre outros pedidos servidos no almoço ou jantar. O tipo de serviço é à la carte, sendo necessário que o cliente faça a reserva antecipada do espaço e do prato. “Costumamos sempre servir pratos típicos, mas também já fizemos especiarias estrangeiras, como Paella, prato típico espanhol. Isso porque estamos sempre preocupados em satisfazer os nossos clientes e atender os mais diversos pedidos”, explica Maria.

Rei do Abacate

O espírito fraternal que paira no Alecrim é muitas vezes a razão para que muitos criem inspiração para os negócios. Para o comerciante Pedro da Cruz Marques, não foi diferente. Durante sua vida, ele ficou conhecido como “o rei do abacate” por muitos da vizinhança. A fama era tamanha que o levou a criar uma lanchonete com esse mesmo nome - estabelecimento que existe há mais de 50 anos no bairro. Após sua morte, o negócio passou a ser administrado pelos filhos do comerciante, como a primogênita, a professora Maria do Socorro da Cruz Marques, que está à frente da parte administrativa da lanchonete. Localizada na Rua Presidente Bandeira, próximo à unidade do Banco do Brasil, a lanchonete funciona 24h. Para atender aos clientes, o Rei do Abacate conta com um menu variado. Além do abacate, carro chefe do local e que nunca pode faltar no estoque, são oferecidos cuscuz, tapioca, café, entre outros. Já no almoço, a lanchonete conta com pratos variados, com feijão, arroz, macarrão e carne. No jantar, sopa, guisado, frango e peixe compõem a mesa. Para Maria do Socorro, trabalhar no Alecrim é atuar em um ambiente familiar. “Foi aqui onde meu pai viveu e nós fomos criados. Gosto de trabalhar aqui justamente por esse sentimento de vivência e pertença”, relata Socorro. EDIÇÃO ESPECIAL | Amigos do Alecrim | NATAL/2015 | 67


coalho com calabresa”, informa Francisco. O proprietário conta que durante a semana, esses são os mais pedidos, mas o que mais faz sucesso nos sábados é a feijoada. “Sempre aos sábados o que faz a festa dos fregueses é a nossa feijoada”, afirma. Para os que procuram bebidas alcoólicas, o bar oferece diversos tipos de cervejas, além de vodka, whisky, rum e cachaças, produzidas em diversas regiões, como Minas Gerais e Paraíba. Para Francisco, trabalhar no Alecrim é sempre bom devido ao sentimento de pertença que sente ao local. “Foi aqui que nasci. Para mim é sempre bom trabalhar no local em que conheço diversas pessoas”, afirma. Segundo ele, além dos produtos e aperitivos que oferece, o bar se destaca no quesito limpeza. “Estamos sempre preocupados com a higiene no local, de forma que nossos banheiros estejam sempre limpos e agradáveis, assim como os nossos materiais, como louças, pratos, entre outros”, aponta Francisco.

Chico’s Bar

O nome é inspirado em um bar já existente na cidade do Rio de Janeiro (RJ). No entanto, segundo o proprietário Francisco Canindé Lopes, o estabelecimento também é conhecido por Chico Capim, seu próprio apelido. A história do bar começou já em 1996, quando o Chico’s Bar estava sendo inaugurado na Rua Presidente Gonçalves. Hoje, o estabelecimento mudou de local – estando situado na Travessa Presidente Gonçalves, 528. Dentre os diversos produtos disponíveis, os que se destacam são os aperitivos que o bar oferece. O mais famoso dele é o arrumadinho, composto de feijão branco com farofa, charque, queijo e batata palha. “Além desses, temos o caldo de carne com ovo, kibe e o queijo de

Bar da Fava

Como o próprio nome sugere, o bar é famoso pela sua fava. Tanto que muitos potiguares já conhecem sua fama e se deslocam de onde quer que estejam para saborear o prato regional. Mas, antes de se tornar referência para a culinária popular, o Bar da Fava traz uma história de mudança. De acordo com o proprietário do estabelecimento, Gilvan Muniz, sua trajetória começou na região metropolitana de Recife. “Antes vivia em Pernambuco e lá eu montei o Bar da Fava. Após escutar muitas pessoas falando bem de Natal, decidi me mudar e foi para cá que eu vim. No entanto, como não conhecia bem a cidade, acabei comprando uma casa no município de Parnamirim (RN). Como eu queria estabelecer o Bar da Fava em Natal, comecei a procurar diversos lugares diferentes e eis que acabei parando aqui, no Alecrim” relata Gilvan. O bar foi inaugurado no ano de 2002. Para conquistar clientes tanto das redondezas, como de outros lugares da capital, o proprietário investiu em bonés e camisas do Bar da Fava. Para cada cliente que visitava, um acessório era entregue. “Com isso, acabei conquistando um nome na região”, explica Gilvan. Além da fava, o bar serve hoje uma série de pratos diferentes, totalizando dez aperitivos. Os mais conhecidos e de maior sucesso são o osso do patinho, a galinha, bistecas de porco, picado de cerneiro e filé com fritas. O Bar da Fava está localizado no cruzamento das Ruas Borborema e Ari Parreiras.

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samba

Produtor Cultural e o atual Diretor Executivo da SAMBA. EDIÇÃO ESPECIAL | Amigos do Alecrim | NATAL/2015 | 69


esporte

Eterno

. C . F m Al e c r i Por Edmo Sinedino

Juro. Depois de mais de cinco anos no Alecrim – cheguei ao periquito em 1979 – não imaginava que ainda fosse comemorar um título de campeão estadual com a camisa verde. Meu último clube, em 1984, havia sido o Treze de Campina Grande. Triste experiência. Eu, Odilon, Djalminha, potiguares, com outros colegas de outros estados, e mesmo os da Paraíba, chegamos mesmo a passar fome, sem exagero. Tinha casado em setembro desse mesmo ano, justo quando estava me transferindo para Campina Grande cheio de esperança de ganhar um bom dinheiro e começar uma boa vida de casado. Triste engano. E depois dos meses de decepção, com a chegada do final do ano, liso, sem receber nada do clube paraibano, resolvi voltar para Natal e já com a resolução tomada de parar de jogar futebol. Estava tão maluco que peguei meu carro, um Fiat 147, recém-saído da oficina, sem pneu de suporte, sem carteira de motorista, sem documento nenhum e peguei a estrada que me ensinaram, nem a conhecia direito. Sozinho. Acreditem. Foram quatro horas de sufoco, agonia, medo de ver um pneu baixar, um polícia rodoviário em algum cruzamento, uma loucura. Narro isso só para ilustrar o meu desespero em voltar para casa e deixar para trás meses de sofrimento de um tratamento vergonhoso, onde, muitas vezes tivemos que pedir um pacote de cuscuz para fazer nosso jantar. Depois de horas de vôo rasteiro, a “última fronteira”, em São José de Mipibu. Estratégia diferente: sacudi quatro moças de vida livre no carro antevendo uma ajudinha extra para passar na rodoviária de Parnamirim, caso fosse parado pelos guardas. Passamos. As meninas deram adeusinho para os oficiais, conhecidos delas, e tudo bem. Mas deixa eu adiantar, se não fico contando tim-tim por tim-tim e não chego onde quero, ou os leitores queiram.. Deixei as meninas no bairro das Quintas, todas elas. Em Natal, entrei em contato com amigos do futsal. Acertei meu retorno ao futebol da bola pesada – havia jogado do América em 1978 – e o alvinegro era treinado por Jucivaldo Félix. Claro, minha opção primeira seria o América de meu querido Artur Ferreira, mas eu precisava de um emprego. E Eudo Laranjeira, dirigente do futsal do ABC, me colocou na sua empresa de ônibus como auxiliar de al70 | EDIÇÃO ESPECIAL | Amigos do Alecrim | NATAL/2015


fotos: Acervo Edmo Sinedino

moxarifado, dando duro todo dia. Nem tanto. Meu amigo, querido amigo, Wilson Florêncio, meu chefe, meu goleirão das peladas, aliviavas as coisas para mim e ainda me pagava almoço. De novo, deixa eu adiantar, caso contrário não chego no título de campeão do Verdão, motivo deste meu texto para o povo do bairro querido. Estava eu na calçada da casa de minha mãe pensando na vida. Pensando no meu Dimitri, primogênito que já nascera, mas ainda morando na casa dos avós com a mãe, e por isso meu incômodo maior. E lá vem meu querido amigo Ranilson Cristino. Nem conto as vezes que, depois de minha de futebolista, esse baixinho me ajudou, e nos momentos mais terríves que um homem pode enfrentar, mas isso é outra história. O “Pequeno Gigante” chega, para na porta da casa de meus pais e começa a conversar. Eu já imaginava o que ele iria propor. O Alecrim tinha perdido o primeiro turno e estava mudando de técnico – saiu Ivan Silva e assumiu Ferdinando Teixeira. Ranilson, com o aval de Flávio Ribeiro, ao lado de Joilson Santana, eram responsáveis por contratar reforços para esse segundo turno, para o restando do Estadual. Os irmãos Flávio e Tarcísio Ribeiro queriam provar que poderiam sim conquistar um título no Alecrim, na verdade, resgatar, recuperar essa hegemonia de terceira força, e aproveitando para dar uma espécie de lição na direção do ABC. Bom, Ranilso Cristino me convenceu. Tanto fez que me convenceu. Deixei o ABC de futsal, a Cidade do Sol, e voltei ao convívio da bola, do profissional. O treinador, no dia da minha chegada, fez críticas a Joilson Santana, ao próprio Ranilson e disse que só aceitava minha contrataçã, que não tinha sido a pedido dele, porque já me conhecia de outras passagens no próprio Alecrim. A velha mania de passar a imagem de manda-chuva, de independência, comum em vários treinadores de nosso futebol combalido. Uma conversa mole que fazia antever um futuro não tão legal assim. Mas nem me preocupei com isso, afinal, para mim, o treinador, naquela época, era uma pessoa que eu confiava cegamente.No futebol, isso parece, soa como piada.

Em pé: Ferdinando Teixeira (técnico), César, Ayala, Saraiva, Lúcio, Ronaldo, Doca, Pedrinho (preparador físico), Dr. Roberto Vital, Luís Marcos (supervisor); agachados: João Santana (roupeiro), De León, Romildo, Curió, Odilon, Baíca, Didi Duarte, Edmo e Beto

Minha estreia seria contra o América, início do segundo turno. Logo num clássico. Com o baixinho Odilon machucado, eu, muito provavelmente, seria titular . E foi assim. Ganhamos de 2 a 0. Fui escolhido o craque do jogo e ganhei um motorrádio. Deixa eu dizer uma coisa: não joguei para isso, afinal fazia já um bom tempo que só treinava futsal. Mas acho que compensei com garra e muita correria. Na segundafeira na resenha da Rádio Cabugi estava lá eu falando e premiado. Parecia mentira. Logo ali, onde tantas vezes fui criticado, até duramente por ter coragem de falar coisas que eles nunca falam.

O surgimento do quadrado mágico

No jogo seguinte, um fato interessante: Odilon, recuperado, voltaria ao time, claro. O Baixinho era nosso grande astro. O treinador me disse isso em campo, ainda durante o treinamento. No entanto, o próprio Odilon, vejam que grandeza, falou para o técnico que eu tinha jogado muito bem e que ele ficaria no banco. Ele atendeu a Odilon, acho até que de má vontade. Era um jogo contra o RAC – Riachuelo Atlético Clube, do querido e saudoso Garrincha. O time entrou com César, Saraiva, Sabiá, Ronaldo e Soares; Carlos Alberto, Eu e Didi; Curió, Freitas e Chiquinho das Araras. Assim, mal tinha começado a partida, o “Francisco” vai à linha de fundo, finta o zagueiro e na hora de cruzar torce o joelho.. Chiquinho se machuca sério. Sai na maca chorando, sentidos muitas dores. Uma contusão séria, infelizmente (depois faria cirurgia).

Odilon aquece. O treinador, não sei o que conversou com ele. Lá dentro. Didi, Eu e Odilon conversamos. Tratamos de combinar como ficaria. E foi assim. Quando eu roubava a bola, desarmava, fazia Didi, e Odilon caía pelo lado esquerdo do campo e partia para cima das defesas. Quando estávamos sem a bola, o time fazia a recomposição. Eu e Carlos Alberto, dois volantes na cabeça da área na proteção para que também pudesse subir o Soares no apoio, outra forte jogada de nossa equipe Tomávamos a bola, acionávamos Odilon ou Curió, e abraços e mais abraços. E foi assim que surgiu o “Quadrado Mágico”, não foi coisa criada ou pensada pelo técnico Ferdinando Teixeira, surgiu das cabeças de Didi Duarte, Odilon e, modestamente, da minha. Ganhamos, a partir daí, todos os duelos. Era casa cheia. O Alecrim dos “Irmãos Ribeiro” recuperando a confiança. Os bichos, as gratificações eram pagas no vestiário, um diferencial enorme, que empolgava nosso grupo. Salários absolutamente em dias, coisa que eu só tinha visto no Alecrim nos tempos do querido Bastos Santana.

Gol anulado e choro na final

Ganhamos com esse quadrado mágico, e também contando sempre com um bom grupo, com a entrada dos meninos Baíca e Manoel Pacote, e do ótimo meia Beto, o segundo e terceiro turno. Ninguém segurava o Alecrim. Jogava, como se diz “por música”. O entendimento entre zagueiros, meiocampistas e atacantes era coisa única. Um grupo

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de jogadores que, acreditem, não precisaria, na verdade, não precisou de treinador para vencer. E chegamos para fazer a final, a grande final contra o América, campeão do primeiro turno. Estádio lotado. Adrenalina a mil. O time do Alecrim seria posto em xeque. Muita gente da imprensa não acreditava que o Verdão fosse forte o suficiente para encarar e vencer a final contra o América. Me lembro do “velho” narrador esportivo achando que tremeríamos diante do seu clube grande e a vitória ainda seria rubra. Apesar do grande futebol que apresentamos no segundo terceiro turno, a discriminação contra o Verdinho, assim como hoje, era muito forte. Mas o grupo estava unido, preparado. Estávamos em regime de concentração por mais de duas semanas seguidas, e sem reclamar. Os “trabalhos” de lavagem com Mãe Aída (especialmente vinda de Brasília) estavam de vento em popa. Tomávamos banhos de ervas perfumadas e depois, sempre tarde da noite, aproveitando os muitos espaços da Sede Campestre, nos reuníamos para fazer orações e oferendas para que nossos “caminhos fossem abertos”. Me lembro bem de uma oração que dizia assim: “assim como fogo acaba n`água, que possamos acabar com a força do ABC”(ou América), dependendo contra quem fosse o jogo. E ao final da oração, todos de mãos unidas, e João Santana, nosso massagista era o encarregado de jogar água e apagar a fogueira (nosso adversário). Muita coisa havia sido preparada extra-campo para fazer o Alecrim sair da fila de espera. Nos divertíamos demais. O Alecrim, o time, na Sede Campestre, comendo do bom e do melhor, era uma grande família feliz. Um elo indestrutível que nos levaria a qualquer conquista que disputássemos.

Começa o jogo

Odilon imarcável, Curió rapidíssimo, Didi nosso maestro; a defesa firme, craques de bola jogando por música: César, Saraiva, Lúcio Sabiá, De Leon e Soares; Carlos Alberto, Edmo, Didi Duarte e Odilon; Curió e Freitas. Como eu jogava com a camisa 11 mui-

tas gente, e até comentaristas veteranos, vejam só, achavam que eu era o ponta esquerda do Alecrim. Ainda hoje tem muito cego de guia pensando isso. Eu atuava como um segundo volante, seria hoje o segundo volante, o cara da saída rápida, da ligação com o ataque. E eu fazia isso muito bem, sem falsa modéstia. Uma das coisas que muito me orgulham ainda hoje é ouvir Didi Duarte dizer, várias vezes, que se não fosse minha presença em campo, fazendo o papel que desempenhava, ele não teria condição de ter rendido tanto. Eu discordo, mas ele afirma isso sempre. Volto para o jogo. Falta do lado esquerdo, quase quina de área. Lá vai o Baixinho Oidon bater. Prenúnico de grande lance, era assim sempre que aquele cracaço do distrito de Pajuçara, São Gonçalo do Amarante, ia cobrar uma falta. Ele chuta, um foguete que faz uma curva de lado da barreira, pressenti que, se Eugênio, goleiro do América, chegasse, não seguraria. Dito e feito.

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Cheguei na bola, no rebote, voando, no momento que ele soltava a pelota...o coração parece que ia saltar pela boca, chutei com força, com a alma, como em sonho, goooooooooooooooooooooooo ooooooooooooooool! Minha nossa, gol meu, eu que quase nunca marcava, fazendo justo na final. Nem sei o que se passou na minha cabeça naquele momento. Não consigo me lembrar de nada, só do desejo maluco de voar ao encontro da torcida que vibrava enlouquecida naquela arquibacada do lado esquerdo das cabines de rádio, onde se localizava a maravilhosa torcida verde. Lá em cima, na arquibancada, Francisco Macedo (querido amigo, torcedor fundador da FERA, e que já não mais está entre nós) teve um começo de infarto. Passou mal, desmaiou. Explico: ele, em conversas com amigos na mesa de um bar, havia dito que sonhava com o título do Alecrim, 1 a 0, gol meu. Por isso, o passamento... Mas, o desengano. Já ia correndo desesperado para comemorar quando vi o árbitro, gaúcho (não me lembro o nome, acho que era o Carlos Rosa Martins) com a mão levantada, mandando voltar a cobrança. Ele não tinha autorizado. Quase morri. Ia correr na direção do “cara de cachorro buldogue”, minha vontade era dar um “passa pé” no safado, mas aí chega meu anjo da guarda em campo, Didi Duarte... – Vai não velho, vai não – me disse, segurando meu braço. – Mas Didi, gol lícito – falei quase chorando. E Didi: – tem nada não, você faz outro, vamos jogar, vamos jogar, vamos ser campeões - me consolou. Só Deus sabe o que senti naquele momento. Mas segui. Correndo, combatendo, desarmando, e fazendo meu papel. O Alecrim fazia uma partida maravilhosa. Fizemos 1 a 0 com o artilheiro Freitas. E 2 a 0 com o Baixinho iluminado Odilon. Os minutos finais. Parecia um sonho. Era como se eu flutuasse. Não acreditava que aquele sonho, tantas vezes sonhado, adiado, e quase nem mais sonhado, estivesse se realizando no Estádio Machadão quase lotado. Passava um filme na minha vida, São Tomé, a vinda para Natal em cima de um


caminhão (quase pau de arara), os meus amigos com quem batia bola de meia no meio da rua, “seu” Sinedino, meu pai, que já não estava mais conosco, minha mãe, Toinha, que nunca me vira jogar, e nem sabia bem o que era futebol, meus irmãos, os amigos da Cidade Alta, os que torciam contra e a favor de mim, e principalmente, pensava no meu filho Dimitri, e minha esposa Evânia. Torcedores do Alecrim e ABC se abraçavam, faziam a festa. Escutei alguém gritar do banco que faltavam apenas dois minutos. Não sei o que se passou. Me lembrei dos anos de agonia, das discriminações, da falta de respeito, dos bons e dos maus dirigentes, das vezes que fui enganado, criticado... Comecei a chorar descontroladamente. Soluçava em campo. E cada companheiro que chegava perto de mim, me consolava e incentivava e reafirmava como se advinhando minha dúvida, minha incredulidade: “somos campeões, Amarelinho! Esse era um de meus apelidos do futebol. Fim de jogo. Torcida invade o gramado, ainda consegui esconder a camisa de número 11. O resto – calção, meiões, chuteiras...me levaram. E eu nem liguei. Desci de sunga para o vestiário. Me lembro do abraço, eu sem roupa nenhuma, do amigo Joilson Santana, que chorava muito me agradecendo pelo “presente que nós havíamos dado ao seu pai, Bastos Santana”. Chorei junto. Depois de 17 anos de sofrimento, o Alecrim Futebol Clube era de novo campeão estadual contra quase tudo e quase todos. E eu fazendo parte desta história. Ainda me lembro, na Praça Padre João Maria, todo o plantel e uma multidão nos acompanhando no pagamento de promessa. Eu já com meu filho Dimitri, de seis meses, no colo, e ao lado de minha esposa Evânia, orando ao padre querido a quem tínhamos feito o pedido humilde do título. Claro, Dona Aída, a mãe de santo de Brasília, já tinha recebido sua bolada e estava também festejando lá no se terreiro. Jantares, festas bichos, gratificações, mais festas, abraços e foi assim. No ano seguinte – 1986 – já sem os irmão Ribeiro, e com um presidente que não nos respeitava – Renato Cirilo – fo-

mos bicampeões. Por nós mesmos, e pela FERA – Fiéis Esmeraldinhos Radicais – torcida fiel, que se mexeu, trabalhou, se cotizou, inventou mil maneiras de minorar o difícil problema de falta de dinheiro, ganhamos o bi. Pela diretoria de Renato Cirilo, talvez um dos piores dirigentes que o Alecrim já teve, não teríamos conseguido nada. O Alecrim foi bicampeão, empatou de 0 a 0 com o ABC na final, jogava pelo empate. Todos os jogadores estavam com seus salários atrasados. E foi assim durante toda a disputa do Brasileiro – Campeonato Nacional. Renato Cirilo fazendo turismo pelos hotéis do Brasil e nós, jogadores, correndo, suando e sem receber nossos salários.

Os minutos finais. Parecia um sonho. Era como se eu flutuasse. Não acreditava que aquele sonho, tantas vezes sonhado, adiado, e quase nem mais sonhado, estivesse se realizando no Estádio Machadão quase lotado. Só para se ter uma ideia, o jogo contra o Botafogo, no Maracanã, o público foi de doze mil torcedores. O Alecrim recebeu uma bolada, e nós, nada. Pelo menos nós, os jogadores, nada. O treinador, não sei, afinal era ele que nos convencia, sempre, a continuar atuando. Lembro, e conto rapidinho de dois episódios de atraso. O primeiro foi meu, claro, logo na primeira partida contra a Portuguesa, em Natal. Depois da partida fui ao presidente. Ele disse que não tinha satisfação a me dar. Eu parti para cima, queria dar mesmo uns sopapos, acreditem, mas a turma me segurou. Depois, vários jogos e agonias depois,

acreditem, até o Baixinho Odilon, a pessoa mais de paz que conheci, perdeu as estribeiras e quis, também, dar um catiripapo no presidente sem futuro. Isso aconteceu no aeroporto de Maceió. Um último caso para definr o caráter do cara que presidia o time. Contra o Botafogo, no Rio, fiz um grande jogo. Mereci elogios, e até hoje me orgulho, de ninguém menos que João Saldanha, da Rádio Nacional, e Rui Porto, da Globo, acho eu. Por isso, no elevador do hotel, um dirigente do Botafogo mostrou interesse por mim e por De Leon. Me contaram que o nosso “presidente” concordou que eu era bom jogador, mas desaconselhou, acreditem, o cartola carioca e me contratar. E assim termino aqui a minha narrativa, humilde, dos dois últimos títulos conquistados pelo Alecrim Futebol Clube, símbolo de um dos bairros mais amados e importantes de nossa cidade. PS: para quem gosta de tudo saber, o time do Alecrim bicampeão, o base, era formado por César, Saraiva, Lúcio Sabiá (Ronaldo), De Leon (Ronaldo) e Soares; Doca, Eu, Didi e Odilon; Curió e Baíca. Vocês notaram que apenas dois jogadores não ficaram do elenco de 1985 – Carlos Alberto e Freitas, entrando Doca e Baíca. E aproveito para homenagear, nesse texto, alecrinenses ilustres, amados, amantes do clube, que muito fizeram pelo Alecrim e não estão mais entre nós: João Bastos de Santana – o mais maravilhoso de todos, o homem que me levou para o Alecrim. Me comprou a Ranilson Cristino, do Força e Luz, por 30 pares de chuteiras, meões e calções (diz Ranilson que nunca recebeu esse pagamento). José Arivan – meu querido amigo Pastel, um dos fundadores da FERA. Francisco Macedo – trovador, ex-presidente e também fundador da FERA. Braz Nunes – eterno dirigente querido, quando vivo sempre presente na vida do clube. Severino Lopes – graças a sua dureza, firmeza, e honestidade, o Alecrim se perpetuou. Joilson Santana – Grande dirigente, incentivador, batalhador e muito importante nas conquistas. Enfim, minha homenagem a todos os alecrinenses que ajudaram a escrever essa história linda que já tem 100 anos.

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