Revista Aviação Agrícola - Edição 5 - outubro / dezembro 2019

Arte: Beto Soares sobre foto de Graziele Dietrich/Sindag

Outubro a dezembro de 2019 Ano 02 # 05

COMBATE NO AR

Decisão do STF considerando constitucional pesquisas para uso de aviões contra VETORES reafirmou importância da ferramenta para salvar vidas

Incêndios

Cinquentenário

Aeroagrícolas fizeram pelo menos 1,8 mil lançamentos contra chamas este ano

Aviação agrícola festeja o aniversário de sua Certidão de Nascimento

Veja todas as edições da Revista Aviação Agrícola usando o QR Code ou acessando: www.issuu.com/ibravag.imprensa

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SUMÁRIO

REVISTA AVAG # 05

Aviação Agrícola é uma publicação trimestral do Instituto Brasileiro da Aviação Agrícola – IBRAVAG Coordenação, textos e edição: Castor Becker Júnior jornalista - reg. 8862-DRT/RS

ESPECIAL

16 a 46

AVIÕES CONTRA MOSQUITOS

Textos: Jane Catarina de Oliveira jornalista - reg. 5857-DRT/RS

Histórico, desdobramentos, cenário e experiências no combate aéreo a vetores

Comercial: Romualdo Francisco da Silva E-mail: relacionamentosindag2@gmail.com Fones: (54) 99196-4068 - (54) 99711-2812

Projeto gráfico e diagramação: Beto Soares (Estúdio Boom) Conselho Editorial Eduardo Cordeiro de Araújo Gabriel Colle José Cordeiro de Araújo Júlio Augusto Kämpf Júnior Oliveira

INCÊNDIOS

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Empresas aeroagrícolas somaram mais de 350 horas de voo contra as chamas este ano

GESTÃO

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Sindag avalia conquistas do primeiro ano do planejamento estratégico até 2022

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO Presidente: Júlio Augusto Kämpf Vice-presidente: Thiago Magalhães

CONGRESSO

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Encontro do setor supera recordes e já prepara sua edição latinoamericana para 2020

SHOW

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Esquadrão Sindag foi destaque em evento de 70 mil pessoas na Academia da Força Aérea

Conselheiros: Alexandre de Lima Schramm Bruno Ricardo de Vasconcelos Marcos Antônio Camargo Mário Augusto Capacchi Nelson Coutinho Peña Conselho Fiscal: Jorge Humberto Morato de Toledo Marcelo Amaral Endereço: Rua Felicíssimo de Azevedo, nº 53, sala 703 Bairro São João Porto Alegre/RS, CEP 90540-110

(51) 3237-7961

RECONHECIMENTO

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Os 50 anos do decreto que regulamentou a aviação agrícola no Brasil

MEIO AMBIENTE

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Estudantes paulistas preparam sementes para plantio aéreo em área ambiental

ibravag@ibravag.org.br

www.ibravag.org.br Outubro a dezembro de 2019 AvAg

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EDITORIAL Frank Collins/CDC/Biblioteca de Saúde Pública

E

m setembro deste ano, o Ministério da Saúde divulgou o alarmante Boletim Epidemiológico 22 – revelando que o Brasil registra 6 mil novos casos de dengue todos os dias. No mesmo dia (11), o Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN) 5.592 contra a utilização de aviões no combate ao mosquito Aedes aegypti em áreas de epidemia. Ao dar o voto que encerrou o processo, o presidente do STF, ministro Dias Toffolli, fez questão de citar o Boletim.

Em última instância, naquele momento, a Suprema Corte decidiu que é constitucional salvar vidas, estimular e desenvolver a pesquisa.

Desde 2004, o Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag) propõe ao Ministério da Saúde a comprovação das técnicas e a criação de um protocolo 4

AvAg Outubro a dezembro de 2019

brasileiro para a utilização de aviões no combate a mosquitos, já empregadas com sucesso, em 1975, em um surto de encefalite provocado por mosquitos, na Baixada Santista.

Em 2016, quando da publicação da Lei 13.301, que inclui a pulverização aérea nas estratégias de combate ao Aedes aegypti “mediante aprovação das autoridades sanitárias e da comprovação científica da eficácia da medida” (artigo 1º, § 3º, inciso IV), o Sindag e o Instituto Brasileiro de Aviação Agrícola (Ibravag) visualizaram, enfim, a oportunidade de um debate racional. Ironicamente, o então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, propôs a ADIN alegando proteção à saúde pública.

Mas o princípio da precaução (na época alegado) não poderia afastar essa técnica. O povo

brasileiro, no que se refere às doenças transmitidas pelo Aedes aegypti, não tinha – e ainda não tem – o seu direito à saúde respeitado, haja visto os dados estatísticos da evolução dos casos de dengue, zika e chikungunya no Brasil. Isso demonstra como a ação da Procuradoria e o silêncio do Ministério da Saúde desconsideraram o sucesso do uso dessa tecnologia em diversos países e, ainda, os baixos resultados na utilização dos métodos tradicionais e outras propostas testadas para os casos de epidemia. Uma atitude inexplicável e imbuída de preconceito.

Nesse sentido, portanto, a aplicação aérea, ao invés de ameaçar a Saúde Pública, contribui para que esse direito seja restabelecido. A melhor estratégia no combate à dengue, chikungunya e zika é clara: prevenção. Para tanto, é necessário que haja conscientização da população e grandes investimentos em urbanização e saneamento. Para a atuação emergencial, a aviação agrícola, já regulamentada para controle de vetores, apresenta-se como uma solução segura e eficaz.

Com a utilização de larvicidas biológicos é possível reduzir a proliferação de mosquitos, ainda na forma larval. Nos casos de epidemia, são utilizados produtos saneantes, adulticidas fabricados e autorizados para estas especificações.

Essa é uma discussão importante para o País, a qual esperamos que prossiga com racionalidade. Com esse propósito, dedicamos boa parte desta 5ª edição da revista Aviação Agrícola para explicar o histórico e o cenário atual deste tema. Seguimos trabalhando por um Brasil em que a disputa de interesses não ocasione mortes e casos de microcefalia.

Com ações conjuntas, poderemos ter um país livre da dengue.

Júlio Augusto Kämpf Presidente do Conselho de Administração do Ibravag

INSTITUTO

Ibravag começa a receber novos associados Entidade criada no ano passado agora foi oficializada e deve abranger diversos setores ligados à cadeia aeroagrícola

D

epois de concluída, em setembro, as etapas de ajustes na documentação e registro da entidade junto aos órgãos governamentais, o Instituto Brasileiro da Aviação Agrícola (Ibravag) oficializou em outubro as primeiras sete inscrições de membros que não haviam participado de sua fundação, em 2018. Segundo o presidente do Conselho de Administração da entidade, Júlio Augusto Kämpf, as inscrições haviam sido feitas durante o Congresso da Aviação Agrícola do Brasil, ocorrido em Sertãozinho/SP (entre 30 de julho e 1º de agosto).

“São as primeiras pessoas fora do grupo fundador que se interessaram

OS PRIMEIROS ASSOCIADOS (por categoria) Operadores Privados da Aviação Agrícola - Darsi Fritzen e Outros Fornecedores do Setor - Aeroglobo Aeronaves - Zanoni Equipamentos - Cruzeiro do Sul Aviação Profissionais do Setor - Thiago Panosso - Álvaro Andrade - Leonardo Alves Gusmão

pela proposta da entidade e decidiram efetivar sua participação”, assinala. “Assim, essas inscrições têm um valor simbólico muito

grande e devem se multiplicar a partir de agora”, com a largada para novos associados”, completa Kämpf.

O Ibravag tem como objetivo congregar toda a cadeia ligada direta ou indiretamente ao setor aeroagrícola, desde os fornecedores da indústria aeronáutica, agrônomos, técnicos e outros profissionais, até empresas aeroagrícolas, produtores rurais e outras entidades representativas do agronegócio. Também está entre as atribuições do Ibravag preservar a memória do setor aeroagrícola brasileiro, promover cursos e divulgar informações técnicas e de interesse social sobre o setor.

Para isso, o Ibravag pode firmar convênios com entidades nacionais ou estrangeiras, além de promover encontros, congressos, seminários, reuniões técnicas e debates. E publicar periódicos – como é o caso da revista Aviação Agrícola. “Um esforço para mostrar à sociedade a importância de um setor de diversas maneiras tão presente no seu dia a dia e ainda pouco compreendido”, explica Kämpf.

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CARTOLA FOGO

Aviação agrícola fez mais de 1,8 mil lançamentos contra chamas na temporada de incêndios de 2019 Sete empresas aeroagrícolas fizeraM pelo menos 350 HORAS em operações no Sudeste, Centro-Oeste e na Amazônia LEGAL, auxiliando e protegendo brigadistas em lavouras e reservas naturais

TRABALHO INTENSO Em Goiás, a Brigada da Aerotex, voou mais de 200 horas e fez mais de 1 mil lançamentos de água contra incêndios, atendendo a mais de 140 chamados

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AvAg Junho Outubro a setembro a dezembro de de 2019 2019

Aerotex Aviação Agrícola

P

elo menos sete empresas aeroagrícolas brasileiras atuaram forte na temporada de incêndios deste ano, nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e na Amazônia Legal. Entre julho e o final de setembro, elas fizeram mais de 1,8 mil lançamentos de água contra chamas, somando pelo menos 350 horas de voo nesse tipo de operação. Números que na verdade são maiores, já que algumas das empresas acabaram não informando a tempo para a reportagem da revista Aviação Agrícola os dados de suas operações. Uma delas com quatro aviões combatendo incêndios em Rondônia, dentro da Operação Verde Brasil, coordenada pelo Ministério da Defesa.

Operação Verde Brasil, aliás, que recebeu ajuda também de aeronaves agrícolas de fora do País. Quatro aviões Air Tractor AT-802 foram enviados pelo governo do Chile, a título de ajuda humanitária. Segundo o último balanço do Ministério da Defesa sobre as operações na Amazônia, divulgado em 3 de outubro, o quarteto chileno (na verdade, três das aeronaves têm matrícula argentina) somou 138 horas voadas e 374 ataques a focos de incêndio.

Os pilotos estrangeiros chegaram no começo de setembro, atuaram na Serra do Cachimbo, no Pará, e depois foram deslocados para Palmas, no Tocantins. No sentido contrário, teve empresa brasileira que, além de atuar em focos de incêndio no Brasil, também enviou aeronaves para o Paraguai, para combater as chamas na Região do Chaco. Nesse caso, como contratada do governo paraguaio.

O certo é que todos os anos, na primeira metade do segundo semestre, as chamas castigam lavouras e áreas de preservação no Brasil. E, cada vez mais, a aviação agrícola vem desempenhando papel importante na preservação de reservas naturais e na proteção das equipes em solo e de lavouras. Sem falar nas instalações e residências próximas às chamas.

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MISSÃO INTERNACIONAL

FOGO Secretaria de Emergência Nacional do Paraguai

No Paraguai, o presidente Mario Abdo Benítez (direita) foi receber os pilotos brasileiros

Aviões brasileiros da Chapada dos Guimarães ao Chaco paraguaio Desde agosto, a Americasul Aviação Agrícola, da cidade goiana de Formosa, combateu incêndios na Chapada dos Guimarães/ MT, Chapada dos Veadeiros/ GO, Cáceres/ MT e em Rondônia.

Em todos os locais através do convênio mantido com o ICM-Bio para atuação em reservas federais.

No caso da Amazônia, a atuação foi dentro da Operação Verde Brasil, mas também através do Instituto Chico Mendes, que se engajou nas operações. Segundo o sócio-gerente da Americasul, Astor Schlindwein, só na Chapada dos Guimarães sua equipe foi chamada três vezes neste ano.

Na primeira semana em que foi acionada, colocou duas aeronaves no local; na segunda semana, usou quatro aviões e, na terceira ação, novamente dois (em todas, aparelhos modelo AT- 502). “Faço questão de que haja pelo menos dois aviões atuando juntos nos combates a incêndios, pois gera maior eficiência”, revela.

Já a Serrana Aviação Agrícola, de São Gabriel do Oeste/MT, cruzou em setembro a fronteira do Paraguai, para integrar a força internacional de combate ao fogo na região do Chaco. Ela foi contratada pelo governo do país vizinho e enviou quatro AT- 502 ao

Departamento de Alto Paraguay, na fronteira com a Bolívia. O próprio presidente paraguaio, Mario Abdo Benitez recebeu os pilotos brasileiros no dia 10. Segundo o piloto e coordenador de operações da Serrana, Caio Balzan, além dos brasileiros, a força no local tinha um AT-802 do Chile e mais dois PZL Dromader argentinos.

Segundo Balzan, quando chegaram ao teatro de operações, a situação estava crítica. “O fogo havia fugido do controle no lado boliviano e avançava em alta velocidade sobre o Chaco. Lá é normal a temperatura chegar a 47 ou 48 graus e os ventos ficarem acima de 50 quilômetros por hora, o que ajuda a propagação”, assinala.

A Serrana ficou no Chaco até 8 de outubro, quando as chamas foram extintas.

Atividade cresceu no País, comparando com 2018 Segundo o presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag), Thiago Magalhães, o uso de aviões do setor no combate a incêndios cresceu entre 20% e 30% em relação a 2018. E a expectativa é de que continue nesse ritmo, já que, além das ações em áreas de preservação – em parceria, por exemplo, com o ICM-Bio e com bombeiros dos Estados, a 8

AvAg Outubro a dezembro de 2019

iniciativa privada passou a recorrer mais aos operadores aeroagrícolas.

“Reconhecendo o custo/ benefício para auxiliar as equipes de solo no combate a incêndios em lavouras”, completa. Para o dirigente, a tendência é mais empresas se especializarem e terem o combate a incêndios como atividade principal (em pelo menos uma isso já acontece). “Mas é um trabalho complexo, que demanda

muito tempo de amadurecimento.”

Dirigindo a Tangará Aero Agrícola, fundada em 1985 por seu pai, Antônio Carlos da Silva (Carlito) Magalhães, há três anos Tiago Magalhães atua também no combate a incêndios. Este ano, foram cerca de 100 horas de voo contra focos em plantações de cana-de-açúcar no interior paulista. O que representou 592 lançamentos.

SÃO PAULO E MATO GROSSO Também em São Paulo – em São José do Rio Preto, a Imagem Aviação Agrícola atendeu tanto a usineiros quanto ao governo do Estado, em apoio no combate a incêndios em vegetação. No entanto, segundo o empresário, Jorge Morato de Toledo, os pedidos de auxílio da iniciativa privada foram destaque este ano. Para o Estado, a Imagem havia atuado durante dois dias (29 e 30 de agosto) para conter um fogo de grandes proporções em uma área de preservação permanente no município de Castilho. Foram quase 19 horas e meia de voo, jogando sobre as chamas aproximadamente 138 mil litros de água. Para a iniciativa privada foram cinco chamados, quatro de usinas paulistas e um de Minas Gerais. No total, mais de 15 horas de voo, com uma média de 6 a 7 lançamentos por hora, chegando a 196 mil litros de água.

A 50 quilômetros da base da Imagem, a Pachu Aviação Agrícola, de Olímpia, também decolou para ajudar equipes em solo a apagar incêndios antes que eles destruíssem áreas de mata. Foram dois chamados, um deles por uma

usina sucroalcooleira do município de Itajobi, e outro pela Prefeitura de Bebedouro. Missões distintas, mas com duas horas de voo e dez lançamentos cada uma. O diretor da Pachu, Marcelo (China) Amaral, que pilotou nas operações, conta que em Itajobi o foco era em uma plantação de cana, mas se dirigindo a uma área de preservação. “Em Bebedouro, o chamado foi para controlar as chamas em mata nos arreadores da cidade”.

Já no Mato Grosso, a Rondon Aviação Agrícola entrou em ação em setembro para apoiar o Corpo de Bombeiros do Estado na Serra de Tapirapuã. A operação ali – entre o município de Tangará da Serra, onde fica a base da empresa, e Nova Olímpia – foi voluntária e em uma área de preservação ambiental.

A Rondon colocou dois aviões para apoiar o AT-802 do Corpo de Bombeiros, dando suporte também aos mais de 25 homens em terra. Foram oito horas de voo para a empresa, sendo quatro horas de monitoramento e quatro fazendo controle efetivo – com oito lançamentos de 1,9 mil litros de água cada.

Rodrigo Fernandes/Imagem Aviação Agrícola

COMBATE: Em São Paulo, foram cerca de 670 lançamentos de água, somando mais de 1,15 milhão de litros despejados contra o fogo

Atendimento a produtores cresce em Goiás e beneficia mais entidades Em seu segundo ano de operação, a Brigada Aérea Aerotex, em Rio Verde/GO, consolidou-se como uma força operacional importante no auxílio aos produtores do sudoeste goiano. Enquanto em 2018 ela atuou apenas em setembro, desta vez o trabalho começou no início de julho, fechando três meses intensos: foram 200 horas de voo, com 1.050 lançamentos, somando 630 mil litros de água jogados contra as chamas. O serviço começou com dois e terminou com cinco aviões de prontidão.

Como no ano passado, 50% do arrecado com serviço prestado aos produtores foi para entidades filantrópicas do município. Isto é, R$ 130 mil, distribuídos entre o Hospital do Câncer de Rio Verde, o Abrigo de Idosos, uma escola de educação especial e outras instituições. Em 2018, haviam sido R$ 45 mil, entregues ao hospital.

“A criação da Brigada foi uma forma de atender nossos clientes e, ao mesmo tempo, fazer com que aviação agrícola e produtores rurais contribuam para o bemestar da sociedade”, destaca o diretor da Aerotex, Ruy Alberto Textor. Pela iniciativa, cerca de 100 produtores rurais dividem os custos dos pilotos e apoio de solo durante a prontidão. E quem aciona o serviço paga as horas voadas para seu atendimento.

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SHOWGESTÃO AÉREO

BALANÇO: Colle (em pé à dir) orientou o encontro da diretoria do sindicato aeroagrícola na sede da Abag, onde o grupo foi recebido por Pinazza (à esq, sentado)

Diretoria faz primeira avaliação do Planejamento Estratégico do Sindag No caminho para 2022, entidade conquistou 20 novas associadas, aumentou presença em universidades, promoveu congresso recordista e prepara ferramenta de gestão

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implantação de assessoria para abertura de novas empresas aeroagrícolas e a consolidação do sistema de documentação para as associadas estão entre os avanços apontados no primeiro balanço anual do Planejamento Estratégico do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag). No encontro, ocorrido dias 26 e 27 de setembro, em São Paulo, a diretoria da entidade também destacou a consolidação de uma agenda política permanente em Brasília e, 10 AvAg Outubro a dezembro de 2019

principalmente, nos Estados – a partir da aproximação e diálogo com parlamentares nas assembleias legislativas e municípios.

Essa foi a primeira revisão do plano aprovado no ano passado, com foco para desenvolvimento de toda a cadeia aeroagrícola. Com isso, o caminho até 2022 é beneficiar as associadas a partir da conjuntura, valorizando também as relações do setor com a própria sociedade. Na avaliação do diretor-executivo do Sindag, Gabriel Colle, o saldo positivo dos primeiros 12 meses abrange

também o incremento de 20 novas associadas no quadro da entidade e a presença constante do setor aeroagrícola em escolas e universidades, “além da boa articulação com entidades estaduais e nacionais da Agricultura”.

Não por acaso, a reunião ocorreu na sede da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), onde o grupo foi recepcionado pelo diretor técnico Luiz Antônio Pinazza. Aprovado em setembro de 2018, o Planejamento Estratégico do Sindag prevê 34 ações para serem executadas em oito objetivos estratégicos: Articulação, Associativismo, Governança, Pesquisa e Inovação, Promoção, Qualificação, Regulação e Serviços.

“Tivemos um Congresso da Aviação Agrícola recordista e o Sindag esteve em mais de 200 eventos neste ano, sem falar no convênio com a Universidade de Cruz Alta (Unicruz) para pesquisas no setor”, pontua Colle. Sobre as grandes metas para 2020, ele destaca a implantação de um sistema padrão de gestão de empresas, a partir de uma ferramenta que está prestes a ser colocada à disposição das associadas. Ainda a articulação para se criar no País um marco regulatório do setor, atualizando a legislação sobre a atividade.

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Outubro a dezembro de 2019 AvAg 11

Congresso aeroagrícola bate recorde e aumenta expectativas para 2020

Júnior Dagostin

EVENTOS

Próxima edição do encontro brasileiro também será em Sertãozinho e terá junto a programação do Comitê Mercosul e Latino-Americano de Aviação Agrícola

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epois da edição recordista do Congresso da Aviação Agrícola do Brasil, terminada em 1º de agosto, em Sertãozinho, a expectativa já é alta para a edição 2020 do evento (que será na mesma cidade paulista, de 28 a 30 de julho). Não só pelos desdobramentos que ainda devem ocorrer nos próximos meses na pauta brasileira entre um ano e outro do evento. Mas, especialmente, depois do Sindag ter, em seguida, assumido o comando do Comitê Mercosul e Latino Americano de Aviação Agrícola – primeiro passo para a abrangência continental da programação do ano que vem.

Em resumo, o 29º Congresso Mercosul e Latino Americano de Aviação Agrícola ocorrerrá paralelamente ao próximo encontro aeroagrícola brasileiro.

O evento promovido pelo Sindag se tornou o maior do mundo ao reunir, durante três dias em 2019, um público de 3,1 mil pessoas, que circulou entre os 143 expositores da mostra de aeronaves, tecnologias e equipamentos. Multidão que também acompanhou as 42 palestras e cinco fóruns de discussões – Científico, Político, sobre uso de drones, a respeito da falta de gasolina de aviação (avgas) e de tecnologias de aplicação.

Conforme o diretor-executivo do sindicato aeroagrícola, Gabriel Colle, os debates e encontros em Sertãozinho sacramentaram diversas ações institucionais importantes e reforçaram outras tantas, não menos relevantes, para até julho do ano que vem. “Além disso, o Município nos recebeu de braços abertos e tivemos um bom retorno da 12 AvAg Outubro a dezembro de 2019

SUCESSO: Edição de Sertãozinho do encontro aeroagrícola fez do evento brasileiro o maior do mundo no setor

Pauta comum deve intensificar debates A geração de base científica para atestar a segurança e rebater estereótipos também foi destaque no Congresso Mercosul e Latino-Americano de 2019, que ocorreu no Uruguai, uma semana depois do encontro Brasileiro. Na ocasião, o próprio ministro da Agricultura uruguaio, Enzo Benech, visitou o estande do Sindag e já recebeu o convite para a edição de 2020 do evento, no Brasil. O encontro do Mercosul segue um rodízio entre os três principais países do Comitê: Argentina, Uruguai e Brasil, revezando-se nessa ordem, a cada ano e em cada país.

O que leva também ao reforço da comunidade, que foi em peso conhecer a aviação agrícola, especialmente nas demonstrações aéreas que ocorreram na área junto ao pavilhão do evento.”

Entre as ações, Colle cita a retomada da agenda positiva com a Agência Nacional de Aviação Agrícola (Anac), com o desdobramento de diversas demandas já debatidas desde setembro, em Brasília, além das ações para fomentar pesquisas sobre tecnologias de aplicações aéreas. Um exemplo é

pauta política no Brasil, que já teve este ano como destaque em Sertãozinho o Fórum Político, com parlamentares das esferas federal, estadual e municipal.

Além do apoio declarado da Frente Parlamentar da Agricultura (FPA), do Congresso Nacional (que abrange 225 deputados e 32 senadores). A Frente foi representada pelo deputado e exsecretário de agricultura de São Paulo, Arnaldo Jardim. O Fórum Político teve ainda a presença do deputado gaúcho Gabriel Souza (MDB), que integra as comissões de Agricultura, Pecuária e Cooperativismo e de Saúde e Meio Ambiente da Assembleia Legislativa de seu Estado. o próprio Fórum Científico, que listou prioridades até 2022. “Mas, para 2020, o trabalho encabeçado pelo professor Maurício Pasini, da Universidade de Cruz Alta (Unicruz), no Rio Grande do Sul, está propondo a universidades de todo o País pesquisas sobre a eficiência do setor, para prevenir e combater mitos”, explica Colle. Debate que já chegou a boa parte das 114 instituições de ensino que estiveram representadas no evento.

Os 50 anos da Certidão de Nascimento da aviação agrícola nacional Setor existe no País desde 1947, mas em 1969 passou a ser reconhecido nas estratégias governamentais de desenvolvimento, além de regulado e fiscalizado pela União

O

utubro marcou o cinquentenário da instituição oficial da aviação agrícola brasileira, quando a atividade foi reconhecida e passou a ser regulada e fiscalizada pelo governo federal.

O setor aeroagrícola existia no País desde 1947 (e no mundo desde 1921), mas foi com o Decreto-Lei 917, de 7 de outubro de 1969, que ganhou sua Certidão de Nascimento e passou a ser

incluído nas políticas nacionais para o setor primário. O dispositivo colocou a atividade sob a tutela do Ministério da Agricultura, ressalvando a competência de outros órgãos federais como os Ministérios do Meio Ambiente e da Aeronáutica – como é até hoje Apesar do Curso de Piloto Agrícola ter sido oficializando em 1965, foi o Decreto-Lei de quatro anos depois que estabeleceu, por exemplo, prerrogativas da aviação no trato de lavouras, semeadura, aplicação de fertilizantes, combate a incêndios florestais, povoamento de rios e lagos e outros empregos que viessem a ser aconselhados. Mais que isso, o documento (regulamentado mais tarde pelo decreto 86.765, de 22 de dezembro de 1981) prevê apoio para pesquisas e aperfeiçoamento, parceria com universidades e outras instituições,

além de ações para desenvolver e garantir a segurança do setor.

Assim, no mesmo ano os Ministérios da Agricultura e da Aeronáutica firmaram convênio para a construção do Ipanema, o primeiro avião agrícola brasileiro. O modelo, que entrou em operação em 1971, ainda hoje é fabricado (está em sua 7ª geração) e representa 60% da frota nacional.

Paralelamente, o Ministério da Agricultura consolidou na antiga Fazenda Ipanema, um centro de ensino e pesquisa no atual município de Iperó/SP, a formação de pilotos, engenheiros e técnicos para atuarem no setor. O que funcionou até o início dos anos 90, quando os cursos passaram para a iniciativa privada.

Atualmente com a segunda maior frota do mundo (cerca de 2,2 mil aeronaves), a aviação agrícola brasileira é uma das melhores do planeta em pilotos e tecnologias. E ainda é a única ferramenta para o trato de lavouras do País com regulamentação própria, obedecendo a mais de 20 normas e regulamentos específicos – por isso mesmo também a mais transparente e fiscalizada.

Ricardo Beccari

Esquadrão Sindag participa da festa Portões Abertos da Academia da Força Aérea O Esquadrão Sindag foi destaque na programação Portões Abertos da Academia da Força Aérea (AFA), em Pirassununga, São Paulo. Diante de um público de 70 mil pessoas, os quatro aviões agrícolas (três Air Tractor e um Piper Pawnne biplace, de treinamento) dividiram a festa, em 15 de setembro, com as aeronaves da Esquadrilha da Fumaça, aviões de caça e até o novo cargueiro KC- 390, da Força Aérea Brasileira (FAB), entre outras atrações.

Além das demonstrações de pulverizações aéreas e combate a incêndios, os expectadores (principalmente a criançada) também puderam aprender sobre o setor aeroagrícola. Os pilotos conversaram com as pessoas

Esquadrão Sindag e Esquadrilha da Fumaça: pilotos fizeram a festa de adultos e crianças no Ninho das Águias

sobre as rotinas, segurança e a importância para a produção agrícola eficiente e ambientalmente sustentável. Além da capacidade de cumprir missões diversas, como as de combate a incêndios florestais.

Os pequenos também receberam

exemplares da revista Flapinho, com brincadeiras e informações sobre o setor. A movimentação no Ninho das Águias (como é chamada a AFA) se repete há 40 anos e é tradição também em outras unidades da Força Aérea pelo País.

Outubro a dezembro de 2019 AvAg 13

MEIO AMBIENTE Empresa realiza semeadura aérea de árvores nativas em São Paulo Ação integrou um projeto ambiental de Morro Agudo, onde estudantes coletaram e prepararam as sementes para recuperação de uma área de preservação permanente

L

ançar de avião sementes de árvores entregues por crianças, em uma ação ecológica de escolas públicas para recuperar uma Área de Preservação Permanente (APP) em Morro Agudo, São Paulo. Essa foi a missão cumprida no início de outubro pela empresa Tangará Aeroagrícola,

14 AvAg Outubro a dezembro de 2019

AÇÃO: Estudantes e professores levaram as sementes preparadas pelas crianças para serem lançadas por avião

da vizinha Orlândia. As sementes, recebidas pelo piloto Rogério Velludo Ribeiro, foram entregues na Tangará por uma comitiva com representantes da Secretaria Municipal de Educação e de escolas de Morro Agudo.

Antes, porém, a carga recebeu um tratamento especial: além da coleta de sementes nativas, o trabalho com os estudantes abrangeu a preparação de uma espécie de massa com argila e substratos para envolver as sementes em bolinhas orgânicas. Isso para potencializar a germinação das plantas, que foram lançadas a partir

de um Piper Pawnee em uma área ribeirinha sem mata ciliar.

Essa não foi a primeira vez que a empresa realizou esse tipo de ação com estudantes. Em setembro de 2017, durante as comemorações do Dia da Árvore, crianças de uma escola infantil de Orlândia foram à empresa despejar suas sementes nativas diretamente no hopper (tanque de produtos) do avião. A aeronave decolou com os pequenos acenando e lançou a carga em uma área de recuperação indicada por uma ONG ambiental da cidade.

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ESPECIAL AVIAÇÃO x MOSQUITOS

Supremo permite que órgãos oficiais avaliem o uso de aviões no combate a mosquitos Ministros derrubaram ação de inconstitucionalidade contra a medida, frente ao avanço principalmente da dengue, que chega a 6 mil novos casos por dia no País. No setor aeroagrícola, expectativa é de que a DECISÃO elimine preconceitos sobre a questão

“O

Ministério da Saúde informou hoje, 11 de setembro, que do dia de 30 de dezembro (2018) a 24 de agosto (deste ano) foram registrados 1. 439. 471 casos de dengue em todo o País. Permitam-me repetir: UM MILHÃO, QUATROCENTOS E TRINTA E NOVE MIL E QUATROCENTOS E SETENTA E UM CASOS DE DENGUE”. Assim o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, enfatizou o seu voto permitindo que o Ministério da Saúde faça pesquisas no País para aplicação aérea de produtos contra mosquitos. Antes de fechar a votação e encerrar o caso, ele ainda arrematou: “A média é 6.074 casos por dia e representa um aumento de 599,5% na comparação com 2018.”

A sessão do STF em 11 de setembro 16 AvAg Outubro a dezembro de 2019

deste ano derrubou a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN) 5.592, que tramitava na casa desde 2016, por iniciativa do então procuradorgeral da República, Rodrigo Janot. O processo era contra dispositivo da Lei 13.301/2016 que inclui a pulverização aérea nas estratégias de combate ao mosquito Aedes aegypti no País (artigo 1º, § 3º, inciso IV).

O julgamento terminou com o entendimento de que a ferramenta aérea pode ser usada no combate a mosquitos, desde que haja permissão das autoridades sanitárias e ambientais. O que, na prática, já estava previsto na própria lei, que diz: “mediante aprovação das autoridades sanitárias e da comprovação científica da eficácia da medida”. Na contagem final, foram oito votos a três pela

VITÓRIA Plenário acabou fechando em oito a três a votação em favor do uso da ferramenta aérea

permanência na lei do dispositivo prevendo o uso de aviões contra mosquitos.

CORRENTES Depois entrar e sair da pauta do plenário do STF por diversas vezes desde 2017, a ADIN 5.592 começou a ser julgada no dia 5 de abril deste ano.

Na época, a votação acabou abrindo três correntes entre os ministros da casa. Uma delas a da relatora, ministra Cármem Lúcia, que havia julgado procedente o pedido da PGR. Já os ministros Alexandre de Moraes,

Fotos: Nelson Jr/STF

A média é 6.074 casos por dia e representa um aumento de 599,5% na comparação com 2018.

Ministro Dias Toffoli Sobre os dados alarmantes informados pelo Ministério da Saúde sobre o aumento impressionante dos casos de dengue no país em menos de 1 ano

Marco Aurélio Mello, Gilmar Mendes e Luiz Fux haviam julgado improcedente o pedido.

Luís Roberto Barroso, Edson Fachin e Rosa Weber julgaram parcialmente procedente, liberando o dispositivo, mas incluindo a necessidade de autorização da saúde (que já estava prevista na lei) e ambiental (que, na prática, já incidia sobre a aviação agrícola). Ricardo Lewandowski foi quem abriu a terceira frente, acompanhando a relatora em parte, mas exigindo que deveria ser retirado da lei a opção da “dispersão por aeronaves” dos produtos contra mosquitos.

Ficaram para setembro os votos de Celso de Mello, que acompanhou o voto de Lewandowski, e o do presidente Dias Toffoli, que acompanhou a corrente de Barroso.

Outubro a dezembro de 2019 AvAg 17

ESPECIAL AVIAÇÃO x MOSQUITOS Reprodução TV Justiça

DEFESA Vollbrecht fez a sustentação oral pelo setor aeroagrícola

Sindag foi incluído no processo

para defender a aviação A aviação esteve representada no STF pelo Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag), que havia solicitado sua inclusão no processo como amicus curiae – entidade cujo conhecimento ou relação com o debate pode contribuir com a discussão, o que foi aceito pela corte. Com isso, o assessor jurídico do Sindag, Ricardo

Vollbrecht, fez a sustentação oral na sessão de abril. “Com relação à saúde e à proteção ao meio ambiente, levamos aos ministros mais de 30 estudos, que atestam a segurança ambiental da aviação no combate a mosquitos”, recorda.

Em sua fala no Supremo, Vollbrecht citou que aviões são recomendados pela própria

Organização Mundial de Saúde (OMS) em diversas situações no combate a mosquitos, pela sua capacidade de acessar rapidamente grandes áreas úmidas e de vegetação alta, além de outros pontos de difícil acesso pelas equipes de terra. Ele também lembrou que os produtos aplicados por aeronaves são os mesmos já usados pelos fumacês em terra.

O advogado citou a experiência bem-sucedida ocorrida em 1975, quando o uso de aviões ajudou a erradicar focos de mosquito que causavam um surto de encefalite no litoral paulista (veja na página 32), além de exemplos de outros países, inclusive na Europa, que utilizam aplicações aéreas contra vetores. Vollbrecht lembrou ainda a pressão crescente dos casos de doenças sobre o sistema de saúde.

Como em Araraquara, no interior paulista, onde depois de quase 4 mil casos de dengue e quatro mortes no início do ano, em março, a própria prefeitura resolveu utilizar drones para pulverização de larvicidas e inseticidas contra o Aedes aegypti.

FOCO na coerência para frear as estatísticas O presidente do Ibravag e expresidente do Sindag, Júlio Kämpf, acredita que a decisão do STF vai garantir segurança jurídica aos órgãos de Saúde e Meio Ambiente.

Ele lembra que há 15 anos o Sindag estruturou uma proposta para submeter a aviação a pesquisas pelas autoridades de Saúde, para se avaliar a eficácia e elaborar um protocolo nacional desta tecnologia – com o sindicato fornecendo meios para isso (aviões, equipamentos embarcados e técnicos com experiência nesse tipo de operação). “Porém, ao invés do 18 AvAg Outubro a dezembro de 2019

assunto andar, passamos uma década e meia rebatendo absurdos pela falta de informação e preconceitos, inclusive de autoridades”.

Em 2016, veio a Medida Provisória nº 712/2016 – com a emenda do então deputado federal Valdir Colatto (MDB/SC) prevendo a aviação nas estratégicas contra mosquitos. A MP, assinada pela então presidente Dilma Rousseff, foi debatida no Congresso Nacional (ouvindo-se autoridades, pesquisadores e até vítimas de doenças) e então transforada na Lei 13.301, sancionada pelo então

presidente Michel Temer, gerando daí ação no STF. “Nesses anos todos, as doenças transmitidas por mosquitos aumentaram exponencialmente, com as estatísticas provando que as estratégias até então utilizadas não foram suficientes para conter essa praga”, critica Kämpf, lembrando que 2004 foi o último ano em que os números da dengue no País couberam em cinco dígitos.

Foram 72.326 casos na época, um crescimento de mais de 1.990% de casos no comparativo com 2019,

Avanço da dengue no País

Fonte: Ministério da Saúde

Região NORTE 2018: 10.449 2019: 26.890

Região NORDESTE 2018: 55.924 2019: 177.677

Estado com maior número de casos: Tocantins Em 2018: 1.635 Em 2019: 14.569

Estado com maior número de casos: Bahia Em 2018: 7.656 Em 2019: 58.956

Região CENTRO-OESTE 2018: 83.009 2019: 192.403 Estado com maior número de casos: Goiás Em 2018: 73.131 Em 2019: 108.079

205.791 casos

2018

76.492 2019

110.624 Região SUDESTE 2018: 55.106 2019: 999.178

Região SUL 2018: 1.303 2019: 43.323

Estado com maior número de casos: Minas Gerais Em 2018: 23.290 Em 2019: 471.165

Estado com maior número de casos: Paraná Em 2018: 1.070 Em 2019: 39.200

Com 57 mortes confirmadas e 65 sob investigação

Casos de zika (Brasil) 2018

6.669 2019

BRASIL

2018

Casos de chikungunya (Brasil)

141 mortes confirmadas 93 mortes sob investigação

levando em conta só os primeiros oito meses deste ano.

“Qual é o real custo econômico dessa inércia para o País?”, provoca o dirigente, lembrando o estudo divulgado em 2018 pela consultoria Sense Company, de São Paulo, que apontou um prejuízo de R$ 2,3 bilhões, só em 2016, pela dengue, chikungunya e zika.

“Como dimensionar o custo social, principalmente das famílias com crianças nascidas com microcefalia causada pela zika?”, prossegue,

2019

1.439.471 casos

Aumento de 591 mortes confirmadas 486 mortes sob investigação

citando a Medida Provisória sancionada no último setembro pelo presidente Jair Bolsonaro, prevendo pensão mensal vitalícia para essas famílias – segundo o Ministério da Cidadania, 3.112 até o momento.

“São estatísticas que poderiam ter sido evitadas ou ao menos minimizadas com a incorporação da tecnologia aeroagrícola”, enfatiza Kämpf. O que é ainda mais intrigante, segundo ele, pelo fato da Organização Mundial da Saúde e o próprio Ministério da

600%

9.813

2 mortes confirmadas https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2019/ setembro/25/boletim-especial-21ago19-web.pdf

Saúde do Brasil (Nota Técnica 75/2007) recomendarem o uso da aplicação aérea “em casos de graves surtos ou epidemias”.

“E, mesmo assim, o Ministério se recusar a sequer pesquisar a técnica. Afinal de contas, quantos doentes e mortos são necessários para configurar ‘grave surto ou epidemia’? Quantos mais terão que adoecer, morrer ou ficar com sequelas permanentes para que as autoridades reconheçam que já passamos desse estágio?”

Outubro a dezembro de 2019 AvAg 19

ESPECIAL AVIAÇÃO x MOSQUITOS

Bom senso frente a um provável novo recorde de casos de dengue Doutor em toxicologia, Claud Goellner explica que o uso de aeronaves daria maior eficiência e segurança ao combate a mosquitos no País

A

divulgação, em setembro, do último Boletim Epidemiológico da dengue, zika e chikungunya, do Ministério da Saúde, acendeu o alerta vermelho para a possibilidade do Brasil bater mais um triste recorde. Somando 1. 439. 471 casos de dengue, com 591 óbitos confirmados e 486 sob investigação, até agosto deste ano, a incidência da doença já supera em mais de 23 mil casos, no mesmo período, os índices recordistas de 2015.

Naquele ano, o Brasil terminou dezembro somando 1.649.008 casos da doença. Atualmente, já são mais de 6 mil casos novos todos os dias, em todo o País.

Daí a ênfase do ministro Dias Toffoli na sessão que autorizou as pesquisas para o uso de aeronaves no combate a mosquitos, no último mês. Mais do que segurança jurídica para se testar aqui uma ferramenta que desde os anos 40 é rotineiramente utilizada em diversos países, a decisão do STF representou um lampejo de bom senso em um tema tão carregado de preconceitos.

Conforme o doutor em Toxicologia e Biomedicina Claud Ivan Goellner, a objeção à aplicação aérea tem partido principalmente 20 AvAg Outubro a dezembro de 2019

Castor Becker Júnior/Sindag

objeção à aplicação aérea não tem fundamento lógico

Claud Goellner Consultor do Sindag

do argumento de que a ferramenta possa ser agressiva ao ambiente e à população. “O que carece de fundamento, na medida em que o que poderia causar prejuízos ao ambiente seria o produto aplicado e, não, o equipamento utilizado”, explica.

Ex-professor dos cursos de Agronomia, Engenharia Ambiental e Medicina Veterinária da Universidade de Passo Fundo (UPF), além de Bioquímica e Farmácia da Universidade de Cruz Alta (Unicruz), ambas no Rio Grande do Sul, Goellner explica que a falta de lógica no argumento contra a ferramenta aérea é reforçada pelo fato dos produtos contra mosquitos já serem usados normalmente no País, em aplicações terrestres nas áreas urbanas.

Para completar, o atual consultor do Sindag lembra que o reforço da utilização de aeronaves otimizaria a aplicação, o que, em tese, significaria menor risco de novas aplicações. Em última instância, menor risco de tornar os insetos resistentes aos produtos.

Pedro Ventura - arquivo Agencia Brasilia

PRESENÇA Produtos a serem testados por aviões já são aplicados rotineiramente no País por equipes em terra

Aeronaves não substituiriam ações da população e investimentos em saneamento Embora ainda dependa de testes e da aprovação das autoridades de Saúde e de Meio Ambiente, o uso de aeronaves contra mosquitos não substituiria o trabalho de eliminação de focos de água parada de casa em casa e nem os investimentos em saneamento – indiscutivelmente as principais armas contra vetores de doenças. As operações aéreas,

especialmente contra vetores adultos, seriam para áreas de epidemia – onde se precisa reduzir drasticamente a infestação de mosquitos de volta a parâmetros ao alcance do controle pela população e pelas equipes de prevenção.

A exemplo do que ocorre em diversos países e já foi feito no Brasil nos anos 70, nas aplicações contra

mosquitos, as aeronaves alcançariam áreas longe do alcance das equipes em terra, como fundos de terrenos baldios e locais afastados das vias urbanas. Além de serem rápidas, conseguindo cobrir cerca de 500 hectares (equivalente, em média, a 500 quarteirões) por hora, sem falar na aplicação uniforme e na dosagem certa em toda a sua faixa.

Fatores que, em operações conjuntas com equipes de terra, eliminariam o efeito reinfestação – quando os mosquitos escapam para locais longe do alcance das aplicações e retornam logo depois de cessada a ação do inseticida. O que, por sua vez, também cortaria o risco de gerar insetos resistentes aos produtos – não haveria subdosagem em nenhum ponto e nem sobrariam insetos cujas gerações seguintes “aprenderiam” a resistir aos produtos.

“Os produtos (adulticidas ou larvicidas) para essas operações são registrados na categoria saneantes e recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Nas doses empregadas para controle de mosquitos, os danos às populações, outros animais e ao meio ambiente em geral não existem, seja por equipamento terrestre, seja por avião”, ressalta Goellner. Aliás, os produtos já são adotados pelo Ministério da Saúde em pulverizações nas cidades (nos fumacês feitos por caminhonetes, motos ou pelas equipes a pé).

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Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

ESPECIAL AVIAÇÃO x MOSQUITOS

Produtos são aprovados pela Organização Mundial de Saúde e já utilizados no Brasil “Como ainda não foi descoberto um inseticida biológico eficaz para controle de mosquitos adultos, obrigatoriamente devem ser usados produtos químicos”, ressalta Claud Goellner. Já na aplicação de larvicidas, as operações têm a opção de produtos biológico. Por terra, a tarefa é realizada com Bacillus thuringiensis, aplicado de forma manual ou mecanizada, com pulverizadores e nebulizadores a pé ou veículos. Conforme Goellner, nesse caso os métodos são os ideais para focos localizados.

Já a aplicação aérea de larvicidas biológicos repetiria aqui o tipo de operação largamente utilizado em diversos países, inclusive na 22 AvAg Outubro a dezembro de 2019

Europa (veja na página 39). Nesse caso, para tratamento de grandes extensões, como áreas de banhados, pântanos e zonas de inundações, ou ainda áreas rurais.

PROPOSTAS A aplicação de larvicidas biológicos por aviões no Brasil chegou a ser foco de duas propostas específicas do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola nos últimos 10 anos.

Uma delas em 2008, quando o estudo para o combate aéreo à malária no Acre fez parte do esboço do convênio firmado naquele ano entre a entidade e a Empresa Brasileira de Pesquisas

ALVO Larvas do Aedes aegypti podem ser combatidas com aplicação de produtos biológicos

Agropecuárias (Embapa) – que já havia desenvolvido um produto próprio (veja na página 36).

O outro caso foi em janeiro do ano passado, quando o Sindag ofereceu ao Ministério da Saúde aviões para aplicação de larvicidas nas áreas rurais de Minas Gerais e São Paulo, para combate à febre amarela. Minas fechou 2018 registrando 178 mortes pela doença e São Paulo chegou a ser considerado, ainda em janeiro, área de risco para febre amarela pela Organização Mundial de Saúde (OMS) depois de 364 casos notificados e 50 mortes pela doença nos 12 meses anteriores.

Doenças já mataram CHIKUNGUNYA E ZIKA O vírus chikungunya foi isolado em 1952, a partir de amostras de sangue humano coletadas durante epidemia ocorrida mais de 4 mil pessoas na Tanzânia, país do leste africano. A intensidade das dores articulares que os doentes sentiam os obrigava a andar de forma característica, fazendo com que a população local e vitimaram mais de passasse a chamar a doença de chikungunya, palavra que em makonde (dialeto local) significa “aquele que se curva”.

3 mil crianças No Brasil, a circulação autóctone ocorreu a partir de Considerando apenas o trio dengue, chikungunya e zika, as doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti mataram 4.082 pessoas no Brasil somente nos últimos seis anos, além de 206 casos sob investigação, segundo os Boletins Epidemiológicos publicados pelo Ministério da Saúde no período. Além disso, no caso da zika (que apareceu no País em 2015), as estatísticas carregam ainda uma triste herança: 3.112 casos de crianças nascidas com máformação (microcefalia) comprovadamente causada pela doença, que infectou as mães durante a gestação.

Mais 506 casos considerados prováveis, além de 327 casos de abortos espontâneos ou morte de recémnascidos causados pela doença e mais 53 casos classificados como prováveis. No total, mais de 8,1 mil vítimas entre os três tipos de arbovírus (vírus transmitidos por insetos).

DENGUE Segundo Claud Goellner, a dengue é um dos principais problemas de saúde pública no mundo. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 80 milhões de pessoas

se infectem anualmente, em 100 países, em quase todos os continentes.

No Brasil, a doença é conhecida desde os tempos de colônia.

“O primeiro caso de dengue foi relatado em 1865, em Recife. Sete anos depois, um surto da doença provocou cerca de 2 mil mortes em Salvador”, conta o toxicologista. Um novo surto ocorreu em 1792 e, em 1846, o Aedes aegypti tornou-se conhecido quando um surto de dengue atingiu o Rio de Janeiro, já capital do Império do Brasil.

Em 1903, com 14 anos de República no País, o então diretor-geral de Saúde Pública, Oswaldo Cruz, implantou um programa de combate ao Aedes. Em 1957, o governo chegou a anunciar a erradicação da dengue no país, embora alguns casos continuassem ocorrendo até 1982, quando começou um novo ciclo de epidemias. Até o início dos anos 1990, os surtos registravam abaixo de 100 mil casos. A partir de 1995, a dengue se tornou presente em todas as regiões do País. Atualmente, há registros da doença em todos os Estados, e o mosquito transmissor pode ser encontrado em quase todos os 5.570 municípios brasileiros.

setembro de 2014, nas cidades de Oiapoque/AP e Feira de Santana/BA. Em 2015, as áreas de transmissão se expandiram e, atualmente, o vírus circula em 25 das 27 unidades da Federação.

Já o vírus zika foi descrito pela primeira vez em 1947 durante projeto de pesquisa com macacos Rhesus, para detecção de febre amarela, na floresta Zika em Uganda (daí o nome). Entre 2013 e 2014, casos registrados na Polinésia Francesa foram associados ainda à síndrome de Guillain-Barré – que ataca o sistema nervoso e provoca fraqueza muscular, inclusive no coração.

No Brasil, o zika foi detectado em fevereiro de 2015, na Bahia. Em maio daquele ano foram confirmados casos em Natal, Maceió, Belém e no interior do Estado de São Paulo. A partir de junho houve um aumento de 15% nos casos de Guillain-Barré, associado à doença (cm a primeira morte em novembro). Em agosto de 2015, o zika mostrou sua marca mais cruel, com os primeiros casos de microcefalia associados à doença, em Pernambuco.

Outubro a dezembro de 2019 AvAg 23

ENTREVISTA ENTREVISTA MARK LATHAM

Mark Latham/arquivo pessoal

Diretor do Distrito de Controle de Mosquitos do Condado de Manatee

24 AvAg Outubro a dezembro de 2019

RECONHECIMENTO Recebendo o Meritorious Service Award, Associação Americana de Controle de Mosquitos

Quarenta anos de experiência em estudar insetos, avaliar estratégias, treinar e comandar equipes para combatê-los, por terra e pelo ar Uma das mais importantes referências internacionais no combate a vetores, Mark Latham dirige há 25 anos o Distrito de Controle de Mosquitos de Manatee, na Flórida. O Estado tem 46 espécies de mosquitos, das quais 20 provocam incômodo ou moléstias e, mesmo assim, o condado teve apenas dois doentes em mais de duas décadas

A

os 61 anos, o diretor do Distrito de Controle de Mosquitos do Condado de Manatee, no Estado norte-americano da Flórida é um homem realizado. Atuando há quatro décadas no combate a vetores, Mark Latham tornou-se referência internacional na atividade. Natural de Chatham, Inglaterra, e filho de um piloto de caça da Força Aérea Real (RAF), ele cursou Ciências Naturais na Universidade de Cambridge. Na época, segundo ele, sem um plano claro para uma carreira.

Em 1979 veio ao Brasil, liderando a Expedição Médica de Cambridge para estudar a doença de Chagas, em parceria com a Universidade de Brasília.

Decidiu então seguir o caminho da Entomologia Médica e, após formado, a primeira oportunidade de trabalho foi na Unidade de Pesquisa e Controle de Mosquitos das Ilhas Cayman, em 1980. Cinco anos depois, já casado com a ja-

Como é hoje, depois de quase 40 anos, o seu trabalho no controle de mosquitos?

Mark Latham - Temos muitos desafios, mais do que há 40 anos.

O principal deles é o advento da internet e das mídias sociais, que permitiram aos ativistas ambientais pintar qualquer aplicação de produtos como sendo muito ruim, mesmo sem base científica respeitável. Além do fato de que a maioria do público acredita em tudo que lê na internet, sem considerar a fonte. Também fizemos avanços em equipamentos e conhecimento, mas temos poucos produtos ou ferramentas novas, pois o Controle de Mosquitos não é uma grande fonte de lucro para interesses comerciais.

Qual é o foco do trabalho de controle de mosquitos hoje na Flórida? E especificamente no Condado de Manatee?

maicana Charlotte – com quem teve os três filhos: Caroline (30), Peter (27) e Alexandra (23), assumiu a supervisão de Entomologia no Controle de Mosquitos do Condado de Miami-Dade, de onde foi para o distrito de Manatee em 1994.

Atuou também em missões na África (contra a malária) e Porto Rico (contra a zika).

Entre vários projetos de pesquisa e testes operacionais de campo (inclusive para a Fundação Gates, instituição filantrópica criada em 2000 pelo fundador da Microsoft), diz ser difícil destacar um momento em sua carreira. Mas admite que um de seus maiores orgulhos foi ter recebido, em 2015, o Meritorious Service Award, “em reconhecimento ao excelente serviço prestado à Associação Americana de Controle de Mosquitos (AMCA, na sigla em inglês), principalmente por suas contribuições à ciência e aplicação do controle aéreo de mosquitos”.

A maioria dos programas de controle de mosquitos na Flórida iniciou entre as décadas de 1920 e 1950

Mark Latham - Até o advento do controle de mosquitos, do arcondicionado e das telas das janelas, grande parte da Flórida era inabitável por causa das enormes populações de mosquitos incômodos, principalmente o mosquito do Mar Negro (Aedes taeniorhynchus) nas regiões costeiras, mas também o mosquito de pastagem interior (Psorophora columbiae), conhecido por matar gado por asfixia (chegam a bloquear suas vias aéreas pela quantidade). Por isso, a maioria dos programas de controle de mosquitos na Flórida iniciou entre as décadas de 1920 e 1950, principalmente para controlar espécies agressivas e apenas secundariamente para proteger contra doenças transmitidas por mosquitos. O rápido desenvolvimento da Flórida (aumento de 1000% da população desde 1940, em comparação com o aumento de apenas 50% do Estado de Nova York durante o mesmo Outubro a dezembro de 2019 AvAg 25

ENTREVISTA MARK LATHAM Diretor do Distrito de Controle de Mosquitos do Condado de Manatee período) só foi possível devido ao controle eficaz dos mosquitos.

O Distrito de Controle de Mosquitos do Condado de Manatee é um dos maiores, mais avançados e bem equipados programas da Flórida (onde existem mais de 60 semelhantes). Temos 46 espécies de mosquitos, das quais cerca de 20 são vetores de incômodo ou doença.

Como serviço público, temos que prevenir doenças e atender também as reclamações sobre insetos incômodos. Aproximadamente 80% do nosso orçamento de US$ 6 milhões são gastos em espécies incômodas e 20% em detecção, controle e prevenção de doenças transmitidas por mosquitos. Três delas consideradas endêmicas: febre do Nilo Ocidental, encefalite de Saint Louis e encefalite equina do Leste. Também recebemos casos importados de malária, dengue, chikungunya e zika, os quais temos que responder logo, já que temos os vetores.

Como é formado o Distrito, qual sua estrutura e como opera?

Mark Latham - Existem mais de 60 programas de controle de mosquitos na Flórida, a maioria organizada dentro dos governos de seus 67 condados (com populações entre 10 mil e 2 milhões de habitantes). Mas 15 desses programas são organizados como Distritos Tributários Especiais Independentes*, incluindo o do Condado de Manatee. Eles estabelecem seus tributos, com orçamentos independentes do governo do condado e se reportam a um conselho de funcionários eleitos (comissários do Controle de Mosquitos).

O Controle de Mosquitos de Manatee possui 30 funcionários.

São 11 inspetores de campo que localizam criatórios e eliminam pequenos focos de larvas, além de atenderem a chamados para inspeções e dirigirem os caminhões de aplicações noturnas nas áreas urbanas. Há ainda seis técnicos de 26 AvAg Outubro a dezembro de 2019

As aplicações aéreas (...) cobrem as maiores áreas, (...) 80% da cobertura de adulticida e 70% do larvicida

Arquivo Pessoal

vigilância que montam armadilhas para mosquitos, identificam espécies e avaliam 12 bandos de galinhas sentinelas para detecção de anticorpos. Existem três cientistas no Departamento de Biologia que realizam pesquisas de campo,

educação pública e testes de resistência em populações locais de mosquitos. E há ainda três pilotos e um mecânico no departamento de voo, que operam os helicópteros do Distrito (dois Bell 407 e um Hughes/MD 500D) e seus sistemas de aplicação. Na Administração Distrital há seis pessoas: o diretor, o diretor-assistente, gerente de escritório, duas secretárias e um gerente de instalações. (*) Independent Special Taxing Districts – são unidades governamentais à parte e com finalidade especial. Existem separadamente dos governos locais, com independência administrativa e fiscal.

Como têm sido os resultados no Distrito? Eles são reconhecidos pela comunidade?

Mark Latham - Eu diria que nossos resultados têm sido muito bons. A aplicação aérea de larvicidas de pântanos salgados nas áreas costeiras e às margens das áreas urbanas geralmente tem sido eficaz o suficiente para não se precisar de complemento dos adulticidas aéreos. Porém, em pontos nas divisas do condado com áreas vizinhas não tratadas há alguma migração de mosquitos que requer aplicação aérea de adulticidas. E nas áreas suburbanas e rurais em que o larvicida não é viável, geralmente há aplicação aérea de adulticidas.

A eficácia é avaliada comparando as coletas de armadilhas da noite após a pulverização com as da noite anterior à pulverização, normalmente com uma redução de 80% a 90% nas espécies-alvo.

Usando casos de doenças humanas como medida, eu diria que obtivemos muito sucesso, com apenas três casos confirmados de vírus do Nilo Ocidental nos 25 anos em que estou no programa. Ainda assim, um deles era assintomático, detectado por acaso em uma doação de sangue, e outro pode ter sido contaminado fora da Flórida.

A população local apoia muito o trabalho do distrito. Além disso, somos procurados por programas de controle de mosquitos em todo o país, principalmente quando se trata de métodos de aplicação aérea.

PROFESSOR: Em aula para pilotos e técnicos durante o Programa Fly-In, da Associação de Controle de Mosquitos da Flórida (FMCA)

Além da aplicação aérea de larvicidas e adulticidas, que outros métodos são utilizados regularmente para o controle de mosquitos?

Mark Latham - As aplicações aéreas são o método mais presente e cobrem de longe as maiores áreas, respondendo por aproximadamente 80% da cobertura de adulticida e 70% do larvicida. Também usamos caminhões para aplicação de adulticida em áreas urbanas com uma boa rede de ruas (separação entre 100 e 200 metros entre elas), mas aí com o método de aerossol a frio e não a nebulização térmica*. Há também os equipamentos costais, para quintais e outros espaços menores altamente infestados.

Nas valas pluviais na beira de vias em boa parte das áreas suburbanas, utilizamos larvicidas via caminhonetes com tanques de 400 litros e aplicadores com mangueiras.

Também usamos caminhões ou caminhonetes para eliminar criatórios em áreas locais com menos de dois hectares, inadequadas ao tratamento aéreo. Para eventos especiais (casamentos, eventos esportivos e outros) em áreas propensas a mosquitos, usamos tratamentos de barreira (residual) na vegetação circundante, com um caminhão ou costal, mas isso representa uma parte muito pequena do nosso programa.

(*) Aerossol a frio é com uso de um atomizador (como o do avião), que fraciona a gota do produto em partículas bem finas, conforme o tamanho necessário. A nebulização térmica é o fumacê, onde a calda de inseticida é diluída em óleo e, aquecida, gera uma espécie de fumaça.

Quais os critérios usados na Flórida para se optar pela aplicação

aérea de adulticidas? Desde quando as aeronaves são usadas para este trabalho?

Mark Latham - A aplicação aérea de adulticidas na Flórida começou nos anos 50, a partir de excedentes militares (como o Douglas DC- 3 Dakota e o Beechcraft C-45 Twin Beech). O problema era tão grande nas áreas costeiras – que estavam em rápido desenvolvimento, que o público foi muito favorável.

Infelizmente, outro problema surgiu em nosso mundo moderno, que é a relação entre percepção e aceitação.

Em áreas em que as aplicações aéreas são usadas regularmente há algum tempo (como no Condado de Manatee), o método é amplamente aceito e esperado pelo público para combater o excesso de mosquitos, mesmo na ausência de doenças.

Já nas áreas vizinhas, onde as aplicações aéreas raramente são usadas, a simples menção ao uso de aeronaves cria uma controvérsia que é inflamada por ativistas ambientais e pela mídia.

Eu experimentei isso em Porto Rico, durante a epidemia de zika (em 2016). O CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças, na sigla em inglês) dos Estados Unidos me pediu para desenvolver uma estratégia de aplicação aérea, que nunca ocorreu devido a protestos públicos. E vi

CONTROLE: Mapa com relatório de uma aplicação aérea contra mosquitos adultos, em Buffalo Creek, ao norte de Sarasota, em outubro de 2018. O traçado em vermelho é a rota de deslocamento do helicóptero e, em verde, quando estava aplicando o adulticida

Outubro a dezembro de 2019 AvAg 27

ENTREVISTA MARK LATHAM Diretor do Distrito de Controle de Mosquitos do Condado de Manatee os relatos da mídia de Miami, onde ocorreu um problema semelhante.

Quando trabalhei lá entre 1985 e 1994, usamos aplicações aéreas com bastante regularidade. Porém, quando venderam suas aeronaves e passaram a terceirizar o serviço, as aplicações aéreas se tornaram muito menos comuns e quase cessaram, alterando a percepção e a aceitação.

Existe um planejamento conjunto de aplicações aéreas e terrestres, delimitando as áreas de cada tipo de aplicação? Quais são os critérios para esta divisão?

Mark Latham - A pulverização terrestre de adulticidas (caminhão) é usada principalmente em áreas urbanas (mais centrais) com redes de ruas estreitas (separação de 100-200 metros). E a aplicação aérea ocorre em áreas suburbanas e rurais, onde as aplicações de caminhões não são eficazes (separação de mais de 200 metros entre as ruas), e quando grandes áreas precisam ser tratadas em uma única operação noturna (5 mil a 10 mil hectares ou mais). Nas poucas ocasiões em que importamos casos de doenças transmitidas por mosquitos (principalmente dengue, zika e chikungunya) em áreas urbanas, usamos nossos helicópteros para tratar rapidamente uma zona de segurança em torno da residência dos doentes (abrangendo vários quilômetros quadrados), com adulticidas e larvicidas. Como comprovamos, esses métodos aéreos são muito mais eficazes que os métodos baseados em caminhões.

Com que frequência aviões ou helicópteros agem anualmente contra mosquitos em Manatee ou em toda a Flórida?

Mark Latham - A maioria das populações de mosquitos é impulsionada pelos padrões de precipitação (não apenas pela quantidade de chuva) e a cada ano é diferente ... e imprevisível. Em um ano médio, fazemos 200 mil hectares de aplicações aéreas de 28 AvAg Outubro a dezembro de 2019

AÇÃO: Aplicação contra mosquitos no condado de Manatee

preparar uma ou duas aeronaves a cada noite por três ou quatro noites seguidas durante uma temporada agitada.

INÍCIO: Latham aos 22 anos, recém-formado e trabalhando para a Unidade de Pesquisa e Controle de Mosquitos nas Ilhas Cayman

adulticidas, mas pode ir além de 400 mil hectares em um ano muito movimentado. Para toda a Flórida, as aplicações aéreas em um ano médio chegam a aproximadamente 3 milhões de hectares. Nossa estação de mosquitos é a estação chuvosa do verão. Mas, mesmo no verão, podemos ter um período seco de duas ou três semanas em que não precisamos equipar uma aeronave.

Assim como podemos ter que

Além do Controle de Mosquitos de Manatee, você também trabalhou em Miami-Dade e nas Ilhas Cayman. Quais as diferenças de estratégias nesses três locais?

Mark Latham - Grand Cayman é uma pequena ilha (196 km 2) com uma população rica (bancos e turismo de cruzeiros) e grandes áreas de pântano (50% da ilha, a principal do arquipélago), que são altamente produtivas para mosquitos. As aplicações aéreas de adulticidas por uma ou duas aeronaves agrícolas turboélices eram e são necessárias para controlar a enorme população de mosquitos dos pântanos salgados.

Já o Controle de Mosquitos de Miami está sob as diretrizes gerais do governo local e, para o tamanho do condado – que tem 5 mil quilômetros quadrados e 2,5 milhões de habitantes, está subfinanciado e com falta de pessoal. Embora os mosquitos dos pântanos salgados sejam um problema ao sul do seu território, grande parte do pessoal e dos recursos foram direcionados para os mosquitos de quintal (Aedes aegypti) nas áreas urbanas.

Apesar do recente surto de zika em Miami ter aumentado o apoio político ao programa de

INOVAÇÃO: Demonstração de aplicação contra mosquitos com Hercules C-130 da Força Aérea Americana

controle de mosquitos, com mais pessoal e pelo menos três vezes mais recursos financeiros, não se sabe quanto tempo isso vai durar.

Como mencionado anteriormente, o Distrito de Controle de Mosquitos de Manatee é uma entidade governamental independente que define seu próprio orçamento e alíquotas. Como tal, pode utilizar os métodos mais apropriados de controle de mosquitos e conduzir pesquisas operacionais para avaliar diferentes abordagens sem tanta preocupação com restrições financeiras.

Como é o treinamento dos pilotos para operações contra mosquitos? Você treina pilotos no Programa Fly-in da Associação de Controle de Mosquitos da Flórida (FMCA)?

Mark Latham - A maioria dos pilotos de controle de mosquitos é treinada internamente nos programas que os contratam, por pilotos seniores que realizam aplicações aéreas há muitos anos.

A razão para isso é que não existe um método de aplicação único (em termos de tipo de aeronave, sistema de pulverização, parâmetros operacionais e tempo). Por isso, vale a experiência local sobre os métodos aceitos. O Fly-In anual

aeronaves ao evento (realizado na base do Distrito de Controle de Mosquitos do Condado de Lee), para mostrarem modificações em aeronaves e equipamentos.

Na Flórida, as aplicações aéreas em um ano médio chegam a aproximadamente 3 milhões de hectares

da FMCA (sempre em janeiro) serve como um fórum no qual são apresentados diferentes métodos, discutidas questões regulatórias e os participantes compartilham dicas operacionais. O evento de três dias abrange pilotos, mecânicos, gerentes de programas e cientistas, incentivando discussões abertas.

Muitos programas levam suas

Quais são os equipamentos e configurações utilizados pelos aviões na aplicação de adulticida e larvicida?

Mark Latham - Muitos programas que operam aeronaves, como o Serviço Aéreo Público, constroem seus próprios sistemas de pulverização ou modificam sistemas comerciais para adequá-los às suas aeronaves e parâmetros operacionais.

Para adulticidas, provavelmente o sistema de pulverização mais comum é baseado na linha de atomizadores rotativos Micronair, com helicópteros frequentemente usando o atomizador elétrico AU6539 e aeronaves de asa fixa, usando o atomizador a vento AU4000 ou AU5000. Todos girando na velocidade mais rápida segura (10.000 RPM) para produzir o tamanho ideal de gota adulticida aérea de 30-40 micra (VMD ou Dv0.5). Alguns programas (como o nosso) analisaram alternativas e usaram um sistema de pulverização de alta pressão que construímos, operando a 700-1.000 psi através de bicos de impacto Bete para atingir o Outubro a dezembro de 2019 AvAg 29

ENTREVISTA MARK LATHAM Diretor do Distrito de Controle de Mosquitos do Condado de Manatee tamanho de gota escolhido.

Para larvicidas, alguns programas usam sistemas típicos de pulverização agrícola de gotas grandes ao aplicar formulações aquosas em áreas abertas. No entanto, muitos de nós percebemos uma baixa penetração de líquidos (menos de 20%) na vegetação mais densa, geralmente associada a locais de reprodução de mosquitos.

Daí usamos formulações sólidas dos mesmos larvicidas, através de aplicadores granulares.

Quais os parâmetros mais adequados, por tipo de equipamento, para o controle de mosquitos? Em particular: tamanho das gotas, altura do voo e pulverização do espaço (boa deriva)?

Mark Latham - Embora seja amplamente aceito que um tamanho de gotícula de 30 a 40 micra (VMD ou Dv0.5) seja o ideal para aplicação aérea de adulticidas, nem todos têm sistemas de pulverização capazes de conseguir isso. E ainda há muitos equívocos sobre os métodos para medir o tamanho das gotas. A altura do voo para adulticida é um parâmetro que varia amplamente em todo o setor, de 30 metros a 120 metros acima do nível do solo.

Ao voar o mais baixo possível com segurança, você pode segmentar com mais eficiência pequenas áreas de pulverização (alguns quilômetros quadrados). Muitos recursos de segurança foram incorporados às aeronaves para permitir que eles voassem baixo à noite, como altímetros de radar, óculos de visão noturna e bancos de dados de obstáculos locais nas telas de mapas móveis dos sistemas de orientação de voo (DGPS), para citar apenas alguns. Ao tratar grandes áreas de pulverização (dezenas de quilômetros quadrados), altitudes de pulverização mais altas podem ser utilizadas, pois a precisão do posicionamento na zona-alvo é menos problemática.

30 AvAg Outubro a dezembro de 2019

EM CAMPO: Durante a missão de apoio em Porto Rico, no surto de zika em 2016

No entanto, enfatizo sempre aos aplicadores aéreos a importância de entender as compensações exigidas sob seu conjunto específico de parâmetros de aplicação (tipo químico, tamanho de gota, tipo de aeronave, altitude de pulverização e velocidade do vento), pois, provavelmente, ao voarem a 60 metros de altura, eles estarão a mil metros de altitude.

Já a aplicação de larvicidas é realizada de maneira parecida e com equipamento semelhante à pulverização agrícola, embora a altura de aplicação diurna possa ser entre 10 e 25 metros, devido a árvores.

Quais produtos - larvicidas e adulticidas - são mais utilizados no controle de diferentes espécies de mosquitos?

Mark Latham - Embora utilizemos muitos produtos diferentes para o larvicídio, o Vectobac GS (formulação granular de Bti) é de longe o mais utilizado em cerca de 75% de todos os hectares tratados. Outros produtos comuns incluem formulações líquidas e granulares de Natular (Spinosad), usadas principalmente em aplicações por caminhões ou costais, e Altosid líquido (metopreno a 5%) usado em estágios tardios e tratamentos aéreos especiais do Aedes aegypti.

Para adulticidas aéreos, nosso produto principal é o Dibrom (87% naled), usado em aproximadamente 70% de todas as áreas tratadas.

Os 30% restantes são divididos

entre DeltaGard (2% deltametrina), Fyfanon (97% malatiol) e Kontrol 30-30 (30% permetrina com 30% de butóxido de piperonil).

Para adulticidas de caminhões, nosso produto principal é o Fyfanon EW (40% de malatiol), com DeltaGard também sendo usado significativamente. Historicamente, estávamos usando o Kontrol 30-30, mas nossas populações locais do Aedes aegypti mostram altos níveis de resistência à permetrina e outros piretróides sintéticos.

Você poderia nos dar uma ideia dos custos de aplicação de larvicidas e adulticidas em Manatee, por aviões e caminhões?

Mark Latham - Os custos de aplicação aérea por hectare dependem da área tratada em um determinado ano – quanto maior a área, menor o custo (excluindo os custos com produtos). Isso porque as principais despesas (salários dos pilotos, seguro de aviação e, em certa medida, manutenção) são fixadas anualmente. O adulticida é muito mais barato que o larvicida, já que os parâmetros operacionais básicos (para nossos helicópteros) têm velocidade de voo de 170 km/ h e largura de faixa de 305 metros, tratando 86 hectares por minuto.

Com uma efetividade de aproximadamente 50% (quando se desconta as curvas de retorno em cada faixa e os tempos de translado e carregamento), a taxa total de tratamento da missão é de 2.580 hectares por hora

de voo para adulticidas. Para larvicidas (faixa de 18 metros a 80 km/ h, semelhante à pulverização agrícola), tratando 2,4 hectares por minuto, mas com 30% de efetividade (nossos locais de tratamento são pequenos, de cinco a 50 hectares), a taxa total de tratamento da missão é de 43 hectares por hora de voo.

Os custos aproximados de tratamento (excluindo produtos, mas considerando salários, seguros, manutenção e aquisição) nos últimos 30 anos para nossos helicópteros Hughes-500D são de US$ 0,70 por hectare para adulticida e US$ 35,00 por hectare para larvicida. O custo do Dibrom (adulticida, 43 ml/hectare) é de aproximadamente US$ 2,40/ hectare e o custo do granulado de Bti (larvicida, 9 kg/hectare) é de aproximadamente US$ 30,00/hectare.

Por caminhão, os valores equivalentes para adulticidas (muito aproximados) são US$ 0,60 o hectare para custos operacionais.

E US$ 2,00/hectare para o produto (Fyfanon EW ou DeltaGard).

Qual a melhor estratégia para aplicações aéreas contra o Aedes aegypti?

Mark Latham - O Controle de Mosquitos de Manatee realizou várias avaliações operacionais contra o Aedes aegypti. Sem entrar em detalhes em todos os resultados, descobrimos que a aplicação aérea de adulticida com Fy fanon (97% de malatiol) foi eficaz na redução da população adulta em mais de 90%, embora a população tenha se recuperado em duas semanas, quando nenhum outro método de aplicação foi utilizado. Essas aplicações foram realizadas à noite, duas horas após

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Aviões agrícolas: modelos também integram a frota existente entre os 19 centros de controle de mosquitos que fazem aplicações aéreas

o pôr do sol, para evitar impactos na atividade humana ao ar livre e na atividade de polinizadores (abelhas). Acredita-se que o malatiol tenha uma propriedade irritante que realmente desperta mosquitos em repouso. Também descobrimos que a aplicação aérea de larvicida em pequenas gotículas (100 a 120 micron VMD) com Altosid (5% de metopreno) para atingir locais de contêineres no quintal é cerca de 70% eficaz.

Quando ambos os métodos são aplicados sequencialmente várias vezes (quatro aplicações de larvicidas e três de adulticidas durante um período de um mês), mostramos uma supressão de mais de 90% da população de Aedes aegypti durante uma temporada.

Quais ações de monitoramento

são tomadas antes, durante e após a aplicação para avaliar sua eficácia e evitar danos colaterais?

Mark Latham - Monitoramos as populações de mosquitos adultos usando métodos de vigilância de rotina (contagem de picadas, armadilhas luminosas, armadilhas BG Sentinel, ovitrampas e outros) antes e depois da pulverização. Mantemos contato com os muitos apicultores locais e fazemos avaliações visuais após cada aplicação aérea de adulticida. Há cerca de 20 anos, realizamos um grande estudo de impacto das abelhas com cientistas e um apicultor local (vários artigos foram publicados).

Vários anos atrás, realizamos também um grande estudo de insetos não-alvo em conjunto com uma universidade.

E-mail: mario.omaer@gmail.com

Outubro a dezembro de 20/11/2018 2019 AvAg 20:08:4131

Fotos: Eduardo Araújo/acervo particular

ESPECIAL AVIAÇÃO x MOSQUITOS

Operações aéreas ajudaram a eliminar surto de encefalite em São Paulo

Nos anos 70, dois aviões agrícolas combateram mosquitos transmissores da doença na Baixada Santista, a pedido dos órgãos de saúde e com eficácia comprovada

32 AvAg Outubro a dezembro de 2019

E

m 1975, o Brasil teve a única e bem-sucedida operação aérea de combate a mosquitos em sua história na qual a aviação agrícola ajudou a eliminar um surto de encefalite que assolava a Baixada Santista, em São Paulo. Entre março e junho daquele ano, Mongaguá, Peruíbe e Itanhaém registraram 495 casos da doença – para uma população, na época, de pouco mais de 30 mil habitantes nos três municípios.

A iniciativa da ação partiu da Superintendência de Controles de

Endemias (Sucen) de São Paulo, que reverteu a situação, combinando ações de educação para eliminar criatórios de mosquitos nas casas, aplicação de adulticidas e larvicidas por equipes em terra e uma ação abrangente com duas equipes com aviões agrícolas – uma enviada pela Embraer e outra da Divisão de Aviação Agrícola do Ministério da Agricultura (DIAV).

A zona de ação foi dividida em duas: a área piloto, abrangendo o município de Mongaguá, e a área

COBERTURA Alturas de voos foram de 20 e 40 metros, cobrindo em média 540 hectares por hora, a uma taxa de 0,3 litro por hectare

REGISTRO

de extensão, cobrindo Itanhaém e Peruíbe. A turma da Embraer operou primeiro, adaptando ao cenário local técnicas adotadas em outros países e ajustando os equipamentos embarcados para eliminar os mosquitos na área piloto. Depois, as informações técnicas foram repassadas à equipe da DIAV, que se encarregou dos vetores na área de extensão. Foram três aplicações em duas semanas em cada município, utilizando como produto o malatiol, que até hoje é

Avião agrícola Ipanema da Embraer aplicando adulticida em área urbana de Mongaguá, em junho de 1975

empregado em pulverizações a partir dos chamados fumacês terrestres e, em outros países, também por aviões e helicópteros.

SUCESSO O monitoramento antes, durante e após as aplicações revelou que o uso das aeronaves possibilitou

uma diminuição de mais de 90% da presença de mosquitos dentro das casas e no entorno das residências.

E 100% nas áreas cobertas de vegetação. Apesar de na ocasião o foco ter sido o mosquito transmissor do vírus da encefalite, a análise entomológica apontou a eliminação também de mosquitos dos gêneros Aedes (que inclui o Aedes aegypti, transmissor da dengue, chikungunya e zika) e Anopheles (que transmite a malária).

Além disso, as operações não registraram danos colaterais para outros insetos e nem contaminação de pessoa ou animais.

Paralelamente ao monitoramento dos centros de saúde, o acompanhamento incluiu exames de sangue de parte da população e a amostragem deu negativo. O trabalho teve o acompanhamento de sanitaristas e biólogos.

O relatório da Sucen sobre as operações está disponível no site do Sindag, acessível pelo link:

http://sindag.org.br/relatorio-sucencombate-aereo-a-mosquitos-em-1975/ Outubro a dezembro de 2019 AvAg 33

ESPECIAL AVIAÇÃO x MOSQUITOS

Castor Becker Júnior/Sindag

Expectativa e satisfação por trabalho pioneiro “Antes mesmo de iniciar as operações, durante as reuniões de planejamento com os técnicos da Sucen e Instituto Biológico de São Paulo, a sensação era uma certa ansiedade. Afinal de contas, estaria sob nossa responsabilidade um trabalho complexo partindo praticamente do zero, já que só tínhamos referências bibliográficas de outros países”, recorda o atual consultor e ex-diretor do Sindag Eduardo Cordeiro de Araújo, que na época das operações na Baixada Santista era o piloto e coordenador da equipe da Embraer no local.

“A sensação, após trabalho tão complexo realizado com pleno êxito, foi a de satisfação profissional, ao ver resultados práticos que confirmavam nossa crença na eficácia do avião”,

completa Araújo. Engenheiro agrônomo formado em 1967 pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e piloto agrícola desde 1970, ele entrou para a Embraer em 1973, como assessor técnico e piloto no projeto do Ipanema – o primeiro avião agrícola brasileiro, que foi o modelo enviado para a Baixada Santista.

Os trabalhos de sua equipe na área piloto abrangeram 2 mil hectares, com três aplicações em 16 dias, a uma taxa 0,3 litro por hectare e uma cobertura de 540 hectares por hora voada. Conforme o relatório da operação, os voos ocorreram em alturas de 20 e 40 metros, com as faixas de aplicação, respectivamente, de 50 e 100 metros de largura. “A alegria foi maior ainda ao saber que não houve

Proposta de pesquisa com aeronaves existe há mais de 40 anos Depois da operação no litoral paulista em 1975, a Embraer e, mais tarde, a Federação Nacional de Aviação Agrícola (Fenag), mantiveram o assunto em pauta no Ministério da Saúde e também no Ministério da Agricultura, para que se elaborasse um protocolo nacional de aplicações aéreas, caso surgisse a necessidade de um novo controle emergencial de mosquitos. “Um dos fatores que contribuiu para o desinteresse foi o fato de que não ocorreram outros surtos ou epidemias importantes antes da década de 90”, explica o consultor Eduardo Araújo, que segue acompanhando a questão desde os anos 70.

34 AvAg Outubro a dezembro de 2019

Com a transição da Fenag para o Sindag, em 1991, a ideia foi retomada a partir das epidemias de dengue e, em 1998, motivou uma resolução da Comissão Especial para Assuntos da Aviação Agrícola (CEAA) no Ministério da Agricultura apoiando a ideia de se retomar o uso de aviões contra mosquitos. O documento foi enviado ao Ministério da Saúde, mas sem resposta. Seis anos depois, o Sindag, que integra a CEAA, elaborou uma proposta de pesquisa para um protocolo de operações aéreas para locais em situação de epidemia de dengue.

O ponto de partida foi a técnica que havia sido bem-sucedida

Araújo: agrônomo e piloto, liderou equipe que fez os ajustes da tecnologia na área piloto

um caso sequer de contaminação na população que pudesse ser atribuído àquele trabalho, nem qualquer relato de dano ambiental”, destaca Araújo.

nos anos 70 no litoral paulista e o conhecimento acumulado nos diversos países que até hoje realizam esse tipo de trabalho.

“O documento foi enviado ao Ministério da Saúde, resultando na minuta do projeto que hoje tramita em diversas instâncias (no Executivo e Legislativo) e que tem suscitado tantos debates”, explica Eduardo Araújo.

IDAS E VINDAS Em 2007, o Ministério da Saúde chegou a emitir uma nota técnica descartando testes para operações aéreas contra mosquitos. Só que, além de ignorar os resultados positivos das operações em 1975 em Mongaguá, Peruíbe e Itanhaém (que já estavam dentro da realidade brasileira), o documento se baseou em uma operação realizada em 79 na Colômbia, com uma série de equívocos. “Para completar, a nota terminou admitindo que a ferramenta aérea poderia ser indicada no Brasil para áreas

Já na área de extensão, as operações aéreas cobriram 6 mil hectares em seus dois municípios.

Ali foram 33,5 horas de voo, também a uma taxa de 0,3 litro por hectare de adulticida, com três aplicações em duas semanas.

“Até hoje, foi uma das atividades mais gratificantes de minha vida profissional”, recorda José Carlos Christofoletti, com 55 anos dedicados ao setor aeroagrícola.

Na época das operações, ele era professor da Faculdade de Agronomia de Botucatu e instrutor do Curso de Piloto Agrícola da Fazenda Ipanema, que era o centro de treinamento aeroagrícola mantido pelo Ministério da Agricultura até 1992 no atual município de Iperó.

A pedido da Secretaria de Saúde

de São Paulo e a convite do DIAV, Christofoletti coordenou a equipe com um piloto, um mecânico e um avião da Fazenda Ipanema enviados à Baixada Santista. “A situação era tão séria que em Itanhaém uma pousada chegou a ser transformada em hospital de emergência para atender os doentes. Mas, logo depois do trabalho aéreo, a taxa de mosquitos caiu bruscamente e o índice de doenças chegou a zero”, recorda.

Em dezembro daquele ano, a Sucen apresentou o sucesso do trabalho durante o 8º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária, ocorrido no Rio de Janeiro. Com o tema Combate a Vetores em Municípios do Estado de São Paulo Atingidos por Encefalite, relatando a metodologia utilizada e os resultados obtidos nas ações na Baixada Santista. naquele programa de saúde pública. É citada nesse trabalho a fundamental atuação da aplicação aérea para que os ótimos resultados fossem obtidos.

“O Ministério da Saúde ainda não se conscientizou da

AÇÕES: Júlio Kämpf (gesticulando) se reuniu no ano passado com técnicos da Vigilância em Saúde, onde ficou acertado um workshop com a UnB

de epidemia, quando sempre foi justamente este o cerne da proposta de pesquisa em nosso País”, assinala Araújo, que na época assinou o documento do Sindag expondo o contrassenso.

A partir daí, em 2008 o tema esteve na pauta de uma reunião

entre o então ministro da Saúde, José Gomes Temporão, e a diretoria do Sindag. Em junho do mesmo ano, o esboço da pesquisa foi discutido entre a entidade aeroagrícola e o grupo técnico do Programa Nacional de Combate à Dengue, porém, sem andamento desde então. Até

importância dessa ferramenta, quando até a Organização Mundial de Saúde considera a aplicação aérea como relevante para estratégias integradas de combate a mosquitos em centros urbanos”, assinala Christofoletti.

Christofoletti: Ministério da Saúde não se conscientizou da importância da ferramenta.

Graziele Dietrich/Sindag

Pousada virou hospital de emergência

que, em maio do ano passado, o assunto voltou à pauta, em uma reunião entre o então presidente do Sindag (hoje no Ibravag), Júlio Kämpf, e técnicos da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde.

No encontro, ficou acertado que a possibilidade de pesquisas para o uso da ferramenta aérea contra vetores no Brasil seria tema de um workshop reunindo representantes das entidades aeroagrícolas, Ministério da Saúde e Universidade de Brasília (UnB).

A preparação do workshop, no entanto, aguardava também o desfecho do julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) da ação da Procuradoria da República contra a possibilidade dos estudos, autorizados pela Lei 13.301/2016.

Cujo resultado, no dia 11 de setembro, foi favorável à pesquisa com a aviação, considerando constitucional o uso de aviões no combate aos mosquitos vetores de doenças.

Outubro a dezembro de 2019 AvAg 35

ESPECIAL AVIAÇÃO x MOSQUITOS

Castor Becker Júnior/Sindag

Geraldo Magela / Agência Senado

Possibilidade de estudos com larvicidas biológicos

2008 O resultado do julgamento do Supremo Tribunal Federal favorável à lei que inclui estudos para o uso de aeronaves contra mosquitos abrange também a pesquisa para o uso de larvicidas biológicos pela ferramenta aérea. O que, por sua vez, pode significar a retomada da proposta dentro do convênio de cooperação técnica existente desde 2008, entre o Sindag e a Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (Embrapa). “O acordo foi assinado em agosto daquele ano e previa, em uma das frentes, testar a aplicação de larvicidas biológicos por aviões para o combate à malária no Acre”, recorda o presidente do Ibravag, Júlio Kämpf, que na época estava à frente do sindicato aeroagrícola.

O larvicida foi desenvolvido pela atual coordenadora do Laboratório de Bactérias Entomopatogênicas da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília, Rose Gomes Monnerat Solon de Pontes. Bióloga formada pela UnB, doutora em Agronomia pela Escola de Agronomia de Montpelier, na França, e pós-doutora pela 36 AvAg Outubro a dezembro de 2019

COBERTURA

Rose Monnerat apresentou seu trabalho com larvicidas biológicos no congresso aeroagrícola de 2008 (com Araújo) e em 2016, durante audiência no Senado sobre estratégias contra mosquitos Universidade de Cardiff, no País de Gales, Rose Monnerat é responsável por projetos de bioinseticidas à base de Bacillus thuringiensis e Bacillus sphaericus, ambos com eficácia comprovada e sem efeitos negativos sobre pessoas ou o meio ambiente.

Segundo ela, para aplicação por avião, o ideal seria uma formulação líquida a base de Bacillus thuringiensis. “Talvez, tivéssemos que trabalhar um pouco mais a formulação, determinando dosagens para aplicação aérea”, completa, reforçando o potencial positivo da iniciativa. Ela destaca ainda que o primeiro passo seria a elaboração do projeto para ser avaliado pelo Comitê Técnico do

2016 centro de pesquisas.

DEBATES Rose chegou falar sobre a eficácia do produto durante um painel a respeito do uso de aeronaves no combate a mosquitos, no Congresso de Aviação Agrícola de 2008, em Foz do Iguaçu, Paraná – quando foi assinada a parceria Sindag/ Embrapa. Na ocasião, ela dividiu o painel com o consultor Eduardo Araújo, que por sua vez relembrou as operações de 1975 em São Paulo e explicou a proposta para pesquisas com aeronaves.

Mais recente, em fevereiro de 2016, o trabalho da pesquisadora foi destaque no Senado Federal, na audiência conjunta das comissões de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) e da Comissão Senado do Futuro (CSF). A pauta foi justamente sobre as iniciativas da Embrapa para desenvolver tecnologias de combate ao mosquito Aedes aegypti. A reunião abrangeu as discussões no Congresso Nacional que resultaram no texto da Lei 13.301/16, prevendo as ações em saúde pública contra a dengue, chikungunya e zika.

Outubro a dezembro de 2019 AvAg 37

ESPECIAL AVIAÇÃO x MOSQUITOS

Fatos e mitos sobre o uso de aviões contra mosquitos C

om a entrada em vigor da Lei Federal 13.301/16, que prevê o uso de aviões entre as estratégias nacionais contra a dengue, chikungunya e zika, o tema acabou se tornando polêmico no País.

Principalmente pela grande falta de informações sobre o assunto entre a população e até por parte de autoridades não familiarizadas à ferramenta. Tanto que o assunto foi parar no STF – que decidiu pela constitucionalidade de se pesquisar o uso da aviação contra mosquitos no Brasil. Confira abaixo as principais dúvidas, preocupações e mitos constatados em torno do tema nos últimos anos:

Numa operação contra mosquitos, os aviões pulverizariam agrotóxicos sobre as cidades. É MITO. Os agrotóxicos, defensivos ou agroquímicos são produtos usados na lavoura, para o combate a pragas específicas. Ou seja, finalidades e formulações diferentes. No caso do combate ao mosquito, os aviões usariam os mesmos produtos hoje aplicados nas cidades por equipes em caminhonetes, motos ou a pé. Aprovados pelo Ministério da Saúde e pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e fornecidos pelas autoridades sanitárias.

A aplicação aérea intoxicaria pessoas e animais.

NÃO. A diferença com o uso do avião é que o produto chega a pontos hoje inatingíveis pelas equipes em terra, como fundos de terrenos baldios, áreas abandonadas e pontos longe das vias públicas. Repetindo: seriam os mesmos produtos aplicados pelas equipes em terra (inclusive em meio ao trânsito de pedestres) com aprovação das autoridades de saúde.

O uso do avião tornaria os mosquitos mais resistentes, à medida que eliminaria apenas os insetos mais fracos, deixando os mais fortes para se reproduzirem e “aperfeiçoarem” sua linhagem.

PELO CONTRÁRIO: Justamente a in38 AvAg Outubro a dezembro de 2019

corporação do avião nas estratégias contra mosquitos é que diminuiria o risco disso acontecer.

Como se observa em outros países, a aplicação aérea é mais abrangente e eficaz (trata da área integral), com menos chances de sobrarem mosquitos para esse “aperfeiçoamento” da espécie. Além de eliminar o efeito “lavagem de fachadas” de quando se aposta apenas em aplicações terrestres – que não alcançam os focos longe da rua e permitem as reinfestações, que por sua vez geram retrabalho.

A melhor estratégia no combate à dengue, chikungunya e zika é a eliminação dos focos de água parada em cada casa, áreas públicas e espaços comerciais, além do investimento em saneamento básico.

VERDADE. É ponto pacífico que a aplicação de inseticidas (seja pelas equipes em terra ou por aviões) só deve ser considerada em áreas de epidemia. Funciona assim: quando se tem uma infestação muito grande de mosquitos, já além da capacidade de enfrentamento apenas com a eliminação dos focos, é feita a aplicação de adulticidas ou larvicidas, terrestre ou aérea (ou as duas combinadas), para eliminar os mosquitos em excesso e trazer a situação para o alcance do trabalho da população.

Os produtos aplicados por aviões se desviariam do alvo.

A deriva (quando o produto aplicado se desloca da faixa de aplicação) é algo controlável a partir de fatores como regulagem dos equipamentos de pulverização e as condições de temperatura, pressão atmosférica e velocidade do vento. Nos voos contra mosquitos, ela é usada e calculada de acordo com largura da área que se pretende abranger. O avião conta ainda com o apoio do DGPS, que guia com precisão de centímetros a trajetória do avião e até onde deve se ligar e fechar o sistema de aplicação.

Os aviões “dariam rasantes” sobre as cidades.

NÃO. Diferente de um voo de lavoura, onde o avião voa a três metros do chão, a operação contra mosquitos é feita a mais de 40 metros de altura. E a quantidade de produto aplicada é extremamente pequena – cerca de 400 ml (menos de meio litro) por hectare (cerca de um quarteirão).

A pulverização aérea seria feita de maneira indiscriminada sobre as cidades.

DEFINITIVAMENTE, NÃO. Como em outros países, as operações precisam de aval das autoridades sanitárias – que avaliam tudo antes, durante e depois das aplicações, principalmente quanto à eficácia e segurança de cada operação. Para o Brasil, na hipótese de se lançar mão dessa ferramenta, o primeiro passo seria a elaboração de um protocolo específico para o País. A partir de pesquisas levando em conta provavelmente a técnica usada em 1975, na Baixada Santista, bem como os protocolos hoje existentes em outros países.

Aplicação aérea seria muito mais cara do que a terrestre.

A própria pesquisa para definir o protocolo de operações no Brasil serviria para avaliar o custo/ benefício da ferramenta. Porém, a estimativa do Sindag e do Ibravag, com base em outros países, é de que não haveria diferença significativa. Ainda mais se forem computados detalhes como menos necessidade de compra de caminhonetes e bombas costais pelo governo federal e até a diminuição da necessidade de adulticidas e larvicidas, pela redução do retrabalho.

Argentina: aplicações contra mosquitos ocorrem duas vezes ao ano Em Venado Tuerto, província de Santa Fé, empresa aeroagrícola combate o mosquito Aedes aegypti há mais de uma década

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inal de tarde no aeródromo de Venado Tuerto, município de 75 mil habitantes na província de Santa Fé, Argentina. O empresário Sandro Peisino, da aeroagrícola Yebila Servicios Agroaereos decola para mais uma operação aérea contra mosquitos na região. Desde 2006, a população local se acostumou com seu avião passando sobre as cidades no início da noite, aplicando adulticida contra o Aedes aegypti. Há 13 anos o trabalho é repetido em média duas vezes ao ano – os voos normalmente duram 17 minutos – e ele sempre realizou

ALEMANHA Na região do Reno, o Grupo de Ação Municipal contra Pragas (KABS, na sigla em alemão) utiliza anualmente helicópteros para aplicar larvicidas em cerca de 500 hectares de áreas alagadas. Outros 200 hectares são atendidos por equipes a pé. Atualmente, o alvo prioritário são as larvas de Aedes albopictus, que também existe no Brasil e é vetor em potencial da dengue, chikungunya e zika, O mosquito foi detectado na Alemanha em 2004, mas desde 1976 o KABS já identificou sete tipos de vetores em sua área. As operações acabam sendo binacionais, já que ocorrem desde a região de Kaiserstuhl, na região de Baden-Württemberg (na fronteira com a França) até Hesse no norte e Bingen no oeste.

AUSTRÁLIA Na Austrália, o combate aéreo a mosquitos é feito principalmente contra o vírus da Floresta de Barmah e o vírus da doença do Rio Ross, duas moléstias de origem local e cujos nomes têm a ver com os locais onde foram descobertas no País. Nos dois casos, são moléstias com sintomas parecidos com os da dengue, embora com relatos também de coceira e gânglios bastante inchados. Os vetores são combatidos com larvicidas aplicados em áreas úmidas em torno das cidades ou mesmo em regiões mais afastadas.

CUBA Depois da confirmação de 4 mil casos de dengue, zika e chikungunya em sua ilha no final do ano passado, o governo cubano iniciou 2019 com operações aéreas contra

a tarefa gratuitamente sobre a cidade onde fica sua base.

A iniciativa de usar o avião foi a pedido do próprio governo local e o ponto de partida foram protocolos da Organização Mundial de Saúde

(OMS) para esse tipo de operação.

“No começo, a comunidade ficou desconfiada, mas nos anos seguintes os próprios moradores pediam que fossem feitas as aplicações”, recorda Peisino.

A empresa Yebila conta com quatro aviões e atua em lavouras de milho, soja, trigo e pastagens em um raio de 100 quilômetros em torno da cidade. O trabalho contra mosquitos ocorre normalmente no final do ano, quando a quantidade de mosquitos adultos na região seguidamente supera a capacidade de enfretamento apenas com meios terrestres. “Mediante decreto municipal por necessidade sanitária”, completa o empresário.

Arquivo pessoal

EM FAMÍLIA: Sandro Peisino com o filho Jero e a frota que voa também para prevenir doenças nas cidades o Aedes aegypti. Em março, a situação mais crítica era na província de Holguin, ao sul da ilha, onde biplanos Antonov AN-2 da Empresa Nacional de Serviços Aéreos – ENSA, a estatal que controla a aviação agrícola no país – aplicaram adulticidas em 14 municípios da região.

ESPANHA Na Espanha, a aplicação aérea de larvicidas biológicos é comum há anos em áreas turísticas do Mediterrâneo, principalmente na região de Valência, onde a preocupação era garantir uma importante fonte de renda local.

Caso do município de Castellón, que intensificou as operações aéreas em setembro, depois que as últimas chuvas deixaram muita água acumulada em áreas úmidas da região. Já em Alicante, na Costa Branca, sudeste do país, as mudanças climáticas geraram preocupação de transmissão de doenças, com o atraso na chegada do frio. Em outubro já haviam sido utilizados 15 mil litros de larvicidas em uma rodada aérea no município e mais uma estava prevista até o final do mês, em paralelo com as operações em terra.

FRANÇA Há mais de duas décadas, autoridades sani-

tárias francesas realizam operações aéreas contra mosquitos na região do Vale do Somme, abrangendo 15 municípios entre Saint-Quentin e Ham. Ali também o trabalho consiste na aplicação de larvicidas biológicos e, a cada ano, os governos municipais divulgam informativos explicando que os produtos são inofensivos para pessoas e o meio ambiente. Com a identificação do Aedes albopictus no país em 2006, uma lei entrou em vigor naquele ano prevendo pulverização aérea de adulticidas em áreas onde ocorram pessoas infectadas. A França teve 39 casos de dengue entre 2010 e 2017 em áreas urbanas.

RÚSSIA Na Rússia, grandes áreas e corpos d’água inacessíveis são tratados com pulverizações aéreas de larvicidas e adulticidas, utilizando aviões AN-2 e helicópteros MI-1 e KA-26. As equipes de trabalho contam com engenheiros agrônomos, sanitaristas e entomologistas, que avaliam cada situação e calculam os padrões para os voos. As áreas de trabalho montadas em locais isolados junto à pista de aeródromos normalmente fechados para as operações – para garantir ação ininterrupta das aeronaves.

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PESQUISA Além de uma ferramenta estratégica no combate a vetores, a aplicação aérea de adulticidas e larvicidas tem eficácia comprovada em diversas partes do mundo. Só na América do Norte, cerca de 200 aeronaves atuam a cada ano nesse tipo de operação, que ocorre também na África e em países como Austrália, Alemanha e Grécia

O papel das aeronaves no controle vetorial de doenças em saúde pública Autor J S CLAYTON* Micron Sprayers Ltd, Bromyard, Herefordshire HR7 4HS, Reino Unido

Introdução A aplicação aérea é uma ferramenta estratégica importante em muitos países para o controle de vetores de doenças em saúde pública, como moscas, mosquitos e até mesmo caracóis aquáticos. As doenças transmitidas por vetores incluem malária, dengue, febre hemorrágica da dengue (DHF), vírus Zika, febre amarela, encefalite, febre do Vale do Rift (RVF), vírus do Nilo Ocidental (WNV), tripanossomíase (doença do sono), esquistossomose e oncocercose (cegueira do rio). Na América do Norte, os aviões são rotineiramente utilizados para controlar os mosquitos aplicando inseticidas em tratamentos espaciais de área ampla ou visando locais de reprodução de mosquitos com larvicidas. De fato, só na Flórida, cerca de 2 a 4 milhões de hectares são rotineiramente tratados a cada ano com aplicação aérea para controlar os mosquitos, incluindo gêneros Culex e Aedes portadores de doenças, principalmente em áreas urbanas e residenciais (Matthews, 2011). A aplicação aérea foi uma

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ferramenta importante contra um surto de febre do Nilo Ocidental registrado, pela primeira vez nos Estados Unidos, no Estado de New York, entre 1988 e 1989, onde 22 mortes foram relatadas e muitas centenas das pessoas adoeceram (Miller et al, 2001). Carney et al (2008) relataram que a intervenção com pulverização aérea de adulticida à base de piretrina sobre uma área de 0,5 milhão de hectares no Condado de Sacramento reduziu significativamente o número de casos humanos de WNV, sem novos casos notificados a partir de então.

Concluindo que essa aplicação aérea levou a uma redução de seis vezes na probabilidade de infecção.

Na América Latina e no Caribe, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) relatou recentemente um aumento significativo da dengue em 2019, apelando às comunidades para eliminar os focos de reprodução de mosquitos para combater o vírus.

Crianças com menos de 15 anos de idade correm maior risco. Desde o início de 2019, mais de 2 milhões de pessoas na região contraíram a

doença transmitida por mosquitos e 723 morreram por isso. Os 10 países mais afetados pela dengue, em termos de novos casos por 100.000 habitantes, são Nicarágua, Brasil, Honduras, Belize, Colômbia, El Salvador, Paraguai, Guatemala, México e Venezuela. A dengue é transmitida principalmente por mosquitos Aedes aegypti infectados — a mesma espécie que espalha vírus Zika, Chikungunya e febre amarela. Também é preocupante na Flórida, onde o Departamento de Saúde do Estado declarou no início deste ano (2019) um alto risco de dengue no Condado de Miami-Dade, depois que um mosquito testou positivo para o vírus da dengue. O surto de vírus Zika, transmitido pelo mesmo mosquito Aedes, entre 2015 e 2016 no Brasil atingiu o pico em 10.000 casos confirmados em fevereiro de 2016 (OPAS 2017). O vírus pode causar microcefalia e outras anomalias cerebrais graves em nascituros e o surto foi amplamente relatado, causando grande alarme. Em termos absolutos de pessoas afetadas globalmente, a malária, transmitida pelo mosquito Anopheles fêmea,

provoca o maior número de mortes anualmente. Estimando-se em cerca de 435.000 em 2017, com em torno de 219 milhões de casos em todo o mundo (OMS 2019). Mais de 90% das mortes por malária ocorrem na África Subsaariana. Este artigo examina, portanto, o papel potencial das aeronaves na luta contra algumas das maiores ameaças à saúde humana.

Aplicação aérea de adulticida para controle de mosquito O uso de aeronaves em pulverizações amplas ou de adulticidas tendo como alvo mosquitos específicos é largamente praticado em todo o mundo.

Atualmente, estima-se que na América do Norte existam cerca de 200 aeronaves envolvidas a cada ano na aplicação aérea de mosquito adulticidas e larvicidas, especialmente na Flórida, Louisiana e Texas. O naled (dibrom®) é o produto mais extensamente usado atualmente nos Estados Unidos, entre os adulticidas, para aplicações aéreas em taxas ao redor de 0,4-0,6 fl oz/acre (29,25 – 43,9 ml/ha) frequentemente usando atomizadores giratórios para controlar o tamanho da gota dentro da faixa-alvo 10-40µm diâmetro mediano de volume VMD (Brown, 2006).

A pulverização aérea usando gotas na faixa de tamanho entre 10-40 µm (Mount, 1970) aplicadas em taxas de ultra baixo volume (UBV), tipicamente entre 35-100 ml/ ha-1 (0,5-us fl oz acre-1) em um líquido não-volátil é a formulação tipicamente usada para tratar áreas muito grandes usando amostras de sobreposição progressiva do pulverizador. Altura de voo é tipicamente 50-100 metros acima do solo e as aplicações são feitas geralmente no final da tarde ou de manhã cedo, quando as condições do vento são mais estáveis, as correntes

de ar são menos convectivas e os mosquitos estão ativos. As gotículas de inseticida são dispersas por movimentos do vento predominante por muitos quilômetros e pesquisas recentes demonstram que as gotas de tamanho otimizado aplicadas como uma formulação de óleo (10-40mm) proporcionam maior eficiência no controle aéreo de insetos, minimizando a queda e deposição de material pulverizado. (Zhang et al., 2015).

Um estudo adicional realizado nos Condados de Sacramento e Yolo, Califórnia, em 2007, para combater um surto de WNV em 215 km2, mostrou uma redução significativa na espécie-alvo, Culex tarsalis, e na taxa de infecções. O estudo também avaliou os riscos para a saúde humana, examinando os níveis de exposição durante a pulverização. Mas os resultados indicaram que estavam abaixo dos limites estabelecidos pela Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA) e dificilmente excederiam os níveis de preocupação. Os riscos de WNV superam qualquer risco de exposição a pesticidas (Macedo et al 2010, Peterson et al 2006).

Mosquito Anopheles

Mosquito Aedes aegypti

Em outros lugares, o malathion foi aplicado com sucesso para controlar os surtos de dengue transmitidos pelo

Aedes aegypti na Tailândia em 1968, usando aplicações aéreas espaciais.

Lofgren et al (1970) conduziram um ensaio em larga escala em Nakthon Sawan, Tailândia, em uma área de 18 km2 para incluir a cidade e relataram redução de mosquitos nas taxas de aterrissagem de 95% e 98%, após duas aplicações sequenciais utilizando aeronaves bimotores C-47, e reduções gerais nas armadilhas entre 88-99% dez dias após o tratamento. As coleções de mosquitos fêmeas indicaram que apenas 8% dos restantes pós-tratamentos eram infectantes, em comparação com 30% da população pré-tratamento.

No Brasil, em 1975, foi feita uma aplicação aérea semelhante, na técnica com malathion em UBV na taxa de 300 ml/ha-1 contra o Aedes e outras espécies de mosquitos, a fim de controlar um arbovírus nas áreas costeiras ao sul de São Paulo, com relatos de níveis semelhantes de controle (SUCEN 1975). No vale de Miragoane, no Haiti, durante o período de pico de transmissão de uma epidemia de malária (Plasmodium falciparium), foi realizada a pulverização aérea com malathion, aplicado como tratamento espacial. Após a pulverização, foi observada uma queda significativa no número de mosquitos, seguida em quatro semanas por uma queda nos casos de malária. Durante um período de três meses, o número de casos de malária caiu de 180 casos por mês em cada 10.000 habitantes, no período de pico de transmissão, para cerca de 16 casos por 10.000 habitantes em áreas pulverizadas, comparado a 64 casos por 10.000 em áreas não pulverizadas. no mesmo período. Uma redução de 75% na incidência da doença (Krogstad et al 1975). Em ensaios recentes em campos de arroz gregos, as aplicações aéreas forneceram um controle muito eficaz dos mosquitos incômodos (espécies Aedes, Culex e Anopheles) em duas aplicações separadas de deltametrina e d-fenotrina. (Chaskopoulou, 2011).

O ideal é aplicar adulticidas aéreos sequencialmente em curtos períodos, de talvez alguns dias de intervalo,

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PESQUISA para controlar os mosquitos adultos que emergem após tratamentos espaciais anteriores. Deve-se lembrar que o adulticídio aéreo é realmente adequado apenas para atingir os insetos ativos ao ar livre.

Figura 1: Aplicações de adulticidas com aviões bimotores

Pulverização aérea em UBV contra moscas tsé-tsé Na África, a pulverização aérea em áreas amplas e com aplicações sequenciais para erradicar moscas tsé-tsé é praticada desde os anos 50 e com sucesso significativo. A tripanossomíase espalhada pelas moscas tsé-tsé é essencialmente uma doença rural e afeta cerca de meio milhão de pessoas anualmente, das quais 55 mil morrem, e 3 milhões de bovinos, causando perdas econômicas anuais de US$ 4,5 bilhões, além do custo humano (DIFD UK, 2000). As ações de controle abrangem o uso de armadilhas tratadas com odor e inseticidas, para atrair e matar insetos, e terapias medicamentosas para tratar o gado. No entanto, esses programas precisam ser complementados por tratamentos aéreos sequenciais de grande área para erradicação bem-sucedida. Isso envolve a mobilização de aeronaves tripuladas para tratar vastas áreas, tipicamente de até 20 mil km2, em uma única campanha com 4 ou 5 pulverizações feitas semanalmente para coincidir com os adultos emergentes da mosca tsé-tsé. Segundo Allsopp (1984), isso fornece uma das estratégias de controle mais eficazes contra a tsé-tsé, na escala necessária

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para resolver o problema. As técnicas de pulverização são comparáveis ​​ àquelas usadas no controle de mosquitos adultos e usam os mais modernos sistemas de orientações via DGPS para aplicações com tamanhos de gota na faixa de 15 a 30µm, usando a tecnologia de atomizador rotativo voando baixo (normalmente 15 m) sobre a copa das árvores, no início da manhã ou no final da tarde, quando as condições meteorológicas são propícias a uma aplicação eficaz.

Programas bem-sucedidos foram realizados no Gana (Adam 2013), Botsuana (Kgori, 2006), Zâmbia, Burkina Faso, Etiópia, Namíbia e Angola desde 2000-2014, totalizando cerca de 265 mil km2 de pulverizações aéreas, a um custo inferior a US$ 0,50 por hectare para cada tratamento (Allsopp, 2002).

Figura 2: Mosca tsé-tsé africana (Glossina mortisans) afetando pessoas e bovinos

no controle de mosquitos incômodos, principalmente em espécies de águas de enchentes, ao invés dos vetores de doenças. As aplicações aéreas de larvicidas tendem a seguir técnicas de aplicações aéreas agrícolas e florestais, com altitudes de pulverização relativamente baixas (5 a 15 metros acima do dossel vegetativo), faixas de pulverização estreitas (15 a 30 metros de largura) e usando aeronaves que podem tratar áreas relativamente pequenas com capacidade para fazer curvas fechadas e curtas (aviões de pulverização agrícola ou helicópteros).

Helicópteros e pequenas aeronaves de pulverização normalmente têm capacidades de carga abaixo de 500 litros, o suficiente para tratar de 50 a 100 hectares a taxas de 5 a 10 litros por hectare, enquanto aeronaves de pulverização maiores têm capacidades que geralmente excedem 1000 litros, o suficiente para tratar de 100 a 200 hectares nas mesmas taxas. Existem dois métodos básicos de aplicação aérea de larvicidas de mosquito para hábitos larvais conhecidos: formulações líquidas diluídas em água, aplicadas através de um sistema de pulverização, ou formulações sólidas com o produto agregado a um veículo, como grânulos de areia, argila ou milho, aplicados através de um sistema aplicador de sólidos.

As formulações líquidas tendem a ser menos caras e sua aplicação normalmente é mais eficiente em termos de cobertura, devido ao uso de larguras de faixa operacionais mais amplas e áreas potencialmente maiores cobertas pela carga ao utilizar aplicações de baixo volume a ultrabaixo volume.

Aplicação aérea do larvicida Para muitos operadores de controle de mosquitos, o uso de larvicidas para atingir locais de reprodução é uma ferramenta eficaz na prevenção de doenças e é importante em muitos programas nos Estados Unidos, Austrália, Alemanha, Grécia e outras nações europeias. Na maioria das vezes, essas aplicações se concentram

Figura 3: Miami Dade – helicóptero Bell 206 equipado com atomizadores rotativos Micronair AU6539

Na Flórida, em 2013, a aplicação aérea de larvicidas serviu para tratar 73.300 hectares – 57% por aplicações líquidas e 43% por aplicações sólidas/ granular (FDACS 2013). A Associação Alemã de Controle de Mosquitos (KABS) realiza aplicações aéreas de larvicida biológico em uma faixa de 310 quilômetros ao longo do alto Rio Reno, utilizando o Bacillus thuringiensis israelensis (BTI) para controlar os mosquitos na planície de inundação do rio. A técnica de aplicação utiliza um novo método de dispersão, congelando o BTI líquido em cristais de gelo e liberando-os acima da vegetação e da superfície de água ao redor do rio, para ajudar na penetração do material.

Entre 1981 e 2007, o programa tratou mais de 4.000 quilômetros quadrados (400.000 hectares), uma média de quase 15.000 hectares por ano. Em 2007, o orçamento anual foi de aproximadamente 2,5 milhões de euros, ou menos de 1 euro por ano para cada um dos 2,7 milhões residentes protegidos pelo programa (Becker 2010).

Um exemplo excelente de aplicação aérea de larvicidas como o método preciso para erradicar uma espécie do mosquito ocorreu recentemente na Nova Zelândia (Kay 2013). O invasor mosquito do pântano do Sul (Aedes camptorhynchus) chegou da Austrália na Baía de Hawke, Nova Zelândia, no final dos anos 1990 e em seguida se espalhou em 10 outros

Figura 4: Aplicadores granulares de larvicida em avião e helicóptero

locais na Ilha Norte. Um componente significativo da campanha foi a aplicação aérea de uma formulação lenta do mimetizador metpreno (Altosid XR-G granulado), regulador de crescimento de insetos, que foi projetado para fornecer controle estendido em habitats larvares de até 30 dias ou mais. Um helicóptero foi usado para um tratamento preciso e uniforme no habitat de difícil acesso das larvas.

Figura 5: Atomizadores rotativos Micronair AU5000 (eólico) e AU6539 (elétrico)

Tecnologias de aplicação aérea Avanços recentes nos modelos de pulverização (Teske et al 2015) ajustados para uso no controle de mosquitos agora são rotineiros nos programas de controle aéreo de mosquitos nos EUA, para otimizar as aplicações nas áreas alvo e minimizar as doses. Esses modelos de dispersão de pulverização podem ser incorporados no software GPS de voo e integrados a sistemas de monitoramento meteorológico em tempo real (por exemplo, AIMS 20), determinando as condições de vento, temperatura e umidade para fornecer orientação simultânea aos pilotos.

A maioria das aeronaves também pode ser equipada com altímetros a laser para registrar com precisão a altura de voo e alguns sistemas GPS permitem o upload e o download de planos de voo e mapas de tratamento via telemetria ou internet durante o voo, para que as equipes de monitoramento em solo tenham informações precisas e atualizadas sobre todo processo de aplicação.

Avanços significativos ocorreram também em equipamentos de aplicação durante os últimos 30 anos ou mais. Primeiro com o desenvolvimento de ferramentas de medição de partículas, túneis de vento e outras técnicas para melhorar a compreensão do processo de aplicação e tamanho de partícula, que é crítico para a aplicação, deposição e eficácia.

Robinson et al (2001) demonstraram a eficácia superior de pequenas gotas

de tamanho uniforme (10-30µm) para aplicação de adulticidas contra mosquitos, em comparação com gotas maiores (diâmetro mediano 90µm) dos bicos convencionais, resultando em uma maior eficácia em abrangência, com menos deposição em terra e menor desperdício, prevenindo contaminação de superfícies de água, onde organismos aquáticos poderiam ser afetados negativamente.

Por sua vez, isso levou ao refinamento dos bicos de pulverização e aumentou a adoção de atomizadores rotativos para se obter uma melhor distribuição de tamanho de gotas nas aplicações aéreas de adulticidas, otimizando o número de gotas na faixa de 10-40µm.

Da mesma forma, a melhoria das técnicas de tamanho de gotas na aplicação de larvicidas permitiu um refinamento a ponto de se ter tamanhos para diferentes circunstâncias e, com os atomizadores elétricos giratórios, há

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PESQUISA ainda a possibilidade de se mudar o tamanho das gotas durante o voo. Os atomizadores giratórios têm sido usados por muitos anos para aplicação de adulticidas contra mosquitos e mosca tsé-tsé, especialmente ao longo da África e Ásia e, mais recentemente e cada vez mais, na América do Norte. Os atomizadores rotativos são capazes de produzir gotas em espectro menor, evitando grandes gotas com mais de 60 µm, que podem se depositar no solo, representando desperdício e risco de contaminação. Os atomizadores rotativos de tela Micronair AU4000 e, mais recentemente, Micronair AU5000 têm sido amplamente utilizados para operações contra mosquitos e mosca tsé-tsé. O atomizador AU4000 é normalmente operado em cerca de 8.000 rpm a baixas taxas de fluxo, de cerca de 2– 4 litros por minuto, com tamanhos de gotas entre 30 e 45 µm DMV (Vliet e Picot, 1987). Girando em velocidades semelhantes, o diâmetro menor do AU5000 resulta normalmente em um tamanho de gota ligeiramente maior, entre 35 e 55 µm DMV no ponto de emissão. Dependendo da volatilidade da formulação, o tamanho da partícula diminuirá no ar, com a evaporação de componentes voláteis. Ajustando a velocidade rotacional, os tamanhos maiores de gotas (na escala 50 a 200µm) podem ser selecionados para aperfeiçoar a deposição de larvicidas líquidos com a mesma tecnologia de atomização. Em sistemas de helicópteros, são usados com frequência os atomizadores elétricos que permitem que sua velocidade rotacional seja controlada em voo.

Os sistemas em veículos aéreos não-tripulados (vants) ou drones, no termo mais popular, estão sendo cada vez mais usados para complementar operações aéreas tripuladas de controle de mosquitos nos EUA e em outros lugares, para aplicar tanto adulticidas quanto larvicidas. Estudos recentes nos EUA em Modesto, na Califórnia, demonstraram entre 95-90% de controle de mosquitos enjaulados

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após aplicação por drones com atomizadores rotativos Micromiser da Micron, aplicando deltametrina a 1g/ha contra mosquitos Culex quinquefasciatus, Zhai et al (2019).

Pequenas aeronaves não tripuladas com apenas 10 kg de carga são capazes de pulverizar até 200 ha/ dia com adulticidas ou 20 ha/ dia com aplicações de larvicida, também oferecendo acesso onde o uso de equipamentos terrestres não é possível.

Produtividade em aplicações aéreas As aeronaves são particularmente adequadas para operações de controle em larga escala, onde a velocidade e a capacidade da aplicação aérea no momento mais oportuno permitem uma resposta rápida para evitar a propagação de doenças, principalmente em áreas de difícil acesso por terra.

Por exemplo, em 1968, após um furacão que atingiu a costa dos EUA no Golfo do México, milhares de moradores tiveram que ser alojados em acampamentos provisórios. Após relatos de um aumento na incidência de encefalite equina ocidental, transmitida pelo mosquito Culex

tarsalis, as autoridades iniciaram um programa de controle aéreo de emergência para tratar cerca de 1,4 milhão de ha (Chow et al, 1977). As técnicas de aplicação de ultrabaixo volume (UBV) são normalmente usadas para controle de mosquitos adultos devido à necessidade de usar volumes mínimos de pulverização, tipicamente 0,05-0,2 l/ha, para tratar rapidamente grandes áreas. Os larvicidas podem ser aplicados como líquidos ou grânulos e as taxas de aplicação tendem a ser mais altas, mas com, posteriormente, menos área tratada por dia.

Conclusões A aplicação aérea tem um papel cada vez mais importante no controle de doenças transmitidas por vetores que afetam a saúde humana. Com o aumento das viagens e da migração de pessoas, do movimento continental de mercadorias e materiais vegetais que podem transportar vetores de doenças em todo o mundo, além das mudanças climáticas criando condições para o estabelecimento de vetores invasivos de doenças, há uma necessidade urgente de ferramentas para responder rapidamente e na escala apropriada a esses desafios

Adulticidas ha

Larvicidas ha

Avião multimotor

20.000

n/a

Avião bimotor

12.000

1.000

Avião monomotor - turbina

12.000

1.000

Avião monomotor – pistão

8.000

750

Helicóptero

3.000

500

Ultraleve

1.000

50

Drone < 100Kg

700

50

Drone < 10Kg

200

20

Caminhão equipado com fogger/mister UBV

500

100

Soprador motorizado UBV

30

25

Fogger térmico (fumacê) a pé

5

n/a

5 ha ou 250 casas

n/a

Aplicador portátil para interiores UBV

Tabela 1 : Produtividade (ha/dia) para diferentes aeronaves e equipamentos terrestres

de saúde. Tecnologias aprimoradas, incluindo novas químicas e produtos biológicos, plataformas aéreas não tripuladas, aplicações de pulverização de precisão com controle de tamanho de gota apropriado, orientação por GPS, modelagem de dispersão de pulverização e ferramentas de apoio à decisão para atacar os vetores de doenças em seus estágios mais vulneráveis ​​do ciclo de vida, permitindo intervenções rápidas e precisas contra surtos de doenças. A aplicação aérea é amplamente praticada em muitos programas de saúde pública em todo o mundo e representa uma ferramenta estratégica essencial para complementar outras intervenções de controle de doenças. As aeronaves podem ser mobilizadas para enfrentar alguns dos vetores de doenças mais desafiadores do mundo, incluindo moscas e mosquitos.

Um relatório recente do Grupo de Saúde Global da Universidade da Califórnia em São Francisco (USCF 2016), trabalhando pela Iniciativa para a Eliminação da Malária, concluiu que “A aplicação aérea de adulticidas e larvicidas para controle de mosquitos tem uma longa história em muitas partes do mundo. Assim, a abordagem aérea é bem compreendida, com abundante literatura apoiando seu uso e destacando a tecnologia em constante avanço. Dado o sucesso documentado de aplicações aéreas de larvicidas e adulticidas para controle rotineiro de vetores e como resposta a surtos de doenças, esta tecnologia tem um papel catalítico potencial no apoio aos esforços de eliminação da malária.’’ Em um estudo recente no Condado de Broward, na Flórida, cientistas dos Centros para Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC 2016) relataram que não foram encontrados casos adicionais do vírus Zika após a pulverização aérea de inseticida organofosforado em ultrabaixo volume, aplicado em uma área de 10 milhas quadradas (16 km 2) e alternado com a aplicação aérea de larvicidas Bacillus thuringiensis da subespécie israelensis (Bti). Eles concluíram

ainda que, nos departamentos de saúde locais e estaduais que atendem às comunidades onde o Aedes aegypti (principal vetor do vírus zika) foi encontrado, não foram relatados aumentos nas visitas de pacientes aos serviços de emergência (DE) associadas à pulverização aérea, incluindo asma, irritações nas vias aéreas, chiado no peito, falta de ar, náusea, vômito ou diarreia. O uso de produtos apropriados, juntamente com tecnologias avançadas, para atingir taxas de doses mínimas altamente direcionadas, demonstrou que a aplicação aérea pode fornecer um método de controle seguro e eficaz contra vetores de doenças.

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*John Clayton é diretor Técnico e de Desenvolvimento de Negócios da Micron Sprayers Ltd, situada no Reino Unido. A empresa é fabricante dos equipamentos de pulverização aérea Micronair, usados em todo o mundo na agricultura, silvicultura e em saúde pública. A Micron faz parte do Grupo Goizper, uma das maiores empresas de fabricação de pulverizadores da Europa, com ampla capacidade de pesquisa. Graduado pela Faculdade de Aeronáutica do Instituto de Tecnologia Cranfield, no Reino Unido, e especializado em Ciências Biológicas e aplicações aéreas, Clayton tem mais de 35 anos de experiência em tecnologias de pulverização, tendo atuado na África, Ásia e no continente americano.

46 AvAg Outubro a dezembro de 2019

É tudo para mim Muita coisa depende deste Air Tractor. Meu sustento, minha reputação - minha vida depende deste avião. Assim o Segundo melhor não fará. Eu quero o pacote completo. Segurança, Célula, Motor, Suporte 24 horas, sete dias por semana. Um campeão para o meu estilo de vida e um defensor para aviação agrícola. É com este avião que eu ganhei a vida. Por isso eu preciso de tudo.

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