Revista Aviação Agrícola - Edição 2 - dezembro 2018/fevereiro 2019

Fábio H. Mendes

Ano 01 # 02 Dez 2018 A Fev 2019

ROBERTO RODRIGUES

Crescimento com tecnologia e sustentabilidade Ex-ministro fala sobre suas experiências, pontos de vista A RESPEITO DO futuro do agro e a confiança nos rumos do setor

Tecnologia

Abelhas

Entrevista

A inovação das Clínicas de Aeronaves Agrícolas para a eficiência e segurança

A comunicação como chave para a convivência

Mirta Vanni, a primeira mulher piloto agrícola do mundo

SUMÁRIO

REVISTA AVAG # 02

Aviação Agrícola é uma publicação trimestral do Instituto Brasileiro da Aviação Agrícola – IBRAVAG

FUTURO

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Coordenação, textos e edição: Castor Becker Júnior jornalista - reg. 8862-DRT/RS

Relações mais abrangentes

Textos: Jane Catarina de Oliveira jornalista - reg. 5857-DRT/RS

Sindag elabora planejamento com foco em meio ambiente e na sociedade

Projeto gráfico e diagramação: Beto Soares (Estúdio Boom) Conselho Editorial Eduardo Cordeiro de Araújo Gabriel Colle José Cordeiro de Araújo Júlio Augusto Kämpf

ENTREVISTA

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Ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues traçou as bases do agro do futuro

EXPECTATIVA

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Setor aeroagrícola aposta em criação do fórum do agro em 2019

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO Presidente: Júlio Augusto Kämpf Vice-presidente: Thiago Magalhães Conselheiros: Alexandre de Lima Schramm Bruno Ricardo de Vasconcelos Marcos Antônio Camargo Mário Augusto Capacchi Nelson Coutinho Peña

SUSTENTABILIDADE

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Agricultores, aplicadores e apicultores unem forças pelas abelhas

ECONOMIA

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Economista Felippe Serigati diz que o agronegócio ganhará holofotes em 2019

Conselho Fiscal: Jorge Humberto Morato de Toledo Marcelo Amaral Endereço: Rua Felicíssimo de Azevedo, nº 53, sala 703 Bairro São João Porto Alegre/RS, CEP 90540-110

(51) 3237-7961

MEMÓRIA

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Primeira mulher piloto agrícola do mundo relembra suas histórias em entrevista

TECNOLOGIA

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O sucesso das Clínicas de Aeronaves Agrícolas para atestar a eficiência do setor

ibravag@ibravag.org.br

www.ibravag.org.br Dez/2018 a Fev/2019 AvAg

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Graziele Dietrich/Sindag

EDITORIAL

Um novo tempo para crescer Q

uando iniciamos a segunda edição da revista da Aviação Agrícola, estávamos em um trabalho intenso de posicionamento da aviação agricola como instrumento de segurança alimentar e tecnologias para a agricultura brasileira. Além disso, o momento é de intenso debate e esclarecimentos a respeito de nossa atividade junto a organizações políticas, entidades da sociedade e instituições ambientais, que ao longo do ano, buscaram travar a agricultura de nosso país, através de projetos de proibição e restrição de nosso setor.

Com este novo cenário do governo federal, renovamos nossas esperanças para um trabalho de desenvolvimento das tecnologias, ou seja, do 4

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fomento da produção agrícola brasileira, que ficou de lado nos últimos anos. Esperase também, que possamos modernizar nossa legislação agrícola brasileira e em especial de nosso setor, para que tenhamos mais segurança ambiental e jurídica para todos os envolvidos na agricultura no Brasil.

Do ponto de vista institucional, o setor aeroagrícola está fortalecido, tanto por conquistas de suas entidades na pauta governamental quanto por uma nova postura estratégica do Sindag, consolidada pelo planejamento estratégico feito até 2022. Focada na aproximação com a sociedade e em um marco regulatório para dar segurança aos empresários.

Sem falar em novas tecnologias que respaldam o profissionalismo de nossos empresários e atestam sua confiabilidade perante o mercado e a população.

Com certeza teremos muito trabalho pela frente, principalmente para desburocratizar o setor da aviação agrícola.

Estamos cientes das nossas responsabilidades e deveres para este novo Brasil. Somente teremos êxito nesta tarefa se tivermos a união de todos os segmentos da sociedade brasileira, para que juntos possamos construir um novo tempo para o Brasil.

Júlio Augusto Kämpf Presidente do Conselho de Administração do Ibravag

Divulgação

ESTRATÉGIAS

Sindag elabora planejamento com foco em meio ambiente e na sociedade

E

m seu novo Planejamento Estratégico, o Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag) está ampliando foco para desenvolvimento de todo o setor aeroagrícola. A intenção, segundo o diretor-executivo Gabriel Colle, é beneficiar as associadas a partir da conjuntura, o que, por outro lado, também valoriza as relações do setor com a própria sociedade.

Essa é a essência de ações a serem executadas em seus oito objetivos estratégicos (veja a tabela) traçados até 2022.

Por isso o Planejamento, em fase final de formatação, inclui metas

metodologia: Balanced Scorecard (BSC), desenvolvida em 1998 na Universidade de Harvard, nos EUA

mais abrangentes de sustentabilidade e promoção de boas práticas operacionais, com destaque para o diálogo. “Queremos que a aviação agrícola seja reconhecida como instrumento de segurança alimentar, sustentabilidade, proteção ambiental

e ferramenta para o controle de vetores e doenças”, ressalta Colle. O estudo começou a ser elaborado no final de setembro, com participação de empresários de todos os Estados abrangidos pelo setor e utilizando uma metodologia inovadora.

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ENTREVISTA ENTREVISTA ROBERTO RODRIGUES

Humberto Franco

Coordenador do Centro de Estudos do Agronegรณcio da FGV-EESP

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O ministro que preparou as bases do

AGRONEGÓCIO DO FUTURO está confiante nos rumos do setor Adepto da tecnologia no campo e da redução do impacto ambiental, Roberto Rodrigues ressalta que o desenvolvimento da agricultura depende também de políticas além da porteira

Jane Catarina de Oliveira

I

ncansável quando o assunto é falar sobre políticas que tragam estabilidade ao campo, Roberto Rodrigues, 76 anos, ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento de 2003 a 2006, está otimista em relação ao tratamento que será dispensado ao setor pelo presidente eleito Jair Bolsonaro. Elogia a futura nomeação da presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputada federal Tereza Cristina Dias, para o Mapa e se diz confiante que um dos maiores problemas atuais do campo, a segurança, será resolvido. Convicção que vem de alguém que se tornou uma das maiores personalidades do agronegócio no mundo. Hoje coordenador do Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas - Escola de Economia de São Paulo (FGV-EESP) e embaixador Especial da FAO para o Cooperativismo, Rodrigues desde pequeno queria ajudar a solucionar os problemas enfrentados pelos produtores rurais.

Ao assumir a fazenda da família, em 1967, precisou driblar uma das maiores crises enfrentadas pelo setor canavieiro de sua história. A saída que encontrou foi a inovação, testando

O senhor vem de uma família ligada ao agronegócio – é neto, sobrinho, filho e pai de engenheiros agrônomos e agricultores. Como foi seu despertar para a atividade agrícola?

Roberto Rodrigues - Nasci na Estação Experimental de Laranja, da Secretaria da Agricultura de São Paulo, em Cordeirópolis. Quando eu tinha 3 anos, mudamos para a fazenda São Martinho, em Guariba (área hoje pertencente ao município de Pradópolis). Aos 9 anos, fui morar em uma fazenda comprada pela família. Toda a minha infância foi na roça. Mesmo depois dos 10 anos, quando fomos morar na cidade para que eu pudesse cursar o ginasial, passávamos as férias na fazenda, muitas vezes com primos e amigos, de modo que era

novos herbicidas, adotando fertilizantes orgânicos, carteira de trabalho para os funcionários e benefícios sociais, paralelamente à redução do impacto ambiental. O resultado positivo das medidas logo o tornaram conhecido, iniciando assim seu trabalho em entidades ligadas ao cooperativismo e ao agronegócio. Por outro lado, a política partidária nunca o interessou. Mesmo sem se filiar a uma sigla, assumiu o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) com a intenção de deixar prontas as bases do agronegócio do futuro.

Doutor Honoris Causa pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), pesquisador e professor, Roberto Rodrigues é um estudioso da Economia Rural e segue com a proposta de construir uma agropecuária forte a partir do desenvolvimento do Brasil como um todo. Para isto, junto com representantes de entidades representativas do setor, ajudou na elaboração do Plano de Estado entregue à Presidência. Trata-se de uma agenda para os próximos 12 anos, que prevê políticas que vão desde o equilíbrio das contas públicas, passando por taxas de juros, sistema tributário, até reforma política.

Fui introduzindo inovações tecnológicas para reduzir custos e aumentar a produtividade e isso deu certo.

natural gostar das atividades do campo. Além disso, meu pai, líder do setor, recebia sempre visitas de colegas de profissão (agrônomos ou produtores), e eu escutava as discussões sobre a necessidade de uma política agrícola para o país.

Isso também me trouxe o desejo de contribuir para tal desafio.

Quando o senhor decidiu que ia seguir a profissão do seus avôs e pai? Chegou a considerar alguma outra profissão? Com que idade se formou?

Rodrigues – Formei-me em dezembro de 1965, na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) – unidade da Universidade de São Paulo (USP), em Piracicaba, na melhor turma de todos os tempos, chamada a Turma de Ouro. Meu avô materno Dez/2018 a Fev/2019 AvAg

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ENTREVISTA ROBERTO RODRIGUES Coordenador do Centro de Estudos do Agronegócio da FGV-EESP era um agrônomo italiano que viera ao Brasil no começo do século XX para administrar uma fazenda de café de Veridiana Prado. O meu avô paterno tinha sido agricultor na região de Tietê e perdeu tudo com a famosa crise do café de 1929, quando houve o crack da Bolsa de Nova York. Ouvi estas histórias tantas vezes que minha vontade de trabalhar por políticas que trouxessem estabilidade ao campo foi aumentando. Por outro lado, meu pai era meu maior herói, considerava-o um homem capaz de melhorar o agro se ocupasse cargos de importância em governos. Eu pensava que poderia colaborar com ele se fizesse Agronomia e continuasse seu trabalho na fazenda. Por isso, a ideia de cursar Ciências Agrárias foi se consolidando naturalmente,

embora em algum momento tenha pensado em ser juiz de Direito, como outra forma de ajudar o campo. Mas isso logo passou.

O que o levou a fazer especialização em Economia Agrícola e Cooperativismo?

Rodrigues - No quinto ano na Esalq, cursei uma disciplina optativa de Economia com um professor norte-americano que abriu minha curiosidade para o tema. Mas o cooperativismo também foi uma questão natural.

Quando fui para a fazenda em 1967, o setor canavieiro vivia uma das maiores crises de sua história.

Os produtores estavam quebrando e havia muito desespero no setor. Fui introduzindo inovações tecnológicas para reduzir custos e aumentar a produtividade e isso deu certo. Ao conseguir melhorar os resultados, ainda muito jovem, fui convidado pelo presidente da Cooperativa de Guariba, o agrônomo Rogério Orsi, para compor a diretoria da sociedade em 1971. Dois anos

depois, fui eleito presidente. Este foi um período maravilhoso, de muitas realizações. Introduzi em um viveiro de mudas as mesmas variedades que tinha levado para a fazenda, as mesmas fórmulas de adubação e todo o aparato tecnológico que tinha aprendido.

Criei uma cooperativa de crédito rural em 1974 que foi um sucesso, porque levei para a gestão funcionários de uma agência bancária que havia fechado na cidade. Aquele êxito chamou a atenção do presidente da Ocesp – Organização das Cooperativas do Estado de São Pauto – na época, Américo Utumi, um grande cooperativista, e ele me convidou para montar uma rede de crédito em todo o Estado. E deu tão certo que o presidente da OCB – Organização das Cooperativas Brasileiras – convidou-me para presidir um outro grupo, desta vez nacional, e sai pelo país a fundar cooperativas de crédito rural. Isso me levou a ser eleito presidente da OCB em 1985, mesmo ano da redemocratização do país, tendo Arquivo pessoal

LEMBRANÇAS: Encontro da Turma de Ouro da Esalq nos 50 anos da formatura

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Arquivo pessoal

REGISTRO: Rodrigues com Norman Borlaug, Prêmio Nobel da Paz em 1970 e reconhecido como agrônomo humanitário

conseguido liderar um movimento que colocou cinco artigos sobre cooperativismo na Constituição de 1988. Esse trabalho, finalmente, me levou a ser eleito presidente da Aliança Cooperativa Internacional em 1997. Fui o primeiro presidente não europeu daquela entidade – na época com 102 anos de existência, hoje com mais de cem países filiados.

Como foi seu ingresso na política?

Rodrigues - Acho que nunca ingressei na política, fora a de classe. Nunca me filiei a nenhum partido, embora tenha sido convidado várias vezes e por diversos. E por isso nunca disputei cargos na política. Fui secretário da Agricultura de São Paulo durante um curto período, de agosto de 1993 a maio de 1994, por um acidente de percurso. Era presidente da SRB – Sociedade Rural Brasileira, quando fui sondado para ser ministro da Agricultura do presidente Itamar Franco, para o que teria que me

Virei Ministro de um governo que não tinha apoiado, para tentar então fazer o que havia discutido com meus pares do agro anos a fio.

filiar a um partido. Não aceitei, e o então secretário de Agricultura de São Paulo, Barros Munhoz, foi para o Ministério e me levou, depois de muito insistir, a substituí-lo

na Secretaria. Lá ajudei a criar a Agrishow, em Ribeirão Preto, em convênio com a recém-constituída Abag – Associação Brasileira do Agronegócio. Quando Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito presidente da República, convidou-me para ser ministro, creio que por três razões: primeiro, por minha estreita ligação com o cooperativismo; segundo, porque tinha sido amigo de José Gomes da Silva, pai de José Graziano da Silva (com quem me relacionava bem), um dos principais assessores de Lula; e terceiro porque (Antônio) Palocci, quando prefeito de Ribeirão Preto, assistiu ao nascimento da Agrishow e creditava muito do sucesso da feira ao meu compromisso com ela. Quando me convidou, disse a Lula que não poderia aceitar porque não tinha votado nele e tinha trabalhado na campanha de José Serra. Convenceu-me então que a eleição já tinha passado e que queria que eu fizesse tudo o que vinha propondo, em termos de políticas públicas, nas entidades que presidia.

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Duas secas terríveis quebraram a produtividade em quase todo o País, levando a um pesado endividamento dos produtores; os preços agrícolas caíram no mundo todo, enquanto os dos insumos subiram, em parte por causa da questão cambial. Estes dois fatos provocaram descasamento na renda rural. Ainda surgiram focos de febre aftosa no Mato Grosso do Sul e no Paraná, levando vários países importadores a suspenderem suas compras de carne do Brasil. A gripe aviária, que não chegou aqui, derrubou os preços internacionais de milho e soja e a supersafra global de café jogou os preços na lona. Nada disso era compreendido pela área econômica do governo do PT (Partido dos Trabalhadores) de modo que não conseguíamos resolvermos problemas cuja solução era conhecida. E ainda tinha uma disputa de caráter ideológico com outros ministérios, como o do Meio Ambiente, do Desenvolvimento Agrário, e de órgãos como Ibama – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Incra – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – e outros.

Portanto, a dificuldade não foi reformar o Mapa, foi não conseguir fazer o que tinha que ser feito para mitigar a crise brutal que afetava o campo todo.

ENTREVISTA ROBERTO RODRIGUES Coordenador do Centro de Estudos do Agronegócio da FGV-EESP Como ministro da Agricultura, o senhor promoveu uma reestruturação completa do Ministério, focando na modernização do setor. Qual foi o principal desafio nesse processo?

Rodrigues - A ideia era modernizar a máquina pública para servir a uma agricultura que tinha evoluído muito mais que os organismos de governo. Queria deixar as bases do agro do futuro prontas. Não foi um trabalho difícil, contei para isso com a boa vontade do corpo técnico do Mapa, de excelente qualidade, e da minha ótima equipe, liderada pelo então secretário executivo (Luís Carlos) Guedes Pinto – que o sucedeu na pasta, com grande visão estratégica. E deu resultado.

Com apoio indispensável da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), conseguimos conduzir a reforma, criando uma área de planejamento estratégico (que surpreendentemente não havia), uma área de relações internacionais – era a plena vigência da Rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC), onde os interesses do agro e do Brasil estavam em jogo – e aper feiçoamos a defesa sanitária, entre outros avanços. Também reformamos a Conab – Companhia Nacional de Abastecimento, o Inmet – Instituto Nacional de Meteorologia – e fortalecemos a Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, criamos o cargo de Adido Agrícola em embaixadas selecionadas e conseguimos legislações fundamentais para o agro atual, tais como a Lei de Implantação do Seguro Rural, Lei da Biossegurança (que viabilizou o cultivo de transgênicos, até então proibido), a Lei dos Orgânicos, a dos Modernos Documentos Comerciais (CRA, CDCA, LCA, etc.), entre outras.

Mas a grande dificuldade foi outra: a dura queda de renda do campo, determinada por uma série de fatores imprevisíveis.

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Portanto, a dificuldade não foi reformar o Mapa, foi não conseguir fazer o que tinha que ser feito para mitigar a crise brutal que afetava o campo todo.

O senhor tem mostrado grande preocupação com a sustentabilidade do setor, conhecimento científico e aporte de tecnologia. Na sua opinião e considerando esses aspectos, pode nos falar sobre o futuro do agronegócio?

Rodrigues - Considero a sustentabilidade, com seu tripé (econômico, social e ambiental), um fator central para a competitividade do agro no futuro imediato. Acredito que não deve haver divergências entre produtores e ambientalistas.

Tudo tem solução por meio da tecnologia, o que, naturalmente, deve embasar as decisões, inclusive as legais, como ficou claro com o Código Florestal. Portanto, não me preocupo com o futuro nesse campo, salvo pela atuação de

Castor Becker Júnior/Sindag

PALESTRANTE: Congresso Sindag Mercosul de Aviação Agrícola em 2011 – palestra mais concorrida do encontro que ocorreu em Florianópolis

ideólogos radicais de qualquer lado, cujo radicalismo cega e impede o equilíbrio e o bom senso. Com inteligência, saberemos implementar inovações tecnológicas que garantam a sustentabilidade da atividade rural e assim a competitividade internacional. Aliás, os números atuais já provam isso: do Plano Collor – criado durante a Presidência de Fernando Collor de Mello (19901992) – até hoje, a área plantada com grãos cresceu 61% no Brasil e a produção cresceu quase 300%.

Com isso, aumentou a produtividade das áreas já cultivadas e foi possível evitar o desmatamento de cerca de 80 milhões de hectares de florestas ou cerrados. Isso é sustentabilidade, assim como o etanol de cana, que emite apenas 11% do CO2 emitido pela gasolina, e como os programas do Plano ABC, com ênfase para a integração lavoura-pecuária-floresta, que tive a honra de lançar quando ministro.

O futuro do agro depende, isso sim, de uma estratégia abrangente que contemple renda no campo (com ênfase para o seguro rural), infraestrutura e logística, política

comercial agressiva que permita acordos bilaterais com grandes países consumidores, defesa sanitária mais efetiva, registro de novas moléculas de defensivos agrícolas, apoio ao cooperativismo e investimentos em tecnologia.

No documento O Futuro é Agro, encaminhado pelas entidades representativas do setor aos candidatos à Presidência da República, aparece como prioridade políticas que vão além da porteira, como a questão do déficit público, taxa de juros, sistema tributário. Como se chegou a essa agenda e por que o prazo de 12 anos?

Rodrigues - O prazo de 12 anos tem duas explicações: uma é para deixar claro que não se trata de um plano para um governo e sim uma estratégia de longo prazo que ocuparia a atenção de três mandatos presidenciais.

Outra se deve a nosso próprio convencimento de que a tarefa será mesmo muito longa. Quanto às prioridades econômicas, está claro que nenhum setor se

desenvolverá - e muito menos o país - se não forem ajustadas as contas públicas. Sem isso, não haverá saldo para investimentos, a inflação pode voltar, os juros podem subir, pode-se perder o controle cambial e nada será possível fazer. Temos que acabar com o déficit público para reduzir impostos e, com isso, aumentar nossa competitividade. Em outras palavras, sem a economia ajustada, não há saída para o nosso Brasil.

E ainda resta a reforma política, nada fácil de realizar, mas também indispensável: fim da reeleição, mandatos de 5 anos, redução do número de partidos, redução dos benefícios de políticos e coisas afins.

Na sua visão, o que é imprescindível para levar o Brasil ao topo da produção mundial de alimentos?

Rodrigues - Conforme já disse, precisamos de uma estratégia completa. Daí o Plano de Estado. Estudos da OCDE/ FAO – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico e Dez/2018 a Fev/2019 AvAg 11

ENTREVISTA ROBERTO RODRIGUES Coordenador do Centro de Estudos do Agronegócio da FGV-EESP Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura – corroborados por outro do USDA – Departamento de Agricultura dos Estados Unidos – informam que em dez anos a oferta mundial de alimentos precisa crescer 20% para que toda a população do planeta tenha segurança alimentar e assim viva em paz. Mas, segundo tais estudos, para que a produção global tenha esse crescimento, a do Brasil tem que aumentar 40%, porque temos tecnologia tropical sustentável, temos terra disponível e temos gente competente em todos os elos das diferentes cadeias produtivas, fatores que não se encontram juntos em nenhum outro grande país. Portanto, não há o que discutir: temos que colocar mãos à obra e transformar este nosso Brasil no campeão mundial da segurança alimentar, e, portanto, da Paz, uma vez que não haverá paz enquanto houver fome.

Qual o papel da aviação agrícola neste contexto?

Rodrigues - Como qualquer tecnologia de ponta, a aviação agrícola tem o papel essencial de reduzir custos, otimizar resultados nos controles de pragas e doenças, na adubação e até no plantio de forrageiras.

Deve ser utilizado com grande eficiência sobretudo nas áreas mais extensivas de produção, mas não exclusivamente nelas. E ainda tem um papel relevante no combate a incêndios e em levantamentos de aerofotogrametria. Não sei se o uso de drones pode ser admitido como parcela da aviação agrícola, mas este é um tema que veio para ficar.

Quando se fala em aplicação de defensivos agrícolas, o modelo por avião é amplamente criticado por leigos no assunto. No entanto, é o único com regulamentação e fiscalização rígida por órgãos federais e estaduais. Isso pode ser considerado um sintoma 12 AvAg Dez/2018 a Fev/2019

Acervo pessoal

NA LAVOURA Rodrigues entende que tecnologia e gestão são as bases que sustentam o produtor, garantindo renda no campo

da falta de informação que a maioria da sociedade tem sobre o agronegócio?

Rodrigues - Sem dúvida.

Aliás, um dos maiores pecados do agronegócio brasileiro é exatamente não saber comunicar adequadamente a verdade sobre o setor. Tanto é verdade que o Plano de Estado tem um capítulo específico sobre comunicação escrito por um dos maiores mestres nesta área, Humberto Pereira, criador do programa de tevê Globo Rural e da campanha Agro é Pop, em exibição em horários nobres pela TV Globo.

Segundo alguns especialistas – entre eles, o economista-chefe da Farsul (Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul), Antônio da Luz –, o produtor brasileiro ainda enfrenta muitos problemas de gestão, para cortar custos e ganhar competitividade.

Aponta como um dos caminhos a terceirização de parte dos serviços, como o trato de lavouras (onde entrariam as empresas de aviação agrícola). No seu entender, esse raciocínio procede?

Rodrigues - Procede sim, e muito: Antônio da Luz tem toda razão, como em tudo que afirma.

Aliás, a questão da tecnologia já transitou em julgado. Todo produtor de qualquer cultura em qualquer lugar sabe que sem tecnologia não terá produtividade nem competitividade. Só não a busca quem não pode. Já gestão não é um tema tão amplamente atualizado. Ainda tem quem não saiba fazer custo de produção, sem o que está no escuro em termos de resultado. Com a economia estabilizada, é preciso conhecer gestão financeira e tributária para tomar empréstimos, aplicar sobras de caixa e pagar impostos da melhor maneira. É preciso aplicar gestão de recursos humanos, gestão ambiental, entender de

gestão de risco e de gestão social.

Tecnologia e gestão são as duas colunas de garantia da renda no campo e, sem uma delas, o produtor não se sustenta.

Como está a expectativa com relação ao novo governo a partir de 2019? É possível traçar alguma perspectiva a partir do que as lideranças do setor têm conversado com Jair Bolsonaro?

Rodrigues - Bem, o futuro presidente Jair Bolsonaro tem cumprido o que prometeu e nomeou uma excelente líder, a deputada federal Tereza Cristina, para o Mapa.

Ela conhece tudo do setor. Além de ser engenheira agrônoma e ter sido secretária da Agricultura do Mato Grosso do Sul, estado essencialmente agrícola, vai se somar ao trabalho de Onix Lorenzoni, futuro chefe da Casa Civil, e, como ela, oriundo da Frente Parlamentar da Agropecuária.

Foi a primeira mulher nomeada como ministra – pelo presidente eleito Jair Bolsonaro – e vai se ombrear a grandes brasileiros, como Sérgio Moro e o general (Augusto) Heleno.

Estou confiante que o novo governo consiga resolver um dos maiores problemas atuais do campo: a segurança. E que o novo ministro da Economia, Paulo Guedes, aproveite o Plano de Estado, que recebeu, e consiga organizar com seus pares e sob a batuta do presidente a estratégia que nos transforme em campeões mundiais da paz.

Como o senhor percebe que estão se acomodando as ideias nas conversações com o presidente eleito, como por exemplo, na proposta e depois no recuo de fundir os ministérios da Agricultura e o do Meio Ambiente? Há outras arestas a serem aparadas?

Rodrigues - Vejo que o futuro presidente tem ouvido muito as diferentes opiniões sobre os assuntos mais complexos e tem tirado conclusões adequadas até aqui. Não podemos esperar que vai acertar tudo sempre, mas o simples fato de ouvir dá a ele uma enorme vantagem, e a nós todos uma expectativa de que haverá em cada caso uma discussão equilibrada em busca do melhor resultado. Em outras palavras, a democracia está funcionando e isso é maravilhoso.

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Divulgação

DESENVOLVIMENTO Última reunião sobre o tema foi no final de outubro, em Brasília

Setor aeroagrícola Aposta em criação de fórum para o agro em 2019

final de outubro, em Brasília, com a presença também de representantes do Instituto Pensar Agropecuária (IPA), Frente Parlamentar da Agropecuária Sindag está otimista que o novo (FPA), Confederação da Agricultura e governo, que toma posse no Pecuária do Brasil (CNA), Associação dia 1º de janeiro, leve adiante as Brasileira do Agronegócio (Abag), negociações alinhavadas pela entidade Sociedade Nacional da Agricultura junto ao Ministério da Agricultura, (SNA), Sociedade Rural Brasileira (SRB) Pecuária e Abastecimento (Mapa) para e outras entidades. criação de um fórum permanente para Kämpf estava acompanhado do desenvolvimento da agricultura. Para assessor parlamentar José Cordeiro o presidente do sindicato aeroagrícola de Araújo. As discussões giraram e dirigente do Ibravag, Júlio Kämpf, a em torno da definição de entidades sinalização para isso vem do destaque que integrem a maior parte do setor que o setor agrícola ganhou na produtivo nacional, para posicionáformação da equipe do presidente eleito las estrategicamente na composição Jair Bolsonaro, com um bom canal do grupo. O que, por parte do setor aberto para o setor. A última reunião aeroagrícola, deve dar espaço para com o Mapa sobre o tema ocorreu no o Ibravag, que abrange além dos

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empresários aeroagrícolas, pilotos, produtores rurais, pesquisadores, técnicos e outros profissionais ligados direta ou indiretamente ao setor.

A criação do grupo começou a ser articulada em setembro, a partir de uma reunião provocada pelo Sindag e promovida no dia 12 pelo Mapa. O encontro havia sido então coordenado pelo assessor executivo do Ministério, Ricardo da Cunha Cavalcanti Júnior, junto com o chefe da Divisão de Mecanização e Aviação Agrícola (DMAA) do órgão, Luís Gustavo Atz Pacheco. Com a participação de outras 13 entidades setoriais do agro, representando produtores de cana-deaçúcar, algodão, soja, cítricos, arroz, além de cooperativas e das indústrias de máquinas e insumos.

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SUSTENTABILIDADE

Agricultura e apicultura no foco do bom senso Comunicação é a chave de iniciativas como o MOVIMENTO Colmeia Viva, que busca garantir a boa convivência entre produtores e criadores de abelhas

A

Divulgação

chave da boa relação entre agricultura e apicultura está na informação e comunicação. Essa é a máxima cada vez mais presente em ações de entidades da produção, da indústria química e do próprio setor aeroagrícola. E cada vez mais necessária. Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção de mel do Brasil saltou de 19,7 mil toneladas em 1999 para 41,5 mil toneladas em 2017 – segundo o último Censo Agropecuário da entidade, o que torna indispensável aos agricultores saber onde estão as caixas de abelhas em torno de suas lavouras, e os apicultores terem conhecimento de quando serão feitas aplicação nas plantações próximas às suas criações. E, para ambos, a adoção de boas práticas de manejo e

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produção.

A partir daí foram surgindo iniciativas como o projeto Colmeia Viva, criado em 2014 pelo Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg) e que, desde então, tem o Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag) entre seus apoiadores. O capítulo mais recente do projeto está envolvendo diretamente as empresas aeroagrícola, a partir do Colmeia Viva App. Trata-se de um aplicativo para celular e tablet, gratuito, com a ideia de os agricultores e aplicadores poderem visualizar a localização dos apiários, com dados e contatos tanto do apicultor quanto do produtor agrícola.

DIVULGAÇÃO Os encontros para apresentação da ferramenta aos operadores aeroagrícolas iniciaram-se em setembro e já ocorreram em São Paulo e Rio Grande do Sul, com mais um programado para ainda este ano no Paraná e outros no ano que vem para as áreas-foco de Mato Grosso, Minas Gerais,

Bahia e Goiás. O desafio é mobilizar produtores e apicultores para alimentarem o sistema. Assim, será possível saber em que áreas se deve ter atenção redobrada nas aplicações, e o agricultor poderá avisar antecipadamente o produtor de mel para que, se for o caso, proteja as caixas que estiverem próximas à lavoura no dia da aplicação, confinando as abelhas.

A ideia também é incentivar os apicultores a perguntarem onde na propriedade do produtor rural podem ser colocadas caixas de abelhas, prevendo tanto a segurança dos insetos quanto o pasto apícola para o mel. A divulgação do App faz parte do Compromisso Público com as metas do Colmeia Viva até 2020.

Além de aderir ao Compromisso em 2017, o Sindag assinou a parceria para os treinamentos do aplicativo durante o Congresso da Aviação Agrícola do Brasil (ocorrido em agosto, em Maringá/PR).

“Queremos mostrar que é possível a convivência amigável entre aviação agrícola e apicultura”, ressalta o diretor-executivo do sindicato aeroagrícola, Gabriel Colle. “É preciso fazer com que a informação chegue a quem interessa. O grande desafio da nossa agricultura é comunicar, e projetos, como o Colmeia Viva, ajudam a suprir essa lacuna”, destaca. Ele frisa ainda que “o interesse da entidade é total em iniciativas para contribuir com a preservação da biodiversidade”.

Divulgação

Entenda o Colmeia Viva

Ferramentas para facilitar o diálogo Segundo a coordenadora do Colmeia Viva, Paula Arigoni, o aplicativo está inserido no Plano Nacional de Boas Práticas Agricultura/Apicultura para prevenir a morte de abelhas e mitigar incidentes a partir do uso correto de defensivos agrícolas e do incentivo ao diálogo entre apicultores e agricultores. Por sinal, a comunicação é a essência das três ferramentas para a construção de uma relação mais produtiva no campo. Duas são focadas no contato direto para troca de informações: o Colmeia Viva App e a Central de Assistência Técnica Nacional. A terceira é o Manual de Boas Práticas (veja na tabela).

Mas para chegar a esse aparato, o primeiro passo, ainda lá em 2014, foi buscar as causas da mortalidade das abelhas e da perda das colmeias.

Assim nasceu o Mapeamento de Abelhas Participativo, uma pesquisa inédita no País, realizada até 2017, no Estado de São Paulo. O estudo contou com a participação da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Universidade Federal de São Carlos (UFScar) e garantiu uma estrutura para os apicultores comunicarem a morte de abelhas e, em 24 horas, pesquisadores iam a qualquer parte do Estado investigar o problema, inclusive com envio de insetos mortos para o laboratório.

Foram 222 ligações, que resultaram em 107 visitas em campo para análise do entorno.

Dessas visitas, em 88 casos foram coletadas amostras, das quais 59 tiveram resultado positivo para resíduos químicos. “No entanto, quando a gente olha esse resultado positivo para resíduos químicos, a gente vê que uma minoria foi relacionada ao uso incorreto de defensivos na APP divulgação da ferramenta gratuita faz parte das metas até 2020

O que é - O Colmeia Viva é um movimento do setor de defensivos, realizado pelo Sindiveg, iniciado em 2014, com o Mapeamento de Abelhas Participativo, para levantar – com a ajuda de universidades – a causa da mortalidade de abelhas e perda de colmeias no Estado de São Paulo.

Metas - Com a pesquisa concluída, em outubro de 2017, foi assinado o Compromisso Público de Boas Práticas, com metas e objetivos a serem cumpridos até 2020, com base nas cinco bandeiras prioritárias lançadas já em 2015 e três ferramentas.

BANDEIRAS Paula Arigoni: pesquisa com participação de universidades

lavoura”, ressalta Paula.

Segundo o estudo, apesar de terem sido constatados casos de falhas em aplicações de defensivos, em parte dos atendimentos os resíduos detectados nos insetos eram de produtos não relacionados a lavouras. Já nos casos de mortandades não relacionadas a químicos (29 casos), em algumas situações ocorreram problemas de manejo dos apiários, entre outras causas. A partir daí veio o Manual de Boas Práticas, com mais de 70 dicas sobre manejo apícola e agrícola, e as outras ferramentas.

Relação mais produtiva agricultura/apicultura - Atendida pela iniciativa de pesquisa, que recebeu 222 ligações para investigar mortes de abelhas, teve 107 idas a campo, com 88 amostras analisadas em laboratório e 59 resultados positivos para contaminação química – muitos deles sem relação com aplicações em lavouras.

Infolab - Prevê o desenvolvimento e compartilhamento de informações sobre a interação com a agricultura e o uso de defensivos e/ou que envolva as abelhas na relação com a agricultura e a biodiversidade.

Abelhas em Campo - Olha para técnicas amigáveis relacionada à aplicação de defensivos, levando em consideração os diferentes níveis de taxa de polinização de abelhas. É um outro olhar que não tem a ver com agricultura/apicultura nem com a questão da biodiversidade, mas tem a ver com a complementariedade.

Colmeia Viva Multiplica - A meta é a capacitação das equipes internas de vendas das empresas signatárias do Colmeia Viva, assim como ofertar atendimento à rede de distribuição de defensivos, por meio de distribuidores e revendas.

Diálogo - Fala da transparência e traz para o debate a construção do diálogo para alcançar os melhores caminhos a favor do uso correto de defensivos e para proteção das abelhas.

FERRAMENTAS Manual de Boas Práticas – Traz toda a parte técnica na qual o Colmeia Viva foi construído, além de 70 dicas e práticas sobre a interação agricultura, apicultura, abelhas e defensivos agrícolas.

Central de assistência técnica nacional (0800 71-8000) – É uma linha direta que esclarece dúvidas e compartilha as boas práticas para mitigação da mortalidade das abelhas.

Colmeia Viva App - Aplicativo direcionado a facilitar o diálogo entre agricultores e apicultores, a partir do abastecimento de dados sobre a localização dos apiários, bem como quando e onde será feita a aplicação de defensivos.

Site: https://projetocolmeiaviva.org.br/

Dez/2018 a Fev/2019 AvAg 17

SUSTENTABILIDADE

Setor aeroagrícola aposta em esforço conjunto “Foi de grande valia. Precisamos incentivar e fazer andar este movimento.” O comentário do empresário aeroagrícola Marcos Antônio Camargo, da Itagro Aviação Agrícola, refere-se ao treinamento ocorrido em 13 de setembro, em Alegrete/RS, sobre o aplicativo do Colmeia Viva. Camargo, que também é diretor do Sindag, abriu seu hangar para operadores e profissionais da aviação agrícola da região participarem do encontro, em que foi apresentada a ferramenta pelo especialista em Uso Correto e Seguro do Sindiveg, Daniel Espanholeto.

“Dentro dessa proposta, é fundamental a aplicação correta dos defensivos”, pontua Camargo, sobre a responsabilidade dos empresários quanto à imagem do setor perante a opinião pública. Antes da cidade na Fronteira Oeste gaúcha, o treinamento havia ocorrido em Casa Branca/SP. Mais precisamente no dia 11 de setembro, no auditório da empresa Agrossol Aviação

Agrícola, do empresário Arnaud Rubens Rodrigues de Araújo (Binho Araújo). Disponível para sistemas Android e IOS, o aplicativo do Colmeia Viva é praticamente intuitivo, mas os representantes de 13 empresas paulistas aproveitaram para tirar dúvidas sobre o sistema e trocar ideias de como mobilizar produtores e apicultores para aderirem à novidade.

Para Araújo, é necessário que os apicultores entendam que não há interesse em atrapalhar nenhum criador. “A gente quer viver junto – abelhas, agricultura e a aviação agrícola.” O empresário faz parte do grupo de associados do Sindag que antes mesmo da ferramenta do Colmeia Viva já vinha georreferenciando por conta própria os apiários em sua área de atuação.

A partir dessa experiência, uma das grandes dificuldades que tem sentido é que muitas vezes o próprio apicultor não quer ser localizado.

Entre os motivos, muitos têm medo de suas caixas serem roubadas. “É

ALEGRETE Apresentação do aplicativo teve etapa na Fronteira Oeste gaúcha

um trabalho de formiguinha. Eles também precisam mudar os apiários de local seguidamente para as abelhas trabalharem”, conta.

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CASA BRANCA Representantes de 13 empresas paulistas participaram da abertura da rodada de divulgação

18 AvAg Dez/2018 a Fev/2019

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Consolidar referencial para garantir confiança Outro empresário (e diretor do Sindag) que já vinha fazendo um trabalho de diálogo com apicultores, Marcelo Amaral (Pachu Aviação Agrícola) também ressalta a importância da aproximação entre todas as partes. “A comunicação é necessária e, a partir do momento em que todos confiarem na ferramenta, o trabalho será mais fácil”, aposta. Amaral havia iniciado um georreferenciamento por conta própria no iníco de 2017 e chegou a participar de reuniões com lideranças do setor para estabelecer um canal permanente de comunicação.

A coordenadora do Colmeia Viva também concorda que o desafio será constante para “tornar o software uma referência no dia a dia de quem vive no campo, pois o abastecimento dos dados é voluntário”. Cada envolvido no processo deve se comprometer a avisar o que está fazendo. “No caso, do apicultor, onde estão suas abelhas, e os agricultores, as datas de aplicação de defensivos e em que área”, sublinha Paula Arigoni.

Ela ressalta estar otimista em relação ao uso do App. “O pessoal já baixou o aplicativo. Há agricultores que conhecem os apicultores do entorno e estão incentivando o acesso à ferramenta”, observa.

Dez/2018 a Fev/2019 AvAg 19

SUSTENTABILIDADE

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COMUNICAÇÃO: Trabalho no campo durante matéria para programa de televisão

A.B.E.L.H.A. aposta em diálogo a partir da divulgação de estudos científicos Comunicação eficaz é a proposta da Associação Brasileira de Estudo das Abelhas (A.B.E.L.H.A.) criada a partir do encontro de pesquisadores, agricultores, apicultores e empresários a convite da Syngenta, em 2014. A entidade sem fins lucrativos voltada a estudar às abelhas e a polinização no Brasil foi oficializada em 2015, quando entrou no ar o portal (www.abelha.org.br), bem como as páginas no Facebook e Instagram.

E estava formalizado um novo canal para fomentar o diálogo entre a apicultura e agricultura, adoção das boas práticas no campo e, ao mesmo tempo, a conservação da biodiversidade.

Para dar andamento à tarefa, foi montada uma estrutura enxuta, que conta com o apoio de um Comitê Científico e de diversos pesquisadores, bem com o auxílio de entidades que têm o mesmo interesse em produzir conhecimento científico.

Informações, estas, traduzidas para 20 AvAg Dez/2018 a Fev/2019

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ANA ASSAD: informação correta para conscientizar a sociedade sobre a importância de preservar a biodiversidade

linguagem de fácil acesso a todos os segmentos da sociedade. A diretora-executiva da A.B.E.L.H.A., a economista com doutorado

em Política Científica Ana Lucia Delgado Assad, conta que ao assumir a entidade notou a grande desinformação que havia em relação às abelhas. “Começamos a conversar com os pesquisadores para tentar organizar essa informação. É importante fazer a tradução desse conhecimento científico para que as pessoas entendam”, observa.

Dentro dessa proposta de comunicar de forma eficiente, a A.B.E.L.H.A. conta ainda com um aplicativo disponível para Android, com perguntas simples – por exemplo, o que a abelha come? – e respostas de fácil entendimento. Ainda o grupo faz palestras, participa de congressos, inclusive faz cobertura para o portal dos eventos, com a intenção de manter seu público informado e consciente da importância de preservar a biodiversidade para o equilíbrio do ecossistema.

E, nesse sentido, estudos são realizados constantemente.

Agora, em setembro, começaram a ser desenvolvidos os projetos de pesquisas aprovados pela Chamada Pública realizada em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), com financiamento público-privado.

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UNICA prepara programa próprio para atender Etanol Mais Verde A convivência amigável entre abelhas e lavoura encontra respaldo também no setor sucroenergético.

A União da Indústria de Cana-deAçúcar (Unica) está elaborando um plano de prevenção à mortalidade de abelhas em atenção às diretrizes do programa Etanol Mais Verde, desenvolvido pelo Governo do Estado de São Paulo, com o propósito de consolidar o desenvolvimento sustentável da atividade. Para alcançar a meta, está previsto ainda que as usinas e fornecedores contratem somente empresas de pulverização que detenham tecnologia de monitoramento do voo e da aplicação, bem como façam o levantamento das áreas de restrição. A entidade também está construindo, em parceria com a Syngenta, um modelo de

comunicação e profissionalização de apicultores.

Para a assessora Jurídica e de Sustentabilidade da Unica, Renata Camargo, é justamente a troca de informações entre criadores de abelhas e produtores agrícolas o maior desafio a ser enfrentado quando se fala em convívio amigável das duas culturas. A falta de uma comunicação eficaz acaba dificultando também a formalização dos pastos apícolas em locais ambientalmente regularizados e o compartilhamento da localização das colmeias para que as empresas de pulverização aérea atendam às margens de restrição definidas na legislação em vigor.

Renata antecipa que o projeto de comunicação em desenvolvimento pela entidade tem como base o Polinizar, desenvolvido pela

RENATA CAMARGO: iniciativa atende exigência do programa Etanol Mais Verde

Cofco International em Catanduva, associada da UNICA. “O diálogo é o caminho para a construção de uma agenda positiva comum”, reconhece Renata, ao falar da importância das abelhas (nativas ou exóticas) para várias culturas.

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EVENTO

Contagem regressiva para o Congresso da Aviação Agrícola 2019, em Sertãozinho

Um dos maiores eventos aeroagrícolas do mundo, encontro ocorrerá de 30 de julho a 1º de agosto, na cidade paulista, com programação simultânea em três auditórios e 1,2 mil metros quadrados de estandes

C

onsiderada a capital mundial do setor sucroalcooleiro, Sertãozinho será no ano que vem também a capital nacional da aviação agrícola. A cidade, situada no noroeste de São Paulo e na Região Metropolitana de Ribeirão Preto, foi anunciada no final de outubro como a sede do Congresso da Aviação Agrícola do Brasil 2019, que ocorrerá de 30 de julho a 1º de agosto no pavilhão do Centro de Eventos Zanini. O espaço de 12 mil metros quadrados de área coberta vai abrigar os três auditórios onde 22 AvAg Dez/2018 a Fev/2019

ocorrerão as palestras e debates técnicos e os mais de 1,2 mil metros quadrados de estandes da mostra de tecnologias e equipamentos. Além dos espaços da praça de alimentação e da mostra de ações sociais das empresas aeroagrícolas, bem como a Ilha das Pequenas Empresas (uma novidade nessa edição).

Promovido pelo Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag), o Congresso é o maior encontro aeroagrícola da América Latina e um dos

maiores eventos do mundo no setor. Por isso mesmo, a principal referência nas discussões de cenários e políticas para a aviação agrícola e na divulgação de novas tecnologias. Além de ser a principal vitrine brasileira para indústrias de aeronaves e tecnologias embarcadas, bem como de fornecedores de equipamentos e serviços, do Brasil e do exterior.

RECORDES Some-se a isso a expectativa de que o Congresso da Aviação Agrícola mantenha a sequência de recordes de participação que vem desde 2016. Só na edição 2018, ocorrida em agosto, em Maringá/ PR, foram 2,1 mil visitantes, 89 expositores (de 20 Estados e oito países) e 35 palestras e debates

Graziele Dietrich/Sindag

NA EXPECTATIVA Além dos debates em torno de cenários, políticas e tecnologias, evento no interior paulista reunirá o melhor do segundo maior mercado aeroagrícola do mundo

técnicos. Um indício positivo é o fato de que 80% das empresas participantes da mostra na edição paranaense já haviam manifestado a decisão de estarem presentes em 2019, independentemente do local do evento.

Outro sinal positivo é que quase metade do espaço de estandes já ter sido comercializada logo após o anúncio do local do Congresso e da abertura das negociações (nove meses antes do início da programação). Um universo de fabricantes de aviões, motores e drones, fornecedores de tecnologias, empresas de manutenção, indústrias de componentes, prestadores de serviços e todo o trade em torno do segundo maior mercado aeroagrícola do mundo.

Facilidades foram decisivas na escolha do local Para o coordenador do Grupo Institucional do Sindag (encarregado do Congresso), Thiago Magalhães, a localização e a estrutura do Centro de Eventos em Sertãozinho foram definitivos na escolha pela cidade. “É um ponto de fácil acesso e com uma boa malha viária”, ressalta. Ele também destaca a proximidade do aeroporto de Ribeirão Preto (37 quilômetros), o que facilita o deslocamento de participantes, palestrantes e expositores.

“Além disso, o local já recebe uma das maiores feiras do agro (do País)”, pondera Magalhães, referindo-se à Fenasucro & Agrocana, que ocorre no final de agosto.

O espaço de 12 mil metros quadrados do pavilhão trará outra comodidade aos participantes: como a mostra de tecnologias, os auditórios e a praça de alimentação ocuparão apenas metade do espaço, o resto servirá de estacionamento coberto para os expositores. Uma ajuda e tanto para carga e descarga de equipamentos e outros materiais, principalmente em caso de chuva.

DEMONSTRAÇÕES Segundo a coordenadora de Eventos do Sindag, Marília Guenter, entre as novidades para o Congresso da Aviação Agrícola 2019 está o fato de que haverá demonstrações aéreas no local, mesmo a programação não ocorrendo em um aeródromo. Para isso, os aviões vão decolar da base

da empresa Garcia Aviação Agrícola, situada a cinco quilómetros da feira, já no município de Ribeirão Preto, e farão as simulações de pulverização e de combate a incêndio em uma área nos fundos do Centro de Eventos.

“Não precisaremos montar uma estrutura coberta para o Congresso, necessária caso o evento fosse em aeródromo (como em Botucatu/2016 e Canela/2017) e, ainda assim, teremos a apresentação das tecnologias de aplicação sem que o público precise se deslocar para outro local para assistir”, comenta Marília. Por isso, também a programação será de três dias – o dia extra seria necessária justamente caso o público necessitasse se deslocar, como em Maringá/2018, onde as apresentações externas acabaram canceladas devido à chuva.

“Isso diminui gastos e dá agilidade ao evento”, completa a coordenadora.

Outra inovação para 2019 será a Ilha das Pequenas Empresas. “Teremos um local aberto, ao lado da área de estandes, com mesas onde pequenos empresários e startups poderão se apresentar ao mercado”, conta Marília. Para quem expõe, uma chance a custo reduzido para se mostrar ao mercado. Para os operadores, pilotos e até outros fornecedores do setor aeroagrícola, a possibilidade de conferir de perto ideias e soluções para melhorar o trabalho no campo ou ainda aprimorar tecnologias já existentes.

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Programação: debates, palestras e a mostra de equipamentos e tecnologias ocorrerão no pavilhão de 12 mil metros quadrados do Centro de Eventos Dez/2018 a Fev/2019 AvAg 23

EVENTO

Diversas novidades marcaram as edições dos últimos anos A sequência de recordes de participação de público e expositores no congresso aeroagrícola brasileiro vem no rastro de uma reestruturação que começou em 2016. Naquele ano, o evento ocorrido (ainda com o nome de Congresso Sindag) em Botucatu, São Paulo, foi o primeiro depois que o sindicato aeroagrícola assumiu integralmente a organização do evento – que antes ficava com uma empresa terceirizada. A programação na estrutura montada no aeroporto marcou também a entrada dos drones entre os expositores – equipamento até então tido como futuro concorrente das empresas de aviação e que hoje é visto como ferramenta complementar pelos próprios empresários.

O Congresso Sindag 2016 foi marcado ainda pelo início da parceria entre o Sindag e a Associação Nacional de Aviação Agrícola dos Estados Unidos (NAAA, na sigla

em inglês). Pelo acordo firmado em Botucatu, até 2020 as entidades participarão dos eventos uma da outra.

No caso, a NAAA no congresso do Sindag, promovido anualmente em datas entre junho e agosto, e o Sindag na Convenção Anual da NAAA, que ocorre sempre no início de dezembro – em 2018, do dia 3 a 6, em Reno, Estado de Nevada. Além da troca de experiência entre as entidades, o acordo tem sido importante tanto para trazer expositores de lá para o evento no Brasil, quanto levar empresas brasileiras para a mostra norteamericana.

70 ANOS Em 2017, o Congresso Sindag de Canela, no Rio Grande do Sul, deu início ao modelo de fazer programações simultâneas em três auditórios, dado o número de palestras que o evento passou a ter. A última edição gaúcha foi ainda comemorativa aos 70 anos

da aviação agrícola brasileira e teve abrangência latino-americana, já que a cada três anos o evento brasileiro sedia também as discussões do Comitê Mercosul e Latino-Americano de Aviação Agrícola – revezando com Argentina e Uruguai.

O Congresso de 2017 teve ainda a primeira entrega da medalha Mérito Aviação Agrícola. Distinção conferida a partir de então a personalidades que contribuíram para o desenvolvimento do setor no Brasil, sempre no Jantar da Aviação Agrícola, outra novidade que agora marca o encerramento da programação a cada ano.

NOVO NOME Em 2018, o encontro aeroagrícola brasileiro foi em Maringá, no norte paranaense, com o nome de Congresso da Aviação Agrícola do Brasil. A mudança foi reflexo da consolidação do evento como

NÚMEROS CRESCENTES

Congresso Sindag 2016 Botucatu/SP

1,5 mil visitantes

52 expositores Destaques: Sindag assumiu integralmente a organização do evento, assinatura do convênio com a NAAA e presença de fabricantes de drones 24 AvAg Dez/2018 a Fev/2019

Congresso Sindag 2017 Canela/RS

Congresso AvAg Brasil 2018 Maringá/PR

2 mil

2,1 mil

visitantes

71

visitantes

89

expositores

expositores

Destaques: Evento passou a contar com três auditórios, comemoração dos 70 anos da aviação agrícola brasileira, instituição da medalha Mérito Aviação Agrícola, entregues anualmente no Jantar da Aviação Agrícola – que por sua vez passou a encerrar cada edição do Congresso.

35

palestras técnicas Destaques: Mudança de nome do Congresso, fundação do Ibravag e maior visibilidade às ações socioambientais promovidas pelas empresas aeroagrícolas.

Castor Becker Júnior/Sindag

INTERNACIONAL: Acordo entre Sindag e a NAAA marcou a aproximação entre setores aeroagrícolas do Brasil e Estados Unidos Graziele Dietrich/Sindag

MERCADO: Encontro é a principal vitrine brasileira de tecnologias e equipamentos para o setor

Castor Becker Júnior/Sindag

um fórum de debates de todo o setor (e não apenas das empresas aeroagrícolas). Alimentada, por exemplo, pela abertura de maior espaço para o Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA, que abrange os pilotos) e pelo surgimento do Instituto Brasileiro de Aviação Agrícola (Ibravag), que abrange ainda os operadores privados (produtores que têm seus próprios aviões), associações de produtores, entidades de classe de profissionais da agricultura e outros setores relacionados, além de pessoas físicas.

A partir de 2018, o evento aeroagrícola passou a valorizar as ações das empresas aeroagrícolas junto a suas comunidades, com a exposição de banners dos projetos de responsabilidade socioambiental de cada uma. Ações que também se inserem nas propostas do Pacto Global da ONU, do qual o Sindag é signatário desde 2017.

Congresso AvAg Brasil 2019 (expectativas)

3 mil visitantes

100

expositores

MEDALHA: Congresso teve em Canela a primeira entrega da medalha Mérito Aviação Agrícola – na foto, a homenagem ao agrônomo José Carlos Christofoletti

Novidades: Espaço facilitado para pequenas empresas e startups, estacionamento coberto para expositores e demonstração aérea mesmo não sendo em aeródromo Dez/2018 a Fev/2019 AvAg 25

ECONOMIA

Mesmo com cenário positivo, agronegócio precisa comunicar suas boas práticas Economista da Fundação Getúlio Vargas, acredita que setor usufruirá de grande prestígio no governo de Jair Bolsonaro, mas alerta: não pode se descuidar da imagem nos mercados interno e externo

O

agronegócio, incluindo setor primário e de indústrias antes (insumos) e depois da porteira, deve responder por 21,2% do PIB brasileiro deste ano. A estimativa foi divulgada em julho, pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, com base no primeiro quadrimestre.

Além da expectativa positiva em termos de resultados, 2018 termina com a confiança renovada de que dias melhores estão por vir para o campo. O anúncio do presidente eleito Jair Bolsonaro de que a deputada Federal Tereza Cristina Dias (DEM/MS) assumirá o Ministério da Agricultura, Pecuária

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SERIGATTI: Economista acredita que a agropecuária ganhará maior espaço na agenda governamental em 2019

e Abastecimento (MAPA) agradou ao setor e estudiosos do assunto.

O professor da Fundação Getúlio Vargas – Escola de Economia de São Paulo (FGV-EESP), mestre e doutor em Economia Felippe Serigati, pesquisador do Centro de Estudos do Agronegócio da FGV (FGV Agro), revela que, pessoalmente, gostou

Um setor acima das turbulências do mercado Interno O ano de 2019 começará com muitas expectativas positivas em relação ao avanço da economia, o que pode gerar mudança no percentual de contribuição de cada atividade para o PIB nacional. Para Felippe Serigati, caso a economia brasileira, finalmente, encontre uma trajetória sustentável de crescimento, a participação dos demais setores, especialmente o de serviços, deverá aumentar. Mas o agro continuará sendo um dos mais importantes contribuintes para elevar o PIB, inclusive se houver muita turbulência a participação do agro pode até aumentar.

26 AvAg Dez/2018 a Fev/2019

O motivo para o agro manter-se forte mesmo diante das intempéries está diretamente ligado à sua essência.

A produção do setor, como alimentos, fibras, biocombustíveis, papel e celulose, entre outros, é menos sensível à variação de renda. Outra característica, apontada por Serigati, diz respeito às exportações. “Parte da demanda do setor não está no mercado doméstico, mas no exterior.

Logo, mesmo que haja turbulências aqui dentro, o setor ainda encontra um ótimo canal para seus produtos além das fronteiras nacionais”, pondera.

Por sinal, o agronegócio brasileiro é e deverá continuar sendo um

player importante no mercado internacional. O economista destaca que a crescente demanda por alimentos no mundo vem reforçar ainda mais a relevância da atividade, levando em consideração que o Brasil é um dos poucos países com condições para produzir o volume necessário. “O setor tem demonstrado, há tempos, um grande apetite por novas tecnologia e uma busca incessante por maior produtividade”, observa Serigati, enfatizando que não há razões que possam desviar o agronegócio da rota de sucessos que vem trilhando.

Agência Brasil

da indicação e vê na forma como a escolha se deu um sinal de que a atividade ganhará um destaque, nas suas palavras, “merecido”, que há tempos não tinha no governo federal.

A futura ministra Tereza Cristina é uma indicação do setor, representado pela Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), e aceita pelo futuro chefe do Executivo. Para Serigati, o fato deixa evidente que a agropecuária usufruirá de maior prestígio dentro da gestão do novo presidente. “Em outras palavras, as demandas apresentadas pelo agronegócio terão maior espaço para

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COMUNICAÇÃO: Além de adotar práticas sustentáveis, setor produtivo precisa divulgar suas ações para combater mitos

serem consideradas e, na medida do possível, atendidas”, reforça. Mas alerta: como qualquer atividade econômica, para crescer, é preciso atenção às exigências do mercado nacional e internacional. Para isso, orienta o produtor a sinalizar para toda a sociedade as características do seu processo produtivo.

ESTEREÓTIPOS Em tempos em que a sustentabilidade ambiental aparece como um atributo importante para o retorno econômico da atividade agropecuária ao longo do seu processo produtivo, os estereótipos que colocam o agronegócio como uma atividade essencialmente poluidora precisam ser quebrados.

O estigma pesa sobremaneira sobre a aviação agrícola. Apesar da alta tecnologia e ser o único meio de aplicação de defensivos com regulamentação específica, é combatida com base em mitos.

Embora confesse conhecer pouco sobre o segmento aeroagrícola, no entender de Serigati, o combate à desinformação passa pela comunicação eficaz. “Não basta adotar práticas ambientalmente sustentáveis, é necessário que se construa uma imagem positiva.”

Lembra que a preservação ambiental a partir de iniciativas do agronegócio – uso e conservação do solo, uso da água, emissão de carbono, descarte de resíduos, etc. – precisa ser divulgada para a sociedade.

O professor da FGV observa que caracterizar o produtor brasileiro, por exemplo, como um desmatador é falso, resultado de muito preconceito que há na sociedade e, principalmente, entre vários formadores de opinião.

Mas quem precisa mudar esse pensamento é o próprio setor. “Não podemos esperar que essas pessoas que têm preconceito em relação à agropecuária mudem sua opinião”, diz, reforçando que esse processo de reposicionamento demanda uma proatividade das lideranças, para destruir rótulos negativos, gerados por informações imprecisas e algumas vezes falsas.

E-mail: mario.omaer@gmail.com

Dez/2018 a Fev/2019 AvAg 27 20/11/2018 20:08:41

28 AvAg Dez/2018 a Fev/2019

Fotos: Graziele Dietrich/Ibravag

MEMÓRIA MIRTA VANNI Piloto agrícola

Nascida em 1924 E voando desde 1941, a uruguaia se tornou em 1947 a primeira piloto agrícola do mundo E ainda dirigiu e ajudou a consolidar o setor aeroagrícola em seu país, treinando pilotos e percorrendo o mundo em busca de tecnologias Castor Becker Jr.

U

ma pioneira, testemunha de uma era de pioneiros, que teve papel fundamental na criação e desenvolvimento do setor aeroagrícola do Uruguai.

Mais do que isso, Mirta Vanni se tornou em 1947 a primeira mulher piloto agrícola do mundo, voando no combate a gafanhotos.

Coincidentemente no mesmo ano e contra a mesma praga (e possivelmente a mesma leva de insetos) que determinou o início da aviação agrícola brasileira, no Rio Grande do Sul. Personagem de histórias fascinantes, com ricas e vivas lembranças do alto de seus 94 anos (quase 95, como faz questão de frisar), Mirta Vanni G. Ravenna (mais tarde “de Barbot”, de casada) nasceu em 1924, na cidade de Carmelo, Colônia, quando a própria aviação de seu país existia havia apenas 11 anos. Ela foi também a primeira piloto comercial uruguaia, ajudou a fundar e dirigiu o Serviço Aéreo do Ministério da

Foi quando tivemos o ataque de grandes nuvens de gafanhotos que nos anos de 1946 e 1947 assolaram o país. A partir desse momento se começou a trabalhar também contra outras pragas.

Inicialmente a missão coube unicamente ao Ministério.

Agricultura, e percorreu o mundo em busca de técnicas e tecnologias aeroagrícolas, treinou pilotos, importou aviões agrícolas dos Estados Unidos e Brasil, pilotou em operações de resgate na grande enchente de 1959, enfim, uma lista de feitos e personagens que desfilaram em mais de duas horas de entrevista.

Mirta recebeu a reportagem da revista Aviação Agrícola na casa de sua filha, na Cale Alarcon, próximo ao Estádio Centenário, na capital Uruguaia. No encontro, que foi acompanhado e compartilhado com o presidente da Associação Nacional de Empresas Privadas Aeroagrícolas do Uruguai (Anepa), Júlio Placeres, e o secretário Santiago Santos, a entrevistada recebeu também uma homenagem surpresa do setor aeroagrícola brasileiro. Ela ganhou uma placa em nome do Ibravag e do Sindag, agradecendo-lhe por ter inspirado gerações de pilotos e empresários aeroagrícolas no continente.

Dez/2018 Dez/2018aaFev/2019 Fev/2019 AvAg 29

MEMÓRIA

SISVAG

MIRTA VANNI Piloto agrícola Como a senhora começou na aviação?

Mirta Vanni - Em 1941 eu me formei piloto. Em 1943 me tornei piloto profissional (comercial) e em 46 comecei a trabalhar no Ministério da Agricultura, criando justamente o Serviço Aéreo. Foi quando tivemos o ataque das grandes nuvens de gafanhotos que nos anos de 1946 e 1947 assolaram o país. A partir desse momento se começou a trabalhar também contra outras pragas agrícolas, até 1987. Inicialmente essa missão coube unicamente ao Ministério. Mas depois foram surgindo muitas empresas agroaéreas, até que o Ministério decidiu sessar seu trabalho aeroagrícola.

A senhora pilotou efetivamente em operações aeroagrícolas?

Mirta - Sim, por quatorze anos.

Comecei a pilotar agrícola em 1947.

Mais tarde assumi a direção do Serviço Aéreo e ainda pilotei por 14 anos, até que passei a me dedicar unicamente à tarefa administrativa.

Chegamos a ter 21 aviões e 21

pilotos se alternando nas missões.

Havia outras mulheres pilotos no Serviço Aérea do Ministério da Agricultura?

Mirta - Nós tivemos outras mulheres trabalhando pulverização aérea. Agora nesse momento não há nenhuma no país. Na época em que eu dirigia o Serviço Aéreo, levei duas mulheres para trabalharem comigo e trabalharam bem durante muitos anos. Depois as mulheres foram se voltando para os serviços de aviação de transporte, onde chegamos a ter tripulações inteiras só de mulheres, como uma época na (companhia aérea) Pluna. Lamentavelmente, na agrícola não temos nenhuma agora.

Mas existiram e foram muito boas.

No Brasil temos 1,5 mil pilotos agrícolas homens e apenas sete mulheres pilotando em lavouras...

Mirta - Sim, eu soube. E me alegra muito que pelo menos haja essas sete brasileiras pilotando.

A senhora lembra da primeira vez em que efetivamente voou em uma operação agrícola?

Mirta - Foi em 1947, em um avião trazido dos Estados Unidos pelo Ministério da Agricultura. Era um Piper, o famoso J3. No início eram Arquivo pessoal

aplicados produtos em pó. Nos anos 50 começamos a trabalhar com líquidos. No início ocorreram problemas porque não se conhecia a parte de toxicologia. Os problemas envolviam inclusive as empresas que traziam os produtos. Até que se criou dentro do Ministério da Saúde Pública um setor para se ocupar desse tema. Transitamos por todas essas etapas.

As poucas fontes sobre o tema, como o site Centennial of Women Pilots e a própria Wikipedia apontavam a brasileira Ada Rogato como a primeira mulher piloto agrícola do mundo, tendo voado em 1948, no combate a broca-do-café, em São Paulo. Então, na verdade, a senhora é que foi a primeira, isso?

Mirta - Sim. Eu tive notícia de Ada Rogato na época. Na verdade, ela teve uma passagem breve pela aviação agrícola, tendo voado em lavouras de café. Ela deixou a atividade depois de um acidente onde fraturou as pernas.

A senhora se correspondia com ela?

Mirta - Ada Rogato chegou a Montevidéu com seu avião certa vez para confraternização. Eu a recebi, nos conhecemos e ela dormiu em minha casa. Depois disso, sem seu avião, esteve com outra pessoa aqui e disse que gostaria de fazer um saldo de paraquedas e seu eu lhe conseguiria um avião. Fomos ao aeroclube para conseguir um avião emprestado. Fomos dali para a Escola de Aeronáutica Militar para os saltos. Era esse era o tipo de relação que tínhamos. Mas ela tinha uma história interessante. Voou por todo o Brasil, fora do Brasil e foi até os Estados Unidos em um Cessna.

E plenos anos 40, o fato da senhora ser uma mulher pilotando, mais do que isso, piloto agrícola, não causava surpresa nas pessoas?

Mirta - Sim, claro. Mas havia uma

Mirta se preparando para o voo de translado de um dos aviões brasileiros

30 AvAg Dez/2018 a Fev/2019

HOMENAGEM: A aviadora recebeu uma placa do Sindag e do Ibravag, assinada pelo presidente Júlio Kämpf, entregue pelo jornalista Castor Becker Júnior (centro), na presença do presidente da Anepa, Júlio Placeres

crise, uma necessidade urgente no país de se buscar pilotos para trabalhar na campanha contra os gafanhotos. Então, recorreu-se às pessoas que aceitaram se voluntariar para a missão. Tive a oportunidade e ingressei nisso, embora sem nenhuma experiência.

Nenhum de nós tinha experiência nesse tipo de operação. Era uma novidade em 1947. Inclusive os aviões que foram trazidos para isso eram uma novidade. Aí se começou a experimentar o que era a pulverização aérea.

Onde se buscou o conhecimento de base sobre o voo agrícola e sobre como combater gafanhotos?

Mirta - Não tínhamos nenhuma informação. Salvo alguma referência dos Estados Unidos quando nos venderam os aviões. Todo o resto foi

experimentação nossa.

Durante o tempo em que coordenou (e voou) o Serviço Aéreo, também chegou a treinar pilotos novos?

Mirta - Eu sempre dei instrução aos pilotos que entravam para o Serviço, porque eu era a única que tinha experiência então. Ao mesmo tempo em que comecei a formar pilotos, comecei também e me informar sobre como eram as coisas em outas partes do mundo.

Acumulei muita informação escrita.

Em função disso, fui preparando equipes.

Mas a senhora chegou a visitar países como Estados Unidos, Nova Zelândia e outros lugares onde as operações aeroagricolas eram comuns.

Mirta - Sim, eu estive na Nova

Zelândia, onde também foram pioneiros na aviação agrícola. Estive três meses lá, buscando informações e fazendo treinamentos. Também fui à Inglaterra, porque se achava que lá haviam os melhores equipamentos desenvolvidos para a atividade, como o (atomizador) Micronair e outros. Em função disso, quando retornei, providenciamos a compra de equipamentos e foi quando se utilizou pela primeira vez um Micronair no Uruguai.

A senhora também foi a primeira piloto (homem ou mulher) a fazer semeadura aérea no Uruguai...

Mirta - Aqui no Uruguai, a primeira pessoa a fazer semeadura aérea fui eu. No departamento de Soriano (no oeste do país). Foi uma experiência em uma lavoura de trigo, mas não deu resultado. O resultado positivo veio depois em outras experiências, dessa vez em arroz.

A senhora se recorda quando foi Dez/2018 a Fev/2019 AvAg 31

Arquivo pessoal

MEMÓRIA MIRTA VANNI Piloto agrícola a experiência em trigo que não deu resultado?

Mirta - Foi em 1958.

Quinze anos depois da primeira experiência oficial de semeadura aérea do mundo, em 1943, na Nova Zelândia...

Mirta - Sim, mas aquelas eram semeaduras de pastagens. Eles são pioneiros nisso. Quando estive na Nova Zelândia, a viagem serviu justamente para ver isso de perto. Sementes e fertilizantes em pastagens.

Na década de 70, a senhora esteve envolvida na primeira exportação de aviões agrícolas da Embraer, do Brasil para o Uruguai. Como foi isso?

Mirta - Justamente sobre isso eu tenho os recortes de jornais aqui (mostrando as folhas). Compramos 10 aviões Ipanema. Cinco deles eu fui buscar na fábrica, em São Paulo.

Foi a primeira vez em que a fábrica vendida esse modelo para fora do Brasil. Os aviões que trouxemos apresentaram problemas de funcionamento e nas operações. Mas como tínhamos aqui no Ministério da Agricultura uma vasta experiência em manutenção na parte mecânica, além de profissionais muito bons, fomos localizando todos os pontos de deficiência e fomos informando à fábrica, que por sua vez foi fazendo Arquivo pessoal

as modificações sugeridas. Então, nós ajudamos a aperfeiçoar o avião nos modelos seguintes. Nesse sentido, o Ministério uruguaio foi bastante útil à Embraer (risos).

A senhora também havia trazido dos Estados Unidos um modelo Snow...

Mirta - Sim, um AeroComander – um S2-R da divisão AeroComander da Rockwell-Standard (precursora da Thrush Aircraft), desenhado pelo pioneiro Leland Snow antes dele fundar a Air Tractor (hoje maior fabricante de aviões agrícolas do mundo).

Como foi ir aos Estados Unidos e voar de lá para cá nos anos 60, com mapa, sem informações meteorológicas precisas, sem GPS e outros instrumentos modernos?

Mirta - Começou assim: a

Recorte de notícia da solenidade de entrega ao Uruguai dos aviões Ipanema na Embraer, em São Paulo partir justamente do trabalho de fertilização em arroz, percebeuse a necessidade de aviões de alto volume (maior capacidade de carga). Os aviões que haviam aqui no Uruguai eram de baixo volume.

Justamente a raiz de minha ida à Nova Zelândia e depois ainda aos Estados Unidos. Aos Estados Unidos eu fui já para selecionar um avião de alto volume para esses trabalhos.

Trouxemos dois.

Agora, como trouxemos? Bom, era uma emergência, porque estava chegando a safra para trabalharmos em arroz e o ministro da Agricultura na época, (Wilson) Ferreira Aldunate (que esteve no comando da pasta de 1963 a 1967) queria começar já. Teríamos que trazer os aviões voando, já que de barco não

Frota do Ministério da Agricultura uruguaio, comandada pela aviadora até 1987

32 AvAg Dez/2018 a Fev/2019

chegariam a tempo. Além disso, o Uruguai estava em emergência de pragas agrícolas, então os aviões que tínhamos estavam ocupados (em pulverizações). Então escolhi um dos outros pilotos com certa experiência e fomos aos Estados Unidos buscar os aviões. O outro piloto havia sido da Foça Aérea, então tinha muitas horas de voo.

Mas eu não tinha experiência em um voo de distância tão grande, embora tivesse feito um curso de voo por instrumentos na Força Aérea. Ao menos tinha isso, mas não havia nenhum equipamento.

nos dava 14 horas de voo, o que foi muito importante, já que, com todos os equipamentos que trouxemos, voávamos a apenas 110 milhas por hora. Velocidade muito baixa.

Utilizaram o hopper para transportar combustível também?

Mirta - Sim. Então nós partimos de Olney, Texas, para um trajeto que seria de cinco ou seis dias, mas que demorou 10 dias de viagem. Com todos os problemas que poderiam significar vir sem instrumentos e desviando de temporais.

Qual foi a rota escolhida?

Mirta - Via Pacífico. Cogitouse via Atlântico, mas a distância seria muito maior. Além disso, via Pacífico tínhamos mais pontos de apoio.

Conseguiram voar juntos o tempo todo?

Mirta - Olha, saímos juntos, mas normalmente a velocidade, questões de tempo e outros fatores nos faziam perder de vista rapidamente.

Tivemos alguns inconvenientes, como momentos em que tivemos que aterrissar e esperar o tempo melhorar, mas sem nada mais grave. Voo totalmente visual. Nos perdemos de vista alguns instantes, mas relativamente rápido, uma hora, hora e meia sem contato, mas logo se resolvia. Houve alguns problemas na hora de cruzar a Cordilheira.

Não deu certo, tínhamos que voltar, recalcular e tentar de novo, até que conseguimos.

O avião era realmente superior aos demais?

Mirta - Para mim, sim. Sobretudo o motor me dava muita confiança.

Era um (Pratt & Whitney) R-1340, com 600 cavalos, similar ao que tínhamos nos aviões da Foça Aérea. Era o que equipava o avião com o qual havia feito o curso de

Nos perdemos de vista alguns instantes (...), hora, hora e meia sem contato, mas logo se resolvia. Houve alguns problemas na hora de cruzar a Cordilheira.

Não deu certo, tínhamos que voltar, recalcular e tentar de novo, até que conseguimos.

voo por instrumentos. Então, era um “motorzito” que dava muita confiança. Quando estive nos Estados Unidos testando aviões, voei vários e elegi esse. Também pela carga que ele podia levar. Tanto que para trazê-los, no lugar onde iria o inseticida colocamos cerca de 1 mil litros extras de combustível. Isso

A senhora conheceu Leland Snow e visitou diversos países como uma mulher sul-americana, aviadora, mais ainda, piloto agrícola. Como as pessoas reagiam diante de uma mulher piloto agrícola e ainda dirigente de um departamento de aviação agrícola?

Mirta - As pessoas estranhavam bastante. Uma passagem que lembro sobre isso foi na Nova Zelândia.

Eu cheguei em uma empresa aeroagrícola, porque queria ver o trabalho na zona montanhosa onde ela operava. Então, saí com um piloto para visitar essas zonas, mas ele começou a voar quase que fazendo acrobacias durante uma hora e meia, pensando que eu não ia resistir àquilo. Em determinado momento acabei perguntando: “Você é acrobata?” Aí voamos mais uns 20 minutos e ele pousou. Mas ficou muito claro que ele provavelmente pensava algo do tipo “quem essa mulher pensa que é?”. Depois disso, eu quis visitar uma escola de voo, para ver se havia mulheres. Havia apenas uma muito jovem que havia começado recém o curso. Não havia mais mulheres nos cursos e muito menos trabalhando.

Você se recorda se em sua época havia outras mulheres pilotos agrícolas na América Latina? Ou mesmo nos Estados Unidos. Chegou a encontrar alguma?

Mirta - Não. Lamentavelmente.

Eu perguntei nos Estados Unidos e eles chegaram a dizer que sim.

Mas depois se constatou que era uma proprietária de uma empresa aeroagrícola, mas não pilotava.

Tinha seis ou sete aviões, mas não era piloto. Cheguei a participar de um congresso lá, achando que encontraria alguma, mas não. Vi muitas pilotos de táxi aéreo, e linhas aéreas.

A senhora chegou a enfrentar alguma emergência grave em voo?

Mirta - Um incêndio em voo, certa vez. É o que lembro. Eu voava de Montevidéu levando o Ministro da Agricultura (na época, Carlos Puig, Dez/2018 a Fev/2019 AvAg 33

MEMÓRIA MIRTA VANNI Piloto agrícola que comandou a pasta de 59 a 63) a um congresso em Santa Fé (na Argentina). O avião tinha recémsaído da oficina, mas havia tido um problema com o rádio que não haviam conseguido resolver. Ele não comunicava direito. Quando íamos cruzar o Rio Uruguai (fronteira com a Argentina), eu queria me comunicar com Gualeguaynchú (primeiro aeródromo no lado argentino) e, ao mudar o canal, começou a sair fumaça do rádio.

Os cabos próximos estavam mal conectados e entraram em curto.

Aí fiz os procedimentos (desligar a força) e verifiquei que estava em altura suficiente no Rio Uruguai para chegar até o Aeroclube de Gualeguaynchú. Pousei no aeroclube e era um domingo de manhã. Mas tinha que continuar porque o ministro (que estava com um ajudante) tinha que fazer um discurso em Santa Fé às 13 horas.

Vi que era somente isso (curto devido ao mau contato). Mecânico era impossível conseguir em um domingo naquelas condições, então desliguei tudo e seguimos viagem.

Sem rádio, é claro. No regresso acabei tendo um problema, porque havia vindo uma denúncia da Argentina, pedindo punição para o piloto por não ter se comunicado na rota.

Houve o episódio em que a senhora participou de resgates em uma inundação. Como foi? – Em 18 de abril de 1959, o governo uruguaio evacuou a cidade de Paso de Los Toros, devido ao risco de ruptura da represa da Hidrelétrica de Ricon del Bonete, acima da cidade, na maior cheia da história do país. Ela não rompeu, mas 10 mil pessoas foram retiradas da cidade pelo Exército e levadas de trem para áreas seguras.

Mirta - Foram tremendas essas inundações. Todos os pilotos disponíveis estavam trabalhando para retirar as pessoas (das áreas de risco) das margens dos rios.

Muitas pessoas foram levadas a um acampamento cerca de 100 quilômetros (ao norte do país, 34 AvAg Dez/2018 a Fev/2019

em direção a Taquarembó). Então tínhamos que levar autoridades e abastecer os acampamentos a partir de Montevidéu. Fui designada para abastecer Taquarembó. Nisso me chegou um casal jovem, desesperado: “Somos de Taquarembó, mas temos um bebê que está aos cuidados de uma senhora que embarcou nos vagões. Nós acabamos vindo para Montevidéu e a criança foi para lá (Taquarembó).” E pediram que a encontrasse.

E achou?

Mirta - Fui a Taquarembó, procurei a criança, mas eram muitas crianças, em muitos vagões. Até

que um oficial do exército me ajudou e enviou soldado aos vagões e achamos. Mas era um bebê de nove meses e eu estava sozinha em um avião (Piper J3) com assentos em tandem (um à frente do outro).

Não havia como pilotar e cuidar da criança atrás de mim. Aí apareceu um jornalista em busca de carona para Montevidéu. Ele acabou viajando com a criança no colo.

Teve mais?

Mirta - Também me mandaram buscar um senhor que estava ilhado em uma estância. Havia saído toda a família e ele ficou para trás. Chovia, mas eu tinha que ir lá e leva-lo até

um ponto seguro. Eu aterrissei em um pedaço de terra rodeado de água.

Fui até a casa, vieram os cachorros e nada. Cheguei a pensar que ele havia saído, mas afinal apareceu o senhor.

Eu disse “seus filhos me pediram que lhe buscasse, já que está rodeado de água.” Eu vi que ele olhava e olhava e aí falou. “Venham, não querem tomar algo?” Eu disse que estava sozinha e ele perguntou pelo piloto. “O piloto sou eu. Temos que sair logo, porque o tempo está feio”. Ele disse “Nâo, senhora. Eu vou ficar”. Não quis sair com uma mulher piloto. Preferiu ficar (risos). Pequenas anedotas da vida.

De onde veio a paixão pela aviação?

Mirta - Desde pequeno gostava de ver os pássaros e havia um autogiro que passava sempre sobre minha casa na costa. Eu vivia em uma cidade perto de Buenos Aires, junto ao Rio Uruguai. Eu pensava que seria lindo poder andar naquilo. Isso me encantou.

Em plena época da guerra (Segunda Guerra Mundial – 1939 a 1945), tínhamos muitas notícias do que era o meio aeronáutico e todos os tipos de coisas (tecnologias relacionadas ao conflito). Tivemos 20 jovens que se apresentaram como voluntária para ir à Europa (trabalhar como enfermeiras). Eu tinha 16 anos e se solicitou voluntárias para enfermeiras de avião. Eu não entendia o que faziam, mas como tinha a palavra avião no meio, fui me inscrever em seguida. Não havia muitas candidatas para isso. Então se abriu uma possibilidade e me deram uma bolsa de estudos (para o curso de piloto).

Com que idade foi seu primeiro voo?

Mirta - Com 16 anos.

E o primeiro voo solo?

Mirta - Ainda com 16, quase 17.

Acredita que com apenas quatro horas de voo eu fiz o primeiro solo?

Com quatro horas? Com 18 horas fiz o exame, mas não queriam me dar o brevê porque faltavam duas horas para as 20 necessárias. Mas como íamos a Buenos Aires (a delegação de mulheres pilotos do Uruguai havia sido convidada pelo país vizinho para uma confraternização), deram-me o brevê.

Com quantas horas de voo se podia ter o brevê de piloto comercial, naquela época?

Mirta - Com 36 horas (hoje são exigidas 200 horas no Uruguai).

A senhora conheceu outras pioneiras, como Suzana Ferrari – primeira mulher a obter licença de piloto comercial na América do Sul, em 1937 (faleceu em 1999, os 85 anos) ou Amália Célia Figueiredo – primeira mulher com licença de piloto na América Latina, em 1914 (faleceu em 1985, aos 90 anos)?

Mirta - Amália Figueiredo foi muito amiga minha. Foi a primeira aviadora argentina, Esteve muitas vezes no Uruguai. E eu também estive (com ela) na Argentina, em várias solenidades e festejos.

E Carola Lorenzini? – Primeira mulher instrutora de voo na América do Sul, recordista feminina sulamericana de altitude em 1933 e entre os poucos pilotos de acrobacia de então na América Latina, homem ou mulher, a fazer o loop invertido.

Conhecida como Aviadora Gaúcha, porque sempre usava bombacha e botas campeiras.

Mirta - Lamentavelmente, eu estava lá no dia do acidente – Carola morreu em um acidente de acrobacia em 23 de novembro de 1941, em Morón, Argentina, justamente o encontro no qual Mirta, aos 17 anos, integrava a delegação uruguaia em visita ao país. Ela era piloto de acrobacia

e eu havia recém me tornado piloto e foram vários atos de confraternização naquele evento.

Uma lembrança importante na noite anterior: perguntaram a ela se faria acrobacia. Ela respondeu que não porque havia sido suspensa (de temperamento forte, a piloto havia sido punida por reclamações).

Porém ela acabou autorizada a fazer acrobacia no dia seguinte. Ela treinou de manhã para fazer à tarde as demonstrações. Ela começou sua apresentação e iniciou o loop invertido. Mas calculou mal a altura e se chocou contra o solo – além do tempo sem treinar, pela suspensão, Carola pilotava um avião Focke Fw44, que não era o aparelho com o qual costumava fazer a manobra.

Qual foi a última vez em que a senhora pilotou?

Mirta - Foi em 1987 A senhora tem saudade de voar?

Mirta - Veja, se fosse para voar para divertimento, sim. Mas não para grandes viagens.

A senhora festejou 80 anos saltando de paraquedas. Como foi?

Mirta - Foi muito engraçado. Era uma série de festejos no Aeroporto de Mellila E em um dia muito bonito havia saído um avião com 20 paraquedistas. E eu pensei alto “que lástima, poderia ter ido”. Aí disse um amigo piloto “se queres ir, vamos”. E fomos.

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TECNOLOGIA

Tecnologia para avaliar, corrigir e atestar precisão em aplicações leva a pulverização aérea ao estado da arte Utilizando equipamento desenvolvido pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, startup nascida no campus da Unesp trouxe ao Brasil o conceito de Clínica de Aeronaves Agrícolas, fazendo a sintonia fina entre máxima eficiência e segurança ambiental

O

estado da arte para avaliar a eficácia de uma aplicação, fazendo o ajuste fino nos parâmetros de voo e regulagem de equipamentos para a cobertura adequada e redução do risco de deriva. Resumidamente, é assim que funcionam as Clínicas de Aeronaves Agrícolas promovidas desde o ano passado pela Sabri – Sabedoria Agrícola, de Jaboticabal, São Paulo.

36 AvAg Dez/2018 a Fev/2019

A empresa é uma startup incubada no campus da Universidade Estadual Paulista (Unesp), formada por 28 doutores e que atua também na China, Estados Unidos, Índia e Paquistão. E, junto com a também brasileira DoPro BeSafe, trouxe para o País uma tecnologia desenvolvida pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) para a aviação agrícola. Trabalho que foi

um dos destaques na última edição do Congresso da Aviação Agrícola do Brasil, ocorrido em agosto, em Maringá, no Paraná.

Segundo o consultor e um dos fundadores da Sabri, Henrique Campos, trata-se de um aparelho e software que fazem a espectrometria em um fio de algodão e poliéster esticado perpendicularmente na faixa de aplicação durante o experimento

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CAPTAÇÃO DE DADOS Fio coletor atravessa a trajetória de aplicação para captar a distribuição do produto em toda a largura da faixa

TECNOLOGIA Equipamento e software desenvolvidos nos EUA fazem a leitura da espectrometria do fio coletor que, junto com os outros dados de campo, atestam a qualidade da aplicação

HENRIQUE CAMPOS Tecnologia foi destaque no Congreso da Aviação Agrícola, em agosto Graziele Dietrich/Sindag

de campo. O equipamento, um dos sete existentes no mundo, faz a leitura da concentração de gotas em toda a largura da faixa.

Isso mais os dados de leitura dos papéis hidrossensíveis (tamanho e concentração de gotas) posicionados na faixa, as informações de vento, umidade, temperatura, altura e velocidade do voo (também tomadas no local), somados aos tipos de bicos, vazão, posicionamento e angulação, permite uma avaliação precisa da uniformidade e espectro de gotas dentro da faixa e o potencial de deriva.

CONFIABILIDADE No caso dos indicadores para se evitar a deriva, a avaliação tem o reforço ainda da torre de deriva.

O equipamento, (...) faz a leitura da concentração de gotas em toda a largura da faixa Trata-se de uma estrutura metálica de 12 metros de altura e com um fio de nylon onde é avaliada a presença do marcador à base de manganês misturado à agua pulverizada nos testes. A torre é colocada na lateral das aplicações e a uma certa distância da faixa, para verificar se algo é levado pelo vento de través.

As amostras de cinco posições ao longo do fio são enviadas para análise em laboratório.

Grosso modo e considerando, hipoteticamente, uma aplicação com faixa de 20 metros de largura, o ensaio permite avaliar se o produto está caindo em quantidade adequada em toda a faixa ou está atingindo, por exemplo, apenas 18 metros. Ou se, pelos parâmetros avaliados, a faixa de 20 poderia ser estendida a 22 metros – o que, conforme o tipo de aeronave, poderia significar até 10% a mais de área tratada por dia. Mais do que isso, a Clínica de Aeronaves Agrícolas abrange ainda a checagem dos bicos – para verificar desgastes ou eventuais problemas de vedação – e correções em posicionamento, ângulos e regulagens.

Dez/2018 a Fev/2019 AvAg 37

TECNOLOGIA

Diferencial atraente para o mercado Em cada Clínica de Aeronaves Agrícolas, após os testes de campo e os ajustes nos equipamentos, são feitos novos ensaios para validar as correções. Isso em aviões, helicópteros e até drones de pulverização. A partir daí a empresa aeroagrícola ou operador privado (produtores rurais ou cooperativas que têm suas próprias aeronaves) recebe um laudo técnico atestando a eficácia de cada avião e seu equipamento, dentro dos parâmetros específicos para o voo. O que, principalmente para os empresários da aviação agrícola, acaba sendo um 38 AvAg Dez/2018 a Fev/2019

diferencial muito grande de mercado.

Caso, por exemplo, da Clínica realizada em setembro, na empresa Tangará Aeroagrícola, de Orlândia, São Paulo (e cujo artigo técnico pode ser conferido nas páginas 40 e 42).

Conforme o sócio-gerente da Tangará, Thiago Magalhães, no caso da empresa, os aviões foram configurados para o trabalho em cana-de-açúcar, lavoura que representa 90% dos atendimentos feitos pela empresa.

“Além de nós mesmos termos a garantia de que nosso trabalho está sendo feito com responsabilidade e

eficiência, o que por si só já é uma satisfação, é muito bom podermos repassar essa confiança aos clientes, pelo laudo da pesquisa”, ressalta o empresário.

Magalhães acredita inclusive na tendência de que as próprias usinas sucroalcooleiras – principais contratantes da aviação para o trato da cana no Estado – passem a exigir a certificação dos testes de campo de seus prestadores de serviço. “Já faz algum tempo que o mercado vem exigindo aprimoramento contínuo no setor”, resume Magalhães.

Arte: Beto Soares/Estúdio Boom

Vitrine para o setor aeroagrícola A aposta na segurança e no diferencial foi o que motivou também os empresários Tiago Textor, da Aerotek Aviação Agrícola, de Quirinópolis, Goiás, e Arnaud Rubens Rodrigues de Araújo (Binho Araújo), da Agrossol Aero Agrícola, de Casa Branca, São Paulo, a apostarem na Clínica de Aeronaves. Porém, ampliando a vitrine.

No caso de Textor, ele aproveitou os testes com a Sabri, ocorridos em junho, para levar os clientes a campo. A

ideia foi justamente mostrar aos produtores o nível de sofisticação do estudo, reforçando a confiabilidade da ferramenta aérea e consolidando as parcerias.

“Os resultados foram bastante satisfatórios”, comenta.

Já na Agrossol, a movimentação foi em setembro e foi assistida também por estudantes da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Unesp em Jaboticabal. Conforme Araújo, além de uma explanação dos técnicos da Sabri, os

universitários tiveram uma apresentação sobre a importância, história e regulamentação do setor aeroagrícola.

“Uma maneira de apresentar a aviação como um possível campo de trabalho para os futuros profissionais e, mais do que isso, divulgar junto à sociedade a segurança do setor”, ressalta.

A atividade marcou também o encerramento do o 1º Simpósio de Tecnologia de Aplicação, promovido pela Unesp com apoio da Agrossol e do Sindag.

Dez/2018 a Fev/2019 AvAg 39

PESQUISA Do ponto de vista dos prestadores de serviços, a vantagem ao determinar a exata faixa de aplicação e a uniformidade de distribuição é aumentar o controle, o rendimento (ha/h) e a segurança ao se conhecer o potencial de deriva da aplicação. (...) Do ponto de vista do agricultor tem-se a garantia que sua lavoura será 100% aplicada, evitando falhas (...) e também evitando fitotoxidez

CLÍNICA DE AERONAVES SABRI & DOPRO JUNTO AOS PROFISSIONAIS DA TANGARÁ AEROAGRÍCOLA Autores Eng° Agr° PhD. Henrique Borges Neves Campos Diretor das empresas Sabri Sabedoria Agrícola e DoPro BeSafe, pesquisador e consultor na área de Tecnologia de Aplicação de Produtos Fitossanitários

A

empresa SABRI Sabedoria Agrícola, que atua no Brasil, China, Índia, Paquistão, EUA e Sérvia, juntamente com a brasileira DoPro BeSafe trouxeram em 2017 para o Brasil um equipamento que permite a determinação da faixa de aplicação aérea efetiva de produtos fitossanitários, assim como a verificação da uniformidade da distribuição de calda aplicada por aviões, helicópteros e drones. É preciso mencionar que nas avaliações do padrão de deposição de calda é adotado o vento alinhado ou vento de proa para as aplicações. Esta é a metodologia adotada nas Clinicas de Aeronaves aqui no Brasil pela SABRI e também pelas Clínicas de Aeronaves nos Estados Unidos, pela NAAA entre outras. O motivo de ser usado vento alinhado ou de proa é simples, apenas assim poderíamos verificar ir-

40 AvAg Dez/2018 a Fev/2019

regularidades na distribuição de calda. Quando há vento lateral ou vento de través as irregularidades na distribuição da calda são “mascaradas”.

A empresa SABRI também possui em seu portfólio de equipamentos uma torre de deriva (Drift Tower) que permite determinar o potencial de deriva da calda aplicada composta por produtos fitossanitários e adjuvantes. A partir desta ferramenta são coletadas amostras e gerado um “laudo” junto a laboratórios da Unesp de Jaboticabal-SP que pode assegurar que a aplicação realizada pela aeronave tem garantias de uma zona de deposição conhecida, ou seja, mitigando os riscos de deriva para áreas vizinhas com culturas sensíveis aos produtos que estão sendo aplicados, assim como apiários, aglomerados animais, centros urbanos e re-

cursos hídricos.

Do ponto de vista dos prestadores de serviços, a vantagem ao determinar a exata faixa de aplicação e a uniformidade de distribuição é aumentar o controle, o rendimento (ha/h) e a segurança ao se conhecer o potencial de deriva da aplicação.

Já do ponto de vista dos fabricantes de adjuvantes antideriva, tem-se uma ótima ferramenta para avaliar se os adjuvantes estão ou não sendo bem posicionados quanto a dose e a mistura de calda na redução de deriva.

Por fim, do ponto de vista do agricultor, que contrata o serviço, tem-se a garantia que sua lavoura será 100% aplicada, evitando falhas no controle (aquelas faixas que ficam sem aplicação e ninguém sabe explicar o porquê) e também evitando fitotoxidez na lavoura devido ao

remonte ou excesso de produtos depositados nas plantas.

Nos dias 10 e 11 de outubro de 2018 foi realizada a Clínica de Aeronaves SABRI & DoPro junto aos profissionais da empresa TANGARÁ AEROAGRÍCOLA no município de Orlândia-SP. Durante a Clínica foi avaliada uma aeronave Air Tractor 502 B trabalhando com bicos CP 09 no volume de calda de 30 litros por hectare e adotando a altura de voo de 4 a 5 metros, perfazendo com esta configuração uma faixa de aplicação de 28 metros.

A figura 1 (ao lado, quadro superior) apresenta o padrão encontrado.

Apesar de não haver indícios de falhas ou subdosagens ao logo da faixa de aplicação de 28 metros (área central pontilhada da imagem), há possibilidade de ocorrer super dosagens durante a aplicação devido ao coeficiente de variação (C.V.) acima do limite máximo aceitável de 20%.

Neste caso, foi verificado C.V. de 25% no sistema de orientação “carrossel” (com passagens no mesmo sentido) e de 21% pelo sistema “bk-bk” (vai e vem).

Logo, foram sugeridos ajustes no posicionamento dos bicos na aeronave para melhorar a uniformidade da aplicação. Para tanto, foi criada a hipótese de que a presença de bicos na barriga da aeronave influenciou na distribuição desuniforme da calda. Portanto, foram fechados os bicos existentes na barriga da aeronave e repetidas as avaliações. A figura 2 (ao lado, quadro inferior) apresenta o padrão encontrado.

Como apresentado na figura 2, o resultado foi maior uniformidade na deposição de calda, pois foi verificado C.V. de 17% no sistema de orientação “carrossel” e 15% pelo sistema “bk-bk”.

FIG. 1: Padrão de aplicação cliente: faixa de 28 m com bicos CP 09, em altura de voo de 4 a 5 m e perfazendo C.V. de 25% no sistema de orientação “carrossel” e 21% no sistema “bk-bk”.

FIG. 2: Sugestão SABRI: faixa de 28 m com bicos CP 09 (não incluindo bicos na barriga da aeronave), em altura de voo de 4 a 5 m e perfazendo C.V. de 17% no sistema de orientação “carrossel” e 15% no sistema “bk-bk”.

Portanto, neste caso específico da aeronave Air Tractor 502 B operando nestas configurações adotadas pelo cliente, ficou comprovada a hipótese de que a ausência de bicos na barriga da aeronave contribuiu para a uniformização da distribuição

de calda.

Em complemento, também é feita a caracterização do tamanho das gotas produzidas pela aeronave. A adequação do tamanho das gotas produzidas por uma aeronave, também chamado de DMV (Diâme-

Dez/2018 a Fev/2019 AvAg 41

PESQUISA tro Mediano Volumétrico) é o principal fator responsável pela redução de deriva e eficácia do tratamento fitossanitário. Afora o DMV, também há outros fatores não menos importantes que são fundamentais para o sucesso do tratamento fitossanitário.

Isto posto, foram usados papéis hidrossensíveis posicionados em 6 coletores. As posições foram: 01 papel a 3 m à direita e 01 papel a 3 m à esquerda em relação ao ponto zero; 01 papel a 6 m à direita e 01 papel a 6 m à esquerda em relação ao ponto zero e 01 papel a 9 m à direita e 01 papel a 9 m à esquerda em relação ao ponto zero. A figura 3 (ao lado, quadro superior) ilustra como foi feito o posicionamento dos papeis hidrossensíveis nos coletores.

Com auxílio do software Dropscope, foi caracterizado o espectro de gotas produzidos pelos bicos de pulverização CP09 com calda composta de apenas água mais marcador a base de rodamina e sob condições meteorológicas e pressão de trabalho específicas.

Na tabela ao lado, são apresentados os resultados separadamente para cada posicionamento dos papéis hidrossensíveis. São apresentadas as informações de Diâmetro Mediano Volumétrico (DMV), Percentagem de cobertura (% Cobertura) e Potencial Risco de Deriva (P.R.D.), tais informações consideradas mais relevantes do ponto de vista do consultor responsável pela Clínica de Aeronaves.

Com relação ao espectro de gotas encontrado para os bicos CP09, para a maioria das amostras, foi verificado diâmetro mediano volumétrico (DMV) acima de 150 micra, considerado o DMV ideal e seguro

42 AvAg Dez/2018 a Fev/2019

Fig 3. Imagens ilustrativas dos coletores usados nas Clínicas de Aeronaves Sabri & DoPro no Brasil.

Tabela 1. Diâmetro Mediano Volumétrico (D.M.V), Percentagem de Cobertura (% Cobertura) e Potencial Risco de Deriva (P.R.D.) para o volume de calda de 30 L/ha, faixas de aplicação de 28 m, altura de voo de 4 a 5 m, com bicos CP 09.

do ponto de vista ambiental para aplicações de herbicidas, maturadores e dessecantes. A percentagem de cobertura indica que haverá boa cobertura dos produtos fitossanitários no alvo requerido. No entanto, recomenda-se realizar com frequência avaliações quantitativas e qualitativas da aplicação por meio de papéis sensíveis a água posicionados no alvo que se deseja controlar.

Não obstante uma ressalva, esta recomendação é válida desde que respeitadas as condições meteorológicas para aplicação (temperatura menor que 30 graus Celcius, umidade relativa do ar maior que 50% e ventos presentes, porém inferiores a 15 km/h.

Toda esta metodologia adotada pela Sabri & DoPro aliada à tecnologia embarcada no software importado para a realização da Clínica de Aeronaves Agrícolas

permite que relatórios sejam feitos de forma rápida e prática.

Aos interessados, existem vídeos educativos sobre o uso desta tecnologia no Canal do YouTube da empresa Sabri Sabedoria Agrícola, que pode ser acessado pelo site www.sabri.com.br.

Contudo, eliminar completamente as falhas nas aplicações aéreas é praticamente impossível. Entretanto, é possível minimizar os efeitos não desejados com inovações tecnológicas como estas apresentadas aqui, seja para a prestação de serviços, treinamentos e/ou multiplicação de informações técnicas.

A sustentabilidade econômica, ambiental e social no uso de produtos fitossanitários depende do entendimento dos indivíduos envolvidos no processo de pulverização, pois não há aplicação 100% se o profissional responsável não é capacitado.

A DP Aviação deseja sucesso ao novo IBRAVAG - Instituto Brasileiro da Aviação Agrícola.

Telefone: (51) 3723.0345 diegopreuss@dpaviacao.com.br www.dpaviacao.com.br

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