Revista Aviação Agrícola - Edição 1 - agosto/outubro 2018

Castor Becker Júnior/Sindag

Ano 01 # 01 Agosto 2018

REFORÇO AO SETOR

O Ibravag decola Instituto surge com a missão de congregar todos os atores do setor aeroagrícola e reforçar o desenvolvimento da agricultura brasileira

Entrevista

Mercado

Pesquisa

Alysson Paolinelli, o homem que fez o Brasil ser gigante no agro

BNDES abre crédito inédito para compra de aviões

Agricultura sofreria desastre sem aeronaves atuando na lavoura

A DP Aviação deseja sucesso ao novo IBRAVAG - Instituto Brasileiro da Aviação Agrícola.

Telefone: (51) 3723.0345 diegopreuss@dpaviacao.com.br www.dpaviacao.com.br

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SUMÁRIO

REVISTA AVAG # 01

Aviação Agrícola é uma publicação trimestral do Instituto Brasileiro da Aviação Agrícola – IBRAVAG

ENTIDADE

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AVIAÇÃO AGRÍCOLA CONTA COM NOVO REFORÇO Ibravag nasce para promover o desenvolvimento e articular soluções com o poder público

Coordenação, textos e edição: Castor Becker Júnior jornalista - reg. 8862-DRT/RS Textos: Jane Catarina de Oliveira jornalista - reg. 5857-DRT/RS Projeto gráfico e diagramação: Beto Soares (Estúdio Boom) Conselho Editorial Eduardo Cordeiro de Araújo Gabriel Colle José Cordeiro de Araújo Júlio Augusto Kämpf

ENTREVISTA

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Ex-ministro da Agricultura e presidente da Abramilho, Alysson Paolinelli solta o verbo

ORGULHO

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Pais e filhos mostram que mesmo na aviação agrícola a fruta nunca cai longe do pé

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO Presidente: Júlio Augusto Kämpf Vice-presidente: Thiago Magalhães Conselheiros: Alexandre de Lima Schramm Bruno Ricardo de Vasconcelos Marcos Antônio Camargo Mário Augusto Capacchi Nelson Coutinho Peña

MERCADO

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BNDES lança linha inédita para aviões, enquanto mercado aposta em crescimento

PESQUISA

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Estudo revela dimensão da importância da aviação agrícola para o agro brasileiro

Conselho Fiscal: Jorge Humberto Morato de Toledo Marcelo Amaral Endereço: Rua Felicíssimo de Azevedo, nº 53, sala 703 Bairro São João Porto Alegre/RS, CEP 90540-110

(51) 3237-7961

SISVAG

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Serviço de documentação fornece checklists completo sobre licenças em cada Estado

PRECISÃO

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Pesquisa de campo comprova segurança das aplicações aéreas mesmo em situações adversas

ibravag@ibravag.org.br

www.ibravag.org.br Agosto/2018 AvAg

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EDITORIAL

Um instrumento de convergência N

Graziele Dietrich/Sindag

ão é por acaso que a revista Aviação Agrícola nasce praticamente junto com o Ibravag. Se por um lado a entidade surge devido à necessidade de maior alcance na representatividade do setor, por outro a publicação trimestral chega para agregar e divulgar o cenário que envolve empresários, pilotos, produtores rurais, pesquisadores, fornecedores de tecnologias. Enfim, uma ferramenta a mais para o quadro de profissionais e entidades que necessitam manter um bom canal de comunicação entre si e com a sociedade.

Além de mostrar o profissionalismo e a transparência aprimorados pelo setor aeroagrícola, o objetivo é preservar a memória de uma aviação que surgiu no Brasil há 71 anos e já se alçou ao posto de segunda maior força aérea agrícola do mundo. Não só entre as maiores, mas entre as melhores, com capacidade técnica e tecnologias reconhecidas pela contribuição inestimável à produtividade que garante a segurança alimentar do País e a preservação de suas reservas naturais. Sem falar no protagonismo cada vez maior na missão de alimentar o mundo.

A aviação agrícola cresceu e nossos horizontes se ampliaram, a partir de novas estratégias de gestão e articulações mais abrangentes com parceiros e autoridades. Ao mesmo tempo em que surgem novas tecnologias e conceitos, também precisamos esclarecer mais, informar melhor e processar informações de maneira mais eficiente. Assim, nossa revista a partir de agora vai se debruçar sobre temas de mercado, personagens, pesquisas, novidades tecnológicas, serviços e tudo o que auxiliar a convergir à percepção de quem somos, ao que buscamos e ao que ocorre a nosso redor.

Então, boa leitura.

Júlio Augusto Kämpf Presidente do Conselho de Administração do Ibravag

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Castor Becker Júnior/Sindag

IBRAVAG

Maior representatividade e abrangência para o

debate aeroagrícola Instituto CRIAdo por iniciativa do sindicado de empresas do setor reunirá desde produtores rurais até fornecedores de equipamentos e tecnologias e diversas categorias profissionais

C

ongregar toda a cadeia ligada ao setor aeroagrícola, desde os fornecedores da indústria aeronáutica, pilotos, agrônomos, técnicos e empresas aeroagrícolas, até produtores rurais e outras entidades representativas do agronegócio. Esse é o objetivo principal do Instituto Brasileiro da Aviação Agrícola (Ibravag), nascido em maio.

Gestada dentro do Sindicado Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag), a nova entidade surge com a missão de colocar sob um mesmo guarda-chuva não só representações de várias frentes que atuam em prol do setor aeroagrícola, como também entidades e setores indiretamente ligados, mas que compartilham os mesmos interesses no agronegócio.

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IBRAVAG

APRESENTAÇÃO Detalhes do Instituto foram apresentados aos setor aeroagrícola durante a assembleia anual do Sindag, ocorrida em maio, em Porto Alegre

Realidades de mercado e da sociedade exigem articulação aprimorada “O que estamos vendo agora é a elevação da articulação do setor a um novo patamar, onde diversos atores que têm trabalhado paralelamente se unem em uma única força para o bem do campo brasileiro. Um esforço também para mostrar à sociedade a importância de um setor de diversas maneiras tão presente no seu dia a dia e ainda pouco compreendido, o que é motivo inclusive de estereótipos e preconceitos”, explica o presidente do Conselho de Administração do Ibravag, Júlio Kämpf.

Na prática, o surgimento do Instituto é uma resposta institucional a uma realidade que já vinha se desenhando há anos no setor aeroagrícola. No caso dos empresários da aviação agrícola, o Sindag já contabilizava diversas conquistas em seus 26 anos de história – a que se somaram os frutos de entidades que o antecederam desde a antiga Associação Nacional de Aplicadores Aéreos (Anapla, que funcionou nos anos 70). Entram nessa conta a parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para o estudo de tecnologias para 6

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aplicações aéreas – firmada em 2008 e que saiu do papel em 2013, e o apoio ao programa Certificação Aeroagrícola Sustentável (CAS), que é independente e coordenado por três universidades públicas.

“Também aprimoramos nossa articulação com entidades reguladoras (Ministério da Agricultura, Anac e outras), melhoramos nossa presença no Congresso Nacional, acompanhando projetos de interesse do setor”, relata Kämpf. Sobretudo nos últimos cinco anos, o Sindag intensificou sua atuação nos Estados, com o engajamento maior dos próprios empresários em questões locais e os orientando a como conversarem com suas comunidades. Isso sem falar na busca por espaço em fóruns de discussões onde a aviação agrícola e o próprio agronegócio eram vistos não só com desdém, mas muitas vezes com uma crítica exacerbada e errônea.

“Respostas parecidas foram surgindo dentro do Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA, que congrega os pilotos) e, desde o CAS, tivemos uma ótima aproximação com a indústria

O que estamos vendo agora é a elevação da articulação do setor a um novo patamar Júlio Kämpf Presidente do Conselho de Administração do Ibravag

Graziele Dietrich/Sindag

SOBRE A ENTIDADE O Ibravag foi criado no dia 24 de maio de 2018, em uma reunião de diretoria do Sindag, com o objetivo de atender e congregar o setor em diversas esferas – podendo associar pessoas físicas ou jurídicas.

Público: - Empresas aeroagrícolas - Fornecedores de equipamentos e tecnologias para o setor - Operadores privados (TPP – agricultores ou cooperativas que têm suas próprias aeronaves ou drones agrícolas) - Associados e entidades de classe - Pilotos - Agrônomos, técnicos agrícolas e outros especialistas do setor - Indústria aeronáutica - Outros interessados no fomento e na defesa do setor

química. Já tínhamos também uma boa relação com universidades e passamos a conversar mais com entidades representativas de setores estratégicos como a soja, cana-deaçúcar, arroz, milho e algodão”, relata o presidente. E ainda faltava alcançar, por exemplo, os produtores com aeronaves particulares. Ou seja, um campo acima até da capacidade legal de representatividade para os sindicatos dos empresários ou dos pilotos.

“A aviação agrícola se tornou um ponto de referência para uma cadeia maior do que o Sindag ou o SNA. Daí a resposta do Ibravag.

Objetivos: l Congregar desde os fornecedores da aviação agrícola até os produtores rurais atendidos pelos seus serviços, abrangendo toda a cadeia em torno do setor, sejam pessoas físicas ou jurídicas l Cooperar com os órgãos públicos na execução da política socioeconômica e no estudo de soluções que se relacionem com aviação agrícola, agricultura, pecuária, meio ambiente e saúde pública l Prestar assistência técnica e, como órgão consultivo, em áreas de interesse dos associados, promover encontros, congressos, seminários, reuniões técnicas e debates l Promover estudos de interesse da aviação agrícola e da agropecuária, com intercâmbio e convênios com entidades públicas ou particulares, nacionais ou estrangeiras l Organizar e disponibilizar informações estatísticas e científicas, inclusive com a publicação de periódicos, bem como promover ações para preservar a memória da aviação agrícola brasileira l Celebrar convênios e acordos com entidades públicas e privadas, além de defender, amparar, orientar e coligar os interesses dos associados, podendo inclusive representá-los ou assisti-los, individual ou coletivamente, judicial ou extrajudicialmente.

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ENTREVISTA ENTREVISTA ALYSSON PAOLINELLI

Abramilho/Divulgação

Presidente da ABRAMILHO

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AvAg Agosto/2018

O homem que praticamente

inventou a agricultura tropical no Brasil Atual presidente da Abramilho e ex-ministro nos anos 70, Alysson Paolinelli é reconhecido internacionalmente como um personagem que contribuiu significativamente para a produção de alimentos no mundo

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ineiro de Mambuí, Minas Gerais, o engenheiro agrônomo Alysson Paolinelli, 82 anos, é provavelmente uma das figuras de maior envergadura da história da agricultura brasileira. Ex-secretário de Agricultura de Minas Gerais e exministro da Agricultura do governo Ernesto Geisel (1974 a 1979), foi o responsável pela implantação de uma política que deu ao Brasil o desenvolvimento de uma agricultura tropical até então inexistente no mundo. Para isso, fez sair do papel a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa, criada dois anos antes).

Enviou centenas de técnicos para se especializarem no exterior, trouxe especialistas de fora e criou o terreno para o desenvolvimento das pesquisas no País. Propiciou a tecnificação da produção e auxiliou diretamente a aviação agrícola brasileira. Paolinelli também foi deputado constituinte, entre 1987 e 1991, e presidente da Confederação de Agricultura e

O senhor é filho de engenheiro agrônomo e se formou em Agronomia. Mas como foi a sua descoberta da agricultura?

Alysson Paolinelli - O meu pai, provavelmente, tenha influenciado um pouco, porque, desde pequeno, acompanhei muito o trabalho dele e achava que era uma atividade que tinha futuro. Ele foi um parceiro meu. E me aconselhou Lavras (Escola Superior de Agricultura de Lavras/ESAL). Era uma escola americana implantada no Brasil pelo Instituto Gammon. E ali eu cursei o Científico (na Escola Agrícola de Lavras, também do Instituto) e depois fiz vestibular, passei e fui para faculdade.

A escola na época tinha um modelo integrado – sala de aula e campo?

Paolinelli - Isso. Era uma escola particular, paga, mas compensava. Eu fui bem classificado e, então, ganhei uma bolsa de estudos. Fui ganhando

Pecuária do Brasil (CNA), de 1987 a 1990. Em 2006, recebeu o World Food Prize (Prêmio Mundial da Alimentação e da Agricultura, em tradução livre), como uma das personalidades que contribuíram para o aumento da oferta mundial de alimentos.

Atualmente preside a Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), que abrange outras sete entidades similares nos Estados. Além disso, é presidente do Instituto Fórum do Futuro, um grupo de reflexão independente, que debate questões estruturantes do País, a partir da perspectiva do desenvolvimento sustentável. Participam da entidade ex-ministros de diversas pastas e governos, além de especialistas e intelectuais.

Paolinelli conversou com a revista Aviação Agrícola sobre sua trajetória e experiências e também falou sobre suas perspectivas para a agricultura brasileira. Confira a entrevista:

Dois dias antes de eu me formar, o diretor (...) deu o xeque-mate: – Nós estudamos o seu currículo, o senhor tem competência e capacidade para assumir essa cadeira.

Se o senhor não puder vir, vamos fechar o vestibular neste ano.

experiência. Dois dias antes de eu me formar, o diretor, um americano de Iowa, me chamou para dizer que a missão evangélica que mantinha a escola estava saindo do Brasil. Então ficariam só os cursos primário e secundário. Enquanto isso, não estava conseguindo repor professores. E deu o xeque-mate: – Nós estudamos o seu currículo, o senhor tem competência e capacidade para assumir essa cadeira. Se o senhor não puder vir, vamos fechar o vestibular neste ano.

Assim eu iniciei minha atividade como professor, em 1960.

Que idade o senhor tinha?

Paolinelli - Ah! Eu tinha 23 para 24 anos. Casei seis meses depois. Eu lecionava e trabalhava e estudava feito um danado porque eu não queria deixar cair o nível. Até que surgiu a possibilidade de federalizarmos a escola – o que não era muito bem visto na época, já que normalmente era uma forma de vender patrimônio caro para a união. Lá não teve disso.

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chamou para conversar. Quando cheguei, eu me assustei pelos detalhes que ele tinha na cabeça.

ENTREVISTA ENTREVISTA ALYSSON PAOLINELLI Presidente da ABRAMILHO A Igreja Presbiteriana Brasileira abriu mão do patrimônio.

A solução foi abraçada por todos, então?

Paolinelli – E foi uma luta tremenda. A escola foi federalizada em 1963. A partir disso, fizemos um plano para transformá-la em uma universidade. Hoje, ela (a Universidade Federal de Lavras) está lá, uma das melhores do Brasil. Fui diretor de 1967 até 1971, quando o doutor Rondon Pacheco, com quem eu tinha feito amizade em Brasília, foi eleito governador de Minas Gerais.

Ele me chamou para ajudá-lo no setor agrícola. Aceitei porque a dívida que tínhamos com ele era muito grande, já que tinha sido chefe da Casa Civil do governo Costa e Silva, no período que nós gastamos para regularizar tudo aquilo. A saída da escola, confesso, foi meio a contragosto, mas eu fiz um trato com o Rondon Pacheco: ele ia me dar apoio para eu fazer uma secretaria que não existia.

Provalvemente, ele já havia visto o trabalho na universidade.

Paolinelli - Sim, ele foi lá, visitou, gostou muito. Nós fizemos um planejamento para Minas e, graças a Deus, conseguimos em pouco tempo dar uma reviravolta na agricultura mineira. Foi uma verdadeira revolução, mesmo. Tínhamos começado o aproveitamento do Cerrado e iniciamos o avanço sobre uma nova agricultura tropical em Minas.

Como o senhor percebeu essa possibibilidade do Cerrado?

Paolinelli - Nós discutimos muito.

O Brasil não tinha mais terra roxa.

Na época, a agricultura brasileira era só em terra roxa, praticamente, mas não dava para abastecer a população urbana brasileira. Em 1960, o Brasil importava um terço dos alimentos que consumia. Isso continuou até quase 1980.

Era muita gente contra o Cerrado, que dizia que não daria certo...

Paolinelli - Tinha muita gente contra, sim, mas também teve 10 AvAg Agosto/2018

A Embrapa havia sido criada por lei pelo (Emílio Garrastazu) Medici, mais o (Luiz Fernando) Cirne Lima. O Cirne Lima teve aquela briga e acabou saindo (...). Foi uma pena. Eu era o fã número um do Cirne Lima.

gente a favor que ajudou muito e teve produtores que acreditaram.

Fomos buscar gente até no Rio Grande do Sul. Quando a coisa já estava num avanço muito grande, o presidente (Ernesto) Geisel foi eleito (em janeiro de 1974, por um Colégio Eleitoral). Ele provavelmente foi avisado do trabalho que eu estava fazendo. Estudou tudo aquilo e me

As conversas estavam na mesma língua, tecnicamente falando?

Paolinelli - Foi uma linguagem muito comum, muito próxima. Mas ele disse apenas que queria que eu fizesse um programa para o leite, para o Brasil inteiro. Perguntei o prazo. – Você que marca. Pedi 15 dias, mas antes disso ele me chamou outra vez. Peguei o avião e fui. Disse que o trabalho estava pronto mas faltava dar uma apurada. Ele deu uma olhada por cima, e falou: – É isso mesmo que eu quero. E quero que você venha nos ajudar a fazer isso. Eu não poderia negar o convite (para o Ministério), mas precisava me entender com ele de como a coisa funcionaria. Ele me perguntou como era em Minas. Eu falei: – Olha, o doutor Rondon me permitiu escolher toda a equipe, não me pediu para eu colocar um motorista sequer. Eu tenho absoluta confiança nela e, por outro lado, ele me dá apoio político, porque eu tenho feito umas coisas lá que são complicadas. O Geisel falou: – O senhor vai escolher toda a equipe sua. Eu quase caí duro.

A transição já estava adiantada?

Paolinelli - Sim. Assim, nós tivemos a oportunidade de nos conhecer muito e as coisas estavam dando certo. Na criação da Embrapa, ele foi o grande articulador. A Embrapa havia sido criada por lei pelo (Emílio Garrastazu) Medici, mais o (Luiz Fernando) Cirne Lima.

O Cirne Lima teve aquela briga e acabou saindo (pediu demissão em maio de 73, depois de divergências com o ministro da Fazenda, Delfim Neto). Foi uma pena. Eu era o fã número um do Cirne Lima. Eu queria que ele fosse o presidente da república civil, mas não deu certo. E o Geisel foi positivíssimo na criação da Embrapa. Ele entendia que nós precisávamos desenvolver a ciência, porque agricultura tropical não existia no mundo.

Foi uma virada de página na agricultura?

Paolinelli - Foi uma virada de página. Eu deixava sempre bem claro que ou nós teríamos competência para criar uma nova tecnologia para fazer uma agricultura competitiva, ou

eu iria sair. O País estava quebrado.

A indústria era obsoleta, um projeto inicial brasileiro que não nasceu de inteligência brasileira, nasceu de compra de projetos velhos e com tecnologia já ultrapassada. O setor agrícola até então era muito frágil.

E o Cerrado todo já havia mostrado sua capacidade.

Paolinelli - Você tinha Minas Gerais na frente, tinha um pouco de São Paulo na frente. São Paulo tinha o IRI (International Research Institute), que foi custeado pelo (Instituto) Rockfeller e desenvolveu trabalhos muito interessantes com relação às chamadas terras ácidas.

Nós aproveitamos muito aquilo. Só depois da Embrapa que realmente a coisa funcionou. Houve dificuldades porque não tínhamos o número de doutores necessários. Eu tive que tomar uma decisão corajosa: contratar US$ 200 milhões para treinar mais de 1,5 mil profissionais – 950 da Embrapa, 460 das (entidades) estaduais e mais cem das universidades. Deu certo.

O senhor mandou gente estudar fora?

Paolinelli - Para onde fosse necessário. Onde tinha a ciência no mais alto grau, eles iam conhecer.

Chamei as universidades, chamei a iniciativa privada, chamei as estaduais, reforcei as estaduais, elas passaram a ser fortes também.

Tinha nove, eu criei mais oito junto com os Estados e passaram a ser 17. Mandei treinar, fiz um esforço, pagava a metade do curso. Criamos a Embrater (Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural). Os Estados compreenderam e emparelharam conosco. Eram 23 Estados, nós criamos 23 Emater.

Em 1975, nós criamos o Polocentro (Programa Para o Desenvolvimento do Cerrado), juntamos institutos, criamos o Centro de Pesquisa do Cerrado. O Japão forneceu equipamento, mandou um grande número de pesquisadores para cá, que nós escolhemos. Isso ajudou demais.

Como foi o critério de escolha desses pesquisadores?

Paolinelli - Pela experiência. Gente que conhecia o que nós precisávamos mais. Microbiologia, biologia de solo, genética. Escolhemos a dedo.

MINISTRO: Em 1975, Paolinelli (ao centro) na inauguração da Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar), com o então governador Jaime Canet Júnior (esq) e o presidente da entidade, Guntolf van Kaick

Nessa época a aviação agrícola também se desenvolveu bastante em São Paulo, que tinha o Centro Nacional de Engenharia Agrícola (Cenea), na Fazenda Ipanema.

Paolinelli - Quando eu entrei no governo, o meu antecessor, José Francisco Moura Cavalcanti, que depois foi governador de Pernambuco, informou que a Embraer estava com dificuldades. Quando me passou isso, me disse: – Dá uma olhada. Nós precisamos da Embraer.

A aviação agrícola no Brasil vai ser um fato. Eu falei: – Não tem dúvida.

Eu comprei de uma vez só, se lembro bem, 180 aviões da Embraer. Na época, foi o que deu um fôlego à empresa. E tentamos colocar esses aviões da maneira mais racional possível na mão da iniciativa privada.

Não ia fazer a aviação agrícola do governo.

Senão ia criar uma força paralela...

Paolinelli - Isso acabou ajudando a Embraer e avançou muito. Mesmo no combate biológico, o avião é muito importante para impedir a ação de fungos. A gente desenvolveu muito. Eu criei um Departamento de Aviação, mas deixei só um ou dois aviões novos para a turma aprender a pilotar (na Fazenda Ipanema). Era escola. Os outros eu fui passando para a iniciativa privada.

Muita gente que se formou na Fazenda Ipanema continua voando.

Paolinelli - Pois é, foi um período que a gente pôde fazer. Outra coisa: eu estava com dificuldade porque, do primeiro para o segundo ano que

estava no governo, foram comprados 68 mil tratores de roda. Só agora, em 2003, o recorde foi batido.

Precisava mecanizar por completo, pois nessa época eu falei: – Vamos desenvolver essa aviação agrícola porque ela é fundamental. Por problemas de espaço e outras coisas, ela foi fundamental, Foi um período que se conseguiu articular estratégias abrangentes.

A impressão que se tem é que se perdeu um pouco isso.

Paolinelli - Nós tínhamos deixado um plano muito bem estruturado para ter autossuficiência em fertilizantes. Como você entra em uma guerra sem pólvora? Você não vai entrar em uma guerra para perder. Nós tínhamos feito um trabalho muito grande na área de defensivos. Trouxemos algumas empresas de fora para cá e estávamos desenvolvendo as empresas brasileiras também.

Na área de máquinas agrícolas, houve parcerias que trouxeram novas tecnologias de fora. Em 1975, nós subsidiamos o preço do fertilizante em um quarto do valor dele, porque no Brasil não tinha fertilizante suficiente e nós não tínhamos capacidade competitiva pelo seu custo. Em 1980, o Brasil tinha igualado a balança entre importação de alimento e exportação. Depois, o negócio começou a degringolar. Eles (governos posteriores) começaram a criar déficit público, gastar o que não devia. Começou com o Plano Funaro, o primeiro deles.

Agosto/2018 AvAg 11

ENTREVISTA ENTREVISTA ALYSSON PAOLINELLI Presidente da ABRAMILHO Acabaram com o preço mínimo, com o crédito, o preço bagunçou, o crédito de comercialização foi por água abaixo e as coisas deterioram muito. A cada plano econômico (foram sete) que tinha, a coisa foi piorando até chegar nessa bagunça que está aí hoje.

Tem a questão econômica, mas há também uma instabilidade política no meio.

Paolinelli - Então isso atrapalhou de fato. A coisa complicou. Para fazer voltar (agricultura mais forte), você tem que ter governo competente. Infelizmente, nossos governos não têm a capacidade que teve, por exemplo, o Geisel de fazer uma proposta daquelas de tocar e bancar. Hoje é o contrário, estão tirando da agricultura. Nós tínhamos um plano de desonerar a agricultura brasileira em dez anos, com cinco que estivemos lá, fomos desonerando, baixando o ICM (Imposto sobre Circulação de Mercadorias).

Se cada vez mais o setor está tendo que se virar sozinho, como se consegue melhorar então?

Paolinelli - O que está mantendo a economia brasileira é a agricultura.

O resto todo foi morro abaixo. Não sei se é um pessimismo, se isso é uma bandeira, se isso é uma questão política, mas como pode a agricultura não ser vista como uma coisa positiva apesar de defender o Brasil?

Em um evento no final de junho, em Porto Alegre/RS, o economistachefe da Farsul (Federação da Agricultura do Estado), Antônio da Luz, ressaltou que a agricultura brasileira está segurando a economia, mas não vai resistir à falta de infraestrutura e de uma política mais ousada...

Paolinelli - Não vão aguentar, não. E tem mais essa briga entre os Estados Unidos e China (cujos governos desde junho criam sobretaxas para produtos que entram em seus países). Eles começaram a subsidiar lá, mas o tesouro deles não tem limite. Eles podem subsidiar o 12 AvAg Agosto/2018

quanto eles quiserem. Nós temos que ficar atentos a isso.

O alerta vale também para o custo da produção no Brasil. Isso?

Paolinelli - O custo é muito alto. O transporte é uma loucura, o crédito está muito caro, não dá para financiar a agricultura. Olha, quando nós estávamos no governo, a economia era 25 vezes menor do que hoje, Tinhamos que ter 25 vezes o valor do crédito para a agricultura poder fazer o que ela pode fazer. Até 1965/1966, o governo investia em média 9% do orçamento em infraestrutura.

Hoje, você está vendo aí que a coisa degringolou. Sabe quanto o governo está gastando agora? Só 0,9% do PIB em infraestrutura.

A iniciativa privada está botando mais 0,9% ou 0,8%.

Parece brincadeira.

Hoje, qualquer especialista em logística, especialmente aquaviária, fala que o Tocantins e o Araguaia são para o Brasil o que foi o Mississipi na década de 1930 para os Estados Unidos.

As malhas ferroviária e hidroviária seriam uma solução?

Já que, por exemplo, os Estados Unidos têm uma malha hidroviária bem explorada, mas que não é tão grande quanto a do Brasil...

Paolinelli - Temos muito mais condições. Você sabe que ficou 13 anos parado, em uma primeira instância, um projeto proibindo fazer o RIMA (licenciamento ambiental) do Araguaia ao

Tocantins? Parece brincadeira. Hoje, qualquer especialista em logística, especialmente aquaviária, fala que o Tocantins e o Araguaia são para o Brasil o que foi o Mississipi na década de 1930 para os Estados Unidos. Depois de brigar muito, fizemos a eclusa de Tucuruí, Não se resolve o debate com os ecologistas, (para definir) se estoura aquelas pedreiras na Ilha do Bananal ou se faz outra represa. Vai ficar a vida inteira desse jeito. É comum hoje, em debates, comparar a agricultura daqui com a da Europa, quanto a proibições e modelos. Mas lá não tem o viés político?

Paolinelli - Eles proíbem plantar transgênicos lá, mas precisam do nosso transgênico e compram nosso transgênico. É tudo balela, é tudo conversa. Você não viu a história do frango agora (a Europa aumentou o rigor na exportação por causa do suposto risco da bactéria). Por quê? - Vocês não estão pagando a taxa. Quanto é a taxa, 1.100 euros?

Então, se eu pagar a taxa, não tem salmonela? Então, está bem.

Falando do milho, nós temos uma safrinha que virou safrona.

Com isso, temos a vantagem de um produto chegando fresco no mercado internacional?

Paolinelli - Ele está tendo a preferência, sim. Só que estamos perdendo mercado porque estamos produzindo pouco. A maior besteira que você faz quando está disputando mercado internacional é perder mercado. Precisa ter qualidade, preço e constância de oferta, senão, você não vai ao mercado, não.

Então o problema é fôlego para suprir a demanda.

Paolinelli - É isso mesmo. Tinham que ter estimulado. Colocaram no ano passado um crédito muito mais caro que a própria Selic. Mantiveram isso com pouco dinheiro. O agricultor teve apertos e acabou não plantando aquilo que era suficiente.

A sociedade visualiza o milho, mas não percebe sua importância na produção de proteína.

Paolinelli - Na carne. Essa proteína nobre é 70% de milho e 30% de soja (na ração para os animais).

AVIAÇÃO: Em abril deste ano, o presidente da Abramilho conversou com o dirigente do Ibravag, Júlio Kämpf, em Brasília

E perspectivas, presidente?

Paolinelli - Eu tenho muita esperança. Agora, se não houver uma gestão econômica melhor no Brasil, nós vamos sofrer muito.

O País está cansado de safadeza e de ladroagem, etc, etc. Eu acho que isso tende a reduzir agora por diante. O eleitor apanhou demais e viu que errou. Agora, ele vai tomar jeito e procurar trabalhar melhor.

Sobre as críticas ao modelo de agricultura, principalmente por políticos de esquerda, que falam que é preciso mudar...

Paolinelli - O que se tem que trabalhar de fato é capacitar o agricultor, com educação e tecnologia. Caso contrário, ele não sairá da enxada. Não vai progredir, não tem como.

Apesar disso, o Brasil se torna campeão também em preservação.

Paolinelli - Hoje o mundo reconhece, depois que a Nasa confirmou* o que a Embrapa já havia dito. Precisa a Nasa falar, com diferença quase zero. E nós identificamos o que foi diferente.

O erro foi da Nasa (+ 0,2%). Ela não conseguiu identificar bem os bananais, achando que era floresta, e também uma área de cana. Mas isso

tudo acontece. (*) O estudo da agência espacial norte-americana confirmou em janeiro o estudo apresentado em novembro de 2017 pela Embrapa, de que a agricultura ocupa cerca de 7% do território do Brasil e a vegetação nativa está preservada em 66% de seu território.

Qual importância da avião agrícola no milho?

Paolinelli - Nas grandes áreas é fundamental. O milho depende, sim.

Nós somos um pais tropical, as pragas surgem. Essa helicoverpa (Helicoverpa armigera, uma lagarta extremamente voraz), por exemplo, não existia (foi identificada no Brasil em 2013). Você viu que surgiu na África e acabou com o milho deles. Eles não tinham instrumentos para combater (como a aviação agrícola). Tudo isso tem que manter estrategicamente.

O mundo respeita o Brasil como mercado?

Paolinelli - Respeitam sim. Sabem que hoje nós somos a garantia para evitar uma fome mundial, que vai chegar mais cedo. Falavam em 2050, mas a previsão é que em 2030, se o Brasil não disparar a produção aqui, vai ter problema. Então tem todas essas complicações.

E rumos...?

Paolinelli - Cada país tem que ter seu rumo. Nós estamos certos que esse nosso (Instituto) Fórum do Futuro, vai ajudar muito. É um grupo de velhinhos (risos) que estão trabalhando com entusiasmo, sem ganharem nada, fazendo o que é certo. Estamos mostrando os erros que estamos cometendo e mostrando estratégia que não estão sendo seguidas.

Quem são os velhinhos, presidente?

Paolinelli -Ah! Um grupo de 11 velhinhos. São ex-ministros: eu, o Roberto (Rodrigues/Agricultura); perdemos um, o Eliezer Batista (Minas e Energia, falecido em junho deste ano), o Botafogo (José Botafogo Gonçalves/ Indústria e Comércio e Turismo), o Paulo Haddad (Fazenda e depois Planejamento), é uma turma muito boa. Tem ainda o (Paulo de Tarso) Flecha de Lima (ex-embaixador). Nós fizemos isso entusiasticamente. Cada um contribui com seu esforço certos de que se está fazendo alguma coisa pelo País. O Ronaldo Sardenberg, que foi Ministro da Ciência e Tecnologia, também participa muito.

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ORGULHO

Quando a aviação agrícola está no sangue O fascínio dos pequenos pela profissão de seus pais se reflete na intensidade das operações para proteger as lavouras e áreas ambientais 14 AvAg Agosto/2018

F

ilhos admirarem os pais como heróis e quererem seguir suas profissões não é novidade.

Especialmente quando se trata de pilotar aviões, onde se soma a paixão por riscar os céus e mais ainda em uma aviação tão intensa quanto a agrícola. É o caso de dois meninos de sete anos que praticamente nasceram junto a operações em lavouras e combate a incêndios e não escondem o rumo apontado por essa paixão: querem ser pilotos agrícolas, como seus pais. Guilherme Lilischkies (que também é neto e sobrinho de pilotos), de Palotina, Paraná, e Mateus Marques Amaral (que tem ainda a mãe instrutora de voo), de Catanduva, São Paulo, transformaram a área junto aos hangares em uma extensão de suas casas. E não se intimidam quando o assunto diz respeito a aviões.

GERAÇÕES: Guilherme, com o tio Cleiner (esq), o avô César e o pai Chelber, é a prova de que a fruta não cai longe do pé

Três gerações e uma paixão em comum “Meu pai sempre quis ser piloto igual ao meu vô César. Trabalharam muito com determinação e hoje têm uma empresa de aviação agrícola só deles.” A frase de Guilherme Lilischkies estampa o desenho feito na escola (reprodução ao lado) em um trabalho sobre seu exemplo de determinação. Traços que emocionaram a família e aqueceram o coração de quem viu a postagem feita pelo pai, Chelber Vicentim Lilischkies, 34, em seu perfil no Instagram. E ratificou uma certeza que acompanha o avô César Lilischkies: a fruta não cai longe do pé. Bem sabe ele, que já viu seus dois filhos seguirem seus passos.

Voar tem dessas coisas e a frase escrita pelo neto deixou César faceiro – “é bem bom”. Diferente do menino, o empresário aeroagrícola viu um avião pela primeira vez aos 16 anos, quando começou a trabalhar como auxiliar de pista na aviação agrícola, e gostou. “Quem não gosta de avião?”, pergunta. Assim, com o dinheiro que ganhava fazia os cursos necessários para alçar voo.

A trajetória de César como aviador começou em 1975. Quatro anos depois, fez o curso para piloto agrícola e só parou as aplicações na lavoura em 2010. Hoje, administra as empresas da família – a Ceal Aviação Agrícola (que inclui manutenção) e a Stol (que desenvolve e fabrica equipamentos aeroagrícolas). Já os filhos foram criados no meio, assim como o neto.

O mais novo, Cleiner Vicentin

Lilischkies, 31 anos, começou a fazer os cursos de piloto logo que fez 18 anos. Já Chelber não esperou a maioridade para ir se preparando para a carreira na aviação agrícola.

Como já era permitido na época, fez as provas teóricas antes de dar início às aulas práticas. “Eu saia da escola com vontade de voar. E o Guilherme também tem essa vontade”, conta.

Aliás, desde 1 aninho, o pequeno voa com o pai sempre que possível.

E já anunciou que também quer ser piloto. Está no DNA, só que “o Guilherme gosta, curte mais ainda”,

ressalta Chelber, entusiasmado ao falar do filho.

O aluno do 2.º ano na Escola Terra do Saber, em Palotina/ PR, sabe muito de aeronáutica.

Além de ter simulador de voo e aeromodelo em casa, depois da escola, ele leva os coleguinhas para jogar futebol, andar de bicicleta próximo à empresa da família.

E, claro que isso seguidamente termina em um passeio com o helicóptero da família. Chelber diz que as crianças gostam. “Voar é o sonho de todo mundo”.

Agosto/2018 AvAg 15

ORGULHO

Herança de pai e mãe e certificado no exterior

“Eu quero ser piloto agrícola e da Red Bull.” A sentença dada por Mateus Marques Amaral, do alto de seus 7 anos, é mais que apenas um sonho de criança. O amor pela aviação ali também é uma herança dupla, já que é filho do piloto e empresário Marcelo Amaral, 45, o China, sócio da Pachu Aviação Agrícola, e da instrutora de voo Carolina Amorim, 35 – que também é gerente de Segurança Operacional da empresa. Os dois se conheceram quando ela concluía os cursos de 16 AvAg Agosto/2018

piloto comercial e de instrutora de voo em Catanduva/SP, onde moram.

Um ano depois, nasceu o menino.

Simpático, Mateus não se intimida ao falar de aeronaves. Tendo na ponta da língua informações sobre modelos, fabricantes e outras nuances da aviação. “Ele nasceu vivendo a aviação agrícola”, orgulhase o pai, que, por sua vez, teve que ir sozinho atrás de seu sonho de garoto. Marcelo conta que o menino o acompanha em tudo, como observador. Do trabalho a congressos e cursos. Caso dos cursos PT6A Pilot Familiarization, da Covington Aircraft Turbine Division, feito nos Estados Unidos – e prestou atenção em tudo, já que estuda em uma escola bilíngue, e do Treinamento de Combate a Incêndio Florestal com avião agrícola. Resultado: ganhou certificados simbólicos de “pequeno participante” nos dois casos. Nos Estados Unidos aos quatro anos e,

PARCEIROS O filho Mateus acompanha China inclusive em cursos no exterior e quer voar como o pai

aos cinco, no Brasil.

O filho de China e de Carolina sabe que ainda tem muito a aprender até poder pilotar.

Enquanto isso, vai levando também os amiguinhos para seu mundo.

Aluno do 1.º ano, ele contou em uma aula sobre as profissões que seu pai era bombeiro – já que também usa o avião em combate a incêndios em reservas naturais. Com isso, a turma está agendando uma visita à empresa, para conhecerem o processo de combate ao fogo em área florestal, outra função da aviação agrícola. A turma, com certeza estará em boas mãos.

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BNDES

IPANEMA

Graziele Dietrich/Sindag

Modelo da Embraer é, por enquanto, único avião agrícola financiável pelo programa

Empresas de aviação agrícola ganham nova linha de financiamento 18 AvAg Agosto/2018

BNDES inova ao oferecer, pela primeira vez, crédito para atender as necessidades de AMPLIAÇÃO renovação da frota do setor, contemplando uma reivindicação do Sindag. O programa, que prevê recursos para outras necessidades do agronegócio, recebeu o aporte total de R$ 2,5 bilhões

Caio Araujo

O

s empresários aeroagrícolas ganharam um novo aliado para ampliação ou renovação de suas frotas de aeronaves. Ao menos é o que promete o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a partir do lançamento do programa BNDES Agro. A instituição financeira do governo deve receber a partir deste mês (até 14 de junho do ano que vem) as propostas encaminhadas para homologação via bancos ou instituições que operam o Finame.

No caso das aeronaves, a linha vale apenas para aparelhos de fabricação nacional, o que abrange, segundo o cadastro do BNDES, os modelos Ipanema 202 e 203 da Embraer. Segundo o gerente

comercial da aviação agrícola da empresa, Marcelo Gerulaitis, é cedo para avaliar o impacto da nova linha, mas a fabricante espera entregar 20 aviões este ano. Entre eles, em setembro, o Ipanema de número 1.4 00. A Embraer abrange 60% da frota brasileira no setor, com todas as variantes do Ipanema desde o seu lançamento, em 1971.

Enquanto isso, na visão do setor aeroagrícola, o BNDES Agro corrige uma falha nas linhas de crédito oferecidas pelo banco de fomento, que até então não previa nenhuma linha específica de financiamento para produtores rurais e empresas prestadoras de serviços à agroindústria interessados em adquirir aeronaves e equipamentos.

A inovação é um pleito antigo do

Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag) junto ao Ministério da Agricultura, prevendo a necessidade da ampliação e renovação da frota – que é a segunda maior do mundo, com mais de 2,1 mil aeronaves.

De acordo com o gerente de Normas da Área de Operações e Canais Digitais do BNDES, Caio Barbosa Alves de Araujo, foi realizada uma ampla consulta, incluindo fabricantes e ministérios da Fazenda e Agricultura, para incluir o financiamento das aeronaves e demais equipamentos aeroagrícolas no BNDES Agro. O programa foi criado em abril, final do ano agrícola, e renovado em 2 de julho, com o aporte de R$ 2,5 bilhões. Como essa linha de crédito é operada por agentes financeiros, os bancos parceiros ainda estão fazendo as adaptações necessárias em suas plataformas para prestar o novo serviço.

Em relação à demanda, Araujo mostra-se cauteloso ao traçar uma expectativa de desempenho da linha de crédito. “É um produto nascente.

O ano agrícola acabou de ser lançado, é difícil ter uma previsão.”

Lembra que está falando de recursos com taxa pós-fixada com utilização da Taxa de Longo Prazo - TLP acrescida de remuneração de 1,45% ao ano do BNDES e até 2,25% ao ano do banco credenciado. Ainda, não há equalização de taxa de juros pelo tesouro nacional. Além disso, o BNDES só financia máquinas e equipamentos que constem no Cadastro de Fornecedores Informatizado - CFI do BNDES. Agosto/2018 AvAg 19

BNDES

Sobre o BNDES Agro Objetivo Apoio à aquisição de pulverizadores aéreos agrícolas, ao aumento da capacidade de armazenagem das agroindústrias de carnes, leite, açúcar e trigo e ao desenvolvimento e à modernização do setor de armazenagem efetuados por empresas ou cooperativas cerealistas.

O que financia Itens relacionados aos objetivos do Programa, inclusive a aquisição de pulverizadores aéreos agrícolas, máquinas e equipamentos nacionais para uso na atividade de produção agropecuária e/ ou florestal, obras civis e capital de giro associado até o limite de 30% do total financiado.

Quem pode solicitar Pessoas jurídicas, empresários individuais e pessoas físicas que atuem nos segmentos agroindustriais, no setor agropecuário e/ou de produção florestal, inclusive nos serviços diretamente relacionados ou empresas e cooperativas cerealistas, dependendo da finalidade.

Como conseguir o financiamento Interessados devem procurar as instituições financeiras credenciadas que operam as linhas de financiamento do BNDES para que encaminhem as propostas. Poderão ser atendidos os pedidos de financiamento protocolados até 14 de junho de 2019.

Prazo de financiamento Até 12 anos, incluído carência de até 3 anos.

Composição da Taxa de juros Custo financeiro - Taxa de Longo Prazo (TLP) Taxa do BNDES - 1,45% ao ano Taxa do agente financeiro = negociada entre a instituição e o cliente (até 2,25% ao ano)

20 AvAg Agosto/2018

ENCONTRO Colle conversou no BNDES com Cardoso, Mariana e Costa

Linha de crédito atende demanda do Sindag A abertura do BNDES Agro para a aquisição de aviões e equipamentos aeroagrícolas é comemorada pelo Sindag.

Embora as taxas ainda não sejam as melhores que o banco de fomento pode oferecer, a expectativa é que haja uma renovação da frota, baixando a idade média das aeronaves, que hoje está em 24 anos, para 20 anos. O diretor-executivo do Sindag, Gabriel Colle, assinala que o País teve dois anos muito bons na agricultura e aposta em investimentos por parte dos empresários do setor. Somado a isso, o custo do financiamento ainda é mais atrativo que em muitas instituições privadas, mesmo sem equalização pelo Tesouro Nacional.

A linha de financiamento para os empresários aeroagrícolas adquirirem aviões e equipamentos é uma demanda importante do Sindag levada ao Ministério da Agricultura, interlocutor com o banco de fomento. Colle lembra que o Brasil é a segunda maior frota de aviação agrícola do mundo, com 2.115 aeronaves (2.108 aviões e sete helicópteros).

Dados levantados em janeiro pelo consultor e ex-diretor do Sindag Eduardo Cordeiro de Araújo,

junto ao Registro Aeronáutico Brasileiro (RAB) da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

O diretor-executivo se reuniu logo depois do anúncio do programa com o superintendente da Área de Operações Indiretas (AOI) do BNDES, Marcelo Porteiro Cardoso, em Brasília. O objetivo foi agradecer a possibilidade de aporte do banco aos operadores e esclarecer dúvidas do setor sobre o BNDES Agro. Participaram do encontro também os chefes de AOI, Carlos Alberto Viana Costa, e de Suporte, Controle Operacional e Inteligência, Mariana Brandão Soares Maia.

Colle lembra que o Ipanema, da Embraer, por enquanto o único modelo de aeronave financiável pelo BNDES Agro, faz parte da história da aviação agrícola. Mas o mercado brasileiro também é importante para as fabricantes norte-americanas de turboélices – aviões maiores, com maior capacidade de cargas e mais rápidos. No caso das estrangeiras, a venda tem sido através de linhas de crédito internacionais.

“Há espaço de crescimento para as duas categorias de aeronaves, devido à diversidade de características de culturas e propriedades no País”, conclui.

Castor Becker Júnior/Sindag

ESTRANGEIROS Turboélices da Air Tractor e Thrush contam com financiamento internacional

Importados contam com financiamento de fábrica e suporte de bancos americanos A abertura de uma linha de crédito para a aquisição de aviões agrícolas nacionais não assusta os revendedores das norte-americanas Air Tractor e Thrush Aircraft. Os representantes das fabricantes no Brasil não veem o BNDES Agro como uma ameaça aos seus negócios. Mas não escondem que ainda desejam ver seus modelos contemplados com financiamentos a custos mais atrativos em real. Por enquanto, o recomendado é recorrer aos programas de crédito das próprias fábricas ou liberados pelos bancos de fomento dos Estados Unidos. É com essa perspectiva que o diretor da DP Aviação, Diego Preuss, que trabalha para a Frost Flying Inc. – distribuidora da Air Tractor para a América Latina, projeta aumentar a frota brasileira em 50 aviões da fabricante, totalizando 350 até o final do ano. Já a direção da Thrush não revelou a estimativa de vendas para este ano, citou apenas que atualmente são 50 aeronaves da marca sobrevoando as lavouras brasileiras.

Preuss explica que a Air Tractor detém 90% do mercado brasileiro de aviões agrícolas importados. “Tenho percebido uma procura muito grande

Diego Preuss

pelos modelos da empresa norteamericana”, conta, observando que as aeronaves que vende estão se adaptando muito bem a todas as regiões do Brasil, na carona de um processo de transição dos modelos com motor a pistão para os turboélices. “Eles têm melhor desempenho”, afirma.

Para quem deseja adquirir um modelo Air Tractor, a orientação do representante é optar pelo financiamento direto com a fábrica

de até 85% do valor da aeronave, com a garantia do Eximbank (Export-Import Bank of the United States), um banco de fomento à exportação dos Estados Unidos.

As taxas de juros são menores ( já que o Eximbank absorve o risco da fabricante), que compensam as oscilações do dólar no período de pagamento do empréstimo.

A Thrush Aircraft também oferece linha de crédito própria aos clientes. Trata-se de uma linha prénegociada entre a fábrica e alguns bancos de varejo dos Estados Unidos. De acordo com o vicepresidente Financeiro de Produto da empresa, Arthur Lorga, na maioria dos casos, essa taxa de juro fica entre 65% e 70% mais barata do que as taxas praticadas no mercado brasileiro até agora.

Para ter acesso a este tipo de financiamento, o comprador brasileiro deve apresentar os três últimos anos de informações financeiras, bem como documentos cadastrais e cartas de recomendação de fornecedores e bancos do Brasil.

“Um processo bastante simples”, fala Lorga, dizendo que a Thrush acompanha o cliente em todos os passos até a finalização da compra.

Agosto/2018 AvAg 21

ECONOMIA

Estudo aponta que perdas na agricultura seriam devastadoras sem a aviação agrícola Pesquisa que está sendo divulgada desde junho revela o perigo de debates sem profundidade em discussões sobre agricultura convencional Divulgação/Sindag

ROTEIRO Apresentação feita na Faep, em Curitiba, deve ocorrer também em outros Estados

22 AvAg Agosto/2018

S

em as aeronaves agrícolas atuando no trato de lavouras no País – na semeadura, aplicação de fertilizantes e defensivos (conforme as características e necessidades de cada uma), a queda de produtividade seria devastadora na soja, cana-de-açúcar, milho, arroz e algodão. O que provocaria um rombo nas exportações dos

principais produtos da agricultura brasileira e afetaria negativamente a renda da população em diversas regiões brasileiras.

A conclusão é da pesquisa Aplicação Aérea de Defensivos Agrícolas – Impactos econômicos e sociais do banimento da atividade, elaborada pela empresa Mendonça e Nogueira Advogados, de Brasília,

Divulgação/Sindag

com a participação do doutor em economia Elvino de Carvalho Mendonça. Apenas na soja a falta da aviação agrícola provocaria perdas de mais de 500 milhões de toneladas nas exportações, até 2022. No algodão a queda de 1,7 milhões de toneladas exportadas para quase zero, no mesmo período.

O estudo foi mostrado no final de junho, em um encontro na sede da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), em Curitiba. E ainda deve ser apresentado no Rio Grande do Sul, São Paulo, Goiás e Bahia em eventos com locais e datas a serem confirmados. O trabalho foi feito a pedido da Syngenta e teve apoio do Sindag, do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg) e das associações dos produtores de soja (Aprosoja), cana-de-açúcar (Unica), algodão (Abrapa) e milho (Abramilho), além da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) do Congresso Nacional.

Conforme o pesquisador Elvino Mendonça, o levantamento

de dados ocorreu em 2017 e o trabalho terminou no início deste ano. O documento coloca na balança também o aumento do risco ambiental e o encarecimento dos alimentos, com um olhar sobre toda a cadeia envolvida com as lavouras estratégicas para o País.

“Tendo por base a regulamentação do setor, foi possível estimar os efeitos econômicos de um possível banimento da atividade sobre a economia brasileira, especialmente sobre a produtividade média das culturas agrícolas, as exportações dessas culturas, a renda do setor agrícola e a desigualdade de renda”, explica.

O objetivo foi levar informações a autoridades, políticos e à própria sociedade sobre a importância do setor aeroagrícola para a segurança alimentar e a economia – em última instância, à própria sustentabilidade ambiental da agricultura. E com isso combater um estereótipo alimentado pela falta de informação e que tem levado inclusive a surgimento de projetos de proibição da aviação agrícola em legislativos pelo País.

COLLE Diretor do Sindag lembrou projetos que querem proibir justamente a ferramenta mais segura e regulamentada

Agosto/2018 AvAg 23

ECONOMIA

Ferramenta aérea é a única com regulamentação específica no campo Para o diretor-executivo do Sindag, Gabriel Colle, o relatório é um alerta contra a falta de profundidade das discussões em diversos fóruns que debatem a questão dos defensivos e da própria aviação agrícola baseados, essencialmente, em mitos. “Temos projetos de leis em Estados, municípios e até no Congresso Nacional que, por exemplo, pregam a luta contra os produtos utilizados nas lavouras e ‘elegem’ como solução imediata proibir a aviação. Justamente o único meio de aplicação com regulamentação própria, altamente fiscalizável.”

Colle, que participou da primeira apresentação da pesquisa, no Paraná, lembra ainda que o setor aeroagrícola brasileiro é considerado um dos melhores do mundo, tanto em tecnologias quanto em segurança e no preparo técnico do pessoal envolvido. “Além de toda a legislação incidente sobre ele, ainda conta com um selo independente de sustentabilidade, coordenado por três universidades públicas.”

O trabalho se debruçou também sobre estudos da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp/ Botucatu), Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas Avançadas

EFICÁCIA Capacidade e segurança dos aviões são fundamentais, por exemplo, na cana-de-açúcar, segundo maior produto de exportação do agro no País

24 AvAg Agosto/2018

(Ipea), Agência das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e outras instituições. Os pesquisadores também mergulharam na história da aviação agrícola, analisando desde a sua criação até os aspectos legais que regulamentam a atividade no Brasil, bem como na Argentina e nos Estados Unidos.

Porém, Mendonça ressalta que um dos desafios foi justamente juntar os pontos para construir uma base teórica que fosse palatável ao público. “Há literatura consolidada na aviação agrícola, na produtividade agrícola, nas exportações agrícolas e na renda agrícola, mas existe

PROJEÇÕES DE EXPORTAÇÕES DE SOJA E ALGODÃO EM CENÁRIOS COM E SEM USO DA AVIAÇÃO AGRÍCOLA ALGODÃO

Comparação entre as previsões de exportações (ton/ha) 2018-2022 2000 1800

1746

1600 1400 1200 1000 800 600 400 200

0,0006

0 Com aviação

Sem aviação Castor Becker Júnior/Sindag

pouco material relacionando economicamente a aviação agrícola com a produtividade”, exemplifica.

A pesquisa também traçou cenários por regiões do País, a partir dos principais produtos de cada uma.

Outro esforço grande foi na abordagem sobre a legislação que rege a aviação agrícola – que, na verdade, é o único meio de aplicação no Brasil com regulamentação própria. O desafio aí foi a “interpretação e conexão entre os diversos diplomas legais existentes no ordenamento jurídico brasileiro a respeito do tema”, completa o pesquisador.

SOJA

Comparação entre as previsões de exportações (ton/ha) 2018-2022 600.000

529.159

500.000 400.000 300.000 200.000 100.000

3.526

0 Com aviação

Sem aviação

Agosto/2018 AvAg 25

Beto Soares/Estúdio Boom

SISVAG

Empresas ganham ferramenta para agilizar a consulta e o entendimento das normas O Sistema Nacional de Documentação da Aviação Agrícola chega para dar suporte técnico e jurídico às associadas do Sindag. O serviço reúne legislações e normas federais e estaduais, pareceres técnicos e jurídico, além de checklists das normas sobre o setor

26 AvAg Agosto/2018

O

setor aeroagrícola brasileiro conta a partir deste ano com uma nova ferramenta de informações para segurança jurídica e administrativa do setor. O Sistema Nacional de Documentação da Aviação Agrícola (Sisvag) começou a funcionar em maio, como uma plataforma a serviço das associadas do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag). A entidade abrange mais de 60% das 240 empresas existentes no País e aposta na interação entre o setor e os órgãos de regulação também como uma forma de transparência e aproximação com a sociedade.

A ferramenta Sisvag está

Graziele Dietrich/Sindag

Banco de dados foi lançado em maio e deve ser completado até o final do ano com as legislações federal e estaduais

Cléria Regina Mossmann Coordenadora do SISVAG

ancorada no site do sindicato (w w w.sindag.org.br) e tem a proposta de reunir as legislações federal e estaduais referentes à atividade, com pareceres técnicos e jurídicos sobre cada tema. Além de oferecer um checklist das obrigações requeridas pelos órgãos fiscalizadores em cada unidade da federação. Apesar de já contar com um número grande de informações, o sistema ainda está recebendo as informações dos órgãos públicos e setoriais. A previsão é de que toda a documentação esteja completa até o final do ano.

De acordo com a coordenadora do Sisvag, Cléria Regina Mossmann, o sistema já conta, por exemplo, com a parte que trata das exigências básicas para certificação de uma empresa agrícola por parte da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), requisitos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e legislações de alguns Estados. Ela lembra que a coleta de informações é um processo moroso justamente devido à complexidade da regulamentação do setor.

A busca abrange dados oficiais referentes a 18 Estados, cada um com seus próprios órgãos regulamentadores – Crea (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia) e secretarias ou departamentos de Meio Ambiente.

“Há ainda Estados com mais serviços fiscalizadores, como o Iagro (Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal do Mato Grosso do Sul), por exemplo”, assinala Cléria.

Agosto/2018 AvAg 27

SISVAG

DIÁLOGO Encontro em Ribeirão Preto teve apresentação dos fiscais e esclarecimento de dúvidas dos operadores aeroagrícolas

28 AvAg Agosto/2018

Cobertura será estendida até as regras municipais “A intenção é oferecer ao associado um material de consulta de primeira linha, com parecer técnico, fornecido pelo próprio agente fiscalizador, com uma linguagem de fácil entendimento, e um parecer jurídico elaborado pelo Departamento Jurídico do Sindag, quando houver alguma dúvida a ser sanada.” Após concluído todo o banco de dados das legislações federais e estaduais, o passo seguinte será partir para as normas dos municípios. “Na verdade, em termos de municipalidade, a fiscalização está basicamente restrita a prefeituras e corpo de

bombeiros.”

Enquanto o Sisvag não está completo, o que não for encontrado lá pode ser consultado gratuitamente junto à Mossmann Assessoria e Consultoria Aeroagrícola. A empresa da coordenadora Cléria Mossmann está oferecendo o serviço sem ônus para as associadas do Sindag. As orientações abrangem as regulamentações do setor em âmbito federal e estadual. Segundo Cléria, a procura por esclarecimentos está sendo grande. Ela chega a prestar entre 60 a 70 atendimentos por mês.

“Demanda que mostra a importância do serviço”, assinala.

Interação com os órgãos de fiscalização é diferencial no mercado Além da possibilidade de consulta rápida pelos empresários aeroagrícolas sobre todas as suas obrigações em cada Estado, a estratégia do Sindag na elaboração do Sisvag tem por trás também uma aproximação entre os próprios operadores aeroagrícolas e os órgãos de fiscalização. De um lado para orientar e, de outro, para valorizar a proatividade dos operadores em se manterem em dia com todas as esferas de regulamentação.

O exemplo mais recente dessa interação ocorreu nos dias 17 e 18 de julho, em Ribeirão Preto/SP, na 16ª edição do projeto Sindag na Estrada. O roteiro de encontros entre o sindicato e empresários, pilotos e técnicos do setor dessa vez teve dois dias de programação, sendo um deles com a participação de fiscais do Ministério da

Agricultura, do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea/SP) e da Coordenadoria de Defesa Agropecuária do Estado.

A conversa no primeiro dia seguiu o roteiro normal do Sindag na Estrada, abordando perspectivas e cenários do setor e ações do sindicato. “E também alinhamos algumas dúvidas, para aproveitar melhor o tempo no dia seguinte”, explicou o diretor Thiago Magalhães.

Na terça-feira, os fiscais fizeram durante a manhã a apresentação dos requisitos observados pelos órgãos no licenciamento da atividade aeroagrícola. Já a tarde foi para os empresários do setor apresentarem suas dúvidas e exporem suas dificuldades quanto a alguns itens da regulamentação.

O encontro também teve a

proposta de criação de um grupo de estudo envolvendo o setor aeroagrícola e os órgãos, para esclarecer outras dúvidas do setor.

A movimentação em São Paulo já havia tido um dia de campo da aviação agrícola em 2017, em Americana, para mostrar aos agentes, além de autoridades e lideranças locais, detalhes das rotinas do setor – e principalmente sua segurança.

Outro encontro nessa linha havia ocorrido em março, no Mato Grosso do Sul, com representantes da Superintendência local do Ministério da Agricultura, do Crea/ MS e da Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal do Estado (Iagro).

A reunião foi na sede da Associação dos Produtores de Bioenergia do Estado (Biosul), com a presença de representantes de usinas sucroalcooleiras. Cada agente apresentou o que seu órgão fiscaliza nas empresas aeroagrícolas, destacando também as obrigações dos produtores.

“O trabalho do Sindag vem sendo reconhecido em Mato Grosso do Sul pelo próprio setor de bioenergia, onde as usinas estão cada vez mais optando por contratar empresas de aviação agrícola filiadas ao sindicato e que tenham selo do programa Certificação Aeroagrícola Sustentável (CAS)”, explica o secretário-executivo da entidade aeroagrícola, Júnior Oliveira, sobre a reputação que a iniciativa vem ganhando no mercado.

IBAMA Checklist já está à disposição dos operadores da aviação agrícola

Agosto/2018 AvAg 29

DERIVAÇÃO

Pesquisa em Goiás avalia

risco real de deriva

em pulverizações aéreas e terrestres Testes comprovaram a precisão da aviação agrícola e a segurança das normas do setor, ao mesmo tempo em que demonstraram a necessidade de cuidados também nas aplicações com tratores e pulverizadores costais

30 AvAg Agosto/2018

E

ra uma manhã de céu claro, em um 7 de novembro de temperatura oscilando entre as casas dos 28 e dos 30 graus no campo de testes montado na área de produção de grãos da Cooperativa Mista dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano (Comigo), próximo a Rio Verde, Goiás. O Cessna Ag-Truck se fez anunciar ao alinhar para mais um tiro no ponto a cerca de quatro quilômetros da BR-364. O avião abriu, no alvo indicado pelo DGPS, o jato das barras de pulverização e passou a 187 quilômetros por hora e a três metros do chão, cruzando a linha de papéis hidrossensíveis preparados no terreno para o ensaio. Uma operação como é repetida dezenas de vezes em um dia de trabalho normal. Mas, ali, a aeronave participava de uma

experiência para derrubar mitos.

Logo que as gotículas da água usada na simulação tocaram o papel amarelo, elas se transformaram em manchas azuis, indicando a densidade da aplicação nos cartões alinhados a cada 10 metros, do centro para as laterais da faixa de aplicação. E muito além (200 metros) da largura da faixa, para ver se e até onde algo escorregaria para fora da linha de aplicação. O exercício foi repetido até o final da manhã, também com um pulverizador terrestre Montana Parruda – aplicando a 20 quilômetros por hora e com as barras a um metro do chão – e um pulverizador costal Jacto – com o aplicador caminhando a um quilômetro por hora e com a lança a 60 centímetros de altura.

Todos com linhas de aplicação

AÉREO testes ocorreram sob condições ideiais e também com vento, umidade e temperatura fora dos parâmetros

Parâmetros dentro das faixas de segurança no aéreo e alcance além do esperado no costal Entre os dados que chamaram a atenção tanto do público quanto do pessoal envolvido na pesquisa está a constatação de que, no caso da aviação, a deriva máxima conseguida – ao propositadamente se forçar uma operação fora das normas de segurança de temperatura, umidade e velocidade e com vento forte – foi de 180 metros.

Ou seja, ainda assim abaixo das faixas de segurança previstas na legislação, que são de 250 metros de mananciais de água, moradias isoladas e agrupamentos de animais e de 500 metros de povoações, cidades, vilas, bairros e mananciais de captação de água para abastecimento humano.

Já no caso da pulverização

com bomba costal, o estudo acabou sendo inconclusivo. Isso porque a deriva ultrapassou os 30 metros do final da linha de papeis hidrossensíveis colocada para o teste do equipamento com operador a pé. Já no caso da aplicação terrestre com autopropelido, a deriva em condições adversas chegou perto dos 100 metros.

Complementarmente à pesquisa, segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o Brasil possui uma frota de cerca de 2,1 mil aviões agrícolas. No caso dos equipamentos terrestres, de acordo com o Censo Agropecuário de 2006 do IBGE, o País tem 973.438 pulverizadores costais e 458.055 pulverizadores autopropelidos ou em tratores.

O BRASIL POSSUI:

cruzando faixas de papéis hidrossensíveis (de 100 metros para autopropelido e 30 metros para o aplicador a pé), numeradas conforme a posição e, a cada aplicação, colocadas em envelopes específicos – para serem averiguadas em seguida em um sistema informatizado para contagem e avaliação das gotas. Outro detalhe: os testes com todos os meios de aplicação foram repetidos tanto em situações climáticas consideradas ideais de segurança como em passadas sob condições adversas de vento forte, temperatura alta e baixa umidade relativa do ar. Tudo para avaliar o risco de deriva (quando o produto aplicado se desloca da faixa alvo) de cada equipamento e condição atmosférica.

458.055

pulverizadores autopropelidos ou em tratores **

2.115

aviões agrícolas*

973.438

pulverizadores costais **

(*) Segundo a Anac (**) Censo Agropecuário de 2006 do IBGE

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DERIVAÇÃO

Resultados apresentados em palestra e em boletim técnico A ação foi promovida pelo Sindicato Rural de Rio Verde, em parceria com a Universidade de Rio Verde, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IF) Goiano - Campus Rio Verde, Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA), Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag) e diversas empresas aeroagrícolas do Estado, com o apoio do Centro Tecnológico da Comigo (CTC). Os resultados foram apresentados duas semanas depois (23 de novembro) dos exercícios de campo e mostraram definitivamente que o risco de deriva, inerente a qualquer dos meios de pulverização, é praticamente eliminado quando satisfeitas as recomendações técnicas e observadas as condições

CONTROLE Condições atmosféricas foram acompanhadas em tempo real durante toda a pesquisa

32 AvAg Agosto/2018

meteorológicas indicadas.

A apresentação de novembro reuniu produtores rurais, pesquisadores, empresários aeroagrícolas e autoridades no CTC em Rio Verde. A expectativa era grande para a palestra Segurança e Boas Práticas em Aplicações, do engenheiro agrônomo e consultor do SNA Marcelo Drescher, com dados de campo. Falaram também os pesquisadores que encabeçaram o estudo: Indiamara Marasca e Guilherme Braga Pereira Braz, da Universidade de Rio Verde, e Renata Pereira Marques e Alaerson Maia Geraldine, do IF Goiano.

O Sindag foi representado pelo diretor Tiago Textor, que também havia participado ativamente do trabalho de campo.

O vídeo dos ensaios realizados em Goiás foi publicado em maio, no canal do Sindag no YouTube – Sindag Aviação Agrícola (acessível em https://youtu.be/ rE5jk2z36v4). Já o artigo técnico da pesquisa pode ser conferido a partir da página 34 (foi publicado originalmente no Boletim Técnico do IF Goiano).

PRECISÃO: Cartões hidrossensíveis foram alinhados para avaliar a eficácia das pulverizações

Agosto/2018 AvAg 33

PESQUISA O presente estudo foi realizado através da parceria entre as seguintes entidades: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Sindicato Rural de Rio Verde, Universidade de Rio Verde, Alvo Agrosciences – Tecnologia em Aplicação, Sindicato Nacional dos Aeronautas, Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola e Instituto Federal Goiano – Polo de Inovação. Apoio: Cooperativa Comigo

AVALIAÇÃO DE DERIVA NA PULVERIZAÇÃO AGRÍCOLA Autores Indiamara Marasca1, Renata Pereira Marques2, Alaerson Maia Geraldine2, Guilherme Braga Pereira Braz1 Universidade de Rio Verde; 2Polo de Inovação do IF Goiano

1

1. Introdução Apesar de fundamentais para a maioria dos sistemas de produção agrícola, os produtos fitossanitários podem oferecer riscos para o ambiente. A tecnologia de aplicação deve ser planejada de maneira responsável e sustentável, sempre visando minimizar o potencial de danos à saúde humana, animal e aos recursos naturais. A tecnologia de aplicação não se resume ao ato de aplicar o produto, mas sim na interação entre vários fatores (cultura, praga, doença, planta invasora, produto, equipamento e ambiente) buscando um controle eficiente, com custo baixo e mínima contaminação ambiental (MATTHEWS, 2008).

Os defensivos fitossanitários

34 AvAg Agosto/2018

podem ser pulverizados via terrestre, aérea e costal. Independente do equipamento utilizado para a pulverização desses produtos, devem ser observadas as recomendações de Tecnologia de Aplicação, a fim de obter eficiência no controle do alvo biológico e evitar perdas ocasionadas por deriva (CUNHA, 2008).

Parte dos produtos aplicados é perdida para o ambiente pela deriva, que é a fração dos ingredientes ativos que não atinge o alvo devido ao carregamento das gotas, evaporação e outros processos. Além do dano direto, uma das grandes preocupações atuais é com os efeitos que a deriva pode provocar pela dinâmica destes compostos no ambiente. Para melhorar este desempenho, são essenciais a utilização correta e segura dos

produtos fitossanitários e a capacitação da mão-de obra para o uso eficaz dos equipamentos de aplicação (ANDEF, 2004).

A Instrução Normativa nº 2, de 3 de janeiro de 2008, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, orientando para a redução da deriva, instrui sobre a segurança operacional de modo que não é permitida a aplicação aérea de agrotóxicos em áreas situadas a uma distância mínima de quinhentos metros de povoações, cidades, vilas, bairros, de mananciais de captação de água para abastecimento de população e duzentos e cinquenta metros de mananciais de água, moradias isoladas e agrupamentos de animais (MAPA, 2008).

Ressalta-se que a pulveriza-

ção de defensivos fitossanitários, seja via terrestre, aérea ou costal é uma alternativa viável e garantida desde que observadas as recomendações da Tecnologia de Aplicação de Defensivos Agrícolas. Segundo Cunha et al.

(2013) atualmente, o resultado da pulverização pode também ser avaliado utilizando cartões de papéis hidrossensíveis em diferentes posições, nas direções horizontais e verticais e são práticos para ensaios a campo para determinar o tamanho de gotas via programas computacionais, os quais analisam o espalhamento da área molhada sobre o alvo artificial digitalizado.

Com esse trabalho objetivouse comparar o risco potencial de deriva provocada por equipamentos de pulverização terrestre, aéreo e costal, utilizando papéis hidrossensíveis sob condições climáticas ideais e adversas à pulverização de produtos fitossanitários.

2. Materiais e Métodos O ensaio foi realizado em área de produção comercial de grãos localizada na CTC da COMIGO (17° 46. 345’S 51° 01.811’O) no município de Rio Verde- GO no dia 06 de novembro de 2017. Durante a condução do ensaio a temperatura variou de 28,6 a 30,8 ºC, a umidade relativa do ar variou de 52,3 a 61,1% e a velocidade do vento de 6,5 a 11,8 km/h. Para a obtenção desses dados climáticos, utilizou-se um termohigroanemômetro INSTRUTHERM THAL-

300. Na Tabela 1 estão descritos a hora e as condições climáticas no momento de cada aplicação dos diversos equipamentos. O vento permaneceu na direção nordeste, sendo tal posição indicada por uma biruta.

Para a pulverização aérea utilizou a aeronave Cessna, modelo Ag Truck, capacidade de 810 kg, cujo equipamento de pulverização estava munido com pontas tipo Jato Cônico Cheio Orifício D6 Core 56, volume de calda de 20 Lha , pressão 26 Psi, com velocidade de deslocamento de 187 km/h e 3 mt de altura de voo.

Para pulverização terrestre, utilizou-se um pulverizador autopropelido Montana Parruda, modelo MA2527, munido de ponta tipo Jato Plano Leque ST 0,3, o volume da calda foi de 80 Lha e a pressão de trabalho de 55 Psi, com velocidade de deslocamento de 20 km/h e altura de aplicação de 1mt.

Para a pulverização costal,

utilizou-se um pulverizador costal de acionamento manual, modelo PJ com capacidade para 20L fabricado por Máquinas Agrícolas Jacto S/A. equipado com uma lança de 0,5 mt e um bico de jato cônico vazio, e pressão de trabalho de 60 psi. A velocidade de deslocamento foi de 1 m/s. Os reservatórios de todos os equipamentos de pulverização continham apenas água, e altura costal de 0,60 mt.

Foram distribuídos cartões de papel hidrossensível que mediam 26X76mm identificados e fixados na posição 45° nas estacas que estavam dispostas de forma equidistante de 10 em 10 metros do marco inicial (ponto 0). Quando em contato com esses papéis, as gotas da calda de pulverização passam a apresentar coloração azul, destacando-se na coloração amarelada própria do papel. Para a pulverização aérea, terrestre e costal, as estacas foram distribuídas a 200, 100 e 30 mt do marco inicial, respectivamente (Figura 1).

Agosto/2018 AvAg 35

PESQUISA Foram realizadas 2 coletas para aplicação aérea, terrestre e costal, sendo 1 em condições climáticas ideais e 1 em condições climáticas adversas para cada tipo de aplicação. Para cada tipo de pulverização foram utilizadas cinco repetições. Entenda-se por condição climática favorável: Umidade alta, temperatura baixa e vento calmo e por condição climática desfavorável: Umidade baixa, temperatura alta e vento forte (Figura 2).

Após a pulverização os cartões de papel hidrossensível foram removidos e acondicionados em envelope de papel para posterior leitura em scanner de bancada contendo o Software CIR, cuja leitura indica os seguintes parâmetros: amplitude relativa (SPAN), diâmetro mediano volumétrico (DMV), DV.01, DV.05, DV.09 (µm) e densidade de gotas (DEN) (gotas cm) e porcentagem de cobertura.

3. Resultados e Discussão As pontas de pulverização não produzem um único tamanho de gotas no momento em que estão em ação, ou seja, naquele em que o processo de pulverização é realizado. Neste sentido, é importante ter um parâmetro para se determinar qual o tamanho de gotas deverá ser utilizado (fina, média ou grossa). Para esta classificação quanto ao tamanho, é considerado o diâmetro da gota que divide o volume pulverizado em duas partes iguais, sendo o mesmo denominado de diâme-

36 AvAg Agosto/2018

tro mediano volumétrico (ANDEF, 2004). Na Figura 3 estão apresentados os resultados das avaliações de diâmetro mediano volumétrico para as diferentes modalidades (aérea, terrestre e costal) de aplicação efetuadas sobre condições climáticas ideais e adversas.

O primeiro resultado que pode ser constatado é a influência negativa da aplicação sob condições climáticas adversas, uma vez que foi observado maior caminhamento em distância das gotas em relação ao local em que

foi efetuada a aplicação, sendo este comportamento constatado para as modalidades aérea e terrestre. Para a aplicação costal, verificou-se que a distância máxima (30 mt) proposta para a avaliação da deriva nesta modalidade de aplicação não foi suficiente para mensurar o caminhamento das gotas, uma vez que foi observada deposição da calda de pulverização até o intervalo máximo.

Apesar desta influência negativa, atualmente vários estudos de tecnologia de aplicação estão

Figura 3 Diâmetro mediano volumétrico DMV (μm) para aplicações aérea (A), terrestre (B) e costal (C) realizadas em condições ideais e adversas de pulverização. Rio Verde (GO), 2017

Ideal (Azul): y = -0,0001x3 + 0,0469x2 - 6,2464x + 324,23 R2 = 0,91 Adversa (Vermelho): y = -0,0001x3 + 0,0519x2 - 6,4676x + 342,98 R2 = 0,91

Ideal (Azul): y = -0,7739x + 63,651 R2 = 0,73

Ideal (Azul): y = -0,5087x + 67,528 R2 = 0,98

Adversa (Vermelho): y = -0,0168x2 + 1,3534x + 50,749 R2 = 0,81

Adversa (Vermelho): y = -0,8245x + 85,031 R2 = 0,88

sendo desenvolvidos para minimizar os efeitos do clima na eficiência do processo de pulverização (CONTIERO et al., 2016).

Neste sentido, algumas práticas de manejo já foram elucidadas, citando-se a escolha do volume de calda adequado para cada modalidade de aplicação, tipo de ponta de pulverização, adição de adjuvantes e preconização de horários de aplicação em que os fatores climáticos serão mais favoráveis para a realização desta operação.

Com relação ao tamanho de gotas, observa-se que independentemente da modalidade de aplicação, à medida que há um distanciamento do local em que a pulverização foi realizada, o diâmetro mediano volumétrico das gotas foi reduzindo (Figura 4). Vale destacar que para a pulverização realizada em condições climáticas ideias, não foram observadas a deposição de gotas nos papéis hidrossensíveis em distâncias superiores a 140 e 40 mt, para as aplicações aérea e terrestre, respectivamente.

Estes dados devem ser interpretados com cautela, tendo em vista que apesar de ter sido verificada a presença de gotas provenientes do processo de pulverização às distâncias supracitadas, o tamanho destas era muito pequeno, sendo classificadas como muito finas.

Para este tamanho de gotas (50 μm), por vezes, as mesmas não chegam a atingir o alvo, tendo em vista que há tendência de evaporarem antes da deposição (BAESSO et al., 2014). Além disso, vale destacar que a máxima distância em que foi observada deposição de gotas, mesmo quando a aplicação foi realizada

Agosto/2018 AvAg 37

PESQUISA em condições climáticas adversas, foi de 180 mt para a modalidade aérea. Este valor está abaixo 2,7 vezes do permitido pela legislação brasileira, a qual determina que aplicações aéreas não devem ser realizadas a uma distância de 500 mt de perímetros urbanos (MAPA, 2008).

Na Figura 4, estão apresentados os resultados da avaliação de número de gotas depositadas em função da aplicação aérea, terrestre e costal realizada sob condições climáticas distintas.

Esta avaliação é particularmente importante, pois avalia de fato a quantidade de gotas que está sendo depositada e qual a distância máxima que estas estão percorrendo de fato.

Independentemente da modalidade de aplicação, pode se constatar que à medida que há um distanciamento da faixa em que a pulverização foi realizada, nota-se uma diminuição na densidade de gotas, demonstrando que há um comportamento de maior concentração de calda depositada nas faixas mais próximas do local de aplicação.

Esse comportamento pode ser melhor exemplificado olhando os resultados obtidos para aplicação aérea, pois apesar de ter sido verificada a presença de gotas a uma distância máxima de 140 mts em condições ideais de pulverização, em relação à quantidade de gotas, a partir de 40 mts pode se considerar que os números foram extremamente baixos, não ultrapassando densidade de 6 gotas cm (Figura 4A).

Outro fato que merece destaque é quando se compara o efei-

38 AvAg Agosto/2018

Figura 4 Número de gotas (gotas cm-2) para aplicações aérea (A), terrestre (B) e costal (C) realizadas em condições ideais e adversas de pulverização. Rio Verde (GO), 2017

Ideal (Azul): y = -2E-05x3 + 0,0061x2 - 0,7437x + 31,323 R2 = 0,92 Adversa (Vermelho): y = -2E-05x3 + 0,006x2 - 0,7097x + 30,736 R2 = 0,80

Ideal (Azul): y = -0,0938x + 7,28 R2 = 0,62

Ideal (Azul): y = -1,05x + 37 R2 = 0,99

Adversa (Vermelho): y = -0,0068x2 + 1,0411x + 43,67 R2 = 0,74

Adversa (Vermelho): y = -1,85x + 60,917 R2 = 0,89

to que as condições climáticas tiveram sobre a aplicação aérea e terrestre. Aparentemente, a aplicação terrestre se mostrou mais sensível ao efeito do clima do que a aplicação aérea, tendo em vista que nesta (aplicação terrestre) foi observado uma maior densidade de gotas quando a pulverização foi realizada em condições climáticas adversas (Figura 4A). Este fato pode ser explicado por dois fatores, estando o primeiro -2 -2 13 relacionado ao volume de calda de aplicação superior (80 L ha ) utilizado para as aplicações terrestres, bem como o menor tamanho de gotas obtidos para esta modalidade de aplicação, conforme dados apresentados na Figura 1.

Para aplicação costal, também foi verificada sensibilidade aos efeitos do clima sobre a eficiência do processo de pulverização, uma vez que houve maior deposição de gotas em distância na situação em que a aplicação foi realizada em condição climática adversa.

Vale destacar que independentemente da modalidade de aplicação escolhida, as condições climáticas para aplicação devem ser respeitadas, não sendo recomendada a prática desta operação quando a velocidade do vento e temperatura do ar estão elevadas, e a umidade relativa abaixo de 50% (ANTUNIASSI e BAIO, 2004).

Os valores das avaliações de amplitude relativa de gotas estão apresentados na Figura 5. Os resultados de amplitude relativa indicam como está sendo a variação do tamanho de gotas em uma determinada

Figura 5 Amplitude relativa para aplicações aérea (A), terrestre (B) e costal (C) realizadas em condições ideais e adversas de pulverização. Rio Verde (GO), 2017

Ideal (Azul): y = 0,0001x2 - 0,0247x + 1,1913 R2 = 0,75

Ideal (Azul): y = 0,0005x2 - 0,0313x + 1,098 R2 = 1,00

Adversa (Vermelho): y = -0,0004x2 + 0,0212x + 0,5475 R2 = 1,00

Agosto/2018 AvAg 39

PESQUISA aplicação. Valores mais elevados desta variável indicam maior heterogeneidade do tamanho de gotas e, no sentido contrário, valores mais baixos mostram que há uma maior uniformidade do tamanho de gotas (VITÓRIA et al., 2014).

Nas três modalidades de aplicação, à medida que as avaliações eram realizadas em maiores distâncias em relação ao local em que foi efetuada a pulverização, menores valores de amplitude relativa de gotas foram observados. Esse fato demonstra que não são todos os tamanhos de gotas que são passíveis de sofrerem o processo de deriva, sendo as de menores diâmetros (mais finas), àquelas mais suscetíveis a serem carreadas horizontalmente após a pulverização (MARTINI et al., 2015).

Assim como para os resultados de quantidade de gotas depositadas, nota-se para a avaliação de amplitude relativa que o efeito do clima foi mais evidente nas aplicações terrestres e costal quando comparado à aérea. Os resultados observados nas Figuras 5B e 5C indicam que para as aplicações terrestres e costal, realizadas sob condições climáticas adversas, há tendência de haver um aumento na amplitude relativa de gotas, demonstrando que nestas modalidades de aplicação há um incremento no carreamento de gotas de tamanhos variados.

Este comportamento não foi tão marcante na aplicação aérea.

Por fim, na Figura 6 estão apresentados os resultados da avaliação de porcentagem de cobertura em função das dife-

40 AvAg Agosto/2018

Figura 6 Cobertura (%) para aplicações aérea (A), terrestre (B) e costal (C) realizadas em condições ideais e adversas de pulverização. Rio Verde (GO), 2017.

Ideal (Azul): y = 5E-05x2 - 0,014x + 0,8232 R2 = 0,77 Adversa (Vermelho): y = 6E-05x2 - 0,0157x + 0,9683 R2 = 0,78

Ideal (Azul): y = -0,0003x + 0,024 R2 = 0,27

Adversa (Vermelho): y = 6E-05x2 - 0,0088x + 0,3522 R2 = 0,81

Ideal (Azul): y = -0,009x + 0,2733 R2 = 0,99

Adversa (Vermelho): y = 0,0018x2 - 0,09x + 1,225 R2 = 1,00

rentes modalidades de aplicação avaliadas. Para esta variável, não foram observados percentuais de cobertura superiores a 0,1% a partir de 40 mts após a aplicação aérea ter sido realizada em condições ideais de pulverização. Este dado, juntamente com a baixa densidade de gotas depositadas (Figura 4), demonstra a segurança que a aplicação aérea apresenta se efetuada em condições climáticas adequadas e realizada por profissionais capacitados. Para a aplicação terrestre e costal, o comportamento foi semelhante, sendo observado redução na porcentagem de cobertura à medida que havia um distanciamento do local onde fora realizada a pulverização.

Na Tabela 2 estão relatadas as maiores distâncias que foram registradas a deposição de gotas oriundas das diferentes modalidades de aplicação. Antes de analisar os resultados, é importante mencionar que a ocorrência de uma gota a uma dada distância, por si só, não é capaz de indicar se esta poderá resultar em uma problemática ambiental, tendo em vista que deve se analisar de forma conjunta a porcentagem de cobertura, a densidade e tamanho de gotas, bem como os aspectos relacionados às propriedades físico-químicas dos defensivos empregados na aplicação.

A partir desta análise integrada, será possível mensurar os reais riscos que uma aplicação poderá oferecer e, a partir deste contexto, desenvolver estratégias para reduzir a deriva no processo de pulverização.

Em condições climáticas ideais, a maior distância em que foi relatada a presença de gotas

para a aplicação aérea, terrestre e costal, foi de respectivamente: 140, 40 e 30 mts. Vale frisar novamente que, para a aplicação costal, o intervalo de avaliação utilizado no experimento não foi suficiente para mensurar a distância máxima que a deriva pode chegar nesta modalidade.

Em relação ao efeito das condições climáticas no aumento da deriva, verifica-se maior suscetibilidade da aplicação terrestre, havendo incremento de 125% (40 para 90 mts) da distância máxima percorrida, enquanto que para a modalidade aérea, este aumento foi de 28% (140 para 180 mts).

4. Considerações Finais Nas condições em que o presente experimento foi desenvolvido, pode se fazer as seguintes considerações: A condição meteorológica ao momento da aplicação influenciou no resultado desta, sendo observado aumento do processo de deriva à medida que a pulverização foi realizada sob condições adversas. Todavia, é importante destacar que apesar do registro de gotas obtidas a uma distância de até 140 metros, a densidade

de gotas obtida a uma distância de 25 metros do limite da faixa de pulverização (aplicação aérea e terrestre) reduziu-se a níveis inferiores aos necessários à eficácia dos produtos, chegando a níveis extremamente baixos ao ultrapassar-se a distância de 50 metros. Deste modo, é possível afirmar que, embora se observe a presença de gotas a distâncias maiores do que 25 metros, a eficiência destas, sob condições favoráveis e desfavoráveis, pode ser desconsiderada.

Levando-se em consideração os dados amostrais, é possível afirmar que a legislação federal, que impõe limites de segurança às pulverizações, estabelece distâncias elevadas em relação ao que se observa na prática. Em sendo assim, conclui-se que o instrumento legal cumpre a premissa de proteção ao ambiente, sendo até passível de revisão no que tange à redução dos valores nele estabelecidos.

Por fim, independente da modalidade empregada (aérea, terrestre ou costal), quando satisfeitas as recomendações técnicas e observadas as condições meteorológicas indicadas, as pulverizações podem ser consideradas seguras no que tange aos riscos de deriva e eficaz como meio de realizar o controle do alvo manejado.

Agosto/2018 AvAg 41

PESQUISA

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