Se Liga!

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SE LIGA! EDUCAÇÃO

CURSINHOS PRÉ VESTIBULAR

POLÍTICA

MOVIMENTOS SOCIAIS NO BRASIL

CAPACITAÇÃO

PROGRAMAS DE CAPACITAÇÃO PARA APRENDIZES

Periferia Desafios da realidade na periferia de São Paulo

EMPREENDENDO

O EMPREEDEDORISMO NA PERIFERIA

GASTRONOMIA

RESTAURANTES DA PERIFERIA

SAÚDE MENTAL

DESAFIOS DIÁRIOS

CULTURA

INDICAÇÕES CULTURAIS


Revista produzida na disciplina de Produção Editorial na Universidade Anhembi Morumbi, sob coordenação das professoras Helen Suzuki e Cristina Barbosa

Nayra Teles Editora-chefe

Sumário 04

SeLiga! na gente

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Pelo direito de ingressar na universidade!

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Programas de Capacitação e os Jovens: Literalmente Aprendizes

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Na luta - Movimentos sociais no Brasil

Bianca Guimarães Editora-assistente

Marcela Andrade Designer

O que é ser jovem empreendedora na periferia?

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Da Periferia Para a Periferia: A Gastronomia Artesanal da Zona Sul

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Saúde Mental na Periferia

Foto: Bianca L Guimarães

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Domingo

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Indicações e Programação Cultural

Amanda Santini Repórter

Judite Almeida Repórter


SeLiga! na gente Somos jovens da periferia falando para outros jovens que possuem a mesma realidade que a gente. Os assuntos que envolvem: o movimento negro, feminista, LGBTQIA+, estudantil etc são pautas vivas do nosso dia a dia, e por isso, abordamos e nos aprofundamos neles. Queremos valorizar os movimentos atuais, que surgem da realidade periférica, de jovens que não são ouvidos. Acompanhamos a evolução da sociedade com um olhar especial para aquilo produzido na periferia, pelas mãos dos jovens. Mas, não precisamos ser rebuscados enquanto contamos a história deles. Até porque, como equipe, não somos isso. Falamos de forma simples mesmo, pois queremos que todo mundo nos entenda com clareza.

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O nosso nome é SeLiga! porque estamos fazendo um chamado para geral prestar atenção na nossa voz e nas questões sociais atuais que são pouco discutidas em grandes veículos de comunicação. Tem muita coisa genial acontecendo fora do centro do mundo. E elas precisam ultrapassar os limites da periferia e chegar em lugares inimagináveis. Nós tentaremos fazer isso.

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Nós acreditamos que não devemos deixar de lutar pelos nossos direitos e liberdade tanto física quanto de expressão. Portanto, nessa edição especial iremos apresentar grandes movimentos sociais que influenciaram e influenciam até hoje com atitudes revolucionárias. As ações desses jovens expressam a vontade de igualdade, liberdade e oportunidade. Em apoio e homenagem a eles, iremos mostrar um pouquinho de cada luta e de cada personalidade marcante. Esperamos que essas histórias inspirem outros em suas trajetórias, provoquem reflexão em quem lê e que sejam capazes de causar no jovem que vive na periferia orgulho da sua origem e da riqueza cultural que existe nela, e ao mesmo tempo, força para mudar aquilo com que não estão satisfeitos. Sabemos que a luta é diária e que nem sempre conseguimos tudo com a velocidade que queremos, mas é olhando para os exemplos bem perto da gente, aqueles que guardam potências transformadoras, que nascem grandes feitos. Equipe SeLiga!

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Pelo direito de ingressar na universidade! Por Nayra Teles Cursinhos Pré-Vestibulares Populares são espaço de luta e resistência para estudantes e professores periféricos da zona sul de São Paulo.

A universidade precisa ser democratizada, principalmente, as universidades públicas, como espaço de produção de conhecimento e esse conhecimento precisa ser diverso, precisa ser crítico. E por isso, ele precisa ser produzido por pessoas diversas - Amanda Lacerda

Arquivo Pessoal

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Quem mora na periferia sabe o quanto é difícil sonhar com uma faculdade. Parece uma coisa inalcançável devido aos desafios educacionais e financeiros. São poucos os jovens que conquistam esse lugar e conseguem permanecer nesse percurso até o final. É por isso que, quando já formandos, tentam abrir caminhos para a outra geração. Um exemplo disso é a história de Murilo Dos Santos, formado em Direito com bolsa pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e morador de Diadema (SP), que fundou junto com outras duas colegas, um cursinho popular na região. Quando mais novo, o primeiro contato que teve com ensino pré-vestibular, foi num cursinho privado. Porém, ele não conseguiu terminar por questões financeiras e por isso, decidiu tentar pagar a faculdade. Mesmo resistente em largar o curso que estava pagando, Murilo foi incentivado por uma antiga namorada a continuar os estudos, tentando uma bolsa. Começou uma pesquisa por cursinhos gratuitos e conseguiu uma vaga no Cursinho Popular Arcadas, oferecido pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), que fica na Sé, região central da cidade. Durante todo o processo, teve que lidar com distância e com custo da passagem, e não conseguiu chegar ao final do ano letivo do cursinho. Sua experiência provocou uma vontade de tornar a busca de outros alunos como ele um pouco mais fácil. “A inspiração para tentar fazer um cursinho aqui no bairro, foi inicialmente tentar romper com essa distância e facilitar o acesso da galera daqui. Tentar de alguma forma dar o que eu não tive”, conta Murilo sobre sua decisão de fundar o Cursinho Eldorado. Apesar de todos os desafios, Murilo conseguiu se formar com bolsa pelo Prouni e também dar prosseguimento no seu projeto. Hoje, o Cursinho Eldorado atende alunos das regiões mais afastadas do centro de Diadema e realiza visita nas escola pública para entender as necessidades dos jovens. Sobre as conversas que teve com os estudantes, Murilo conta que “a maioria tem a universidade como uma coisa muito alheia a eles. Então, a gente conta para eles, que fui aluno daquela escola, daquele bairro, que o vestibular é muito difícil, injusto, mas que a gente vai tentar levar informação. Diminuir essa diferença, tornar possível para eles”.

Ilustração Canva

Os anos finais do Ensino Médio para os estudantes moradores de regiões periféricas do Brasil são marcados pela busca de oportunidades. Ingressar no ensino superior é uma delas e significa acessar espaços profissionais e acadêmicos que podem garantir melhor qualidade de vida para esses jovens e suas famílias. Mas, a maioria deles não possui condições financeiras para pagar uma faculdade, e por isso, encontram a possibilidade de conquistar, por meio dos vestibulares, uma bolsa em instituições privadas ou ingressar em uma universidade pública. Essa busca, por vezes, esbarra também na necessidade de pagar um curso pré-vestibular e, esse é mais um gasto que não caberia na conta. Por isso, o espaço do cursinho popular, aberto ao aluno, sem custo, acaba se construindo numa premissa de apoio e resistência educacional. Devido à defasagem escolar no ensino público básico, os jovens iniciam a corrida pela entrada na universidade alguns passos atrás. Gabrieli Silva, ex-aluna do Cursinho Popular Eldorado e hoje estudante de Letras na UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), conta que, quando estava no Ensino Médio, havia um grande número de aulas vagas. “Não tínhamos muitas aulas de português, química, física e outras matérias. A maioria do tempo, eu ficava no pátio fazendo nada e senti muita dificuldade nos estudos. Quando peguei um simulado de vestibular, percebi que as questões que o pessoal considerava fácil, eu não conseguia fazer.” A primeira experiência de Gabrieli, moradora da região de Diadema (SP), para ingressar na faculdade foi marcada pela frustração de não ter conseguido a nota que precisava para cursar o que tanto sonhava. Por um momento, a jovem chegou a desistir da universidade, mas foi incentivada a tentar novamente por uma professora que indicou o cursinho popular pré-vestibular Eldorado, onde ela passou a frequentar as aulas. A motivação da jovem é a mesma de Camille Renno, estudante em tempo integral e aluna do cursinho popular CEU Navegantes, que destaca ainda a pandemia como um fator que impactou a qualidade de sua aprendizagem. “Querendo ou não, mesmo eu ficando o dia inteiro na escola, eu senti que ainda tinha muita defasagem em algumas matérias, ainda mais devido à pandemia". Camille entrou no cursinho por recomendação de um professor também. Desde a pandemia da Covid-19, o desempenho escolar dos alunos do Ensino Médio já vinha sendo gravemente afetado. Em 2019, o nível de proficiência - domínio sobre determinado conhecimento - de 49,3% dos estudantes dessa etapa de ensino em matemática, estava abaixo do desejado. Já em 2021, esse número saltou para 58,7% segundo os resultados do Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp) do mesmo ano.

Cursinho para quê? E para quem?

Sala de aula no CPDDH Frei Tito De Alencar Lima, cedida ao CPC -Fonte: divulgação CPC

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Dar um novo sentido a educação Para Amanda Lacerda, o espaço do cursinho foi onde ela começou a entender a faculdade como um direito dela e de outros estudantes. Agora adulta, formada em Letras pela PUC (Pontifícia Universidade Católica) ela se tornou Coordenadora e Professora do Cursinho Popular Construção (CPC) na região do Jabaquara, zonal sul de São Paulo. O cursinho que frequentou foi formulado por professores e alunos do Ensino Médio da escola que estudava, e foi ali que ela percebeu o quanto a educação podia ser distinta do ensino tradicional. “Percebi que as aulas eram diferentes, o dialogo com professores eram diferentes. E esse negócio de ir aos sábados estudar com a escola mais vazia era como se fosse um espaço diferente também. Era muito gostoso ver os amigos e foi importante para minha formação por várias razões.” conta Amanda. Apesar de se diferenciar da escola e fazer os olhos dos alunos brilharem enquanto estudam, o CPC precisa lidar com os desafios de manter o projeto em funcionamento e também os alunos que, por diversas questões, evadem. Entre eles, ter que trabalhar para ajudar a família, fato que é realidade para a maioria dos jovens de periferia. A fim de diminuir os desafios de um contexto social desigual, os voluntários que trabalham nos cursinhos populares se esforçam ao máximo para dar qualidade de ensino e apoio aos estudantes. Não é diferente no CPC. “A gente oferece o melhor possível. Não é porque é gratuito, não porque é para jovens de baixa renda que a gente oferece qualquer coisa. Não é só ir lá e dar uma aula de gramática. Estabelecemos um compromisso com o conhecimento.” conta Amanda. O esforço vale a pena, porque o CPC acredita que para superar tantas barreiras, os jovens periféricos têm que ter seu lugar garantido na produção de conhecimento.“A universidade precisa ser democratizada, principalmente, as universidades públicas, como espaço de produção de conhecimento e esse conhecimento precisa ser diverso, precisa ser crítico. E por isso, ele precisa ser produzido por pessoas diversas” afirma Amanda. Exatamente por ser construído em uma lógica diferente de conhecimento, baseando-se no apoio e na identificação das necessidades dos jovens de periferia, que o cursinho popular consegue construir um novo sentido à educação. Um ensino mais plural e acolhedor, que transforma o olhar do estudantes sobre o mundo e sobre si mesmos.

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Arquivo Pessoal

Um polo de resistência O que fazer quando terminar o ensino médio? Essa era uma pergunta que movimentava André Luis e seus colegas. Foi nessa mesma época que ele começou a procurar cursinhos populares para tentar uma vaga na universidade. O que começou com uma busca por oportunidades, também marcou toda a sua trajetória. Ainda na escola, André prestou Enem e Fuvest e não conseguiu passar. Logo após concluir os estudos começou a procurar emprego. Novamente, não obteve sucesso. Frustrado, ele entrou em depressão e desenvolveu quadros graves de ansiedade. Mas, quando entrou no Cursinho Popular de Embu das Artes, na unidade localizada no Jardim

Santa Emília, recebeu apoio para entender os dilemas pelos quais estava passando. Além disso, também compreendeu melhor que existem diversos contextos sociais que dificultam o acesso e a permanência em certos espaços da sociedade. No ensino tradicional, André não via muito sentido na maioria das coisas que eram ensinadas e isso o tornou um aluno cansado, segundo ele mesmo. “Eu estava num espaço que eu não via sentido e que não queria efetivamente estar. Um sentimento presente também no coletivo da minha turma” relata ele. Na busca por uma qualidade vida melhor, ficou meio perdido. Sabia que a educação era um caminho possível, mas não sabia exatamente por onde e como começar. A experiência do cursinho popular o ajudou a desenvolver disciplina ao estudar. Uma disciplina que ele não tinha, porque não fazia sentido para ele. Aprendeu os macetes, a se preparar para a prova e ficar cinco horas sentado lendo. Mas, além desses aprendizados, ele conta que o cursinho “foi o primeiro espaço que eu acessei a possibilidade de que eu poderia realizar o meu sonho. Tem uma coisa na experiência do cursinho pré-vestibular que é popular, que ele se torna quase como um polo de resistência, que você pode instrumentalizar e possibilitar as pessoas que vieram de um lugar como a gente, de acessar o Ensino Superior e mudar sua vida”. Estar junto com pessoas que possuem o mesmo objetivo que André e que, ao mesmo tempo que eram diversas, tinham uma realidade parecida com a dele, era uma fonte de energia para continuar lutando. Hoje, formado em Psicologia com bolsa pela PUC, consegue visualizar a importância desse espaço como de uma resistência educacional, impulsionada pela identificação e a força de vontade para mudar a realidade por meio da educação. “Quando a gente identifica no outro essa periferia, é aí que nasce a revolução. De alguma, o cursinho popular ele gera essa chama, a revolta” exclama André Luis

Quando a gente identifica no outro essa periferia, é aí que nasce a revolução. De alguma forma, o cursinho popular ele gera essa chama, a revolta - André Luis

Foto: Bianca Guimarães

Fachada Cursinho Popular Construção - Fonte: divulgação CPC

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Programas de Capacitação e os Jovens: Literalmente Aprendizes Impacto e importância dos programas de aprendizagem na vida dos Jovens que buscam preencher os requisitos para ingressar no mercado de trabalho. Por Judite Almeida Temos como normal e aceitável estar desde sempre prontamente preparados para enfrentar o mercado de trabalho, aquela famosa competição por vagas, e o incessante processo de busca por profissionais competentes... Mas quando se é jovem, como se preenche os requisitos? Nessa corrida para o destaque profissional, partimos todos do mesmo lugar? Em primeiro lugar é importante entendermos o que é a Lei de aprendizagem, o programa de Jovem aprendiz e como ele funciona. A Lei n° 10.097, criada pelo Governo Federal e conhecida também com a Lei do Aprendiz, está em vigor desde 19 de dezembro de 2000, fase em que o jovem aprendiz era considerado um estudante de 14 a 18 anos. Em 2005, a Lei n°11.180 em seu artigo 18, alterou a idade do jovem aprendiz para estudantes entre 14 e 24 anos que buscam a primeira oportunidade no mundo corporativo. Aos 19 anos de idade Lohane Martins de Souza, atualmente desempregada, procura por uma nova oportunidade de trabalho. Lohane mora sozinha em Caieiras, norte da região metropolitana de São Paulo e está terminando o ensino médio através do programa de Educação para Jovens e Adultos - EJA, ela pretende fazer vestibular esse ano, aplicar suas notas para filosofia e entrar na faculdade ano que vem. Sua primeira e última experiência de trabalho foi com marketing digital na empresa Reed Exhibitions, e ela conta que recorreu ao programa de capacitação e aprendizagem Via de acesso - Ruy Leal por conta da falta de experiência e sua idade (na época dezoito anos), pois assim não poderia se candidatar em vagas regulares. Esse período lhe proporcionou muito conhecimento prático e auxiliou em seu desenvolvimento pessoal. “Exigia muita cooperação, exige muito diálogo, compreensão, e eu tive que aprender a conversar com as pessoas, chegar num acordo, todas essas coisas de convivência, que no ambiente de trabalho a gente aprende”, afirma ela.

Para Lohane, a importância dos programas de aprendizagem que, junto com as empresas contratam os jovens mesmo sem experiência, fornecendo-lhes a oportunidade de capacitação apresenta possibilidades, principalmente quando não se tem grandes qualificações ou apoio. Para ela, pensar em como esse sistema capitalista nos guia, e nos força a ser extremamente bem qualificados para termos um emprego "digno'' é uma constante luta dentro da verdadeira realidade. Lohane diz: “Você tem um trabalho decente, só que você entra às oito e sai às cinco e você ganha vale-transporte e um salário mínimo. Isso hoje em dia é privilégio no Brasil, as pessoas estão vivendo com metade de um salário mínimo”. Quando você é uma pessoa jovem e está chegando na vida, muitas vezes não tem esse preparo, esse acesso. Existem os casos em que se você tem dezesseis anos e seus pais, pagam escola particular e um cursinho pra você fazer o vestibulinho da ETEC, você pode entrar e fazer vários cursos técnicos, se especializar, você vai ter o seu lugar no mercado de trabalho. “Então quando você jovem é incentivado, zelado e tem essa oportunidade de ser inserido no mercado de trabalho, claro, isso não é nenhuma garantia de que você vai ter sucesso na sua carreira e que vai estar tudo certo pra você a partir daquele ponto. Mas você vai ter assim um por cento mais de chance de, no futuro talvez, conseguir um emprego decente. E eu acho que esse fiozinho de esperança já é suficiente, sabe?” Esses desafios encontrados pelos jovens é um cenário muito comum. Segundo a pesquisadora do IBGE, Adriana Beringuy em entrevista para o jornal CNN: “Os jovens, de modo geral, são pessoas que já têm uma dificuldade em acessar o mercado de trabalho, por conta da falta de experiência e a não qualificação completa”.

Para a estudante de comunicação visual, e atualmente estagiária em uma agência de publicidade Jamile Pontes, 21 anos, a oportunidade de ter seu primeiro trabalho como jovem aprendiz após sair do ensino médio, contribuiu especialmente na maneira de enxergar o mercado e entender suas responsabilidades. “Por conta da forma de contratação como jovem aprendiz, conseguimos ter uma visão muito ampla do que podemos fazer, como funciona o salário, décimo terceiro, férias… não escutamos isso na escola, mas quando você começa o seu primeiro emprego começa a ter noção do que é isso”. Jamile diz que procurar o primeiro emprego foi bem complicado tendo em vista que não possuía muitos cursos como Excel e Word. “Ainda não tenho e isso dificultou muito a ingressar no mercado de trabalho porque o jovem aprendiz pode não ser cobrado por experiência ou faculdade mas eles pedem por uns requisitos, e esses eram alguns deles então o programa me capacitou” conta.

O contrato de Jamile foi feito pelo Centro de Integração EmpresaEscola (CIEE), uma associação civil de direito privado, sem fins lucrativos, que é reconhecida como entidade de assistência social, que por meio de diversos programas, dentre eles o de aprendizagem e o estágio de estudantes, possibilita aos adolescentes e jovens uma formação integral, auxiliando no processo para ingressar no mundo do trabalho. Existem outras diversas instituições e sites que anunciam vagas para aprendizes e fazem a ponte entre as empresas e os jovens. Dentre elas existem as plataformas: NUBE (Núcleo Brasileiro de Estágios); O Nube é uma das maiores corporações privadas de colocação de jovens no mercado de trabalho que começou atuando como agente de integração entre estudantes, empresas e instituições de ensino e passou a oferecer vagas para aprendizagem, por meio de organizações parceiras.

Processos seletivos para Jovem Aprendiz: Existem muitas empresas que promovem concursos para contratar Jovens Aprendizes. Para participar do processo o interessado(a) deve cumprir os requisitos da Lei de Aprendizagem e seguir as orientações dos editais. Para acessar e acompanhar os editais dos processos é preciso entrar nos sites de cada instituição. Exemplos de empresas que atendem diversas áreas e oferecem vagas anualmente:

Jovem Aprendiz Correios A partir dessa oportunidade você poderá trabalhar com movimentação de cartas, pacotes e encomendas, bem como no suporte ao cliente e tarefas administrativas importantes das agências.

Jovem Aprendiz Caixa Nesse programa você terá a chance de atuar na área administrativa e de serviços bancários da empresa, aprendendo desde cedo tudo sobre uma das maiores instituições do país.

Jovem Aprendiz Globo No Programa Jovem Aprendiz da Rede Globo você terá toda a formação prática nas dependências da emissora e formação teórica oferecida pelo SENAC.

Jovem Aprendiz Porto Seguro Na Porto Seguro os jovens aprendizes têm contato com as áreas administrativas, de seguros e de telemarketing.

Jovem Aprendiz Ambev Por aqui são disponíveis diversos serviços, que vão desde áreas administrativas até serviços operacionais de embalagens, armazenamento e Manuseio e programação de máquina

“Mas se você é uma criança da periferia, por exemplo, que na sua infância teve que ficar

cuidando dos seus irmãos mais novos ou já trabalhando desde muito novo em empregos

insalubres que não pagavam direito, você não vai ter tempo pra fazer todos esses cursos você

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não vai ter como se qualificar de maneira adequada pra entrar numa empresa e ter um

emprego minimamente decente”.- Lohane Martins

Banco de Imagens

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Fonte: divulgação


Na luta - Movimentos sociais no Brasil Por Marcela Andrade O que são os movimentos sociais?

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Os Movimentos Sociais se iniciam com grupos que atuam em conjunto para o fortalecimento de lutas populares pela efetivação de direitos sociais e políticos. Estes movimentos surgem após a percepção de que determinados grupos não possuem as mesmas oportunidades e direitos em comparação com outros na sociedade, gerando a urgência da criação de novas políticas e práticas voltadas para as necessidades do grupo. “Aos oprimidos é permitido uma vez a cada poucos anos decidir quais representantes específicos da classe opressora devem representá-los e reprimi-los” (Karl Marx). Segundo Karl Marx, filósofo, ativista político alemão e um dos fundadores do socialismo, a chance de mudar as condições de opressão que alguns grupos sofrem é através do voto para representantes políticos, a cada 4 anos. O voto é fundamental para a criação da democracia em conjunto com uma sociedade mais justa, mas não é a única forma de luta pelos direitos. E é através dessa percepção que nascem as lutas e ideias de transformação, indo além da escolha dos representantes e iniciando movimentos dentro da sociedade para que os representantes enxerguem a falta de atenção com os princípios de cada grupo. Alguns movimentos atuais no Brasil

Movimento feminista O movimento feminista, formado em sua maioria por mulheres, luta pela igualdade de gênero e liberdade sexual das mulheres no Brasil. Apesar do termo feminismo ter ganhado espaço somente a partir da década de 60, as mulheres lutam por seus direitos há muitos anos, como a luta pela educação feminina, direito de voto e abolição dos escravos no século 19. As mulheres ainda sofrem com a sexualização, assédio, violência, sensação de propriedade sobre suas vidas e seus corpos por parte de seus companheiros, cargos e salários inferiores em comparação com homens que possuem as mesmas qualificações, julgamento de suas escolhas, entre outros. A “Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher”, de 2021,, realizada pelo Instituto DataSenado em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência, registrou que 71% das mulheres entrevistadas acreditam que o Brasil é um país machista. Além disso, 68% conhecem uma ou mais mulheres vítimas de violência doméstica ou familiar, e 27% assumiram já ter sofrido algum tipo de agressão masculina. A pesquisa aponta também que 18% das mulheres que sofrem violência, ainda convivem com o agressor, o que 75% das entrevistadas acreditam que isso acontece por medo de denunciar. O CFEMEA (Centro Feminista de Estudos e Assesoria), por exemplo, é uma organização não governamental feminista de caráter público e sem fins lucrativos. Segundo as fundadoras, a organização, criada em 1989, possui 25 anos de estratégias que envolvem sensibilização, conscientização, articulação, mobilização, comunicação política, acompanhamento e controle social. Além de desenvolver a difusão das plataformas feministas na mídia e em seus próprios veículos de comunicação, de maneira que haja reflexão e expansão do debate feminista.

Movimento negro O movimento negro tem como objetivo o fim do racismo diminuindo a desigualdade social e oferecendo o mesmo direito para todas as pessoas independente de sua raça. Essa forma de resistência luta para abolir as injustiças praticadas contra os negros, tais como violência polícial, perseguição, esteriótipos, apropriação cultural, preconceitos com religiões de matriz africana, genocídio, condições de trabalho análogos a escravidão, falta de oportunidade de crescimento profissional e estudantil, entre outros. Segundo infográfico divulgado, em 2021, pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 76,2% das pessoas assassinadas em 2020 no Brasil eram negras. Foi registrado também que os negros ocupam 64,3% das vítimas de latrocínio e 75,3% das vítimas de lesão corporal seguida de morte. Para fortalecer o movimento e promover debates sobre questões de temática racial, a agência Alma Preta produz conteúdo jornalístico qualificado e independente. É possível acompanhar em seu site e redes sociais, reportagens, análises, eventos, artigos entre outros conteúdos jornalísticos direcionado para a pauta antirracista. A agência, que começou como um coletivo universitário em 2015, enxergou a necessidade de produzir pautas com esse tema, a fim de, como é definido por eles, informar, visibilizar e potencializar a voz da população negra. Movimento LGBTQIA+ A fim de, como os outros movimentos acima, promover uma sociedade mais justa com direitos iguais para todos, o movimento LGBTQIA+ luta para o fim do preconceito e, principalmente, para a liberdade sexual dos gays, lésbicas, bissexuais, transexuais, travestis, transgêneros, queer, intersexuais, assexuais e mais. Em 2013 a união homoafetiva foi assegurada no Brasil por decisão do Supremo Tribunal Federal e Resolução do Conselho Nacional de Justiça, porém ainda existem muitos obstáculos para garantir seus direitos frente ao governo e à sociedade. Segundo pesquisa realizada em 2018 pelo GGB (Grupo Gay da Bahia), a cada 20 horas, um(a) LGBT morre no Brasil por serem LGBTs. O grupo também registrou um aumento de 30% nas mortes de LGBTs em 2017, quando 445 pessoas foram mortas, em relação a 2016, ano em que 343 mortes foram motivadas por LGBTfobia. Dentre as 445 vítimas, 387 foram assassinadas e 58 cometeram suicídio. A maior parte dos assassinatos aconteceu em via pública (56%), mas uma grande parte (37%) ocorreu na casa das vítimas. Das vítimas registradas, 194 eram gays (43,6%), 191 trans (42,9%), 43 lésbicas (9,7%), 5 bissexuais (1,1%) e 12 heterossexuais (2,7%). O Grupo Gay da Bahia é a mais antiga associação de defesa dos direitos humanos dos homossexuais no Brasil. Em seu portal, o GGB se define como uma entidade guarda-chuva que oferece espaço para outras entidades da sociedade civil que trabalham em áreas similares, especialmente no combate à homofobia e prevenção do HIV e aids entre a comunidade e a população geral.

Ilustrações Canva

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O que é ser jovem empreendedora na periferia?

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Por Marcela Andrade e Nayra Teles

q Ar “Em março de 2020 fomos surpreendidos com a pandemia. Fechamos nossas lojas na galeria, ficamos meses com o longe fechado e achamos que não íamos conseguir. Acredito que tudo é questão de propósito e, mais uma vez, conseguimos. Reabrimos, evoluímos e mudamos o Lounge, após 8 meses, para um espaço maior. Independente das dificuldades iremos fazer 2 anos nesse novo endereço.” Alberiana Araújo, de 21 anos, é empreendedor, moradora da periferia da zona sul de São Paulo e estudante de direito. Como dona de dois pequenos empreendimentos, a jovem enfrentou diversos problemas ao longo da sua trajetória, mas com vontade de vencer, encarou e se dedicou para manter os seus negócios pé. O primeiro empreendimento, iniciado em 2018 quando tinha apenas 17 anos, foi a loja online de acessórios e bijuterias. Nessa mesma época, Alberiana também trabalhava como Jovem Aprendiz através do RASC (Rede de Assistência Social Cristã), uma ONG que busca oferecer aos jovens e adolescentes uma oportunidade de inserção e integração no mercado de trabalho. Iniciou também em 2018 sua graduação em Direito com bolsa pelo ProUni (Programa Universidade para Todos) que concede bolsas integrais e parciais em universidades. Apesar da rotina intensa, abrir sua própria empresa fez com que ela descobrisse suas habilidades e ficasse ainda mais encantada pela profissão “Desde pequena sempre tive o sonho de ter lojas. Hoje vejo que sou ‘desenrolada’ e nasci pra isso. Eu amo trabalhar com o público, amo saber que as pessoas irão ficar felizes por garantir uma compra comigo”, afirma. Com o intuito de não parar somente na loja de acessórios, Alberiana investiu também, no mesmo ano, em sua loja virtual de roupas. “Comecei a progredir muito, me desdobrava para fazer as entregas, e, para ajudar nisso, em novembro de 2018 comecei a tirar minha habilitação, tendo que conciliar as lojas, estudos, trabalho e a autoescola”, comenta. Em 2019, seu último ano de contrato com a empresa, sentiu a necessidade de investir ainda mais em opções de empreendimento. Procurando por aqueles que gostava e com qual iria conseguir manter sua renda. Por gostar de narguilés e ser um produto muito usado entre os jovens, surgiram algumas ideias entre ela e seu namorado. Mas, precisavam primeiro entender como poderiam iniciar nesse meio “Antes do meu contrato acabar, conversei com minha mãe sobre a possibilidade de abrirmos uma lojinha de produtos de tabacaria. Estávamos muito empolgados com isso e ela super nos apoiou.

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Ela tinha um conhecido que alugava box em galerias e entramos com tudo, tínhamos um local fixo, um box para as roupas e acessórios e outro para os artigos de tabacaria. Essa foi uma das minhas maiores conquistas”, exclama. Segundo a PNS (Pesquisa Nacional de Saúde), feita em 2013, feita com a PNT (Pesquisa Nacional do Tabagismo), revela que no Brasil a quantidade de fumantes de narguilé na faixa dos 18 aos 24 anos de idade cresceu 134% em 5 anos. “É algo comum entre mim e meus amigos, normalmente em todos os ‘roles’ nós fumamos”, afirma a jovem. Em uma publicação realizada em 2017 pela OMS, a Organização cita alguns dos fatores para a febre do narguilé atualmente, dentre eles estão a possibilidade de fumar um tabaco aromatizado (existem essências de centenas de sabores diferentes), aceitabilidade social e os avanços na comunicação em massa e nas mídias sociais. Por perceber que esse mercado estava em crescimento e, também, por ter o narguilé como parte de sua rotina, Alberiana abriu um Lounge Bar no final de 2019. Com o nome de Aloha, o estabelecimento foi pensando para que as pessoas pudessem utilizar o local para sentar, socializar e fumar com os amigos. “Final de 2019 para o começo de 2020, vi um local para ser alugado. Como nosso próximo passo seria alugar um espaço maior para conseguirmos receber clientes para usufruírem do narguile no mesmo ambiente, conseguimos abrir nosso primeiro Lounge Bar.” comenta orgulhosa. Porém, logo após a abertura, enfrentou algumas dificuldades por conta do início da pandemia da covid-19. “Em março de 2020 fomos surpreendidos com a pandemia. Fechamos nossas lojas na galeria, ficamos meses com o longe fechado e achamos que não íamos conseguir.” Mesmo com desafio ela conseguiu se reerguer e reabriu o local em um ambiente maior após oito meses fechado. Agora comemora junto ao namorado dois anos de empreendimento. O que quase a fez desistir, na verdade, foram os julgamentos. “Muitas pessoas já me julgaram por não serem a favor do narguile, ouvi muitos comentários negativos das pessoas me perguntando como eu conseguia manter a Aloha tanto tempo aberta, ou que era muito nova para aquilo, mas acredito que quem corre atrás alcança qualquer objetivo, jamais irei desistir dos meus sonhos por conta do julgamento dos outros”, afirma. Alberiana é uma jovem determinada que possui muitos sonhos e vontade de crescer na vida. “Assim que terminar a faculdade, quero fazer curso de inglês e provavelmente fazer um intercâmbio.

Minha meta é passar em concurso público (Polícia Civil ou Federal), mas os empreendimentos não vão parar por aí. Quero abrir minha loja de roupas em um local físico e também, daqui uns anos, abrir uma balada em um lugar enorme, esse é meu verdadeiro sonho e o nome será Aloha 2.0. Aguardo ansiosamente por esse dia, sou apaixonada pelo o que faço e quero muito realizar esse desejo”, comenta. Atualmente a jovem não vive financeiramente somente dos seus empreendimentos, trabalha durante o dia como atendente de telemarketing para conseguir investir mais em seus negócios. “Minha rotina é correria pra cima e pra baixo, as vezes tenho medo de não dar conta, estou no último ano da faculdade, vou de manhã e a tarde já vou trabalhar. Hoje conto com a ajuda do meu namorado Kauan para abrir o Lounge enquanto estou trabalhando, mas assumo logo quando chego”, desabafa.

Apesar de ter que conciliar estudos, trabalho e três tipos de comércios diferentes, Alberiana reflete sobre a força de vontade que tem para transformar sua trajetória. “Sou muito feliz com meus empreendimentos e com os retornos que já tive até hoje, é só o início de tudo que planejei para mim”, exclama. Uma vontade não só dela, mas, também de muitos jovens periféricos que sonham um dia conquistarem mais do que as limitações sociais permitem.

Desde pequena sempre tive o sonho de ter lojas. Hoje vejo que sou ‘desenrolada’ e nasci pra isso. Eu amo trabalhar com o público, amo saber que as pessoas irão ficar felizes por garantir uma compra comigo - Alberiana Araújo

Itens vendidos pela Alberiana - Fotos Divulgação Aloha e Albe acessórios e mod a, Arquivo Pessoal

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Da Periferia Para a Periferia: A Gastronomia Artesanal da Zona Sul Por Amanda Santini e Bianca L Guimarães

Quem mora nas regiões periféricas de São Paulo com certeza já precisou se planejar alguns dias antes para ir comer em um lugar “diferente”, seja por questões financeiras ou por falta de opções na região, resultando em viagens de uma ou duas horas para chegar a um restaurante. Felizmente isso tem mudado. Nos últimos anos a gastronomia periférica tem se expandido, trazendo inclusão e mais opções de entretenimento para uma população que tende a ser excluída, além de facilitar a vida dos moradores. Afinal, é muito melhor visitar um restaurante próximo ou pedir um lanche para comer em casa. Mas como é gerenciar um restaurante diante dos desafios financeiros da periferia? O empreendimento foi uma escolha ou uma necessidade? Conversamos com cinco estabelecimentos gastronômicos da Zona Sul e Região Metropolitana de São Paulo para saber como tudo começou, o dia a dia, como foi lidar com o período de pandemia do coronavírus, a alta dos preços, planos para o futuro e, claro, a comida. Começos No bairro Jardim Vista Alegre próximo ao centro histórico de Embu das Artes está a Donuts Dahouse, doceria criada por Karina Mendes, 27 anos, e o sócio Diego. Inaugurada em 2020 durante a pandemia do covid-19, a loja tem um ambiente aconchegante e o vidro na fachada permite que o cliente possa ver todo o processo feito na cozinha enquanto aguarda pelo pedido. Karina é formada no curso de Rádio e TV e trabalhou como produtora de base até que em 2018 decidiu mudar de profissão. Iniciou vendendo brownies, porém os valores da matéria-prima para produção dos bolinhos aumentaram e ao ver que havia poucas lojas especializadas em donuts na região de Embu das Artes, ela viu a oportunidade para iniciar um novo empreendimento e não voltar ao regime CLT.

mas a gente estava numa situação muito difícil, então fui fazer geladinho. A inspiração foi a necessidade.”, conta Querolaine. Segundo o Estudo sobre Empreendedorismo da Periferia de São Paulo feito pelo Quintessa, 77% dos empreendimentos na periferia são idealizados visando o lucro imediato, seja para complementar ou se tornar a principal fonte de renda. Jordan Frazão, 30 anos, é formado em Rádio e TV, já trabalhava na área de gastronomia e tinha em mente que gostaria de administrar um restaurante. Ele e a esposa, Juliana, 27 anos, são sócios na The Jordan’s, hamburgueria que fica no Jardim Maracá, distrito do Capão Redondo.

Eu quero que meu público principalmente se sinta acolhido nas postagens, no preço do hambúrguer e na minha loja. - Jordan Frazão

A conexão com o público traz a sensação de pertencimento que ainda está em construção nos bairros dos arredores da cidade de São Paulo, a favela é vista de forma pessimista e sem perspectiva enquanto movimenta R$ 119,8 bilhões ao ano, os dados são da pesquisa Economia das Favelas – Renda e Consumo nas Favelas Brasileiras, de 2020. Esses empreendimentos mostram que não há apenas gastronomia de qualidade na periferia. Há toda uma rede de apoio entre os proprietários dos restaurantes entrevistados e os profissionais da região para o marketing, decoração das lojas e o abastecimento alimentício dos estabelecimentos. Fachada do Donuts Dahouse - Foto: Bianca L Guimarães

Empreendendo para a periferia

Jordan Frazão, Juliana e equipe do The Jordan’s - Foto Bianca L Guimarães

Ele conta que recebeu apoio financeiro da mãe para que pudesse iniciar o empreendimento e não houve auxílio de projetos voltados ao empreendedorismo: “Quem me ajudou foi minha mãe, ela investiu no primeiro restaurante e agora, graças a Deus, já devolvi esse dinheiro para ela.” Assim como Jordan e os outros proprietários de restaurantes entrevistados, Célio Araújo, 51 anos, investiu o dinheiro do próprio bolso no Rasta Bier Reggae Bar. De acordo com o estudo do Quintessa, 8 em cada 10 empreendimentos são iniciados dessa forma. Filipe Batista, 32 anos, trabalha em restaurantes desde os 18 anos e se apaixonou pela gastronomia. Ele alugou por um ano o salão no Jardim Presidente Kennedy em Embu das Artes até chegar ao momento certo de inaugurar a Emburguer Fast Bar.

Equipe Donuts Dahouse - Foto Bianca L Guimarães

As irmãs Querolaine Sena, 29 anos e Keury Brito, 28 anos, são moradoras do bairro Paraisópolis há 15 anos e proprietárias da confeitaria Delícias Quero Quero. Tudo começou por um motivo comum nos empreendimentos nascidos na periferia, ajudar nas despesas de casa: “Ela (a irmã) e meu marido trabalhavam,

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Ele conta que o objetivo sempre foi ter um restaurante em que famílias e grupos de amigos pudessem se reunir, ele ficou encantado com a ideia da hamburgueria artesanal após ser chamado por um amigo para ser chapeiro na Vinil Burger: “O sonho sempre foi ter um restaurante e não um fast food.”

Equipe Emburguer Fast Bar - Foto Bianca L Guimarães

A relação com o cliente é a base para todo bar e restaurante, na periferia essa relação é ainda mais próxima e construída não apenas pessoalmente. Dados do Sebrae e Fundação Getúlio Vargas (FGV), de abril de 2022, apontam que 71% dos pequenos negócios fazem uso das redes sociais para atrair um maior público. A confeitaria Delícias Quero Quero usa o Instagram e WhatsApp empresarial para receber encomendas e divulgar vídeos com a produção dos bolos e doces: “Eu não durmo, de madrugada tem gente mandando mensagem”, diz Keury Brito. O mesmo é feito por Karina Mendes que com frequência faz vídeos no Instagram para mostrar o dia a dia da Donuts Dahouse, trazendo o cliente para mais perto e humanizando a relação com a loja. Essa tática tem gerado frutos, a donuteria está crescendo e há a intenção de mudar o ponto para uma loja maior, com um salão que possa receber mais pessoas. Na The Jordan’s e na Donuts Dahouse, sempre há a preocupação em consultar os clientes nas redes sociais para a tomada de decisão sobre mudanças no cardápio e promoções. Para Jordan Frazão existe diferença entre empreender na periferia e para a periferia, é importante fazer algo que esteja dentro da realidade periférica e não assuste as pessoas por ter um conceito muito estilizado: “Eu quero que meu público principal se sinta acolhido nas postagens, no preço do hambúrguer e na minha loja.” Com o aumento da inflação também há a preocupação em manter a qualidade dos alimentos e o valor acessível para o público. Filipe da Emburguer Fast Bar decidiu tirar alguns cortes de carne do cardápio para focar no cliente e manter a qualidade da hamburgueria: “não adianta manter a receita se ninguém vai comprar, vou vender para quem?” Já Querolaine do Delícias Quero Quero lida com a recente alta dos preços adicionando algo diferente para agradar ao cliente quando é necessário fazer reajuste dos valores, como acrescentar brigadeiro às fatias de bolo vendidas pela confeitaria.

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Bora falar de comida?

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Fonte: divulgação Instagram

O Rasta Bier Reggae Bar tem lanches artesanais, vinhos exclusivos e opções de lanches vegetarianos, além disso o salão conta com música ao vivo. Recomendação da casa: O lanche “Mendigão” e o vinho de amora feito exclusivamente para o Rasta. Endereço: Rua Antônio Hélio Azevedo, 70. Próximo a Universidade Ibirapuera. rastabier_oficial

Fonte: divulgação Instagram

A The Jordans conta com acompanhamentos como a bolinha de tapioca com queijo e calabresa, além de opções de lanches vegetarianos. Recomendação da casa: Catupiry Burger (O Inigualável). 160g do blend angus, disco de Catupiry Original empanado, queijo prato empanado, couve crispy, ketchup artesanal no pão brioche ou australiano selado na manteiga. Endereço: Rua Abílio César, 277. Jardim Maracá/Capão Redondo. (11) 94542-1462 thejordanssp

Fonte: Bianca L Guimarães

A Emburguer Fast Bar conta com um salão para passar o tempo com os amigos enquanto aproveita seu lanche. Hambúrguer feito artesanalmente. Recomendação da casa: Nº2. 140g de carne bovina, queijo cheddar, cebola caramelizada, creme cheese, cebola crispy, alface, tomate e pão de parmesão. Endereço: Rua Mal. Floriano Peixoto, 598 – Jardim Presidente Kennedy. (11) 91094-9930

Fonte: Amanda Santini

A Delícias Quero Quero trabalha com encomendas de bolos e doces para festas, além de ter sobremesas à pronta entrega. Recomendação da casa: Copo da felicidade e o Caseirinho (fatias de bolo nos sabores ferrero, paçoca, brigadeiro e outros.) Endereço: Rua Iratinga, 294. Paraisópolis (11) 97777-3279 delicias_queroquero

Fonte: Bianca L Guimarães

Na Donuts Dahouse, a massa é preparada todos os dias para que os donuts sejam servidos sempre fresquinhos Recomendação da casa: Marshmallow, Cheesecake Laka e o donut salgado com calabresa, cheddar e bacon. Endereço: Rua Aracajú, 231. Jardim Vista Alegre (11) 93725-6694 dahouse_br

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Fonte: divulgação


Rua no Capão Redondo - Foto: Nayra Teles

Saúde Mental na Periferia Por Amanda Santini

A depressão é considerada a doença mais incapacitante do mundo, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde). No Brasil, são cerca de 11,5 milhões de pessoas que convivem com o problema. Mas, ainda segundo o documento da OMS, embora qualquer um possa ter o transtorno, o risco de desenvolver depressão é maior em situações de pobreza. Teng Chei Tung, psiquiatra membro do Conselho Científico da Abrata, acredita que "as pessoas pobres sofrem mais com a depressão, pelo menos por causa da falta de acesso a tratamentos adequados". O tabu em cima das doenças psicológicas acontece em todas as classes sociais, mas na periferia percebe-se uma falta de conhecimento do assunto. Sendo negro, periférico e sofrer discriminação diária impacta na saúde mental das pessoas devido principalmente a sua história de vida. Essas minorias acabam sempre sendo deixadas de lado, acarretando no bem estar e na autoconfiança do cidadão. Além do impacto social existe também o impacto bioquímico, no qual a pessoa que vive diariamente sofrendo preconceito, violência social, física e mental se vê numa situação de alerta 24 horas por dia não sabendo o que pode acontecer com ele ao longo do dia, gerando uma fadiga no corpo e na mente ao longo prazo. Muito se tem discutido sobre saúde mental na periferia, mas os projetos de auxílio e opções de ajuda no SUS são poucos divulgados, pode-se afirmar que a razão para tal de desinformação são o modo como são divulgados, como por exemplos as informações que existem por meio de cartaz nos postos de saúde e AMAs. A rotina para a população de baixa renda não condiz com horários de abertura e encerramento desses lugares, acarretando na falta de desinformação, isto muitas vezes afeta no tratamento das pessoas que estão nessa situação, elas ficam sem apoio profissional e com dúvidas de como agir diante de uma situação dessa.

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Foto: Bianca L Guimarães

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Domingo

Por Bianca L Guimarães

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Foto: Bianca L Guimarães

Fim de semana, domingo. O vizinho acorda às 9:00 horas e coloca o som alto, começa a limpar a casa, lavar a roupa, escuta e canta as músicas preferidas de sua adolescência e, de repente, muda para as músicas atuais. O dia está ensolarado e amigável. Percebo que não vou dormir até ao meio-dia. 11:00 horas decido ver a vizinhança, vejo pessoas sentadas na calçada em frente de suas casas, a música está alta e estão bebendo cerveja. Ao mesmo tempo estão atentas às crianças que brincam na rua, cuidando para que não sejam atropeladas, "Maria Fernanda, cuidado!". 14:00 horas. Decido ir ao mercado. Vou descendo a rua e vejo alguns meninos empinando as bicicletas numa rua extremamente inclinada, sem nenhuma proteção e sem medo de cair no asfalto quente. Mais para baixo da rua, há um bar tranquilo, sem música, apenas alguns senhorzinhos jogando dominó. Atravesso a rua em direção ao mercado, já são 14h30min., as últimas lojas estão fechando, menos a sorveteria. No caminho vejo que o muro da escola está com um novo grafitti, está lindo, colorido e com uma frase de Sérgio Vaz: “Sonhador é aquele que vira nuvem quando a chuva não vem. Depois das compras, volto para casa, são 16:00 horas, a cliente da minha mãe está fazendo a unha e trouxe o cachorro. Cliente não, amiga. Depois de 10 anos ela é nossa amiga. Falamos do nosso dia a dia, trabalho, filhos, netos e mães. la trabalha como empregada doméstica na casa de uma família. Contou que o filho mais velho dessa família estava pessoalmente guardando a comida na geladeira, contando os filés de frango. Para ajudar? Não, ele queria ter certeza de que ninguém mais além da família iria comer. Imagine que "absurdo" se a pessoa que trabalha naquela casa durante o dia todo comesse um filé de frango? Ou uma maçã? O filho dela está trabalhando, pôde comprar uma moto, ela obviamente está feliz mas um pouco preocupada. “Ele não para em casa e não para de empinar aquela moto, imagina se ele cai?!” Unha feita. 18h30min., ela está indo embora, está escurecendo e os vizinhos ainda estão ouvindo música. O clima está bem agradável e sem sinal de chuva. Dessa vez, a música vem de um carro com o som voltado para a minha garagem, o barulho indo direto para minha casa. 9:00 horas da noite. O som parou cedo, atípico, mas amanhã é segunda-feira, hora de cuidar da janta e de se preparar para a próxima semana.

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Indicações e Programação Cultural PerifaCon 2022

Por Bianca L Guimarães e Judite Almeida

31 de Julho, 09:00 ás 21:00 Sim! Dia 31 de julho acontecerá a segunda edição da primeira convenção nerd das favelas! O evento que promove a cultura pop, nerd e geek nas periferias de São Paulo terá painéis com mesas e dabates, concurso de cosplay, beco dos artistas, arena gamer e muito mais! *Importante: Não esqueça sua máscara e a carteira de vacinação contra a Covid-19. Onde será? Avenida General Penha Brasil, 2508 – Vila Nova Cachoeirinha Onde compro o ingresso? Os ingressos são comprados presencialmente nas unidades do SESC podendo custar de R$ 7,00 a R$ 40,00, porém a maioria dos eventos são gratuitos e os ingressos são retirados com uma hora de antecedência.

CENTRO CULTURAL SÃO PAULO

POIESIS Programação atualizada mensalmente A POIESIS - Instituto de Apoio à Cultura, à Língua Portuguesa e à Literatura promove oficinas, cursos, visitas temáticas e encontros voltados à cultura, também são responsáveis pelo projeto Formação no Interior e as Fábricas de Cultura. Formação no Interior: Cursos e oficinas on-line voltados para as artes visuais. Fábricas de Cultura: Com unidades no Capão Redondo, Diadema, Brasilândia e etc, são ministrados cursos, encontros e eventos musicais para as regiões periféricas de São Paulo. Onde compro o ingresso? A programação é gratuita. Quanto vou pagar? No site da POIESIS você pode ver a programação completa e qual a unidade mais próxima de você:

Programação atualizada toda semana

Ceu

O Centro Cultural São Paulo reúne exposições de arte, encontros, eventos de música, teatro e exibição de filmes.

Programação atualizada mensalmente Os CEUs - Centro Educacional Unificado tem várias unidades na periferia de São Paulo com atividades voltadas para a saúde, cultura, lazer e capacitação profissional, além disso há bibliotecas e cursos de informática nos Telecentros.

Onde compro o ingresso? Ingressos disponíveis uma hora de antes do evento, alguns encontros necessitam de inscrição prévia no site do CCSP Os eventos em sua maioria são gratuitos, os eventos pagos custam até R$ 20,00.

Quanto vou pagar? Todas as atividades do CEU são gratuitas, vagas a confirmar na unidade onde a atividade será realizada.

Onde fica? O CCSP está na Rua Vergueiro, 1000 - Paraíso.

Onde fica? Você pode verificar unidade mais próxima e a programação disponível no site:

SESC – Programação atualizada toda semana

O SESC conta com atividades voltadas ao lazer, cultura, e esporte para todas as idades, além de shows, peças de teatro e exibição de filmes. *As unidades seguem os protocolos de segurança e saúde contra o Covid-19. Onde compro o ingresso? Os ingressos são comprados presencialmente nas unidades do SESC podendo custar de R$ 7,00 a R$ 40,00, porém a maioria dos eventos são gratuitos e os ingressos são retirados com uma hora de antecedência.

LGBTFLIX Site gratuito para documentários e filmes O projeto iniciado durante a pandemia do covid-19, reúne no catálogo 250 filmes e documentários produzidos pela comunidade LGBTIA+. O LGBTFLIX foi criado pelo coletivo #VOTELGBT e no mesmo site existe o #MAPALGBT, nele você pode encontrar espaços físicos e on-line que são acessíveis para a comunidade LGBTIA+.

Onde fica? O SESC conta com unidades por toda São Paulo na região central e periferias da cidade, você pode encontrar a unidade mais próxima de você no site

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