SISO ORO imagens falantes
Gil Leal
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material educativo
SISO ORO imagens falantes
Gil Leal
8 de março a 11 de abril das 9h às 19h Galeria Sesc Cidade Alta – 2018 –
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Galeria Sesc Cidade Alta – Sesc RN –
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esde 2015, os trabalhos dos artistas que expõem na Galeria Sesc Cidade Alta, em Natal, são selecionados por meio de edital com o objetivo de estimular a produção artística potiguar, colaborando para o desenvolvimento artístico, econômico e cultural de artistas visuais e/ou coletivos de artistas visuais, bem como incentivar a reflexão e a experiência do público em geral com o seguimento das artes visuais em sua transversalidade e diversidade cultural. Em sua quarta edição, o projeto selecionou seis trabalhos para compor o calendário de exposições 2018: “Siso Oro – Imagens Falantes”, de Gil Leal; “Tropicália Neobarroca ou Tropifagia dos Sentidos”, de Isaías do Nascimento; “Interferência Urbana”, de Flávio Aquino; “A Estrada é Longa” de Lucas MDS; “Cidade Invisível”, de Mário Rasec; e “Modern Violence”, de Matthieu Duvignaud. A Galeria Sesc Cidade Alta conta com mediações em arte visuais durante o período das exposições, desenvolvendo o papel de elo entre o público visitante e as obras de artes. Além de contextualizar o espectador sobre a exposição, as mediações culturais desenvolvem ações de arte-educação com o público, incluindo grupos escolares. 3
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Ossain
OLÁ! Este material educativo faz parte da exposição Siso Oro – Imagens Falantes. Esta exposição apresenta um conjunto de obras que evidenciam a associação entre a arte e religiosidade e trazem como proposta conhecer o universo simbólico dos Orixás – divindades africanas que adquirem características da Natureza, dos animais e vegetais, das emoções humanas, cores e objetos. Com a intenção de contribuir com novas experiências perceptivas e cognitivas a partir das obras desta exposição, este material educativo foi elaborado para que você some nossas propostas aos seus conhecimentos e faça relações com o que já sabe, para tornar tudo muito mais interessante. Neste material você vai encontrar informações sobre a exposição, sobre o artista, conhecimentos sobre a cultura Afro-brasileira, palavras-chave, dicas de fontes de pesquisa, questões para pensar, além de cartas e sugestões de atividades para fazer junto com outras pessoas. Você pode usar este material educativo do jeito que achar mais apropriado aos seus interesses. Conhecer Siso Oro – Imagens Falantes poderá possibilitar um melhor entendimento da cultura Afro-brasileira como forma de pensamento e formação de um povo, vivenciar experiências visuais e desenvolver novas relações perceptivas e sociais. BOM PROVEITO! 5
S OBR E A E XPOSIÇ ÃO SISO ORO A exposição Siso Oro – Imagens Falantes reúne 20 pinturas em técnica mista sobre lona (banner) representando 16 Orixás e suas tradições, promovendo o conhecimento de um universo simbólico e seus códigos estabelecidos ao longo de mais de 8 mil anos. Siso Oro é uma expressão iorubá que significa: imagens falantes. Essas “imagens que falam” surgem na arte de Gil Leal a partir de uma pesquisa com os mestres da Vila de Ponta Negra (RN) e mestres das Vertentes de Minas Gerais (MG). O artista atuou como um “caçador de sentidos e linguagens” e um “coletor de imagens” no campo das representações do candomblé. Gil Leal procurou reunir representações simbólicas e expressões imateriais, criando uma relação entre arte e religiosidade. As pinturas resultantes desse processo buscam valorizar a contribuição artística, social e cultural das religiões Afrobrasileiras. Gil propõe uma convergência de técnicas artísticas, influências culturais e linguagens simbólicas que desaguam na pintura, mas que também passam pelo documental. O artista usa o verso de banners publicitários como suporte para suas pinturas, reutilizando-os no intuito de gerar novos sentidos e reflexões. Dessa maneira, a exposição Siso Oro – Imagens Falantes pretende levantar questões sobre a riqueza e a contribuição cultural dos povos afro-brasileiros, revelando esse rico universo de signos e significados, saberes, celebrações e formas de expressões que compõem um valioso patrimônio cultural imaterial brasileiro.
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S O BR E O ARTISTA
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il Leal vive e trabalha em Natal (RN). Atua como arteeducador em diversas oficinas do Centro de Cultura e em escolas da Vila de Ponta Negra, desde 2007. Através de projetos dos Pontos de Cultura, vivenciou experiências em audiovisual e se aproximou do universo da Cultura Popular do Rio Grande do Norte, aprendendo Coco de Roda com o Mestre Severino e brincando no Boi de Reis. Em 2011, vai para o Rio de Janeiro onde frequenta a Escola de Cinema Darcy Ribeiro e a Escola de Artes Visuais Parque Laje. Participa do Lab Cultura Viva produzindo quatro documentários para o Centro Cultural Cartola (RJ). Em 2012, integra o coletivo ARTE VIRAL, atuando em performances e instalações. Em 2013, desenvolve a residência artística “Caminhando Sobre o Mar: por uma poética cinematográfica”, com o artista espanhol Antonio Alcantara, realizando exposições em Natal (RN) e em Santa Tereza (RJ). Em 2014, junto com a Associação Afro-brasileira Casa do Tesouro (MG), realiza o documentário “Esse Rosário é Meu”. Ainda em 2014, faz sua primeira exposição individual intitulada “Interfaces Selvagens”, no Centro Cultural Ives Alvez, em Tiradentes (MG). Em 2015, cria o espaço autônomo “Fábrica de Inventos”, junto com Mestre Arraia, que funciona como atelier aberto, re-significando elementos da cultura popular, artesanato, artes visuais, criação de objetos e instrumentos musicais.
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PALAVRAS -CHAVE Esses são alguns conceitos presentes na exposição Siso Oro – Imagens Falantes para você refletir e tecer relações.
CULTURA E RESISTÊNCIA ANCESTRALIDADE E SEUS DESCENDENTES TRADIÇÃO E FÉ
Diálogo entre Culturas HERANÇA NEGRO-AFRICANA
mitologia SÍMBOLOS DA IDENTIDADE BRASILEIRA IDENTIDADES DE POVOS 8
PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL CARACTERÍSTICAS DA NATUREZA REPRESENTAÇÕES DO CANDOMBLÉ UNIVERSO SIMBÓLICO
sincretismo SABERES E CELEBRAÇÕES CULTURA AFRO-BRASILEIRA MUNDO MÁGICO E ESPIRITUAL CONSCIENTIZAÇÃO E RESPEITO RELIGIOSO EXPRESSÕES DE VIDA E SUAS TRADIÇÕES
miscigenação 9
Q U E M
S Ã O
ORIXÁS?
O S
Os Orixás são as divindades das religiões africanas, onde cada um deles representa uma força da natureza, como: raios, chuvas, árvores, minérios e o controle de ofícios e das condições humanas, como: agricultura, pesca, metalurgia, guerra, maternidade, saúde. Cada Orixá possui um sistema simbólico particular composto de cores, comidas, cantigas, rezas, ambientes e oferendas. Os tipos mais conhecidos entre nós formam um grupo de 16 divindades. Estes deuses africanos são considerados intermediários entre os homens e Deus, e por possuírem emoções tão próximas dos seres humanos, conseguem reconhecer os nossos caprichos, os nossos amores, os nossos desejos. 10
Ogum
Exu: Orixá guardião dos templos, encruzilhadas, passagens, casas, cidades e das pessoas; mensageiro divino dos oráculos.
Iansã ou Oyá: Orixá feminino dos ventos, relâmpagos, tempestades e do Rio Niger (África).
Oxalá: Orixá do branco, da paz, da fé.
Ewá: Orixá feminino do Rio Yewa. Considerada irmã de Oxumaré, é a Orixá da beleza.
Ogum: Orixá do ferro, guerra, fogo e tecnologia.
Obá: Orixá feminino do Rio Oba; uma das esposas de Xangô.
Oxóssi: Orixá da caça e da fartura.
Nanã: Orixá feminino dos pântanos, e da morte; mãe de Obaluaiê.
Ossaim: Orixá das folhas, conhece o segredo de todas elas.
Irôco: Orixá da árvore sagrada (gameleira branca no Brasil).
Obaluaiê ou Omulu: Orixá das doenças epidérmicas e pragas; Orixá da cura.
Ibeji (Erês): Orixá-Criança, são duas divindades gêmeas infantis; são associados ao princípio da dualidade; por serem crianças, são ligados a tudo que se inicia e nasce: a nascente de um rio, o nascimento dos seres humanos, o germinar das plantas, etc.
Oxum: Orixá feminino dos rios, do ouro e do amor. Xangô: Orixá do fogo e trovão; protetor da justiça. Iemanjá: Orixá feminino dos lagos, mares e fertilidade; mãe de muitos Orixás
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questões mediadoras QUE SENSAÇÕES E EMOÇÕES AS CORES UTILIZADAS LHE PROVOCAM? QUAIS SÃO OS SENTIMENTOS QUE ESSE ORIXÁ TRANSMITE NA IMAGEM? O QUE FALA PARA VOCÊ A EXPRESSÃO DESSE ORIXÁ?
*Este material educativo é acompanhado por um jogo de oito cartas com mais questões e outras reflexões sobre a mitologia dos Orixás.
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Ewa
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atividades A NATUREZA DOS ORIXÁS As obras dessa exposição mostram a relação dos Orixás com a Natureza. Cada orixá corresponde a pontos de força da Natureza, como por exemplo, Iansã é dona dos ventos, Oxum é a mãe da água doce, Xangô domina raios e trovões. Que tal ampliar o olhar para essas relações? Pra começar, escolha uma das obras da exposição e perceba qual o ponto da Natureza presente nela. Convide um grupo de pessoas para criar coletivamente outra obra com os mesmos conceitos. Pode ser uma série de desenhos, fotografias, um vídeo, uma dança ou inventar músicas. Ao final da atividade façam uma reflexão sobre a arte e natureza, arte e religiosidade.
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SÍMBOLOS E SIGNOS Muitos signos e significados podem ser encontrados nas obras desta exposição. Que tal percebê-los de uma maneira diferente? Para isso, escolha uma das obras da exposição com que você mais se identifique e pense em um objeto (ou um símbolo) que possa representá-la. Depois disso, registre esse objeto através de um desenho, colagem ou fotografia. Ao final, mostre sua produção artística para que outras pessoas possam decifrar: que relações podem existir entre o significado deste objeto e a obra escolhida?
Obá
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XangĂ´ 16
O B R A PA R A O S OUVIDOS – audiodescrição – Na pintura, uma figura humana de pele vermelha, de semblante sério, com grandes lábios e cavanhaque, vestido com uma camisa branca, de manga comprida, estampada com listras e pontos na cor marrom, veste uma espécie de saia azul com estampas vermelhas, chapéu com ornamentos branco, vermelho e azul, está sentada sobre uma cadeira alta, uma espécie de trono colorido. Suas duas mãos seguram a sua frente um grande machado branco sobre a sua cabeça. Abaixo da cadeira há um pedestal e a imagem de um cavalo branco. A imagem está cercada de tons de azul claro, azul escuro e vermelho. A figura representa Xangô, Orixá da justiça, dos raios, do trovão e do fogo. O texto acima é uma audiodescrição de uma obra da exposição “Siso Oro – Imagens Falantes”. A audiodescrição é o principal recurso de acessibilidade aos conteúdos culturais visuais que beneficia não só as pessoas com deficiência visual e/ou com dificuldade de aprendizagem, mas também contribui com a alfabetização visual de qualquer pessoa. Que tal você descrever outras imagens dessa exposição para praticar
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CURIOSIDADES
A cultura Afro-brasileira se manifesta na música, religião e culinária O Brasil tem a maior população de origem africana fora da África e, por isso, a cultura desse continente exerce grande influência. A cultura da África chegou ao país, em sua maior parte, trazida pela escravidão africana na época do tráfico de escravos. Traços fortes da cultura africana podem ser encontrados hoje em variados aspectos da cultura brasileira, como a música, a dança, a religião, a culinária, o folclore, as festividades populares e diversas palavras da língua portuguesa. Os aspectos da cultura brasileira de origem africana passaram por um processo de revalorização a partir do século XX e que continua até os dias de hoje.
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Música Além do samba, que é o estilo brasileiro mais famoso no mundo, outros ritmos também vieram da África: Maracatu, Congada, Cavalhada. Muitos instrumentos musicais também vieram de lá: agogô, berimbau, caxixi, atabaque, cuíca, ganzá e muitos outros. Capoeira A capoeira, uma mistura de dança e luta, foi criada pelos escravos como uma estratégia de defesa. Embalados pelo som do berimbau, eles enganavam os capatazes, que achavam que estavam apenas dançando. A Capoeira é hoje Patrimônio Cultural Brasileiro e recebeu, em novembro de 2014, o título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Religião Na África, há muitas religiões diferentes. Antes de vir para cá, cada um seguia a religião de sua família, clã, ou grupo. Na época da escravidão, os negros trazidos da África eram obrigados a seguir o Catolicismo. Porém, a conversão não tinha efeito prático e as religiões de origem africana continuaram a ser praticadas secretamente. Essas reuniões eram uma mistura de cada religião, com rituais e cultura unidos e partilhados. Daí surgiu o Candomblé, sinônimo de tradições religiosas Afro-brasileiras em geral. Existem ainda outras religiões de origem africana, como a Umbanda, o Batuque e o Xambá. Culinária Outra grande contribuição da cultura africana está na culinária. Pratos como o vatapá, acarajé, caruru, sarapatel, bobó, galinha cabidela, cuscuz salgado, moqueca, a feijoada, mungunzá, canjica, quindim, pamonha, cocada, bala de coco e muitos outros exemplos são iguarias da cozinha brasileira e admirados em todo o mundo. Língua As línguas africanas exerceram muita influência no modo de falar do povo brasileiro. Algumas palavras de origem africana: BAGUNÇA, BATUCAR, CACHAÇA, CACHIMBO, CAÇULA, CAFOFO, CAFUNÉ, CANGA, CARIMBO, CATINGA, COCHILAR, DENDÊ, FUZUÊ, GANGORRA, JILÓ, MANDINGA, MARIMBONDO, MAXIXE, MINHOCA, MOLEQUE, QUIABO, QUILOMBO, SENZALA, SUNGA, TANGA, TITICA, ZABUMBA.
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– PARA SABER MAIS – GLOSSÁRIO Candomblé é uma religião derivada da África, onde se cultuam os orixás e que tem por base a anima (alma) da Natureza. É uma das religiões de matriz africana mais praticada, tendo mais de três milhões de seguidores em todo o mundo.
Cultura Afro-brasileira é o conjunto de manifestações culturais do Brasil que sofreram algum grau de influência da cultura africana desde os tempos do Brasil Colônia até a atualidade.
Iorubás ou Nagôs era a designação dada aos negros escravizados e que falavam o iorubá. Historicamente, habitavam o reino de Ketu (atual Benim), na África Ocidental. Do século XVIII e até 1815, foram escravizados e trazidos em massa para o Brasil.
Patrimônio Cultural Imaterial abrange as expressões culturais e as tradições que um grupo de indivíduos preserva em respeito da sua ancestralidade, para as gerações futuras, tais como os saberes, as celebrações, lendas, músicas e outras tradições.
LIVROS Orixás: deuses iorubás na Africa e no Novo Mundo - Pierre Fatumbi Verger Mitologia dos Orixás - Reinaldo Prandi SITES http://www.museuafrobrasil.org.br http://www.pierreverger.org/br/ http://enciclopedia.itaucultural.org.br/ ARTES (Artistas que falam dos valores religiosos afro-brasileiros) Música: Clara Nunes, Gilberto Gil, Baden Powel, Vinícius de Moraes, Pixinguinha, Dorival Caymmi, Os Ticoãns e Maria Bethânia Pintura: Carybé e Rubem Valentim Fotografia: Pierre Verger
REPRODUZA ESSE MATERIAL
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Sesc Rio Grande do Norte________________________________ Presidente do Conselho Regional do Sesc RN Marcelo Fernandes de Queiroz Diretor Regional do Sesc RN Nivaldo da Costa Pereira Diretora de Programas Sociais Ilsa Maria Araújo Galvão Diretora Administrativo Financeira Elza Izac de Souza Gerente de Cultura e Lazer Ana Caroline Araújo Vieira Duarte Gerente do Sesc Cidade Alta Tereza Cristina da Rocha Damasceno Coordenação de Cultura Sesc RN Daniel Aguiar de Rezende Equipe de Cultura Sesc Natal Augusto Araújo Neto Hilana Jassyane Bernardo Lopes Silva
Material Educativo_____________________________________ Elaboração do Conteúdo e Design Gráfico Lúcia Padilha Hassan Santos Colaboradores (Participantes da Oficina de Formação em Mediação Cultural e Materiais Educativos Galeria Sesc Cidade Alta 2018)
Andréa Cristina da Silva, Caetano Emanoel F. Costa, Daniel Aguiar de Rezende, Daniel Ferreira Torres, Eugênio Miguel L. Graça, Francisca Isídio de M. Moura, Hianna Camilla Gomes de Oliveira, Jennifer Katarina M. da Silva, Mª do Rosário V. S. Jordão, Marcio Mizael da Silva, Maria Isabel P. Torres, Maria Luzenir V. da Silva, Maria Shirliane de Lima, Marilene Guedes, Neilson Pequeno da Silva, Raquel Lima da Silva, Rochelle Evelin, Sheyla Chaves de Oliveira, Tereza Cristina R. Damasceno, Thiago Rodrigo Lima de Medeiros, Verônica F. Santos, Victor Oliveira da Mota e Walter Romero R. e S. Junior
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Galeria Sesc Cidade Alta Rua Cel. Bezerra, 33 84 3133.0360 www.sescrn.com.br