TROPICÁLIA NEOBARROCA ou TROPIFAGIA DOS SENTIDOS (+) material educativo
Isaías Medeiros
TROPICÁLIA NEOBARROCA ou TROPIFAGIA DOS SENTIDOS Isaías Medeiros
26 de abril a 23 de maio das 9h às 19h Galeria Sesc Cidade Alta – 2018 –
2
Galeria Sesc Cidade Alta – Sesc RN –
E
m mais uma ação do Sesc RN de estímulo à produção artística potiguar, desde 2015, artistas potiguares são escolhidos por meio de edital para expor seus trabalhos na Galeria Sesc Cidade Alta. Durante o período das exposições acontecem mediações em arte visuais estreitando o elo entre o público visitante e as obras de artes. Além de contextualizar o espectador sobre a exposição, as mediações culturais também desenvolvem ações de arte-educação com o público, incluindo grupos escolares. Em sua quarta edição, o projeto selecionou seis trabalhos para compor o calendário de exposições 2018: “Siso Oro – Imagens Falantes”, de Gil Leal; “Tropicália Neobarroca ou Tropifagia dos Sentidos”, de Isaías Medeiros; “Interferência Urbana”, de Flávio Aquino; “A Estrada é Longa” de Lucas MDS; “Cidade Invisível”, de Mário Rasec; e “Modern Violence”, de Matthieu Duvignaud.
3
ISAÍAS MEDEIROS E A ANTROPOFAGIA CULTURAL: 50 anos da Tropicália Só a Antropofagia nos une Oswald de Andrade
Vejo aromas, toco palavras, ouço cores, provo sons, cheiro poemas: essências flagrantes e fragrâncias de “TROPICÁLIA NEOBARROCA ou TROPIFAGIA DOS SENTIDOS”, terceira exposição de Isaías Medeiros. A motivação é o aniversário de 50 anos da Tropicália, movimento cultural de Literatura, Política, Música e Corpo com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Tom Zé (...). Aqui e hoje o movimento se reinicia sob o signo da Antropofagia Cultural, devoração cultural neobarroca a partir da figura descrita por Sarduy, Oroborus – Omnia Vorat – Isaías tudo devora ao modo tropifágico, com elegância pungente – aliás, para reconstrução de uma consciência artística fractal na contemporaneidade, tão necessária! Vislumbro, nas doze telas expostas, um resgate sinestésico experimental em ondas temporais da Tropicália, devorada do Concretismo; do Concretismo, devorador do Modernismo; do Modernismo antropófago oswaldiano, devorador do barroco brasileiro. Eis que me surge, para dialogar com Oswald de Andrade, uma “consciência participante” do artista: elipse da arte se fazendo e refazendo em dobras sinestésicas de profunda penetração cultural e de base sólida em teorias neobarrocas. Isaías Medeiros é, pois, a tradição da novidade estética, ação da ordem antropófaga, “profunda lei do mundo”. Leila Tabosa 4
Tropicácia
5
Gal Dona das Divinas Tetas
OLÁ! Este material educativo faz parte da exposição Tropicália Neobarroca ou Tropifagia dos Sentidos. Esta exposição apresenta um conjunto de obras que faz uma homenagem aos 50 anos da Tropicália, movimento cultural brasileiro que envolveu a música, a literatura, as artes visuais e a cultura popular, no final da década de 1960. São 12 pinturas que promovem o diálogo entre temas do Movimento Tropicalista e a linguagem estética do Neobarroco, uma vertente artística que busca revitalizar o estilo “Barroco” na contemporaneidade. Com a intenção de contribuir com novas experiências perceptivas e cognitivas a partir das obras desta exposição, este material educativo foi elaborado para que você some nossas propostas aos seus conhecimentos e faça relações com o que já sabe, para tornar tudo muito mais interessante. Neste material você vai encontrar informações sobre a exposição, sobre o artista, conhecimentos sobre a Tropicália, o Barroco e o Neobarroco, uma “Rede de Palavras”, dicas de fontes de pesquisa, questões para pensar, além de cartas e sugestões de atividades para fazer junto com outras pessoas. Você pode usar este material educativo do jeito que achar mais apropriado aos seus interesses. Conhecer Tropicália Neobarroca ou Tropifagia dos Sentidos poderá possibilitar um melhor entendimento do Movimento Tropicalista brasileiro como forma de pensamento e ação social, artística e cultural, vivenciar novas experiências visuais, sonoras e desenvolver novas relações perceptivas e sociais. BOM PROVEITO! 7
S O B RE
A
EXP OS IÇ ÃO
A exposição Tropicália Neobarroca ou Tropifagia dos Sentidos reúne 12 pinturas de Isaías Medeiros, feitas com tinta a óleo sobre tela, em homenagem aos 50 anos da Tropicália. Através de uma diversidade de cores e signos, Isaías convida o público a conhecer um pouco mais desse movimento cultural brasileiro, associando o contexto histórico, político e social da Tropicália com o momento presente que estamos vivenciando no Brasil. A Tropicália, também conhecida como Movimento Tropicalista ou Tropicalismo, surgiu no Brasil, no final da década de 1960, foi considerado um movimento cultural contestador e de ruptura, o espelho da síntese cultural brasileira, pois mesclava a cultura popular brasileira junto com inovações estéticas de vanguarda, se expressando na música, na literatura, nas artes visuais e na cultura popular. As pinturas de Isaías Medeiros buscam valorizar a contribuição artística, social, política e cultural do Movimento Tropicalista como forma de conhecimento da cultura brasileira e de consciência política de uma época. A partir de pesquisas literárias e da estética neobarroca, o artista criou 12 imagens que pretendem provocar no público o olhar para o passado com os pés no presente, associando tanto os aspectos sócio-políticos como as dimensões da cultura e do comportamento conectadas à Tropicália. Dessa maneira, a exposição Tropicália Neobarroca ou Tropifagia dos Sentidos pretende levantar questões sobre a riqueza de signos e significados do Tropicalismo para a compreensão da nossa contemporaneidade, como também revelar a estética neobarroca como forma de expressão da arte pós-moderna, através da explosão de cores em suas pinturas e de novas possibilidades visuais.
8
S OBR E
I
O
ARTISTA
saías Medeiros vive e trabalha em Mossoró (RN). Pintor desde os oito anos de idade, Já realizou trabalhos em ONG’s como educador e voluntário nas áreas de artesanato e pintura no interior do Rio Grande do Norte. Atualmente é aluno do Curso de Letras e Artes da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). Isaías desenvolve uma permanente pesquisa de cunho histórico-literário sob a ótica dos “Estudos Barrocos e Neobarrocos” e que exercem influência em suas obras artísticas. Em 2015, realizou a exposição individual “Barroco Tropical: Uma Fiesta de Colores” na Galeria de Arte do Memorial da Resistência, durante os I Simpósio de Estudos Barrocos e Neobarrocos da UERN. Em 2016, realiza sua segunda exposição individual intitulada “As Cores Vivas do Gozo”, na Sala Joseph Boulier (Galeria de Arte do Memorial). Em 2017, participou da exposição coletiva do II Salão Dorian Gray de Arte Potiguar, em Mossoró. Isaías se autodefine como um pintorpesquisador e através de sua arte pretende contribuir para uma politização e acesso à cultura por parte do público.
PALAVRAS -CHAVE Esses são alguns conceitos presentes na exposição Tropicália Neobarroca ou Tropifagia dos Sentidos para você refletir e tecer relações.
ARTE NEOBARROCA RESPEITO PELA DIVERSIDADE ARTE PÓS-MODERNA
ANTROPOFAGIA CULTURAL
CULTURA DE MASSA VISÃO CRÍTICA SOCIAL, POLÍTICA E ARTÍSTICA ELEMENTOS DA FLORA TROPICAL 10
OLHAR PARA O PASSADO COM OS PÉS NO PRESENTE CULTURA NACIONAL DEVORAÇÃO CULTURAL EXAGERO BARROCO
DIVERSIDADE DE CORES DELEITE DOS SENTIDOS
OLHAR SINESTÉSICO SINCRETISMO CULTURAL
POSSIBILIDADES VISUAIS ARTE E POLÍTICA
TROPICÁLIA 11
O
Q U E
F O I
A
TROPICÁLIA? Tropicália, Tropicalismo ou Movimento Tropicalista surgiu no Brasil, entre 1967 e 1968, ainda no tempo da ditadura militar. Um grupo de artistas, cantores, poetas e compositores se reuniram para trazer algo novo para o cenário artístico brasileiro. A princípio, o movimento manifestou-se principalmente na música sendo depois ampliado para as artes visuais, o cinema, o teatro, a literatura, a moda e a cultura popular. O clima tropicalista contagiou o Brasil. O Movimento Tropicalista trouxe várias inovações para o cenário cultural brasileiro e representou um rompimento com a arte dominante na época da ditadura. A Tropicália foi principalmente uma renovada forma de agir e de participar do cenário cultural nacional, com ares críticos e transformadores. Na música, as letras das canções eram inovadoras, criando jogos de linguagem, se aproximando da poesia dos concretistas. Musicalmente, a Tropicália unia uma mistura da cultura popular, do rock psicodélico, da música erudita, entre outros, dando conta de várias manifestações da cultura brasileira. O som da guitarra elétrica convivia com violinos e com o berimbau. Era o resgate do Movimento Antropofágico de Oswald de Andrade aliado a um retorno às raízes das tradições nacionais. Os tropicalistas transformaram a música popular brasileira, sendo grandes expoentes da arte brasileira de vanguarda. Eles se caracterizavam pelo excesso, roupas coloridas, cabelos compridos e agregavam diversas vertentes musicais, influenciados pela contracultura. A proposta, ou a transformação que a Tropicália pretendia, consistia em deglutir todas as tendências, informações, manifestações do pensamento e então expressar a realidade do artista brasileiro. 12
Música
Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Tom Zé, Os Mutantes, Rogério Duprat, Nara Leão, José Carlos Capinan e Torquato Neto são os artistas que se destacam no movimento musical da Tropicália. rtes Visuais O termo “tropicália” foi o título de uma obra de Hélio Oiticica exposta no MAM-RJ, em 1967, que tinha como proposta a participação do espectador na criação da obra, rompendo com o suporte tradicional e condicionamentos estéticos e culturais.
A
Cinema
As produções dessa época ficaram conhecidas como o segundo momento do “Cinema Novo”. Desse período destacam-se os cineastas Glauber Rocha, com o filme “Terra em Transe”, e Joaquim Pedro de Andrade, com o filme “Macunaíma”.
Teatro
Destacam-se as peças “O Rei da Vela”, de José Celso Martinez Corrêa, em 1967, e “Roda Viva”, de Chico Buarque, em 1968.
Literatura
A Poesia Concreta e a Tropicália tinham como ponto de interseção o Movimento Antropofágico de Oswald de Andrade. A canção “Batmacumba” pode ser considerada um exemplo desse diálogo. oda A Tropicália transformou os gostos da sua época, especialmente em relação à maneira de se vestir. A cultura hippie foi a principal influência do movimento e as roupas coloridas marcaram toda uma geração, servindo de inspiração até hoje em dia.
M
13
questões mediadoras QUAIS SÃO OS ELEMENTOS TROPICAIS BRASILEIROS QUE VOCÊ INDENTIFICA NESSA OBRA? DE QUE MANEIRA ESSA DIVERSIDADE DE CORES ESTÁ PRESENTE NA NOSSA CULTURA? QUE SENSAÇÕES AS CORES DESSA OBRA PROVOCA EM VOCÊ? *Este material educativo é acompanhado por um jogo de oito cartas com mais questões e outras reflexões sobre a Tropicália.
Caetano Falo Frutal 14
15
atividades MULTICORES TROPICAIS E COTIDIANAS As obras dessa exposição mostram uma mistura de cores expressivas que retratam signos e símbolos da Tropicália e estimulam o olhar para uma mistura de sensações e sentidos de diferentes naturezas. As multicores, além de fazerem referência ao colorido tropical do Brasil, também simbolizam a diversidade da cultura brasileira. Que tal ampliar o olhar e perceber essa variedade de cores e culturas ao seu redor? Pra começar, escolha uma ou mais obras da exposição e perceba quais as cores e os símbolos tropicais que você também costuma encontrar em seu cotidiano: nos caminhos por onde você anda, nas comidas, frutas, jardins, nas roupas que você e outras pessoas usam. Em seguida, crie uma série de fotografias para registrar todos esses elementos coloridos e tropicais presentes em seu dia a dia. Ao final, faça uma reflexão sobre a diversidade de cores ao seu redor e como elas podem representar a cultura brasileira.
16
OLHAR PARA O PASSADO COM OS PÉS NO PRESENTE A Tropicália surgiu no tempo da ditadura militar. Nessa época, a música brasileira não estava tendo nenhum posicionamento crítico em relação às questões sociais e políticas que o país estava vivendo. A Tropicália foi contra isso. As letras das canções tratavam da situação política do país e tinha a melodia como suporte da mensagem, criando jogos de linguagem, se aproximando da poesia dos concretistas. Que tal perceber essas mensagens nas letras das músicas da Tropicália? Pra começar, faça uma pesquisa sonora das músicas dessa época e tente relacionar tanto a letra como os arranjos sonoros com a proposta crítica do movimento. Em seguida, faça uma reflexão sobre o atual momento social e político que o Brasil está vivendo e tente perceber as semelhanças e diferenças do passado e do presente. Chacrinha Cultura Massiva
17
Gil and Power Flowers 18
O B R A PA R A O S O U V I DOS – audiodescrição – Na pintura, um homem de pele negra, de cabelos curtos, barba e bigode, de olhar penetrante, está vestido com uma bata de manga comprida, de cor laranja e adornos em azul. Ele tem no pescoço um colar de contas brancas e na gola da bata existem quatro broches redondos com as imagens dos Beatles. Ele está sentado no chão e segura uma coroa de flores coloridas que sustentam três tocadores de pífano em miniatura. Ao fundo, uma moldura de grandes folhas verdes. Atrás dele, no alto da imagem, existem dois símbolos em espiral, multicoloridos, com um olho no centro de cada um deles. A imagem representa Gilberto Gil, um dos artistas que se destacaram na Tropicália. O texto acima é uma audiodescrição de uma obra da exposição “Tropicália Neobarroca ou Tropifagia dos Sentidos”. A audiodescrição é o principal recurso de acessibilidade aos conteúdos culturais visuais que beneficia não só as pessoas com deficiência visual e/ou com dificuldade de aprendizagem, mas também contribui com a alfabetização visual de qualquer pessoa. Que tal você descrever outras imagens dessa exposição para praticar mais a audiodescrição?
19
– PARA SABER MAIS – GLOSSÁRIO Barroco é o estilo artístico que surgiu no século XVI e apresenta características detalhistas, dramáticas e expressivas que de alguma maneira mexem com o emocional do espectador.
Tropifagia é um termo contemporâneo que pode ser entendido como “comer o país tropical”, ou em outro entendimento, um movimento cultural que pretende revelar o Brasil antropofágico da atualidade.
Neobarroco é um termo usado para descrever criações artísticas que buscam revitalizar o estilo “Barroco”. Hoje em dia, o termo “neobarroco” muitas vezes se refere às obras de contemporâneas que tratam das rupturas, descontinuidades e irregularidades do mundo pós-moderno.
Movimento Antropofágico foi uma manifestação artística brasileira da década de 1920, liderada por Oswald de Andrade, cuja proposta era de estruturar uma cultura de caráter nacional, assimilar outras culturas, mas não copiar. A marca símbolo do Movimento Antropofágico é o quadro “Abaporu” (1928) de Tarsila do Amaral.
LIVROS Verdade Tropical - Caetano Veloso, Editora Companhia das Letras, 2017 Tropicália, Alegoria, Alegria - Celso Favaretto, Editora Ateliê, 2000 SITES http://tropicalia.com.br/ http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo3741/tropicalia https://www.suapesquisa.com/musicacultura/tropicalismo.htm MÚSICAS “Tropicália” (Caetano Veloso, 1968) “Alegria, Alegria” (Caetano Veloso, 1967) “Domingo no parque” (Gilberto Gil, 1967) “Panis et Circencis” (Gilberto Gil e Caetano Veloso, 1968) “Atrás do trio elétrico”, (Caetano Veloso, 1969) “Aquele Abraço” (Gilberto Gil, 1969) “País Tropical” (Jorge Ben Jor, 1969) “A Minha Menina” (Os Mutantes, 1968) “Divino, Maravilhoso” (Gal Costa, 1968)
REPRODUZA ESSE MATERIAL
20
Sesc Rio Grande do Norte________________________________ Presidente do Conselho Regional do Sesc RN Marcelo Fernandes de Queiroz Diretor Regional do Sesc RN Nivaldo da Costa Pereira Diretora de Programas Sociais Ilsa Maria Araújo Galvão Diretora Administrativo Financeira Elza Izac de Souza Gerente de Cultura e Lazer Ana Caroline Araújo Vieira Duarte Gerente do Sesc Cidade Alta Tereza Cristina da Rocha Damasceno Coordenação de Cultura Sesc RN Daniel Aguiar de Rezende Equipe de Cultura Sesc Natal Augusto Araújo Neto Hilana Jassyane Bernardo Lopes Silva
Material Educativo_____________________________________ Elaboração do Conteúdo e Design Gráfico Lúcia Padilha Hassan Santos Colaboradores (Participantes da Oficina de Formação em Mediação Cultural e Materiais Educativos Galeria Sesc Cidade Alta 2018)
Andréa Cristina da Silva, Caetano Emanoel F. Costa, Daniel Aguiar de Rezende, Daniel Ferreira Torres, Eugênio Miguel L. Graça, Francisca Isídio de M. Moura, Hianna Camilla Gomes de Oliveira, Jennifer Katarina M. da Silva, Mª do Rosário V. S. Jordão, Marcio Mizael da Silva, Maria Isabel P. Torres, Maria Luzenir V. da Silva, Maria Shirliane de Lima, Marilene Guedes, Neilson Pequeno da Silva, Raquel Lima da Silva, Rochelle Evelin, Sheyla Chaves de Oliveira, Tereza Cristina R. Damasceno, Thiago Rodrigo Lima de Medeiros, Verônica F. Santos, Victor Oliveira da Mota e Walter Romero R. e S. Junior
21
Galeria Sesc Cidade Alta Rua Cel. Bezerra, 33 84 3133.0360 www.sescrn.com.br