Revista Latitude - 6

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CULTURA / culture

No município de São Caetano de Odivelas, os bois Tinga e Faceiro têm um quê de carnaval em Veneza

LATITUDE 6

In São Caetano de Odivelas municipality, Tinga and Faceiro bois slightly remember Venice’s carnival

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O mês de junho no Brasil é uma verdadeira festa em homenagem a Santo Antônio, São Pedro e São João. O país inteiro ganha um colorido especial, mas o período junino traz, para além das tradicionais quadrilhas, outras manifestações culturais que possuem características únicas e que só existem no Pará. Os bois de máscara, com ares de carnaval em Veneza, e os cordões de pássaros, com um quê de teatro de revista, são tradições que lutam para se manter vivas no imaginário popular, mas que ainda atraem apaixonados que repassam esta arte folclórica de geração a geração. O município de São Caetano de Odivelas, no nordeste paraense, é um destes redutos da manutenção dessa que é uma modalidade bastante original de bumba-meu-boi, os bois de máscara, cuja evolução mantém características próprias com um peculiar toque carnavalesco. Praticamente não há registros sobre como tudo começou, porém moradores mais antigos costumam lembrar que, aos poucos, as comédias dos bumba-meu-boi foram sendo substituídas e adaptadas. Em São Caetano, um dos nomes que são referência quando se fala em boi é José Chagas Zeferino, 82, guardião do Tinga, que muitos

consideram o mais antigo boi de máscaras em atividade no município, com 73 anos. Outro boi tradicional é o Faceiro, que passou a ter essa denominação em 1998 quando, após 51 anos de paralisação, foi resgatado. Sua origem remonta ao ano de 1937. O novo Faceiro, feito a partir do esqueleto da cabeça de um boi verdadeiro, foi confeccionado por Antonio dos Reis Viégas, conhecido como Mestre Dos Reis, o maior artífice nessa área na região. “Fui criado no interior, com os pais, embarcando, pescando, mas meu intuito sempre foi criar as coisas, desenhar”, diz Dos Reis, 78. “O homem precisa dessas coisas. Não é só viver que nem gado, não. Ele tem que construir coisas para se alegrar. Como a música”, ensina. Além do boi, também há entre os personagens os Cabeçudos, bonecos de cabeça enorme feitos exclusivamente por Edgar de Santana Garcia, 56 anos, que há 33 anos se dedica a essa atividade, e as máscaras. O material é básico: jornal, goma e papelão. “O resto é a criatividade de cada um na pintura e na forma. Depois é só ir para a rua brincar”, convida Lúcio Chagas, 65, que aprendeu a produzir máscaras com a mãe aos nove anos de idade.


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