História de Jerusalém 4.000 anos da Cidade Sagrada, em quadrinhos

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VINCENT LEMIRE

CHRISTOPHE GAULTIER

HISTÓRIA DE JERUSALÉM

4.000 anos da Cidade Sagrada, em quadrinhos

HISTÓRIA DE JERUSALÉM

4.000 anos da Cidade Sagrada, em quadrinhos

Copyright © Les Arènes, Paris, 2022

Esta edição é publicada mediante acordo com a Éditions de Les Arènes, em conjunto com sua agente devidamente nomeada, LVB & Co. Agência e Consultoria Literária, Rio de Janeiro, Brasil. Todos os direitos reservados.

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direção editorial

Arnaud Vin

editor responsável

Eduardo Soares

revisão

Eduardo Soares

adaptação de capa e miolo

Viviana Mara

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Lemire, Vincent

História de Jerusalém : 4.000 anos da Cidade Sagrada, em quadrinhos / texto e roteiro Vincent Lemire, ; desenhos Christophe Gaultier ; cores: Marie Galopin ; tradução Bruno Ferreira Castro e Fernando Scheibe. -- 1. ed. -São Paulo : Nemo, 2025.

Título original: Histoire de Jérusalem.

ISBN 978-85-8286-643-6

1. Histórias em quadrinhos 2. Jerusalém - História I. Gaultier, Christophe. II. Galopin, Marie. II. Título.

25-261024

CDD-741.5

Índices para catálogo sistemático: 1. Histórias em quadrinhos 741.5

Eliete Marques da Silva - Bibliotecária - CRB-8/9380

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HISTÓRIA

DE JERUSALÉM

4.000 anos da Cidade Sagrada, em quadrinhos

TEXTO E ROTEIRO: VINCENT LEMIRE

DESENHOS: CHRISTOPHE GAULTIER

CORES: MARIE GALOPIN

TRADUÇÃO: BRUNO FERREIRA CASTRO E FERNANDO SCHEIBE

Jerusalém hoje

Olá!
Shalom!
Salam!
Meu nome é Zeitun…
…ou Olivia, o que você preferir.
Nasci há cerca de 4.000 anos…
…no topo de uma colina que leva meu nome: o Monte das Oliveiras.
Har Ha-Zeitim em hebraico… Jabal al-Zaytoun em árabe…

Atrás de mim, o sol nascente… o deserto a perder de vista, o Mar Morto.

À minha frente, Jerusalém, o sol poente… a planície fértil e o Mediterrâneo.

No topo dessa crista, a 800 metros de altitude, entre a terra e o céu, entre os humanos e os deuses, entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos…

…Jerusalém é o ponto de contato entre tudo isso.

No início desta história não havia nada…

Isso sou eu.

Quer dizer, sim… Eu estava aqui.
Devo minha vida a um pastor que por aqui passou.
Foi preciso água… Muita água…
Talvez até um dilúvio.
Um pouco de sorte… E sol…

Nesses 4.000 anos…

Minhas raízes mergulharam profundamente no solo, meus galhos se lançaram alto no céu…

E eu vi tudo, vivi tudo, observei tudo…

posso contar a vocês…

…toda a história de Jerusalém!

Muito sol…
Hoje

CAPÍTULO I

NO INÍCIO ERA

O TEMPLO

( � 2000 A.C.  � 586 A.C.)

Não é fácil entender como essa pequena cidade perdida no meio das montanhas se tornou o centro do mundo.

Em primeiro lugar, Jerusalém é quase desprovida de água potável… Até meados do século XX, isso será um verdadeiro fator limitante ao seu desenvolvimento.

Na verdade, há uma pequena fonte, o Giom, que corre ao pé do Monte das Oliveiras… Foi em torno desse fio de água que se estabeleceram as primeiras populações sedentárias, há cerca de 4.000 anos, na época em que nasci.

Vi então as primeiras sepulturas surgirem, na encosta leste do vale do Cedrom… e isso nunca mais parou desde então.

Estou em boa posição para saber que o clima de Jerusalém é particularmente severo. Nem uma gota de chuva durante seis meses do ano, entre abril e outubro… Invernos rigorosos, nevascas, verões sufocantes, noites frias, tempestades, vento…

Na Cidade Santa, o céu frequentemente se faz lembrar pelos seres humanos!

Além disso, Jerusalém sempre esteve localizada longe das rotas comerciais. Basta olhar para um mapa ou perguntar aos meus amigos pássaros.

…Ou mais a oeste, na planície costeira.

Os mercadores passam mais ao sul, no deserto do Neguev, para fazerem comércio entre a Península Arábica e o Egito, passando pelo Sinai... Outras rotas passam mais a leste, no vale do Jordão, entre a Anatólia e o Mar Vermelho…

MEDITERRÂNEO

SINAI

NEGUEV •

JERUSALÉM

EGITO

Na verdade, Jerusalém é uma cidade bastante inacessível, as pessoas não chegam aqui por acaso…

A leste, o Monte das Oliveiras. Nas tradições monoteístas, é nesse morro que acontecerá o Juízo Final –Yom HaDin em hebraico, Yawm ad-Dyn em árabe…

Neste terreno acidentado, três morros se sobressaem:

No centro, o Ofel. Uma acrópole, que já era um santuário nos tempos pré-bíblicos. Hoje é chamado de Haram al-Sharif ou Monte do Templo.

A oeste, o Monte Sião, ora integrado às muralhas, ora do lado de fora, como é o caso hoje… Foi ele que deu seu nome ao sionismo.

“O

Dia do Acerto de Contas”…
MAR VERMELHO

Esses três montes são separados por três vales profundos.

O vale do Tiropeon, no centro, menos profundo, corta a cidade intramuros ao meio.

O Vale do Cedrom, a leste, separa a cidade do Monte das Oliveiras; ele abriga a Fonte de Giom… É o mundo dos mortos e dos cemitérios, e está cheio de histórias apocalípticas.

E deu nome à atual rua al-Wad, “o vale” em árabe.

O Vale de Hinom, a oeste, muito íngreme, junta-se aos outros dois vales abaixo da aldeia de Silwan, ao nível do Poço de Jó… Na Idade Média, foi escavado ali um enorme açude para dar de beber aos rebanhos, a “Piscina do Sultão”… Hoje é um anfiteatro ao ar livre.

Imaginem um camponês que tira água do Poço de Jó para regar uma árvore no topo do Monte das Oliveiras… Ele deve subir 200 metros em apenas um quilômetro de distância! Com certeza ninguém nunca se instalou aqui querendo fazer fortuna com a agricultura!

A rocha calcária aflora em quase todos os lugares, o solo é fraco, a terra desliza pelas encostas à primeira chuva forte, precisa ser retida com terraços de pedra, que os homens reconstroem obstinadamente há milênios.

A rocha é perfurada por uma infinidade de alvéolos e grutas, de que os habitantes de Jerusalém sempre fizeram necrópoles, santuários ou cisternas, depois de as terem explorado como pedreiras…

…um verdadeiro queijo Gruyère!

Minhas raízes bem sabem que a cidade subterrânea é tão importante quanto a cidade da superfície: é lá que

Uma última coisa para completar este quadro idílico: Jerusalém está localizada na falha geológica da Grande Fenda, que separa as placas tectônicas da África, da Arábia e da Eurásia… A leste, a cidade domina o fosso jordaniano, o ponto mais baixo do globo… Os terremotos são frequentes, destruidores e mortíferos. estão guardados os mortos, os vestígios, as tradições… e a água potável.

Com tudo isso, não é de admirar que Jerusalém tenha permanecido por muito tempo uma cidade bastante insignificante.

Antes de entrar na história bíblica, era uma pequena cidade cananeia como qualquer outra, típica da Idade do Bronze.

Por volta de 1900 a.C., o Ofel é cercado de uma muralha e a Fonte de Giom é fortificada.

Do meu mirante, eu tinha uma vista incomparável dessas grandes obras, que o arqueólogo inglês Charles Warren só descobrirá no final do século 19.

Mas, para conhecer realmente a história de Jerusalém naquela época, perguntem às minhas primas palmeiras do vale do Nilo: a cidade estava então sob o domínio do império dos faraós!

Numa estatueta de 1800 a.C., descoberta no Egito, fala-se da cidade de Rushalimum.

É a mais antiga menção escrita a Jerusalém conhecida até hoje.

Em El-Amarna, capital do faraó Aquenáton, foram encontradas sete tabuletas gravadas por volta de 1400 a.C. pelos escribas do rei de Jerusalém Abdi-Heba, que estava lutando contra as tribos nômades dos Habiru… possivelmente, longínquos ancestrais dos hebreus.

Escriba! Escreve aí! Ó, Faraó!...

…Eu me prostro sete vezes diante de ti!…

As tabuletas estão redigidas em acadiano; revelam que Abdi-Heba foi educado na corte do faraó. Em 2010, um minúsculo fragmento de uma tabuleta datada desse período foi encontrado em Jerusalém.

…Envia-nos arqueiros como reforços rapidamente!

Todas essas descobertas provam que, em meados do segundo milênio a.C., Jerusalém era uma cidade-Estado da órbita do Egito, com uma corte real, escribas e uma administração.

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