GEÓR GICAS
tradução, estudo e notas : Márcio Meirelles Gouvêa Júnior CLÁSSICA
Públio Virgílio Marão
GEÓR GICAS
ÉS R I E OBR A S C OM P L E T SA VIR GÍ LIO de
tradução, estudo e notas Márcio Meirelles Gouvêa Júnior
Copyright da tradução © 2025 Márcio Meirelles Gouvêa Júnior
Copyright desta edição © 2025 Autêntica Editora
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Título original: Georgica
coordenador da coleção clássica
Márcio Meirelles Gouvêa Júnior
editoras responsáveis
Rejane Dias
Cecília Martins
revisão
Julia Sousa
projeto gráfico
Diogo Droschi
diagramação
Waldênia Alvarenga
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Virgílio
Geórgicas / Virgílio ; tradução, estudo e notas Márcio Meirelles Gouvêa Júnior. -- 1.ed. -- Belo Horizonte, MG : Autêntica Editora, 2025. -- (Coleção Clássica)
Título original: Georgica
ISBN 978-65-5928-586-0
1. Poesia épica 2. Poesia latina I. Gouvêa Júnior, Márcio Meirelles. II. Título. III. Série.
25-272514
CDD-873
Belo Horizonte
Índices para catálogo sistemático: 1. Poesia épica : Literatura latina 873
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A coleção Clássica
A coleção Clássica tem como objetivo publicar textos de literatura – em prosa e verso – e ensaios que, pela qualidade da escrita, aliada à importância do conteúdo, tornaram-se referência para determinado tema ou época. Assim, o conhecimento desses textos é considerado essencial para a compreensão de um momento da história e, ao mesmo tempo, a leitura é garantia de prazer. O leitor fica em dúvida se lê (ou relê) o livro porque precisa ou se precisa porque ele é prazeroso. Ou seja, o texto tornou-se “clássico”.
Vários textos “clássicos” são conhecidos como uma referência, mas o acesso a eles nem sempre é fácil, pois muitos estão com suas edições esgotadas ou são inéditos no Brasil. Alguns desses textos comporão esta coleção da Autêntica Editora: livros gregos e latinos, mas também textos escritos em português, espanhol, francês, alemão, inglês e outros idiomas.
As novas traduções da coleção Clássica – assim como introduções, notas e comentários – são encomendadas a especialistas no autor ou no tema do livro. Algumas traduções antigas, de qualidade notável, serão reeditadas, com aparato crítico atual.
Não se trata de edições “acadêmicas”, embora vários de nossos colaboradores sejam professores universitários.
Os livros são destinados a leitores atentos – aqueles que sabem que a fruição de um texto demanda prazeroso esforço –, que desejam ou precisam de um texto clássico em edição acessível, bem cuidada, confiável.
Nosso propósito é publicar livros dedicados ao “desocupado leitor”. Não aquele que nada faz (esse nada realiza), mas ao que, em meio a mil projetos de vida, sente a necessidade de buscar o ócio produtivo ou a produção ociosa que é a leitura, o diálogo infinito.
Oséias Silas Ferraz
Agradecimentos
a Eduardo Félix, Oséias Ferraz, Filomena Barata e Guilherme Gontijo, que tanto ajudaram nesta tradução.
Para Teresa.
Introdução
49 Livro I
Livro II 84 Livro III 103 Livro IV
123 Virgílio: breve biografia
129 Vida de Virgílio
Suetônio/Élio Donato
137 Glossário dos nomes
155 Referência s
159 Notas
Introdução
1. Carmen perfectum
As Geórgicas sempre foram consideradas um poema perfeito. Para o filósofo renascentista Michel de Montaigne, elas “são a mais perfeita obra da poesia”;1 para John Dryden, poeta e tradutor inglês do século XVII, elas “têm toda a perfeição que se pode esperar de um poema escrito pelo maior dos poetas, na flor da idade, quando a sua imaginação já se encontrava pronta, a inspiração aquecida, o julgamento estabelecido e todas as suas faculdades em pleno vigor e maturidade”.2 Já Odorico Mendes, tradutor brasileiro do século XIX, considerou-as não só a mais perfeita obra do poeta latino, mas “o poema mais perfeito que nos legou a Antiguidade”;3 ao passo que, na segunda metade do século XX, a pesquisadora e tradutora portuguesa Maria Helena da Rocha Pereira afirmou serem as Geórgicas “formalmente o mais perfeito de todos os poemas latinos”.4 Pela unanimidade desse juízo, é preciso indagar em que consiste tal perfeição. Para começar a reflexão, é fácil acompanhar a opinião de T. S. Eliot, no sentido de que
1 Montaigne, 2000, p. 351.
2 Virgil, 1697, p. 49.
3 Virgílio, 1949, p. 12.
4 Rocha Pereira, 2002, p. 249.
Virgílio foi o maior dos poetas clássicos e, para além disso, foi por excelência o próprio poeta clássico do Ocidente.5 Afinal, a partir da concepção eliotiana da maturidade como a mais importante qualidade das obras clássicas, encontramos na poesia de Virgílio exatamente a noção de apogeu de um tempo e de um povo. Ouvimos ali a voz do sereno esplendor de uma civilização consciente de sua importância histórica, já solidamente polida e refinada segundo os princípios educacionais da humanitas, em seus sentidos objetivo e subjetivo de patrimônio cultural. Vemos em seus versos o pertencimento a uma literatura robusta e capaz de estabelecer uma consistente tradição poética, com senso crítico do passado, confiança na produção presente e firme certeza de sua perenidade, com leitores aptos a recebê-la e dela fruírem. Além disso, constatamos na poesia de Virgílio a maturidade da linguagem – na época em que o latim atingira a máxima consistência de suas estruturas, fora experimentado pelos grandes oradores, e alcançava, de forma abrangente na sociedade, o pleno desenvolvimento que a faria transformar-se no modelo definitivo do idioma. Para mais, no caso das Geórgicas, ainda percebemos em Virgílio outra maturidade – a maturidade pessoal, decorrente de sua consciência histórica, de seu conhecimento em ciências naturais, ética, política, filosofia, religião e costumes dos povos. Graças a esse aspecto individual, chegamos a uma obra plena e livre de provincianismos – no sentido de servilismo literário e irrefletida dependência cultural. Por fim, considerando a importância do Império Romano para a história da formação do mundo ocidental e de suas línguas e literaturas, bem como a relevância das
5 Eliot, 1945.
obras produzidas por seus poetas para a literatura dos outros povos e outros tempos, que extrapolaram os limites da civilização romana para alcançar em pleno vigor a contemporaneidade, percebe-se que, de fato, a acompanhar inteiramente a noção de maturidade de T. S. Eliot, Virgílio foi o mais clássico de todos os poetas da Antiguidade.
De igual maneira, como adiante se verá com mais detalhes, também é fácil concordar com o historiador e latinista Pierre Grimal, no sentido de que, especificamente no campo formal, as Geórgicas foram a mais bem-acabada realização do poeta:
É certo que as Geórgicas, que são a obra mais perfeita de Virgílio, testemunham um longo trabalho. O equilíbrio da composição, que dá aos quatro cantos extensão semelhante, a pureza da língua, sempre clara e harmoniosa, a verdade dos episódios, a precisão de um pensamento que chega a ilustrar cada técnica da agricultura associando-a a imagens inesquecíveis, nada de tudo isso poderia ser dado pelos deuses.6
Assim, na conjunção da maturidade da língua e da obra com a sua excelência técnica, pode-se começar a compreender a unanimidade do julgamento das Geórgicas como um carmen perfectum.
2. Contexto histórico
Dando crédito às informações transmitidas na Vita Vergili, a mais antiga biografia de Virgílio, atribuída a
6 Grimal, 1985, p. 117.
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