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uma clara dimensão ética, na qual as regras são claramente definidas pelo grupo. As cenas que ali se desenrolam se pautam em um extraordinário fairplay, que amplia a crença no outro. A presente obra nos faz pensar inúmeras questões da convivência humana, sobretudo aquelas que se referem à educação e ao cotidiano escolar. O que essas práticas alternativas poderiam nos ensinar, a nós, pais, professores e gestores educacionais, quanto à formação de nossos jovens? Por que será que estes se aplicam tão dedicadamente a essas práticas, mas não o fazem da mesma forma em relação às praticadas em sala de aula? O trabalho de Carla nos dá uma série de pistas para responder essas questões. (Des)constrói velhos chavões e nos mostra a fragilidade das teorias psicológicas da motivação que, no fundo, só reforçam preconceitos individualistas. Suas análises se concentram no campo da cultura. Ao revelar os meandros de uma prática cultural, a autora nos faz entrar na ginga que o mundo tem. Gingar é não perder o eixo, de forma alguma. É, ao contrário, uma forma de mantêlo, só que totalmente flexível. Ginguemos, então.
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Entre gingas e berimbaus
Neste livro, a autora Carla Linhares Maia trata de jovens e suas expressões culturais ao lançar seu olhar para um grupo de capoeira que se reúne no espaço de uma escola pública municipal. A intenção da autora é analisar a participação cultural voluntária de jovens para descrever e interpretar as vivências juvenis e buscar o conhecimento e a compreensão das diversas expressões das culturas construídas e introduzidas no cotidiano escolar pelos alunos e os modos como a escola se relaciona com eles, por seus educadores e seus projetos político-pedagógicos. A autora revela uma cultura juvenil marcada pela diferença e pela diversidade e mostra como a linguagem do corpo, a oralidade e os simbolismos mostram a face de um jovem que circula em diferentes espaços e sofre estímulos de uma sociedade globalizada fortemente acometida pela hibridez cultural e pelo excesso de informações. A partir dessa realidade, o que nos resta é perguntar: Como nosso jovem se manifesta culturalmente, articulando-se em grupo no ambiente escolar?
Luiz Alberto de Oliveira
Carla Linhares Maia é graduada em História (UFMG), mestre em Educação (PUC Minas), doutoranda em Educação (FaE-UFMG) e pesquisadora do Educação e Cultura – EDUC (PUC Minas) e do Observatório da Juventude (FaE-UFMG).
ISBN 978-85-7526-325-9
www.autenticaeditora.com.br 0800 2831322 9 788575 263259
Culturas juvenis e escola
Cultura, Mídia e Escola
7/5/2008
Entre gingas e berimbaus
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Carla Linhares Maia
Uma leitura atenta acerca das experiências juvenis no mundo contemporâneo é quase que obrigatória para quem pretende conhecer as profundas mudanças por que passam nossas sociedades hipermodernas. Mas há de se convir que tal leitura é difícil de ser feita. Na maioria das vezes, prefere-se rotular as experiências de nossos jovens com imagens negativamente estereotipadas e simplistas, por meio das quais são descritos ora como alienados, ora como puros consumistas, ou até mesmo como desinteressados do mundo do conhecimento. A obra de Carla Linhares Maia vai em sentido contrário. Detalhista, minuciosa e cuidadosa, a autora pesquisa uma prática cultural de longa tradição no Brasil, na qual um grupo de jovens, por ela estudado, se entrega de corpo e alma ao som do berimbau. Magnífico compasso dois por quatro, contrastado a melodias entoadas, desde outrora, por antigos mestres capoeiristas, que se alastram de tempos passados até nossos dias e são ressignificados em nosso cybercontexto. Os jovens que participam do estudo são estudantes do ensino público que agregam à sua formação aulas de capoeira. Carla explora esse universo com maestria. Suas análises sobre o envolvimento e o engajamento desses jovens nos ensinamentos da secular capoeira mostram o quão falsa é a idéia de que a juventude atual é avessa às regras. Será? A pesquisa empreendida por Carla Linhares Maia nos convence de que só quem não conhece a prática da capoeira poderia afirmar algo assim. O jogo que ali se estabelece implica respeito e reconhecimento do outro, ou seja, há