Categorias do impolítico

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“É contra essa copresença de despolitização e teologia, de técnica e valor, de niilismo e apologia que surge o impolítico. Este, já dissemos, é bem outra coisa que representação. Ou melhor: o outro, aquilo que resta obstinadamente fora dela. Mas tal irrepresentabilidade não é certamente aquela da despolitização moderna. A sua não é recusa do político. Nesse sentido, ele é radicalmente subtraído da semântica manniana. Não é o valor que ao político se contrapõe. É, aliás, exatamente o contrário. É a recusa do político transformado em valor, de toda sua valorização ‘teológica’. O impolítico é crítica do encanto, mesmo se isso não significa que ele se reduza ao simples desencanto, ao alegre politeísmo do ‘depois’.”

ISBN 978-85-513-0421-1

9 788551 304211

www.autenticaeditora.com.br

CATEGORIAS DO IMPOLÍTICO

O TRADUTOR: Davi Pessoa é professor de língua e literatura italianas na UERJ. É autor de Dante: poeta de toda a vida (Biblioteca Nacional, 2016) e Terceira Margem: testemunha, tradução (Editora da Casa, 2008). Atua também como tradutor de literatura e filosofia italianas, como em Georges Bataille: filósofo (Edufsc, 2010), de Franco Rella e Susanna Mati, Desgostos (Edufsc, 2010) e Ligação Direta (Edufsc, 2011), ambos de Mario Perniola. Pela Autêntica, traduziu as obras de Giorgio Agamben, O tempo que resta (2016), Meios sem fim (2015) e Nudez (2014).

FILO

Roberto Esposito

ROBERTO ESPOSITO é um dos autores mais decisivos de filosofia política na contemporaneidade. Leciona Filosofia Teorética no Instituto de Ciências Humanas e Sociais da Escola Normal Superior de Pisa. É autor de livros como Communitas: Origine e destino della comunità (1998), Immunitas: Protezione e negazione della vita (2002), Bios: Biopolitica e filosofia (2004) e Terza persona: Politica della vita e filosofia dell’impersonale (2007), Le persone e le cose (2014), entre outros.

Roberto Esposito

CATEGORIAS DO IMPOLÍTICO

Tradução Davi Pessoa

A atual afasia da linguagem política, a crescente diluição do pensamento político nas certezas inabaláveis nos números da ciência política e a nossa dificuldade em representar a realidade não derivam apenas das mudanças ocorridas no cenário político internacional nos últimos cem anos. Elas derivam de uma série de dificuldades relativas à própria categoria de “representação” e às demais categorias modernas. A noção de “impolítico” construída neste livro desenha seu sentido a partir do esgotamento das categorias políticas modernas, que se tornaram incapazes de dar voz a perspectivas radicais genuínas. O impolítico é não apenas o oposto do político, mas sobretudo seu limite exterior. Se a forma-Estado contemporânea é ao mesmo tempo “teologizada” e despolitizada, o impolítico é a borda a partir da qual podemos vislumbrar uma trajetória longe de todas as formas da teologia política e das tendências despolitizantes da modernidade. Dessa maneira, a perspectiva do impolítico não se confunde com uma atitude apolítica ou antipolítica. O impolítico é o político considerado desde sua fronteira exterior. É sua determinação, no sentido em que ele define os “termos”: as palavras e seus confins. O debate proposto aqui subtrai cuidadosamente algumas fronteiras metodológicas artificialmente erigidas entre ciência, teoria e filosofia política, teologia e literatura, por meio de um recurso maciço a autores decididamente interdisciplinares, como Maquiavel, Hobbes, Schmitt, Foucault, Bataille, Arendt, Simone Weil, Canetti, entre outros. O caminho forjado por essa análise é um verdadeiro desafio para o léxico político moderno, mas ao mesmo tempo uma contribuição à nossa compreensão de suas categorias.


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