Acontecimento e experiência no trabalho filosófico com crianças

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O AUTOR

Educativas, 2008). Contato: maximilianolopez@vm.uff.br, maxlop@hotmail.com

Leia também, da coleção

Educação: Experiência e Sentido • A INVENÇÃO DE SI E DO MUNDO – Uma introdução do tempo e do coletivo no estudo da cognição – Virgínia Kastrup • ARTISTAGENS – Filosofia da diferença e educação – Sandra Mara Corazza • INFÂNCIA. ENTRE EDUCAÇÃO E FILOSOFIA – Walter O. Kohan • INFÂNCIA, ESTRANGEIRIDADE E IGNORÂNCIA – Ensaios de Filosofia e Educação – Walter O. Kohan • LETRAS CANIBAIS – Rui C. Mayer • LINGUAGEM E EDUCAÇÃO DEPOIS DE BABEL – Jorge Larrosa • OS ENIGMAS DA EDUCAÇÃO A paideia democrática de Platão e Castoriadis – Lílian do Valle • O MESTRE IGNORANTE – Cinco lições sobre a emancipação intelectual – Jacques Rancière • QUEM EDUCA QUEM? – Educação e vida cotidiana – Eulàlia Bosch

Coleção

“Educação: Experiência e Sentido” Coordenadores: Jorge Larrosa e Walter Kohan

“Dedicado à prática filosófica na escola, aquele que trabalha em ‘filosofia com crianças’ pode, legitimamente, ser considerado um educador, alguém que ensina, no sentido de oferecer signos. Ele oferece textos e organiza em torno deles uma discussão. Enquanto tarefa pedagógica, a ‘filosofia com crianças’ é uma intervenção, um modo de influir intencionalmente na experiência das pessoas; porém trata-se de um tipo de intervenção muito especial, e por isso é preciso entender qual a natureza específica desta intervenção. A educação obedece a uma necessidade humana de lutar contra o poder corrosivo do tempo, para evitar o esquecimento e a destruição daquilo que o trabalho e o pensamento têm construído pacientemente através da história. Mas essa cultura que se quer salvar precisa manter-se viva, porque se trata de manter a vida da cultura, e não apenas seu corpo mumificado. No entanto, nada se conserva na vida sem morrer a cada instante: eis aí o paradoxo do vivente. A morte e o nascimento fazem parte do mesmo mistério. O nascimento não é apenas o princípio da vida, e a morte não é apenas seu fim. Morte e nascimento fazem parte do mesmo acontecimento, são os dois nomes do devir. O devir é a máxima contração da vida e da morte.”

www.autenticaeditora.com.br 0800 2831322 ISBN 978-85-7526-330-3

9 788575 263303

Acontecimento e experiência no trabalho filosófico com crianças

Maximiliano Valerio López é argentino. Especialista em Ensino de Filosofia pela Universidade de Brasília e mestre em Educação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro; professor da Universidade Federal Fluminense; integrante do Núcleo de Estudos Filosóficos da Infância (NEFI) desde 2004; co-editor da Revista SulAmericana de Filosofia e Educação (20022006). Foi coordenador do projeto “Filosofía con niños en la escuela pública” (20002003, em Mendoza, Argentina) e atualmente coordena o projeto “Filosofia com crianças nas escolas públicas do noroeste fluminense”. Tem publicado diversos artigos em espanhol e português e o livro Filosofia con niños y jóvenes: la comunidad de indagación a partir de los conceptos de acontecimiento y experiência trágica (Buenos Aires: Novedades

Maximiliano Valerio López

Acontecimento e experiência no trabalho filosófico com crianças

O que significa pensar? O presente livro diz respeito a essa pergunta. Para elucidá-la desdobra os conceitos de acontecimento e experiência trágica, os quais vinculam uma série de problemas provenientes dos campos da filosofia e da arte. Baseado principalmente nos desenvolvimentos teóricos de Michel Foucault e Gilles Deleuze, o autor, Maximiliano Valerio López, afirma a possibilidade de o pensamento ser considerado uma experiência, e o sentido, um acontecimento. Isso o levará a distinguir o saber acerca da filosofia do filosofar como atividade criadora de sentido. Enquanto o saber se acumula e se perde, e pode, portanto, ser quantificado, o sentido nasce e morre a cada instante e não se acumula. A filosofia deixará de ser então algo que se sabe ou se ignora, para passar a ser algo que se realiza. Deixará de ser algo que se possui para tornar-se algo que se produz. Partindo dessa concepção do que seja pensar filosoficamente, o livro desenvolve uma reflexão teórica e metodológica em torno da prática filosófica com crianças, considerando aspectos tais como: a escolha dos textos utilizados nas experiências filosóficas, o valor e a utilidade da pergunta no processo de problematização, a comunidade de indagação, a noção de problema, a comunicabilidade do sentido e o papel do coordenador. Voltado para educadores, pesquisadores e demais envolvidos com educação e filosofia, este livro, integrante da coleção Educação: Experiência e Sentido, constitui uma reflexão acerca da educação, uma proposta metodológica para o trabalho filosófico com crianças e uma indagação sobre a enigmática natureza do pensamento.


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Coleção Educação: Experiência e Sentido

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Copyright © 2008 by Maximiliano Valerio López

COORDENADORES DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO: EXPERIÊNCIA E SENTIDO

Jorge Larrosa Walter Kohan CAPA

Patrícia De Michellis Sobre A ponte em Langlois com lavadeiras (1888), Van Gogh EDITORAÇÃO ELETRÔNICA

Waldênia Alvarenga Santos Ataíde Tales Leon de Marco REVISÃO

Vera Lúcia de Simoni Castro EDITORA RESPONSÁVEL

Rejane Dias Todos os direitos reservados pela Autêntica Editora. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, seja por meios mecânicos, eletrônicos, seja via cópia xerográfica sem a autorização prévia da editora. AUTÊNTICA EDITORA LTDA.

Rua Aimorés, 981, 8º andar . Funcionários 30140-071 . Belo Horizonte . MG Tel: (55 31) 3222 68 19 TELEVENDAS: 0800 283 13 22 www.autenticaeditora.com.br Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) López, Maximiliano Valerio Acontecimento e experiência no trabalho filosófico com crianças / Maximiliano Valerio López. — Belo Horizonte : Autêntica Editora, 2008. — (Educação: Experiência e Sentido) Bibliografia. ISBN 978-85-7526-330-3 1. Crianças e filosofia 2. Educação de crianças 3. Filosofia - Estudo e ensino I. Título. II. Série. 08-04721

CDD-108.3 Índices para catálogo sistemático: 1. Filosofia : Formação de crianças 108.3

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Ă€ Fabiana, pela vida compartilhada. Com amor e gratidĂŁo.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................................................ CAPÍTULO I: “FILOSOFIA COM CRIANÇAS”: CRÔNICA DE UMA CONFUSÃO EM TORNO DO CONCEITO DE EXPERIÊNCIA...............

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O programa de “Filosofia para Crianças” de Matthew Lipman...

13

A redefinição do programa de “Filosofia para Crianças”............. CAPÍTULO II: O PROBLEMA DO TRÁGICO...................................

15 21

Kant e o problema do belo e do sublime..........................................

25

Figura e fundo....................................................................................

26

O devir............................................................................................... CAPÍTULO III: FOUCAULT E A EXPERIÊNCIA TRÁGICA....................

28 31

A questão dos limites......................................................................

31

A loucura.........................................................................................

32

A ordem........................................................................................... Do limite da experiência à experiência do limite.................................

36 39

O discurso como acontecimento.........................................................

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CAPÍTULO IV: DELEUZE: O SENTIDO COMO ACONTECIMENTO.......

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O empirismo: pensamento e exterioridade...................................... A representação como captura da exterioridade (a imagem dogmática do pensamento)...........................................

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COLEÇÃO “EDUCAÇÃO: EXPERIÊNCIA

E

SENTIDO”

Pensamento, coação e acaso...............................................................

54

Signo e pensamento.........................................................................

56

Multiplicidade................................................................................

57

Sentido e força..................................................................................

58

Verdade e sentido..............................................................................

59

Diferença entre significação e sentido..................................................

59

Sentido, problema e pergunta...........................................................

61

O impensável: encontro, acontecimento, heterogeneidade.......................

64

Tempo e acontecimento........................................................................

65

Acontecimento e linguagem.................................................................

67

CAPÍTULO V: A “FILOSOFIA COM CRIANÇAS” DESDE UMA PERSPECTIVA TRÁGICA................................................

69

Os dois eixos da educação: o cronológico e o intensivo...........................

70

A dinâmica da cultura: o instituinte e o instituído...........................

73

A institucionalização da cultura.....................................................

78

“Filosofia com Crianças” e disciplina...................................................

81

Quando a palavra se torna clichê......................................................

83

Uma palavra própria.........................................................................

83

Sentido e comunicação.........................................................................

85

A comunidade de indagação.................................................................

89

O texto.............................................................................................

93

Tema-problema..............................................................................

95

O papel do coordenador....................................................................

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CONSIDERAÇÕES FINAIS: EXPERIÊNCIA E ACONTECIMENTO.......

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REFERÊNCIAS........................................................................................ 102

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Introdução

A palavra cultura deriva do verbo latino colere, cujo significado é cultivar ou habitar, termos intimamente relacionados nas populações do tipo rural, como a latina de épocas mais antigas. Os dois termos fazem uma referência imediata à terra. Ao mesmo tempo, colere implicava uma dimensão moral e social, enquanto que o “cultivo” se aplicava também ao intelecto e à sensibilidade (CASTELLO; MÁRSICO, 2007, § 78). Nas origens da palavra cultura, encontramos uma atividade: o cultivo. O cultivo, do ponto de vista agrícola, diz respeito à vida das plantas. Cultiva-se a terra com o fim de exprimir a vida que nela se desenvolve. O cultivo implica sempre uma relação de cuidado com a vida. Pode-se possuir uma terra e não cultivá-la, por não atender à vida que nela se desenvolve. A cultura não é então algo que simplesmente se possui, mas algo que se faz. Como foi assinalado, desde a Antigüidade o termo cultivo se aplicava também ao pensamento e à sensibilidade, o que mostra sua relação não apenas com a vida biológica, mas também com aquele outro gênero de vida que diz respeito ao sentido e à beleza. O objeto do cultivo é sempre a vida, não as coisas, quer se trate do cultivo de plantas, do cultivo das artes, quer se trate do cultivo do pensamento, como é o caso deste trabalho. 9

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Mas o que é a vida? Poderíamos dizer que a vida é o devir das coisas. Gilles Deleuze, seguindo uma tese estóica, distingue duas espécies de elementos: os corpos, com suas tensões, suas qualidades físicas, suas relações, suas ações e paixões, bem como os estados de coisas correspondentes; e os incorporais, que não são coisas nem estados de coisas, mas acontecimentos. Não são qualidades nem propriedades físicas. Tanto é assim que não se pode dizer que existam, mas, antes, que subsistem ou insistem nos corpos. Não são nem substantivos nem adjetivos, mas verbos. Do ponto de vista do tempo, poderia se dizer que o único tempo dos corpos e dos estados de coisas é o presente, enquanto o tempo dos acontecimentos é o devir (DELEUZE, 2000, p. 5-6). Poderíamos dizer então, seguindo a Deleuze, que a vida não é uma coisa, um corpo, mas um incorporal, um acontecimento que insiste nos corpos. Inutilmente procuremos a vida num corpo, podemos abri-lo, despedaçá-lo, e não acharemos mais que corpo, porque a vida insiste nele sem jamais pertencer-lhe. A educação manifesta o elemento dinâmico da cultura, o fato de ela ser um cultivo. A educação é a encarregada de transmitir e recriar a cultura, de transmitir recriando, ou seja, de atender ao elemento vital da cultura. A educação, como a própria cultura, não é um produto, mas uma relação de cuidado com a vida. O sentido é a vida da palavra e insiste nelas como acontecimento. Não é em sua gramática nem em sua materialidade nua que encontraremos a vida das palavras. As palavras são sempre as mesmas; seu sentido porem é diferente a cada vez que são pronunciadas ou ouvidas. Porque o sentido é o acontecimento vivo das palavras. As palavras consideradas em sua corporeidade têm apenas significado, mas só atingem seu sentido em função de seu devir. O significado está no dicionário, mas o sentido só se revela no uso político, poético, filosófico da palavra. Quando o poeta escreve, o faz para tentar exprimir um sentido que, embora se produza nas palavras, não se encontra nelas. 10

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INTRODUÇÃO

Sabemos o significado das palavras, mas não o seu sentido até que são pronunciadas. Porque o sentido é o elemento vivo da cultura. Sabemos, por exemplo, qual é o significado da palavra guerra, mas não podemos antecipar o sentido com que essa palavra será pronunciada num determinado discurso político. O sentido não se conserva, se renova, se produz a cada vez. O sentido é acontecimento. Como foi dito, a educação é uma forma de cultivo, e não de transmissão da cultura. Por essa razão não deve importar-se apenas com os produtos da cultura, mas também com a recriação daquilo que é cultivado. Urge à educação, portanto, pensar mais radicalmente a vida, não a vida entendida como uma coisa exterior à cultura, com a qual esta teria de se relacionar, mas a vida da própria cultura; ou seja, o sentido como acontecimento. A distinção que Deleuze estabelece entre “corpos” e “incorporais” nos permite pensar a diferença que existe entre saber e pensar. Enquanto o saber diz respeito à informação e seu acúmulo, à memória, o pensamento tem a ver com o acontecimento, com o sentido, e o sentido não é algo que se possui, mas uma relação que se estabelece. A filosofia com crianças se ocupa especialmente dessa enigmática relação entre pensamento e acontecimento. Ou, dito de modo diferente, da relação entre pensamento e sentido. Para entender a natureza dessa relação, será preciso distinguir então entre significação e sentido. Enquanto a significação diz respeito à relação entre as palavras (às regras que regulam a interação entre as proposições, às relações estruturais, lógicas ou gramaticais), o sentido se refere à relação entre as palavras e o mundo. Por mundo há que se entender a exterioridade do pensamento. O sentido depende da relação do pensamento com aquilo que podemos considerar seu exterior. A grande questão é como conceber essa exterioridade, assim como a relação que o 11

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COLEÇÃO “EDUCAÇÃO: EXPERIÊNCIA

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SENTIDO”

pensamento estabelece com ela. Essas questões vão nos conduzir ao segundo tema deste trabalho: a “experiência trágica”. O conceito de experiência faz referência à relação entre o indivíduo e o mundo. Diz respeito não só ao sensorial, desde uma perspectiva biológica, mas também à relação de sentido que se estabelece nesse encontro. Não existe na nossa experiência nenhum objeto, nenhuma coisa que não se apresente já no plano do sentido. O que significa dizer que o que aparece ante nós não são nunca objetos, mas signos. O pensamento é o resultado do encontro com esses signos exteriores que nos forçam a procurar o sentido (DELEUZE, 1974/2003, p. 14-15). Em resumo, a questão deste trabalho pode ser sintetizada na pergunta: o que significa pensar? Para tratarmos dela, teremos que desenvolver os conceitos de “acontecimento” e de “experiência trágica”. Ambos os conceitos podem ser considerados desdobramentos da problemática moderna do trágico, surgida em fins do século XVIII, na Alemanha, que vinculava uma série de problemas vindos do âmbito da filosofia e da arte. Faremos então uma pequena genealogia do trágico para melhor entendermos a problemática geral a que ambos os conceitos se referem; posteriormente, passaremos a tratar desses conceitos em alguns escritos de Foucault e Deleuze, especialmente naqueles produzidos durante a década de sessenta. A partir daí estaremos em condições de nos referir à prática filosófica com crianças e a cada um dos elementos que a integram, mostrando a forma em que essa pode ser pensada e desenvolvida com base nos dos conceitos anteriormente mencionados. Serão abordadas então questões relativas à escolha dos textos utilizados nas experiências filosóficas com crianças, ao valor e à utilização da pergunta no processo de problematização, ao papel do coordenador, bem como à questão da comunicabilidade do sentido e à noção de problema.

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