José Luiz Aidar Prado
O II Colóquio Internacional em Imagem e Sociabilidade (II CIS), realizado em Belo Horizonte, em maio de 2011, deu sequência às reflexões e questões suscitadas no primeiro colóquio e se debruçou sobre o conceito de acontecimento e suas “reverberações” – entendidas tanto como as propagações de um fenômeno concreto quanto como as diversas possibilidades de aplicação do conceito em situações de pesquisa no campo da Comunicação Social. A diversidade de temas e objetos tomados para análise nos vários textos aqui acolhidos demonstra o amplo leque de pesquisas que o conceito de acontecimento abre e fecunda. Especificamente no campo da Comunicação, as possibilidades levantadas por esse debate resultaram numa linha que se propõe a considerar a constituição dos acontecimentos como um aspecto da estruturação da experiência pública. Motivados por tal abordagem, pesquisadores do GRIS – Grupo de Pesquisa em Imagem e Sociabilidade da Universidade Federal de Minas Gerais e de universidades parceiras do Brasil, da França e de Portugal apresentaram o conjunto de textos que, adensados pelas questões discutidas no colóquio, agora são apresentados ao público como contribuição ao avanço do pensamento comunicacional entre especialistas acadêmicos, profissionais e interessados em geral.
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Acontecimento: Reverberações
Como diz Vera França, “ao desorganizar o presente, o acontecimento instala uma temporalidade estendida, convoca um passado com o qual ele possa estabelecer ligações, anuncia futuros possíveis”. Se o acontecimento, por um lado, atua na divisão do comum, na partilha do sensível (conforme Rancière), buscando redistribuir as partes, por outro, não há garantia de que os sem-inscrição terão mais direito à voz do que as celebridades. Em meio à algarviada do social, os media gritam nos holofotes e telões, enquanto os blogs replicam e as mensagens treplicam nas redes sociais. Os autores deste livro analisam os acontecimentos (e o próprio conceito de “acontecimento”) nessa ótica dos fluxos, desde o momento em que algum agente nomeia o acontecimento, até que os inúmeros sentidos tenham se produzido e disputado suas visadas diferenciais. A disputa semiótica é luta política, como veremos em vários dos textos, combate partilhado, “máquina de guerra” visando à redefinição do porvir comunicacional.
Acontecimento não é simplesmente ocorrência, que registramos, mas fato narrado, fato de discurso que convoca os destinatários para ações, encarnando e produzindo paixões. Frequentemente, o acontecimento produz versões a partir do mesmo fato gerador, pois é objeto de disputa de sentidos, atravessando superfícies hegemônicas de variada inscrição comunicativa, suscitando reações apaixonadas dos públicos e reconfigurando práticas cotidianas dentro de um jogo de poderes e contrapoderes em fluxo.
Vera Regina Veiga França - Luciana de Oliveira (Orgs.)
Nas redes sociais fervilham comunidades partilhadas (constituídas ao redor do vazio, dirá um dos autores), no que poderíamos caracterizar como a construção de um novo coletivo de singularidades: a multidão em rede, aliás, nem sempre renovadora, como apontará outro artigo.
Vera Regina Veiga França Luciana de Oliveira (Organizadoras)
Acontecimento: Reverberações
Acontecimento, indicam os autores deste livro, é conceito que tenta circunscrever, nos campos da Comunicação, da Filosofia e da Teoria Social, a nomeação disputada do que conta e do que não deveria contar, entre os ocorridos, para a definição da vida boa, para a reconfiguração dos sentidos sociais do Lebenswelt (mundo vivido). Entre as indicações dadas pelos autores, algumas se destacam: a comunicação não produz os acontecimentos apenas a partir dos grandes e poderosos media, o que nos leva a pensar em uma lógica acontecimental, que gera, depois da informação, a contrainformação, a crítica em ato, feita não somente pelos tecnólogos das superproduções semióticas (os analistas simbólicos), mas também pelos agentes sociais distribuídos pelos mundos cotidianos carregados de sentidos.