suínoBrasil 2º TRI 2025

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SANIDADE, BIOSSEGURIDADE E

PROTAGONISMO: O NOVO CICLO

DA SUINOCULTURA BRASILEIRA

Oreconhecimento internacional do Brasil como país livre de febre aftosa sem vacinação é, antes de tudo, a consagração de um esforço coletivo de décadas. Uma conquista construída por técnicos, produtores, gestores públicos e entidades do setor produtivo — e que insere o país, de forma ainda mais robusta, entre os grandes provedores de proteína animal com alto padrão sanitário.

Essa conquista não é exclusiva de uma cadeia. Ela beneficia todas. E a suinocultura tem muito a dizer nesse momento.

O cenário de 2025 já mostra sinais importantes dessa nova fase. Um exemplo simbólico foi o anúncio, por parte da APCS em entrevista veiculada nesta edição da suínoBrasil, da exportação de carne suína de São Paulo para mercados asiáticos. Mesmo que não haja relação direta com o status sanitário nacional recém-obtido, o avanço reforça a mensagem de que organização, qualidade e biosseguridade abrem portas — e colocam a suinocultura brasileira em uma rota promissora.

Esse movimento coincide com outro ponto de atenção do ano: o foco de Influenza Aviária em uma granja de reprodutoras no Rio Grande do Sul. A resposta coordenada entre o serviço veterinário oficial, entidades e setor privado, elogiada por especialistas nacionais e internacionais, demonstrou maturidade institucional e capacidade técnica para preservar a confiança dos consumidores e mercados.

Mais do que um episódio isolado, esse caso reforçou o protagonismo da biosseguridade como pilar para o futuro da produção animal. A suinocultura, por sua estrutura intensiva e grau de profissionalização, está entre as cadeias mais preparadas para transformar protocolos em rotina — mas isso exige vigilância constante, atualização técnica e investimento contínuo.

Relatórios recentes, como o do Rabobank, reforçam que o setor enfrentará pressões crescentes por sustentabilidade, estabilidade comercial e eficiência de custos. Nesse ambiente, a sanidade não é apenas uma exigência: é um ativo estratégico.

O Brasil avança porque sabe combinar competência técnica, organização setorial e credibilidade institucional. E a suinocultura tem sido parte central dessa equação. O caminho agora passa por consolidar o que já fazemos bem e ampliar nossa resiliência frente aos novos desafios globais.

Com biosseguridade forte, comunicação técnica e integração de esforços, seguiremos construindo uma cadeia suinícola capaz de responder às exigências de hoje — e, mais importante, de liderar as transformações que o futuro exigirá.

EDITOR AGRINEWS

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Internacional 90 $

Revista Trimestral

ISSN 2965-4238

04

Pork Pinnacle retorna a Curitiba e inaugura o porciFÓRUM: dois eventos, uma nova visão para o futuro da suinocultura

A fibra insolúvel na dieta da fêmea suína gestante como estratégia para mitigação da fome e garantia do desempenho - Parte II 10

20 14 32

Jaira de Oliveira, Ismael França, Danilo Alves

Marçal, Luciano Hauschild

Laboratório de Estudos em Suinocultura Unesp FCAV. Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – Unesp Câmpus Jaboticabal

Granja e Fábrica de Rações: uma relação de cliente e fornecedor

Diogo Lima Goulart

Consultor de Serviços Técnicos na Agroceres Multimix

Marco regulatório que moderniza a produção 26

Construindo um protocolo de sustentabilidade para a suinocultura brasileira

Everton Luís Krabbe

EMBRAPA Suínos e Aves

Amanda Barros Gerente Técnica ABPA

Impacto das Micotoxinas na Longevidade, Saúde e Produtividade de Matrizes Suínas

Jovan Sabadin¹; José Paulo Hiroji Sato²; Gefferson Almeida da Silva³

¹Técnico em Agropecuária / Economista Agroindustrial. especialista em Saúde e Qualidade na Cadeia de Aves e Suínos; ²Médico Veterinário, MsC e DsC em Ciência

Animal; ³Médico Veterinário, MsC em Ciência Animal

Tecnologia, dados e decisões: o que realmente interessa na nova era da suinocultura

Priscila Beck

Diretora de Comunicação Grupo AgriNews Brasil

Estudo demonstra economia de 69% ao reduzir uso de antimicrobianos na prevenção de Enteropatia

Proliferativa Suína

Marco Aurélio Gallina¹,²; Monike Willemin Quirino¹; Rafael Frandoloso³,4; Yuso Henrique Tutida5; Adriano Norenberg5; Arlei Coldebella6; Ivan Bianchi¹; Jalusa Deon Kich¹,6

¹Curso de Pós-Graduação em Produção e Sanidade Animal, Instituto Federal Catarinense, Araquari, SC, Brazil

²MSD Saúde Animal, São Paulo, SP, Brazil

³Laboratório de Microbiologia e Imunologia Avançada, Escola de Ciências Agrárias, Inovação e Negócios, Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, RS, Brazil

4AFK Imunotech, Passo Fundo, RS, Brazil

5Pamplona Alimentos, Rio do Sul, SC, Brazil

6Embrapa Suínos e Aves, Concórdia, SC, Brazil

Eficiência operacional com o uso da Inteligência Artificial 52

Leonardo Thielo de La Vega¹;Verônica Pacheco²

¹Médico Veterinário e sócio-fundador da F&S Cap

²Engenheira de Biossistemas, Mestre e Doutora em Ciências pela Universidade de São Paulo.

Como a saúde intestinal pode impactar a saúde respiratória dos suínos via eixo microbiotaintestino-pulmão? 58

Pedro Henrique Pereira¹, Sibely Aiva Flores² Vinícius de Souza Cantarelli³

¹Graduando em Medicina VeterináriaUFLA. Membro da linha de pesquisa

Animal Science and Intestinal Health – ASIH. 2Mestranda em Metabolismo e Fisiologia Animal – UFLA. Membro da linha de pesquisa Animal Science and Intestinal Health – ASIH.

³Professor e Pesquisador no Departamento de Zootecnia da UFLA. Orientador da linha de pesquisa Animal Science and Intestinal Health – ASIH.

Reconhecimento sanitário abre caminho, e São Paulo inicia exportação de carne suína em 2025 64

Valdomiro Ferreira Junior Presidente da Associação Paulista dos Criadores de Suínos

PORK PINNACLE RETORNA A CURITIBA E INAUGURA O PORCIFÓRUM:

DOIS EVENTOS, UMA NOVA VISÃO

PARA O FUTURO DA SUINOCULTURA

No dia 9 de setembro de 2025, Curitiba (PR) volta a ser o ponto de encontro de lideranças decisivas da suinocultura brasileira. Após o sucesso da edição 2024, o Pork Pinnacle se consolida como o principal fórum de tendências estratégicas da cadeia e, neste ano, ganha um reforço de peso:

O porciFÓRUM, que chega com um formato técnico, internacional e interativo, inspirado em experiências de sucesso na Europa e América Latina.

A união dos dois encontros no mesmo eixo geográfico e em datas subsequentes — 9 a 11 de setembro — amplia o alcance das discussões e fortalece a proposta de entregar conteúdo, conexão e direcionamento para os próximos ciclos da suinocultura brasileira.

Pork Pinnacle: referência entre líderes

Organizado pela suínoBrasil, o Pork Pinnacle mantém seu foco exclusivo em reunir tomadores de decisão, executivos de agroindústrias, cooperativas e empresas-chave da cadeia, em um ambiente reservado, com debates de alto nível e troca estratégica de experiências.

A edição de 2024 já havia demonstrado a força do conceito. Segundo João Campos, CEO da Seara Alimentos, que conduziu um dos painéis centrais do evento, o encontro representou

A construção de uma agenda realista, com métricas claras de sustentabilidade, foi um dos compromissos assumidos pelas lideranças no último encontro — e permanece como uma das pautas centrais para 2025.

Acesse o artigo Construindo um protocolo de sustentabilidade para a suinocultura brasileira – Parte I

Eficiência, biosseguridade e rentabilidade a longo prazo

“um debate extremamente importante”, capaz de produzir uma “discussão rica com plano claro para que o Brasil possa liderar os próximos anos com uma suinocultura sustentável”.

Na edição 2024, nomes como Alexandre Rosa (Agroceres PIC), Marisete Cerutti (Seara), Fábio Stumpf (BRF) e Fernando Bolis (MSD Saúde Animal) trouxeram perspectivas concretas sobre os caminhos possíveis para a suinocultura evoluir com eficiência produtiva e segurança sanitária, diante de um mundo que exige transparência, bem-estar animal, controle de doenças e rastreabilidade.

Alexandre Rosa destacou a importância de pensar a genética como locomotiva da cadeia suinícola, responsável por apontar caminhos futuros de produtividade, bem-estar e sustentabilidade.

Ele mencionou ainda a parceria em curso com a Embrapa para o desenvolvimento de uma matriz nacional de LCA (avaliação de ciclo de vida), que permitirá mensurar com precisão o impacto ambiental da cadeia de produção e comunicar com clareza suas vantagens competitivas.

Marisete Cerutti compartilhou a experiência de modernização do sistema de inspeção, fruto de um trabalho conjunto entre Embrapa, indústria e academia.

Segundo ela, a iniciativa gerou ganhos reais de integração entre produção primária e abatedouros, promovendo maior cuidado com o animal ao longo de toda a cadeia, com base na ciência e na transparência dos processos.

Fernando Bolis ressaltou como a tecnologia e a rastreabilidade permitem conectar o animal desde a produção até o consumidor final.

Para ele, o uso inteligente dos dados cria oportunidades para impulsionar a produtividade, o bem-estar e a saúde animal, além de contribuir para uma abordagem mais individualizada e preventiva na suinocultura moderna.

Para Fábio Stumpf, o atual momento positivo da atividade deve ser visto como uma chance de consolidar ganhos duradouros:

“Temos que buscar eficiência em toda a cadeia — nos nascimentos, nas mortalidades, na conversão alimentar — para que a suinocultura seja rentável por mais tempo, e não apenas por ciclos”, afirmou. Ele defendeu o aproveitamento das lacunas operacionais como estratégia de sustentabilidade econômica no longo prazo.

Comunicar melhor, planejar melhor

Se o Pork Pinnacle acerta no público e no formato, também acerta no tom. O evento não apenas discute — ele propõe caminhos. Em 2024, além da técnica, a comunicação foi um dos eixos mais enfatizados.

“Ficou muito claro o quanto nosso setor precisa contar melhor sua história”, disse Elias Zydek (Frimesa). “Temos vantagens competitivas, mas falta uma narrativa unificada que aproxime o consumidor da produção.”

Esse olhar será ainda mais aprofundado na edição 2025, especialmente diante de desafios como:

A pressão internacional por redução de antimicrobianos

A vigilância sanitária frente a zoonoses e

A necessidade de conectar ESG à rentabilidade sem cair em clichês.

porciFÓRUM: o reforço técnico que faltava

É nesse cenário que o porciFÓRUM 2025 chega para agregar densidade técnica e amplitude internacional ao ecossistema do Pork Pinnacle.

Realizado no icônico Museu Oscar Niemeyer (MON), o evento terá uma programação intensa nos dias 10 e 11 de setembro, com painéis interativos, convidados internacionais e participação ativa da plateia.

Inspirado no modelo do porciFÓRUM da Espanha, o evento brasileiro foi desenvolvido com foco em conteúdos aplicáveis à realidade do campo e da indústria, abordando temas como:

Conexão Brasil-Espanha em inovação e estratégia

Um dos destaques será o painel moderado por José Antonio Ribas Jr., que reúne executivos da suinocultura para debater como a sustentabilidade agrega valor ao suíno brasileiro.

Como embaixador do Pork Pinnacle e porciFÓRUM, Ribas define o propósito dos dois eventos de forma clara.

“O que estamos construindo com o Pork Pinnacle e o porciFÓRUM vai além de dois eventos. É uma plataforma para discutir o futuro da suinocultura com coragem, visão técnica e responsabilidade coletiva. Precisamos sair da lógica reativa e assumir o protagonismo — seja nas questões sanitárias, ambientais ou de reputação. O setor está maduro o suficiente para fazer isso com base em ciência e diálogo qualificado.”

Segurança sanitária ao longo da cadeia

Produção sustentável e controle de doenças

ESG e comunicação com novas gerações

Gestão de antimicrobianos e saúde única

Desa os reprodutivos e nutrição de precisão

Dois eventos, uma estratégia integrada

A sinergia entre o Pork Pinnacle e o porciFÓRUM não é acidental — é estratégica. Ao unir em sequência um fórum decisório e uma plataforma técnica, o grupo agriNews Brasil entrega ao mercado uma jornada de conhecimento e relacionamento, com momentos distintos, mas complementarmente alinhados.

O primeiro, reservado e estratégico, reúne os líderes. O segundo, técnico e plural, abre espaço para a difusão do conhecimento e o engajamento de especialistas e empresas.

A realização do Pork Pinnacle e do porciFÓRUM não se limita ao palco. Os conteúdos discutidos nos dois encontros gerarão uma série de materiais editoriais para a revista suínoBrasil, para o portal e para as redes sociais.

Ambos têm algo em comum: são curados editorialmente com o olhar da suínoBrasil, que há mais de 5 anos acompanha a evolução da cadeia suinícola brasileira e atua como ponte entre informação, ciência e decisão.

Expectativa de público e impacto setorial

Com o retorno a Curitiba e a consolidação da dupla de eventos, a expectativa dos organizadores é de:

Mais de 300 participantes presenciais no porciFÓRUM

Mais de 70 líderes convidados no Pork Pinnacle

A ideia é que as discussões saiam da sala de conferência e cheguem aos produtores, técnicos e profissionais de todo o país, ampliando o alcance e a relevância dos temas tratados — e contribuindo com a qualificação técnica e estratégica da cadeia como um todo.

Anote na agenda:

09 de setembro de 2025

Curitiba (PR) – Evento Exclusivo para Convidados

PORCIFÓRUM 2025

10 e 11 de setembro de 2025

Museu Oscar Niemeyer – Curitiba (PR)

Evento aberto com inscrições limitadas

PORK PINNACLE
Pork Pinnacle retorna a Curitiba e inaugura o porciFÓRUM: dois eventos, uma nova visão para o futuro da suinocultura
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Disponível em:

A FIBRA INSOLÚVEL NA DIETA DA FÊMEA SUÍNA GESTANTE COMO

ESTRATÉGIA PARA MITIGAÇÃO

DA FOME E GARANTIA DO DESEMPENHO – PARTE II

Jaira de Oliveira, Ismael França, Danilo Alves Marçal, Luciano Hauschild Laboratório de Estudos em Suinocultura Unesp FCAV. Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – Unesp Câmpus Jaboticabal.

Na primeira parte do artigo

“A fibra insolúvel na dieta da fêmea suína gestante como estratégia para mitigação da fome e garantia do desempenho - Parte I” os autores abordaram a fibra insolúvel e seus efeitos na saciação, na saciedade e no comportamento em fêmeas suínas gestantes.

E nesta segunda parte, será abordado os impactos da constipação na fêmea gestante e desempenho dos leitões.

O escore fecal é uma medida usada para avaliar a consistência das fezes, refletindo o funcionamento do trato intestinal (Figura 2).

A constipação é um problema comum que atinge as fêmeas suínas durante a gestação e lactação. Esse problema pode ocorrer por uma disfunção no sistema gastrointestinal ou uma desordem no sistema nervoso-intestinal.

As causas que desencadeiam quadros de constipação (Quadro 1) são geralmente devido a efeitos hormonais, características da dieta e baixo exercício físico do animal.

Figura 2. Escore Fecal de fêmeas suínas, adaptado de Oliviero et al. (2009). 0- ausência de fezes; escore 1 - fezes secas e em forma de pellet; escore 2 - fezes entre secas e normais; escore 3 - fezes normais e macias, mas firmes e bem formadas; escore 4 - fezes entre normais e úmidas, ainda formadas, mas não firmes; escore 5- fezes informes e líquidas.

Quadro 1. Principais causas de constipação na gestação.

Efeitos dos hormônios no TGI

Efeitos dos hormônios na motilidade no músculo liso

Fatores mecânicos

Mudanças na absorção de água

Fatores dietéticos

Atividade física reduzida

Na gestação, o aumento da progesterona causa relaxamento da musculatura lisa, levando à hipomotilidade intestinal.

A progesterona e a somatostatina também podem inibir a liberação de motilina, um hormônio peptídico que normalmente inibe o músculo liso

Movimentos combinados do TGI e do útero impedem o movimento de fezes sólidas e prejudicam as defecações

O estrogênio e a progesterona aumentam a secreção de renina, que desencadeia o sistema renina-angiotensina-aldosterona, aumentando a absorção de água nas gestantes

A ausência de uma dieta equilibrada e rica em fibras que possui a capacidade de ligar-se a água prejudicando a formação e passagem do bolo fecal

Diminuição de movimentos intestinais regulares

Adaptado de: WALD et al, 1982; 2003; CHRISTOFIDES et al, 1982; JENSSEN et al, 1986; PARRY et al., 1970; ARNAUD, 2003; STEPHEN; CUMMINGS, 1979; CULLEN; O'DONOGHUE ,2007.

Fêmea
Causa
Efeito

Escores mais elevadas geralmente indicam uma maior presença de umidade e uma textura fecal mais pastosa, associadas a menor incidência de constipação.

Os principais ganhos de se utilizar fibra na dieta de fêmeas suínas gestantes são:

Aumento do consumo de ração durante a lactação

Maior ganho de peso dos leitões

Melhora na taxa de crescimento dos leitões

Essa avaliação auxilia no monitoramento da saúde intestinal e do bem-estar dos animais, especialmente em períodos críticos, como o pré-parto.

Utilizando essa metodologia de avaliação, Oliviero et al. (2009) demonstraram que o aumento no teor de fibras da dieta ajudou o intestino a reduzir a ocorrência de constipação prolongada em porcas aos cinco dias pré-parto e cinco dias pós-parto.

Além disso, fêmeas que receberam dieta rica em fibra consumiram mais água e seus leitões foram mais pesados ao nascer. Isso pode estar associado ao fato que uma maior ingestão de água é benéfica para o processo do parto como também na lactação por ser essencial para a produção de leite.

Melhora na consistência das fezes

Maior peso de leitão ao desmame

Tan et al. (2015) observaram que fêmeas gestantes suplementadas com farinha de konjac e Saccharomyces boulardii apresentaram escores fecais significativamente mais altos no dia 113 de gestação em comparação ao grupo controle, apesar de semelhantes entre si durante o período de cinco dias antes a cinco dias após o parto.

Além disso, relataram também que, durante a terceira semana de lactação, as fêmeas alimentadas com dietas suplementadas durante a gestação consumiram mais ração do que as fêmeas do grupo controle.

Adicionalmente, nesse mesmo estudo, apesar das fontes de fibra não terem influenciado o número de leitões nascidos, houve efeito no desempenho da leitegada. Leitões oriundos de fêmeas alimentadas com as dietas com fontes de fibra durante a gestação apresentaram maior ganho de peso comparados com o grupo controle.

Esses resultados indicam que a inclusão de fibra na dieta de fêmeas suínas gestantes pode:

Melhorar a saúde digestiva

02 03 04 Aumentar o consumo de ração

Promover maior ganho de peso dos leitões e

Resultar em um melhor desenvolvimento geral da leitegada.

Considerações finais

A utilização de dietas ricas em fibras durante o período de gestação ajuda a aumentar a saciedade e diminuir os riscos de constipação das fêmeas com efeitos positivos sobre a saúde e desempenho dos leitões na fase de lactação

A depender da disponibilidade e do custo, a inclusão de ingredientes fibrosos pode mitigar o estado de fome das fêmeas suínas durante a fase de gestação em diferentes condições e sistemas de produção, principalmente em modelos de gestação coletiva onde a maior disponibilidade de espaço e tamanho dos grupos ainda são desafios para o setor.

Os efeitos benéficos da inclusão de alimentos fibrosos nas dietas são um importante aspecto que devem ser considerados pelo setor produtivo.

Estudos futuros que avaliem o custobenefício de diferentes estratégias são necessários para orientar os melhores momentos do uso da fibra na gestação e até na lactação. Assim como o entendimento da possibilidade de uso de forma a melhorar o estado de bemestar animal nos sistemas de produção atuais frente as novas demandas do mercado consumidor.

Estudos aplicados à realidade brasileira ainda são escassos e poderão auxiliar a elucidar quais as melhores fontes de fibras disponíveis para cada caso e seus efeitos sobre a saúde e bem-estar das fêmeas gestantes.

A fibra insolúvel na dieta da fêmea suína gestante como estratégia para mitigação da fome e garantia do desempenho - Parte II BAIXAR EM PDF

Referências bibliográficas Sob consulta aos autores.

Fêmea

CONSTRUINDO UM PROTOCOLO DE SUSTENTABILIDADE PARA A SUINOCULTURA BRASILEIRA - PARTE II

Everton Luís Krabbe Embrapa Suínos e Aves

Na primeira parte do artigo “Construindo um protocolo de sustentabilidade para a suinocultura brasileira - Parte I” o autor abordou como a sustentabilidade deixou de ser uma opção e se tornou uma necessidade imperativa para as empresas que desejam prosperar no mercado.

Os relatórios anuais de sustentabilidade e a consciência crescente das novas gerações são evidências claras de que práticas empresariais responsáveis são o caminho a seguir.

E nesta segunda parte, será abordado os principais parâmetros que devem ou podem compor um protocolo de sustentabilidade para a suinocultura, abordando aspectos ambientais, sociais e econômicos essenciais para um setor mais responsável e eficiente.

DIMENSÃO AMBIENTAL:

É relevante para indicar se uma atividade de produção de suínos assegura condições sustentáveis. Nesta dimensão existe um grande conjunto de indicadores, como segue:

Atmosfera:

Neste caso, é coerente atribuir uma escala distinta a cada um dos casos. Menos comum, mas aplicável, é possível o uso de tecnologia para reuso da água contida no dejeto.

Portanto, há uma série de possibilidades de uso de tecnologias para tratamento do dejeto suíno. Cada tecnologia pode ser caracterizada como um indicador de sustentabilidade e aos quais podemos atribuir uma escala de valor.

A primeira ideia que vem à mente é assegurar o correto manejo dos dejetos suínos, uma vez que a atividade se caracteriza por gerar um grande volume de dejeto, geralmente líquido (o que dificulta o correto manejo) principalmente em área reduzida.

Logo, o indicador manejo de dejetos deve estar no topo da lista.

Mas o manejo de dejetos é um processo amplo que envolve diversas etapas associadas, como por exemplo o manejo para mitigação de emissão de gases de efeito estufa (metano, amônia e sulfídrico), através de biodigestão anaeróbia ou injeção de dejetos no solo, seguindo práticas agronômicas adequadas levando em consideração o tipo de solo, tipo de cultura, balanço de nutrientes no solo, etc.

Pode ainda, existir o uso do dejeto suíno para produção de biogás (fonte de energia limpa). Sabemos que há diferentes sistemas (lagoa coberta, biodigestor de alta taxa, por exemplo), com diferentes níveis de eficiência (quantidade de metano produzido por unidade de dejeto).

Água:

Recurso cada vez mais escasso, é extremamente importante. Aspectos com o uso de bebedouros que reduzem o desperdício da água, captação e reservação de água da chuva para dessedentação podem ser indicadores com atribuição de uma escala de valor.

Biodiversidade:

A preservação da biodiversidade é igualmente considerada de grande importância. Neste aspecto, o Brasil pela legislação vigente, apresenta vantagem em relação a outros países. A legislação vigente no Brasil, como por exemplo o Código Florestal (Lei nº 12.651/2012) proporciona credibilidade no aspecto da preservação da biodiversidade, por meio da exigência dos APPs (áreas de preservação permanentes).

Em geral são indicadores os aspectos como: áreas de compensação ecológica e serviços ambientais.

Sustentabilidade

Solo:

São considerados indicadores os aspectos: mudança de uso da terra, áreas para aplicação de dejetos respeitando os limites de nutrientes de acordo com a cultura, manutenção da fauna do solo, dentre outros.

Resíduos:

Remete a correta separação, armazenamento e destinação de resíduos sólidos, o que constitui importante indicador.

No Brasil, por meio da lógica do uso da logística reversa/coleta seletiva, bastante difundida a campo, este indicador na maioria dos casos é contemplado.

A Lei da Politica Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305/2010) , estabelece diretrizes para a gestão integrada e o gerenciamento ambiental adequado dos resíduos sólidos.

Esta legislação proporciona respaldo legal quando se trata de sustentabilidade.

Energia:

O uso de energia renovável ou a geração de energia limpa (solar e biogás) tem uma grande contribuição para a sustentabilidade da suinocultura.

Aspectos como conversão alimentar (kg de alimento necessário para cada kg de ganho de peso) também implicam em um maior ou menor quantidade de dejetos.

Lotes que possuem melhor conversão alimentar geram menor quantidade de dejetos e portanto são mais sustentáveis ambientalmente. Portanto, dentro da área ambiental, a conversão alimentar deve ser um indicador.

Evidentemente, quando estivermos considerando indicadores da área econômica, a conversão alimentar passará novamente a ser considerada para novos indicadores, por exemplo, custo de produção.

DIMENSÃO ANIMAL.

Dentro deste, uma série de aspectos podem ser elencados como indicadores, por exemplo a saúde e bem-estar animal.

Aspectos como corte de dentes, corte da cauda, castração, ambiência (temperatura interna das instalações), sistema de ventilação (renovação de ar e redução de gases), densidade de alojamento, tipo de piso, tipo de sistema de alimentação (área de cocho/animal) e uma série de outros mais podem ser medidos.

Para cada um deles deve-se estabelecer uma escala de valores e, por fim, gerar um indicador consolidado de bem-estar animal.

Alguns exemplos de possíveis formas de organização dos indicadores são:

Ausência de fome e sede: Fatores como qualidade do alimento, número adequado de bebedouros, área adequada de comedouro por animal, lesões em decorrência de disputa por comida ou água, tipo de bebedouro, tipo de comedouro, dentre outros.

Ausência de dor devido ao manejo, onde são observados aspectos como cortes de dentes, caudas, marcações em orelhas, castração, número de casos com lesões.

Relação animal/humano: Neste caso, indicadores como espaços para movimentação dos animais e estresse dos animais pela ação humana são os mais comuns.

Conforto dos animais: Indicadores mais comuns são área/animal, presença de baia hospital, temperatura ambiente, presença de gases dentro das instalações, uso de antibiótico para tratamento (mg de antibióticos/kg de suíno produzido), dentre outros.

DIMENSÃO ECONÔMICA

Onde são avaliados o crescimento financeiro de uma granja. Exemplos de indicadores econômicos são eficiência técnica e resiliência econômica.

Dentro de eficiência técnica são considerados indicadores como conversão alimentar, leitões desmamados porca ano (LDPA), mortalidades de porcas e leitões e mortalidade na fase de terminação.

Resiliência econômica é mais aplicada à relação recurso humano/produção, como por exemplo, número de animais sob o cuidado de cada funcionário, quilograma de peso vivo/funcionário, origem da mão de obra (familiar/ contratado), rentabilidade do capital, liquidez, rentabilidade liquida e operacional, endividamento, dentre outros.

DIMENSÃO SOCIAL:

São indicadores ligados à satisfação das necessidades básicas das pessoas, qualidade de vida e justiça social. Há princípios importantes nesta dimensão, como por exemplo condições de vida digna, coesão social e fortalecimento de comunidades, prosperidade das pessoas, dentre outros.

Também é importante destacar que o Brasil dispõe de um robusto arcabouço de leis trabalhistas (CLT), que assegura os direitos dos trabalhadores e estabelece uma relação justa e equilibrada entre empregadores e empregados.

Os indicadores mais comuns são:

Garantia de direitos trabalhistas, como um número adequado de funcionários frente às atividades diárias, comunicação dos direitos aos funcionários e idade mínima para o trabalho.

Saúde e segurança do trabalhador, medido por meio do número de capacitações dos funcionários, taxas de acidentes, fornecimento de EPI´s (equipamentos de proteção individual).

Equidade, onde indicadores são igualdade de gênero, casos de discriminação, respeito à cultura local, dentre outros.

Transparência na relação de trabalho, onde os indicadores são remuneração, formalização da relação de trabalho, acesso a informação de precificação da mão de obra no mercado de trabalho.

Com todas estas informações devidamente categorizadas e com a atribuição de pesos (gráfico a seguir) será possível gerar um único indicador consolidado para cada granja.

Assim, uma granja além de ter o seu indicador final de sustentabilidade, o que permite uma análise para dentro (está bem ou há oportunidade para melhoria), será possível também uma análise para fora, comparando seu indicador com indicadores de outras granjas.

Por fim, vale destacar que o Brasil adota uma série de práticas de produção que certamente resultarão em indicadores interessantes de sustentabilidade e que ao aplicar um protocolo estará representado por uma escala simplificada (facilmente compreendido).

Imagem: Conjunto de áreas, indicadores e medidas que compõe um protocolo de sustentabilidade

Esta informação poderá ser utilizada em defesa da boa suinocultura praticada no Brasil. Além disso, para aqueles que queiram aprimorar seus indicadores de sustentabilidade, o protocolo permitirá exercitar por meio de cenários, como a adoção de novas tecnologias/práticas, poderão repercutir na sustentabilidade caso venham a ser implementadas.

Assim, o produtor além de saber como está a sustentabilidade no momento atual, poderá analisar o que fazer, qual o investimento necessário e como isso repercutirá na sustentabilidade futura.

Outro aspecto fundamental, é que a geração destes indicadores deverá ser realizada por alguma entidade externa à granja, acreditada, e quem de fato poderá certificar a sustentabilidade de uma granja e atribuir a ela um selo.

Sustentabilidade é sinônimo de oportunidade para o Brasil

A adoção de um protocolo brasileiro, constituído em parceria com o setor, levando em consideração a realidade da suinocultura brasileira, permitirá que o consumidor passe a conhecer o quão sustentável é a carne suína, permitirá a inserção da carne suína brasileira em mercados muito exigentes, permitirá que em paridade de preços a origem mais sustentável seja preferida, além de servir como uma ferramenta de gestão para o produtor que passa a dispor de um dado objetivo passível de análise subsidiando tomadas de decisão.

Construindo um protocolo de sustentabilidade para a suinocultura brasileira - Parte II BAIXAR EM PDF

Sustentabilidade

GRANJA E FÁBRICA DE RAÇÕES: UMA RELAÇÃO DE CLIENTE E FORNECEDOR

Diogo Lima Goulart

Consultor de Serviços Técnicos na Agroceres Multimix

Grande parte das propriedades suinícolas possui fábrica de ração própria. A decisão é estratégica, pautada por custo, logística e facilidade operacional.

No entanto, operar uma fábrica dentro da granja aumenta responsabilidades e exige a administração de dois negócios distintos, com equipes, estruturas e objetivos diferentes.

Uma forma eficiente de organizar essa dinâmica é enxergar a granja como cliente e a fábrica como fornecedora. Esse modelo facilita o entendimento de responsabilidades e melhora a comunicação entre os setores.

A seguir, apresentamos uma metodologia que pode ser aplicada tanto em propriedades que já possuem essa estrutura quanto naquelas que pretendem implantá-la.

A importância da leitura de silo

O pedido começa na granja

Como cliente, a granja deve saber exatamente o que precisa, com base no:

Número

Categoria

Com essas informações, é possível estimar o consumo de ração para um período (por exemplo, sete ou quinze dias).

Um erro comum é não considerar a sobra de ração no silo, o que pode gerar problemas logísticos e financeiros. Vejamos a seguir o esquema que ilustra o cálculo e alguns exemplos do porquê é importante considerar a sobra de ração:

A leitura correta do silo permite calcular o volume de ração ainda armazenado. Isso evita:

EXCEDER

A

CAPACIDADE DO SILO:

Pedidos mal dimensionados podem forçar o ensaque manual da sobra, atrasando entregas e comprometendo o cronograma da fábrica.

ERROS NO PROGRAMA ALIMENTAR:

Ao ignorar a sobra, o lote pode atrasar a troca de ração adequada para sua fase, aumentando o custo por usar uma dieta mais cara ou inadequada. Em rações medicadas, isso pode levar a subdosagem ou superdosagem, prejudicando o desempenho ou a saúde dos animais.

PERDA DE QUALIDADE:

Rações paradas por muito tempo nos silos (principalmente nas “paredes” do funil) perdem qualidade e podem fermentar, afetando o desempenho animal.

DESCONTROLE DE CONSUMO:

Acompanhar o consumo real é essencial para identificar problemas como má regulagem de cocho, doenças ou desperdícios. Sem uma leitura precisa do silo, não há como monitorar de forma confiável.

OSCILAÇÕES NA PRODUÇÃO DA FÁBRICA:

Pedidos de última hora impactam o planejamento, causando gargalos e dificultando a organização do processo produtivo.

Como fazer a leitura correta

A leitura envolve abrir o silo com segurança, subir com EPI e avaliar visualmente o nível da ração. O silo é dividido entre funil e anéis, com capacidades distintas conforme o modelo.

Por exemplo: cada anel pode armazenar duas toneladas e o funil, três toneladas. Se o segundo anel estiver pela metade e o funil estiver cheio, temos cerca de quatro toneladas restantes.

Além disso, a densidade dos ingredientes interfere no volume ocupado. Milho e sorgo, por exemplo, têm densidades diferentes.

Por isso, é recomendado realizar leituras calibradas, esvaziando os silos e verificando até onde a ração vai quando se conhece o peso descarregado.

Com o tempo, os colaboradores desenvolvem maior precisão, utilizando referências visuais como o número de parafusos visíveis nos anéis, ganhando agilidade e confiabilidade na medição.

Abaixo está apresentada uma ilustraçãoexemplo a fim de orientar a leitura de silo:

Capacidade do silo Leitura de silo

Organização da fábrica de rações

Pedidos de última hora são prejudiciais. Eles forçam a fábrica a reagir no improviso, comprometendo a eficiência e aumentando os riscos de erro. A solução é implementar uma Ordem de Produção de Rações (OPR).

A fábrica precisa conhecer bem sua capacidade:

Qual a capacidade do misturador

Qual o tempo por batida de ração

Tempo de moagem

Capacidade dos silos

Tempo de pesagem dos nutrientes

Organização da pré-mistura e

Tempo para troca de peneiras.

Limpeza, organização e boas práticas

Planejamento também permite cumprir exigências importantes, como a limpeza e organização da fábrica, muitas vezes negligenciadas na correria. Com um cronograma bem definido, essas atividades deixam de ser um problema e passam a compor a rotina de boas práticas da produção.

A OPR deve conter:

Local de entrega

Tipo e quantidade de ração

Observações (limpeza de equipamentos, trocas de ingredientes, especificidades do pedido)

Com esses dados em mãos, é possível prever quantas toneladas podem ser produzidas por dia ou semana.

Com o pedido feito corretamente e com antecedência, a fábrica consegue organizar a OPR de forma eficiente, respeitando exigências legais, como as da Portaria 798/2023, que trata de contaminação cruzada, uso de medicamentos e especificações de ingredientes.

A OPR também facilita processos como pesagem antecipada, organização de insumos e abertura de sacarias, otimizando o tempo da equipe.

Auditoria interna: mais controle, menos desperdício

Organizando os processos da granja e da fábrica, é possível implementar auditorias internas. Elas ajudam a controlar o consumo dos animais e permitem que a fábrica mantenha um ciclo de produção padronizado.

Esse controle garante melhor gestão de estoque e facilita o planejamento de compras de matériaprima. Além disso, evita faltas e garante que a fábrica esteja sempre pronta para atender às demandas da granja de forma previsível.

A rotina ideal: como deve ser feito o pedido

O pedido de ração deve conter:

Resultado da leitura de silo

Número e categoria dos animais

Estimativa

Agindo como cliente consciente, a granja respeita o prazo e a capacidade do seu fornecedor, a fábrica, que por sua vez deve estar preparada para entregar ração de qualidade no tempo certo.

Granja “Cliente”

Faz a leitura do silo

Calcula o que é preciso

Realiza o pedido

Considerações finais

Adotando essa metodologia, a gestão se torna mais eficiente e o fluxo de produção, mais previsível. A granja melhora seu desempenho e a fábrica ganha em organização, constância e qualidade de entrega.

Além disso, promove-se um ambiente de trabalho mais leve e produtivo, com rotinas padronizadas e menos imprevistos. O melhor de tudo: não é necessário investimento financeiro – apenas organização, método e disciplina.

Fábrica de Rações “Fornecedor”

Recebe o pedido Confere Elabora o cronograma

Granja e Fábrica de Rações: uma relação de cliente e fornecedor BAIXAR EM PDF

Recebe a ração

Confere Produz Encaminha para a granja

MARCO REGULATÓRIO QUE MODERNIZA A PRODUÇÃO

Omercado de carne suína desempenha um papel crucial na economia global, sendo uma fonte essencial de proteína animal para uma população mundial em constante crescimento.

O Brasil, como quarto maior produtor e exportador de carne suína do mundo, destaca-se com uma produção que ultrapassa 5 milhões de toneladas e exportações superiores a 1 milhão de toneladas, desempenhando um papel fundamental nesse cenário.

Amanda Barros Gerente Técnica ABPA

Em um mercado altamente complexo, a conformidade com os princípios produtivos, regulatórios e as tecnologias vigentes é determinante para a manutenção da competitividade.

É nesse contexto que a Instrução

Normativa 79/2018, em conjunto com a Lei nº 14.515/2022 – conhecida como

Lei do Autocontrole –, representa um avanço significativo na modernização da inspeção de produtos de origem animal no Brasil.

Essas normativas alinham-se à tendência global de responsabilização do setor privado pela qualidade e segurança dos alimentos ao longo da cadeia produtiva de suínos.

A adoção desse novo modelo de inspeção implica uma mudança relevante na execução da inspeção de carne suína.

O setor privado passa a assumir maior responsabilidade na garantia da qualidade e segurança dos alimentos, enquanto o governo concentra sua atuação na fiscalização dos processos-chave, com foco na segurança dos alimentos.

No entanto, a adesão a esse sistema é restrita a estabelecimentos que realizam o abate de suínos criados em regime de confinamento, sob sistemas de integração e cooperativismo, ou por criadores independentes devidamente registrados no serviço oficial de saúde animal.

Dessa forma, a nova regulamentação não se aplica a suínos reprodutores nem a outras espécies de suídeos de vida livre ou criados a campo em qualquer fase da produção.

Essa restrição é respaldada por estudos científicos conduzidos pela Embrapa, que analisaram sistemas de criação nos quais há maior controle das variáveis relacionadas à produção animal, conferindo segurança e confiabilidade à proposta regulatória.

A Instrução Normativa 79, aliada à Lei do Autocontrole, abre caminho para avanços tecnológicos expressivos no setor de produção animal.

Permite a coleta e análise de dados em tempo real, por meio de ferramentas como Internet das Coisas (IoT), câmeras inteligentes e sistemas de gestão da informação, possibilitando um controle muito mais preciso e assertivo de todo o processo produtivo.

A análise de dados, por exemplo, permite identificar padrões e tendências que podem indicar riscos à saúde pública, possibilitando a tomada de decisões preventivas e corretivas com maior agilidade e eficiência.

O uso de câmeras inteligentes, por sua vez, auxilia na identificação de animais doentes ou com comportamentos anormais, permitindo intervenções precoces e prevenindo a contaminação de outros animais e produtos.

Essa integração de tecnologias e a abordagem orientada por dados ("data driven") têm o potencial de revolucionar o setor, tornando-o mais eficiente, seguro e sustentável.

A inspeção baseada em risco já é uma realidade em países como Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia. Em todos esses casos, o modelo prevê a responsabilização do estabelecimento produtor pela implementação e manutenção das Boas Práticas de Fabricação, bem como pela gestão e controle dos riscos à saúde pública.

Nesse contexto, a normativa introduz a figura do Médico Veterinário Responsável (MVR), que desempenha um papel estratégico dentro do modelo de Inspeção Baseada em Risco.

Cabe a esse profissional a análise de informações e a tomada de decisões técnicas que garantam a qualidade e a segurança dos produtos, desde a recepção dos animais até a avaliação dos produtos.

Além disso, o MVR assume um papelchave na gestão e comunicação entre a empresa e os órgãos de fiscalização, tornando o investimento na capacitação profissional ainda mais essencial em um cenário de crescente adoção de ferramentas tecnológicas avançadas.

E NA PRÁTICA, O QUE MUDA?

O sistema de inspeção baseado em risco fortalece a conexão entre fomento e indústria, profissionalizando a gestão de dados e convertendo essas informações em ações de melhoria contínua.

O novo modelo permite um fluxo de feedbacks diretos entre os processos de abate e a origem dos animais, eliminando intermediários na comunicação das informações sobre aproveitamento e condenações.

SAIBA MAIS

SOBRE OS

NOSSOS

PRODUTOS:

Angelica Teixeira

Coordenadora técnica de território

Assim como a Angelica Teixeira, cada membro de nossa equipe desempenha um papel importante na cadeia produtiva de alimentos do Brasil.

Prezamos pela qualidade e segurança alimentar, e temos orgulho em fazer parte da indústria, garantindo que alimentos seguros cheguem às mesas das pessoas em todo o mundo.

Dessa forma, a própria empresa passa a ser diretamente responsável pela avaliação primária da condição sanitária de seus animais no momento do abate.

Isso significa que as empresas deverão monitorar e avaliar continuamente a saúde e a segurança de seus plantéis nas linhas de inspeção, além de adotar medidas preventivas e corretivas para controlar doenças e outros riscos à saúde pública e dos animais.

Essa abordagem é fundamental porque confere ao setor produtivo um papel mais ativo na garantia da qualidade e segurança de seus produtos, ao mesmo tempo em que libera recursos governamentais para se concentrarem na fiscalização de processos determinantes.

Além disso, a inspeção baseada em risco incentiva investimentos em práticas de manejo e produção sustentáveis, reduzindo riscos à saúde pública e otimizando os custos da inspeção.

Para que essa nova abordagem seja plenamente eficaz, é fundamental que a fiscalização governamental se mantenha robusta e eficiente. Isso exige investimentos na capacitação de fiscais e no desenvolvimento de sistemas de monitoramento modernos.

Tal capacitação promove com objetivo na transformação dos médicos veterinários oficiais em auditores focados na fiscalização dos aspectos mais críticos para a saúde pública, pode consolidar essa parceria entre setor privado e governo, tornando o sistema de inspeção brasileiro mais competitivo e, potencialmente, uma referência global.

A busca por aprimoramentos na produção e inspeção, como os propostos pela IN 79/2018, reforça o compromisso do Brasil em manter e fortalecer sua posição no mercado internacional de carne suína.

Marco regulatório que moderniza a produção BAIXAR EM PDF

IMPACTO DAS MICOTOXINAS NA LONGEVIDADE, SAÚDE E PRODUTIVIDADE DE MATRIZES SUÍNAS

Jovan Sabadin¹; José Paulo Hiroji Sato²; Gefferson Almeida da Silva³

¹Técnico em Agropecuária / Economista Agroindustrial. especialista em Saúde e Qualidade na Cadeia de Aves e Suínos;

²Médico Veterinário, MsC e DsC em Ciência Animal;

³Médico Veterinário, MsC em Ciência Animal

Amatriz suína é o alicerce biológico dos sistemas produtivos de suínos, impactando diretamente a eficiência zootécnica e econômica das gerações subsequentes.

O aumento da produtividade das fêmeas, fruto de avanços em genética, nutrição e manejo, elevou também suas exigências fisiológicas, tornando-as mais vulneráveis a desafios sanitários e ambientais.

Dentre esses desafios, destaca-se a presença de micotoxinas na alimentação, contaminantes invisíveis que afetam saúde, fertilidade e longevidade das matrizes.

MICOTOXINAS: ORIGEM E RISCOS

As micotoxinas são metabólitos tóxicos produzidos por fungos presentes em lavouras ou sistemas de armazenamento de grãos, como por exemplo fungos dos gêneros Aspergillus, Fusarium e Penicillium

Sua presença em grãos é favorecida por:

Fatores climáticos

Contaminação cruzada

Práticas agrícolas inadequadas

Falhas na colheita

Armazenamento de ciente

Como os grãos são adquiridos como commodities, muitas vezes sem controle efetivo de qualidade, os suinocultores enfrentam limitações para garantir ingredientes livres de toxinas.

Levantamentos mostram que a contaminação por micotoxinas é elevada na América Latina.

Dados da Vetanco (2016–2024) evidenciam não apenas a persistência da positividade, mas o aumento preocupante da coocorrência de múltiplas toxinas em uma mesma amostra, potencializando os efeitos deletérios devido à sinergia entre compostos.

2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023 2024

% Positividade

Linear (Contaminações por 2 ou mais micotoxinas)

Contaminações por 2 ou mais micotexinas

Linear (% Positividade)

Figura 1 – Evolução da positividade e da coocorrência de micotoxinas em rações e ingredientes, analisados pela Vetanco em seus laboratórios (2016–2024).

PRINCIPAIS MICOTOXINAS E EFEITOS NAS MATRIZES

Aflatoxinas

As aflatoxinas são micotoxinas produzidas por fungos do gênero Aspergillus, sendo altamente tóxicas para suínos, mesmo em níveis subclínicos.

Em matrizes suínas, sua ingestão crônica compromete a produtividade ao reduzir o consumo de ração, afetar a fertilidade e aumentar os casos de natimortos.

Os efeitos na longevidade incluem maior taxa de descarte precoce e menor vida produtiva, elevando os custos de reposição.

Do ponto de vista da saúde, são hepatotóxicas e imunossupressoras, afetando o fígado, o sistema imune e o reprodutivo, além de impactarem negativamente o desenvolvimento dos leitões via leite contaminado.

Zearalenona

A zearalenona (ZEA) é uma micotoxina estrogênica produzida por fungos do gênero Fusarium, comumente encontrada em grãos como milho, soja, trigo e cevada.

Em matrizes suínas, sua ação mimetiza o estradiol, provocando distúrbios hormonais e reprodutivos. Os principais efeitos incluem:

Alterações no ciclo estral,

Ovulação retardada,

Cistos ovarianos,

Hiperplasia endometrial e

Desenvolvimento anormal das glândulas mamárias.

Estudos recentes demonstram que há interferência da ZEA em qualidade das vilosidades intestinais e interferência na microbiota intestinal.

Esses impactos comprometem a fertilidade, aumentam a incidência de natimortos e leitões de baixo peso, e levam ao descarte precoce das fêmeas, reduzindo a longevidade produtiva do plantel.

Fumonisinas

As fumonisinas são micotoxinas produzidas por Fusarium verticillioides e F. proliferatum, frequentemente presentes em grãos como o milho.

Em matrizes suínas, a exposição crônica compromete a produtividade, provocando redução no consumo de ração, falhas reprodutivas e prejuízos à saúde intestinal.

Os efeitos sobre a longevidade incluem aumento da mortalidade por edema pulmonar, descarte precoce e menor vida produtiva.

Além disso, as fumonisinas afetam o sistema respiratório, fígado, pâncreas e imunidade, resultando em maior vulnerabilidade a infecções e menor resposta vacinal.

Tricotecenos (DON, T-2, etc.)

Ocratoxina A

A ocratoxina A (OTA), produzida por fungos dos gêneros Aspergillus e Penicillium, é frequentemente encontrada em grãos como milho, trigo e cevada.

Sua ingestão por matrizes suínas compromete a produtividade ao reduzir o consumo de ração, afetar a absorção de nutrientes e interferir na fertilidade.

A intoxicação também pode levar ao descarte precoce, aumento da mortalidade e redução da vida produtiva.

Do ponto de vista da saúde, a OTA provoca imunossupressão, lesões intestinais, distúrbios reprodutivos, nefrotoxicidade e estresse oxidativo, tornando-se uma ameaça relevante à eficiência reprodutiva das fêmeas suínas.

Os tricotecenos são micotoxinas produzidas por fungos do gênero Fusarium, com destaque para o deoxinivalenol (DON) e a toxina T-2, frequentemente presentes em grãos como milho, soja, trigo e cevada.

Em matrizes suínas, esses compostos comprometem a produtividade ao reduzir o consumo de ração, causar lesões intestinais e interferir na produção hormonal, afetando negativamente a fertilidade.

A exposição prolongada pode levar ao descarte precoce das fêmeas, reduzindo resposta vacinal, aumento da mortalidade e redução da vida produtiva.

Além disso, os tricotecenos afetam a saúde por causar imunossupressão, disfunções digestivas e reprodutivas, comprometendo o desempenho e o bem-estar das matrizes.

Na Tabela 02, a seguir, está um resumo de uma metanálise feita de artigos, sites, livros e experiências de campo sobre os sinais que cada uma das micotoxinas podem causar aos suínos:

SINERGIA ENTRE MICOTOXINAS

A presença simultânea de múltiplas micotoxinas em rações é uma realidade comum na suinocultura, devido à contaminação de grãos por vários gêneros de fungos.

Aflatoxinas

Danos a síntese proteica, imunossupressão, redução do ganho de peso, diarreia, ataxia, palidez, má absorção de alimentos, esteatose hepática (fígado gorduroso), Esteatorrea (aumenta gordura nas fezes), hemorragias, ausência de leite pós-parto, fígado amarelado e edemaciado.

Fumonisinas

Zearalenona

Imunossupressão, dano ao SNC (similaridade com esfingosina), hepatotoxicidade, edema pulmonar, redução do ganho de peso, hidrotorax, mortalidade, menor resposta vacinal, danos ao trato gastrointestinal.

Hiperestrogenismo, inibição da ovulação (Baixa FSH), hipertrofia do útero, vulva edemaciada, atrofia de ovários, redução do tamanho dos leitões, splay leg em leitões recém-nascidos, abortos, imunossupressão, prolapso retal, baixa fertilidade e produtividade, danos ao trato gastrointestinal, danos ao aparelho mamário, cios irregulares, pseudogestação e anestro.

Tricotecenos

Recusa de alimento, distúrbios gástricos, lesões necróticas na pele, imunossupressão, transtornos nervosos, piora na conversão alimentar, menor resposta vacinal, danos ao trato gastrointestinal.

Ocratoxina

Desidratação, sede e micção excessiva, nefropatia micótica suína, piora da conversão alimentar, mortalidade, hematúria, alterações hormonais, danos ao trato gastrointestinal, nefrotoxicidade e estresse oxidativo.

Micotoxina
Sinais clínicos

Essa coocorrência pode resultar em interações sinérgicas, onde os efeitos tóxicos combinados superam a soma dos efeitos individuais de cada micotoxina, mesmo quando presentes em níveis abaixo dos limites considerados seguros.

Exemplos de Interações Sinérgicas

Aflatoxinas e Fumonisinas: Estudos demonstram que a combinação dessas micotoxinas intensifica a imunossupressão e os danos hepáticos em suínos, aumentando a suscetibilidade a infecções e comprometendo a função hepática.

Deoxinivalenol (DON) e Aflatoxina B1: A presença conjunta dessas toxinas em dietas suínas pode levar a uma maior gravidade de sintomas clínicos, como redução do ganho de peso, anemia e rejeição alimentar.

Zearalenona e Toxina T-2: A interação entre essas micotoxinas pode resultar em efeitos sinérgicos sobre a função imunológica e reprodutiva dos suínos, agravando problemas como infertilidade e abortos.

IMPACTOS FISIOLÓGICOS NAS MATRIZES

Como forma de sintetizar os efeitos causados pelas micotoxinas na suinocultura e em especial no plantel de matrizes produtivas, pode-se afirmar que as micotoxinas afetam em:

Estresse oxidativo aumentado e danos celulares hepáticos

Atro a de vilosidades intestinais e aumento da permeabilidade intestinal

Imunossupressão e baixa resposta vacinal

Conversão alimentar e ganho de peso diário comprometidos Redução do consumo voluntário de alimento

Atraso na maturação dos oócitos e ovulação Alterações na membrana folicular e no útero Danos histológicos em células mamárias e pulmonares

Redução da digestibilidade e qualidade dos alimentos ingeridos

CONCLUSÃO

As micotoxinas configuram-se como um dos principais desafios silenciosos que comprometem o desempenho produtivo das matrizes suínas, com impactos significativos sobre a saúde, a fertilidade e a longevidade produtiva.

A adoção de uma abordagem preventiva, aliada ao monitoramento sistemático da qualidade dos ingredientes utilizados na formulação de rações, cuidados no armazenamento de matérias primas e à utilização de aditivos antimicotoxinas eficazes, é fundamental para assegurar a não ocorrência de micotoxicoses no plantel, mantendo o bem-estar, a eficiência zootécnica e a permanência das fêmeas no plantel reprodutivo.

Essas estratégias são determinantes para a redução de perdas econômicas associadas ao descarte precoce de matrizes, contribuindo para a sustentabilidade e rentabilidade dos sistemas produtivos.

Impacto das Micotoxinas na Longevidade, Saúde e Produtividade de Matrizes Suínas

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Referências sob consulta do autor

TECNOLOGIA, DADOS E DECISÕES: O QUE REALMENTE INTERESSA NA NOVA ERA DA SUINOCULTURA

Priscila Beck

Cobertura especial da suínoBrasil no Agriness Next 2025, Balneário Camboriú (SC)

Com estética de impacto, o Agriness

Next 2025 reuniu apresentações sobre inteligência artificial, digitalização e produtividade no agro Realizado nos dias 8 e 9 de maio, em Balneário Camboriú (SC), o evento se propôs a discutir o futuro da produção animal, com foco em transformação tecnológica.

A equipe da suínoBrasil acompanhou as sessões e selecionou, com olhar crítico, os conteúdos mais destacados para o setor suinícola, buscando valorizar o que, de fato, pode fazer diferença na tomada de decisão técnica.

A programação começou com uma abordagem introdutória sobre inteligência artificial e seu uso crescente no agro brasileiro. O tema foi tratado como ponto de partida para as demais discussões sobre aplicações práticas e decisões baseadas em dados.

Débora Lalo, executiva da Google Cloud, trouxe reflexões sobre o papel do agro diante de desafios globais como:

Mudanças climáticas

Aumento de resíduos. Insegurança alimentar

Em vez de se ater à apresentação de ferramentas da empresa, chamou atenção para o impacto que soluções baseadas em IA podem ter na rastreabilidade, na logística, no uso eficiente de insumos e no desenvolvimento de variedades mais resistentes.

Segundo ela, levantamentos com produtores apontam que 70% dos usuários dessas tecnologias já relatam ganhos de pelo menos 20% em eficiência operacional.

SANIDADE ANIMAL

Na apresentação mais voltada à suinocultura, Edson Magalhães, professor da Iowa State University, detalhou aplicações reais de modelos de precisão em sanidade animal.

Com formação em veterinária e especialização em epidemiologia e ciência de dados, Edson mostrou como sensores, softwares e câmeras estão transformando a rotina de análise de desempenho em granjas nos Estados Unidos.

Ele citou tecnologias capazes de:

Estimar o peso de mais de dois mil suínos com alta precisão

Identi car variações de consumo de ração por fêmea

Cruzar dados ambientais com indicadores de saúde animal. Monitorar sinais de tosse e

“Coletar dados já não é mais o problema. O desafio agora é integrar todas essas informações para gerar alertas precoces e orientar decisões assertivas”, explicou.

Para ele, ainda se usa demais a média como referência, quando a análise preditiva — baseada em padrões e correlações — já está ao alcance.

Edson também alertou para a importância de os profissionais da suinocultura entenderem como funcionam os modelos preditivos, já que sua eficácia depende da qualidade dos dados e da frequência das atualizações.

“O modelo não substitui o técnico, mas amplia a capacidade dele de antecipar problemas. Quanto mais cedo a informação chega, maior a chance de intervir sem comprometer o desempenho do lote”, explicou.

Para ele, a integração entre biosseguridade e inteligência artificial será um dos pilares da produção suína nos próximos anos.

MERCADO FINANCEIRO

Raony Rosseti, ex-diretor da XP e hoje à frente da Melver, fez uma apresentação didática sobre as formas de inserção do agronegócio no mercado financeiro.

Segundo ele, embora ainda pouco representado na Bolsa brasileira, o agro tem conquistado espaço com instrumentos como os Fiagros e os CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio), que permitem captar recursos de investidores com isenção fiscal.

Raony também abordou estratégias de proteção contra riscos de preço, mostrando como o mercado futuro pode ser usado como ferramenta para estabilizar margens e reduzir a exposição do produtor às oscilações.

“Ainda é um tema distante da maioria das granjas, mas que pode se tornar fundamental em um cenário de custos voláteis”, pontuou.

SUINOCULTURA CHINESA

Representando a Cargill na Ásia, Zing Yang trouxe uma análise profunda da suinocultura chinesa, destacando as particularidades de um mercado que consome internamente cerca de 55 milhões de toneladas de carne suína por ano — praticamente metade da produção mundial.

Segundo ela, o consumo per capita, de 41 kg, ainda é dominado por carne fresca, o que dificulta a centralização produtiva.

Zing abordou os efeitos duradouros da Peste Suína Africana, que levou a prejuízos consecutivos em 2023 e afetou profundamente a estabilidade do setor.

Segundo ela, o foco atual está na busca por eficiência e na contenção da volatilidade, e não mais na expansão de volume.

“Após um ciclo de perdas, muitos produtores de menor escala estão deixando o setor. A sustentabilidade econômica agora depende de gestão e estabilidade sanitária”, afirmou.

Fechando a programação, Ricardo Cavallini, da Singularity University, trouxe uma abordagem provocadora — e necessária — sobre o impacto das novas tecnologias no futuro do trabalho.

Com linguagem acessível, falou sobre impressão 3D, algoritmos de predição e inteligência artificial com base em exemplos já disponíveis no mercado, incluindo sensores portáteis que analisam alimentos e softwares que desenham bebidas a partir da composição molecular.

“A IA não é apenas um novo software. Ela representa uma mudança de paradigma, como sair da carroça para o carro com piloto automático. Tudo ao nosso redor terá algum grau de inteligência digital, e quem não se adaptar ficará para trás”, afirmou.

Tecnologia, dados e decisões: o que realmente interessa na nova era da suinocultura BAIXAR EM PDF

ESTUDO DEMONSTRA ECONOMIA DE 69% AO REDUZIR USO DE ANTIMICROBIANOS NA PREVENÇÃO DE ENTEROPATIA PROLIFERATIVA SUÍNA

Marco Aurélio Gallina¹,²; Monike Willemin Quirino¹; Rafael Frandoloso³,4; Yuso Henrique Tutida5; Adriano Norenberg5; Arlei Coldebella6; Ivan Bianchi¹; Jalusa Deon Kich¹,6

¹Curso de Pós-Graduação em Produção e Sanidade Animal, Instituto Federal Catarinense, Araquari, SC, Brazil

²MSD Saúde Animal, São Paulo, SP, Brazil

³Laboratório de Microbiologia e Imunologia Avançada, Escola de Ciências Agrárias, Inovação e Negócios, Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, RS, Brazil

4AFK Imunotech, Passo Fundo, RS, Brazil

5Pamplona Alimentos, Rio do Sul, SC, Brazil

6Embrapa Suínos e Aves, Concórdia, SC, Brazil

Análises foram feitas com três grupos de leitões de granjas brasileiras, avaliando os custos associados às estratégias adotadas e os efeitos ao longo das fases de creche e crescimento-terminação

Um estudo realizado com leitões de uma integradora de suínos no Brasil avaliou a vacinação e o uso profilático de antimicrobianos como estratégias para prevenir a Enteropatia Proliferativa Suína (EPS) durante as fases de creche e crescimento-terminação.

Os resultados foram publicados neste início de ano e mostraram as diferenças conquistadas no experimento a campo com um grupo de leitões vacinados contra L. intracellularis (VNMED) em comparação a um grupo de leitões vacinados e medicados com antimicrobianos (VMED) e um grupo de não vacinados, mas medicados com antimicrobianos (NVMED).

Leitões vacinados contra L. intracellularis (VNMED)

Leitões vacinados e medicados com antimicrobianos (VMED)

Leitões não vacinados (NVMED)

As análises consideraram o desempenho clínico, zootécnico e o perfil imunológico.

Primeiramente, vale destacar que a EPS é uma doença endêmica economicamente importante para a suinocultura, de alta prevalência mundial.

O agente etiológico, Lawsonia intracellularis, pode afetar tanto leitões com mais de 4 meses quanto leitões jovens, de 6 a 20 semanas de idade.

A doença tem a forma clínica aguda (Enteropatia Hemorrágica Suína), causando altas taxas de mortalidade devido à diarreia hemorrágica, e a forma subclínica crônica (Adenomatose Intestinal Suína), que, apesar de resultar em baixa taxa de mortalidade, causa perdas significativas no desempenho.

Uma das abordagens de controle para a Enteropatia Proliferativa Suína é o uso de vacinas licenciadas, que são 3 atualmente no Brasil, da MSD Saúde Animal:

Outra opção de controle é por meio do uso profilático de antimicrobianos, que são incluídos na ração fornecida aos animais.

Diante disso, as vacinas para Lawsonia

Intracellularis são uma via alternativa ao tratamento profilático que é amplamente utilizado em rebanhos suínos, mas não é necessariamente o melhor caminho.

A interação entre antimicrobianos e vacinas, além dos efeitos antibióticos, pode:

Suprimir a resposta imune humoral pós-vacinal ou

Afetar negativamente a resposta mediada pelas células.

Segundo dados do estudo, cerca de 73% de todo antimicrobiano vendido no mundo é utilizado na produção animal – em 2020, foi estimado em 99.502 toneladas de ingredientes ativos.

De acordo com Marco Aurélio Gallina, médico-veterinário, gerente comercial da unidade de negócios de Suinocultura da MSD Saúde Animal e um dos responsáveis pelo experimento publicado, a mitigação da resistência antimicrobiana em animais, humanos e no meio ambiente depende principalmente da redução da necessidade do uso de antimicrobianos.

Marco Aurélio Gallina
Porcilis® Ileitis
Porcilis®
Lawsonia ID, da MSD Saúde Animal.

“A resistência antimicrobiana, que é um dos desafios globais que a produção animal intensiva precisa colaborar em seu enfrentamento, é de suma importância e o estudo detalhou justamente como a redução desse consumo impacta em economia e atende à premissa One Health de redução do uso de antimicrobianos na produção animal”, diz.

RESULTADOS

Para controlar a infecção por L. intracellularis, os suínos podem utilizar respostas imunes humorais (anticorpos) e celulares, e essas respostas podem ser moduladas durante o processo natural de infecção ou pela vacinação.

Os custos daqueles somente vacinados em comparação aos animais que recebem vacinação e medicação chega a ser cerca de 3 vezes inferior.

Dados do estudo mostram que os leitões que receberam a vacina Porcilis® Ileitis apresentaram significativamente mais anticorpos do que aqueles não imunizados.

Além disso, o uso da vacina para prevenir a EPS reduziu o consumo de antimicrobianos e os custos relacionados em 69%, sem prejuízos nos resultados de produção.

Do mesmo modo, na comparação dos grupos que somente receberam a vacinação com os que foram somente medicados, foi constatada a mesma redução de valor, sinalizando a possível não necessidade do uso combinado da vacina com o antimicrobiano.

“A estratégia de somente vacinar (VNMED) levou a uma economia de US$ 1.156,0 ou US$1.116,8 por grupo, em comparação com a abordagem de grupos não vacinados, mas medicados (NVMED) ou vacinados e medicados com antimicrobianos (VMED)”, detalha Gallina.

Em resumo, os dados gerais encontrados no experimento sugerem que o uso exclusivo dos protocolos de vacinação e medidas de biossegurança adequadas são suficientes para garantir o desempenho satisfatório de saúde e crescimento, reduzindo, portanto, a necessidade do uso profilático de antimicrobianos na produção suína para casos de EPS

“O uso de vacina inativada contra L. intracellularis para prevenir Enteropatia Proliferativa Suína é uma estratégia eficaz para reduzir o uso profilático de antimicrobianos. A substituição do programa de medicamentos pela vacinação não alterou os parâmetros zootécnicos, no entanto, reduziu significativamente os gastos com antimicrobianos, aumentando a lucratividade da operação”, complementa Gallina.

Estudo demonstra economia de 69% ao reduzir uso de antimicrobianos na prevenção de Enteropatia Proliferativa Suína BAIXAR EM PDF

EFICIÊNCIA OPERACIONAL

COM O USO DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

Leonardo Thielo de La Vega¹;Verônica Pacheco²

¹Médico Veterinário e sócio-fundador da F&S Cap

²Engenheira de Biossistemas, Mestre e Doutora em Ciências pela Universidade de São Paulo.

Nas últimas décadas, avanços no manejo nutricional e na seleção genética levaram ao desenvolvimento de animais mais produtivos. No entanto, a intensificação da produção exige novas abordagens para otimizar a eficiência operacional nos sistemas produtivos.

Da mesma forma, a crescente demanda global por alimentos e as exigências dos consumidores quanto ao bem-estar e à saúde animal impulsionam a necessidade de monitoramento contínuo dos animais. Como a supervisão manual é complexa e suscetível a erros, a adoção de tecnologias avançadas torna-se essencial.

O avanço das tecnologias de monitoramento tem impulsionado a geração massiva de dados sobre:

O comportamento

A saúde e O desempenho dos animais.

Sensores e sistemas automatizados já são amplamente utilizados na produção suína, especialmente no controle do consumo alimentar e das condições climáticas, fatores essenciais para a garantia da produtividade e o bem-estar animal.

Além disso, softwares de gestão desempenham um papel fundamental ao integrar e processar grandes volumes de dados, permitindo uma tomada de decisão mais eficiente e aumentando a competitividade do setor.

À medida que a complexidade e a quantidade de dados gerados aumentam, torna-se essencial adotar novas abordagens para sua interpretação. Atualmente, muitas ferramentas de monitoramento ainda analisam os rebanhos de forma coletiva, baseando-se em médias populacionais e respondendo a problemas apenas após sua manifestação evidente.

Esse modelo de monitoramento pode mascarar variações individuais importantes, dificultando a identificação precoce de alterações no comportamento ou na saúde dos animais. Como consequência, essas alterações podem passar despercebidas até atingirem um estágio mais avançado, comprometendo o bem-estar e a produtividade do rebanho.

Nesse cenário, a Inteligência Artificial (IA) desempenha um papel crucial ao processar grandes volumes de dados, identificar padrões e antecipar tendências, tornando a tomada de decisão mais precisa e eficiente.

A Aprendizagem de Máquina (Machine Learning – ML), um dos principais ramos da IA, permite que computadores analisem dados sem a necessidade de programação explícita para cada tarefa. Por meio de algoritmos, modelos preditivos são capazes de associar padrões a diferentes resultados, possibilitando previsões e diagnósticos automatizados.

Entre as diversas abordagens do ML, destaca-se a visão computacional, que oferece uma forma objetiva, não invasiva e contínua de monitoramento ao analisar imagens e vídeos.

Na suinocultura, essa abordagem pode ser usada para:

Identificar alterações comportamentais

Detectar sinais precoces de doenças e

Avaliar o bem-estar dos animais.

Além disso, avanços recentes na análise de sons emitidos pelos suínos têm possibilitado a detecção de padrões vocais associados a estresse, dor ou desconforto.

A combinação dessas técnicas amplia as possibilidades de monitoramento automatizado, promovendo uma produção mais eficiente, sustentável e focada no bem-estar animal.

Sistemas especialistas, desenvolvidos para substituir tarefas humanas, vêm sendo estudados há décadas. O termo IA e algumas pesquisas na área surgiram logo após a Segunda Guerra Mundial. Já em 1990, estudos para a estimativa de peso de suínos a partir de imagens digitais demonstravam acurácia de 5%.

No entanto, foi apenas com o avanço dos computadores modernos que a IA encontrou os recursos necessários para seu desenvolvimento.

Hoje, modelos computacionais para predição de peso de suínos por meio de imagens alcançam R² de 0,99, o que indica que aproximadamente 99% da variação nos dados reais pode ser explicada pelo modelo preditivo.

Na suinocultura, ferramentas de IA têm se mostrado promissoras para o monitoramento do bem-estar e a detecção precoce de doenças. Tecnologias de ML auxiliam na:

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Identi cação de lesões de pele e doenças dermatológicas

Analisam vocalizações e imagens para detectar padrões de estresse ou agressividade

Expressões faciais também são estudadas como alternativa não invasiva para identi car dor ou estresse.

Além disso, o uso de câmeras permite observar comportamentos e identificar anomalias, otimizando o manejo e contribuindo para a saúde e o bem-estar animal.

Esses avanços reforçam o papel da IA na melhoria de práticas relacionadas à nutrição, reprodução e manejo dos animais.

A F&S tem desenvolvido ferramentas de suporte à decisão para suinocultores, utilizando sensores não invasivos e inteligência artificial para interpretação de dados. A empresa está focada no desenvolvimento de algoritmos inovadores para a predição de:

Estresse térmico

Comportamento e

Peso corporal de suínos

Trazendo assim, soluções avançadas ao monitoramento automatizado na suinocultura. Sobretudo, a F&S tem buscado ativamente transferir essas tecnologias para o meio comercial, com o objetivo de tornar essas ferramentas acessíveis e escaláveis para os produtores.

Com isso, visa aprimorar a gestão da produção suína, permitindo uma implementação prática e eficiente das soluções, que são adaptáveis às realidades do mercado e às necessidades dos sistemas produtivos.

Essa transição para o ambiente comercial é essencial para viabilizar a adoção em larga escala e, assim, otimizar os resultados da suinocultura por meio de tecnologias de ponta.

Para a predição de estresse térmico, a F&S está desenvolvendo um algoritmo que utiliza imagens térmicas para identificar se os animais estão sob estresse térmico. Essa abordagem se destaca pelo uso de imagens térmicas, que capturam parâmetros fisiológicos individuais, permitindo uma avaliação mais precisa e personalizada do bemestar dos suínos.

Outro projeto em desenvolvimento é voltado para a detecção automática de comportamentos de suínos em baias coletivas. O algoritmo foi treinado para classificar comportamentos como andar, dormir, comer e beber, com base em imagens coloridas.

Essa tecnologia viabiliza o monitoramento detalhado da atividade dos animais, auxiliando na melhoria do manejo e da saúde dos lotes.

A F&S está trabalhando em um modelo para a predição do peso corporal de suínos a partir de imagens de profundidade (3D). A solução oferece uma forma não invasiva de acompanhar o crescimento dos animais, otimizando práticas de nutrição e comercialização.

Essas tecnologias representam um avanço significativo em relação aos sistemas tradicionais, que avaliam apenas grandes lotes.

Desafios e oportunidades para a implementação de IA na suinocultura

Diferentemente das abordagens convencionais, baseadas majoritariamente em parâmetros produtivos e ambientais, essas soluções incorporam também indicadores fisiológicos individuais, como a temperatura corporal obtida por meio de imagens térmicas.

Essa abordagem possibilita uma avaliação mais precisa do bem-estar animal e do impacto de fatores ambientais em cada indivíduo.

A análise de dados por IA proporciona uma visão mais detalhada do comportamento e das condições dos animais, permitindo ajustes mais precisos na gestão do rebanho.

Todos esses projetos geram relatórios automatizados do lote monitorado, fornecendo informações valiosas para o gerenciamento de recursos, otimização da nutrição e detecção precoce de doenças.

Há também um grande potencial para a aplicação dessas ferramentas em tempo real. Os próximos passos do desenvolvimento incluem o aprimoramento da acurácia dos modelos já desenvolvidos e a integração com sensores e técnicas avançadas que possibilitem a identificação individual dos suínos.

A idealização de um sistema de monitoramento baseado em inteligência artificial exige a integração de diversos dispositivos e uma infraestrutura robusta.

Sensores devem ser instalados nos sistemas de produção para coletar dados em tempo real, tanto dos animais quanto do ambiente. A infraestrutura necessária pode ser local ou baseada na nuvem, com desafios como escalabilidade, fornecimento estável de energia e conectividade.

Para garantir a eficácia do sistema, é essencial assegurar a segurança e a privacidade dos dados, além de sua compatibilidade com sistemas de gestão existentes. A infraestrutura precisa processar grandes volumes de dados em tempo real, exigindo alta capacidade computacional e soluções de backup.

Além dos desafios de infraestrutura, a adoção dessas tecnologias nos sistemas produtivos enfrenta dificuldades de validação, como a queda de precisão em sistemas comerciais.

Isso ocorre devido à dificuldade de obter grandes volumes de dados rotulados e representativos, essenciais para treinar modelos que sejam generalizáveis para diferentes ambientes.

A coleta de dados abrangentes é frequentemente inviável, resultando em modelos baseados em amostras limitadas, que nem sempre refletem a complexidade dos sistemas produtivos.

Também é fundamental demonstrar o retorno econômico das tecnologias, destacando a redução de custos, o aumento da eficiência produtiva e a melhoria do bem-estar dos animais, para que os produtores percebam vantagens concretas na adoção da inteligência artificial.

Outro ponto crítico é o custo de armazenamento e processamento de grandes volumes de dados, que exige investimentos em servidores robustos e sistemas de conectividade eficientes.

A propriedade e o compartilhamento desses dados requerem regulamentação específica, envolvendo produtores, empresas e pesquisadores para estabelecer diretrizes claras.

O avanço contínuo da inteligência artificial na suinocultura exigirá melhorias técnicas e uma evolução nos modelos de negócio que integrem essas tecnologias de forma sustentável.

O futuro das ferramentas baseadas em IA está ligado à criação de modelos mais eficazes, ágeis e adaptáveis, capazes de lidar com as variações dinâmicas dos sistemas de produção.

A superação desses desafios dependerá de uma colaboração estreita entre indústria, academia e setor produtivo, visando o desenvolvimento de soluções práticas, escaláveis e alinhadas às necessidades dos sistemas de produção.

Para isso, a aceitação do público e a capacitação de profissionais serão determinantes, pois sem um entendimento adequado e uma adoção consciente dessas tecnologias, sua implementação pode ser prejudicada.

A personalização de soluções e a integração de dados diversos serão fundamentais para garantir a flexibilidade necessária.

Assim, a IA se consolidará como uma ferramenta essencial, não apenas para o manejo inteligente dos rebanhos, mas também para a transformação da suinocultura em um setor mais eficiente, sustentável e alinhado com as exigências do futuro.

operacional com o uso da Inteligência Artificial BAIXAR EM PDF

Eficiência

COMO A SAÚDE INTESTINAL PODE IMPACTAR A SAÚDE RESPIRATÓRIA DOS SUÍNOS VIA EIXO MICROBIOTAINTESTINO-PULMÃO?

Pedro Henrique Pereira¹, Sibely Aiva Flores2 Vinícius de Souza Cantarelli³

¹Graduando em Medicina Veterinária - UFLA. Membro da linha de pesquisa

Animal Science and Intestinal Health – ASIH.

2Mestranda em Metabolismo e Fisiologia Animal – UFLA. Membro da linha de pesquisa Animal Science and Intestinal Health – ASIH.

³Professor e Pesquisador no Departamento de Zootecnia da UFLA. Orientador da linha de pesquisa Animal Science and Intestinal Health – ASIH.

Os pulmões dos suínos possuem uma microbiota comensal cuja composição pode ser impactada por desafios ambientais como:

Má qualidade do ar

Alta umidade e Exposição a patógenos.

Essas condições favorecem o desenvolvimento de doenças respiratórias, como pneumonia enzoótica e pleuropneumonia suína.

Embora a microbiota pulmonar não seja tão abundante como a intestinal, devido às diferenças relacionadas à localização, como a menor disponibilidade de nutrientes e alta concentração de oxigênio, tem sido observado que as duas estão em constante interação e uma se beneficia da outra.

Mas afinal, por que a modulação da microbiota dos suínos é uma estratégia interessante?

A resposta reside no fato de que a microbiota intestinal dos suínos não apenas coexiste com o organismo do animal, mas executa um papel fundamental em sua fisiologia e desempenho.

O organismo do suíno é formado por diferentes microrganismos que superam em número as células próprias desses animais (SENDER et al, 2017).

Estima-se que a proporção seja de aproximadamente 51% de células microbianas para 49% de células somáticas, o que já destaca a importância desses microrganismos.

No entanto, a verdadeira relevância da microbiota torna-se ainda mais evidente quando analisamos o potencial genético: cerca de 90% dos genes presentes nesses animais pertencem aos microrganismos, enquanto apenas 10% são genes do próprio animal.

A predominância genética da microbiota abre um campo vasto para intervenções estratégicas, visto que os genes microbianos são mutáveis e podem ser modulados por meio de dietas, probióticos, prebióticos ou outras ferramentas nutricionais.

A plasticidade permite ajustar as funções metabólicas da microbiota, otimizando processos como digestão, absorção de nutrientes e resposta imune.

Assim, a modulação da microbiota surge como uma ferramenta poderosa para melhorar o desempenho zootécnico, a saúde intestinal e, consequentemente, a produtividade dos suínos.

Diante da crescente pressão para a redução do uso de antimicrobianos e óxido de zinco na ração, torna-se fundamental compreender as interações entre as diferentes microbiotas do organismo suíno e seus impactos na saúde e no desempenho zootécnico.

Saúde intestinal

Portanto, entender o funcionamento do eixo microbiota-intestino-pulmão abre oportunidades para o desenvolvimento de tecnologias que modulem a microbiota pulmonar via modulação da saúde intestinal. Dessa forma, será abordado como ocorre essa interação.

Comunicação via ácidos graxos de cadeia curta

A comunicação do eixo microbiotaintestino-pulmão, é mediada principalmente pelos ácidos graxos de cadeia curta (AGCCs), produtos da fermentação de fibras alimentares pela microbiota intestinal.

Esses compostos, especialmente o acetato, propionato e butirato, desempenham um papel crucial na modulação da imunidade sistêmica e pulmonar, atuando como uma ponte bioquímica entre os dois órgãos.

A produção de AGCCs ocorre no cólon, onde a microbiota fermenta fibras dietéticas, como polissacarídeos não-amiláceos e amido resistente. Após a fermentação, são absorvidos pelas células epiteliais intestinais, podendo ser utilizados como fonte de energia ou liberados na circulação sanguínea.

Uma vez na corrente sanguínea, esses ácidos graxos são transportados para diversos órgãos, incluindo a medula óssea e os pulmões, mediados por transportadores específicos.

Envolvimento do sistema imune

Os ácidos graxos de cadeia curta (AGCCs) desempenham um papel fundamental na modulação da resposta imune, atuando em diferentes vias anti-inflamatórias.

Na medula óssea orientam a diferenciação de macrófagos e células dendríticas, que migram para os pulmões e ajudam a reduzir inflamações.

Nos pulmões, os AGCCs atuam de duas maneiras principais:

Na redução da inflamação e

Na proteção contra infecções virais.

A primeira ocorre através do bloqueio de ativação de células do sistema imune envolvidas em reações alérgicas e inibem a produção de interleucinas inflamatórias.

Na segunda, os AGCCs estimulam a produção de macrófagos com ação antiinflamatória, reduzindo a liberação de moléculas que atraem neutrófilos, evitando uma resposta inflamatória exacerbada, protegendo o tecido pulmonar.

Além disso, os AGCCs inibem a via inflamatória NF-κB, o que reduz a produção de citocinas pró-inflamatórias (como IL-6 e TNF-α) e aumenta a IL-10, que tem efeito anti-inflamatório.

Translocação de bactérias para os pulmões é sempre doença?

Tendo em vista que a microbiota intestinal está em constante comunicação com os pulmões, especialmente via produção de AGCCs e modulação do sistema imune, fica a dúvida se a translocação, ou seja, a chegada de bactérias da microbiota intestinal nos pulmões, é algo positivo.

No nível molecular, eles regulam a resposta imune ao ativar receptores específicos presentes em células de defesa e do epitélio. O butirato – e, em menor grau, o propionato – também atua diretamente na regulação da expressão de genes envolvidos na proteção e recuperação dos tecidos.

Geralmente essa translocação é associada apenas a eventos adversos, onde existe um desafio prévio capaz de superar as capacidades de resistência e resiliência das microbiotas do organismo, fenômeno chamado de disbiose. Nesse caso, a microbiota intestinal disfuncional somada a falta de integridade da barreira intestinal e incapacidade do sistema imune, podem resultar na migração de bactérias patogênicas nos pulmões.

Outro ponto importante é que os AGCCs ainda influenciam a imunidade adaptativa, especialmente em respostas a patógenos como o vírus da influenza.

Estudos recentes demonstram que esses metabólitos modulam a atividade de células T e B, impactando a produção de anticorpos neutralizantes, sendo essa modulação importante para uma resposta imune específica e eficaz contra infecções virais.

Porém, esse não é o único cenário no qual bactérias intestinais translocam para os pulmões.

Essa comunicação mais direta do eixo microbiota-intestino-pulmão também pode acontecer em suínos saudáveis, no ponto máximo de desempenho, de maneira benéfica com o potencial de proteger o sistema respiratório desses animais contra os desafios que podem aparecer.

Translocação de bactérias também é saúde

O ambiente pulmonar não é tão abundante em disponibilidade de nutrientes como o ambiente intestinal e ainda possui elevadas concentrações de O2, sendo um local hostil para a maioria das bactérias relacionadas à saúde intestinal.

Apesar disso, em alguns momentos o organismo utiliza desse mecanismo a seu favor ao permitir a translocação de alguns microrganismos do intestino para os pulmões, o que acontece quando suínos saudáveis passam por um desafio respiratório primário.

Em estudo realizado por Yang et al. (2024), leitões desmamados foram submetidos à um desafio ambiental com concentração tóxica de amônia, que é lesivo para a mucosa respiratória, para testar se probióticos do gênero Lactobacillus translocariam para os pulmões.

Foi observado nas análises pulmonares que os animais suplementados com esses probióticos via ração tinham maior abundância dessas bactérias, além de possuírem bons resultados de desempenho.

Esse foi o primeiro estudo a demonstrar que é possível suplementar leitões com probióticos para colonização dos pulmões, sendo um assunto ainda a ser explorado.

A forma como ocorre essa translocação pode ser bem semelhante à que ocorre pela via êntero-mamária da microbiota do leite, assunto já abordado na SuínoBrasil pela equipe ASIH.

Dessa forma, é possível que as células dendríticas posicionadas na parede dos intestinos façam a seleção de bactérias benéficas e carreguem elas via sistema linfático ou sanguíneo até alcançarem os pulmões, onde serão liberadas.

Possíveis

tecnologias para potencializar a comunicação intestino-pulmão

A inclusão de probióticos na dieta de suínos pode ser uma ferramenta eficaz para melhorar o desempenho dos animais em situações de desafios respiratórios devido à maior produção de AGCCs, mediadores essenciais do eixo microbiotaintestino-pulmão.

Além disso, a suplementação com probióticos pode ajudar a restaurar os níveis de AGCCs durante episódios de disbiose, comum em animais com comprometimento do trato gastrointestinal ou respiratório.

No campo da pesquisa, torna-se promissora a execução de estudos que procurem probióticos com alta capacidade de translocação do intestino para os pulmões de maneira benéfica.

Após isso, é necessário conhecer exatamente o que essas bactérias normalmente associadas ao intestino podem realizar nos pulmões (será que elas continuam produzindo os mesmos metabólitos? Competem com microrganismos patogênicos? Ou assumem funções novas?).

Esses são passos importantes que representam um enorme potencial para favorecer a saúde intestinal e respiratória dos suínos, melhorando o desempenho com redução da ativação do sistema imune e redução no uso de antimicrobianos.

Como a saúde intestinal pode impactar a saúde respiratória dos suínos via eixo microbiota-intestino-pulmão?

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RECONHECIMENTO SANITÁRIO ABRE

CAMINHO, E SÃO PAULO INICIA EXPORTAÇÃO DE CARNE SUÍNA EM 2025

Em entrevista à suínoBrasil durante o Encontro Técnico Comercial da APCS, o presidente Valdomiro Ferreira Júnior destaca avanço inédito com frigorífico paulista exportando para Ásia, fortalecimento do Consórcio estadual e foco em biosseguridade para garantir novos mercados.

O reconhecimento do Brasil como país livre de febre aftosa sem vacinação, oficializado em maio de 2025 pela OMSA (Organização Mundial de Saúde Animal), começa a gerar frutos diretos também para a suinocultura paulista.

Pela primeira vez, um frigorífico do Estado — a unidade da Gran Corte, em Cerqueira César — fechou contratos de exportação de carne suína para destinos como China e Filipinas.

“Eu não imaginava que em 2025 nós iríamos iniciar a exportação por São Paulo. Foi uma grata surpresa”, afirmou Valdomiro Ferreira Júnior, presidente da APCS (Associação Paulista de Criadores de Suínos), em entrevista exclusiva à suínoBrasil durante o Encontro Técnico Comercial realizado pela entidade em Campinas, no dia 30 de maio.

BIOSSEGURIDADE COMO PRIORIDADE

Com a suspensão da vacinação contra a febre aftosa, o presidente da APCS alerta para a necessidade de reforçar as medidas de biossegurança nas granjas.

Para Ferreira Júnior, a nova condição sanitária é uma conquista coletiva que deve beneficiar todas as cadeias de proteína animal no país.

“Estamos conscientes do que foi feito até aqui, mas é hora de intensificar o trabalho de prevenção. Precisamos agora ficar mais atentos, com orientações técnicas coordenadas por nossas entidades nacionais. Fazer da granja um ambiente produtivo e seguro é um ganho para todos.”

“Isso é uma luta de décadas. Conquistar essa certificação vai nos garantir acesso a novos mercados, com maior valor agregado. É uma vitória não só do governo, mas de todas as cadeias produtivas de carne, e a suinocultura ganha junto”, afirmou.

Ele destacou que o setor tem se mostrado receptivo às novas exigências, mas que ainda há um caminho de conscientização a ser percorrido.

“Sempre é bom fazer o preventivo. A biossegurança precisa ser rotina.”

CRISES SANITÁRIAS

Ao comentar os impactos da Influenza Aviária sobre o mercado da carne suína, Ferreira Júnior ressaltou que o comércio de proteínas está interligado.

“O mercado funciona muito por notícias. Tivemos queda na arroba, de R$165 para R$158, e o setor sofreu pressão.”

Apesar disso, ele avalia que o cenário é temporário e deve se reverter.

“Isso é uma bolha. Vai passar. O mundo continua demandando proteína animal, especialmente os países asiáticos. O Brasil está muito próximo de ultrapassar o Canadá e se tornar o terceiro maior exportador mundial de carne suína.”

CONSÓRCIO

Um dos pilares da estruturação da suinocultura paulista é o Consórcio organizado pela APCS desde 2011, criado durante uma crise de abastecimento e preços.

MERCADO INTERNO

Embora o início das exportações seja um marco, Ferreira Júnior reforça que o foco da produção paulista continua sendo o mercado interno.

“Achamos a fórmula: uma central de compras. No início, o foco era só reduzir custos. Depois, evoluímos para exigir também qualidade. Hoje, todos os produtos incluídos na lista são certificados e homologados”, explicou.

Atualmente, o consórcio movimenta cerca de R$300 milhões por ano, e cobre praticamente tudo o que compõe a alimentação dos animais.

“Eliminamos empresas que sequer tinham registro no Ministério. Hoje temos fornecedores de primeira linha, principalmente na área de nutrição, que representa 66% do nosso custo.”

A força do consórcio também se expressa em números: das 75 mil matrizes do Estado, 54 mil estão no consórcio e 62 mil são representadas pela associação.

“Isso mostra o grau de organização e representatividade que conquistamos.”

“São Paulo produz cerca de 240 mil toneladas por ano, mas consome mais de 1 milhão. Ou seja, 800 mil toneladas vêm de fora — do Sul e Sudeste.”

A vantagem, segundo ele, está na logística.

“Estamos ao lado do maior centro consumidor do país. O produtor abate na madrugada e no mesmo dia a carne já está nas gôndolas do supermercado. Isso é uma vantagem competitiva.”

Ainda assim, o setor quer estar pronto para aproveitar oportunidades externas. “Exportar será sempre nossa segunda opção, mas para isso precisamos estar preparados, com sanidade e frigoríficos adaptados às exigências internacionais.”

PLANEJAMENTO E QUALIFICAÇÃO

O presidente da APCS vê 2025 como um ano de reorganização e aposta na combinação entre planejamento estratégico e investimento em mão de obra.

“Com a atual lucratividade, o momento é de garantir estocagem de insumos. Já compramos farelo até setembro, e em breve vamos fechar o ano.”

Além disso, ele defende que os produtores retomem os investimentos dentro das granjas, após crises que atrasaram modernizações.

“Precisamos identificar onde atacar: climatização, estrutura, eficiência. Isso impacta diretamente a produtividade.”

Por fim, fez um apelo à qualificação profissional: “O mercado não aceita mais o ‘mais ou menos’. Precisamos da melhor mão de obra, mesmo que mais cara. Estamos nos aproximando dos colégios agrícolas e das universidades. Essa integração é essencial para o futuro da suinocultura paulista.”

Reconhecimento sanitário abre caminho, e São Paulo inicia exportação de carne suína em 2025 BAIXAR EM PDF

é simples proteger

A PRIMEIRA vacina oral para controle de colibacilose

Benefícios da coliprotecTM f4/f18:

Versátil - pode ser administrada via aplicador, cochinho ou dosador

Melhora integridade intestinal2

Dose única

Aplicada a partir dos 18 dias de idade

Melhora o desempenho zootécnico dos animais3

Imunidade precoceanimais protegidos 7 dias após a aplicação1

Permite a redução do uso de antimicrobianos: Uso consciente e quando, de fato, necessário4

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