[TEMPORAL] suínoBrasil 1Trimestre 2024

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ESTREPTOCOCOSE EM SUÍNOS

Taís Regina Michaelsen Cê, Adriana Carla Balbinot, Fabiana Carolina de Aguiar e Mariana Santiago Goslar

Um time completo de soluções que contribuem para o equilíbrio da microbiota intestinal e favorecem o desempenho produtivo dos suínos.

vol. 13 núm. 1 (2024)
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ÁCIDOS ORGÂNICOS M O S + B E T AG L U C A N O S CARRIERDE TRANSPORTEATIVO SAÚDE INTESTINAL

UMA ROTA PARA O FUTURO

OSul do Brasil, responsável por parcela relevante na produção das proteínas de aves e suínos, vive as limitações da ausência de investimentos logísticos para movimentação de matéria prima e ou produtos acabados. Deficiência que cobra um preço alto, impactando na elevação de custos. Lembrando que falamos de um setor que a distância entre o lucro e o prejuízo está nos detalhes.

Por exemplo, em Santa Catarina, a interdição da BR-470/SC, na altura de Rio do Sul (SC), foi apenas mais um episódio da trágica série sobre a deterioração da malha rodoviária do estado. Só quem não conhece a dimensão do agronegócio em geral e da agroindústria catarinense, em particular, pode ignorar a gravidade da situação.

O agronegócio catarinense representa 31% do PIB estadual e contribui com 70% das exportações. Santa Catarina é o maior produtor brasileiro de suínos e detém a vice-liderança na produção de aves.

Ancorado no grande oeste catarinense, região mais afetada pela recente cratera aberta no km 143 da BR-470, o parque agroindustrial sustenta 60 mil empregos diretos e 480 mil indiretos. Em 2022 os investimentos diretos do setor totalizaram R$ 5 bilhões e a geração de movimento econômico chegou a R$ 7 bilhões – dinheiro que irriga a economia de centenas de municípios catarinenses.

Apesar desse imenso potencial, do superlativo em números de produção e exportação, esta situação impõe um futuro de desinvestimento em Santa Catarina, mantendo, no máximo, o tamanho que tem hoje, sem mais observar crescimentos de produção, pela impossibilidade de avançar em competitividade que a torne atrativa para novos investimentos. Desta forma, perdendo relevância relativa na dinâmica de mercados.

Para produção de proteínas, Santa Catarina traz de estados ou oaíses vizinhos, 5 milhões de toneladas/ ano de grãos, apenas falando de milho e soja, por modal rodoviário. Em uma operação de ida e volta, são mais de 2 mil quilômetros, sendo que o mesmo desafio reside no escoamento da produção do Oeste catarinense para os portos.

Portos que são outro capitulo à parte, afinal o Porto de Itajai, está fora de operação desde 2022. Retomando, as rodovias catarinenses estão em péssimas condições de conservação, trafegabilidade e, capacidade de suportar as demandas.

Quando falamos de ferrovias, o atraso se amplia no tempo e na geografia. Há décadas discutimos a malha ferroviária, nada acontece e isso impacta os três estados do Sul.

Há mais de 30 anos o agronegócio do Sul do Brasil reivindica a construção de ferrovias. Uma, ligando o Norte do RS, o Oeste de SC ao Centro-oeste brasileiro para a busca de grãos - insumo crítico para setor. Outra, ligando as regiões de produção citadas aos portos. Simples assim.

O modal ferroviário, comprovadamente, possui menores custos comparado ao rodoviário, quando o trajeto é superior a 350 km. É mais eficiente sob a ótica de sustentabilidade.

Um plano de Estado, traçado num horizonte de 50 anos, é fundamental para virar o jogo do desenvolvimento nacional, melhorar a competitividade no mercado externo e, consequentemente, reduzir os preços no mercado interno. Portanto, se não agirmos rapidamente, o Brasil transitará entre a ineficiência e o colapso logístico.

Boa leitura!

José Antônio Ribas Júnior

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Revista Trimestral

ISSN 2965-4238

04 12

Interpretação de laudos laboratoriais na suinocultura: Critérios essenciais para chegar ao diagnóstico e tomada de decisão

Amanda Gabrielle de Souza Daniel Médica Veterinária, MsC. e DsC em Patologia animal

Salmonella, uma vilã na suinocultura

Luciana Fiorin Hernig Coordenadora técnica de suínosResponsável por vacinas vivas na Boehringer Ingelheim

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Mecanismos de ação dos aminoácidos funcionais para melhorar a robustez de suínos em desafio imune

Ismael França, Antônio Diego Brandão Melo, Luciano Hauschild Laboratório de Estudos em Suinocultura Unesp FCAV Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – Unesp Campus Jaboticabal

Desvendando o custo oculto: explorando o impacto do estresse oxidativo na produção de porcas 26

Allan Paul Schinckel¹ e Cesar Augusto Pospissil Garbossa² ¹Purdue University ²Laboratório de Pesquisa em Suínos da FMVZ/USP

.com 2 suínoBrasil 1º Trimestre 2024
porcinews

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Uso de fitogênico para leitões na fase de creche como melhorador de desempenho natural, em substituição aos antibióticos promotores de crescimento

Estreptococose em suínos

A importância da temperatura da água de bebida para suínos 38

Taís Regina Michaelsen Cê¹, Adriana Carla Balbinot¹, Fabiana Carolina de Aguiar¹ e Mariana Santiago Goslar¹ ¹Médica Veterinária – Laboratório de Saúde Animal / SEARA JBS

46

52

Ferramentas tecnológicas e inovadoras na Suinocultura: muito mais que Nutrição

Ana Caroline Rodrigues da Cunha Consultora de Serviços Técnicos em Suínos na Agroceres Multimix

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Deficiência de ferro em suínos: Patogenia, sinais clínicos, diagnóstico, controle e tratamento

Rodrigo Torres Grupo Aro Equipe Técnica Suíno VETANCO Brasil

Betaína como aditivo modificador de carcaça para suínos

Mariana Garcia de Lacerda1 , Amoracyr José Costa Nuñez 2 , Cesar Augusto

Pospissil Garbossa3 , Vivian Vezzoni de Almeida²

¹Graduanda em Zootecnia, Escola de Veterinária e Zootecnia - UFG

2Professor Adjunto, Escola de Veterinária e Zootecnia – UFG

3Professor Doutor, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – USP

Impacto, desafios sanitários e produtivos do manejo em bandas na suinocultura

Ulguim RR*¹, Leal LA¹, Pizzatto BDS¹, Santos LD¹, Mellagi APG¹ & Bortolozzo FP¹

¹Setor de Suínos, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal do Rio Grande do Sul Joana Barreto Zootecnista, MsC em Nutrição e Produção de Suínos, Doutoranda em nutrição e produção de suínos

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Cândida Pollyanna Francisco Azevedo

Zootecnista, MsC em Zootecnia e DsC em Ciência Animal e Pastagens

Suinocultura sustentável e a carne carbono negativo

64 44
3 suínoBrasil 1º Trimestre 2024

INTERPRETAÇÃO DE LAUDOS

LABORATORIAIS NA SUINOCULTURA: CRITÉRIOS ESSENCIAIS PARA CHEGAR AO DIAGNÓSTICO E TOMADA DE DECISÃO

Amanda Gabrielle de Souza Daniel Médica Veterinária, MsC. e DsC em Patologia animal

Ao longo das últimas décadas, a suinocultura intensificou sua produção e, em contramão, observou-se um aumento tanto da transmissão de patógenos, quanto presença de fatores estressantes que acarretaram maiores desafios sanitários.

Dessa forma, se fez necessária uma boa gestão sanitária associando informações zootécnicas e mapeamento dos desafios sanitários para controle estratégico das enfermidades.

O diagnóstico correto tem papel importante no controle das doenças, no uso prudente dos antimicrobianos e rentabilidade do sistema.

O processo diagnóstico pode ser complexo, porém com eficiência na coleta de dados e escolha das ferramentas é possível ser mais assertivo na tomada de decisão.

O primeiro passo provém de uma boa anamnese que irá direcionar a conduta diagnóstica.

4 Sanidade suíno Brasil 1º Trimestre 2024 | Interpretação de laudos laboratoriais na suinocultura: Critérios essenciais para chegar ao diagnóstico e tomada de decisão

Tabela 1 Perguntas necessária antes do envio de uma amostra para o laboratório.

Por que vou enviar essa amostra?

O que pode estar causando a doença?

Quem? O que?

Onde? Como?

Quando coletar?

Quais análises laboratoriais posso realizar para chegar em um resultado consistente?

As técnicas de diagnóstico podem ser utilizadas para:

Monitoria sanitária

Mensurar eficácia de programas sanitários e

Realizar o diagnóstico de doenças à campo

Histórico

Fluxo de Produção

Dieta

Fatores de Risco

Manejo

Programa Sanitário

Para cada finalidade existe uma análise laboratorial mais adequada, pois nem sempre com a técnica de diagnóstico mais moderna obtém-se a melhor resposta.

A seleção correta dos animais é imprescindível para um bom resultado, dependendo da prevalência da doença, tamanho do rebanho, tipo de teste realizado, o número de amostras pode se alterar. É sempre importante escolher animais em quadro agudo não submetidos à terapia antimicrobiana.

Dependendo da natureza dos sinais clínicos e da origem da amostra, os procedimentos de colheita e submissão para diagnóstico laboratorial podem ser diferentes.

Em caso de dúvida, é importante conversar com o laboratório responsável.

Anamnese Individual e do Rebanho (Epidemiologia)

Sinais Clínicos e Alterações Morfológicas (Relatório)

Seleção dos Animais e Coleta de Material

Determinação de Possíveis Diferenciais

5 Sanidade suíno Brasil 1º Trimestre 2024 | Interpretação de laudos laboratoriais na suinocultura: Critérios essenciais para chegar ao diagnóstico e tomada de decisão
Figura 1. Conduta diagnóstica à campo para determinação de possíveis diagnósticos diferenciais e coleta de material para envio ao laboratório.

Abaixo serão descritas algumas técnicas de diagnóstico utilizadas na suinocultura:

NECROPSIA

A necropsia auxilia no direcionamento de prováveis diferenciais.

Algumas enfermidades são determinadas na macroscopia, porém em sua maioria são necessários exames complementares para diagnóstico definitivo. Para coleta de material é necessário trabalhar da forma mais limpa possível, a fim de diminuir a contaminação ambiental. Para evitar o desenvolvimento de alterações cadavéricas que podem confundir a avaliação macroscópica é importante realizar o mais rápido possível post mortem.

EXAME MICROBIOLÓGICO

O exame microbiológico consiste no uso de meios específicos para isolamento de agentes que possibilitam futura caracterização e seleção de isolados para realização de testes de suceptibilidade antibiograma.

Para alguns agentes como bactérias anaeróbias, testes de sensibilidade antimicrobiana convencionais não possuem boa confiabilidade, podendo ser apenas realizados pelo método de Concentração Inibitória Mínima (CIM).

Como nem todos os agentes são facilmente cultiváveis, por vezes não é aconselhável o isolamento. Como exemplos podemos destacar a Lawsonia intracellularis e Mycoplasma hyopneumoniae e, nesse caso, a combinação de técnicas histológicas e moleculares é aconselhável para diagnóstico definitivo.

Para uma correta interpretação dos resultados bacteriológicos é fundamental identificar a microbiota saprófita normal e possíveis bactérias contaminantes por manipulação incorreta da amostra ou contaminação ambiental.

TÉCNICAS DE BIOLOGIA MOLECULAR

Técnicas de biologia molecular se popularizaram nos últimos anos e tem por princípio a amplificação de material genético para pesquisa de genes específicos ou determinação de padrões de bandas.

Alguns exemplos frequentemente utilizados na rotina laboratorial são:

Sorotipificação por PCR

Determinação de fatores de virulência

Avaliação por PCR em tempo real para quantificação de material genético em fezes ou soro

6 Sanidade suíno Brasil 1º Trimestre 2024 | Interpretação de laudos laboratoriais na suinocultura: Critérios essenciais para chegar ao diagnóstico e tomada de decisão

SOROLOGIA

As técnicas sorológicas determinam o nível de anticorpos provenientes tanto por exposição natural quanto por vacinação.

É uma ferramenta importante para soroperfil, verificação da eficiência de programas vacinais e de erradicação.

A detecção de anticorpos é proveniente de uma exposição prévia e pode não ter correlação com doença. Dessa forma, agentes endêmicos são, em sua maioria, positivos e a interpretação desses resultados deve ser realizada com cautela.

HISTOPATOLOGIA

A histopatologia consiste na avaliação microscópica para determinação de padrões que identificam a natureza, a gravidade, a extensão e a evolução das lesões sugerindo ou confirmando a causa.

Com o material fixado, é possível a realização de técnicas de imunohistoquímica, imunofluorescência, hibridização in situ para localização de antígenos ou material genético em tecidos por princípio da ligação específica no material por marcação.

Abaixo nesse organograma, é descrita a conduta diagnóstica laboratorial:

Avaliação macroscópica

São necessários exames complementares?

Recebimento da Amostra Não Não Sim Sim

Fixação em Formalina 10%

Avaliação Histológica

São necessários testes adicionais?

Seleção de amostras para exames complementares Bacteriologia Patologia Clínica Imunohistoquímica Biologia Molecular Parasitológico Toxicológico Virologia Integração de todos os resultados obtidos associados ao histórico

Veri cação dos Resultados e Conclusão

Figura 2. Organograma descrevendo etapas do diagnóstico laboratorial.

7 Sanidade suíno Brasil 1º Trimestre 2024 | Interpretação de laudos laboratoriais na suinocultura: Critérios
para chegar ao diagnóstico e tomada de decisão
essenciais

INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS LABORATORIAIS

A interpretação final dos resultados e criação de medidas de controle, tem como principal responsável o médico veterinário sanitarista e devem ser realizadas de forma adequada, pois podem resultar em fracasso nas medidas de controle implantadas.

Vale ressaltar que a precisão dos resultados laboratoriais e a sua eficácia no auxílio à resolução de problemas de saúde dependem, em grande parte, da avaliação clínica do caso, bem como seleção, processamento, preservação e transporte das amostras a serem submetidas para análise.

Doenças Respiratórias

O diagnóstico de doenças respiratórias, muitas vezes requer isolamento ou detecção em tecidos específicos com lesões compatíveis.

A incidência de certas doenças respiratórias é complementada através do índice para pneumonia (IPP) ao abate, realizado periodicamente, associado à clínica e monitoramento epidemiológico.

Um exemplo de agente endêmico que requer monitoramento e interpretação com cautela é o Mycoplasma hyopneumoniae. Em granjas positivas é comum a detecção desse agente em amostras clínicas e não necessariamente o M. hyopneumoniae é o agente causal.

É importante entender a epidemiologia da doença, quando e como está ocorrendo a transmissão, além do período de maior excreção, principalmente nos animais de reprodução, para tomada de decisão.

O vírus influenza é um agente que cursa em quadros agudos que, por vezes, dependendo da fase do curso da doença, resultados negativos para isolamento, PCR ou imuno-histoquímica podem ser comuns.

Para auxiliar no diagnóstico de influenza, as alterações histopatológicas são específicas e perduram por um período mais longo, podendo assim ajudar na determinação do agente causal.

A sorologia pode ser empregada. No entanto, seu papel é limitado devido à presença de agentes respiratórios endêmicos.

8 Sanidade suíno Brasil 1º Trimestre 2024 | Interpretação de laudos laboratoriais na suinocultura: Critérios essenciais para chegar ao diagnóstico e tomada de decisão

Doenças entéricas

O diagnóstico laboratorial de doenças que afetam o trato digestivo dos suínos é complexo devido à presença de uma microbiota diversificada. Fezes e fragmentos de intestino são comumente utilizados para diagnóstico, no entando, agentes infeciosos como:

Rotavírus

Clostridium perfringens

Clostridioides dificile

Escherichia coli, podem estar presentes em animais saudáveis

Dessa forma, se faz necessária a realização de exames complementares para determinação de fatores de virulência, tipificação, detecção de toxinas associados à histopatologia.

Quando se trata de diarreia, as alterações são indistinguíveis, sendo assim necessária a realização de exames laboratoriais para agentes comumente encontrados na faixa etária a ser pesquisada.

Para E. coli se faz necessário o isolamento, seguido da determinação de fimbrias e toxinas por PCR, associado à histopatologia.

Para diagnóstico definitivo de C. perfringens tipo C e C. dificile, além do isolamento, é importante a deteção de toxinas e avaliação histopatológica para confirmação.

Em relação ao Cystoisospora suis, a associação do exame parasitológico e histopatologia tem auxiliado na determinação de diagnóstico definitivo devido ao caráter intermitente de excreção do agente nas fezes.

9 Sanidade suíno Brasil 1º Trimestre 2024 | Interpretação de laudos laboratoriais na suinocultura: Critérios essenciais para chegar ao diagnóstico e tomada de decisão

No caso do C. perfringens tipo A, ainda não é possível a determinação de um diagnóstico definitivo consistente, por não possuir uma técnica para determinação de marcadores de patogenicidade. Dessa forma, seu diagnóstico é realizado após a exclusão das demais causas, associado ao isolamento, tipificação e histopatologia.

Para todas as doenças entéricas, é necessário a coleta do sitío correto para isolamento de cada agente e múltiplos fragmentos para histopatologia, com intuito de elevar a chance de encontrar o agente causal na lesão.

No caso de C. dificille e Brachyspira sp. o intestino grosso e ceco são os orgãos de eleição para diagnóstico. Na ausência desse segmento, não é possível sucesso no diagnóstico.

Doenças Sistêmicas/ Neurológicas

Em casos de suspeita de quadros sistêmicos, é sempre importante a coleta em sítios como fígado, baço, rins, linfonodos, articulações e sistema nervoso, uma vez que sua detecção nesses sítios, possívelmente auxilia na confirmação do agente causal.

O Circovírus tipo 2 é um dos mais importantes vírus na suinocultura.

Pelo caráter endêmico, a detecção do agente por PCR em fezes, fluido oral, sangue, não significa causalidade.

Para determinação de um surto, é necessária uma avaliação completa, resgatando históricos zootécnicos, associados à monitoria clínica, necrópsias seriadas, realização de histopatologia e imuno-histoquímica para confirmação do agente causal em um número representativo do rebanho.

A avaliação por PCR quantitativo da carga viral também auxilia na avaliação epidemiológica e determinação da faixa etária mais desafiada.

Os principais agentes associados a quadros de encefalite são:

Streptococcus suis

Glaesserella parasuis

E. coli e, em menor grau

Quadros relacionados à intoxicação principalmente por sal.

É importante realizar a coleta de múltiplos segmentos do sistema nervoso pois, dependendo do infiltrado inflamatório ou alterações morfológicas observadas, é possível determinar a etiologia.

10 Sanidade suíno Brasil 1º Trimestre 2024 | Interpretação de laudos laboratoriais na suinocultura: Critérios essenciais para chegar ao diagnóstico e tomada de decisão

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na suinocultura moderna, a gestão sanitária do rebanho é fundamental para rentabilidade do sistema, sendo necessária a utilização de metodologias específicas para determinação do agente causal.

O diagnóstico laboratorial tem papel importante na gestão sanitária do rebanho e a escolha de ferramentas adequadas, aumenta a precisão ou segurança e deve ser baseada em possíveis diferenciais.

O médico veterinário sanitarista é o principal responsável pela interpretação do quadro, sendo assim necessário discernimento para coleta e interpretação dos resultados obtidos.

Interpretação de laudos laboratoriais na suinocultura: Critérios essenciais para chegar ao diagnóstico e tomada de decisão

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Referências bibliográficas sob consulta à autora.

11 Sanidade suíno Brasil 1º Trimestre 2024 | Interpretação de laudos laboratoriais
na suinocultura: Critérios essenciais para chegar ao diagnóstico e tomada de decisão

Otema saúde intestinal tem sido cada vez mais destaque na suinocultura. Isto porque um intestino saudável permite ao animal apresentar um melhor desempenho zootécnico.

SALMONELLA, VILÃ NA SUINOCULTURA

Luciana Fiorin Hernig

Coordenadora técnica de suínos - Responsável por vacinas vivas na Boehringer Ingelheim

Neste sentido, deve-se levar em consideração a busca por uma nutrição adequada e cuidados com sanidade. Alguns patógenos, porém, aparecem como grandes vilões, dentre estes, a Salmonella spp., que pode causar lesões graves no intestino e se disseminar pelo organismo, levando a quadros de diarreia e/ou tosse.

Em alguns casos, surgem sinais clínicos como a:

Cianose das extremidades

Refugagem

Queda no apetite

Febre

que podem se agravar levando ao aumento da mortalidade, principalmente quando se tratar da forma septicêmica da doença. Este agente é ainda de um problema de saúde pública, e, portanto, cada vez mais tem sido foco de atenção em frigoríficos (IN MAPA nº 60, 20 de dezembro de 2018).

12 suíno Brasil 1º Trimestre 2024 | Salmonella, uma vilã na suinocultura

A incidência de casos de salmonelose clínica vem aumentando no Brasil desde 2011 (Jalusa D. Kich, et al., 2017)

Um levantamento realizado com amostras de nove estados, entre os anos de 2017 e 2022, mostrou que a Salmonella Typhimurium variante monofásica foi a mais prevalente, sendo isolada em 43% das amostras de animais clinicamente afetados enviadas ao laboratório CEDISA.

Em seguida, apareceu a Salmonella Choleraesuis (33%) e a Salmonella Typhimurium (13%) (Luciana F. Hernig, et al., 2023).

O controle dos casos de salmonelose a campo engloba uma melhoria em processos com objetivo de reduzir a pressão de infecção do agente, como por exemplo, limpeza, desinfecção e vazio sanitário, bem como controle de vetores (roedores e moscas).

13 Patologia suíno Brasil 1º Trimestre 2024 | Salmonella, uma vilã na suinocultura
Figura 1. Imagem do intestino apresentando lesões de enterite necrótica. Figura 2. Imagem de leitões com quadro de refugagem e cianose de orelhas, que foram diagnosticados posteriormente com salmonelose. Figura 3. Sorovares de Salmonella mais prevalentes em amostras de suínos enviadas ao CEDISA no Brasil, entre 2017 e 2022.
43 33 3 2 2 2 13 0 10 20 30 Percentural de amostras positivas (%) 40 50 Typhimurium monofásica Choleraesuis Typhimurium Bredeney Derby Infantis
Anatum
cans
London
Bovismorbi
Javiana

De imediato também, faz-se necessário o uso de antimicrobianos para o tratamento dos animais afetados. E “é aí que mora o perigo”, pois segundo uma análise de dados de resistência e sensibilidade a 136 amostras de Salmonella spp. no Brasil, realizada entre 2016 e 2017 (Jalusa et al., 2017), foram evidenciadas quais moléculas os isolados apresentaram maior resistência, em ordem decrescente, sendo essas:

tetraciclina

doxiciclina

orfenicol

gentamicina

estreptomicina

enro oxacina

Além disso, no levantamento de dados realizado com amostras entre 2017 e 2022 (Luciana F. Hernig, et al., 2023), mostrou-se que 100% das amostras de Salmonella Typhimurium variante monofásica eram resistentes a três ou mais classes de antimicrobianos, sendo consideradas como multirresistentes, com frequências superiores a 90% contra amoxicilina, doxiciclina, gentamicina e tetraciclina.

No caso da S. Choleraesuis e da S. Typhimurium, 95% e 90% das cepas isoladas, respectivamente, eram multirresistentes, sendo que ambos sorovares apresentaram alta resistência contra amoxicilina, tetraciclina, doxiciclina e florfenicol.

Os dados alertam para uma necessidade de se alterar o foco de tratamentos curativos, para a busca, cada vez maior, por medidas preventivas na suinocultura.

Outros agentes podem estar presentes nas granjas e agravar as perdas relacionadas às enterites, bem como adquirirem resistência a moléculas antimicrobianas, como a Brachyspira, a Escherichia Coli e a Lawsonia intracellularis, por exemplo.

Assim sendo, os pontos que englobam a biosseguridade, são fundamentais, tendo em vista que as fontes de contaminação para Salmonella são diversas (água, ração, animais de reposição, vetores, humanos, fômites etc) e a redução na pressão de infecção de um agente, implica na de outros por consequência.

Nesse cenário, uma ferramenta importante é a vacinação.

O sistema imune de suínos vacinados apresenta um “exército” de células de defesa e anticorpos capazes de auxiliar no combate a agentes patogênicos, como a Salmonella.

Desta forma, os animais mantem-se mais saudáveis, mesmo em contato com o agente e podem expressar seu melhor desempenho.

14 Patologia suíno Brasil 1º Trimestre 2024 | Salmonella, uma vilã na suinocultura

Já foi relatado que o uso de uma vacina viva fornecida por via oral para Lawsonia intracellularis, prevenindo para ileíte (Enterisol®Ileitis, Boehringer Ingelheim), resultou ainda na redução da infecção de Salmonella spp. (J. Meschede, et al., 2021) e da excreção de S. Typhimurium (Fernando L. Leite, et al., 2018), em animais coinfectados por estes agentes (Figura 4), muito possivelmente pela melhora gerada no microbioma intestinal.

Além disso, existe no mercado a vacina viva atenuada para Salmonella, contendo os sorotipos Choleraesuis e Typhimurium, que apresenta ainda proteção cruzada para variante Typhimurium monofásica (Enterisol Salmonella T/C, Boehringer Ingelheim).

Um ponto importante no processo de vacinação é o cuidado em reduzir o estresse provocado nos leitões para reduzir a chance dos animais que já estejam infectados com Salmonella passem a disseminá-la através das fezes.

Isto porque a bactéria se dissemina rapidamente nos animais, e os manejos estressantes podem servir de gatilhos para isso acontecer. Assim sendo, realizar a vacinação de forma calma e escolher a vacina adequada são pontos importantes.

Desa ado com S. Typhimurium

Desa ado com S. Typhimurium/L. intracellularis

Vacinado e desa ado com S. Typhimurium e L. intracelullaris

Vacinado e desa ado com S. Typhimurium

Figura 4. Eliminação nas fezes de Salmonella Typhimurium ao longo do tempo, medida pelo método MPN. Diferenças significativas entre os tratamentos são designadas por letras diferentes (P<0,05).

15 Patologia suíno Brasil 1º Trimestre 2024 | Salmonella, uma vilã na suinocultura
0 a b b 1 Log 10 Salmonella por grama de fezes Dias pós-infecção com Salmonella 2 2 7 14 21 28 49 3
Controle

O uso de vacinas que possam ser aplicadas por via oral (de forma individual ou via água de bebida), além de promover uma proteção robusta na mucosa do intestino pode facilitar o processo reduzindo mão-de-obra e auxiliando na manutenção do bem-estar dos leitões, como é o caso da vacina Enterisol Salmonella T/C, da Boehringer Ingelheim.

Pode-se conciliar ainda com o fato dessa não causar reações adversas indesejáveis exacerbadas (febre, inchaço, dor no local da aplicação, entre outros).

Sabe-se, portanto, que a Salmonella é uma vilã conhecida na suinocultura, que se dissemina facilmente e pode causar prejuízos consideráveis.

O uso de antimicrobianos é uma ferramenta curativa necessária, mas que tem sido contornada pela aquisição de resistência pela bactéria.

Este fato tem levado a uma pressão da sociedade pelo uso prudente de antimicrobianos na produção animal, tendo em vista que este é um problema também de saúde pública.

Desta forma, a arma mais eficaz na guerra contra a Salmonella e outros agentes que se aliam na infecção dos animais, causando mais perdas, tem sido a prevenção. Cuidados com biosseguridade, passando principalmente pela higiene geral e a vacinação, são táticas fundamentais para obtenção dos melhores resultados!

Conveniência e bem-estar: dose única, oral e não causa reação

Redução da excreção de Salmonella Choleraesuis, Typhimurium e monofásica.

Segurança alimentar e saúde pública

Proteção desde a maternidade

Mais peso, maior GPD e menor CA em situações de desa o

Figura 5. Imagem da vacina Enterisol Salmonella T/C, composta por Salmonella Choleraesuis e S. Typhimurium, que auxilia ainda na protção para S. Typhimurium monofásica.

16 Patologia suíno Brasil 1º Trimestre 2024 | Salmonella, uma vilã na suinocultura
na
Salmonella, uma vilã
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MECANISMOS

DE

AÇÃO DOS AMINOÁCIDOS FUNCIONAIS

PARA MELHORAR A ROBUSTEZ DE SUÍNOS EM DESAFIO IMUNE

Ismael França, Antônio Diego Brandão Melo, Luciano Hauschild Laboratório de Estudos em Suinocultura Unesp FCAV Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – Unesp Campus Jaboticabal

Aativação do sistema imune pode demandar um maior aporte de aminoácidos (AA) para a síntese de componentes da resposta imunológica. Essa maior demanda de AA pode ser atendida via dieta ou a partir do catabolismo do tecido muscular.

Condições higiênico-sanitárias desafiadoras em condições comerciais são fatores estressantes que podem resultar na recorrente indução da resposta imunológica dos suínos.

Nesse contexto, a manutenção da homeostase do organismo está associada ao estado metabólico do animal e à capacidade de sua resposta imune (imunometabolismo) diante de diferentes tipos de desafios.

18 Saúde intestinal suíno Brasil 1º Trimestre 2024 | Mecanismos de ação dos aminoácidos funcionais para melhorar a
de suínos em desafio imune
robustez

Assim, o entendimento de que a resposta inflamatória e o metabolismo de nutrientes são dois processos fisiológicos interligados é fundamental para o melhor uso de estratégias dietéticas para suportar a saúde dos suínos.

Na nutrição, os AA são classificados como: Essenciais (AA que não são sintetizados por via endógena, ou sintetizados em quantidade insuficiente)

ou Não essenciais (AA os quais os animais conseguem sintetizar em níveis adequados).

Ainda, dentro desse conceito clássico, é importante atentar-se ao fato de que alguns

AA (ex: arginina, glicina e prolina) são considerados essenciais para algumas espécies animais, somente em alguns períodos do crescimento (AA condicionalmente essenciais; Wu, 2009).

Nos últimos 20 anos a ciência avançou quanto ao entendimento de novas funções biológicas dos AA, que vão além da composição das proteínas. Contudo, atualmente, um novo conceito tem sido colocado em pauta: AA funcional.

Esse conceito se aplica para aqueles AA que regulam as principais vias metabólicas com efeito benéfico sobre a saúde, reprodução, sobrevivência e desenvolvimento dos animais (ChalvonDemersay et al., 2021).

Tabela 1 – Classificação nutricional e funcional dos aminoácidos para suínos.

Classificação Nutricional¹

Essenciais Condicionalmente essenciais

Não essenciais

Histidina Arginina FAA Alanina

Isoleucina Cisteína FAA

Asparagina

Leucina FAA Glutamina FAA Aspartato FAA

Lisina Prolina FAA Glutamato FAA

Metionina FAA Tirosina FAA

Glicina FAA

Fenilalanina Serina

Treonina FAA

Triptofano FAA

Valina

1Segundo o Nutrient Requirements of Swine (NRC, 2012). FAA Aminoácido Funcional (Adaptado de: Wu, 2013; Le Floc’h et al., 2018).

A importância dos chamados AA funcionais passa pelo entendimento de que, a ausência da suplementação do mesmo, não apenas pode comprometer o metabolismo proteico, mas também causar um desequilíbrio da homeostase e integridade do organismo (Wu, 2010; Xiong et al., 2019).

Os impactos do custo da resposta imunológica podem ser considerados um dos principais aspectos que contribuem para a variação de desempenho dos animais. Esse impacto é especialmente relevante na fase inicial de crescimento.

Tradicionalmente, as exigências nutricionais são estimadas com base em critérios relacionados à máxima taxa de crescimento em condições ideais de criação. Contudo, em condições de desafio com ativação do sistema imune e resposta inflamatória, as exigências nutricionais são alteradas.

De fato, alterações na concentração plasmática de AA de suínos em diferentes tipos de desafios sanitários, são indicativos de que o comprometimento do estado de saúde altera significativamente a utilização dos AA (Le Floc’h et al., 2018).

Dessa forma, os AA funcionais podem exercer efeitos benéficos sobre a saúde de suínos através de mecanismos de ação distintos como:

Auxílio da manutenção da função de barreira e na integridade intestinal; 01

Constituintes primários de proteínas imunes;

Modulação da resposta antioxidante;

Modulação da resposta in amatória;

Ação moduladora da microbiota.

Nesse contexto, estratégias nutricionais com suplementação de AA funcionais podem ser uma excelente ferramenta para atenuar os efeitos negativos da resposta imune, melhorando a saúde e o desempenho dos suínos.

Efeitos benéficos para manutenção e restauração da integridade intestinal

O intestino é o maior órgão imune do corpo e é responsável por eliminar grande parte de potenciais agentes patogênicos causadores de infecções no animal.

Dessa forma, o estado imunológico dos suínos é dependente da plena capacidade imune do trato gastrointestinal.

20 Saúde intestinal suíno Brasil 1º Trimestre 2024 | Mecanismos de ação dos aminoácidos funcionais para melhorar a robustez de suínos em desafio imune
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02

A barreira epitelial e o sistema imune da mucosa intestinal são continuamente desafiados ao longo da vida do animal. Os AA funcionais são importantes, pois atuam na garantia das funções de um intestino saudável:

Digestão e absorção e cazes de alimentos; 01

Ausência de doença gastrointestinal;

Microbioma intestinal normal e estável;

Estado de bem-estar e

Restauração da função de barreira intestinal após condições desa adoras.

A treonina, por exemplo, é o principal AA para a síntese das glicoproteínas que compõem a mucosa (cerca de 16% da composição das mucinas intestinais). Aminoácidos como aspartato, metionina, glicina e glutamato têm importante efeito sobre a expressão gênica de proteínas relacionadas às junções firmes entre enterócitos, reduzindo a permeabilidade intestinal de patógenos.

Esses efeitos de apoio e/ou restauração estão intrinsicamente relacionados ao fato de que alguns AA são constituintes fundamentais das principais proteínas presentes na barreira intestinal, atuam como substrato energético para células da mucosa, possuem efeito sobre a expressão gênica de células do epitélio e atuam na regulação da resposta imune e antioxidante intestinal.

Metade dos AA proteogênicos (como Asp, Arg, Gln, Glu, Pro, Gli, Lis, Met, Tre, Trip) apresenta efeitos benéficos sobre a morfologia das vilosidades intestinais quando fornecidos em alguma quantidade acima das exigências (Le Floc’h et al., 2018; Mou et al., 2019).

A glutamina estimula a transcrição de genes relacionados à proliferação de células do epitélio intestinal, além de ser fonte de ATP para apoio no transporte de íons e crescimento celular intestinal (assim como o Asp e Glu), garantindo assim maior integridade das vilosidades (Xiong et al., 2019).

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AA funcionais como constituintes primários das proteínas imunes

O perfil aminoacídico do tecido muscular difere do perfil das principais proteínas de resposta imune (van der Peet-Schwering et al., 2019). Entretanto, as dietas para suínos em condições de desafio sanitário, são formuladas considerando muitas vezes o perfil de deposição de proteína muscular esperado para cada linhagem genética, sem considerar o efeito de possíveis desafios infecciosos.

Dessa forma, a suplementação de AA funcionais pode ser uma importante ferramenta de suporte à síntese de proteínas de defesa, de modo a ser explorado em possíveis intervenções dietéticas para estímulo da síntese dessas proteínas.

O primeiro AA limitante para a síntese de diversas proteínas de defesa pode ser estimado a partir da composição aminoacídica dessas proteínas (Floc’h et al., 2018).

Dessa forma, conhecer o tipo de resposta desencadeada para os diferentes desafios imunológicos é importante para otimizar o uso de estratégias para apoio/suporte nutricional a animais em desafio.

Defesa antioxidante frente aos desafios imunológicos

O estresse oxidativo pode ser caracterizado pelo desequilíbrio entre a síntese de espécies reativas de oxigênio (EROs) e a capacidade antioxidante do organismo.

A produção de EROs é um mecanismo fisiológico que ocorre normalmente nas mitocôndrias.

Além disso, as células de resposta imune inata (como os macrófagos e granulócitos) sintetizam EROs para exercer funções citotóxicas sobre patógenos.

22 Saúde intestinal suíno Brasil 1º Trimestre 2024 | Mecanismos de ação dos aminoácidos funcionais para melhorar a robustez de suínos em desafio imune

Quando a síntese de EROs é aumentada durante uma resposta inflamatória, a síntese de componentes antioxidantes é insuficiente para proteger o organismo. Isso implica em danos em proteínas e DNA, células e tecidos.

Moléculas como vitamina E, vitamina C, superóxido dismutase, catalase, glutationa peroxidase e metabólitos antioxidantes como a glutationa formam o sistema antioxidante do organismo animal.

A glutationa é um tri peptídeo constituído por cisteína, glicina e glutamato, e é considerado o segundo maior reservatório de cisteína em animais, depois do músculo esquelético.

Trata-se de um dos principais componentes antioxidantes endógenos e tem sua síntese principalmente no intestino e fígado.

Devido à sua composição, a síntese de glutationa contribui para a mobilização das proteínas musculares quando a ingestão dietética de cisteína é insuficiente

A arginina também atua como AA funcional potencial para aliviar as respostas ao estresse oxidativo, através do aumento da capacidade antioxidante e da inibição da expressão de citocinas pró-inflamatórias (Zheng et al., 2013).

Modulação da resposta inflamatória

A inflamação pode ser entendida como uma reação fisiológica de defesa usual, que visa reparar e recuperar a função de qualquer tecido danificado do animal por um agente estressor. Esse processo é mediado por células imunes, que sintetizam moléculas sinalizadoras que ativam uma cascata de eventos imunológicos e fisiológicos com a finalidade de restaurar a homeostase e a funcionalidade do local afetado.

O triptofano tem sido estudado como o principal AA funcional modulador da resposta inflamatória.

23 Saúde intestinal suíno Brasil 1º Trimestre 2024 | Mecanismos de ação dos aminoácidos funcionais para melhorar a robustez de suínos em desafio imune

Três hipóteses foram propostas por Le Floc’h et al. (2012) quanto aos mecanismos envolvidos com o Trp e a modulação da resposta inflamatória:

A depleção local de Trp resultante da ativação da enzima IDO (indoleamina-2,3-dioxigenase) nos macrófagos é um mecanismo de controle da proliferação de bactérias, vírus e parasitas;

A IDO regula a atividade das células T; e

A indução de IDO durante a resposta imune pode proteger as células do dano oxidativo.

Outros AA funcionais também podem atuar como moduladores da resposta inflamatória, como a arginina.

Efeito modulador da microbiota

O entendimento da interação entre o hospedeiro e a microbiota ainda não é totalmente elucidado.

O reconhecimento de padrões moleculares associados a patógenos, induze a liberação de citocinas pró-inflamatórias que são responsáveis por modular a resposta imune do hospedeiro.

Essa modulação pode ocorrer através das células T e secreção de peptídeos antimicrobianos pelos microrganismos presentes no lúmen intestinal (Kogut et al., 2020).

Os AA possuem importante efeito sobre o metabolismo bacteriano nos intestinos delgado e grosso, indicando que esses efeitos são compartimentalizados entre diferentes grupos de bactérias e os diferentes AA.

24 Saúde intestinal suíno Brasil 1º Trimestre 2024 | Mecanismos de ação dos aminoácidos funcionais para melhorar a robustez de suínos em desafio imune

O metabolismo de AA pela microbiota leva à liberação de compostos bioativos no lúmen intestinal, responsáveis pela interação microbiota-hospedeiro. Um importante efeito dos processos que ocorrem ao longo do intestino é o uso de AA como precursores para a síntese de ácidos graxos de cadeia curta, importantes reguladores da saúde intestinal e do metabolismo energético das células intestinais (Xiong et al., 2019).

Novos estudos ainda precisam ser realizados in vivo como forma de validar os efeitos benéficos desses processos em suínos sob desafio sanitário, uma vez que nesse momento um processo de disbiose afeta a ecologia microbiana do hospedeiro doente (redução das bactérias benéficas à custa de patogênicas, e muitas vezes com redução da abundância e diversidade bacteriana).

Considerações finais

A crescente preocupação com a redução do uso de antibióticos melhoradores de desempenho na produção animal, torna ainda mais importante a compreensão de como o status imunológico dos suínos pode influenciar nas exigências de nutrientes.

Ademais, tal compreensão pode auxiliar na tomada de decisões para atuar através de ajustes nutricionais para aumentar a resistência e resiliência produtiva dos animais, uma vez que os aminoácidos têm um papel fundamental na modulação do sistema imune.

Dessa forma, formular dietas ajustadas ao estado metabólico e sanitário dos animais em condições comerciais, é considerada uma estratégia eficaz para melhorar a sustentabilidade da produção de suínos.

Mecanismos de ação dos aminoácidos funcionais para melhorar a robustez de suínos em desafio imune

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DESVENDANDO O CUSTO OCULTO:

EXPLORANDO O IMPACTO DO ESTRESSE OXIDATIVO NA PRODUÇÃO DE PORCAS

INTRODUÇÃO

Considerando a fisiologia e saúde reprodutiva suína, uma compreensão profunda da complexa interação entre estresse oxidativo, inflamação e desempenho reprodutivo em porcas se destaca como um ponto fundamental.

Uma grande gama de publicações tem realizado uma avaliação meticulosa dos níveis de estresse oxidativo em porcas, abrangendo tanto antes quanto depois do parto, elucidando assim as potenciais ramificações.

As manifestações do estresse oxidativo vão além da aparente redução na ingestão de alimentos, abrangendo ameaças graves ao desenvolvimento fetal, com possíveis desdobramentos culminando em eventos prejudiciais, como o aborto.

Um ponto primordial da saúde das porcas, é a espessura de toucinho, pois é um fator multifacetado que exerce influências sobre:

Desempenho reprodutivo, Metabolismo lipídico

Estresse oxidativo e Respostas in amatórias.

Os fatores de estresses fisiológicos concomitantes com o parto, contribuem ainda mais para o grau de inflamação e estresse oxidativo nas porcas. Uma compreensão diferenciada do delicado equilíbrio entre esses fatores torna-se indispensável para garantir resultados reprodutivos ideais e o bem-estar da porca.

26 Fêmeas suínas suíno Brasil 1º Trimestre 2024 | Desvendando o custo oculto: explorando o impacto do estresse oxidativo na produção de porcas
Allan Paul Schinckel1 e Cesar Augusto Pospissil Garbossa2 ¹Purdue University ² Laboratório de Pesquisa em Suínos da FMVZ/USP

Pesquisas recentes têm avaliado os biomarcadores salivares como indicadores confiáveis da homeostase redox em porcas lactantes. Esses biomarcadores sofrem mudanças notáveis durante a lactação, oferecendo insights diferenciados sobre as oscilações dinâmicas que caracterizam o estado oxidativo durante os estágios cruciais da fisiologia reprodutiva.

Reconhecendo o papel fundamental que o estresse oxidativo e a inflamação exercem sobre o desempenho reprodutivo e a saúde geral das porcas, torna-se evidente a necessidade de mais investigação sobre os mecanismos subjacentes.

O desvendar destas complexidades tem o potencial para o desenvolvimento de estratégias, mitigando eficazmente o impacto do esresse oxidativo na saúde das porcas. Isto, por sua vez, contribui substancialmente para a melhora do manejo de suínos, promovendo práticas sustentáveis de produção. Tal compreensão é fundamental para o avanço científico dos resultados reprodutivos das porcas e para o refinamento de estratégias para otimizar as práticas de manejo reprodutivo dos suínos.

BIOMARCADORES

A avaliação do estresse oxidativo e da inflamação em porcas exige a utilização de biomarcadores estabelecidos, oferecendo informações valiosas sobre a intrincada dinâmica da fisiologia reprodutiva e da saúde geral.

Os biomarcadores comumente empregados neste contexto incluem:

Espécies reativas de oxigênio (ROS)

Malonaldeído (MDA)

Capacidade Antioxidante Total (TAC) e

Biomarcadores salivares, como capacidade antioxidante total (TEAC), peróxido de hidrogênio (H2O2) e produtos proteicos de oxidação avançada (AOPP).

Estes marcadores servem como indicadores cruciais, permitindo uma avaliação abrangente do estresse oxidativo e das respostas inflamatórias nas porcas.

Estudos investigaram sistematicamente a associação entre esses biomarcadores e fatoreschave como condição corporal, ordem de parto, saúde placentária e lactação, revelando relações diferenciadas entre estresse oxidativo, inflamação, qualidade do colostro e desempenho reprodutivo.

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A integração destes biomarcadores em protocolos de investigação contribui substancialmente para a compreensão do impacto do estresse oxidativo e da inflamação na saúde das porcas, promovendo avanços em estratégias destinadas a otimizar os resultados reprodutivos e o bem-estar geral dos suínos.

ESTRESSE OXIDATIVO

Estresse térmico

Desequilíbrios nutricionais

Partos prolongados

In amação uterina

Carga metabólica pré-natal

Redução na ingestão de alimentos durante a lactação e

Mudança metabólica de processos anabólicos para catabólicos metabólica pré-natal

A etiologia do estresse oxidativo em porcas envolve vários fatores que impactam o desempenho reprodutivo e de lactação. A elevada atividade metabólica durante o final da gestação e lactação é um efetor primário, intensificando a produção de radicais livres. também contribuem para o estresse oxidativo. www.adisseo.com

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Micotoxinas e a alimentação com lipídios oxidados podem resultar em aumento do estresse oxidativo.

Ácidos graxos dietéticos, como a quantidade de ácidos graxos ômega-3 e a relação entre ácidos graxos ômega-6 e ômega-3, podem impactar a inflamação e o subsequente estresse oxidativo.

O excesso de espessura de toucinho das porcas está relacionado com a expressão aumentada de citocinas e maiores níveis de biomarcadores de estresse oxidativo na placenta, estabelecendo uma ligação entre estresse oxidativo e inflamação durante a gestação. O estresse oxidativo durante a lactação está associado a uma diminuição na produção de leite, impactando o crescimento dos leitões.

Estressores ambientais, como calor, estresse pelo frio, estresse induzido pelo transporte e altas densidades animais, somam-se ao estresse oxidativo, afetando negativamente a reprodução e a lactação.

O estresse materno e a inflamação comprometem a qualidade do colostro e do leite, reduzindo a transferência de nutrientes e fatores imunológicos para os leitões, afetando sua função imunológica e resistência geral.

Alterações no comportamento das porcas podem levar a uma nutrição subótima dos leitões, prejudicando o crescimento.

Alterações significativas nos níveis de estresse e inflamação, tem o seu pico durante o parto, evidenciadas pelo aumento de moéculas na saliva, incluindo cortisol, BChE, isoenzimas de ADA e Hp.

O estresse gestacional crônico impacta negativamente a produtividade e induz resistência à insulina durante a lactação.

A inflamação em porcas durante a gestação e lactação afeta a utilização de nutrientes e o metabolismo em leitões, transmitida por meio de citocinas pró-inflamatórias elevadas e biomarcadores de estresse oxidativo no leite. O estresse crônico em porcas ativa o eixo HPA, influenciando a programação fetal e a expressão gênica em leitões, afetando o crescimento e a saúde a longo prazo.

29 Fêmeas suínas suíno Brasil 1º Trimestre 2024 | Desvendando o custo oculto: explorando o impacto do estresse oxidativo na produção de porcas
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O estresse e a inflamação induzem alterações na microbiota intestinal tanto em porcas quanto em leitões, perturbando a absorção de nutrientes e o desenvolvimento do sistema imunológico, dificultando ainda mais o crescimento.

Compreender essas complexidades é vital para implementar estratégias eficazes de mitigação do estresse e da inflamação em porcas, otimizando o crescimento, saúde e desenvolvimento geral dos leitões em sistemas de produção.

A mortalidade de porcas atinge picos nas duas semanas antes e após o parto, destacando a vulnerabilidade das porcas durante este período.

A inflamação ao redor do parto correlaciona-se com resultados adversos, como prolapso uterino e perda de porcas, demonstrando o impacto crítico dos processos inflamatórios na saúde das porcas.

Escore perineal pode identificar as porcas com maior risco de prolapso uterino. A elevada mortalidade de porcas devido ao prolapso de órgãos pélvicos, especialmente o prolapso uterino, está associada a intervenções obstétricas manuais durante o parto.

Porcas mais velhas são predispostas ao prolapso uterino devido a fatores anatômicos.

Mitigar a inflamação durante o parto requer uma abordagem abrangente, envolvendo os fatores que contribuem para o prolapso uterino e adaptando práticas de manejo para porcas mais velhas.

Compreender a relação entre as respostas inflamatórias das porcas e complicações reprodutivas é crucial para aprimorar a saúde geral do rebanho suíno e minimizar a mortalidade de porcas em sistemas de produção suinícolas.

Recentemente, geneticistas relataram que a incidência de prolapso uterino e retal é moderadamente hereditária e deve responder à seleção genética.

Pesquisas adicionais são necessárias para compreender as relações genéticas da incidência de prolapso uterino e retal (variáveis binárias) com a produtividade das porcas, biomarcadores de estresse oxidativo e características de inflamação (variáveis contínuas).

Diferentes genéticas de porcas podem exigir diferentes abordagens nutricionais e de manejo, uma vez que a seleção genética para aumento do tamanho da leitegada e crescimento magro pode ter impactado tanto o nível de estresse oxidativo e inflamação, quanto a sensibilidade aos estressores (resistência e resiliência).

30 Fêmeas suínas suíno Brasil 1º Trimestre 2024 | Desvendando o custo oculto: explorando o impacto do estresse oxidativo na produção de porcas

CONTROLE DO ESTRESSE OXIDATIVO

Gerenciar efetivamente o estresse e a inflamação em porcas durante o parto e a lactação é crucial para otimizar o desempenho reprodutivo e garantir o bem-estar tanto da porca quanto dos leitões.

Uma abordagem abrangente é necessária, considerando a complexa interação de vários fatores que contribuem para o estresse oxidativo e respostas inflamatórias durante essas fases cruciais da reprodução.

Controlar os estressores ambientais é de suma importância.

Manter uma temperatura ambiente e ventilação ideal nas instalações de parto auxilia na mitigação do estresse térmico.

O fornecimento adequado de espaço e a minimização do estresse induzido pelo transporte contribuem para um ambiente propício.

Estratégias para aliviar altas densidades animais podem incluir um projeto adequado das instalações e práticas eficientes de manejo.

Oferecer suporte nutricional personalizado é essencial.

Formular dietas que atendam às demandas metabólicas específicas do final da gestação e lactação ajuda a prevenir a carga metabólica.

Garantir uma dieta equilibrada, rica em antioxidantes e compostos antiinflamatórios, auxilia na resistência da porca contra o estresse oxidativo.

A avaliação regular da condição corporal das matrizes, da ingestão de alimentos e de sinais comportamentais pode servir para a identificação precoce de estresse e inflamação.

Intervenção rápida em caso de parto prolongado ou sinais de inflamação uterina pode prevenir a exacerbação do estresse oxidativo e seus efeitos prejudiciais no desempenho reprodutivo.

A implementação de técnicas de redução de estresse, como fornecer materiais adequados para o ninho e minimizar agitações durante o parto, contribui para uma experiência de parto mais tranquila para a porca. Garantir um ambiente calmo e silencioso pode impactar positivamente os níveis de estresse.

31 Fêmeas suínas suíno Brasil 1º Trimestre 2024 | Desvendando o custo oculto: explorando o impacto do estresse oxidativo na produção de porcas

Práticas proativas de gestão de saúde, incluindo check-ups veterinários regulares e programas de vacinação, são cruciais. Abordar prontamente questões de saúde pode prevenir respostas crônicas de estresse e reduzir o risco de complicações inflamatórias durante o parto e a lactação.

Utilizar técnicas avançadas de monitoramento, como avaliar biomarcadores salivares e analisar parâmetros sanguíneos relacionados ao estresse e à inflamação, pode fornecer insights mais precisos sobre o estado fisiológico das porcas.

Isso possibilita a detecção precoce de desvios das condições normais, permitindo intervenções direcionadas.

A implementação de cuidados pós-parto eficazes é crucial. Monitorar as porcas em busca de sinais da síndrome de disgalactia pós-parto e abordar prontamente a inflamação sistêmica por meio de cuidados veterinários adequados é vital para minimizar o impacto no desempenho da lactação. Uma abordagem holística e proativa para gerenciar o estresse e a inflamação em porcas durante o parto e a lactação envolve uma combinação de estratégias ambientais, nutricionais, de saúde e monitoramento.

Monitorar e gerenciar a condição corporal das porcas é essencial, visto que o excesso de espessura de toucinho tem sido associado a uma expressão elevada de citocinas e biomarcadores de estresse oxidativo.

Ao abordar a natureza multifacetada desses desafios, os suinocultores podem aprimorar o bem-estar das porcas, otimizar os resultados reprodutivos e promover práticas sustentáveis na produção suína. Implementar estratégias para manter uma condição corporal ótima das porcas por meio de ajustes na dieta e práticas de manejo pode impactar positivamente a saúde das porcas.

A pesquisa contínua em técnicas e tecnologias de manejo inovadoras contribuirá ainda mais para o aprimoramento dessas estratégias.

32 Fêmeas suínas suíno Brasil 1º Trimestre 2024 | Desvendando o custo oculto: explorando o impacto do estresse oxidativo na produção de porcas

CONCLUSÃO

Em resumo, a complexa interação entre estresse oxidativo, inflamação e desempenho reprodutivo em porcas modernas hiperprolíficas é um aspecto crítico da fisiologia e saúde reprodutiva suína.

Investigações científicas revelaram a relação complexa entre esses fatores, enfatizando as implicações profundas na saúde das porcas, no crescimento dos leitões e na gestão geral do rebanho.

Biomarcadores como ROS, MDA, TAC e marcadores salivares têm se mostrado interessantes na avaliação do estresse oxidativo e das respostas inflamatórias, oferecendo insights abrangentes sobre a fisiologia das porcas.

A etiologia multifacetada do estresse oxidativo, especialmente durante o final da gestação e lactação, destaca a necessidade de uma abordagem holística para gerenciar estressores ambientais, nutricionais e fisiológicos.

Notavelmente, a vulnerabilidade das porcas durante o período pós-parto, com picos de mortalidade e associações com prolapso uterino, destaca a importância de práticas de manejo personalizadas.

Uma estratégia proativa para o gerenciamento do estresse oxidativo durante o parto e a lactação envolve:

Cuidados pós-parto

Manejo da condição corporal

Técnicas avançadas de monitoramento

Gestão proativa de saúde

Abordar condições ambientais

Fornecer suporte nutricional

Monitoramento e intervenção precoce

Implementar técnicas de redução de estresse

Ao adotar essa abordagem abrangente, os suinocultores podem otimizar o bemestar das porcas, aprimorar os resultados reprodutivos e contribuir para práticas sustentáveis na produção suína.

A pesquisa contínua em técnicas inovadoras de manejo permanece crucial para aprimorar essas estratégias no dinâmico cenário da produção suinícola.

Desvendando o custo oculto: explorando o impacto do estresse oxidativo na produção de porcas

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33 suíno Brasil 1º Trimestre 2024 | Desvendando o custo oculto: explorando o impacto do estresse oxidativo na produção de porcas

USO DE FITOGÊNICO PARA LEITÕES NA FASE DE CRECHE COMO MELHORADOR DE DESEMPENHO NATURAL, EM SUBSTITUIÇÃO AOS ANTIBIÓTICOS PROMOTORES DE CRESCIMENTO

Equipe técnica de suíno VETANCO Brasil

INTRODUÇÃO

A utilização de antimicrobianos na produção animal é amplamente empregada para a manutenção da saúde e dos níveis de produtividade elevados (VAN et al,2015). O emprego desmedido desta prática, entretanto, vem trazendo consequências para a saúde pública em nível mundial (SATO et al, 2022).

34 Óleos essenciais suíno Brasil 1º Trimestre 2024 | Uso de fitogênico para leitões na fase de creche como melhorador de desempenho natural em substituição aos antibióticos

Os fitogênicos são substâncias naturais provenientes de plantas como extratos, óleos essenciais e compostos bioativos, que apresentam propriedades antimicrobianas, anti-inflamatórias e estimulantes do sistema imunológico (ALVES, et al, 2021).

Desta forma, o objetivo deste trabalho foi avaliar a adição de um blend de fitogênicos na dieta de suínos em fase de creche comparado com manejos tradicionais, para efeito de produtividade.

MATERIAL E MÉTODOS

O teste foi realizado na Fazenda Experimental da UDESC Oeste (FECEO), no município de Guatambu/SC.

Foram utilizados 108 leitões machos inteiros, desmamados aos 28 dias (6,7±0,7 kg), aleatoriamente distribuídos nos tratamentos.

O desenho experimental foi em blocos ao acaso, sendo cinco tratamentos e sete repetições por tratamento, sendo a baia com três leitões a unidade experimental.

Controle Neosantrix-0.5

Neosantrix-1.0

Neosantrix-1.5 Colistina

sete repetições por tratamento

Todos os tratamentos receberam a mesma dieta basal, com diferença apenas no aditivo alimentar.

Foram realizadas duas coletas de sangue durante o período experimental (dias 14 e 40, foi analisado hemograma diferencial de leucocitário níveis séricos de proteína total, albumina, colesterol, uréia, glicose e níveis de globulinas).

Os dados coletados foram analisados descritivamente e submetidos à análise de normalidade dos resíduos e, na sequência, submetidos à análise de variância (P<0,05); quando diferentes as médias foram submetidas ao teste de Tukey (Programa Estatístico R versão 3.3.0). O produto testado foi um blend (chicória desidratada; farinha de alfarroba; extrato de feno grego) com uma combinação de extratos herbais.

Óleos essenciais suíno Brasil 1º Trimestre 2024 | Uso de fitogênico para leitões na fase de creche como melhorador de desempenho natural em substituição aos antibióticos

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nos parâmetros peso corporal, ganho de peso diário e consumo médio diário observou-se que os leitões de T4 e T5 foram estatisticamente iguais e superiores a T1.

Esses resultados são corroborados pela literatura científica, que já aponta para as propriedades benéficas dos aditivos fitogênicos no desempenho zootécnico dos suínos (GALLI, 2020).

Os resultados indicam potencial de uso do aditivo testado para compensar a queda no desempenho zootécnico com a retirada dos aditivos antimicrobianos.

Como reflexo no ganho médio diário, dos que receberam o tratamento com colistina e Neosantrix® foi superior e igualável entre si aos que receberam o controle.

O consumo de ração ficou estável estatisticamente entre todos os tratamentos durante o período de D1 a D14, vindo a aumentar entre os grupos que receberam colistina e Neosantrix® de forma igual estatisticamente entre o período de D15 a D40; sendo superior ao controle neste período.

Na conversão alimentar no período de D1 a D7, o Neosantrix® 1,0, demonstrou-se igual estatisticamente ao controle positivo. No período de D15 a D40, houve diferença estatística entre os tratamentos ofertados aos leitões.

Efeito do tratamento para contagem de leucócitos totais e linfócitos, sendo menor nos animais do T4 comparado ao T1 e T5. Maiores níveis de glicose (T3 e T4) e uréia (T4) foram observados nos leitões se comparado ao T1.

A maior concentração de globulinas foi verificada no sangue dos leitões do T3 e T4 quando comparado com T1. Esse aumento é consequência da maior concentração de IgA.

36 Óleos essenciais suíno Brasil 1º Trimestre 2024 | Uso de fitogênico para leitões na fase de creche como melhorador de desempenho natural em substituição aos antibióticos

Tabela 1. Imunoglobulinas e citocinas no soro de leitões na fase de creche.

*Letras diferentes significam diferença estatística pelo teste Tukey

Os níveis de fator de necrose tumoral (TNF) no dia 40 foi menor nos leitões do T3 e T4,

assim como a concentração de interleucina-10 (IL-10) teve efeito dose dependente, sendo superior no T4.

Efeito dose dependente também foi veri cado para atividade da superóxido dismutase e antioxidantes total, sendo maior no T4, seguido do T3 quando comparado ao T1.

O experimento demonstrou que a adição de um blend fitogênico torna-se um promissor substituto a antibiótico na dieta de leitões na fase de creche sobre os efeitos no desempenho zootécnico.

Uso de fitogênico para leitões na fase de creche como melhorador de desempenho natural em substituição aos antibióticos promotores de crescimento BAIXAR EM PDF

Concluímos também que o fitogênico, além de funcionar como melhorador de desempenho, também tem ação antioxidante e estimula resposta imune humoral.

37 Óleos essenciais suíno Brasil 1º Trimestre 2024 | Uso de fitogênico para leitões na fase de creche como melhorador de desempenho natural em substituição aos antibióticos
CONCLUSÕES
Váriaveis Controle Neosantrix-0.5 Neosantrix-1.0 Neosantrix-1.5 Colistina SEM P:treat TNF, pg/mL 212a 201ab 191b 178c 220a 2,16 0,02 IL-10 , pg/mL 247c 315b 342b 408a 256c 7,05 0,02 IgA (g/dL) 0,47c 0,56bc 0,61ab 0,65a 0,50c 0,06 0,01 Ig cadeia pesada (g/dL) 0,84c 0,89bc 0,95ab 0,99a 0,81c 0,08 0,01

ESTREPTOCOCOSE EM SUÍNOS

Taís Regina Michaelsen Cê¹; Adriana Carla Balbinot¹; Fabiana Carolina de Aguiar¹ e Mariana Santiago Goslar¹ ¹Médica Veterinária - Laboratório de Saúde Animal / SEARA JBS

INTRODUÇÃO

Infecções causadas por Streptococcus suis (S. suis), também denominadas estreptococoses, são amplamente disseminadas entre os sistemas de produção de suínos no mundo.

A doença acomete principalmente animais em idade de creche, mas também pode ocorrer nas fases de maternidade, crescimento e terminação. Se caracteriza especialmente pelo aparecimento de sinais nervosos, febre e por vezes, morte súbita.

38 Patologia suíno Brasil 1º Trimestre 2024 | Estreptococose em suínos

Outras manifestações clínicas que também podem ocorrer são:

Septicemia

Infecção urinária

Poliartrite

Polisserosite Broncopneumonia e, ocasionalmente, Distúrbios reprodutivos e

Endocardite

Mistura de animais de diferentes origens

Superlotação das baias

Oscilação de temperatura (mais de 6°C no mesmo dia)

Alojamento de suínos na mesma sala com mais de duas semana de diferença na idade

EPIDEMIOLOGIA

S. suis tem distribuição mundial, a introdução de suínos portadores em rebanhos não infectados pode dar origem ao aparecimento da doença nos mesmos.

Umidade relativa do ar maior do que 70%, Fluxo contínuo de produção e

Fêmeas sadias portadoras infectam os leitões no momento do nascimento, pelas vias respiratória e oral e estes, por sua vez, contaminam outros leitões no momento do reagrupamento, após o desmame ou após a entrada nos sítios de engorda (6).

As taxas da doença são extremamente variáveis, dependendo dos sorotipos envolvidos, idade, formas clínicas, sistema de criação e status sanitário das granjas; fatores externos também podem influenciar, fundamentalmente, ambientais.

Ventilação insu ciente na sala (3,6).

As taxas de morbidade e mortalidade desenvolvidas pelo S. suis podem atingir valores máximos de 50% e 20%, respectivamente; entretanto, nas formas nervosas, embora a morbidade e a mortalidade, geralmente, não ultrapassem 10%, a letalidade pode chegar a 100% dos indivíduos afetados (9).

O S. suis é uma bactéria gram positiva, alfa hemolítica. Sua classificação se baseia em sorotipificação que, por sua vez, é definida pela antigenicidade do polissacarídeo capsular (CPS) ou pela presença de genes específicos do sorotipo.

Com base em seus antígenos capsulares polissacarídeos (CPS), determina-se a especificidade de até 35 sorotipos já reconhecidos, porém esta classificação está em contínua revisão. Em 2005 foi proposta a reclassificação dos sorotipos 32 e 34 na espécie Streptococcus orisratti (5), com base no sequenciamento do gene que codifica a chaperonina (cpn60).

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Da mesma forma, com base em estudos baseados no sequenciamento dos genes sodA (codifica a superóxido dismutase) e recN (codifica uma proteína de recombinação/reparação), foi proposto que os sorotipos 20, 22, 26 e 33 pertenceriam à uma nova espécie, Streptococcus parasuis, no entanto, podem ser encontrados referidos como “bactéria do tipo S. suis” (5,8).

PATOGÊNESE

A bactéria é bastante adaptada ao trato respiratório dos suínos, onde algumas cepas se comportam como comensais da microbiota respiratória, enquanto outras, mais invasivas, são potencialmente patogênicas.

De todos os sorotipos de S. suis descritos, os mais frequentemente isolados de casos clínicos em suínos são os sorotipos 1 ao 9 (6). Com predominância dos sorotipos 2, 1/2 e 9. Variações na distribuição dos sorotipos também foram descritas dependendo da área geográfica e tempo.

O S. suis é o patógeno bacteriano mais importante em leitões de creche e é considerado um agente zoonótico emergente de caráter profissional, pois acomete trabalhadores da indústria suína, principalmente, em países asiáticos onde a taxa de mortalidade entre humano relatada é de 7% a 13% dos casos.

A infecção em humanos pode resultar em septicemia, meningite e, como sequela, perda auditiva, endocardite e artrite. O sorotipo 2, em menor grau o 14, são os sorotipos mais envolvidos nos casos em humanos (2).

A via de infecção mais comum é a respiratória, através dela o agente atinge as tonsilas, que servem de porta de entrada para o S. suis.

Depois de colonizar o trato respiratório superior, o S. suis pode atingir a corrente sanguínea; na corrente sanguínea o agente resiste ao ataque da via alternativa do sistema complemento e também a fagocitose, resultando em bacteremia e disseminação do patógeno a tecidos e órgãos sistêmicos.

Se a bactéria não for rapidamente eliminada da corrente sanguínea, podem chegar ao sistema nervoso central e causar a inflamação das meninges (meningite).

40 Patologia suíno Brasil 1º Trimestre 2024 | Estreptococose em suínos

Também pode haver exacerbada ativação de células pró-infalamatórias, que resulta na liberação de altas concentrações de citocinas indutoras de choque séptico e, caso não tratada, a inflamação sistêmica pode causar a morte do hospedeiro (6). Os verdadeiros mecanismos de ação patogênica ainda são desconhecidos. Algumas pesquisas realizadas mostram que durante o curso da infecção, o S. suis libera polissacarídeos capsulares, proteínas de parede celular, proteínas de membrana ou proteínas secretadas, que estão envolvidas na patogênese (8).

SINAIS CLÍNICOS

Os principais sinais clínicos observados em lactentes são:

Apatia Febre

Cerdas arrepiadas Diarreia e As vezes pode ter aparecimento de vômito, com o avançar da infecção pode causar artrite. Nessa fase, também pode ocorrer a forma septicêmica causando a morte do animal (6).

Em leitões desmamados, principal fase onde a enfermidade é observada, os sinais mais frequentes são anorexia, apatia, febre, hiperemia de pele e tremores musculares.

Além disso, o aumento do fluido cérebro espinhal que acompanha a meningite, causa aumento da pressão intracraniana levando ao aparecimento de sinais nervosos como:

Incoordenação

Perda de equilíbrio

Decúbito lateral

Pedalagem

Opistótono e Convulsões

Pode ocorrer também, com menor frequência, cegueira, surdez, paralisia e ataxia (6).

LESÕES

Além da meningite, o S. suis pode causar pneumonia, septicemia e artrite. As lesões mais comuns são pneumonia disseminada, congestão de órgãos, exsudato sero-fibrinoso sobre as serosas, principalmente no pericárdio, pleura e peritônio, linfonodos congestos e aumentados de volume.

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Endocardite vegetativa também pode ser encontrada, em casos de sinais nervosos evidentes, pode-se visualizar fina camada de exsudato fibrino-purulento sobre as meninges e líquido cefalorraquidiano turvo contendo ou não grumos (3,6).

DIAGNÓSTICO

O diagnóstico presuntivo de infecção em suínos é geralmente baseado em dados epidemiológicos, sinais clínicos e lesões macroscópicas. A confirmação é baseada no isolamento e caracterização do patógeno (1).

Os materiais de eleição para isolamento do agente são swabs de meninges, líquido cefalorraquidiano e líquido sinovial.

O envio da cabeça e de articulações fechadas é a melhor forma, e mais segura, de envio de material para diagnóstico bacteriológico, na qual há maior sucesso de isolamento do agente. Utilizar swabs com meio de transporte para a coleta favorece a sobrevivência do agente durante o transporte do material e é de fundamental importância garantir que o mesmo seja mantido refrigerado (2 a 8°C) até a chegada ao laboratório.

Além do isolamento do agente (exame bacteriológico), a análise histopatógica é importante para fechar o diagnóstico, para tal, o envio de fragmentos de encéfalo, incluindo meninges é fundamental. Sempre que houverem outros órgãos acometidos, como pulmão e coração, também devem ser coletados, tanto para exame bacteriológico, quanto histopatológico.

Além do exame bacteriológico e histopatológico, técnicas de PCR (Polimerase Chain Reaction) simples ou múltiplas foram desenvolvidas, que permitem a detecção de um ou vários sorotipos e potenciais fatores de virulência de S. suis (10).

A sorotipificação é um método de diagnóstico importante para entender a epidemiologia de um patógeno, monitorar a prevalência de sorotipos específicos e orientar o desenvolvimento de vacinas.

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Figura 1. Características clínicas e lesões macroscópicas em suínos com infeção por S. suis. Leitão em decúbito lateral com movimentos de pedalagem (A). Cérebro: com hiperemia das leptomeninges e deposição de fibrina no cerebelo (asterisco). Fonte: Hammerschmitt et al. 2022.
A B

Atualmente, técnicas de PCR multiplex permitem um método fácil, rápido, econômico e de alta precisão para identificar e diferenciar os sorotipos de S. suis em uma única reação (7).

O sequenciamento completo do genoma tem sido utilizado em estudos epidemiológicos e também na caracterização de estirpes.

CONTROLE E TRATAMENTO

Suínos acometidos por S. suis patogênicos respondem bem à antibioticoterapia associada a um anti-inflamatório quando realizada logo após o aparecimento dos primeiros sinais clínicos. Diversos antimicrobianos se mostraram eficientes no tratamento da doença, dentre eles a Amoxicilina e o Florfenicol (6).

A variabilidade genética do agente e também seu potencial de evasão do sistema imune do hospedeiro, têm desafiado o desenvolvimento de vacinas eficazes para combater o S. suis.

A falta de imunidade cruzada entre as estirpes heterólogas de S. suis é, provavelmente, uma das razões pela qual alguns surtos são de difícil controle.

Para controlar a doença é preciso dar atenção a medidas como, evitar fatores estressantes descritos acima, manter um programa nutricional adequado, realizar manejo em lotes, realizando limpeza e desinfecção das instalações e respeitando o vazio sanitário, além disso, deve-se evitar a superlotação e a qualidade do ar deve ser mantida.

Nestes casos, uma vacina autógena produzida com base nas estirpes isoladas no sítio produtivo pode ser uma boa estratégia para atenuar a doença. O programa de imunização deve considerar o momento da apresentação clínica da doença, uma vez que, a imunidade protetora pode ser alcançada apenas após a segunda dose da vacina.

A vacinação das fêmeas pode ser uma estratégia interessante, entretanto, a vacinação materna não exclui a necessidade de vacinação dos leitões para prolongar a proteção (3).

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43 Patologia suíno Brasil 1º Trimestre 2024 | Estreptococose em suínos

OPINIÃO DO ESPECIALISTA

A IMPORTÂNCIA DA TEMPERATURA DA ÁGUA DE BEBIDA PARA SUÍNOS

Joana Barreto

Zootecnista, MsC em Nutrição e Produção de Suínos, Doutoranda em nutrição e produção de suínos

Aágua, enquanto nutriente, muitas vezes não recebe a devida atenção de produtores e técnicos.

Os animais necessitam de água para termorregulação, equilíbrio homeostático e excreção, tanto de resíduos resultantes da digestão, como de outras substâncias (por exemplo, elementos antinutricionais presentes na dieta).

Como nutriente, além de ser fundamental para a dessedentação dos suínos, a água é imprescindível para a produção de tecido muscular.

Por fim, a qualidade da água disponível para ingestão é fundamental para que os animais possam expressar seu potencial genético para as características de desempenho.

A termorregulação em suínos, a partir do consumo de água, é crucial, pois os suínos possuem poucas glândulas sudoríparas, que são afuncionais devido ao fechamento do canal excretor de suor, que impede a saída do mesmo para a superfície da pele. Assim, uma das formas do animal amenizar o estresse por calor seria bebendo água.

44 Opinião do Especialista suíno Brasil 1º Trimestre 2024 | A importância da temperatura da água de bebida para suínos

As instalações de algumas propriedades expõem os reservatórios ou os canos de água ao sol e, ocorrerá variação da temperatura da água de acordo com o clima, muito alta no verão e muito fria no inverno. Os produtores devem ter em mente que, a temperatura da água muito alta ou muito baixa é prejudicial ao desenvolvimento dos suínos.

tomadas, tais como:

Para suínos adultos, a temperatura adequada da água de bebida varia entre 18 a 22°C. Suínos adultos são mais susceptíveis ao estresse térmico por calor, ao passo que, animais jovens são susceptíveis ao estresse por frio.

Se a temperatura estiver muito baixa, o leitão terá diarreia.

Se a temperatura for muito alta, a capacidade digestiva do suíno adulto diminuirá, o baço e o estômago serão danificados e pode provocar aborto em porcas gestantes. Uma das causas de aborto em porcas pode ser a elevada temperatura da água.

Armazenamento da água em reservatórios cobertos e isolados do sol;

Utilizar encanamentos enterrados e internos aos galpões; e

Garantir a renovação da água dos reservatórios.

A gestão ideal da água potável contribui para melhores resultados de produção e sanidade do plantel. Assim, um dos pontos a serem considerados para garantia da potabilidade da água é a temperatura!

A importância da temperatura água de bebida para suínos

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45 Opinião do Especialista suíno Brasil 1º Trimestre 2024 | A importância da temperatura da água de bebida para suínos

DEFICIÊNCIA DE FERRO EM SUÍNOS: PATOGENIA, SINAIS CLÍNICOS, DIAGNÓSTICO, CONTROLE E TRATAMENTO

Cândida Pollyanna Francisco Azevedo Zootecnista, MsC em Zootecnia e DsC em Ciência Animal e Pastagens

Oferro (Fe) é um mineral importante para as funções vitais do organismo, especialmente, em animais na fase crescimento e sua distribuição no corpo pode ser dividida em:

Hemoglobina, ferro funcional, 60%;

Mioglobina, 20%;

Diferentes enzimas.

Um leitão nasce com reservas limitadas de Fe (50 mg Fe) e a necessidade diária de Fe durante as primeiras semanas de vida é de cerca de 7-10 mg. O leite da porca, no entanto, fornece ao leitão apenas, aproximadamente, 1 mg de Fe por dia.

Um fornecimento precoce de Fe aos leitões lactentes é, portanto, essencial para sua sobrevivência. Sem suplementação de Fe, os leitões lactentes desenvolvem anemia 10 a 14 dias após o nascimento.

46 Patologia suíno Brasil 1º Trimestre 2024 | Deficiência de ferro em suínos: Patogenia, sinais clínicos, diagnóstico, controle e tratamento

Os seguintes fatores contribuem para o desenvolvimento da deficiência de Fe:

Elevada intensidade de crescimento dos leitões nas primeiras semanas de vida,

Baixa concentração de Fe no leite da porca,

Baixas

fetais de Fe e

Perda de sangue no parto.

A alta intensidade de crescimento torna os suínos mais propensos à anemia por deficiência de Fe, em comparação com outros animais de produção.

Durante a primeira semana, um leitão duplica o seu peso de 1,5 para 3 kg e, ao mesmo tempo, o volume plasmático aumenta em 30%.

Os leitões, normalmente, atingem quatro a cinco vezes o peso ao nascer ao final de três semanas e oito vezes o peso ao nascer ao final de oito semanas de vida. Quanto mais intensa for a taxa de crescimento do leitão, maior será o risco de os leitões se tornarem deficientes em Fe e anêmicos.

A quantidade de Fe absorvida pelos leitões, a partir do colostro e do leite, apresenta grande variabilidade entre porcas.

O consumo de leite de um leitão varia entre 0,5-1 l por dia. O teor de Fe, no leite das porcas, varia de 0,2 a 4 mg/l e o leitão pode absorver 60 a 90% do Fe do leite.

As baixas reservas fetais de Fe e a perda de sangue no parto também podem contribuir para deficiência de Fe no neonato.

Uma das peculiaridades dos suínos, em comparação com os animais uníparos, é que na mesma leitegada podem estar presentes fetos com baixas reservas de Fe e com reservas normais do mineral.

A nutrição das porcas na suinocultura tecnificada, bem como o aumento do tamanho das leitegadas, são aparentemente os principais fatores que influenciam a ocorrência de baixas reservas de Fe fetal.

O fígado é o órgão mais importante para o armazenamento de Fe. Vale ressaltar que, o armazenamento hepático de Fe não previne o rápido aparecimento de anemia em leitões que não recebem ferro.

47 Patologia suíno Brasil 1º Trimestre 2024 | Deficiência de ferro em suínos: Patogenia, sinais clínicos, diagnóstico, controle e tratamento
reservas

Steinhardt et al. (1984) encontraram variabilidade significativa no teor de Fe no fígado entre leitões de diferentes leitegadas, e mesmo em leitões da mesma leitegada, imediatamente após o nascimento.

A diferença no fornecimento de Fe aos fetos resulta também numa variabilidade significativa nos valores de transferrina no plasma sanguíneo dos leitões, imediatamente após o nascimento.

Além disso, os níveis de Fe no plasma sanguíneo dos leitões, imediatamente após o parto, apresentam variabilidade de 5 e 35 mmol/l.

A suplementação de Fe para fetos suínos ocorre de duas maneiras:

1) Durante a gestação é produzida uma glicoproteína de transporte especí ca para o ferro (Uteroferrina). Ela passa pelo alantocórion e se acumula no uido alantoide. A produção máxima de Uteroferrina ocorre entre o 40º e o 75º dia de gestação.

2) Outra possibilidade é a transferência direta de Fe do sangue através da placenta epiteliocorial, embora a capacidade desse transporte seja limitada.

Assim, o fornecimento de ferro à porca na primeira metade da gestação é o fator mais importante que afeta as reservas fetais de Fe.

Significativamente, um efeito positivo nas reservas fetais de ferro e na concentração de hemoglobina, em leitões após o nascimento, foi alcançado quando o ferro-dextrano foi injetado em porcas gestantes entre o 40º e o 60º dia de gestação (200 mg Fe como ferro-dextrano/kg de massa corporal divididos em três injeções – administrado nos dias 40, 50 e 60) (Ducsay et al., 1978).

Em contrapartida, a injeção intramuscular de preparações de ferro-dextrano em porcas, durante o final da gestação, eleva os níveis de hemoglobina dos leitões durante as primeiras semanas de vida, mas não o suficiente para prevenir a anemia.

48 Patologia suíno Brasil 1º Trimestre 2024 | Deficiência de ferro em suínos: Patogenia, sinais clínicos, diagnóstico, controle e tratamento

PATOGÊNESE

Quando ocorre a deficiência de ferro, as reservas de ferro, ferritina e hemossiderina, são utilizadas primeiro (fase pré-latente), segue-se a forma de transporte, ou seja, a transferrina (fase latente) e na última fase o ferro é liberado da hemoglobina.

Como o ferro é um componente essencial do heme, a sua ausência resulta numa redução da hemoglobina (Hb) circulante e, assim, uma redução na Hb total reduz a capacidade de transporte de oxigênio do sangue.

O fornecimento insuficiente de oxigênio aos tecidos (hipóxia) causa glicólise anaeróbica, produção de lactato e acidose metabólica.

Além disso, há diminuição dos parâmetros hematológicos básicos (hemoglobina, hematócrito e contagem de glóbulos vermelhos) e desenvolvimento de anemia. Esta condição é caracterizada como, anemia hipocrômica microcítica.

O Fe é essencial para o funcionamento normal das células e é um componente de muitas enzimas. As células de quase todas as formas de vida requerem quantidades bem definidas de Fe para sobrevivência, replicação e expressão de processos diferenciados.

O mineral tem a capacidade de aceitar e doar elétrons prontamente, alternando entre as formas férrica (Fe2+) e ferrosa (Fe3+). Esta capacidade torna-o um componente útil aos citocromos, moléculas de ligação ao oxigénio (isto é, hemoglobina, mioglobina) e muitas outras enzimas.

Ao ativar ou auxiliar enzimas, como a succinato desidrogenase, o Fe está envolvido em todas as fases do ciclo do ácido tricarboxílico (Krebs).

Além do efeito sobre os níveis de hemoglobina, leitões com deficiência de ferro ganham peso, consideravelmente, mais lento do que os leitões suplementados.

49 Patologia suíno Brasil 1º Trimestre 2024 | Deficiência de ferro em suínos: Patogenia, sinais clínicos, diagnóstico, controle e tratamento

A deficiência de Fe causa anemia e supressão da imunocompetência. A diminuição da resistência às doenças infecciosas e parasitárias, o retardo no crescimento e o aumento da taxa de mortalidade resultam em perdas econômicas consideráveis.

O Fe inadequado, em suínos de crescimento rápido, prejudica a capacidade de síntese de anticorpos necessários para combater várias doenças, haja vista o ferro está envolvido em várias enzimas essenciais para a produção de anticorpos.

SINAIS CLÍNICOS

A anemia é clinicamente aparente, geralmente, entre 10 e 14 dias de idade.

Ast et al. (1989) constataram que, manter leitões em piso metálico ripado, sem suprimento complementar de ferro, causou anemia em até sete dias após o parto. Além disso, os autores observaram que, ocorre variação considerável na incidência de casos entre leitegadas mantidas em condições idênticas.

A anemia precoce pode ser observada com o surgimento de membranas mucosas pálidas, especialmente, conjuntiva. Na fase seguinte, as orelhas ficam pálidas. Na fase avançada da anemia, a pele fica pálida em toda a superfície do corpo e ocorre dispneia intensa, letargia, além de aumento acentuado na amplitude do batimento apical durante o exercício.

Além disso, pode haver edema na cabeça e nos membros dianteiros, dando ao animal uma aparência de inchaço. Porém, uma aparência magra e peluda é mais comum.

A morte pode ocorrer, repentinamente, como resultado de hipóxia e insuficiência circulatória. Uma elevada incidência de doenças infecciosas, especialmente infecção entérica por E. coli, está associada à anemia.

Os leitões podem estar bem desenvolvidos e em boas condições, mas a taxa de crescimento dos leitões anêmicos é, significativamente, inferior aos normais. As perdas que ocorrem incluem aquelas devidas à mortalidade, que pode ser elevada em leitões não tratados, e ao retardo no desempenho.

DIAGNÓSTICO

A anemia pode ser diagnosticada por motivos clínicos e pelo exame de uma amostra de sangue. O teste realizado considera volume de glóbulos vermelhos e os níveis de hemoglobina, sendo níveis normais 9-15g/100ml e anemia <8g/100ml.

Um esfregaço de sangue corado também confirmará a forma e o tamanho dos glóbulos vermelhos e, se há alguma bactéria presente. Tipos específicos de células estão envolvidos nas diferentes anemias.

Por fim, a toxicidade do ferro-dextrano associada à deficiência de vitamina E pode causar anemia em leitões.

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CONTROLE E TRATAMENTO

O intestino pode absorver apenas pequenas quantidades de Fe diariamente, o que pode não ser suficiente para reverter a anemia rapidamente.

No entanto, os níveis de Fe e cobre (Cu) na ração devem ser verificados. Vale ressaltar que, é útil administrar uma injeção de ferro dextrano 300-500 mg dependendo da idade do suíno.

O método mais fácil é administrar ao leitão uma injeção de 150-200 mg de ferro-dextrano numa dose de 1 ou 2 ml.

O ferro também pode ser administrado por via oral, mas este método é demorado e o suíno deve ser tratado em 2 ou 3 ocasiões aos 7, 10 e 15 dias de idade.

O melhor período para administração do Fe é dos três aos cinco dias de idade, e não ao nascimento. Uma dose de 2ml ao nascimento causa trauma considerável nos músculos.

Os locais para aplicação da injeção são os músculos da perna traseira ou o pescoço. Recomenda-se a utilização de uma agulha de calibre 21 (5/8 pol).

Deficiência de ferro em suínos: Patogenia, sinais clínicos, diagnóstico, controle e tratamento

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51 Patologia suíno Brasil 1º Trimestre 2024 | Deficiência de ferro em suínos: Patogenia,
clínicos, diagnóstico, controle e tratamento
sinais

FERRAMENTAS TECNOLÓGICAS E INOVADORAS NA SUINOCULTURA

:

MUITO MAIS QUE NUTRIÇÃO

Ana Caroline Rodrigues da Cunha Consultora de Serviços Técnicos em Suínos na Agroceres Multimix

Com o elevado custo de produção e a necessidade de atender o consumo de proteína animal da população, a demanda por maior eficiência de produção vem se tornando de grande importância na suinocultura. Sabendo disso, o manejo nas granjas de suínos vem abrindo espaço para a aplicabilidade, cada vez mais intensiva, de ferramentas tecnológicas e inovadoras que garantem um acompanhamento mais acurado dos dados relevantes para a produção eficiente.

Hoje, as tecnologias disponíveis no mercado ainda não permitem o acompanhamento preciso do consumo de nutrientes dos animais. Para que seja possível tal implementação, é necessária a coleta periódica de dados em granjas, tais como:

Temperatura,

Densidade, Genética,

Ganho de Peso Diário (GPD) e

Consumo de Ração (CR).

52 Tecnologia suíno Brasil 1º Trimestre 2024 | Ferramentas tecnológicas e inovadoras na Suinocultura: muito mais que Nutrição

Com isso, elabora-se modelos de predição em função do GPD e CR que, posteriormente, serão atualizados em formulações de ração.

A nutrição eficiente engloba a coleta de dados com informações detalhadas sobre o estado fisiológico e as necessidades específicas dos lotes.

Para tal, os modelos matemáticos são ajustados em programas computacionais, para que incluam informações de variações de temperatura nos galpões (considerando as diferentes localizações das granjas em todo o país), densidade adequada dos lotes em todas as fases e, além disso, levando em consideração a genética utilizada, para que o animal possa expressar o máximo potencial genético.

Além disso, faz-se o uso de tecnologias inovadoras, como modelos matemáticos acurados, softwares especializados e equipamentos de última geração para agregar as bases de dados de consumo de ração, resultando, assim, na quantidade de cada nutriente a ser fornecida aos animais.

Os autores Pomar, Andretta e Remus (2021) ressaltam que a inclusão de lisina, cálcio e fósforo em dietas de suínos é o principal foco das pesquisas em nutrição animal.

Pensando na aplicabilidade de ferramentas tecnológicas em granjas, a nutrição eficiente não visa apenas reduzir a conversão alimentar, mas garantir que os animais se alimentem estritamente do necessário, sem sobras de nutrientes, evitando desperdícios e maximizando a digestão e absorção dos nutrientes fornecidos por meio da ração.

Segundo eles, é possível reduzir em mais de 40% a excreção de nitrogênio, fósforo e outros constituintes poluentes ao meio ambiente, além de poder reduzir a ingestão de lisina, passando de 15% para 27%.

Para compreender e analisar a viabilidade animal é importante assumir a variabilidade do crescimento entre os indivíduos de mesmo material genético, e entre bases genéticas diferentes.

Afinal, apesar de animais com a mesma base genética iniciarem determinada fase de criação com o peso corporal semelhante entre si, a taxa de crescimento e a composição corporal do ganho pode variar de forma significativa.

53 Tecnologia suíno Brasil 1º Trimestre 2024 | Ferramentas tecnológicas e inovadoras na Suinocultura: muito mais que Nutrição

Coleta dos dados nas granjas

Predição do consumo de ração e peso corporal

O modelo matemático estima as exigências nutricionais em tempo real

O animal realiza a ingestão acurada dos nutrientes

Fonte: Adaptado de Remus, A. (Agriculture and Agri-Food Canada).

A ferramenta tecnológica terá o intuito de atuar no melhor aproveitamento dos nutrientes presentes na ração, a partir de modelos matemáticos acurados para as exigências nutricionais, atuando na conversão de lisina e monitoramento de consumo de ração e peso corporal. Desse modo, mostra-se a importância de estimar melhor as necessidades dos animais e atingir os objetivos produtivos, modulando o perfil de crescimento desejado para o abate.

Como as ferramentas tecnológicas poderiam fornecer informações para auxiliar em soluções para as granjas?

Em um primeiro momento, a ferramenta tecnológica analisará o modo de operação dos sistemas de alimentação convencional por fases. E, assim como a temperatura ambiental, os desafios sanitários também serão analisados, pois afetam o metabolismo dos nutrientes e as exigências nutricionais de cada fase de criação dos suínos.

O passo seguinte é a abordagem do uso de estratégias para a formulação de dietas ajustadas ao estado fisiológico e às exigências de mantença e produção de suínos. Dessa forma, sempre considerando uma menor proporção de nutrientes, ressignificando todo o excesso nutricional, como, por exemplo, excreção de nitrogênio, fósforo e outros.

Dentre as vantagens do uso de ferramentas tecnológicas, estarão:

Alcance da homogeneidade e eficiência produtiva desejadas dos lotes,

Redução dos custos de produção pela maior eficiência na oferta da alimentação animal

Sustentabilidade ambiental pela menor excreção de nutrientes não aproveitados pelos animais,

Acompanhamento da curva de crescimento.

54 Tecnologia suíno Brasil 1º Trimestre 2024 | Ferramentas tecnológicas e inovadoras na Suinocultura: muito mais que Nutrição

A coleta de dados para as ferramentas tecnológicas deve abranger informações relevantes, de acordo com o objetivo de desempenho produtivo das granjas, tais como:

Pesagem corporal

Consumo de ração

Temperatura ambiental

Densidade dos lotes e

Comportamento ingestivo, à partir do acompanhamento diário e/ou semanal dos animais.

Como resultado, deve-se ter o ajuste do consumo de nutrientes, evitando excessos ou deficiências destes nas formulações das rações.

Ademais, além de fornecer a quantidade correta de nutrientes, proporcionando eficiência à absorção intestinal, deve-se cuidar para garantir a composição correta de nutrientes na dieta.

55 Tecnologia suíno Brasil 1º Trimestre 2024 | Ferramentas tecnológicas e inovadoras na Suinocultura: muito mais que Nutrição

É crucial a obtenção de matrizes nutricionais exclusivas e atualizadas,

otimização da saúde, conversão alimentar e desempenho reprodutivo dos animais, pensando além do desperdício dos nutrientes.

Vale destacar que, o uso de tecnologia na suinocultura, por meio de controle operacional e acurácia de manejo nutricional, é fundamental quando se almeja aumento de produtividade, sustentabilidade e auxílio na tomada de decisão.

Conforme as pesquisas avançam na suinocultura, as ferramentas tecnológicas estão se tornando cada vez mais importantes e sendo utilizadas nas granjas comerciais para o monitoramento dos dados dos animais e das instalações, promovendo eficiência ao manejo dos animais e visando melhores índices zootécnicos.

Essa aplicabilidade pode ser posta em prática por meio de banco de dados estruturados, envolvendo 160 mil animais oriundos de 253 projetos de pesquisa executados e em andamento.

Desse modo, informações de temperatura anormal em relação à zona de termoneutralidade de cada fase de criação, densidade acima ou abaixo do valor de k, pressão de seleção genética para tais características e condições sanitárias, já estão consistentes e distribuídas em pesquisas que objetivam:

Orientações técnico-nutricionais,

Melhorias de produtos

Desenvolvimento de produtos,

Avaliação de ingredientes,

Desenvolvimento de conceitos nutricionais, para que seja possível simular e predizer o desempenho dos animais e a viabilidade econômica na produção de suínos.

Ferramentas tecnológicas e inovadoras na Suinocultura: muito mais que Nutrição

56 Tecnologia suíno Brasil 1º Trimestre 2024 | Ferramentas tecnológicas e inovadoras na Suinocultura: muito mais que Nutrição
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BETAÍNA COMO ADITIVO MODIFICADOR DE CARCAÇA PARA SUÍNOS

Mariana Garcia de Lacerda1, Amoracyr José Costa Nuñez2, Cesar Augusto Pospissil Garbossa3, Vivian Vezzoni de Almeida²

1Graduanda em Zootecnia, Escola de Veterinária e Zootecnia - UFG

2Professor Adjunto, Escola de Veterinária e Zootecnia – UFG

3Professor Doutor, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – USP

INTRODUÇÃO

Em decorrência das exigências dos consumidores por maior rendimento cárneo, novas estratégias nutricionais têm sido adotadas na alimentação de suínos, dentre as quais pode-se destacar o uso de aditivos modificadores de carcaça durante a fase final de produção.

O que é a betaína?

A betaína é um derivado do aminoácido glicina com três grupos metil ligados ao átomo de nitrogênio (Figura 1), sendo naturalmente encontrada em plantas, animais e microrganismos.

É neste contexto que a betaína desempenha papel fundamental para aumentar a eficiência e a lucratividade dos sistemas comerciais de suínos.

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Figura 1 – Estrutura química da betaína.

A beterraba açucareira e seus coprodutos, como o melaço, são as principais fontes naturais de betaína. Comercialmente, a betaína está disponível na forma purificada, visto que as formas sintéticas mais usuais como aditivos na alimentação animal são:

Dessa maneira, a betaína desempenha a função da bomba de sódio e potássio com menor gasto energético, o que reduz a demanda energética do animal para recuperar o volume hídrico celular, evitando o aumento excessivo na concentração intracelular de eletrólitos. A energia poupada nesse processo pode ser direcionada para o crescimento animal, com consequente melhora no desempenho zootécnico.

a betaína anidra a betaína monofosfato o cloridrato de betaína

Quais as funções da betaína?

A betaína apresenta dupla função nos mamíferos:

osmoprotetora e doadora de grupos metil.

Em razão de sua bipolaridade e alta solubilidade em água, a betaína é armazenada em concentrações elevadas na maioria dos tecidos e atrai moléculas de água para o meio intracelular, mantendo, assim, a hidratação celular em condições de estresse osmótico.

Embora a disponibilidade de grupos metil seja vital para a síntese de DNA e RNA, carnitina, creatina, neurotransmissores, fosfolipídios e aminoácidos metilados, os animais não conseguem sintetizá-los, sendo usualmente supridos pela dieta.

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A fonte primária de grupamentos metil para os animais provém da metionina, que também é necessária para a síntese proteica.

Quando a metionina não está ligada ao seu grupo metil, a molécula citotóxica resultante é a homocisteína, que pode ser remetilada, caso haja fontes adicionais de grupos metil, ou convertida em cisteína, quando não há grupos metil disponíveis para remetilação.

A suplementação dietética de cloreto de colina tem sido uma prática adotada na tentativa de poupar metionina.

Entretanto, a obtenção de grupamentos metil a partir da colina apresenta algumas desvantagens, como, por exemplo:

o cloreto de colina é parcialmente absorvido no intestino e, por isso, pode exigir alta taxa de inclusão na dieta,

a colina precisa ser convertida em betaína para ser utilizada como doadora de grupo metil pelo animal e

o cloreto de colina possui natureza corrosiva e pode dani car os equipamentos das fábricas de rações.

Neste contexto, o uso de betaína na alimentação animal é uma prática que oferece benefícios sobre o cloreto de colina por garantir suprimento imediato de grupamentos metil para o animal, além de ser menos corrosiva.

Como a betaína atua no metabolismo proteico e lipídico dos suínos?

Maior deposição de tecido muscular em detrimento de tecido adiposo tem sido reportada em estudos conduzidos com inclusão de 0,10 a 0,35% de betaína na dieta de suínos.

A betaína adicionada à dieta é captada pelo fígado e tecido muscular por meio de transportadores específicos, favorecendo a regulação hídrica intracelular e, consequentemente, promovendo aumento do volume celular.

Com o maior tamanho das células musculares, a síntese proteica aumenta devido à maior absorção de aminoácidos.

60 Nutrição suíno Brasil 1º Trimestre 2024 | Betaína como aditivo modificador
de carcaça para suínos

Além disso, é no fígado que a betaína exógena é armazenada, com atuação no ciclo da remetilação da homocisteína para metionina, o que aumenta a concentração sérica de metionina para a síntese proteica.

Por fim, a adição de betaína na dieta proporciona aporte extra de glicina e serina para o metabolismo proteico.

No que diz respeito ao metabolismo lipídico, a betaína aumenta a síntese hepática de carnitina, necessária para o transporte de ácidos graxos de cadeia longa do citosol para o interior da mitocôndria, onde sofrem β-oxidação, com consequente redução na gordura corporal do animal.

Simultaneamente, elevados níveis plasmáticos de ácidos graxos livres, que possuem relação direta com o processo de lipólise que ocorre no tecido adiposo, têm sido reportados com o uso de betaína na alimentação de suínos.

Além da mobilização de ácidos graxos do tecido adiposo, que reduz a espessura de toucinho, a suplementação com betaína intensifica a captação de ácidos graxos livres no músculo.

Quanto maior o teor de ácidos graxos, mais macia, suculenta e saborosa é a carne produzida a partir desse músculo.

A análise da expressão de genes ligados à síntese e ao catabolismo do tecido adiposo demonstra que a suplementação dietética com betaína potencializa a lipogênese no músculo e a lipólise no tecido adiposo, as quais favorecem o aumento da gordura intramuscular concomitante com a redução da massa adiposa total na carcaça.

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No entanto, há falta de consistência nos resultados relativos ao conteúdo de gordura intramuscular e à composição das carcaças suínas (Tabela 1)

Categoria

Suínos em terminação

(PV = 43,60 ± 5,34 kg)

Nível de betaína (%)

0,20

Leitão desmamados

(PV = 10,55 ± 0,15 kg)

0,35

Leitão desmamados

(35 dias de idade)

0,25

Suínos em terminação

(PV = 89,00 ± 3,44 kg)

Suínos em crescimento

(PV = 24,68 ± 0,97 kg)

Efeito observado

% de carne magra na carcaça

% de gordura na carcaça

Espessura de toucinho

% de carne magra na carcaça

Espessura de toucinho

Gordura intramuscular

Área de olho-de-lombo

Espessura de toucinho

Área de olho-de-lombo

0,25

0,12

Gordura intramuscular

Gordura intramuscular

Referência

Wang et al. (2021)

Zhong et al. (2021)

Cheng et al. (2021)

Soares et al. (2022)

Fu et al. (2023)

Tabela 1 – Efeitos da suplementação dietética com betaína sobre as características de carcaça de suínos. PV = peso vivo inicial, % = porcentagem, = indica aumento e = indica redução.

Aspectos relevantes para pesquisas com a betaína dietética

Os benefícios da suplementação dietética com betaína são mais pronunciados em animais com propensão ao acúmulo de gordura.

Na produção industrial de suínos, além do fator genótipo, o que se tem observado é que a betaína tem sido amplamente estudada em suínos em fase de terminação, visto que é neste estágio da vida do animal que a taxa de deposição de gordura aumenta, assumindo maior proporção do ganho de peso.

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para suínos
carcaça

A resposta animal à betaína está associada a condições nutricionais estressantes, como, por exemplo, ao fornecimento de dietas com reduções drásticas de energia, ou seja, abaixo da exigência nutricional dos animais.

Para reduzir a energia dietética, o emprego de ingredientes fibrosos pode ser uma estratégia vantajosa, já que normalmente tendem a ser economicamente mais acessíveis, além de possuírem baixo valor calórico.

A escolha do ingrediente fibroso para compor as dietas em estudos que abordem o uso de betaína na alimentação animal é essencial, pois esse composto tem sido detectado em alguns alimentos, como no farelo de trigo, coproduto do beneficiamento do grão de trigo que é muito utilizado em dietas para suínos.

Recentemente, a casca de soja tem sido alvo de pesquisas por não haver menção na literatura sobre a presença de betaína em coprodutos da indústria processadora de soja.

Considerações finais

Nos padrões atuais de produção de suínos em sistema industrial, a betaína é uma estratégia nutricional que vem de encontro com os anseios dos consumidores.

Diante da sua dupla funcionalidade, a betaína modifica o metabolismo proteico e lipídico, ocasionando aumento da massa muscular e redução do conteúdo de gordura total dos suínos, especialmente durante a fase final de produção.

Novas pesquisas que abordem o uso combinado de betaína e ingrediente fibroso podem complementar abordagens tradicionais, gerando estratégias nutricionais aprimoradas para aumentar a eficiência e a lucratividade dos sistemas comerciais de suínos.

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de carcaça para suínos Betaína como aditivo modificador de carcaça para suínos

INTRODUÇÃO

IMPACTO, DESAFIOS SANITÁRIOS E PRODUTIVOS DO MANEJO EM BANDAS NA SUINOCULTURA

Ulguim RR*1, Leal LA1, Pizzatto BDS1, Santos LD1, Mellagi APG1 & Bortolozzo FP1 ¹Setor de Suínos, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Av. Bento Gonçalves, 9090, Porto Alegre, RS, Brasil. *Autor para correspondência: rafael.ulguim@ufrgs.br

A formação de grupos de matrizes em estágios reprodutivos similares, denominado de manejo em bandas, é crucial para implementação do manejo “todos dentro-todos fora”.

As bandas produtivas podem ser caracterizadas em intervalos entre lotes semanais ou superiores, sempre considerando múltiplos de 7 (14 diasquinzenal, 21 dias - trissemanal, 28 dias- quadrissenal).

A banda de produção semanal foi amplamente adotada nos sistemas produtivos, mas o modelo passou a ser repensado principalmente em unidades produtivas com menor número de matrizes.

O reduzido número de leitões desmamados semanalmente em unidades pequenas impõe ao sistema produtivo a necessidade de maior logística de transporte de animais e o agrupamento de diferentes origens de leitões nas instalações na fase de creche, recria e terminação.

64 Manejo suíno Brasil 1º Trimestre 2024 | Impacto, desafios sanitários e produtivos do manejo em bandas na suinocultura

um maior desafio sanitário pela mistura de animais de diferentes origens, o que diretamente afeta o desempenho produtivo (2).

O principal desafio imposto é relacionado à variabilidade de microbiota e agentes infecciosos dentro de cada grupo e o risco de transmissão horizontal de doenças na população (9).

Em sistemas de fluxo produtivo semanal, há a manutenção de leitões de diferentes idades, o que pode manter subpopulações de leitões susceptíveis, infectados ou resistentes de forma persistente na instalação.

O modelo de fluxo produtivo semanal, atualmente, apresenta resultados produtivos e financeiros que justificam a sua utilização, porém, os desafios sanitários em cenários de redução no uso de antimicrobianos ou da entrada de doenças com maior dificuldade de controle, pode exigir modelos produtivos que permitam ampliar o intervalo entre lotes facilitando as ações de limpeza e desinfecção e a adoção de medidas de controle para doenças.

2. CARACTERÍSTICAS DE DEFINIÇÃO DO INTERVALO ENTRE LOTES

A decisão sobre o tipo ou intervalo entre lotes deve estar pautada nas características individuais e operacionais do sistema produtivo e, principalmente, dos objetivos esperados com a migração para o modelo de bandas.

Questões relacionadas à capacidade operacional de cada granja, logística de transporte de animais e ração, bem como da capacidade das centrais de processamento de sêmen atenderem picos de produção devem também ser consideradas.

Ainda, é fundamental pensar na idade de desmame que se pretende atingir na migração para os modelos de bandas. Nesse caso, a idade mínima esperada dos leitões no momento do desmame deve ser bem planejada, pois no sistema de bandas todos os leitões deverão ser desmamados com o seu grupo, o que pode aumentar o percentual de leitões de menor idade e de menor peso.

Quanto ao tamanho das granjas, observa-se no sistema brasileiro relatos ou percepções de unidades com limite máximo de 1500 matrizes que poderiam migrar para o manejo em bandas.

65 Manejo suíno Brasil 1º Trimestre 2024 | Impacto, desafios sanitários e produtivos do manejo em bandas na suinocultura

Avaliando a evolução do manejo em bandas nos EUA, em 2011 Ketchem & Rix (2021) observaram granjas com 250 a 1600 matrizes aplicando algum tipo de manejo em bandas.

Em 2020-2021 o levantamento (81 granjas) indicou que 28,4% possuíam entre 100 e 500 matrizes, 65,4% das granjas com 500 a 2500 matrizes, 4,9% das granjas com 2500 a 3000 fêmeas e 1,2% (1 granja) com 4000 matrizes (Kentchem & Rix, 2021).

Nessas unidades, 80% utilizavam o fluxo de produção quadrissemanal e 20% quinzenal (6).

Na Europa, o sistema trissemanal foi indicado como o mais utilizado, sendo observado tendência futura de migração para bandas com intervalos maiores entre lotes (7).

3.1 VANTAGENS

Melhorar a saúde (estado sanitário) do rebanho, pensando em doenças endêmicas.

Portanto, definir um ponto de corte para o tamanho de granja está muito mais relacionado à capacidade operacional e objetivos pretendidos, do que propriamente a um limite pré-estabelecido.

3. IMPACTOS E DESAFIOS DO MANEJO EM BANDAS

Previamente à definição do tipo de banda a ser aplicado e os métodos de transição, a principal discussão deve ser relacionada aos impactos e desafios esperados quando se busca a migração. De forma geral, algumas vantagens e desafios no uso do manejo em bandas com intervalos maiores do que 7 dias são listadas a seguir.

Retorno mais rápido a uma condição estável sanitariamente após um surto de doença.

Eliminação mais rápida de doenças em casos de surtos ou epidemias.

Facilita a aclimatação de leitoas (menos lotes e grupos maiores).

Melhorias de biosseguridade: ações de transporte concentradas, redução do número de lotes de entrada de leitoas.

66 Manejo suíno Brasil 1º Trimestre 2024 | Impacto, desafios sanitários e produtivos do manejo em bandas na suinocultura

Segregação de salas de parto com um maior número de leitoas.

Possibilidade em segregar leitões de primíparas.

Melhor atendimento dos leitões na primeira semana de creche ao reduzir número de desmames e concentrar atividades.

Redução de mortalidade de leitões na maternidade, pela concentração de equipe.

Maior tempo de limpeza e vazio sanitário.

Formação de grupos maiores de fêmeas descarte, reduzindo o DNP entre a decisão do descarte e a remoção efetiva.

Redução na variabilidade de idade de leitões em granjas de matrizes.

Maximiza concentração da equipe e foco em atendimentos especiais (inseminação, parto, atendimento de leitões).

Maior facilidade na organização de folgas e férias da equipe de trabalho.

Maior facilidade na aplicação de programas de medicação e vacinação especí cos para leitões de primíparas.

Maior tempo disponível entre lotes para reparo das instalações.

Maior facilidade na organização de programas nutricionais especí cos às condições individuais dos animais em cada fase produtiva.

Redução de custos relacionados à logística de transporte e deslocamento de animais, ração e assistência técnica.

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3.2 DESAFIOS

Custo para conversão da granja.

Percentual de leitões de menor idade e peso pode ser aumentado. Possível redução no número de desmamados fêmea/ano.

Excesso de atividades em períodos reduzidos, exigindo maior controle das atividades.

Gestão da inclusão das leitoas nos grupos de cobertura necessita maior controle.

Uso menos e ciente das gaiolas de lactação.

Possível aumento na incidência de diarreia neonatal, pelo maior número de leitoas na semana.

Di culdade no uso de mães de leite.

Disponibilidade de tetos na lactação, quando da morte de matrizes ou disgalaxia.

Atingir o percentual adequado de fêmeas cobertas no grupo de cobertura.

Custos adicionais com hormonioterapia.

Di culdade em manter estável os grupos de cobertura após desa os reprodutivos.

Central de inseminação capacitada para picos de alta demanda de doses de sêmen.

Assim, nota-se relativo equilíbrio entre vantagens e desafios. O que deve ser ponderado é a capacidade das granjas em minimizar e gerenciar os desafios impostos e sobrepor as vantagens produtivas.

Dentre algumas vantagens a serem comentadas, o manejo em bandas permite rotacionar a equipe de trabalho, promovendo um atendimento especializado nas etapas produtivas (cobertura, parto, atendimento ao leitão na primeira semana de vida e na entrada da creche).

Com isso, há a possibilidade de redução da mortalidade pré-desmame devido ao foco de atendimento aos leitões, que pode atenuar perdas gestacionais pontuais e assim manter a estabilidade no número de leitões desmamados. Atingir o percentual adequado de matrizes inseminadas no grupo, juntamente com a manutenção de uma taxa de parto estável é fundamental para manter a estabilidade produtiva após implementado o sistema de banda.

Uma estratégia a ser considerada é a cobertura de um percentual excedente de matrizes em relação à capacidade de gaiolas de maternidade, para evitar prejuízos na estabilidade produtiva relacionados a perdas gestacionais ou morte de matrizes.

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O desmame de todos os leitões será necessário e, portanto, os critérios de manejo com leitões leves ao nascimento ou ao desmame devem ser bem estabelecidos.

O uso de sistemas de aleitamento artificial ou tratamento especial de leitões leves, deve ser algo também a ser pensado e customizado, buscando estabilidade no número de leitões entregues (5).

É consenso que a principal vantagem do sistema de manejo em bandas está relacionada à melhoria do estado sanitário dos rebanhos e seus impactos sobre a produtividade.

A maior prevalência de doenças respiratórias afeta negativamente a produtividade (4). Embora difícil, estimar e avaliar, é possível indicar que a manutenção de leitões de diferentes idades de lactação em uma mesma unidade produtiva (mesmo que em salas diferentes), configura potencialmente um risco de manutenção da transmissão de doenças.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A produção animal vem sofrendo uma enorme pressão para redução do uso de antimicrobianos. Melhorar o estado sanitário dos rebanhos é a forma mais assertiva na busca dessa condição. Caberá à indústria rever estratégias de manejo básico que eventualmente foram deixadas de lado.

A redução no número de origens nas fases de creche, recria e terminação está diretamente relacionada a melhorias de conversão alimentar (1, 2, 3). A prevalência de problemas respiratórios em suínos ao abate é menor em sistemas de terminação que possuem alojamento de uma única origem em comparação com aqueles com duas ou mais origens (4). Isso ocorre provavelmente em função do maior risco de transmissão horizontal de doenças em sistemas de múltiplas origens (9).

Nesse sentido, o manejo em bandas quando aplicado pode auxiliar a resgatar e facilitar a realização de alguns desses manejos, enfatizando os benefícios sanitário e produtivo. A logística de transporte de animais e ração é também um dos grandes benefícios da aplicação do manejo em bandas, principalmente em sistemas que possuem operação com várias granjas.

Impacto, desafios sanitários e produtivos do manejo em bandas na suinocultura

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SUINOCULTURA SUSTENTÁVEL E A CARNE CARBONO NEGATIVO

Fundada em 1973 e localizada na Fazenda Memória, Zona da Mata Mineira, a antiga Agropecuária Irmãos Torres, hoje Grupo Aro atuou com sucesso na atividade suinícola por mais de duas décadas.

E durante a nossa parada na fazenda, em Raul Soares-MG, o sócio proprietário, Rodrigo Torres, compartilhou com a suínoBrasil a adoção de práticas na propriedade que tornam a atividade sustentável.

70 Entrevista suíno Brasil 1º Trimestre 2024 | Suinocultura sustentável e a carne carbono negativo

Rodrigo, fizemos um giro na granja e já conversamos sobre manejo de colostro, bem-estar animal na fase de terminação, captação de água da chuva, sequestro de carbono. Explica pra gente o que é o “Projeto Verde” que está em fase de implantação no Grupo Aro.

“O nosso objetivo final não é produzir uma carne carbono neutro ou carbono zero, mas sim produzir uma carne carbono saldo positivo! Onde nesse processo ocorra mais sequestro de carbono do que emissão”, destaca Torres.

“Bom, o nosso plano tem sido trabalhar com economia circular fazendo aproveitamento de resíduos, produção de resíduo zero, por meio de vários elos da cadeia mitigando a emissão de carbono e ajudando também no sequestro de carbono”, esclarece Rodrigo Torres.

Além de contribuir para a regeneração do capital natural e deixar o sistema mais resiliente, esse cascateamento de recursos permite a maximização das margens operacionais, apresentando importantes vantagens competitivas.

Na prática, o sistema circular do Grupo Aro (Figura 1) funciona da seguinte maneira:

A logística própria (11) traz grãos de lavouras de milho, soja e sorgo. São esses grãos que, associados a outros micronutrientes são processados pela fábrica de ração (1) e servem de alimentos para os suínos (2).

No sistema circular vertical do Grupo Aro o meio ambiente é visto como um ativo intrínseco, onde os resíduos de uma atividade se transformam em matéria-prima para outra.

Esses animais, por sua vez, são encaminhados ao frigorífico modular de abate (6), de onde saem os cortes especiais marmorizados. Os resíduos do frigorífico são encaminhados a uma graxaria (7) que os transforma em adubo utilizado nas áreas de reflorestamento (8) com potencial extrativista para um futuro próximo.

Dando sequência ao fluxo do sistema, os dejetos da suinocultura e os efluentes do frigorífico (6) são encaminhados a um biodigestor (3) responsável por produzir biogás e digestato (4). Enviado a um grupo gerador (9) o biogás torna-se insumo para a produção de energia elétrica que, associada à geração da usina fotovoltaica (10) é suficiente para abastecer todo o sistema.

71 Entrevista suíno Brasil 1º Trimestre 2024 | Suinocultura sustentável e a carne carbono negativo

O composto líquido, após estabilização, se transforma em biofertilizante, seguindo para os pivôs que fazem a fertirrigação do solo destinado ao reflorestamento (8).

De forma complementar, o beneficiamento da soja destinada à alimentação dos animais como farelo gera como subproduto o óleo degomado. O óleo será beneficiado, transformando se em biodisesel que abastecerá todas as atividades logísticas do sistema e, além disso, irá gerar como subproduto a glicerina bruta que será doada às comunidades locais para a produção de álcool em gel.

“Por fim, a ideia é que o consumo da nossa carne possa ajudar de fato no resfriamento do planeta.O frigorífico, já em obras, se chamará

“O Cortês”, pois será cortês como Meio Ambiente em função do Carbono, com os animais em função das práticas de bem-estar animal, e com os clientes que terão cortes especiais de carne marmorizada da raça Duroc, rastreada e processada acessando os clientes mais exigente. Esse é o nosso sonho e estamos caminhando para concretizá-lo”, conclui Rodrigo!

Confira a entrevista completa em nosso canal do YouTube, agriNews TV Brasil e conheça o sistema de captação de água da chuva da propriedade, que promove bemestar aos suínos em fase de terminação.

Suinocultura sustentável e a carne carbono negativo

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72 Entrevista suíno Brasil 1º Trimestre 2024 | Suinocultura sustentável e a
carne carbono negativo
1 2 6 11 7 3 4 8 5 logística de grãos 9 grupo gerador pastagens 10 usina fotovoltaica
digestato
orestamento
Figura 1: Sistema circular vertical da UP2
biodigestor
re
graxaria
frigorí co de abate de suínos fábrica de ração suinocultura
FEIRA & CONGRESSO Visite nosso site para saber mais: www.siavs.com.br ORGANIZAÇÃO siavs@abpa-br.org +55 11 3095-3120 S I VS A 2024
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