Fake News e Fact Checking: O fenómeno em portugal

Fake News e Fact Checking O fenómeno em portugal

Mestrado em Ciências da Comunicação Área de Especialização em Cinema e Televisão Unidade Curricular: Políticas e Estratégias do Audiovisual: A migração para o digital Docente: Prof. Dr. Francisco Rui Cádima Discente: Gonçalo da Silva Ricardo de Medeiros Borges (57501) 2019/ 2020

Introdução As Fake news, como as conhecemos contemporâneamente, são um fenómeno que surgiu e evoluiu sem que dessemos pelo seu crescimento. Após vários anos de polarização política e mediática nos países ocidentais, as Fake news floresceram no meio online e tiveram uma forte influência em sufrágios recentes como a eleição presidencial dos Estados Unidos da América de 2016 e o referendo sobre o Brexit. A academia precipitou-se para tentar compreender o fenómeno, enquanto várias organizações internacionais juntaram esforços para combatê-las, culminando em medidas ligadas à literacia digital, regulação e projetos de verificação de factos.

Em portugal, a leitura da dimensão do fenómeno e a influência das fake news tem sido de difícil perceção. Contudo, as fake news portuguesas existem e é provável que qualquer utilizador do Facebook já se tenha deparado com desinformação. Por consequência, surgiram projetos como o Polígrafo, que fazem a verificação de qualquer conteúdo denunciado.

As alterações recentes de configuração política a nível nacional têm sido impulsionada pela internet, assim como é possível ver uma maior visibilidade de grupos polarizados online que tem tido reflexo em protestos. Surge então a questão de como se tem desenvolvido a desinformação nestas câmaras de eco a nível nacional e o que a carateriza. Sendo assim, este trabalho parte da pergunta de partida: que caraterísticas têm as fake news portuguesas?

Pretende-se dar um contributo para a resposta dessa questão. Numa primeira parte recorre-se à literatura para que caraterizar o fenómeno das fake news: o seu surgimento, o seu desenvolvimento, o que o carateriza, como classificá-lo, assim com o a sua expressão a nível nacional. De seguida, numa componente empírica, é feita uma análise do conteúdo analisado pelo site de verificação Polígrafo, de modo a conseguir obter uma caraterização do estado da desinformação a nível nacional.

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Estado da Arte Segundo Klein & Wueller (2017), desde o início da circulação de notícias impressas que publicar conteúdo falso que passasse por notícioso sempre foi vulgar: sempre existiram fake news. Os media sempre tiveram como desafio combater a tendência, a distorção, a manipulação e a fabricação pura e simples.

Já no século XIX, segundo os autores, existia a expressão fake journalism que se referia à técnica de utilizar fontes respeitáveis, pagas, para corroborar histórias ou tendências de modo a por a circular informação não fundamentada.

Fake news envolviam, pois, não só enganar os consumidores, como corromper ou enganar um elemento intermédio, o editor do jornal, de modo a que quando o jornalista fosse confirmar a narrativa fosse confrontado com uma manipulação.

Hoje em dia, não é utilizado um “middle man” que corrobore histórias (Gelfert, 2018, pp. 90 - 91). As informações falsas são criadas e elaboradas sem qualquer argumento de autoridade e postas a circular em meios propícios ao seu florescimento.

Segundo os académicos, o interesse pelas fake news foi catapultado pela eleição presidencial norte-americana de 2016 e o referendo do Brexit, devido ao papel central que tiveram na forma como afetaram a agenda mediática e tomaram um lugar mainstream. Os autores Tandoc Jr., Ling, & Wei Lim (2017, p. 139) exploram o conceito de Fake news, como é concebido na atualidade, através da análise das várias definições numa síntese dos elementos que são comuns a todos. Segundo os autores, existem sensivelmente seis tipos de tipologias de fake news: Sátira, Paródia, Fabricação Notíciosa, Manipulação Fotográfica, Publicidade e Material de Relações Públicas e Propaganda. A primeira, a sátira, tem a título de exemplo programas como o Daily Show, em que há uma exploração humorística, exagero, falsa reportagem, entre outros mecanismos, de modo a fazer um comentário sobre a política e media mainstream. A segunda, a paródia, que emula órgãos de comunicação social para produzir conteúdo de raiz falso, comédico, com um pequeno grau de plausibilidade que pode levar a um leitor pouco atento a acreditar: são exemplos o site The Onion que produziu manchetes suficientemente credíveis, que no contexto das redes sociais costuma levar à partilha sem que se entenda a verdadeira premissa. A terceira, a fabricação notíciosa, existe quando há criação de artigos sem base factual que são publicados com um estílo que imita um 3 de 18

artigo notícioso, para criar a ilusão de legitimidade. A quarta, a manipulação fotográfica, vulgarizou-se com o advento da fotografia digital e a capacidade de partilha das redes sociais online, com o objetivo de criar cenários ou situações falsas, de modo a desinformar quem as consome. A quinta, publicidade e material de relações públicas, que usa formatos textuais, fotográficos ou em vídeo que se aproximam do estilo jornalístico para que as mensagens sejam absorvidas como conteúdo notícioso. São exemplo as Video News Releases, vídeos em formato notíciario com pivots a defender, por exemplo, a agenda de um candidato político que têm a finalidade de serem partilhados online. Em sexto lugar, por último, a propaganda, neste caso refere-se na definição contextualizada do autor a, normalmente, conteúdos enviesados, enviados a jornalistas através de canais de relações públicas, que se tornam em notícias, tornando o artigo notícioso num veículo para a propagação de desinformação.

O que é facto é que a maioria destas concepções têm dois elementos em comum: intenção e facticidade. Há por um lado a intenção de desinformar, por outro a utilização de factos para a produção de falsidades convicentes. No que se refere à intenção de desinformar, José Brites, Amaral, & Catarino (2018) expõe as questões financeiras e ideológicas subjacentes à propagação das fake news são: “Duas motivações principais são a base da produção de notícias falsas: financeiras e ideológicas. Por um lado, histórias ultrajantes e falsas que se tornam virais - precisamente porque são ultrajantes - fornecem aos produtores de conteúdo cliques que são convertíveis em receita de publicidade. Por outro lado, outros provedores de notícias falsas, produzem notícias falsas para promover ideias particulares ou pessoas que eles favorecem, muitas vezes desacreditando outras pessoas.” (p.86)

Já no que se refere à facticidade, esta serve para dar um tom credível ao conteúdo. Há fake news, portanto, quando há partilha de declarações falsas como se fossem factos, com intenção de desinformar (Klein & Wueller, 2017).

Este caráter deliberado, de querer desinformar, tem como objetivo levar uma massa de leitores a acreditar em determinada informação de modo a intensificar a crença em determinadas convicções ou sentimentos em relação a certas visões do mundo. Deste modo, o Facebook, meio muito utilizado para a divulgação deste tipo de conteúdo, prefere a utilização do nome False News a Fake news, por pôr em destaque a palavra “False” (falso) que frisa o caráter 4 de 18

ilegítimo e intencional da produção deste tipo de conteúdo. Esta definição pretende distanciar de erros legítimos e irrelevantes que são transversais a todos os órgãos de comunicação social, inclusive os mais respeitáveis (Gelfert, 2018, p. 99).

Como é referido, o meio internet, particularmente as redes sociais online, são consideradas terreno fértil para o surgimento histórico, produção e proliferação de Fake news como as conhecemos no século XXI (Gelfert, 2018, p. 96). Hoje em dia é quase impossível dissociar as fake news do meio internet e das redes sociais online, integrando estes canais na própria definição do que constitui fake news. O conteúdo falso mantém uma relação de quase-parasitismo para com os media tradicionais, imitando a sua lógica. Tentam emular o tipo de texto, gráficos, visuais e mecanismos de interação de modo a ganhar uma falsa credibilidade e passar por um órgão de comunicação social legítimo.

Posicionam-se, muitas vezes, como os verdadeiros bastiões da verdade e liberdade de imprensa. Uma lógica populista, de oposição aos media tradicionais, que subverte o argumento de autoridade deontológica que, naturalmente, os media tradicionais carregam consigo.

Segundo os estudos na área da psicologia e sociologia, os indivíduos têm tendência a confiar mais em informação que vem de fontes a que associam familiaridade e proximidade com a sua forma de interpretar o mundo. Há uma tendência para aceitar nova informação de forma acrítica se contém ambos estes fatores (Baum, Lazer, & Mele, 2017, p. 6) . Deste modo, uma das condições que gerou e permitiu o florescimento das fake news foi a polarização: não só na política, como nos media e nos consumidores de notícias.

Já antes do advento do fenómeno em estudo, a televisão por cabo nos Estados Unidos da América demonstrava um forte enviesamento de acordo com linhas partidárias binárias do sistema norte-americano (Deuk Hyun & Jung Moon, 2016). A polarização do conteúdo de canais televisivos concorrentes, a par da polarização do sistema político e, por consequência, também, do sistema de crenças dos telespectadores, levava-os a autoexpor-se, deliberadamente, a conteúdo de canais que estivessem alinhados com as suas crenças. (Deuk Hyun & Jung Moon, 2016, p. 524). A relação entre o modelo mediático partidário, ou a tendência, também chamado de enviesamento partidário mediático e as fake news são dois fenómenos intimamente ligados (Vargo, Gui, & Amazeen, 2018).

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Segundo os autores supracitados, empiricamente conclui-se que o ambiente mediático cada vez mais extremo propiciou a propagação de fake news. Através de um sistema que, não só contribuiu para a criação de uma paisagem mediática que nos meios online começou a ganhar ecos extremos, como também estes blogues e sites começaram, eventualmente, a alimentar os media tradicionais.

Este novo sistema levou a que sites de notícias falsas, nos EUA, fossem capazes inclusive de fazer prever a agenda mediática futura dos media tradicionais e a legitimação de conteúdo falso através desses fóruns, apenas porque eram discutidos online.

Conclui-se então que as instituições jornalísticas ditas tradicionais, no seu todo, sofreram, pois, um progressivo enfraquecimento, ao mesmo tempo que foram surgindo novos modelos de produção e consumo de conteúdo. Esta nova paisagem informativa alterou os canais de distribuição que se desenvolveram com uma rapidez acima do que se esperava. Levando a uma incapacidade de adaptação do consumidor, que permitisse uma interpretação correta da informação e dos modelos de consumo, assim como uma estabilização da sua produção e partilha. (Baum, Lazer, & Mele, 2017, p. 4).

O que a internet permitiu foi uma intensificação desse processo, destruindo o gatekeeping que os media tradicionais faziam. “Os novos gatekeepers da informação online são, de facto, os algoritmos” (Cádima, p. 19).

As redes sociais, através dos seus algoritmos, que procuram curar a informação de forma a aproximá-las ao perfil do utilizador, vieram oferecer uma ferramenta que amplifica a polarização e reforçar a “pro-attitudinal information” (Cádima, p.

16). Do mesmo modo que nos media mainstream existe um enviesamento, procurado pelos utilizadores, um “confirmation bias”, ou seja, um utilizador de uma rede social online tem a tendência de procurar e partilhar informação que confirmem a sua visão do mundo e a enalteça. (Quattrociocchi, Scala, & Sunstein, 2016, p. 2). Este confirmation bias é transposto para o online, intensificado pelo algoritmo.

Segundo Quattrociocchi, Scala, & Sunstein (2016, p. 14), os utilizadores do Facebook estão altamente polarizados, em circulos fechados não interativos entre si: câmaras de eco. Os utilizadores dentro destas câmaras de eco têm pefis semelhantes, com um comportamento interativo em relação a publicações semelhantes. Há uma tendência para procurarem informações que intensificam 6 de 18

o seu ponto de vista e estão rodeados apenas por esses pontos de vista. Pinto (2018, p.22) defende que através da repetição de declarações nestas câmaras de eco é criada uma ideia de familiaridade, que valida as informações, num fenómeno que a literatura denomina de verdade ilusória.

Em suma, como

defende Gelfert (2018): “Fake news is not itself a new phenomenon. Yet, when combined with online social media that enable the targeted, audiencespecific manipulation of cognitive biases and heuristics, it forms a potent—and, as the events of 2016 show, politically explosive— mix.” (p.113)

Deste modo, os utilizadores tornam-se uma presa fácil para os chamados trolls da internet que criam teorias da conspiração falsas ou, para bots, pois não são expostos ao contraditório e re-partilham a informação por estar associada a uma certa familiaridade. Os bots são o exemplo da estratégia de propgação de fake news mais difícil de enfrentar. Segundo Shao, Luca Ciampaglia, & Va (2017, p. 11) o número de contas de bots responsáveis por uma grande quantidade de tráfego online que veicula informação falsa é relativamente baixo. A estratégia de manipulação dos bots funciona em três frentes. Na primeira, os bots amplificam uma notícia falsa, momentos antes de ficar viral, contribuindo para essa viralização. De seguida, têm como alvo utilizadores influentes através de menções e envios de mensagens. E, na terceira fase, escondem a sua origem geográfica

para

se

moldarem

às

necessidades

de

manipulação.

A

vulnerabilidade dos utlizadores em câmaras de eco faz com que as notícias veiculadas pelos bots se espalhem de um modo viral e que a eficácia do factchecking seja mínima, pois vai contra esta estrutura de câmaras de eco, a psicologia humana e as crenças individuais. Deste modo, pode-se inferir então que as Fake news seriam apenas isso, notícias falsas se fossem perceciondas pelo público como tal. Enquanto que uma notícia é construída por jornalistas, as fake news são co-construídas pela audiência que perceciona o falso como real, contribuindo ativamente para o fenómeno.

No que se refere às forma de combater as fake news, Delmazo & Valente (2019) defendem que as reações aos problemas das notícias falsas têm sido feitos por quatro grandes grupos, quando tendo em conta o seu papel institucional: “(1) as plataformas digitais, entre elas os sites de redes sociais online; (2) Organizações de pesquisa e da sociedade civil e os media; (3) 7 de 18

Governos e órgãos estatais; e (4) Organismos Internacionais.” (p.161). Por parte das plataformas digitais a coletiva resposta foi direcionada à possiblidade de denuncia de publicações como fake news pelos utilizadores, parcerias com projetos de fact checking e bloqueio automatico de notícias sinalizadas como falsas ou sinalização de que o são. Por parte das organizações de pesquisa e da sociedade cívil e os media foram feitos esforços para criar, dentro de órgãos de comunicação social, ou através da cooperação fora dos mesmos, organizações e deparamentos de fact checking. Por parte de Governos e órgãos estatais as respostas ainda são vagas, sendo que estão a ser criadas comissões e inquéritos para apurar as consequências das fake news em sufrágios, na maioria dos casos por organismos internacionais. A Unesco está focada em aumentar a literacia sobre media e informação e manter o diálogo com redes sociais dominantes para que regulem a circulação deste tipo de conteúdo. Em suma, poder-se-á dizer que os esforços são, na sua génese, por um lado para educar a população para saber triar e decifrar a informação, por outro, para a implementação de mecanismos nas plataformas online que verifiquem factos e impeçam a disseminação de notícias falsas, ou criação de contas falsas e bots.

A verificação de notícias é um campo em evolução, que começou a ganhar espaço através de colaboração online espontânea. Contudo, ao longo do tempo e com o envolvimento de órgãos de comunicação social e agências internacionais a verificação de factos começou a ter critérios globais. As duas categorizações internacionais universalmente aceites são o modelo SHPT de Rashkin, Choi, Jang, Volkova, & Choi (2017) e o modelo PolitiFact. Wang, Wang, de Melo, & Weikum (2019) propõem, contudo, com o intuito de criar uma análise mais aprofundada, que vá para além do rating, uma fusão de ambas. Esta forma mais completa de categorizar permite não só dar um rating, mas, através desse rating entender se o conteúdo for factual qual o grau da veracidade, se for falso se se pode considerar propaganda, fraúde ou ironia. E, dentro da propaganda, se é feita através da ausência de conteúdo ou através da manipulação ativa. Na tabela 1, abaixo, encontra-se a categorização segundo o modelo proposto por Wang, Wang, de Melo, & Weikum (2019), a imagem do esquema original encontra-se no anexo 1 (p. 16).

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Tabela 1 - Classificação hierárquica de conteúdo falso de Wang, de Melo, & Weikum (2019) Conteúdo

Categoria

Rating de Fact-Checking

Factual

Verdadeiro Maioritariamente Verdadeiro

Falso

Propaganda

Incompleto

Meia-verdade

Manipulador

Maioriatariamente Falso

Fraude

Falso “Pants-on-fire”

Ironia

Em portugal, pouca é a literatura que se debruça sobre o fenómeno das fake news à escala nacional. Segundo Pinto (2018, p. 48), “53% dos consumidores de notícias portugueses” utilizam Facebook como fonte de notícias e “48% assume confiar em notícias acedidas através de motores de pesquisa”, enquanto que “29% dizem confiar em notícias acedidas através de social media”. Havendo, segundo o relatório anual do Instituto Reuters para as Notícias Digitais do ano de 2017 “a ideia de um baixo nível de polarização político-ideológica nos meios de comunicação social portugueses” (Pinto, 2018, p. 48). Deste modo, pode-se explicar o facto do fenómeno, por enquanto, ter pouca leitura. Segundo Santana-Pereira & Rodeiro Nina (2016, p. 243), o sistema mediático português pode ser considerado plural de um modo sistémico “quer ao nível interno dos principais jornais e canais de televisão generalistas” (2016, p.243), sendo que os autores detetam três tendências de enviesamento.

A primeira tendência é a do “enviesamento antigovernamental por parte de todos os media televisivos” (2016, p.243), explicado por um possível entendimento do papel escrutinador do jornalista na deontologia e cultura mediática portuguesa.

O segundo é o de que existe uma “invisibilidade dos partidos sem reprentação parlamentar, um grupo que inclui micropartidos históricos e novas formações partidárias” (2016, p.243). Isto contribuiu, segundo os autores, para a manutenção do status quo político e partidário.

As fake news tornaram-se um fenómeno que ganhou uma sintomatologia e relevância inesperada nos último anos. O ambiente em que surgem, a forma como se propagam e o seu consumo é objeto de estudo e o fenómeno à escala nacional carece de investigação, com pouca literatura produzida sobre o 9 de 18

fenómeno à escala nacional. Um facto explicado pelo quão recente, pouco visível e pouco consequente é o fenómeno em portugal. Contudo, no campo da verificação de factos já existem duas plataformas de fact checking acreditados a nível nacional: Polígrafo e Observador (que conta com uma secção de verificação de factos). Ambos os projetos colaboram oficialmente com o Facebook na verificação de conteúdo que utilizadores denunciem como potencialmente

falsos. Ambos os projetos inspiraram-se nas escalas de

verificadores de factos utilizadas internacionalmente, tendo produzido as suas próprias escalas, adaptadas à realidade nacional.

O website Polígrafo, que reúne maior consenso, utiliza uma escala própria, adaptada das escalas internacionais utilizadas pelos jornais e agências de referência e que tem cinco níveis: “Verdadeiro - Quando a declaração analisada é totalmente verdadeira; Verdadeiro, mas...: Quando a declaração analisada é estruturalmente verdadeira, mas carece de enquadramento e contextualização para que seja totalmente percebida; Impreciso: Quando a informação contém elementos que distorcem, ainda que de forma ligeira, a realidade; Falso: Quando a afirmação é comprovadamente errada; Pimenta na Língua: É o grau máximo de falsidade. Esta classificação só é atribuída quando a informação avaliada é escandalosamente falsa ou é uma sátira, publicada num espaço

satírico.”

Polígrafo

(2019)

Artigo

retirado

de

https://poligrafo.sapo.pt/institucional/artigos/o-nosso-metodo.

Objetivo de Pesquisa Pergunta

de

Partida:

Que

caraterísticas

têm

as

fake

news

portuguesas?

Para responder a esta pergunta de partida foi utilizada análise qualitativa de conteúdo de um corpus de análise constituido pelas 104 verificações de artigos feitas pelo website Polígrafo de todas as publicações denunciadas na rede social online Facebook que levantaram suspeitas da sua veracidade durante os meses mais recentes passíveis de serem estudados: novembro e dezembro de 2019. As variáveis categorizadas foram Data, Título, Rating Polígrafo, Rating Internacional, Tipo de Publicação e Tema do conteúdo. Para esta análise também foi utilizado o rating universal sugerido por Wang, Wang, 10 de 18

de Melo, & Weikum (2019), de modo a alargar a escala das possíveis conclusões.

Resultados Segundo a investigação empírica, a maioria do conteúdo (73 publicações) sinalizado tem algum grau de falsidade. Sendo que o rating polígrafo e internacional com maior frequência é o “Falso”. As categorias, segundo rating internacional, com maior frequência são as de publicações “Fraude” ou “Propaganda”. Ou seja, publicações que deliberadamente mentem, ora com informações flagrantemente falsas, ora com a omissão ou manipulação de factos verídicos.

A maioria das publicações, 64, são publicações com origem no Facebook, ou seja, texto, imagens e/ou vídeos criados e partilhados em ferramentas nativas da rede social, por utlizadores ou páginas. A segunda maior categoria, com 11 de 18

quase dois terços da frequência de publicações nativas, são links que redirecionam para websites não regulados com uma lógica de órgão de comunicação social. É importante referir que no conteúdo analisado se foram repetindo websites, com destaque para vários sites com ideologia de direita nacionalista, que dão pelo nome: Invictus Portucale, LusoPT, Direita Política, Tuga Press e Portugal Glorioso. Encontraram-se também sites que, na sua maioria, tinham enviesamento de direita, mas com uma comunicação e nomes que tentavam comunicar de que se tratavam de jornais isentos: Semanário Extra, Jornal Diário Online. Atentar também para um tipo de conteúdo com rating falso,

mas categorizado como “outro” no que se refere ao tipo de publicação, por ser atípico: uma fraude de um website que se fazia passar por um jogo interativo do Pingo Doce para oferecer promoções, mas que na verdade era um veículo de malware.

Já nos temas das publicações, o tema principal era a política. Sendo que as publicações tinham sempre um enviesamento crítico de alguma medida

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política ou personagem política. Seguindo-se os temas de sociedade e internacional, sendo que o enviesamento nos temas que ambas estas categorias tratavam tinham subtexto ou leitura política escondida. Destaque também para a categoria da saúde, em que várias publicações foram listadas, cuja viralização se devia a apregoarem a cura para o cancro, ou alguma doença difícil de curar.

Estas notícias presume-se que gerem muito tráfego por anunciarem soluções insólitas para problemas universais de saúde. Os temas com menos notícias foram cultura e desporto. Cultura, pode-se presumir, devido ao seu caráter pouco universal, logo, menos potêncial clickbait.

Já na análise cruzada, foi possível aferir que apesar de não parecerem legítimas havia um elevado número de publicações verdadeiras em links de publicações online não reguladas. Já nas publicações nativas do Facebook, a esmagadora maioria do conteúdo continha falsidades. Em relação a temas, não foi possível encontrar nenhum padrão, à exceção de que a política e internacional tiveram maior diversidade de ratings, já economia, saúde e sociedade tinham ratings falsos, mas com graus de falsidade mais aproximados da verdade.

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Por fim, referir que as publicações consideradas com conteúdo absurdamente falso foram uma manipulação fotográfica de uma fotografia da presidente Dilma com uma arma ao lado, ou a teoria da conspiração de que teria sido um comediante da Porta dos Fundos que engendrou o próprio ataque à sede do grupo para se vitimizar.

Conclusão Conclui-se que um elevado número, mais de um quarto, de conteúdo publicado online que causa suspeitas de desinformação é verdadeiro. Contudo, a maioria do conteúdo falso partilhado em portugal tem um rating Falso, ou seja, fraudulento, assim como propagandístico, resultando de omissão de informação crucial para contextualizar a notícia, enviesando-a através da sua incompletude, ou manipulando o conteúdo com falsidades para promover determinada agenda.

Não foi encontrado conteúdo irónico ou humorístico na análise. Contudo é difícil retirar alguma conclusão deste facto, pois poderá ter que ver com o processo de seleção do Polígrafo, com o período de tempo em estudo ou outro factor.

Considera-se que pelo facto da maioria das publicações que criam conteúdo falso partilhado nas redes sociais estarem associado à direita nacionalista que o status quo na representação político e partidária em portugal referido por Santana-Pereira & Rodeiro Nina (2016, p. 243), que defende que a presença de novas formações partidárias na cobertura mediática é baixa, pode estar a ser contornada através deste tipo de publicações, no meio online.

Contribuindo deste modo para a polarização dos consumidores do conteúdo e, 14 de 18

por consequência, de uma franja do eleitorado português. Ou seja, embora a polarização seja baixa, há o perigo que esta paisagem mediática digital possa aumentá-la.

No que se refere às motivações, corrobora-se a posição de José Brites, Amaral, & Catarino (2018). A maioria do conteúdo analisado revela um interesse ideológico forte, devido ao elevado número de notícias sobre política. Assim como um interesse financeiro, confirmado pela elevada quantidade de conteúdo sensacionalista falso relacionado com saúde. É de notar que foi encontrado um número suficientemente relevante de notícias sobre saúde para que se criasse uma categoria de análise com esse nome. Este tipo de conteúdo apresentava sempre a mesma lógica e tendência sensacionalista. Neste caso objetivo não será político, mas o de promover o clickbait e resultar num maior tráfego para o website, logo, num maior lucro para os donos do domínio.

A maioria das publicações são feitas por utilizadores ou páginas na própria rede social. Deste modo, considera-se que um modo de combate de eleição será a literacia digital dos utilizadores de redes sociais portugueses.

Deste modo, medidas como as da Unesco referidas por Delmazo & Valente (2019) são as melhores ferramentas para o combate às fake news em portugal, tendo em conta a sua tipologia. É necessário munir os utilizadores de redes sociais da ceticidade necessária e conhecimento sobre as ferramentas de pesquisa para a verificação do conteúdo com que se deparam Considera-se, finalmente, que seria pertinente aprofundar o estudo por um período mais longo, sugere-se um ano de estudo, o que permitiria a comparação homóloga da evolução do fenómeno. Assim como uma investigação que caraterize os perfis e páginas que têm produzido conteúdo nativo falso no Facebook. Deste modo, perceber-se-á às suas motivações e tipo de perfil.

Concluindo-se se são pessoas desinformadas, trolls ou bots.

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Anexos Anexo 1

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Referências Bibliográficas Baum, M., Lazer, D., & Mele, N. (2017). Combating Fake News: An Agenda for Research and Action. Conference held February 17–18, 2017 (p. 19).

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