O que poderia ter sido (ou o tecido do universo)

O que poderia ter sido (ou o tecido do universo)
porque vai chover
tem nuvens e raios eu nunca sei, entro e saio espero desaparecer
poderia ter saído, não choveu no fim das contas poderia ter sido, tivesse eu levado em conta que o incontrolável não se controla
mas eu abri a torneira e eu derramei na mesa a sobremesa de propósito para propôr manchas e eu decorei quando você saía e entrava o que você lia, o que escutava e decorei minha cara conforme aparecia
isso é fotografar?
isso é fotografar?
isso é fotografar? isso é fotografar?
como simetria, como cintura contra cintura
como verso e inverso
quem une versos faz poemas, colagens ou criaturas
quem une pontos em comum sutura
buracos de telhado, baldes improvisados e o guarda-chuva quebrado quanto de sangue é normal sair de um anelar furado?
na super exposição do artista favorito superestimado
ele pinta mesmo ou só faz quadros?
vale a pena ir pra voltar ensopado? pra passar o olho? pra se abrigar da chuva que seja
e olha que eu tinha certeza que ia chover que molharia sua tv e que você olharia, sem ver
que ficaria sem controle
com catálogos de sobra fazendo sua casa feder
onde entro com cuidado pegadas molhadas cheirando a cecê querendo souvenirs roubando bibêlos tocando em suas fotografias
desejando o inverso do que desejava
quando saí de casa
porque não choveu e ninguém foi à exposição e não existem fotografias do que não aconteceu e quando eu voltar para meu apartamento molhado em prantos e um pouco decepcionado a mobília não vai estar no devido lugar.
O que poderia ter sido (ou o tecido do universo)
fotografias feitas com cloro sobre filme vencido poema feito com mágoa sobre nínguem e todo mundo